Mesmo dia, 18h da tarde
Forks, Washington

Todos os presentes pareciam estar em alguma espécie de choque. Encaravam Bella em silêncio e varriam seus olhos pela silhueta da garota como se a resposta para tudo aquilo fosse aparecer num estalar de dedos, porém nada acontecia. Ninguém se atrevia a mexer um músculo, ou ao menos era o que eles pensavam...

"Isabella..." ouviram o sussurro e rapidamente viraram-se para encarar o responsável. Damon. O mesmo estava alguns passos para frente, o corpo inclinado, a cabeça levemente erguida, os ombros para trás e os braços ao lado do corpo. Como se ele estivesse pronto para ir atrás dela.

Ao voltarem para encarar a Swan, a mesma soltou um risinho cínico e meneou a cabeça, pegando as sacolas ao seu lado e subindo as escadas rapidamente. Caroline estava em seu encalço. O silêncio voltou a pairar sobre o ambiente.

Os Cullen e os Quileutes se entreolhavam e tornavam a olhar para a porta, como se quisessem confirmar que o que haviam presenciado era real. Eles haviam mesmo visto Isabella, e céus, como o nome a cabia perfeitamente naquele momento. Sempre coube, na verdade, mas era impressionante o quanto estava ainda mais bonita quatro anos depois. O tempo apenas fizera bem a ela, tornando suas feições de garota em mulher, seu cabelo parecia maior e no castanho começavam a aparecer alguns tons avermelhados.

Enquanto os convidados pareciam estar processando a cena que presenciaram, Charlie pensava no quanto havia estragado as coisas. Desolado, arfou e cambaleou até a poltrona, sentando-se na mesma e colocando as mãos sobre o rosto. Tyler e Damon, vendo a cena, trocaram olhares e foi o Lockwood quem aproximou-se do Swan e colocou a mão esquerda sobre seu ombro.

"Eu vou falar com ela." o Salvatore anunciou, atraindo a atenção de todos antes de subir as escadas.

Charlie apenas assentiu e voltou a encarar o chão. Um clima pesado instalou-se sobre o ambiente assim que o Salvatore subiu as escadas. Um leve ar de questionamento pairou sobre os convidados, não tinha como negar que haviam se surpreendido um pouco com a cena. Na cabeça deles o natural teria sido Charlie ir atrás da filha e resolver o assunto. De qualquer forma, não se pronunciaram e muito menos tomaram atitude alguma. Não é como se tivessem tal direito.

E foi somente após longos trinta minutos de silêncio que o Chefe Swan tornou a se pronunciar. Ergueu a cabeça, lançando um sorriso fraco de agradecimento para Tyler e ajeitou a postura na cadeira.

"Precisamos prosseguir com a reunião." afirmou, entrelaçando os dedos e encarando todos os presentes na sala. Contudo, seu tom de voz não parecia tão firme quanto suas atitudes e gestos.

"Charlie... Se quiser podemos ir embora e continuamos depois." Alice sorriu fraco após sugerir, dando alguns passos para a frente, encarava o Swan enquanto pensava no quão atordoado ele estava após a cena com Isabella. Se alguém estava mal após as palavras da garota, este alguém era ele e disso a Cullen não tinha dúvidas. Sentia uma simpatia extrema em relação ao mesmo, desde que Bella e Edward começaram a se envolver ela ia as vezes a casa dos Swan para passar tardes com Bella e acabava conversando com o mesmo. Sempre soube que Charlie era um bom homem e não tinha dúvidas do amor que ele sentia pela filha.

"Não, eu... eu estou bem." afirmou, porém parecia que era mais para si do que para a vampira. "Podemos prosseguir com o assunto e... bem, depois eu repasso os detalhes para Damon... Isso." piscou algumas vezes, como se estivesse tentando encontrar sentido no que dizia.

"Charlie, nunca achei que fosse concordar com Alice, mas..." Jacob foi quem se pronunciou desta vez, respirando fundo enquanto observava o melhor amigo de seu pai, que até hoje ele mesmo enxergava como uma figura paterna, vagar os olhos pela sala, até focar no mesmo. "Também acho que podemos continuar a reunião um outro dia. As coisas não parecem estar boas e tenho certeza de que mal pode esperar para subir aquela escada e tentar se resolver com Bella..." deu de ombros e fechou os olhos por alguns segundos até abrir os mesmos novamente e terminar de falar. "Bem, digo isso por que eu também quero muito fazê-lo."

Dando-se por vencido o policial finalmente suspirou e assentiu, fechando os olhos e respirando fundo, voltando a apoiar a cabeça com as mãos. "Tyler, acompanhe-os até a saída, por favor." pediu com o tom de voz baixo. O Lockwood apenas assentiu e gesticulou com o braço esquerdo em direção a porta, afastando-se do homem lentamente, retirando sua mão do ombro do mesmo e vendo que o resto o seguia enquanto caminhava até o local.

Sem muitas cerimônias, quando a última pessoa (Paul, no caso) passou pela porta, Tyler acenou com a cabeça, despedindo-se de todos e fechou a porta sem sequer abrir a boca. Não restavam-se dúvidas de que, provavelmente, cada pessoa que vivia naquela casa os odiava e todos pelos mesmos motivos.

