O Doutor e a Chuva Misteriosa escrita por Gizelle PG, Karina A de Souza


Capítulo 2
Parte 2 -Em busca do antídoto


Notas iniciais do capítulo

Hey Hey!

Estão gostando da parceria da Margô com o Doutor? Pois bem, tem mais um capitulo recheado de aventura pra vocês curtirem!

*Lembrando que esse é o capítulo final do nosso conto ;)



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Não era surpresa que o Mestre gostava de entradas triunfais, para alimentar seu monstruoso ego. Mas, dessa vez, o que ele recebeu foi o silêncio assustado de Margô e a cara nada surpresa do Doutor, o que lhe causou certa irritação.

—O que foi?-Perguntou, mudando de posição e colocando as mãos na cintura. -Nada a dizer?

—Rosto novo, é?-O Doutor lançou.

—Nem tenta me enrolar, Doutor!-Gritou. -Por que não parece surpreso?

—Não leva pro lado pessoal, mas você é meio óbvio. Quem mais estaria por trás de tudo isso se não você? Jamais seriam os Daleks, por exemplo. A violência deles faz sentido. -O Mestre ficou quieto por um momento, sem se mexer, então começou a rir.

—É verdade, você me pegou. Mas em compensação... -Ficou sério. -Eu peguei você. -O Doutor soltou Margô, segurando apenas a mão dela.

—Ah, você sabe como é... -Começou a andar devagar para trás, levando a garota consigo. -Você me pega, eu fujo, atrapalho seus planos, temos um momento emocional que talvez seja constrangedor e...

—Ninguém te contou, Doutor? As coisas mudaram. Dessa vez eu vou realmente te matar e você nunca mais vai atrapalhar meus planos.

—Dessa vez? Nas outras vezes não era sério então?-O Mestre não respondeu. -Muito cedo para piadas?

—Quer ouvir uma piada? Uma humana atropela um Senhor do Tempo...

—Ei!

—Aliás, senhorita Oliveira, preciso parabenizá-la pelo incrível feito desta noite. Atropelar o Doutor é algo que nenhum inimigo dele pensaria em fazer.

—Como você sabe meu nome?-Margô perguntou. -Como sabia onde eu moro?

—No momento em que atropelou o Doutor eu pesquisei tudo sobre você, tudo. -A animação dele parecia tão assustadora quanto suas expressões assassinas e sua risada bizarra. -Precisava conhecer minha mais nova pessoa favorita.

—Eu?-Ela definitivamente não queria ser a pessoa favorita de um maluco perigoso.

—Sim!-Abriu o blazer, revelando uma camisa roxa com a estampa do rosto de Margô, junto de uns corações e “Margô detona!” em letras grandes. A garota ficou horrorizada.

—Você só pode tá brincando.

—Mas o que é isso?-O Doutor perguntou perplexo. -Que coisa ridícula!

—Que foi?-O Mestre retrucou. -Tá querendo uma igual? Vai ter que se esforçar mais pra isso.

—Pára de bobagem.

—Tudo bem, vamos para assuntos sérios. -Fechou o blazer. -Aposto que estão curiosos para saber o que estou tramando, não é?-Margô e o Doutor se olharam. -Vamos, não sejam tímidos!-Adalberto, em algum canto, coaxou. -Ah, que bom que perguntou!-Gesticulou, animado. -Eu estive de olho em você, Doutor. Sei que sabe sobre o Ugraniano e a chuva, não vamos nos atentar em detalhes. O que você não sabe é que eu tinha você na mira, ia te miniaturizar e colocá-lo na minha coleção. Margô, porém, foi mais rápida, ponto pra ela. O que você talvez não sabe é que em uma hora todos os humanos estarão doentes. Em duas horas, a Terra será um grande cemitério. -Riu. -Não é perfeito?

—Você é louco?-Margô perguntou.

—Você não sabe da Missy a metade. -Girou no lugar, apontando para o Doutor ao parar. -Eu sei que a sua mente está nesse instante com as engrenagens à todo vapor tentando encontrar uma saída. Mas não se dê ao trabalho, eu mesmo te darei a resposta. -Sorriu de modo insano, estalando os dedos em seguida.

