Amor: Uma história de Equinócio escrita por Camí Sander


Capítulo 3
Capítulo 2 - Amendoim


Notas iniciais do capítulo

Cadê as minhas leitoras? Espero que o capítulo de hoje seja um deleite para essas fantasminhas camaradas!



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Analisei suas feições cuidadosamente até que a compreensão me tomou. Ali estava minha noiva prometida. Num beco sujo e perigoso, à mercê de homens embriagados.

O que ela fazia ali?

— Senhorita Hilbert? — repeti.

Há quanto tempo eu não vira minha própria noiva? Dias? Semanas? Meses? Quando foi que ela ficou tão atraente? Digo, Megára sempre foi muito bela, mas todas as vezes que a olhei, vi aquela menina divertida que adorava correr atrás dos gansos. Em todos os meus devaneios como homem casado, nunca pensei que sentiria atração física por ela. Carinho? Sim. Afeto? Certamente. Desejo? Não, ela sempre portou-se como uma menina junto de mim.

— Por favor, chame-me de Meg — insistiu. — Da maneira que me tratas, sinto-me uma velha solteirona!

Ri alto, tombando a cabeça para trás. Sim, ali estava minha noiva. Ela era a única jovem que sempre odiou ser tratada como “senhorita”. Foi por isso que seus pais mandaram-na para a capital, em uma escola de senhoritas, para aprender a portar-se antes de sua temporada de estreia na sociedade — a única em sua vida de solteira, já que Megára se casaria comigo logo após.

— Nunca pensei assim, contudo, tens razão. Perdoe-me, Meg?

— Já não estás perdoado? — retrucou sorrindo. — Oh, céus, acho que devo começar a me expressar de maneira mais objetiva!

Antes mesmo de terminar a frase, um tremor perpassou seu corpo. Imediatamente abri o casaco e estendi-lhe outra vez.

— Deve desculpar-me pelo mau cheiro, pela minha falta de consideração e meus modos pouco cavalheirescos, no entanto, é tudo o que posso oferecer-lhe no momento. Aceite, por favor.

Assentindo de leve, deixou-me que pousasse novamente o tecido em suas costas e encolheu-se dentro das abas dianteiras. Quis abraçá-la, porém receei que me repelisse.

— Então — ela começou. Muitas vezes, a donzela em questão usava expressões estranhas para comunicar algo. — Como um gentil cavalheiro parou nesse beco?

Dei de ombros.

— Fugindo de assédio — brinquei ao recordar-me do comportamento de Elle. — E uma bela donzela? O que faz nesse beco tão distante de casa nessa noite?

— Estou esperando minha irmã — explicou em um suspiro. — Nossa carruagem quebrou há algumas horas quando voltávamos para casa. Viemos andando até aqui. Aris está lá dentro procurando algo para comermos. As hospedagens ao longo do caminho já estavam todas fechadas. Confesso que comeria qualquer coisa para acalmar o estômago.

Sorri.

— Imagino que o cardápio precário tenha tal alimento... Qualquer coisa.

Meg riu e baixou os olhos para o chão. Hipnotizado, vi seus dentes prenderem o lábio inferior. Antes que pudesse me conter, ouvi a mim mesmo suplicando:

— Não faça isso! Lábios tão belos não devem ser maltratados dessa maneira! Se preferir, posso tentar agilizar as coisas lá dentro.

Enquanto falava, pus-me de pé e ponderei minhas opções. Não queria deixá-la sozinha ali. No entanto, Meg parecia estar mesmo faminta e, se eu pudesse, faria qualquer coisa para diminuir seu desconforto. Ela ficaria bem sozinha, não ficaria? Apenas por um minuto ou dois.

— Não vá! — implorou agarrando meu braço. — Por favor, fique aqui!

Sentei-me novamente e ela soltou-me com um suspiro. Outro tremor correu o corpo diminuto. Sem querer intrometer-me, passei o braço por suas costas e puxei-a para mim, abraçando sua forma protetoramente e afagando seu braço para reduzir os tremores. Meg aconchegou-se ainda mais em mim.

— A senhorita não me parece muito bem. Devo levá-la a um posto médico?

Megára balançou negativamente a cabeça.

— Só estou com fome. Ficarei bem. Não deverias abraçar-me assim, senhor.

— Por quê? — indaguei aturdido. — Falta pouco menos de um ano para nosso casamento, não é mesmo? Ou a senhorita ainda não me reconheceu?

