Deixe Os Sonhos Morrerem escrita por Skadi


Capítulo 2
Capítulo II




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Quando o carro entrou na garagem do prédio, Laurent estava de olhos fechados e com a cabeça encostada no vidro. Klaus não podia culpá-lo, só podia imaginar o estresse e exaustão de toda aquela confusão no Nightshade. Estacionando o carro no local de sempre, ele desligou o carro o mais silenciosamente possível — não que Klaus não pudesse ouvi-lo, ele podia muito bem sendo não humano, mas parecia o certo a fazer.

O interior da garagem estava vazio se não pelos outros três carros estacionados em suas respectivas vagas. Estava tudo quieto, como se parada no tempo, mas sabia que no momento que abrisse o carro, o barulho os atingiria como um tambor em seus ouvidos. Ele respirou fundo, vendo os olhos de Laurent se abrirem assim que o carro ficou completamente em silêncio e ele encarar os arredores antes de seus olhos pararem em Klaus. 

"Esse prédio é seu?" Ele perguntou em um murmúrio enquanto se endireitava no banco.

Klaus apenas assentiu, abrindo a porta do carro e saindo. Laurent o seguiu rapidamente, ambos caminhando para o elevador; com um olhar rápido percebeu Laurent olhando ao redor com curiosidade, os olhos se demorando nos outros carros estacionados na garagem, mas ele não fez perguntas.

Assim que estavam no elevador, Klaus rapidamente digitou o código de segurança no painel na parede, sete bipes ecoando no vazio do estacionamento e liberando a porta.

"Você pôs um código de segurança num elevador?" Laurent perguntou, parecendo interessado, assim que entraram na cabine e as portas se fecharam.

"E uma chave também." Ele respondeu, empurrando uma chave numa minúscula fechadura ao lado do painel, girando-a para a direita, o que fez o elevador finalmente entrar em movimento.

"Paranóia?"

"Esse elevador é uma das principais entradas para a minha casa, tenho que tomar cuidado. No final das contas, sou humano e posso morrer mais facilmente que você."

Com isso, Laurent fechou a boca e apenas se abraço sob a jaqueta emprestada. Não tinha prestado atenção até o momento, mas agora que podia respirar sem temer levar um tiro, percebeu como Laurent realmente era o predador perfeito, mesmo com a postura cansada que estava — ele parecia vivo, tão vivo que se você o encarasse por mais de alguns minutos perceberia que havia algo errado, um pequeno desconforto pelo qual não saberia nomear. Mesmo com a postura cansada e parecendo pequeno em sua jaqueta, havia algo mais ali e Klaus tinha que admitir que ele realmente era o homem mais bonito que já vira em toda sua vida. Isso o fez se perguntar com que idade Laurent havia se tornado o que era; em uma aposta daria a ele 22 anos no máximo.

O elevador parou, as portas se abrindo e mostrando a entrada do grande apartamento de Klaus.

"Você pode tomar banho se quiser." Klaus disse enquanto guiava-o para fora do elevador, as portas se fechando silenciosamente atrás deles. Sem uma resposta, virou-se e viu Laurent olhando ao redor, curioso mas não particularmente impressionado com o espaço ou o luxo. Com certeza ele já estava acostumado, lembrava-se de Johnny dizendo que ele morava em um apartamento luxuoso também.

"Laurent," Klaus chamou novamente, fazendo o vampiro se virar para ele. "Eu disse que você pode tomar banho."

"Oh," Laurent assentiu. "Sim, obrigado."

Laurent o seguiu através da sala de estar, mais uma vez olhando ao redor com curiosidade, examinando as caixas de pizza e garrafas de cerveja na mesa de centro que Klaus e seus amigos haviam esquecido de limpar.

Uma vez que estavam no andar superior, Klaus o conduziu até um dos quartos de hóspedes, abrindo a primeira porta que encontrou.

"Aqui." Ele deu um passo para o lado, deixando Laurent entrar. "Tem um banheiro lá dentro, tome um banho. Vou procurar algumas roupas para você."

Klaus não deu tempo para uma resposta, simplesmente saiu do quarto e fechou a porta atrás de si. A situação inteira era enervante — não que fosse contra ter Laurent ali por uma noite, pelo contrário, entendia que era necessário e estava disposto a assumir responsabilidade pelo que aconteceu aquela noite, mas ainda assim não tinha certeza de nada. Também não era medo do que Laurent era, já tinha tido tantos encontros com a morte que o medo dela já havia se esvaido há anos. Mesmo assim a situação estava lhe dando nos nervos.

Em seu quarto, pegou um par de calças de moletom, um suéter e cuecas em seu armário, então voltou para o quarto de hóspedes — Klaus era mais alto que Laurent então as roupas ficaram um pouco grandes, mas era o que tinha. O som da água do chuveiro ecoava no quarto enquanto deixava as roupas limpas na cama.

Por um momento, matutou a ideia de apenas desabar no sofá e ignorar todos os seus problemas por algumas horas, fumar e fingir que não estava perseguindo um fantasma com inimigos maiores do que tinha previsto, além de ter um vampiro sob seu teto por aquela noite — parecia tão mais fácil.

Em vez disso, saiu do quarto e foi para uma cozinha, pegando um pacote de chá de maracujá no armário e decidindo preparar chá para se distrair. Enquanto esperava a água ferver, se inclinou contra o balcão e pegou seu telefone, ligando para Johnny.

"Sim?"

"Correu tudo bem?" Klaus perguntou preguiçosamente.

"Sim. Vocês?"

"Ele está tomando banho. Não acredito que realmente tem um vampiro na minha casa." Ele bufou. "Eu estou fazendo chá."

Uma pequena pausa. "Qual chá?"

Klaus fez uma careta. "Maracujá."

"Estresse?Você só faz esse chá quando está estressado."

"Bem, não sei onde você esteve nos últimos dias mas tenho motivos para me dar ao luxo de ficar estressado."

"Certo." Johnny suspirou. "De qualquer forma, deixei o Spencer em casa. Quer adivinhar onde ele mora?"

"Não."

"Distrito 13-B."

"Porra, sério?"

"Sério. O que há com esses caras morando em partes cara da cidade?Quanto você paga eles?"

"Pago o suficiente, acho."

"E o August insistiu em passar a noite com ele, eles devem estar juntos agora."

"Ótimo. Simplesmente ótimo. Você acha que os dois estão juntos?"

"Olha, parece que eles tem algo juntos. Não sei, August não largou ele por um segundo, acariciou o cabelo e tals."

"Porra, o garoto está apaixonado."

"Provavelmente. Não tenho tanta certeza sobre o yuukai, não acho que é mútuo."

"Como perdemos isso? Como o August escondeu isso de nós?"

"Ele é quem cuida dos seus clubes, deve ter conhecido o Spencer lá quando foi trabalhar ou algo assim."

Klaus rolou os olhos. "É bom saber que eu o pago para foder demônios."

"Klaus!"

"Eu vou falar com o August quando tiver tempo."

"Você já conversou com o Laurent? O sol nasce em algumas horas..."

"Não. Vou esperar ele relaxar um pouco, ele precisa."

"Não posso culpa-lo."

Klaus pressionou os lábios em uma linha firme. "Você acha que é nossa culpa que quase matamos aqueles dois?"

Johnny não respondeu imediatamente, Klaus pôde ouvir o som de trânsito no telefone. "Você acha?"

