O Doutor e a Chuva Misteriosa escrita por Gizelle PG, Karina A de Souza


Capítulo 1
Parte 1 -Margô arruma pra cabeça


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas!

Karina e eu fizemos uma baita parceria com esse conto de DW. Espero que vocês gostem do que preparamos pra vocês!

;)



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Blinding Lights do The Weeknd tocava no rádio do carro, no volume máximo. Margô tinha tido um bom dia no trabalho e música ajudava a expressar como se sentia.

Inspirada, ela baixou o vidro, deixando a brisa fresca do fim de tarde entrar. Tinha sido um dia ensolarado e fazia bastante calor.

A estrada vazia permitia que dirigisse mais rápido do que o normal, sem que se preocupasse com outros carros ou pedestres.

De repente, a música acabou e a voz do locutor foi ouvida:

—Alô, alô, ouvintes de todo o Brasil. Vocês estão sintonizados na 99 FM. Agora são 17:30 da tarde, com 35°C, um calor de rachar, com possibilidade de chuva até o fim da noite. Vocês acabaram de curtir o Top 10 da semana...

Margô mudou de estação.

—Agora um giro pelas notícias: o dólar subiu mais uma vez; prefeito desvia verba destinada à educação; mulher surta em supermercado ao ver o preço dos alimentos subirem; chuva misteriosa intriga moradores...

Louca de vontade de chegar em casa (era sexta feira, Baby! véspera de Ano Novo) e completamente desinteressada pelas notícias do dia, Margô mudou novamente de estação. Desta vez, para sua satisfação, migrou para uma rádio onde uma de suas músicas favoritas (Die YoungKesha) estava tocando. A feliz coincidência a fez abrir um sorriso instantâneo ao volante e querer dançar. Não havia como evitar... a batida simplesmente pedia por isso!

Plenamente contagiada pelo som, ela começou a batucar as mãos na direção e balançar a cabeça no ritmo da música, isso até não poder mais se segurar e começar a soltar a voz também.

Por um longo percurso, Margô seguiu assim, apenas curtindo. Estava tão empolgada com a vibe atual, tranquila e otimista, que por um breve instante, desligou completamente a atenção da estrada.

A surpresa, porém, se deu ao voltar a atentar-se a ela.

Tudo aconteceu muito rápido: Margô despertando do devaneio. Seu carro em alta velocidade. E o homem que surgiu do nada no meio da estrada.

—OH NÃO! -Margô gritou, tentando frear, mas era tarde demais. A colisão do corpo contra o capô era inevitável, e quando ocorreu, fez tudo imediatamente sacolejar de modo perturbador.

O corpo caiu no asfalto, inerte, e Margô viu-se paralisada no banco do carro.

Alguns segundos depois, ela tomou coragem e saiu do veículo, atônita, agitada e trêmula, batendo a porta e indo checar a dimensão do estrago.

—Oh Meu Deus -ela disse, assombrada, levando as mãos ao rosto. -O que foi que eu fiz?

Em choque, Margô não notou muito além de que era um homem magro, de cabelos castanhos.

Procurando por ajuda, e possíveis testemunhas, a jovem olhou em volta, mas a estrada continuava vazia. Não muito longe, uma coruja piou, como se dissesse: “Eu vi tudo, maluca”.

Pegou o celular no bolso, mas estava sem bateria. Talvez não fosse seu dia de sorte.

Começou a andar de um lado para o outro, sem saber o que fazer. Ocasionalmente olhava para o homem no chão, com um pouco de esperança de que ele ia desaparecer sem mais nem menos. Isso não ia acontecer, é claro.

Decidiu colocá-lo no carro. Sem ter como chamar uma ambulância, teria que levá-lo para o hospital. Mas e depois? A polícia ia aparecer com perguntas e ela não tinha vontade de ser presa.

Para com isso, Margô, pensou. Você não pode largá-lo aí.

O homem não parecia estar morrendo. Não havia sangue, ossos ou tripas aparecendo. Isso com certeza era um bom sinal.

Desejou estar em casa, então isso lhe deu a inspiração que precisava: levaria o João Ninguém para casa, garantiria que ele estava bem e depois o convenceria a não denunciá-la. Era o plano perfeito.

—Hã... Com licença. -Pediu em voz alta, antes de se abaixar e segurar o homem pelos braços. Foi uma luta colocá-lo no banco de trás. Ele era mais pesado do que parecia, mas no fim, depois de muito esforço, umas ocasionais quedas e tropeços, o homem foi acomodado nos bancos traseiros.

Margô voltou para o banco da frente, girou a chave na ignição e desligou o rádio. Era melhor dirigir atenta e evitar outro atropelamento surpresa.

***

 

Chegando em casa, Margô abriu a porta, jogou as chaves de qualquer jeito no carpete e, depois de mais uma dose de esforço, deitou o corpo do homem no sofá, ofegante.

Atualmente, ela tinha 24 anos e morava sozinha. Infelizmente, não poderia contar com mais ninguém para auxiliá-la nesta situação tão delicada.

