Amor: Uma história de Equinócio escrita por Camí Sander


Capítulo 5
Capítulo 4 - Gengibre


Notas iniciais do capítulo

Eu sumiiii... eu reapareciiiiii...
Eu espero que gostem do capítulo!



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— Estarão confortáveis, miladies? — indaguei brincando.

Capítulo 04 - Gengibre

Ambas trocaram um olhar de espanto antes que a morena questionasse ultrajada:

— Dormiremos aqui?

— Aris — repreendeu a irmã em baixa voz.

— É um pouco…

— Aris! Não estamos em condições de reclamar! Você mesma quem disse que não queria falatórios! Acredito que passar a noite nos estábulos nos dará credibilidade.

Ri do raciocínio de minha noiva. Certamente não deixaria que passassem a noite com os cavalos, contudo, Megára tinha uma bela perspectiva do assunto.

— Deixá-las aqui? — repeti risonho. — A não ser que fossem animais, não as deixaria dormir aqui. Não faria isso a ninguém! Por favor, senhoritas, acompanhem-me.

Com a lanterna em punho, guiei-as até a entrada dos fundos. A porta fez um leve ruído enquanto eu a empurrava e abria passagem para as belas damas. Uma olhada para o relógio na parede foi o suficiente para ter certeza de que passava-se das 3 horas da manhã. Cuidadosamente, minhas convidadas andaram atrás de mim para o piso superior até o quarto de Brooke, minha falecida irmã, onde repousariam pelas próximas horas.

— Aqui encontrarão tudo o que necessitarem para descansar — expliquei aos sussurros e lancei um olhar para a cama de casal. — Espero que não se importem de dividir a cama. Quando meus pais perceberam que não teriam mais filhos, decidiram que poderíamos gozar de espaço extra. Esquentarei a água para seus banhos.

Diante do agradecimento de Aristemis, voltei para a cozinha e aticei o fogo da lareira. Foi necessário cerca de meia hora para que o tacho chiasse e uma visita inesperada de minha mãe para saber a razão sobre a qual eu continuava acordado. Falei-lhe que necessitava de um banho, pois cheirava a carniça.

— Seja rápido e vá direto para a cama! — ordenou. — Sabes que teu pai não se agrada de teu comportamento e temo pela união com a menina Hilbert.

— Não se preocupe, mamãe. Apenas comerei algo também.

Assim que ela saiu, enchi uma bandeja com fatias de pão, queijo, carne, alguns recipientes com molhos e geleias, frutas e biscoitos, além de uma jarra com suco e outra com leite. Imaginei que duas ladies como elas estariam famintas depois das horas caminhando.

Quando levei a água quente e os alimentos para as meninas, dei leves pancadas na porta e avisei que deveriam ser o mais silenciosas possível, pois a dona da casa possuía o sono muito leve e já me abordara na cozinha. Então preparei-me um banho também e dormi.

Acordei três horas depois, com os gritos agudos de uma criada. Apressei-me a procurar por minhas hóspedes e as encontrei, assustadas, fitando a moça estrangeira gesticular em grande desespero. Cumprimentei a todas com meus sinceros votos de bons dias e indaguei o motivo de tanto alarde àquela que gritava.

— O que há? — repetiu ainda oitavas acima de seu tom. — O que há, senhor Campbell, é que duas senhoritas desconhecidas apossaram-se dos aposentos e das coisas de sua falecida irmã!

— Não se preocupe, Laura. Não estamos sendo roubados. Em verdade, eu mesmo me assegurei de oferecer-lhes as coisas de Brooke.

— Como? — questionou minha mãe que acabava de postar-se atrás das meninas.

Ergui as sobrancelhas e cruzei os braços. Certamente, minha querida mãe não percebera quem nossas hóspedes realmente eram e se envergonharia do próprio comportamento.

— As senhoritas Hilbert não tinham onde passar a noite — comentei e mamãe arregalou os olhos. — Seus pais estão em viagem e sua carruagem quebrou-se a caminho de casa. Procuramos algumas pousadas, contudo, as que estavam abertas pareceram-me inadequadas. E minha noiva parece estar febril. — Apontei para Meg. — Elas estavam famintas e com frio. Espero que tenhas a decência de não lhes mandar partir tão cedo.

Aris, tomando controle da situação, virou-se para minha mãe — os cabelos lisos balançando um pouco com a leve brisa provocada com o movimento.

— Lady Campbell, seu filho ofereceu a nós uma noite de abrigo porque estávamos cansadas de viajar da capital até Ribe sem parar. Encontrou-nos há duas cidades. Nossa carruagem quebrou em Tuslund e estivemos andando desde então. No entanto, já descansamos o suficiente e apenas precisamos de alguns minutos para nos organizar antes de partir.

Suas palavras me atingiram em cheio.

— Hoje!? — indaguei disparando olhares entre minha linda menina e sua irmã.

Megára assentiu para mim — os olhos esmeralda brilhavam em conformação e tristeza —, virou-se para minha mãe e pegou-lhe as mãos.

— Milady, sou muito grata pela estadia. — A voz doce era como uma melodia suave, diferente da irmã que já possuía entonação mais firme. — E lhe agradeço pelos belos modos de seu filho. Há pouca gente, no mundo, com tamanha bondade que Xavier demonstrou antes mesmo de perceber quem éramos. — E lançou-me um olhar sorridente. — Não tentou abusar de nenhuma das duas, mesmo que eu o tenha tratado como um libertino. — Voltando a fitar minha mãe, completou: — Se pudermos ficar por um momento mais, não lhe daremos trabalho, eu prometo. Além disso, devemos reparar a má impressão que causamos.