Rindo com descaso, a moça soltou-se de mim e colocou-se de pé para fazer uma mesura.

— Sei quem és, senhor Campbell, e estou certa de que não há necessidade de preocupar-se com minha saúde. Estou perfeita.

— Certamente que está — murmurei comigo mesmo, então elevei a voz. — Exceto pela parte que estás sentindo tanto frio a ponto de tremer-se inteira! Venha, eu lhe esquentarei.

Em um ímpeto infantil, ela fez exatamente o que imaginei que faria: correu de volta para os caixotes, encolheu-se dentro de meu casaco e pousou a cabeça contra meu peito. Abracei-a novamente e lhe afaguei as costas. Meg suspirou em deleite.

— Agradecida. — sussurrou. — Estou feliz em tê-lo encontrado, Xavier. Nunca pensei que poderia deparar-me com alguém tão bondoso em um bar. Espero que não seja algo tão recorrente quando nos casarmos.

— Por favor, não diga que se apaixonou por mim só agora! — brinquei fingindo ofensa.

— Nunca me apaixonaria por alguém que fede como um porco! — retrucou altiva.

Eu ri alto mais uma vez, certo de que Meg apenas aderira à brincadeira. Passei os dois braços em sua volta e atrevi-me a beijar sua cabeça. Então senti o cheiro do paletó que a cobria e franzi o nariz. Afastei-me rapidamente dela, embora com cuidado. Megára me olhou confusa.

— Estou fedendo! — reclamei e ela riu. — Pensei que estavas brincando comigo para que me mantivesse longe.

— Sinto muito — falou fazendo uma careta e voltando a se encostar.

— Voltou para ficar?

Meg deu de ombros.

— A senhora Traub não tinha muito o que fazer conosco. Aris conseguiu desestruturar a mulher e eu não supri as expectativas, mas mamãe pediu que voltássemos para passar um tempo com a família antes das nossas entradas na sociedade.

— Como pode não ter suprido as expectativas?

— Aquela mulher era louca! — resmungou. — Eu nunca ficaria sentada bordando enquanto espero que a costureira aperte ou afrouxe meu vestido! Se estou bordando, por que não posso eu mesma arrumar minhas roupas?

Eu ri.

— Nunca pensei que ficarias bordando, para início de conversa. Sempre gostaste muito de atividades ao ar livre.

— Ora! — exclamou ultrajada. — Quando éramos pequenos, certamente não gostava de ficar parada enquanto o mundo inteiro acontecia! Hoje sei o que se espera de uma esposa e, bem, estou feliz que mamãe tenha nos chamado antes de assumir o compromisso com o senhor. Assim, poderás conhecer-me melhor e eu poderei refletir sobre aceitar o compromisso.

— Pensas em desistir? — indaguei aturdido.

Aquela ideia nunca tinha passado por minha cabeça. Eu sempre fora crente de que as mulheres ansiavam por casamento e sempre dei por certo que sossegaria quando minha noiva fizesse seus 18 anos e sua entrada na sociedade. Agora, o pensamento de que Meg poderia rejeitar o pedido não fazia sentido algum. Ambos sabíamos desde pequenos que estávamos destinados. Ou será que não estávamos?

Megára deu de ombros e seu estômago roncou.

— Sinto muito — murmurou envergonhada.

— Eu quem devo pedir minhas desculpas, milady. Por um momento, esqueci-me de que estavas com fome — desculpei-me franzindo o nariz. — Sua irmã está demorando, não achas?

Minha observação ficou sem resposta porque uma silhueta parecida com a de Meg atravessou a entrada do beco em visível fúria. E a morena marchou até ficar de pé à nossa frente.

— Esse lugar é o pior estabelecimento que encontrei em toda a minha vida!

— Deixe-me adivinhar: não encontrou nada comestível.

— Encontrei — grunhiu Aris. — Amendoim.

— E não trouxeste um punhado para mim? — choramingou minha noiva. Diante da negativa da irmã, Megára continuou: — Por que não o fizeste? Aris, eu estou com fome! Por que não me perguntou se eu não o queria?

Aristemis colocou as duas mãos na cintura e fuzilou a irmã com os olhos.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam da Linda Menina? E da Aris?
Xavier caindo igual a um patinho pela prometida dele... aiai, que gentleman!



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