Ainda assim, toda a confusão que acontecera não acabara com o ânimo e a magia do fato de que eles haviam, após quatro longos anos, finalmente visto Isabella. Edward, em especial, ainda sentia-se um tanto quanto em choque e as famosas borboletas em seu estômago ainda estavam ali. Se fosse humano seu coração estaria a mil e suas mãos formigando. Ele ainda amava Bella, do fundo de sua alma. Ela havia superado qualquer paixão que ele teve em todos os seus anos, era surreal a forma com a qual se sentia perto dela. Sentia-se humano novamente.

Jacob não passava muito longe do vampiro. Ele estava extremamente feliz em ter visto novamente sua melhor amiga a quem ele sempre quis o melhor, em ter visto novamente uma de suas primeiras paixões de adolescência, para a qual reservara todos os seus pensamentos e sentimentos mais puros, agora com feições tão maduras e um tanto quanto duras, arriscaria dizer. Mas era óbvio que os anos haviam feito bem, muito bem, para ela. Em sua mente, um replay de tudo o que viveram tocava incessantemente e ele mal podia esperar para entrar em contato com a garota mais uma vez, desculpar-se pela bobagem que fizera quatro anos atrás e começar a amizade deles de onde haviam parado, ou ao menos recomeçar do zero. Até por que, ele sabia que talvez fosse ser difícil para ela perdoá-lo, não tinha dúvidas, ainda mais pelo sofrimento que passara quando o sanguessuga a deixou. Antigas mágoas começaram a aflorar dentro do Black e ele achou melhor focar seus pensamentos no que Sam estava a dizer.

"Vamos deixar com que Charlie nos chame. Causamos confusão demais para uma tarde e devemos a ele um tempo pela sinceridade e consideração de ter nos chamado aqui para esta conversa." constatou, encarando a alcateia. "Não gosto da ideia de muitos humanos se metendo neste assunto, mas me parece que Charlie não aceitará ser colocado de fora desta e muito menos aqueles rapazes." deu de ombros e suspirou. Ele realmente desaprovava a intromissão dos humanos, quanto menos se envolvessem no meio, menos se machucariam.

"Concordo com Sam. Mas infelizmente não podemos fazer nada. "Edward pronunciou-se. "De qualquer forma, também iremos esperar." Se aproximou do grupo de lobos. "E ficaremos em alerta, qualquer coisa os avisaremos. Espero que façam o mesmo." pediu.

Sam apenas assentiu e começou então a sair da propriedade dos Swan, indo em direção a floresta. Os Quileutes o seguiram, um por um sem pestanejar, enquanto os Cullen se dirigiram até seus carros, dispostos a voltarem para casa e digerirem tudo o que havia acabado de acontecer.

(...)

Assim que subiu as escadas, Bella adentrou seu quarto e bateu a porta com um estrondo na cara de Caroline. Segundos depois as lágrimas começaram a cair de seus olhos e ela permitiu-se escorregar pela madeira maciça até sentar-se completamente no chão, o choro agora bem mais forte.

O mais engraçado é que ela não sabia definir se estava chorando por ter visto os Cullen em sua própria casa após tanto tempo, ou se chorava pela traição que todos aqueles que ela amava haviam cometido. Talvez fosse uma grande e horrível mistura dos dois. Respirou fundo e apoiou a cabeça contra a porta, fechando os olhos logo após. A casa inteira estava silenciosa, não ouvia nada vindo do andar de baixo. Talvez Charlie tenha tido alguma compaixão com ela e expulsado todos assim que subiu as escadas. Mas se não tivesse também, não fazia diferença, não é como se ela fosse descer para checar. Não queria encarar o pai tão cedo.

Sabia que vir para Forks seria uma péssima, terrível, abominável ideia. Sentira isso assim que Charlie contara, ainda em Mystic Falls, da viagem e desde então as coisas pareceram apenas piorar. Primeiro a notícia de que Jacob estaria no casamento. Porém tudo ficou bem, ela soube com antecedência, se preparou psicologicamente e conseguiu aceitar. Bella só não esperava ver os Cullen sentados junto dos Quileutes assim que chegou na imensa casa. Na hora sentiu uma leve raiva de seu pai por tê-la trazido para aquele lugar. Foi imaturo de sua parte, ele não tinha como saber -ao menos era o que ela esperava-, não tinha como culpá-lo, por isso superou, mas agora essa?

Seu pai era quem mais sabia de todo o seu sofrimento e sentimento em relação aquele grupo de pessoas. Ele havia visto o auge de sua depressão, sentira raiva junto com ela e então os traz para o mesmo ambiente que ela sem sequer pensar em consultá-la. Na cabeça atordoada da jovem, não haviam desculpas para o que ele havia feito. Nem para ele, Tyler e principalmente Damon. Caroline ainda acabou contando tudo para ela e explicou o quanto tinha sido contra tal atitude, mas isso também não escondia o fato de que havia compactuado com tudo quando a tirou de casa.