Claro que sempre se podia recorrer aos vizinhos, porém, como ela explicaria essa confusão toda? Não... Margô não estava com tempo para julgamentos e não precisava de ninguém avaliando suas habilidades como motorista.

Ao endireitar a coluna, ela observou a face do pobre infeliz que havia entrado em seu caminho na estrada; Ainda sendo assombrada pelas lembranças do corpo colidindo com o carro, ela desviou o rosto, angustiada, procurando um ponto de fuga na sala de estar, onde pudesse refugiar seus pensamentos.

Um bip da secretária eletrônica chamou sua atenção. Sedenta por qualquer palavra amiga que fosse, Margô apertou o botão para ouvir os recados. Dois eram da companhia de seguros e um era engano. Decepcionada, a garota desligou o aparelho.

Sequencialmente, seu olhar migrou para o objeto mais próximo. Sob a mesinha do telefone, havia uma bonito retrato de família, onde uma Margô um ano mais jovem estava sendo abraçada por suas duas irmãs mais novas e os pais. Todos tinham sorrisos bem largos nos rostos, como se esbanjassem orgulho. Orgulho da garota ajuizada e responsável que ela havia se tornado.

Cada segundo sentindo-se mais culpada, a jovem baixou o porta retrato, ocultando a fotografia.

Era tão contraditório... Há alguns minutos atrás, ela estava bem feliz. Era véspera de ano novo, tinha dado tudo certo na lanchonete onde trabalhava e ela estava quase chegando em casa. Aquele dia tinha tudo para ser mais um dia comum, sem grandes agitações. Porque raios teve que se descuidar?

—Eu sou tão imprudente... -jogou-se numa cadeira, desolada. Automaticamente, seu olhar recaiu sob o homem desacordado em seu sofá, do outro lado da sala. Não importava o quanto ela fugisse do assunto... era impossível ignorá-lo.

Pondo-se de pé, ela caminhou em sua direção, desta vez determinada a arcar com as consequências. Ela entendia que tinha errado e precisava consertar as coisas agora do melhor jeito possível.

—Ok, vejamos... -sem pressa, ela se ajoelhou próximo dele e analisou-o, em busca de eventuais ferimentos. A primeira vista, ele não parecia estar muito machucado... Afora uma evidente mancha de sangue acumulado no rosto -dado sua queda no asfalto áspero -ele parecia estar bem. Em ampla escala, era difícil saber. O estranho tinha muito pano cobrindo o corpo. Usava um terno azul, gravata e um par de tênis bem desleixados.

Margô não era médica nem nada... então desejou que tudo não passasse de um susto enorme para ambos, e que ele não tivesse nenhuma lesão ou fratura grave escondida por aí.

Com isso, se encaminhou para a cozinha, aprontando um pouco de água morna e fria, além de um pano esterilizado para limpar ferimentos.

Logo ela estava de volta, preparada para cuidar do hóspede dorminhoco. Limpou todo o sangue que estava visível. Isso levou algum tempo e Margô procurou ser o mais cuidadosa possível, afinal, ela havia sido imprudente e ele ainda podia processá-la quando recobrasse a consciência. Sua roupa social deixava Margô inquieta com a possibilidade dele ser um homem importante, com um cargo importante, e uma facilidade surreal para excomungar pessoas que o desagradassem. Contudo, seu rosto não mostrava-se nem um pouco intimidador. Homens de negócio, sérios e poderosos, costumavam ter uma cara igualmente compatível. Mas aquele completo estranho surpreendentemente não transmitia nada disso.

Assim que terminou de limpá-lo, Margô notou uma parte e outra do terno azul que precisavam de reparos. Muito paciente, ela pegou a caixa de costura e deu um trato geral, com o tecido ainda no corpo do homem.

Terminada esta etapa, ela analisou-o mais uma vez de modo geral. Aparentemente estava tudo em ordem... Já ia se dar por satisfeita, quando reparou novamente nos tênis sujos horrorosos. Francamente... que mal gosto! Quem em sã consciência sairia de casa com um calçado naquele estado...? Não, não. Ela precisava dar um jeito nisso.

Desta vez, ela removeu os tênis de seus pés e levou-os para a área de serviço, onde fez uma limpeza completa.

Por fim, sentou-se na pontinha do sofá, esgotada de tanto trabalhar, e observou-o mais uma vez. Ah! Sinceramente, estava muito melhor do que quando chegou à casa dela...

 Adepta do perfeccionismo, a jovem inclinou-se sobre ele e ajeitou seus cabelos, agrupando-os numa posição melhor. Após terminar de arrumá-lo, ela se afastou e sorriu, contemplando sua obra.

—Agora sim. Bem melhor, não acha? -perguntou a esmo, pois ele continuava dormindo. Margô, que já não esperava por uma resposta mesmo, levantou-se do sofá e tomou fôlego. -Bom, amigo... Você teve um dia duro... É hora de ir para a cama.