Sequencialmente, o ambiente se transformou, dando espaço para luzes roxas, um painel de controle e uma infernal bagunça composta por estranhos artefatos e máquinas incomuns.

—Minhas criações!-Apresentou o Mestre, abrindo os braços. -Incluindo o Borrifador 2.000, o que fez chover e está em algum lugar aqui nessa sala de controle. Vocês tem que encontrá-lo até as quatro da manhã ou podem dar adeus à toda humanidade -E desapareceu teatralmente.

Margô olhou para o Doutor, ansiosamente.

—E agora?

—Acho que não temos escolha. Se não procurarmos, a humanidade terá seu fim esta noite, em pleno ano novo.

Antes que a dupla começasse a busca, o Mestre retornou.

—Olá de novo!-Exclamou. -Desculpem interromper, eu esqueci uma coisa, que cabeça a minha!-Margô notou que ele tinha em mãos um prato com o bolo que ela tinha feito mais cedo. -Não estraguem nada. Se eu encontrar um arranhão nos meus bebês, mato vocês dois e esse sapo gordo também. -E desapareceu novamente, antes de qualquer protesto.

Margô encarou o Doutor.

—Dá pra acreditar nesse cara? Ele veio ameaçar a gente enquanto comia meu bolo!

O Doutor ergueu uma sobrancelha.

—Esse é o Mestre. Vá se acostumando.

Após uns segundos de assimilação, Margô e o Doutor voltaram-se para a pilha de máquinas acumuladas e começaram a revistar o lugar. Depois de muito tempo imersos na busca, Margô começou a sentir as pernas doerem e resolveu fazer uma pausa para descansar um pouco.

Ela se sentou num pedaço de chão desocupado, onde não havia peças espalhadas. Mal se ajeitou no lugar, percebeu uma reação estranha vinda de seu sapo de estimação.

—O que foi Adalberto? -ela pegou-o no colo. O bichinho tinha os olhos mais esbugalhados do que nunca e fazia um barulho estranho. -AI MEU DEUS!

O Doutor voltou-se de imediato para Margô, preocupado.

—O que foi? Aconteceu alguma coisa?

—Aconteceu! -ela disse, chorosa. -Meu sapo está engasgado! Por favor, faça alguma coisa... DEPRESSA! -e estendeu o sapo diante do rosto do Doutor.

—Mas... O que você espera que eu faça? Beije ele? Porque se for isso, eu serei obrigado a me recusar! -disse, alarmado.

—Aperta a barriga dele, sei lá! FAZ QUALQUER COISA!

—Ai caramba... Tá bom, tá bom! Só fica calma e pára de gritar -com um pouco de nojo, o Doutor apanhou o sapo em mãos e deu um aperto nele. O bicho cuspiu uma coisa bem pequena, que aparentemente estivera entalada em sua garganta.

No mesmo instante, Margô se abaixou para ver de que se tratava. Acabou ficando impressionada.

—Minha nossa, mas é uma pessoinha! -comentou consigo mesma, abrindo um sorriso. Tratava-se de uma estatueta realista, cheia de detalhes. Ao mesmo tempo, o Doutor cutucava seu ombro e estendia-lhe Adalberto.

—Prontinho. Sapo desengasgado. Melhor voltarmos ao trabalho agora... O tempo está correndo -lembrou, devolvendo o sapo a ela e voltando sua atenção para a pilha infinita de invenções do Mestre.

—Obrigada Doutor -Margô agradeceu, então voltou-se para seu sapo e acrescentou: -Não coma nada que encontrar por aqui, Adalberto. Esse lugar é cheio de armadilhas para sapos. -e colocou-o de volta no chão.

Porém, ao se erguer novamente, desta vez os olhos de Margô pousaram sob algo que ela não havia reparado até então: uma prateleira cheia de miniaturas de pessoas, como aquela em sua mão. Seguindo o raciocínio, uma delas devia ter despencado do lugar e Adalberto só podia tê-la engolido.