"Não sei o que pensar. Estou com uma sensação estranha."

"Uma sensação." Johnny suspirou. "Klaus, aqueles homens estavam lá porque eles querem encontrar o Lange. Eles estariam lá mesmo se você não tivesse aparecido e ajudado o Laurent. Na verdade, foi melhor você estar lá."

"E se eles soubessem?Se eles souberam que eu fui ver Laurent e foi assim que o encontraram?"

"Você não pode pensar assim. Merda, você sempre pensa assim e não é bom pra você. Nem tudo no mundo é sua culpa."

"Você devia ter visto a queimadura da prata na garganta dele." Klaus apertou o celular com mais força. "Podia ter acabado mal para ele e Spencer, merda."

"Mas não acabou. Só porque o mundo está queimando, não significa que é culpa sua. Você não jogou gasolina, outra pessoa jogou." Johnny limpou a garganta. "Eles estão envolvidos agora, porém. Talvez não Spencer, mas Laurent."

"Ele me disse que não sabe de nada."

"E você confia nele?"

Não era estúpido o suficiente em confiar em um vampiro, mas ao mesmo tempo…

"Por que ele mentiria sobre isso?"

"Merda Klaus eu não sei. Por que ele não mentiria sobre isso?Talvez ele queria manter a informação para si mesmo, talvez ele seja amante do Lange e esteja tentando mantê-lo seguro. Eu não sei."

Eram muitos talvez e isso não era o tipo de Klaus, que sempre viveu equilibrando em um não ou sim, um talvez não combinava com ele.

"Vamos ter que pagar pra ver." Klaus finalmente disse com um suspiro. "De qualquer forma, amanhã chegue aqui assim que anoitecer para levar o Laurent de volta para casa e ficar de olho nele para se assegurar de que ninguém venha buscá-lo e para ter certeza de que ele não vá se encontrar com alguém."

Johnny estalou a língua. "Então você não confia nele."

"Não se trata de confiança, ele literalmente foi estrangulado com uma corrente de prata, as pessoas que vieram atrás dele claramente sabem como deixá-lo vulnerável. Ele pode precisar de uma mão, e se ele realmente tiver mais informações eu gostaria que essas informações fossem nossas."

"Ok, estarei aí amanhã."

"Ok." Klaus suspirou, encarando a chaleira no fogo por alguns segundos. "Johnny."

"Sim?"

"Não gosto de baixas, Johnny."

Klaus ouviu o som de um carro andando, o motor rugindo. "Eu sei."

"Realmente não gosto disso."

"Não haverá nenhuma, Klaus."

Engraçado, Klaus já tinha dito a mesma coisa uma vez.

"Ok." Ele esfregou a ponta do nariz. "Ok, amanhã então."

"Sim. Tente descansar, ok?"

"Sim, você também."

Ligação terminada, ele jogou o celular no balcão.

Com a água estava fervendo a um bom minuto, Klaus desligou o fogo e pegou uma caneca no armário. Pegou um dos filtros não usados e encheu com o chá, colocando o saquinho na chaleira para esperar.

Um barulho de pés descalços suaves ecoou na cozinha, fazendo-o se virar: "Sentindo-se melhor?"

Laurent estava do outro lado do balcão, a expressão cansada e a pele pálida como porcelana. Seu cabelo ainda estava úmido, mas ao menos estava vestindo roupas secas e limpas, embora tivesse sido obrigado a enrolar a bainha das calças e as mangas do suéter.

"Não estava me sentindo mal em primeiro lugar." Laurent respondeu, mexendo nas mangas do suéter." Sou bem grandinho, sei me cuidar. Estou bem."

Certo.

"Você,huh se...se alimentou hoje?"

Laurent ergueu uma sobrancelha, um sorriso sarcástico brincando nos lábios. "E que diferença faz? Não é como se você fosse me oferecer seu sangue. Você só precisa que eu fale, que eu diga o que aconteceu. Não tenho escolha nisso."

Klaus concordou. "Você vai sentar e responder minhas perguntas, isso é fato. Mas se precisar que eu chame alguém para as suas necessidades eu me disponho a providenciar."

Laurent soltou um suspiro, então se sentou em um dos banquinhos livres, um cotovelo apoiado no balcão. "Prometo não mentir."

Klaus assentiu, tirando a chaleira do fogo e servindo o chá numa cabeça. Notou Laurent olhando para a superfície lisa do balcão, os olhos confusos, claramente pensando em algo. A manga do suéter cobria até os nós dos dedos e, por alguma razão, Klaus gostou — ele não parecia uma criatura perigosa, e sim um rapaz perdido, que poderia talvez ver em uma pintura renascentista. Seu cérebro com certeza estava ferrado, mas ele continuou observando a bela forma de Laurent, gravando a imagem para quando não conseguisse dormir. Não deveria achar um vampiro tão cativante, isso não faria nenhum bem, mas parecia ser mais forte que ele.

"Está encarando."

Klaus piscou. "O que?"

"Você está encarando." Laurent tinha um pequeno sorriso travesso no rosto."O que?Gostaria de ter uma pintura de mim na sua sala? Conheço vários pintores."

Sim. 

"Não." Klaus respondeu, pegando uma garrafa de leite distraidamente e colocando em sua caneca. "É que você parece estranho nas minhas roupas."

"Um pouco grandes, é, mas esse suéter é confortável." Laurent deu de ombros. "E seu perfume não é ruim. Eu gosto."

Klaus conteve um suspiro, sentando-se no banquinho em frente a Laurent e tomando um gole de chá.

"Então,"Ele começou, abaixando a caneca. "O que aconteceu no Nightshade?"

Laurent zombou. "Não sabia que você não estava lá."

"Eu quero detalhes, Laurent. Não faça isso mais do que o necessário, ambos estamos cansados aqui então vamos logo acabar com isso."

A mandíbula de Laurent se apertou por um momento antes dele começar a falar. "No início havia apenas um, o filho da puta com a corrente."

"Anthony Hernandez."

Laurent assentiu. "Ele veio como qualquer cliente, e eu fiz o procedimento normal que não preciso entrar em detalhes aqui. Depois vieram os outros e começaram a fazer perguntas, eu não tinha ideia do que eles queriam e estava prestes a expulsa-los a força quando o Hernandez pôs a corrente no meu pescoço."

"O que eles perguntaram?"

"No início, me perguntaram sobre você."

Merda.

"Sobre mim?"

"Eles queriam saber porque você veio me ver naquele dia."

Droga, isso não era bom.

Existiam dois cenários e nenhum deles tinham um fim bom, pois significava que 1) Klaus já estava sendo espionado, o que poderia significar inúmeras coisas, ou 2)eles o viram naquela noite com August, e pensado que estavam ali pelo mesmo motivo o que não era muito distante da verdade. Tanto Klaus quanto aqueles homens estavam atrás da mesma pessoa, talvez por motivos diferentes.

"Eu não disse a ninguém o porque você veio." Laurent acrescentou rapidamente. "Disse a eles apenas que você era o dono e estava fazendo uma inspeção nos funcionários e coisas assim. Se não fosse por aquela maldita corrente de prata eu teria rasgado a garganta deles ali mesmo por sequer encostarem em mim. Mas você os matou então acho que estamos quites."

Klaus bufou. "Você parece bem calmo sobre eu matar pessoas."

Laurent ergueu uma sobrancelha. "mon chérie, sou um assassino por natureza. E também sou velho, já vi coisas muito piores."