Contudo, quem mais a magoava muito saber que tinha participação, depois do Chefe Swan é claro, era Damon. Antes de embarcar em uma relação com o Salvatore, eles se aproximaram e se tornaram melhores amigos nos nove meses que antecederam o início do namoro. E nesse tempo ela havia se aberto totalmente para ele, contando tudo o que sentira em relação a partida dos Cullen e ele percebera o quão profunda tinha sido a cicatriz deixada por eles. Assim como ele confiara nela e contara sobre seu relacionamento com Katherine e a mágoa que tinha de Stefan e até mesmo os problemas com seus pais.

A traição do vampiro não descia, Isabella não conseguia aceitar que ele havia feito isso. Pensar sobre ele e Charlie terem feito isso fazia seu peito doer e mais lágrimas descerem de seus olhos, já borrados devido a maquiagem que Caroline a forçara a passar pela manhã.

Foi então que ouviu duas batidas na porta atrás de si, recusou-se a se mexer. Não interessava quem quer que fosse, ela não estava disposta a ver ninguém naquele momento. Fechou os olhos e sentiu novamente a pessoa bater duas vezes, a respiração pesada indicava que do outro lado, ele ou ela também estava tenso. Logo em seguida mais batidas e desta vez uma voz junto, a voz que fez seu coração pular dentro de seu peito e quebrar-se na queda. Damon.

"Bella, eu sei que está acordada e que está aí, consigo ouvir sua respiração." do outro lado da porta de madeira, ele mantinha sua mão esquerda sobre a superfície e esperava que ela fosse abrir a porta.

Porém o Salvatore não obteve nenhuma resposta. Tudo o que ouviu foi o acelerar do coração da garota ao ouvir sua voz e aquilo fez com que ele se xingasse mentalmente pelo que fizera. Então arfou e fechou os olhos, encostando a cabeça na porta.

"Por favor, Bella. Precisamos conversar, me deixe explicar direito o que aconteceu." pediu, suplicante, ainda de olhos fechados.

Mais uma vez, a única resposta que teve foi o silêncio. Xingou baixo um palavrão quase que inaudível aos ouvidos humanos e amaldiçoou-se por ter aceitado ajudar Charlie. A ideia parecia boa. Ele ajudaria o Swan a descobrir mais sobre a vampira que estava ameaçando a vida de sua namorada, cuidando assim da segurança da mesma e, ao mesmo tempo, poderia finalmente conhecer aqueles que machucaram tão profundamente sua Isabella há quatro anos atrás. E o melhor, eles não teriam a mínima noção de quem ele era.

A única condição era que ela não soubesse de nada. Por isso Caroline havia a tirado de casa. De primeira ele se sentiu uma leve hesitação em aceitar, mas então Charlie explicou que se ela soubesse nunca concordaria e talvez sofresse, ou por que ela ficaria pensando no assunto ou por que iria querer estar lá.

Se a loira não tivesse aberto a boca, tudo daria certo e eles contariam a verdade para Bella depois. Mas ela o havia feito e agora não tinha como voltar atrás.

"Estou falando sério, Isabella... abre essa porta ou eu mesmo abro!" bateu com força sobre a madeira e então bufou, desferindo um soco sobre o material.

"Vai embora, Damon!" a Swan finalmente se pronunciou. "Eu não quero falar e nem ver ninguém. Principalmente você." havia raiva e mágoa no tom de voz da garota e aquela simples frase o machucara muito mais do que qualquer estaca de madeira.

"Merda!" xingou mais alto desta vez e então sentiu uma mão sobre seu ombro. Tensionou e seu primeiro instinto foi chacoalhar os ombros, afastando a mão da pessoa brutalmente.

"Damon, calma." ouviu a voz de Tyler e afastou-se da porta, encarando o lobo. "Ela não vai falar com ninguém agora, nós dois sabemos disso, vamos descer, você precisa se acalmar" aconselhou, colocando as mãos no bolso e encarando o vampiro.

Era estranho pensar em quantas coisas mudaram desde a chegada dos Swan em Mystic Falls. Quando, desde que descobrira da existência do mundo sobrenatural e se viu jogado naquele meio, Tyler se imaginaria sendo amigo de Damon Salvatore? Costumava pouco ligar para a existência do mesmo e ainda assim, quando perguntado sobre a opinião a respeito dele, não tinha uma das melhores. Contudo, bastou Isabella e Caroline passarem de ser melhores amigas a irmãs que os dois passaram a se ver mais vezes, o que acabou culminando em uma convivência bem melhor.

Em resposta ao conselho do rapaz, Damon apenas revirou os olhos e assentiu. Sabia que ele estava certo, mas não daria o braço a torcer, por isso não se pronunciou. Limitou-se então a se afastar da porta e descer as escadas. Tyler ainda demorou alguns instantes, encarava a parede e pensava se ele também deveria tentar falar com Isabella. Quando estava prestes a bater na porta, contudo, balançou a cabeça e desistiu da ideia, indo atrás do Salvatore.

Não sabia exatamente o por que, mas tinha a impressão de que aquele assunto não teria um fim tão fácil e rápido como, provavelmente, Charlie e Damon desejavam.