—Olha só pra isso... -ela se aproximou, admirando a coleção. -Eu não fazia idéia de que o Mestre tinha bom gosto... Essas coisas são tão bonitinhas... -ela estendeu a mão para tocar uma nova estatueta. O movimento a fez derrubar umas três que estavam ao lado, enfileiradas. No momento em que algumas caíram, Margô arregalou os olhos, deparando-se com uma única estatueta diferente das demais, escondida ao fundo da prateleira. Esta não era uma réplica de uma pessoa, mas sim de uma máquina esquisita, como as que estavam espalhadas pela sala. No momento em que isso ficou claro, a mente da jovem fez uma conexão estranha.

—Isso não seria possível... seria? -intrigada, Margô pegou a mini-máquina em mãos e analisou-a. No instante que suas palmas a envolveram, uma espécie de jato vermelho foi esguichado e penetrou na pele da garota. A ação ocorreu numa fração de segundos e não houve tempo para fazer nada.

Em sequência, o Doutor exclamou, em plano de fundo:

—Pela santa mãe de Gallifrey... O Mestre consegue acumular mais lixo do que eu! -tagarelava, consigo mesmo. -Ele é tão agitado neste novo rosto... Caramba, se algum dia eu acabar regenerando para um cara tão hiper-ativo assim, eu juro que me atiro num buraco negro!

Entrementes, uma mãozinha cutucou o ombro do Doutor. O rapaz se virou e deu de cara com uma Margô levemente ansiosa.

—O que foi agora? -ele analisou-a. -Seu sapo está engasgado de novo?

—Não... É que eu estava pensando... Haveria alguma possibilidade do Mestre ter... sei lá... escondido a máquina que estamos procurando de um jeito nada convencional?

O Doutor abriu os braços, indicando a sala ao seu redor.

—Bom, esse depósito de lixo não me parece servir para outra coisa a não ser camuflar a nossa saída.

Margô mordeu o lábio.

—Bom, considerando este argumento introdutivo, você acharia loucura a máquina que estamos procurando poder ser essa aqui? -e abriu a mão na altura de seus olhos, mostrando a miniatura ao Doutor. No mesmo instante, o rapaz tirou a chave sônica do bolso e escaneou a estatueta. Não passou muito, o rosto dele se iluminou.

—MARGÔ! VOCÊ DESCOBRIU! -o Doutor deu-lhe um abraço que tirou-a do chão e gargalhou alto, empolgado. -Você é incrível, garota! INCRÍVEL! Quase estou feliz por ter sido atropelado por você hoje!

—Ah, pára com isso -ela riu, quando ele a colocou de volta no chão. -Na verdade o Adalberto ajudou um pouquinho também. Ele estava engasgado com uma das estatuetas, o que por sinal, abriu meus olhos para a existência delas no ambiente.

—Adalberto seu bonachão! -o Doutor agachou perto do sapo, contente. -Vocês dois me deixaram orgulhoso! Poderia até mesmo beijá-los pelo trabalho em equipe... -então fez uma careta, imaginando a cena aplicada ao sapo. -Bom... Talvez fique para uma outra vez...

—Doutor, o tempo está correndo -alertou Margô, inquieta, apontando para seu relógio.

—Não se preocupe... Nós vamos conseguir -ele sorriu com as forças revigoradas. Apanhou a máquina da mão de Margô e começou a escavar a pilha de tralhas do Mestre, em busca de algo. -Onde você está...? Eu sei que tem um exemplar de você por aqui... -ele revirou a bagunça, até que abriu um sorriso, puxando um determinado objeto para fora. -Aqui está! Pistola de encolhimento! Se eu inverter a polaridade... Passará a ser uma arma que traz as coisas de volta ao tamanho normal! -e com isso, preparou a arma e apontou-a para a miniatura de máquina, posicionada num canto livre da sala de controles. -Pronto ou não... aí vou eu! -e disparou.

Margô boquiabriu-se, ao passo que a miniatura crescia de tamanho, até praticamente atingir a altura dela.

