Amor: Uma história de Equinócio escrita por Camí Sander


Capítulo 4
Capítulo 3 - Cheiro de Sangue


Notas iniciais do capítulo

Então... mais um capítulo vindo para vocês...

*Capítulo dedicado à Teresinha, que comentou tudinho até agora*



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— Megára! Amendoim não mata a fome! Outra coisa, tu não estavas para perguntar! Mais ainda! Sabes o que é amendoim? Pois lhe digo: é um grãozinho minúsculo que gruda nos dentes e deixa um grande mau hálito!

E com essas frases, a morena deixou transparecer toda a aristocracia na qual as irmãs Hilbert cresceram. Por serem filhas únicas do maior joalheiro da cidade de Ribe, as meninas sempre tiveram as melhores vestes e tutoras, no entanto, também foram livres para conviver com as crianças menos afortunadas. E foi essa liberdade que fez com que nossos pais decidissem por um casamento arranjado entre mim — o filho do ferreiro mais procurado — e uma delas. Como Aris sempre pareceu um espírito livre, ficou acordado que Megára seria a escolhida. Contudo, sua mãe insistiu na opção de ingressar ambas na sociedade antes do pedido oficial porque não achava justo uma delas ter que passar por tudo aquilo sozinha.

— Tudo bem — suspirou a loira, condescendente. — O que faremos agora?

Fitei rapidamente as duas e ponderei sobre as opções que tínhamos.

— Posso levá-las até em casa — sugeri. — Vim com Lindon na carruagem maior. Apenas preciso chamá-lo. Estou certo de que não se oporá em finalizar a noite agora. — A expressão facial de Meg se contorceu em culpa. — Algum problema?

— Nossos pais não estão em casa — sussurrou minha noiva.

— Ah, creio que podemos encontrar alguma hospedagem aberta... ou posso lhes oferecer um quarto em minha casa. Imagino que meus pais não se importarão em dar-lhes abrigo e alimentação. Principalmente porque Meg parece febril e tem frio. Não pode dormir ao relento.

— Meg? — repetiu a morena. — Os cavalheiros de hoje em dia estão muito abusados, não achas, Meg?

A loira ergueu os olhos para mim, por um instante, e fitou a irmã.

— Gosto da proposta.

Reprimi um sorriso antes de perguntar se a senhorita Aristemis tinha alguma objeção.

— Objeção de minha parte? — repetiu ela. — Não tenho objeções. Não sou imbecil a tal ponto. Contudo, tenho algumas restrições se formos para tua casa. Primeiro, eu e minha irmã dividiremos o mesmo quarto. Não penses que, por aceitar descansar em tua casa, deixarei que a reputação dela seja questionada! Também precisarei de um banho. Um dos cavalheiros lá dentro conseguiu deixar-me fedendo a cerveja choca!

— Certamente, senhorita, é um acordo justo — concordei de imediato e levantei-me de minha posição. — Já que estarão sem o acompanhamento de dama de companhia ou seus próprios pais, não queremos que arruínem suas chances na sociedade, então devem estar confortáveis. Esperem-me por um minuto, preciso buscar Lindon, embora preferiria deixá-lo aqui, não posso.

Diante do assentimento das senhoritas, chamei meu cavalariço e avisei-o de que levaríamos as senhoritas Hilbert até a próxima pousada aberta. Enquanto o homem buscava nossa condução, voltei ao estabelecimento e procurei por Lindon dentre as pessoas no local. Encontrei-o escorado em uma parede, dormindo com uma caneca na mão. Soltando um longo suspiro, dirigi-me até ele e o chamei com sacudidas.

— Espere um pouco, Xavier! — reclamou murmurando. — Não vês que estou ocupado conversando com essas belas senhoritas aqui?

Ele estava bêbado. Completamente. Como em tantas outras ocasiões, fiz o que um bom amigo faria: entrei em sua fantasia para estimulá-lo a me seguir.

— Vejo, sim. Entretanto, há duas lindas donzelas lá fora esperando para que possamos levá-las para casa. Estou certo de que essas senhoritas estarão aqui amanhã à noite.

Cambaleante, o homem soltou a caneca em cima da mesa sem cuidado algum. Servi-lhe de apoio e o conduzi para fora do local. As damas esperavam-nos próximas à carruagem, embora a porta estivesse aberta e o cocheiro lhes estendesse a mão. O sorriso abobalhado de meu companheiro fez-me temer uma possível libertinagem de meu amigo.

— Boa noite, belas damas! — falou Lindon e não evitei minha expressão de desculpas. — Estou maravilhado pela possibilidade de levá-las para casa!

Minha noiva franziu o nariz e Aristemis olhou-o com repulsa.

— Agora entendo como Xavier ficou com esse cheiro repugnante! — comentou Meg.

— Que cheiro horrível de sangue é esse? — reclamou a morena.

Sangue?

Procurei por qualquer indício de corte em mim, porém não encontrei nada. Ainda aturdido, verifiquei Lindon apenas para encontrar um talho na orelha esquerda. Questionei Aristemis com o olhar e Megára apressou-se em sua defesa:

— Minha irmã sente náuseas ao ver ou sentir cheiro de sangue.

Assenti, ainda confuso, e gesticulei para que as moças entrassem na condução com a ajuda do cocheiro. Então, subi para puxar meu amigo para dentro. Era um procedimento quase padrão para nós dois, portanto, o fizemos rapidamente.

Lindon ficou com um dos bancos só para ele, já que estava deitado e quase adormecendo. Então espremi-me com as meninas no assento paralelo, tomando a mão de Megára entre as minhas e passando meu lenço cuidadosamente em seu rosto para afugentar o suor que denunciava sua febre.

— Você vai ficar com as cinco, Xavier? — resmungou meu amigo.

Meg me olhou com o cenho franzido, Aristemis riu baixinho e eu encolhi os ombros.

— Você não está em posição de ficar com nenhuma delas, meu amigo.

— Mas, Xavier, você gosta mais das loiras! Deixe-me com as duas morenas, sim?

— Com essa orelha pingando? — comentou Aris. — Não será possível, senhor.

— Não é justo esse devasso ter cinco damas perfeitamente aprazíveis para si mesmo enquanto eu me esvaio em sangue! — murmurou fechando os olhos.

Logo estava dormindo.

Conversamos baixinho durante toda a viagem, passando por algumas estalagens e pousadas para tentar arrumar um quarto para as damas, contudo, a recorrência de viajantes pela região fez-me crer que não seria seguro deixá-las pelo caminho.

Deixamos Lindon em sua casa e fizemos o caminho até a minha em um silêncio constrangedor. O condutor, acostumado com minhas chegadas tardias, parou em frente aos estábulos. Desci e ajudei as moças a fazerem o mesmo enquanto dispensava o cocheiro, que desatrelava os cavalos, para sua cama. Com um sorriso largo de gratidão, ele desapareceu na noite. Peguei as rédeas e conduzi os animais para suas baias esperando que as meninas me seguissem.

Assim que Aristemis entrou no vestíbulo, soltou um gemido descontente. Procurei pela lanterna acesa que meu pai sempre deixava quando eu saía com Lindon, então preparei o necessário para o descanso dos animais e fitei as senhoritas Hilbert com um sorriso atrevido.

— Estarão confortáveis, miladies? — indaguei brincando.


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Notas finais do capítulo

Então, miladies, o que acharam da Aris? E esse Xavier? Vai deixar as meninas dormirem com os cavalos?!?!
COMENTEEEMMM!!!



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