***

 

Margô torcia muito para ele não criar ainda mais hematomas, durante essas vezes em que ela passava carregando-o de um lugar para o outro.

Colocá-lo na cama teve lá suas dificuldades, mas dessa vez, ao menos, a garota pode contar com o auxilio de uma cadeira de rodinhas.

Logo ele estava deitado e parecia confortável naquela posição. A moça contentou-se com esse pensamento.

Precisando descansar um pouco também, ela se sentou nos pés da cama e ligou a televisão baixinho. Logo a primeira imagem que apareceu foi de uma reportagem sobre a virada do ano que aconteceria aquela noite. A menção no assunto fez Margô se lembrar de que este seria o primeiro ano novo que ela passaria sem companhia. Então, subsequentemente, lançou uma olhadela para trás, contemplando o homem adormecido em sua cama. Era estranho pensar por esse ângulo, mas a presença dele ali fazia uma diferença considerável na fase de adaptação pelo qual ela estava passando na cidade nova.

Involuntariamente, Margô sorriu. Nem sabia direito porque havia feito isso, porém fez.

Pouco depois, se levantou e pegou uma colcha leve no armário, com estampas meigas de joaninha, e se dirigiu para o rapaz. Já ia cobri-lo, quando, na véspera, teve uma súbita intuição: e quanto a família dele? Ele podia ser casado... Não. Não tinha aliança no dedo. Mas, bom... ele devia ter uma família... Afinal, todo mundo tem uma!

Pobres almas... O que estariam pensando a uma hora dessas? Estariam agitados, andando de um lado para o outro, morrendo de preocupação porque o... hã... fulano dos tênis sujos, não havia retornado para casa no fim do dia?

—Eu nem sei o seu nome -Margô ponderou, retoricamente. Então abanou a cabeça, espantando uma idéia tola. -Não posso continuar com isso. Preciso informar alguém de que você está vivo e bem. Ninguém merece passar o ano novo angustiado... -e com isso, ela largou a colcha de qualquer jeito nos pés da cama, e se encaminhou para o rapaz lá deitado. Um pouco tímida, revirou os bolsos dele, em busca de documentos, carteira de identidade, telefone residencial, qualquer coisa que pudesse auxiliá-la a entrar em contato com a família do estranho. Porém... não encontrou nada relevante.

—Que esquisito... -coçou a cabeça, ao encarar os únicos objetos que conseguiu tirar dele: uma estranha coisa prateada com a ponta azul. Parecia uma espécie de caneta que acende quando você pressiona a ponta contra o papel, porém, curiosamente, não havia ponta para pressionar; Um óculos de armação quadrada e um terceiro objeto que lembrava uma carteira a principio. Margô se animou ao encontrá-la, pois acreditou poder possuir alguma informação dentro, mas quando abriu-a, deparou-se com um papel em branco. -Muito esquisito.

Naquele segundo, a tv aumentou de volume inesperadamente, fazendo a garota se sobressaltar. Ela era antiga e vivia com problema no botão do regulador de som. Irritada, Margô caminhou pisando firme até ela, largando as coisas do estranho sob a cômoda.

Tomada por irritabilidade, a jovem abriu uma gaveta da camiseira e puxou o controle remoto para fora. Estava prestes a baixar o volume, quando uma matéria lhe pareceu interessante: com o foco novamente no réveillon, estavam entrevistando pessoas na rua e perguntando qual era a sua superstição preferida. Isso fez Margô lembrar dos velhos tempos, em que ela e suas irmãs eram crianças e sua mãe fazia bolo de maçã nesta data. Não era uma superstição oficial do feriado, mas era uma tradição de família. Assim como comer peru no Natal.

Bom... Margô sabia cozinhar e tinha uma cozinha a sua disposição. Precisava mesmo mudar um pouco a cabeça... então decidiu se aventurar e fazer o bolo nostálgico.

***

 

A casa foi preenchida com o cheiro de bolo de maçã, o cheiro que marcou  sua infância e adolescência. Ela lembrava perfeitamente da mãe fazendo o bolo e a chamando para experimentar.

Com saudade desses momentos e da família, Margô voltou para os pés da cama, junto de seu bolo e um copo de leite.

Espiou o João Ninguém.

—Quer um pedaço?-Ofereceu. Não houve resposta. -Tudo bem, sobra mais pra mim.

Encarou a TV. Uma dupla sertaneja feminina fez uma pausa na música para anunciar que faltava bem pouco para a meia noite e a queima de fogos ia começar.

—Oh, é mesmo!-Margô exclamou, deixando seu lanche de lado. -Os fogos!

Saiu animada e apressada para a varanda. Na rua, carros e pessoas faziam seu caminho até a praça, onde uma queima de fogos simples tinha sido organizada por um grupo de jovens. Uma menininha acenou para Margô, rindo, sendo carregada na canguta do pai. A garota acenou de volta.

Não demorou muito até um coro de vozes ser ouvida, fazendo uma contagem regressiva a partir do dez. Margô se juntou ao coro, contando em voz alta.