"É mesmo?Quão velho?"

"Velho o suficiente para ter estado em todas as partes do mundo e aprender que humanos nunca mudam, não importa quantos anos passem." Laurent suspirou, apoiando o queixo na mão. "Quando você tem 20 anos por tanto tempo quanto eu, você acaba presenciando horrores bem piores do que um homem morto a tiros."

Klaus não duvidava disso. Seus olhos caem para a postura cansada de Laurent, o braço enrolado em torno de seu estômago, o suéter cobrindo as mãos. Era estranho como ele falava como se fosse apenas um espectador e não um participante ativo, como se estivesse acostumado a coisas assim acontecerem o tempo todo.

"Sabe que eu posso ajudar você se precisar, certo? Não sou seu inimigo."

Laurent franziu a testa. "Sim, eu sei."

"Isso é bom." Klaus deu um pequeno sorriso, o que fez Laurent parecer relaxar. "Você mencionou números lá no clube, que números são esses?"

"Coordenadas." Laurent inclinou a cabeça para o lado, sobrancelhas franzidas. "Eles disseram coisas como 'Nós sabemos o que o Lange disse a você' e ficavam me perguntando sobre esses números, coordenadas, mas eu não faço ideia do que eles estavam falando. Tentei dizer a eles que eu não sabia de nada mas eles não ficaram felizes com a resposta."

Coordenadas não eram o que ele esperava. Talvez Anthony Hernandez estivesse certo e ele devesse parar com isso — estava tudo começando a parecer algo maior e mais assustador do que um simples roubo. E Klaus trabalhava em um sistema muito simples de “é a sobrevivência do mais apto, mas também é a sobrevivência daqueles que sabem quando algo não pertence a eles”. Essa situação porém?Era exatamente o contrário de seu lema de vida.

“Coordenadas, você diz, mas coordenadas para quê?”

"Não sei." Laurent respondeu com algo semelhante a raiva e frustração na voz, a mão acariciando as marcas de queimadura no pescoço. "Aquele desgraçado nunca me disse nada sobre números, ele só entrava, fazia o que tinha que fazer e me pagava. Nem uma vez disse alguma coisa, você tem que acreditar em mim."

"Acredito em você."

Laurent piscou, parecendo surpreso. "Acredita mesmo?"

Klaus concordou. "Esse cara, ele é inteligente e não iria sair dizendo coisas assim por aí. E você disse que perguntaram por mim. Eles vieram até você porque sabiam que eu perguntei sobre o Lange. Não sei como eles sabiam, mas não ficaria surpreso se subornassem alguém do clube, talvez a equipe. ”

"Mas eu conheço todo mundo lá, eles não iriam-”

“Laurent, acredite em mim, eu quebrei homens dez vezes mais fortes apenas sacudindo algum dinheiro debaixo de seus narizes. Nesta cidade, você não confia nas pessoas.” Klaus pausou, vendo Laurent lentamente chegando a um acordo com a possibilidade de alguém vendê-lo, seus olhos ficando mais escuros. “O que eu quero dizer é que é minha culpa se você está envolvido nisso. Portanto, você é minha responsabilidade. Eu não tolero baixas, ok? Você está sob a minha proteção de agora em diante, e é um dos meus até que essa merda acabe."

Laurent não disse nada depois disso, mas Klaus não precisava de palavras para entender que acreditava nele. 

“Agora, realmente, vá dormir. O sol vai vir daqui a pouco e parece que você precisa disso. ”

Os lábios de Laurent se esticaram em um leve sorriso com isso. Ele balançou a cabeça e saiu do banquinho, esfregando as costas da mão sob o nariz. "Eu vou dormir, então."

"Eu vou te acordar quando anoitecer e você ainda estiver dormindo."

Laurent cruzou os braços sobre o peito e acenou com a cabeça antes de se virar e começar a se dirigir para as escadas. Ele parou de andar e se virou.

"Obrigado." ele disse. "Por tudo."

Antes que Klaus pudesse dizer a ele que, Deus, ele era a última pessoa na Terra que Laurent deveria agradecer, o ruivo se virou e correu para as escadas, subindo o mais rápido que pôde e desaparecendo escada acima.

Klaus suspirou, seu corpo inteiro murchando. Se encontrou com a testa pressionada contra a superfície do balcão, sua cabeça parecendo que poderia explodir a qualquer momento, uma nova enxaqueca já se instalando. Mas a frieza do balcão de mármore era bastante agradável contra sua pele aquecida.

Klaus respirou profundamente e um suspiro deixou seu peito. Sabia que todos os vampiros deveriam ser belos assim, é parte de seus encantos, parte de seu perigo. Mas Deus, Laurent era simplesmente adorável.

"Merda." Klaus murmurou antes de se endireitar. Ele esfregou a mão no rosto, seus olhos começando a arder, a exaustão tomando conta de seu corpo e deixando apenas seu cérebro em frenesi. Mas antes que pudesse desmaiar em sua cama, tinha outra ligação a fazer, então pegou seu telefone e ligou para Johnny mais uma vez.

"Klaus?"

"Nós conversamos." Klaus limpou a voz. "Laurent e eu."

"O que você descobriu?"

"Vou contar os detalhes importantes amanhã, mas há algo que você precisa saber."

"O quê?" As palavras de Johnny estavam arrastadas, ele provavelmente estivera dormindo. Klaus iria se sentir mal por isso outro dia.

"A primeira coisa que o Hernandez perguntou a ele foi sobre mim."

"O que?"

"Eles queriam saber porque eu vim vê-lo no bordel naquela noite."

Depois disso houve um longo silêncio, o que Klaus já esperava — ele e Johnny não eram tão diferentes afinal, tinham a mesma moral, mesmo que manchadas de sangue.

"Klaus…"

"É nossa culpa que ele se envolveu."

"Porra."

"Deve ter um espião no clube, ou alguém foi subornado. Vou pedir a August que cheque isso."

"É nossa culpa."

"Temo que sim. Ele é nossa responsabilidade agora."

"Bem," Johnny engoliu forte o suficiente para Klaus ouvir do outro lado da linha. "Ele é um dos nossos agora então. Nós não deixamos vítimas."

Engraçado e irônico, na verdade, como ficavam dizendo isso a si mesmos quando tinham a maior vítima de todas nos ombros, respirando no pescoço de Klaus.

⸎⸺⸺⸺⳹۩᪥۩⳼⸺⸺⸺⸎

Havia um teste que seu pai o fazia passar de vez em quando. Tudo começou no seu aniversário de dezessete anos.

Seu pai era um homem grande, ou pelo menos era aos olhos de Klaus. Ele não era particularmente alto nem fisicamente forte, mas ele parecia grande e não era carisma, ou o que quer que as pessoas chamem, era outra coisa completamente diferente que mantinha a figura imponente.

Ele parecia perigoso porque realmente era.

E na manhã do aniversário de dezessete anos, seu pai o chamou em seu escritório, disse-lhe para ficar em frente a ele e então lhe deu um tapa. Um tapa forte o bastante para a cabeça de Klaus girar bruscamente e suas pernas darem alguns passos cambaleantes para trás antes de recuperar o equilíbrio.

"Por quê?" Klaus perguntou a ele, segurando o rosto machucado.

"Você vai enfrentar humilhação na sua vida, Klaus," Seu pai respondeu, a voz grave. "Você terá que enfrenta-los. Às vezes você terá que implorar, beijar seus pés, se curvar. Você terá que fazer tudo isso aos homens que você pode vir a odiar, mas que são mais poderosos que você."