—Doutor isso é brilhante! Eu estava mesmo certa sobre a miniatura ser só um disfarce! Oh! -Margô cobriu o lábio com as mãos, chocada. -Essa não...

—O que foi? -sondou o Doutor, que a essa altura já rondava a máquina, em busca de uma forma de reverter o mal que causara à humanidade. -Por acaso não descobriu um possível antídoto para a chuva de sangue, né? Ter essa informação cairia como uma luva agora...

—Lamento... Não é isso.

—Então de que se trata?

—É que eu estava pensando sobre a máquina em miniatura... Daí de repente, a ficha caiu.

—Como assim?

—A máquina em miniatura era só uma fachada para nos fazer pensar que não passava de um simples enfeite, quando na verdade, havia muito mais por detrás...

—Está correto em todos os aspectos. Só não entendo aonde quer chegar...

—É que ela não era a única na prateleira -ao ouvir aquilo, o Doutor parou de trabalhar. Por uma fração de segundos, os dois olharam para a prateleira cheia de miniaturas de pessoas. Miniaturas muito realistas.

—Calma Margô. Uma coisa de cada vez, ok? -ele disse com a chave de fenda na boca.

O Doutor girou em volta da máquina, colocando seus óculos de armação quadrada. O Borrifador 2.000 era uma coisa escura, fria e hostil, com umas luzes e um barulho interior que lembrava o rosnado de uma fera.

Enquanto o Senhor do Tempo quebrava a cabeça, Margô andava lentamente pela sala de controle, suspeitando que estava com febre. Talvez encontrasse algo que pudesse ajudar. Quem sabe até um grande recipiente com a palavra “antídoto" na tampa.

—Do que precisamos exatamente?-Perguntou. -O que seria o antídoto?

—Um líquido, provavelmente.

—Muito específico. -Brincou.

—Bom, mas é isso. Se funcionou com sangue e se chama Borrifador...

—Entendi. -Se apoiou no console, exausta. -Alguma ideia?

—Ainda não. -Suspirou. -Eu queria um manual de instruções. É uma máquina tão complicada... Essas costumam ser as divertidas... Mas o Borrifador 2.000 superou tudo que eu já vi.

—Acho que esse era o objetivo. -Esfregou a testa. -Tá calor aqui, né? Tudo bem, é verão, mas... Queria estar em casa agora, brindando com um bom champanhe gelado...

—Champanhe é uma boa. As pessoas o reduzem à uma simples bebida, mas ele é interessante. -Modo nerd ativado. -Feito com as melhores uvas... Sabia que tem antioxidantes no champanhe? Eles limpam e protegem as células de compostos potencialmente perigosos. Cada brinde é uma cura.

—Mini cura, é?

—É, como um antído... É isso! Se usarmos o champanhe no Borrifador 2.000...

—As pessoas vão ser curadas. -Margô completou.

—Exato! Mas... -Olhou em volta. -Onde vamos arrumar algumas garrafas?

—Será que o Mestre gosta de champanhe?-Brincou, fazendo o Doutor rir. -Pode ter umas garrafas em algum lugar aqui.

—O Mestre é imprevisível, nunca dá pra saber. Acho que não custa procurar, não temos muita escolha. -Margô se desencostou do console, se preparando para outra busca.

—Eu posso fazer isso. Adalberto vai me ajudar, não é?-Olhou em volta, mas não viu o sapo. -Adalberto? Aonde ele foi? Será que o Mestre o pegou?

—E por que ele faria isso?

—Por que ele é mau e Adalberto é meu bebê, oras! Adalberto?-Caminhou pela sala de controle. -Cadê você querido?

Saiu preocupada atrás do sapo, olhando em cada canto e chamando o nome dele. De repente, um coaxar.

—Você ouviu isso?-Margô perguntou. -Onde você está? Fala de novo, bebê.

Adalberto voltou a coaxar e Margô seguiu o som, apressada. Quando finalmente o encontrou, ele estava acomodado em cima de um caixote de madeira.