—Sete, seis, cinco, quatro, três, dois, um..

Fogos explodiram no céu, junto de gritos, risos, música e comemoração. Um novo ano havia começado.

Enquanto isso, o João Ninguém acordava. Talvez tenha sido o barulho, talvez tenha sido o cheiro do bolo ou um timing perfeito, ninguém sabe. Mas lá estava ele, acordando num quarto desconhecido.

Ao seu lado, algo fez um som estranho. Intrigado, o homem virou a cabeça lentamente, apenas para encontrar um grande e gordo sapo verde sentado no colchão, o encarando com seus olhões.

Então, João Ninguém fez o que muita gente faria numa situação dessas... Ele gritou estrondosamente.

Margô escutou um grito vindo das entranhas da casa. Parece que seu hóspede inesperado finalmente acordou.

Sem demora, ela disparou de volta ao quarto, um tantinho ansiosa pelo que viria pela frente. Ok, e lá vamos nós, pensou consigo mesma. Era hora de dar explicações.

Ao entrar no quarto, a garota se deparou com o homem já de pé, encarando sua cama com uma expressão assustada. Assim que percebeu sua presença, ele imediatamente se voltou para ela. 

Margô lançou um sorriso amarelo ao rapaz.

—Oi, meu nome é Margô. -achou melhor começar devagar, pois dizer "oi, eu sou a garota que te atropelou", não parecia ser um bom começo. -Se sente melhor?

O homem olhou para ela, depois voltou a olhar para a cama. Ele parecia confuso.

—T-tem um... um sapo... na... -ele gaguejou, apontando para o colchão.

—Ah... Desculpe por isso -ela caminhou em direção à cama. -Esse é o Adalberto, meu sapo de estimação. -Margô disse, pegando o bichinho no colo. -Já que a Bela Adormecida acordou, não quer me dizer seu nome?

—... É Doutor. Eu me chamo Doutor. Só... Doutor. -falou, meio atordoado. -Espera aí... Você disse sapo de estimação? Que tipo de gente tem um sapo de estimação? E desde quando Adalberto é nome de sapo? Isso nem é nome de sapo!

Ela ergueu uma sobrancelha.

E por acaso Doutor é nome de gente? —retruca, colocando o sapo no chão.

—Você quer começar uma discussão sobre nomes? Porque eu conheço alguns muito piores. E aliás, nós temos assuntos mais importante à tratar, tipo: o que eu estou fazendo aqui?

Margô gelou por um segundo. Era hora de dizer a verdade, mas como faria isso?

—Essa é realmente uma boa pergunta... -riu para descontrair. -Uma boa pergunta mesmo, e... Ah, olha só, aquilo é bolo de maçã?—ela correu até o criado mudo e encheu a boca de bolo, para não ter que dizer nada. O Doutor a encarou, arqueando as sobrancelhas.

—É sério isso? Porque eu sinceramente não acredito que o bolo de maçã tenha algo a ver com meu repentino aparecimento no seu quarto.

Margô revirou os olhos, terminando de mastigar o bolo.

—Tá, você me pegou. -sentou-se sobre a cama. -A verdade é que eu te atropelei. Pronto falei. Mas a culpa não foi minha! Digo, um pouco foi, mas em minha defesa, foi você quem apareceu do nada no meio da rua. Isso não foi um ato muito inteligente, sabia?

—Eu estava tentando salvar a Terra e é isso que eu recebo? -culpou-a.

—Salvar a Terra? -encarou-o, com uma expressão duvidosa. 

—Exatamente. Salvar a Terra. -ele andou pelo quarto. -E eu não posso fazer isso sem meus sapatos. A propósito, você viu eles por aí?

—Estão ali -Margô apontou para um espaço no chão, perto do guarda-roupa. O Doutor chegou perto dos tênis e os encarou, intrigado.

—Não, não, olha, esses não são os meus tênis. Não podem ser os mesmos. Se parecem, mas é só isso.

—São sim. Eles estavam sujos e eu os limpei -esclareceu Margô, orgulhosa de sua atitude. 

A reação do Doutor, porém, foi ficar perplexo.

—O que? Você LIMPOU eles? Como pôde fazer uma coisa dessas!? -exclamou, horrorizado.

—Eles... estavam sujos. Um verdadeiro nojo! Como pode você ser tão descuidado?

—Aquilo não era sujeira, eram trunfos das minhas aventuras! Esses tênis passaram por cada lugar onde eu já estive nesta versão de mim mesmo... -falou, de modo a fazer a garota franzir o cenho. -Eles são especiais do jeito que são e cada marca neles representa uma lembrança. São como uma caixa de memórias ambulante!

Margô caminhou até ele, cruzando os braços.

Ta mais pra trapo velho ambulante. 

—EI! Não insulte meus tênis! -reclamou.

—Eu só falei a verdade -Margô se saiu, com ar de riso.