Seu pai tinha esse jeito com palavras. Ele não era exatamente inteligente, mas tinha um vasto vocabulário, curto e direto ao ponto. Ele nunca gostou muito de falar.

"Mas haverá outros momentos em que serão eles que vão enfrentar esse humilhação. Eles terão que se curvar e beijar seus pés, você entende?"

Klaus não entendeu, mas ele acenou com a cabeça do mesmo jeito.

"Cabe a você perceber quando deve ser humilhado e quando não deve. Não há nada mais humilhante que um tapa."

Foi assim que tudo começou.

Às vezes quando Klaus fazia algo errado, recebia um tapa; podia ser por qualquer coisa na verdade, desde uma nota ruim, fazer muito barulho com os talheres na hora do jantar, fazendo algo ruim em um de seus primeiros empregos fáceis arranjados por seus pais. Doía, Klaus sentia sua bochecha latejar e o sangue subir ao seu rosto de vergonha, mas ele nunca fazia nada para impedi-lo — porque todas as vezes que era humilhado, era quando mereceu.

Mas então haviam outras vezes que seu pai iria lhe dar um tapa assim que acordasse de manhã sem motivo. Ele o esbofeteou quando fazia um bom trabalho, ou na frente de outras pessoas. Esses eram momentos que deveria impedi-lo.

Klaus nunca parou seu pai.

Aos olhos de Klaus seu pai era um homem grande e perigoso, e nada o assustava mais do que aquele homem.

"Parece que você só serve para ser humilhado." Seu pai disse depois de alguns meses. "Levar tapas, beijar pés. Implorar."

Era realmente irônico, o fato de Klaus nunca ter implorado nada a ninguém, nem mesmo uma vez na vida. A única humilhação que ele enfrentou veio de seu pai e mais ninguém.

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Klaus acordou com os lençóis enrolados em seu corpo, a pele úmida e quente. Fechou os olhos por um momento, afastando o pesadelo de sua mente, tentando esquecer aquele fantasma.

Já estava escuro do outro lado das cortinas, o que significava que tinha dormido demais. Olhando rapidamente para o despertador na cabeceira da cama, viu que já eram 18:40 o que significava que tinha dormindo a manhã inteira. Dormirá demais, mas então novamente, havia ido dormir às 5 da manhã e estava com cansaço acumulado de doar, então não podia ficar tão bravo consigo mesmo.

Sentando-se, retirou seu telefone do carregador e checou se alguém tinha ligado ou enviado mensagens enquanto estava dormindo, mas não havia nada além de mensagens no seu grupo de amigos falando sobre futilidades e reality shows, aos quais ele decidiu ignorar por enquanto.

Esfregando o sono dos olhos, Klaus saiu do quarto e foi direto para a cozinha se afogar com café.

Ao descer as escadas, porém, viu Laurent sentado no sofá com um livro em uma mão e um cigarro na outra, um cinzeiro equilibrado na almofada ao seu lado.

"Boa noite,chérie." Laurent o cumprimentou sem tirar os olhos do livro. "Roubei seus cigarros enquanto você dormia, espero que não se importe."

"Tudo bem." Klaus esfregou a nuca. "Como foi o seu, huh, sono?"

"Ótimo. Obrigado por perguntar." Laurent deu uma tragada no cigarro. "O seu?"

"Tanto faz." Klaus deu de ombros, indo para a cozinha preparar seu café.

Uma vez na cozinha, Klaus pegou uma caneca limpa e ligou a máquina de café, o cheiro quente de grãos enchendo a cozinha. Ao terminar e servir o café, voltou para a sala com o café quente em mãos, observando os olhos de Laurent passarem rapidamente pelas páginas do livro e ele virar as páginas em menos de um minuto. Pensou que, se tivesse a mesma habilidade, já teria lido muito mais livros em seus 29 anos de idade.

Ao sentar-se numa poltrona próxima ao sofá, Laurent ergueu o olhar para examiná-lo rapidamente antes de voltar para o livro em mãos.

"Você não parece muito bem." Ele disse, acenando em sua direção. "Você sequer dormiu?"

"Dormi algumas horas." Klaus respondeu, tomando um gole de café. "Seu pescoço parece melhor do que ontem."

Às marcas da corrente haviam desaparecido quase completamente a não ser por duas finas linhas rosadas. Ele parecia também menos exausto, seu cabelo ruivo uma bagunça desgrenhada.

"Um dia pode fazer milagres."

Klaus assentiu e olhou pela janela para a cidade escura repleta de pequenas luzes.

"Deixei todas as minhas coisas no Nightshade." Laurent declarou. "Mas você disse que eu não posso voltar por um tempo."

"Vou pedir ao August trazê-la para você."

"Spencer está bem?" Laurent perguntou de repente, uma preocupação mascarada na indiferença em sua voz. "Fiquei me perguntando sobre o garoto depois da bagunça de ontem."

"Ele está bem, August ficou com ele."

"Oh, isso é bom."

Klaus bebeu mais uns goles de seu café, agora menos quente do que antes mas ainda perfeitamente agradável. "Você sabe sobre o que há com esses dois?"

Laurent franziu a testa. "Quem?"

"O garoto yuukai e August."

"Não tenho ideia." Ele deu de ombros."Não conversamos sobre essas coisas embora eu já tenha os visto juntos várias vezes. Talvez eles estejam juntos ou é só um caso rápido, não sei."

Klaus fez uma careta. "Tenho minhas dúvidas sobre eles."

"Todos nós somos complicados, para dizer o mínimo. Spencer não é diferente. Mas ele mencionou seu garoto August uma vez ou outra."

"Oh, o que ele disse?"

Laurent sorriu, os olhos brilhando com travessura. "Que ele é um idiota."

Klaus riu baixinho. "Ele não mentiu."

"Mas ele disse isso enquanto sorria e Spencer não sorri muito. Não genuinamente ao menos."

Klaus não tinha certeza se deveria ficar feliz ou não com essa informação. Mas talvez seu pensamento fosse tendencioso, considerando todos os relacionamentos ruins que teve de exemplo em sua vida.

"Você realmente não parece bem." Laurent olhava para ele diretamente agora, a cabeça inclinada um pouco para o lado. "Por que isso, chérie?"

Klaus bebeu mais café. "Por que eu te contaria?"

"Por que não?" Laurent deu de ombros. "Sou um bom ouvinte e caso não tenha notado, estou tentando manter essa conversa viva."

Ele tinha um ponto.

"Tive um pesadelo." Klaus respondeu. "Nada demais, mas me deixa de mau humor."

Laurent piscou, surpreso. "Klaus Burzynski tem pesadelos?"

"Todos os humanos tem."

Laurent bufou. "Oh eu sei, já fui humano uma vez. Mas pelo que ouvi a maioria das pessoas tem pesadelos com você."

"Sério?" Klaus arqueou uma sobrancelha. "Quem?"

"Algumas pessoas que trabalharam para você, corredores, mulas, etc. Dizem que você é assustador. Você tem pesadelos sobre as coisas que fez?"

Curiosamente, Klaus tinha menos pesadelos com o sangue em suas mãos do que com o sangue que seu pai tirou dele.

"Às vezes. É isso que dizem sobre? Que eu sou um monstro em forma humana?"