Com os olhos ainda muito abertos, minha senhora mãe soltou uma das mãos de minha noiva e pousou a palma no rosto da jovem loira, medindo a temperatura da pele.

— Mas Xavier está coberto de razão! A senhorita está muito febril e está claro que devem ficar pelo tempo necessário! Laura, por favor, devemos encontrar quartos separados para o conforto das senhoritas Hilbert e um banho quente para lady Megára — ordenou a mais velha e virou-se para mim. — Xavier, vá ao armazém e compre mais raiz de gengibre. Quero fazer um chá para a moça.

Um sentimento de satisfação cresceu por meu peito. Meg fizera aquilo para que minha mãe as deixasse ficar. Assenti para as mulheres presentes e fiz meu trajeto de volta ao quarto para trocar minhas vestes. Logo, estava com meu pai na cozinha enquanto me servia de uma maçã recém-colhida e beijava o dorso de sua mão.

— O que pretendes fazer com essas donzelas? — perguntou o homem com acusação.

Dei de ombros.

— Ajudar, apenas. Megára é minha noiva, mas não fui descortês com ela e não pretendo ser. Agora mesmo, estou a caminho do armazém para comprar gengibre para mamãe. Meg nos parece febril. Levarei Bala, tudo bem? — completei ao passar pela soleira da porta.

Meu pai riu.

— Não caia — orientou. — E traga flores!

Bala era a égua mais rápida da fazenda de meus pais. Raça pura e branca como a neve, era a mais bela, cara e hostil de toda a cidade. E era nossa. Nenhum dos cavalariços conseguiu montá-la sem acabar gravemente machucado. Bala tinha gênio vingativo com aqueles que não conseguiam manter-se na sela: a égua pisoteava várias vezes antes de fazer seu caminho de volta ao cocho.

— Dê preferência às flores perfumadas — resmunguei revirando os olhos.

Não era como se ela fosse notar-me como homem depois de anos agindo como um rapazote. Não era como se eu fosse bom o suficiente para ela! Ela! Com aquele cabelo de anjo, que estivera desalinhado na noite passada, caindo do intrincado penteado em cachos pelos ombros e contrastando com o vestido emprestado...

Balancei a cabeça com vigor para espantar os pensamentos infelizes e apresentei duas das belas maçãs, capturadas pelo caminho até o estábulo, à Bala antes de selá-la e partir em busca do que me foi ordenado.

Geralmente, mamãe instruía a um dos muitos serviçais que tínhamos para essas compras, porém, eu estava quase certo de que ela queria conversar com as meninas em particular. Se esse fosse o caso, seria sobre o casamento futuro.

Meus pais ficaram chocados com a reação dos Hilbert em não me deixar casar com sua filha no início da temporada. Se eu não tivesse interposto a favor dos meus futuros sogros, esse casamento estaria desmanchado por besteira.

— Eia! — gritou um homem, minutos mais tarde, e Bala reduziu um pouco. — Xavier, meu querido amigo, dormiste bastante com aquelas deusas em tua casa?

Sorri para Lindon e dei de ombros fingindo indiferença.

— As três melhores horas de sono da minha vida. Então, sabes que as levei para lá? Quem contou? Ou será que tinhas acessos de lucidez ontem? Aliás, tua orelha está melhor?

— Acalme-se! — Riu meu amigo. — Para começar, minha orelha está ardendo como o inferno. Parou de sangrar, porém criou uma casca terrível de pus. Então, lembro-me de que levastes lindas damas para casa, ontem à noite. Imagino como foi. Dormiste alguma coisa?

Eu ri.

— Não sou tu, Lindon! Não toquei nelas!

— Que desperdício!

Antes que o rapaz pudesse soltar outra asneira, atalhei:

— Estão febris, imbecil. Nunca forçaria nada com alguém que não quer... e jamais faria qualquer coisa com alguém adoentado! É asqueroso aproveitar-se da má situação alheia! Mamãe pediu-me para comprar mais gengibre e é para onde estou indo.

Com essa, meu amigo não contava.

Ele parou o cavalo baio ao qual montava e desceu da montaria, esperando que eu fizesse o mesmo. Não o fiz. Eu não tinha tempo a perder. Acelerei Bala gritando-lhe que contaria o acontecido em outro momento.

Paguei pelo primeiro pedaço de gengibre que encontrei e corri de volta à fazenda. Lindon não estava pelo caminho. Imaginei que o imbecil já estivesse em minha casa com o pretexto de avaliá-las como o futuro doutor que pretendia ser.

E lá estava o cavalo de meu amigo, junto ao cocho próximo aos estábulos. Deixei Bala por ali também e fiz meu caminho para a casa. Estava passando por baixo das macieiras quando ouvi um “Ui” vindo de cima. Ergui o olhar e imediatamente estendi os braços para agarrá-la.

Segundos depois, minha noiva arfava apoiada em meus ombros enquanto eu baixava seus pés ao chão. Nossas respirações misturavam-se no pequeno espaço entre nossos rostos.

— Obrigada — suspirou aliviada.

— Meg — sussurrei e ela fixou os olhos nos meus. — Não...

O que dizer?

Eu já não sabia.

A única certeza que tinha era de que a respiração de minha linda menina fazia cócegas em minha boca e que seus olhos brilhantes me encantavam.

— Sim? — indagou quando não ficou claro que eu não terminaria a frase.

Eu não queria dizer-lhe nada, realmente. Queria colar meus lábios aos dela. Queria despi-la e sentir a textura e o calor da sua pele rubra de prazer. Queria sentir seu perfume e emaranhar meus dedos em seus cabelos dourados.

— Xavier? — insistiu ela.


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Notas finais do capítulo

Uuuuuhhhh, e essa tensão entre os dois?!?!
Comenteeemm!!



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