—Ah, vai ser assim agora é? Tá legal... Então quer dizer que eu também posso fazer piadinhas sobre o seu sapo rechonchudo de olhos esbugalhados?

—Não se ATREVA a falar mal do meu Adalberto! -ela enfiou o dedo na cara dele. Quando estavam prestes a discutir feio, eis que a abertura do tele-jornal lhes chamou a atenção.

—Boa noite. Mais notícias acabaram de chegar sobre a intitulada “Chuva Vermelha”, que começou no sul da Índia e se espalhou por outros lugares do mundo. De acordo com fontes que estão em outros países, satélites informaram que choveu ao redor do planeta todo nessa virada do ano.

Para Margô, isso não passava de um evento meteorológico incomum. Mas, pela expressão do Doutor, era algo muito sério.

Imagens da chuva começaram a ser exibidas, nos mais diversos cantos o mundo. O Doutor foi se aproximando da tv, completamente vidrado.

—Eu sabia que era hoje!-Exclamou. -Que momento seria melhor? Centenas de humanos saindo de suas casas, esperando fogos e o que recebem? Uma condenação.

—O que?-Margô perguntou, assustada.

—Os cientistas ainda não sabem o que está causando essa chuva de cor avermelhada, -A repórter continuou. -mas não estão preocupados.

—Não estão preocupados?-O Doutor repetiu, incrédulo. -Você só pode estar brincando!

—O que está acontecendo?-Margô insistiu, preocupada em ter trazido um maluco para casa. O Doutor olhou para ela como se tivesse acabado de lembrar de sua presença.

—É complicado. -Disse lentamente.

—Bom, eu posso te ajudar mais do que a tv. -Ele hesitou.

—A chuva está infectando pessoas, por que não é chuva de verdade, é sangue de Ugraniano.

—De que?

—Pegaram um deles há uma semana e drenaram seu sangue, que é tóxico para outras espécies. Pode levar humanos à morte. E esses... Paspalhos, desculpe o palavreado, não acreditam que devem se preocupar!-Deu um tapa na tv, alterado.

—Wou, calma aí, Jackie Chan. Deixe minha tv fora disso.

—Desculpe.

—Olha, nada do que você disse faz sentido...

—Se não acredita em mim, pode pesquisar “alienígena no deserto do Saara" agora mesmo e vai encontrar algumas informações. O corpo do Ugraniano foi jogado na Terra... O que foi muito desrespeitoso, aliás. O exército cercou a área, mas algumas fotos e notícias vazaram. Humanos adoram fofoca.

—Ei.

—Vai, pesquisa.

Após dar a dica para ela, o Doutor pegou seus pertences sob a cômoda, calçou os sapatos e saiu andando pela casa de Margô, pensando alto, alterando a posição de objetos aleatórios e, aparentemente, fazendo de tudo para sujar novamente seus tênis.

Enquanto ele batia perna pra lá e pra cá, mergulhado em seus próprios pensamentos, a jovem se apoiou no batente da passagem larga que separava a cozinha da sala de estar e encarou o Doutor com estranheza. Fisicamente, ele parecia com uma pessoa normal, porém, falava e agia como um perfeito lunático. Por mais que soasse natural e verdadeiro, era difícil acreditar em suas palavras sem que houvessem provas para sustentar suas teorias. Bom, Margô tinha internet à sua disposição e certamente não hesitaria em usá-la a seu favor.

Rapidamente, dirigiu-se para seu celular (que estivera carregando neste meio tempo) e digitou “alienígena no deserto do Saara" na barra do navegador, acabando de uma vez com o suspense. Os resultados foram imediatos e o semblante da garota ia se alterando conforme ela assimilava as informações.

—É tudo verdade... -balbuciou, pasma. -Como você sabia disso?

—Eu sou muito antenado em notícias incomuns -falou de boca cheia. Só nesse instante, Margô percebeu que ele estivera comendo seu bolo de maçã. -E por falar em incomum... Nossa, esse bolo é mesmo de outro mundo!

—Espero que tenha sido um elogio.

—Foi um elogio -o Doutor enfatizou. Escutou então um ruido aos seus pés e olhou para baixo. Lá estava Adalberto, coaxando perto de seus tênis. -Olha, eu posso estar enganado, mas esse bicho é um sapo cururu, não é? Essa espécie costuma ser selvagem e venenosa, sabia? Você tem mesmo licença pra ter um bicho desses em casa?

—Eu não acredito... Eu acabei de fazer uma descoberta exorbitante aqui na internet envolvendo a existência de extraterrestres e você está preocupado com meu sapo?

—Estou preocupado é com a sua saúde. Ele tem glândulas de veneno! Me espanta você segurá-lo sem proteção alguma e ainda não ter sido intoxicada...

—Ele é de estimação e eu o trato muito bem. O que esperava? Que ele me envenenasse em agradecimento? -Margô rebateu, pegando o sapo novamente no colo e tirando-o de perto do Doutor.

O Doutor não disse nada, mas ficou muito mais aliviado sem ter o sapo por perto.