"Você dominou uma cidade e pintou com suas cores. Para isso, você se tornou algo mais sinistro que nós, criaturas da noite, então por que as pessoas não teriam pesadelos com você?Você é assustador."

"Você acha o mesmo?"

Laurent olhou para ele por alguns momentos, seu olhar pensativo. 

"Eu nunca teria medo de um humano. No fim, eu poderia quebrar seu pescoço em um segundo aqui nesta sala se eu quisesse e você não poderia me parar."

Antes que pudesse se conter, Klaus começou a rir – não alto, mas seus ombros tremiam e seus lábios estavam curvados, seus dentes a mostra e Laurent parecia particularmente divertido com sua reação.

"Por que –" Laurent sorriu." Por que você está rindo?"

"Merda."Klaus bufou, tentando conter o sorriso. "Você fica com essas ameaças passivo agressivas para o meu lado e eu que sou o monstro?!"

"Eu mato porque eu preciso. Sou um predador, como um leão matas zebras ou um lobo mata cervos para se alimentar. Você? Você não precisa matar para sobreviver e mesmo assim o faz. Isso é monstruoso." Laurent disse suavemente, a risada de Klaus morrendo. "Mas você é gentil comigo, o que é interessante. Você me ajudou, meu deu roupas, um quarto e me deixou roubar seus cigarros e ler seus livros. Então para mim, você não é tão monstruoso assim, posso até dizer que estamos no mesmo nível aqui."

Bem, Laurent era mais inteligente do que pensava.

"Eu preciso de você vivo e você precisa de mim também. Não tenho motivos para ser uma ameaça para você."

"E você não é, mas eu sei que no momento em que eu perder sua proteção, você será livre para vir atrás de mim como uma ameaça."

"Você trabalha para mim, por que eu deveria ser um perigo para você?"

"Oh você realmente se importa?" O sorriso de Laurent desapareceu. "Você realmente se importa comigo e com os seus outros funcionários?"

Merda.

"Até certo ponto."

"Bem, chérie," Laurent levantou o queixo, mais uma vez parecendo desafiador e arrogante como na noite em que se conheceram. "Isso não é o suficiente. Se eu estragar alguma coisa por qualquer motivo, você não vai se importar assim como não se importou comigo ou Spencer ou qualquer outra pessoa naquele bordel. Quando isso acabar, vou voltar a ser mais uma boneca aos seus olhos e tudo isso–" Ele fez um gesto entre eles. "Não significará absolutamente nada. E eu sou um sobrevivente, então estou mais do que bem com isso se tornando nada quando chegar a hora."

Klaus não pôde deixar de sorrir com isso, sentindo-se satisfeito. Laurent estava certo, assim que tudo isso acabasse, eles seriam nada um para o outro. No momento em que encontrarem Christopher Lange, então tudo estaria acabado, e ele não era estúpido o suficiente para se envolver com um de seus funcionários, especialmente um não humano. Laurent seria a Flor de Jade novamente em breve.

Simples.

"Você é inteligente, Laurent."

"É o que me manteve vivo até agora." Laurent sorriu mais uma vez, parecendo satisfeito consigo mesmo. "Não nasci ontem e nem nasci rico. Tive que aprender a sobreviver."

"Onde você nasceu?"

"Interior da França. Mas por que a pergunta?"

Laurent era inteligente, muito inteligente, mas também era particularmente bom em irritar Klaus.

"Fiquei me perguntando quem você era disso tudo, antes desse mundo." Klaus deu de ombros. "É algo comum quando se conhece um vampiro, eu acho."

Laurent torceu o nariz. "Eu era apenas um filho de fazendeiros. Nada especial."

"Fazendeiro?" Klaus riu, surpreso. "Você não se parece com um fazendeiro."

"Posso dizer o mesmo sobre você, chérie." Laurent sorriu e deu-lhe uma piscadela. "Um homem tão belo com um trabalho tão sujo. Que desperdício."

"Justo." O telefone nos bolsos do moletom de Klaus vibrou contra sua coxa, ao sinal de uma mensagem de Johnny, informando que ele estava na garagem. "Sua carona está aqui."

"Oh." Laurent olhou para o próprio peito e depois para Klaus. "Ainda estou usando suas roupas."

"Fique com elas" Klaus disse antes de se levantar, Laurent seguiu seus exemplos e se levantou. "Você ainda tem meu número, certo?"

"Sim."

"Se acontecer alguma coisa, me ligue." Klaus então gesticulou para ele segui-lo até a porta. “E peça o número de Johnny também. Você é um dos nossos agora, então se houver alguma coisa que você precisa, você pode perguntar a ele.”

Laurent riu enquanto eles cruzavam a sala de estar. "Ele é meu animal de estimação agora?"

Klaus bufou. "Diga isso a ele, tenho certeza que ele vai adorar."

Assim que estavam na frente do elevador, Klaus pressionou o botão de chamada e então olhou para o chão. Laurent ainda estava sem sapatos, ele se esqueceu disso. Então tirou seus chinelos e os chutou para mais perto de Laurent.

“Use isso. Quer dizer, eles não são sapatos, mas pelo menos você não vai andar descalço.”

Laurent riu baixinho para si mesmo enquanto calçava os chinelos, os olhos se transformando em pequenos crescentes, as bochechas cheias.

"Do que você está rindo?"

Laurent balançou a cabeça, então as portas do elevador se abriram. Ele entrou, virando-se para Klaus com aquele seu sorriso, aquele que ele parecia ter quando algo particularmente o divertia.

"Você é tão gentil,mon chérie. Isso ainda vai lhe custar caro."

Klaus não conseguiu pensar em nada a dizer enquanto portas se fecharam. Laurent manteve seus olhos nele até que desaparecesse atrás das portas deslizantes.

Klaus suspirou, já se sentindo cansado. Já houve um dia em que ele não se sentiu cansado desde que acordou? Se houve, não conseguia se lembrar, o que só ajuda a piorar seu humor.

Seu telefone começou a zumbir novamente e Klaus olhou para a tela por um momento antes de atender a ligação.

"Lisbeth."

"Boas notícias, meu adorado Klaus." Lisbeth respondeu, suas palavras um pouco arrastadas e havia um som de mastigação vindo com cada sílaba.

"Você está me ligando de boca cheia?"

"Olha, eu preciso de comida para trabalhar bem, me processe."

"E você não poderia ter esperado um minuto para-"

"Encontrei o lugar onde o Lange vendeu o relógio."

Klaus parou em na frente do sofá, seus olhos caindo no cinzeiro que Laurent colocou na mesinha de centro, uma única bituca de cigarro amassada no meio dele. “É mesmo?”

“O filho da puta vendeu para uma loja de penhores no Distrito 6.Bem debaixo da porra do nosso nariz. "

“Diga ao Ryland que ele virá comigo amanhã cedo. Vou precisar que você trabalhe para encontrar o lugar onde ele comprou o colar.” Klaus se sentou no sofá novamente, pegou um travesseiro e o colocou atrás do pescoço.

"Eu posso ter uma pista sobre isso também, na verdade."Lisbeth limpou sua voz. “O que nos traz as más notícias.”

“Ah, merda.O quê, é no distrito de outra família ou o quê?”

“Mais ou menos. A única loja que encontrei que vendeu um colar de ouro verdadeiro nas últimas quatro semanas está no Distrito 4...bem, você sabe o que isso significa ”.