—O que você está fazendo aí, mocinho?-Ele apenas a encarou. -Não se preocupe, a mamãe te achou agora. -O pegou no colo.

Só então notou algumas palavras no topo do caixote.

“Melhor safra do universo. Reservado para o dia em que eu derrotar o Doutor".

Abriu a tampa, revelando várias garrafas de champanhe.

—Olha o que você achou, Adalberto! Bom menino! Doutor, vem aqui! Rápido!

—O que foi? O que foi?-Parou ao lado de Margô.

—Olha!-Apontou. -Champanhe. -O Doutor pegou uma garrafa.

—Melhor que isso, Margô. -Sorriu. -Antídoto.

Depois disso não demorou muito até todo o champanhe estar dentro do Borrifador 2.000 e a máquina de repente não parecia mais tão complicada.

—E agora eu aperto aqui... -O Doutor murmurou, pressionando um botão. -E pronto. Chuva!

Então, antes das quatro da manhã, choveu no mundo todo gotas douradas e com gosto do mais caro champanhe.

Enquanto o Doutor comemorava, Margô se sentia pior do que nunca. Olhou para Adalberto, como se buscasse ajuda, e se espantou ao vê-lo multiplicado.

—Quando foi que arrumou um irmão gêmeo?-Perguntou, antes de ir de encontro ao chão, interrompendo a comemoração do Doutor e o assustando.

—Margô? Essa não! -o Doutor correu para ampará-la. Ela havia desmaiado. O Senhor do Tempo a pegou nos braços e escaneou-a com a chave sônica. -Ah, ela foi infectada pelo sangue do Ugraniano... Como foi que isso aconteceu? -o Doutor perguntou olhando para Adalberto. -Ah, esquece. Isso não importa. Nesse exato instante está chovendo antidoto na Terra. Eu só preciso fazer a TARDIS do Mestre voltar para o último lugar onde esteve materializada, isso é, a casa da Margô, que tudo ficará bem. -anunciou, já tomando as medidas necessárias.

Em pouco tempo, a TARDIS do Mestre estava de volta ao quintal da jovem -desta vez no formato de um coqueiro -e o Doutor escancarava suas portas, saindo para fora com Margô nos braços e tomando chuva de champanhe com ela.

Enquanto esteve ali com a garota no colo, o Doutor sorriu para a visão da chuva de champanhe. Nunca um ano novo havia sido tão literal.

—Tá gostando da safra, amigão? -o Senhor do Tempo piscou para o sapo. Adalberto tinha a boca aberta e engolia todo o champanhe que conseguia. Por fim, arrotou, satisfeito.

O Doutor balançou a cabeça, sorrindo, e no mesmo instante, Margô começou a despertar.

—Ah, olá -ela disse, deparando-se com o rosto amistoso do Doutor.

—Bem vinda de volta Margô -ele saldou, abriu um sorriso cheio de dentes. Os olhos de Margô brilharam ao contemplar a chuva.

—A gente conseguiu salvar a Terra?

—Estamos fazendo isso agora mesmo, em tempo real. Na verdade, sua melhora é uma grande prova de que o antídoto funciona.

Feliz, Margô entrelaçou os braços ao redor do pescoço do Doutor. Aquele momento tinha tudo para ser inesquecível... E teria sido um final até que bonitinho para a nossa história, mas não, pois o Mestre ainda tinha algo a dizer.

Meio cambaleante, o Mestre saiu de sua TARDIS coqueiro e apontou um dedo acusatório na direção do Doutor e Margô.

—Você pode ter ganhado dessa vez, Doutor. Mas diferente de você, eu sei o que te espera! Quer saber pra onde está indo? Eu posso te dizer...

O Doutor porém, cansou da ladainha.

—Ah, dá um tempo! -num piscar de olhos, ele sacou a pistola de encolhimento (que havia confiscado para si) e apontou-a para o Mestre, miniaturizando-o instantaneamente.

—Olha só pra isso! Agora ele virou parte da própria coleção -comentou Margô, enquanto o Doutor a colocava no chão.