—Certo. Vamos recapitular -disse Margô, retornando para a cozinha, após fechar a porta do quarto. -Quer dizer que um ET caiu mesmo no deserto. Existem provas e tudo mais, o que só comprova que você esteve falando a verdade.

—Ponto pra Margô -sorriu o Doutor, colocando o prato vazio de lado e se apoiando na pia. -O assassinato deste Ugraniano é o motivo de eu estar aqui. Estou investigando o suposto assassino. Tudo indica tratar-se de uma só pessoa. E eu estava bem na pista dele... Prestes a impedi-lo de infectar novas vítimas... Quando fui subitamente nocauteado por uma certa motorista distraída.

Margô sentiu as bochechas esquentarem.

—Eu preferia quando você estava me elogiando pelo bolo de maçã... -disse, sem jeito. O Doutor se aproximou dela.

—O bolo ficou uma delícia. -garantiu, fitando-a com as mãos nos bolsos. Ele não parecia bravo. -Eu sou fã de maçãs e vou querer a receita depois.

Margô deu um sorrisinho um pouco mais confiante.

—Me desculpe por ter te atropelado. É de coração. Eu estou bem ciente de que não estaríamos nesta confusão se eu não fosse tão descuidada...

O Doutor tocou seu ombro.

—Estaríamos encrencados de um jeito ou de outro. Até aquele momento, a chuva de sangue já havia atingido vários outros países... Muitas pessoas foram infectadas nesse ínterim e nem mesmo eu sei qual a cura para esse mal.

Margô assentiu, pensando sobre o que ele dissera.

—Mas você sabe quem armou tudo isso. Ou ao menos desconfia. Já é um começo... certo? -ponderou, porém, acabou ficando na expectativa, pois subitamente a luz foi cortada e a casa ficou toda em breu. -O que é isso? Um blecaute? Bem no ano novo?

—Não está me parecendo um blecaute comum -o Doutor se encaminhou para testar um dos interruptores. Apertou-o e a luz retornou de imediato. -Hum... interessante.

—Talvez tenha sido um mal contato... -Margô correu para checar seu celular. Ele continuava carregando. Como já estava com 95%, ela o tirou da tomada, para evitar uma possível sobrecarga com o vai e vem da energia. Porém, quando ela o desconectou do fio, a tela imediatamente apagou e se recusou a ligar novamente, como se estivesse zerado. -O que? Mas isso é impossível... Ele ficou horas carregando! -assim que ela disse isso, a luz piscou de novo, voltando logo em seguida no mesmo padrão de antes: esperando o Doutor apertar o interruptor.

Profundamente intrigado, o rapaz correu para as janelas, observando o movimento do lado de fora.

—Tem alguma coisa que não está me cheirando bem aqui...

—Oh meu Deus! -Margô exclamou de repente, fazendo-o se voltar para ela. -Minha família! Você falou sobre as pessoas terem se infectado com a chuva e só agora me ocorreu que eles podem ter sido atingidos por ela! Minhas irmãs sempre saem na sacada para espiar os fogos e meus pais devem ter montado a mesa para jantar no quintal, como é costume deles fazerem todo ano -ela olhou exasperada para o Doutor. -Preciso saber se eles estão bem! -e com isso, ela correu para a sala. O Doutor foi atrás dela. Porém, assim que Margô tirou o fone do gancho, deparou-se com um novo obstáculo.

—O que aconteceu? -o Doutor perguntou, ansioso. -Por que não liga pros seus pais?

—O telefone está mudo. Completamente. -disse, fazendo uns testes para vez se a conexão voltava. Não voltou. Inquieta, Margô colocou o telefone de volta na base e levou a mão à cabeça, caminhando em direção ao Doutor. -O que vamos fazer? O celular pifou, o telefone fixo está mudo e a energia fica variando...

Em meio às palavras de Margô, a porta do banheiro bateu com força, fazendo a dupla levar um susto. Em sequência, um som simultâneo de trancas se propagou, fazendo o Doutor e sua nova amiga se encararem com assombro.

—CORRA! -Ele gritou, disparando para a porta da sala. Margô veio logo atrás. O rapaz girou a maçaneta com força, mas ela estava emperrada. -Droga! Precisamos sair daqui depressa! Nossa sobrevivência depende disso... Definitivamente, tem algo de muito errado com essa casa!

—Mas é estranho! Nada disso nunca aconteceu antes...

—Deve ser porque eu estou aqui -disse o Doutor, fazendo Margô encará-lo. -Você lembra que eu mencionei supostamente conhecer o causador desta confusão toda? Bom, se for quem eu penso que é, ele certamente me detesta e tornaria tudo mais difícil só para me impedir de chegar ao meu objetivo, isto é: detê-lo de uma vez por todas!

—Certo, então vocês são tipo inimigos?

—Em teoria, é isso mesmo. Sendo ou não sendo quem eu imagino, qualquer um que ataca esse planeta e as pessoas que vivem nele, se torna automaticamente meu inimigo. -o Doutor deu um tapão na porta, indignado. -Não adianta... Estamos presos.