Klaus gemeu e esfregou a mão no rosto, sentindo a frustração crescendo lentamente em seu sistema.“Por que lá?De todos os malditos lugares...”

“Quero dizer...” Lisbeth parou de falar por alguns segundos, provavelmente para engolir o que quer que estivesse comendo. "Não é tão ruim. Vou ligar para eles e marcar um encontro.”

"Eu não quero vê- los."

“Nós temos outra escolha?Não podemos simplesmente caminhar até lá, você sabe disso. Inferno, você sabe que-"

"Sim,porra, eu sei." Klaus respirou fundo, pressionando os dedos contra as pálpebras fechadas, na esperança de aliviar um pouco a pressão que estava sentindo. "Tanto faz. Basta ligar para eles e dizer que precisamos de permissão.”

"Eu vou.Peço alguma coisa nova ou- ”

Klaus arqueou uma sobrancelha. "Você está brincando comigo?"

"O que?"

“Laurent foi questionado por alguns caras que estão atrás do Lange por outro motivo, nós os matamos, agora temos que nos certificar de que ele não morra.”

“Por que sempre eu que fico fora da ação ?!Isto é ridículo!"

“Ligue para eles assim que puder, Lis. Quando mais cedo fizermos isso, melhor.”

"Ok." Lisbeth murmurou,seguido pelo som de uma cadeira arrastando contra o chão. “Da próxima vez que houver ação, me ligue.”

"Claro,Lis." Klaus respondeu, fazendo uma nota mental adicional de nunca chamar Lisbeth quando houver ação. “Eu vou ouvir de você mais tarde, você marca a consulta assim que puder. Temos que trabalhar rápido agora que temos uma liderança. ”

"Sim, querido." Lisbeth disse antes de encerrar a ligação.

Klaus deixou o telefone cair no sofá ao seu lado e simplesmente desabou contra o encosto, respirando profundamente pelo nariz.

Isso estava ficando pior do que pensava.

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Ryland não fumava e também não gostava do fumo passivo. Klaus aprendeu isso da maneira mais difícil quando pensou que seria divertido soprar uma nuvem de fumaça diretamente no rosto dele. Em sua defesa, Klaus estava miserável e bêbado naquela noite e a reação de Ryland foi,como sempre,exagerada.

Ainda assim, Klaus aprendeu com seus erros ao ver aqueles olhos escuros cheios de fúria — Ryland era assustador, com olhos frios atrás de óculos pretos de armação grossa, o cabelo negro sempre em ordem, seu rosto angular dando a impressão de ser uma estátua de um rei cruel. Talvez também fosse a altura que o deixava mais intimidador junto com as outras características.

Estava no banco do passageiro enquanto Ryland levava os dois para o coração do Distrito 6. Klaus olhou para a calçada imaculada, nem um cigarro jogado no chão, nem um pedaço de papel que foi esquecido no asfalto. Apenas homens realmente ricos passando enquanto usam mulheres jovens de salto alto em seus braços como uma espécie de troféu ou um relógio Rolex, algo assim.

Klaus não era um grande fã daquela área, mas isso é principalmente porque não lhe trazia muito dinheiro, apenas status. E Klaus já tinha status, ele não precisa de mais,se livraria desse distrito idiota se pudesse. Mas, embora seu velho pai esteja morto, suas regras e leis estão muito vivas. Então Klaus não podia fazer nada, exceto engolir a pílula amarga e fingir que tem gosto de cereja.

Quando Ryland de repente limpou a garganta de uma forma muito deliberada, Klaus se virou para ele e franziu a testa. Ryland olhou para ele e então para suas pernas e Klaus seguiu o olhar do homem mais velho, percebendo apenas agora que estava batendo o salto de seu sapato para cima e para baixo por Deus sabe quanto tempo. Parou a perna, a mão apertando sua coxa.

"Desculpe."

"Tudo bem."Ryland respondeu uniformemente, os olhos de volta na rua. "Nervoso com alguma coisa?"

Klaus zombou. “Tenho muitas coisas que me deixam nervoso.”

“Você não precisa fazer nada, está escolhendo ficar nervoso.”

Klaus revirou os olhos, ouviu essa frase exata tantas vezes agora que parecia mais familiar do que a sensação de sua própria cama. “Obrigado pela declaração esclarecedora, agora me sinto melhor. É como se todos os nossos problemas tivessem desaparecido. ”

“Não há necessidade de ser um espertinho sobre isso.”Ryland disse, virando o carro para a direita, parando em frente a um sinal vermelho. “Temos problemas, claro, mas vamos consertá-los.Nós sempre os consertamos,Klaus.”

"Eu sei."

"Então pare de ficar nervoso."A luz ficou verde. "E pare de bater os dedos no joelho."

Merda.

Klaus fechou a mão em punho e olhou para sua pele. Houve um tempo em que sua mão era mais roxa e vermelha do que a pele, ele se perguntou quando deixou de ser assim. Hoje em dia, ele raramente conseguia fazer o trabalho sujo e seus punhos estavam dando uma pausa.Só isso deveria deixá-lo mais feliz, hematomas doem como uma cadela. E, no entanto,aqui está ele, sentindo-se insatisfeito.

“Eu ficaria menos nervoso se pudesse fumar.”

"Fume assim que estivermos fora do carro." Ryland respondeu, acenando com a cabeça na direção da rua."Chegamos, de qualquer maneira, então pare de choramingar."

"Você nem me deixou começar a choramingar." Klaus murmurou enquanto Ryland estacionava o carro para mais perto do meio-fio.

Ele desligou o motor e soltou o cinto de segurança. “Então, é uma loja de penhores, principalmente compra itens e dá empréstimos. O proprietário tem tudo verificado, não falta um documento, ele é legítimo.”

"E temos certeza de que foi ele quem comprou aquele relógio?" Klaus perguntou enquanto saia do carro e fechava a porta.

“Sim, Lisbeth tem seus contatos e eles são confiáveis.Quem fala primeiro?”

Klaus começou a seguir Ryland assim que o homem começou a andar, indo para onde a loja de penhores. "Você fala primeiro, não me importo."

"Muito profissional."

"Sério? Você está procurando profissionalismo? Neste trabalho? ”

“Procuro profissionalismo em todos os lugares, Klaus.”Ryland disse enquanto arrumava sua jaqueta dando de ombros com firmeza.“E tento dar continuidade ao profissionalismo. Essa é uma das principais razões pelas quais esta família ainda é proprietária dessa cidade. ”

“Achei que fosse por causa do meu incrível carisma e mão sutil, mas firme.” Klaus respondeu, sua voz monótona.

Ryland era extremamente fácil de irritar e, por mais que possa ser assustador às vezes, também é muito engraçado se você estiver preparado para as consequências, obviamente. Klaus não estava preparado para as consequências, de jeito nenhum, mas também estava tão despreocupado que parou de se importar há muito tempo.

"Confie em mim, Klaus." Ryland sorriu e, merda, se isso não era assustador. "Não é por causa disso."

O que é verdade.

Ryland parou na frente de uma loja, a placa acima da porta diz “Penhores Schulman”, e olhou para ele e então abriu a porta, um sino tocando acima de suas cabeças enquanto entravam,o som do tráfego se tornando fraco quando a porta se fechou atrás deles.