—Ele provou do próprio veneno -o Doutor disse, assoprando teatralmente o cano da pistola. -Imagino que não seja nada legal ter que passar a eternidade assim.

Margô se voltou para o Doutor. 

—Isso quer dizer que o Mestre está preso para sempre nesta forma? Então, todas aquelas pessoas... Não poderemos salvá-las.

—Eu acho que não. -confirmou o Doutor. -Talvez até houvesse um jeito, mas se existe, eu desconheço.

De repente um ruído inesperado de motores. Pegos de surpresa, o Doutor e Margô voltaram-se de imediato para a TARDIS do Mestre. Ela estava se desmaterializando, ao passo que o bonequinho super-compacto do Mestre sumira.

—Uma bela saída de fininho, eu diria -comentou o Doutor, colocando as mãos nos bolsos.

Margô cruzou os braços.

—Acha que ele vai voltar mais tarde para te atazanar?

—Talvez. Do Mestre pode-se esperar qualquer coisa -ponderou o Doutor, puxando seu papel psíquico e observando uma mensagem recém captada. -"Nos vemos em breve, assinado M" -leu em voz alta. -Viu só? Isso sim é um bilhete sugestivo que comprova minhas teorias.

—Pode crer -Margô deu risada, pegando seu sapo no colo e rodopiando com ele debaixo de chuva.

Choveu grande parte da noite no mundo todo. Tempo suficiente para curar todas as pessoas que haviam sido infectadas. Mesmo as que não estavam doentes acabaram indo parar nas ruas para poder presenciar "o ano novo em que choveu champanhe". Em poucas horas, a internet fervilhou com vídeos de pessoas registrando seu momento com a chuva improvável. Todo mundo acreditou ser um evento midiático para promover o ano novo... Ninguém jamais poderia imaginar o verdadeiro motivo da chuva de champanhe.

Ninguém, além do Doutor, Margô e o sapo Adalberto, comemorando juntos no quintal de casa.

***

Quando o dia amanheceu, Margô ligou para sua família (checando se todos estavam bem) e logo depois, arriscou mais uma vez pegar no volante. O Doutor contou a ela onde sua própria TARDIS estava materializada e a garota fez questão de levá-lo ao seu encontro.

A nave, improvavelmente na forma de uma cabine azul, estava estacionada na beira da estrada, atrás de uma rocha larga. Assim que Margô encostou o carro, o Doutor correu para junto de sua TARDIS.

—E aqui estamos nós -o Doutor tirou a poeira das portas azuis.

—Ah, então essa é a sua TARDIS? Gostei do modelo. É bem azul.

—Ela é sempre assim. O circuito camaleão quebrou há muito tempo atrás e ela não pode mais mudar de forma.

—Pobrezinha.

—Bom, nem tanto. Cá entre nós, eu acho que ela gosta dessa forma.

—Ou é você quem gosta? -provocou Margô erguendo uma sobrancelha. O Doutor sorriu de volta.

—Acho que as duas coisas.

Ambos riram, até o silêncio tomar conta.

—Bom... Então... É isso. -disse ela, observando a estrada. -Você vai embora agora? Pro infinito e além?

—Mais ou menos isso -ele assentiu, sorrindo de canto. -Se bem que, eu não costumo viajar sozinho, sabe? Eu geralmente curto companhia.

—Ah é?

—Yep.

—Espera. Isso foi um convite? Está me convidando para ir com você?

—Estou. -ele se aproximou dela. -Mas é sua decisão. Sem pressão alguma. Eu entendo que você tem sua vida e tudo mais estruturado bem aqui. Se quiser recusar, eu irei entender perfeitamente.

Margô olhou para a estrada, depois para Adalberto, parado ao seu lado no chão. Por último, voltou a contemplar o Senhor do Tempo, e sorriu.

 

FIM


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Notas finais do capítulo

E aí? Será que a Margô aceitou viajar com o Doutor? Conta pra gente o que vocês acham!

Gostaram da história? Deixem comentários! Nós vamos adorar respondê-los :D



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