—Ai meu Deus! Eu deixei o Adalberto trancado no quarto! -exclamou, desesperada.

—E lá vai ela correr atrás do sapo...

—Preferia que eu corresse atrás de você?

O Doutor inclinou a cabeça, sugestivamente.

—Pelo menos faria um pouco mais de sentido.

Engraçadinho—Margô disparou em direção ao quarto. Supondo que também não seria nada fácil arrombar aquela porta, ela se pôs a pensar numa maneira de resolver o problema. Enquanto isso, na sala, o Doutor sacava sua chave de fenda sônica e apontava-a para a porta; Assim que Margô girou a maçaneta, a porta do quarto se abriu simplesmente, revelando o interior de seu quarto. -NÃO ACREDITO! -sem perder tempo, Margô entrou no aposento em breu.

—O que foi? -o Doutor olhou para a direção do quarto. Ele ouvira a moça gritar, mas não havia sinal de Margô pelas proximidades. -Margô? Você está bem? -não houve resposta. -Ai caramba -o Doutor abandonou o posto na porta de entrada e voltou correndo para procurar pela garota. -MARGÔ! AONDE VOCÊ...? AI! —esbarrou com tudo na jovem que saia do quarto naquele exato instante.

—Ai Doutor! -resmungou ela massageando os peitos. -Depois eu sou a descuidada!

—Ei! Não me culpe por isso! Eu pensei que você tivesse sido engolida pelo aspirador de pó ou qualquer bizarrice do tipo...

—Isso pode mesmo acontecer? -ela arregalou os olhos para o aspirador inerte, próximo dali.

—Esquece. Pelo menos está sã e salva -o Doutor sorriu para ela.

—Sim, eu e o Adalberto estamos! -e ergueu o sapo na altura do rosto do Doutor.

—Argh, esse sapo de novo.

—Você não gosta mesmo dele, não é? -riu Margô.

—Essa pergunta não precisa de resposta. -e estendeu a mão pra ela. -Vem... Nossa saída convencional foi interditada, portanto nós teremos que forjar nossa própria saída alternativa...          

—Que idéia brilhante! -Margô pegou na mão dele. -Mas como exatamente faremos isso?

—Já ouviu falar em janelas?

—Está falando sério?

—Mas é claro que estou. -e apontou para a janela da cozinha. -É o plano perfeito! Viu? Allons-y! Margôs e Adalbertos primeiro...

—Só pode estar mesmo brincando comigo... Eu nunca vou passar por essa coisa.

—É claro que vai! Você é magrinha que nem eu... E, bem, o Adalberto talvez tenha que encolher um pouco a barriga, mas a gente dá um jeito! -brincou. Adalberto, no colo de Margô, inflou o papo.

—Você é doido.

—Disse a "Princesa e o Sapo". -o Doutor provocou, botando um pouco de força para desemperrar a janela.

Porém, não houve tempo para colocar o plano em prática, pois no momento seguinte a casa toda vibrou e sacolejou. Margô, Adalberto e o Doutor foram arremessados ao chão, ao mesmo tempo que um peculiar gemido rouco, bastante conhecido pelo Senhor do Tempo, ganhou destaque a sua volta.

—Não pode ser... -ele arfou, paralisado.

—Doutor, o que foi? O que está acontecendo?

—Isso confirma minha teoria! Só mais uma pessoa poderia ter...

—O que? Doutor, do que está falando?

Eles ouviram uma risada perturbadora e então uma nova guinada brusca ocorreu, ao passo que um gás roxo foi liberado de algum lugar. Em poucos segundos, todos perderam a consciência.

***

 

—mArGô... MaRgÔ... Margô. Pode me ouvir?

—Dou-tor... -ela estava zonza e precisou permanecer de olhos fechados por um curto intervalo de tempo, para que sua visão estabilizasse. -O que houve?

—Nós pousamos.

—Po... Pousamos? Como assim pousamos? Nós estávamos voando?

—Sim. -o Doutor assentiu. -Aqui. Segure. -ele estendeu a mão para ela, e com cuidado, ajudou a garota a se levantar. -Opa! Vá com calma... Você ficou apagada por um longo tempo.

—Adalberto... -Margô começou a olhar ao redor, preocupada.

—Ele está bem -garantiu o Doutor. Está dormindo bem ali. -e apontou para o sapo barrigudo que coaxava baixinho, como se estivesse roncando.

—Ah Doutor... Que sonho horrível eu tive. Tudo caindo e se desfragmentando... E havia uma voz. Uma voz assustadora... na minha cabeça.

—Eu também ouvi. -ele assentiu, abraçando-a junto a si. -Fique calma agora... Vai ficar tudo bem.

—Mas... espera... Como pode ficar bem? Você não disse que pousamos em algum lugar? Onde nós estamos?

—Bom, por enquanto, na cozinha da sua casa. Isto é, da nave que se parece com ela.

Margô arqueou as sobrancelhas.