"Bem-vindos." o homem atrás do balcão, provavelmente o próprio Schulman, cumprimentou-os com um sorriso caloroso. "Como posso ajudá-los? Vocês estão aqui para vender ou- ”

"Na verdade, nenhum desses."Ryland respondeu, exibindo seu melhor sorriso profissional. As pessoas pareciam se apaixonar por esses sorrisos. Klaus achava isso estúpido:você não confia em uma cobra só porque ela é bonita e ainda não o mordeu.

Ryland foi até o balcão, mas Klaus ficou para trás, dando as costas para Schumman e olhou em volta. A loja estava cheia de lixo, mas nas prateleiras mais altas, Klaus podia ver joias,ouro que parecia real, prata e até pedras preciosas. Na parede à direita de Klaus, havia três guitarras diferentes, Klaus cantarolou baixinho com seus olhos percorrendo a Fender Stratocaster vermelha lisa e polida. Como essa guitarra acabou aqui? Quem é estúpido o suficiente para vendê-la, Cristo, as pessoas hoje em dia não faziam sentido.

“Tenho certeza de que você poderá e estará disposto a nos ajudar. Estamos procurando um relógio. ”Ryland disse.

"Que tipo de relógio? ” Schulman perguntou, sua voz ainda agradável e relaxada. “Eu tenho muitos tipos, qual é a faixa de preço?”

“Eu não sei que tipo de relógio é, eu estava realmente esperando que você pudesse nos dizer. Você o comprou, não muito tempo atrás. ”

"Eu fiz?"

“De uma certo Christopher Lange.”

Klaus arqueou uma sobrancelha quando o silêncio que seguiu as palavras de Ryland se estendeu por mais de um punhado de segundos, enquanto ele começava a olhar para uma coleção de selos antigos. Tinha gente que colecionava selos, por algum motivo.

"Receio não poder ajudá-lo." Schulman respondeu, sua voz agora mais nítida, palavras curtas. "Não sei de quem você está falando."

"Você não sabe?"

“Não tenho permissão para compartilhar informações sobre nenhum de meus clientes.”

"Oh, então você o conhece."

"Eu não disse isso, eu-"

"Você sabe, Schulman." Ryland apoiou os cotovelos no balcão, Klaus vendo pelo canto dos olhos que seu sorriso desapareceu. “Não gosto quando as pessoas mentem na minha cara.”

"Eu não—"

“Porque, você vê, você está perdendo meu tempo. Não tenho esse luxo, meu tempo é caro, meu tempo é algo que não vou receber de volta. ”

Lá vamos nós, porra.

“Cada vez que você responde às minhas perguntas muito simples com uma mentira, eu perco segundos preciosos.”Ryland acrescentou, Klaus suspirou. “Eu poderia estar fazendo tantas coisas agora, coisas muito mais importantes, em vez disso, estou preso aqui. Em sua loja. Não gosto desta loja, Sr.Schulman. Eu realmente não gosto. Não gosto do cheiro, não gosto da madeira que escolheu para as paredes, nem gosto da sua gravata."

Jesus Cristo, isso vai demorar. Klaus viu em uma prateleira inferior a primeira edição de um gibi que ele tinha certeza que leu uma vez, quando era criança. Estava tudo bem embrulhado em um saco plástico e um pequeno “uh huh” deslizou por seus lábios assim que ele se ajoelhou para examiná-lo melhor.

"Senhor." Schulman disse, seu sorriso ainda está lá, embora estivesse lentamente se transformando em uma careta feia. "Eu tenho que te pedir para-"

"Se você me disser para ir embora, posso garantir que amanhã você vai acordar apenas para encontrar sua loja destruída ou incendiada."

Ok, era a hora de Klaus entrar em cena. Porque ele não queria queimar este lugar, realmente gostava daquele gibi.

“Sr.Schulman.” ele chamou, se levantando e se virando para o homem, encontrando seus olhos. "Você sabe quem eu sou?"

Schulman o encarou por alguns segundos, confusão claramente exibida em suas feições. Havia uma camada brilhante de suor em sua testa enrugada, cabelos grisalhos grudados e seus olhos estavam arregalados por trás dos óculos redondos que estavam usando.

“Eu possuo o terreno sobre o qual sua loja foi construída.”

Os lábios de Schulman se separam lentamente, sua boca aberta enquanto ele olhava para Klaus com um lampejo de realização.

“Sr.Burzynski…" ele sussurrou. Ele olhou de volta para Ryland por um segundo antes de seus olhos estarem em Klaus novamente. "E- eu não tinha ideia."

"Claramente." Klaus caminhou até o balcão e ficou ao lado de Ryland "Você estava mentindo para meu sócio, Schulman?"

"Não!" Schulman disse rapidamente, sua voz tímida de ser um grito. “Não,Sr.Burzynski! Estou falando sério, não posso divulgar informações sobre meus clientes! ”

"Mas você disse que não sabe quem é Christopher Lange.Você estava mentindo?"

"Não! Não, esqueci! Esqueci, mas me lembro agora! ” Schulman começou a balançar a cabeça furiosamente e Klaus ficou com pena dele. Este é apenas um velho.

"Então você vai me contar sobre o relógio dele, não é?"

"Claro! Ele ... ele veio aqui há quatro semanas, eu acho. Sim! Sim, quatro semanas. ”

Klaus assentiu, Ryland relaxando visivelmente ao lado dele. "Boa. E?"

“Ele veio com um relógio. Um Cosmograph Daytona, senhor, Rolex. Boas condições, se não por alguns arranhões no quadrante. Ele queria vender. ”

Klaus concorda. "E?Você sabe, meu sócio está certo, o tempo é precioso, Sr.Schulman. Eu também não gosto de desperdiçar. ”

"Claro! Me desculpe senhor." Schulman ajeitou os óculos no nariz. “Ele pediu muito dinheiro, mas mesmo assim comprei o relógio porque valeu ainda mais. Ele não tinha documentos que garantissem que o relógio era dele, mas eu...bem, eu não faço perguntas,Sr.Burzynski. Nesta linha de trabalho, você deve entender- ”

"Compreendo. Continue."

“Ele conseguiu o dinheiro e eu o relógio e, realmente, é um relógio lindo. Então eu perguntei a ele por que ele queria se desfazer de um objeto tão bom, que eu poderia lhe dar um empréstimo, mas ele disse que não se importava com o relógio. Que precisava do dinheiro para presentear alguém especial, foi o que disse. Então eu não fiz mais perguntas e o registrei, senhor. ”

"Ele tinha uma identidade?"Ryland perguntou, Schulman concordou.

"Sim ele tinha. Christopher Lange. Parecia real, senhor, mas não posso ter certeza. "

"Como ele era? Você lembra disso?" Klaus perguntou.

“Ele é alto, senhor. Alto, muito bronzeado. Quase parecia que ele estava de férias em algum lugar ensolarado.Err...cabelo preto, mas um rosto muito comum, senhor. O tipo de rosto que você vê em todos os lugares. ”

“Ele não tinha nada de particular sobre ele? Nada que nos ajudasse a reconhecê-lo.”

Schulman engoliu visivelmente. "Não senhor. Sinto muito, ele parecia muito simples, apenas alto. Seu corpo era bem construído, mas é tudo de que me lembro, juro. ”

Klaus concorda. "Eu acredito em você. Você ainda tem o relógio? ”

"Sim senhor."

“Eu gostaria de ve-lo.”

Schulman acenou com a cabeça, chegando ao ponto de se curvar para Klaus antes de se virar e desaparecer atrás de uma porta que devia levar a um quarto dos fundos, talvez um depósito.