—Uma... Nave?

—Pois é.

—Que se parece com a minha casa?

—É isso aí.

—Como isso é possível?

O Doutor tentou escolher as palavras certas. Ia ser um desafio e tanto.

—Bom, de um modo bem resumido... tem umas coisinhas mais que não te contei.

—Como por exemplo?

Como por exemplo... que eu também sou um alienígena. Pois é. Olá. Mas sou um dos bonzinhos. Garanto que não farei mal algum a você ou ao seu sapo. Minha espécie chama-se Senhores do Tempo e eu sou, como o próprio nome sugere, um viajante do tempo. Literalmente. Tenho uma Máquina do Tempo que me transporta universo afora através do contínuo de espaço e tempo. Ela se chama TARDIS. Significa Tempo e Dimensão Relativos no Espaço. Quando sua casa se desmaterializou e começou a fazer aquele som, eu tive certeza de que o assassino do Ugraniano era mesmo a pessoa que eu pensei que fosse. O único além de mim, que ainda possui uma TARDIS em todo o universo. -por fim, ele encarou Margô com simplicidade. -Desculpe ter demorado tanto para explicar tudo isso a você... Ao menos eu consegui ser claro o suficiente?

Margô ficou sem reação por um instante.

—... É... você foi... Impecável. -ela balbuciou, estupefata. -Certo, suponho que esse seja o momento em que eu deva surtar ruidosamente...

—Na verdade, se puder se conter eu ficaria agradecido... -ele sorriu amarelo. -Afinal, não estamos mais no Kansas.—brincou.

—O.k. Deixa eu ver se entendi... Então, quer dizer que você é tão ET quanto o ET no Saara... Tá legal, isso sim é uma surpresa.

—Bom, somos de espécies diferentes, mas sim, ambos somos alienígenas.

—Entendo. Apesar de não entender o fato de eu não estar tendo um chilique agora mesmo. —divagou ela, voltando rapidamente ao foco. -Tá e... alguma explicação para a minha casa não ser uma casa comum? Porque eu fiz todo o procedimento que a imobiliária pediu... Sério... Eu fiz tudo direitinho... Então, assim... Como... Quando... Como isso foi acontecer?

—Bem, começando pelo começo: Um fato interessante sobre as TARDIS, é que elas podem assumir diferentes formas para se camuflar, podendo também ficar gigantescas ou pequeninas, dependendo das circunstâncias apresentadas. A sua casa, no caso, era uma TARDIS disfarçada de casa. Mas não por completo. Enquanto você foi no quarto procurar pelo sapo, eu escaneei a sua porta com minha chave de fenda sônica -e tirou a ferramenta do bolso para ilustrar de que se tratava. Era o tal tubo prateado com ponta azul, que outrora Margô pensou erroneamente se tratar de uma caneta. -E curiosamente, descobri algo deveras impressionante: a TARDIS não era a sua casa, ela estava dentro da sua casa.

—Como assim? Como uma casa pode estar dentro de outra casa?

—Imagine uma daquelas adoráveis Matrioskas... as Bonecas Russas que você abre de modo contínuo e sempre encontra uma bonequinha idêntica, porém, um pouquinho menor do lado de dentro. É bem parecido com isso. Contudo, a versão oficial inclui uma explicação extensa sobre dimensões paralelamente alinhadas que eu acho que você não terá pique para apreciar agora; -ponderou ele. -Em suma, foi uma armadilha. Uma manobra muito bem elaborada, por sinal. Eu estaria profundamente impressionado se não conhecesse bem o suficiente o dono da nave...

—Alguma chance dele ser um personagem do Mágico de Oz? -perguntou Margô, deliberadamente. O Doutor a encarou.

—O que? Está falando sério?

Ah, quer dizer que só você pode fazer piadinhas? -se ofendeu.

—Eu não falei isso...

—Se quer saber, isso aqui bem que podia ser o mundo de Oz, tá legal? E nem precisa pensar muito para constatar isso: teve a casa voadora, a risada arrepiante que ouvimos, sem contar que eu me senti como a pobre Dorothy enfrentando o olho do furacão!

O Doutor ergueu uma sobrancelha para ela.

—Se você é a Dorothy, então o retrato que temos do Totó está completamente deturpado -comentou, lançando um olhar torto para o sapo gordo, dorminhoco.

—Doutor, não deboche de minhas conclusões... Eu estou falando sério!

Escute ela Doutor —disse uma voz inesperada. -A garota pode estar certa.

No mesmo instante, a mesma risada sinistra de antes ecoou pelo ambiente escurecido e o Doutor e Margô se abraçaram com força.

Qual o problema, Doutor... Tem medo de um conto de fadas? —disse uma silhueta misteriosa, parada a poucos metros deles.

—Quem... Quem é você? -perguntou Margô, insegura. -V-você é a Bruxa Malvada do Oeste?

O outro sorriu de contentamento.

Não. Eu sou o Mestre Malvado de Gallifrey! —revelou, vindo para a luz.


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