Ryland se virou para ele com uma sobrancelha levantada. “Seu sócio? Sério?"

"Porra, como eu devo chamar você então?"

"Qualquer coisa menos isso."

“Da próxima vez, não ameace um velho que provavelmente tem apenas dez meses de vida e eu não vou chamá-lo assim.”

"Ele estava mentindo para nós!"

"Ele é um velho!"

"Um velho que estava mentindo."

“Um velho que estava sendo esperto e não estava dando informações." Klaus respirou fundo pelo nariz, fechando os olhos por um momento, tentando se acalmar. “De qualquer forma, ainda estamos conseguindo o que queremos. Vamos apenas deixar o homem em paz. ”

Schulman voltou da sala carregando na mão uma caixa com uma almofada de veludo e o relógio enrolado nela. Ele o colocou no balcão, deslizando-o cuidadosamente na direção de Klaus.

“Este é um bom relógio.” Ryland murmurou, olhando para o objeto uma vez que Klaus o pegou na palma de sua mão.

Podia ouvir o tique-taque e sua mandíbula apertou imediatamente. Ele o colocou de volta na caixa e fechou a tampa.

"Nós vamos levar isso." Klaus disse, olhando para Schulman.

Houve um lampejo de decepção no rosto do homem, mas Schulman ainda concordou. “Sim, claro,senhor. Eu- me desculpe por antes, eu não tinha ideia- ”

“Está tudo bem. Vou mandar alguém vir aqui em breve e pagar pelo relógio. ”

"Oh, você não precisa!"

"Eu faço questão." Klaus então olhou para a prateleira que ele havia se agachado alguns minutos atrás. “E você pode manter aquele gibi guardado para mim? O homem que vai pagar pelo relógio também o comprará. ”

Schulman lambeu os lábios nervosamente, sacudindo a cabeça para cima e para baixo em acenos rígidos e contínuos. "Sim senhor. Qualquer coisa."

“E se alguém vier perguntar sobre o relógio de Christopher Lange, por favor, diga a eles que você responde apenas a Klaus Burzynski." Klaus pegou a caixa e a colocou no bolso da jaqueta. "Estamos entendidos?"

"Claro, Sr.Burzynski."

"Este é um lugar agradável." Klaus acenou com a cabeça enquanto olhava ao redor, então ele se virou e se dirigir para a porta. “Vamos manter assim.”

Klaus só pôde ouvir a respiração afiada de Schulman antes de sair para a rua novamente e a porta se fechar atrás dele e de Ryland, a campainha tocando.

"O que aconteceu com não vamos assustar o velho."

"Eu não o ameacei." Klaus respondeu, sentindo o peso da caixa e do relógio em seu bolso. "Eu avisei ele."

"Mesma coisa." Ryland acenou com a mão para ele, que fez a língua de Klaus estalar contra o céu da boca. Aquele homem podia ser tão irritante sem nem mesmo tentar que realmente disparou algo na cabeça de Klaus. Como assassinato. “Vamos voltar? Não estava mentindo quando disse que não gostava do cheiro daquele lugar. ”

Ambos seguiram para o carro. Ainda fazia sol lá fora, o vento não estava forte e as ruas não cheiram mal, ao contrário das dos bairros mais baixos ou de certas vielas do Distrito Vermelho atrás do Nightshade. Ryland destravou o carro e os dois entraram, ligando o motor assim que o cinto de segurança é colocado e se afastaram do meio fio.

Klaus tirou a caixa do bolso e jurava poder ouvir o tique-taque do relógio.

"Você fica com ele." Disse uma vez que abriu o porta-luvas e enfiou a caixa dentro, fechando a tampa e suspirando quando o tique-taque não pôde mais ser ouvido.

"Certo." Ryland relaxou atrás do volante, uma mão na cintura e a outra batendo lentamente em sua coxa. "No final das contas deu certo, não foi?"

"Essa é uma palavra para isso, com certeza."

"Estou te levando de volta para casa?"

"Sim."

"Oh, você ainda não me falou sobre ele."

Klaus franziu a testa, suas mãos coçando para alcançar seus cigarros, pegar um e simplesmente colocá-lo entre os lábios. "Ele?"

"O vampiro."

"Mh." Klaus olhou pela janela, observando enquanto as ruas e edifícios limpos e imaculados do distrito 6 desaparecem lentamente para deixar espaço para tinta mais suja e asfalto rachado. "O que você quer saber?"

Ryland encolheu os ombros, o cabelo preto caindo ordenadamente sobre suas sobrancelhas, perfeitamente repartido no meio. "Como ele é? Ele está no meio de tudo isso, estou curioso para saber que tipo de pessoa ele é. ”

A primeira coisa que veio à mente de Klaus é que Laurent cheirava a flores e que ele era tão atraente quanto irritante às vezes até muito irritante, o suficiente para fazê-lo torcer o nariz de desgosto. Às vezes Laurent era forte o suficiente para deixá-lo tonto e outras vezes era suave e sutil.

Em vez disso, ele disse: “Ele é inteligente”.

"Sério?" Ryland acenou para si mesmo. "Boa. Teria sido um problema se ele fosse estúpido. "

"Ele não é. Ele tem toda essa merda planejada, talvez até mais do que nós. " Klaus fungou com força, esfregando o nariz. "Mas ele parece uma criança às vezes."

"Significando...?"

“Significando que ele sabe muito bem esconder os verdadeiros sentimentos. Até que ele não o fez mais.”

"Ele pirou?"

“Um pouco, mas eu acho que eu forcei demais. Perguntei a ele muito cedo, ele estava furioso mas havia algo a mais nisso. ” Klaus lembrou que Laurent tinha gotas de desespero na postura naquele momento. Ele nunca realmente associou o desespero a uma postura, mas agora o faz. "Ele não queria estar envolvido nisso."

"Sim."Ryland parou em um sinal vermelho, olhando para ele com o canto do olho antes de olhar para frente novamente. "Mas ele está sob nossa proteção agora."

"Sortudo."

“Ele não será uma vítima, Klaus. Vamos cuidar disso, garantir que ele saia dessa sem nenhum arranhão. Você sabe que vamos. Sem vítimas. ”

Um arrepio desceu pela espinha de Klaus e por um segundo ele ouviu o tique-taque do relógio novamente. Mas ele provavelmente não ouviu, não é? Apenas imaginou.

"Sim. Sem vítimas.”Klaus suspirou. “Nós sempre dizemos isso, não é?”

O sinal ficou verde, mas Ryland não avançou.Sua mão estava mais apertada ao redor do volante e seus olhos estavam fechados.

“Ouça,” ele começou. “Klaus, nós-”

"Eu sei. Estou bem, me ignore. ”

“Klaus.”

“Me ignore. E comece a dirigir, antes que alguém saia do carro para cuspir no nosso. ”

Ryland respirou fundo e começou a dirigir novamente.

Agora, Klaus mentiu. Ele não estava bem. Mas não é por causa de tudo isso, não é por causa de todo o negócio de baixas que eles estão fazendo. Klaus não estava bem há muitos anos e tudo remonta a uma longa lista de questões que ele parou de tentar contar porque, no fundo, Klaus é tudo sobre sobrevivência. E ele sabia que se parasse e pensasse sobre seus problemas, mesmo que não sejam todos, fica difícil sobreviver.

Então, sim, ele não está bem. Mas ouvir Ryland tentar animá-lo ou o que quer que seja, para acalmá-lo, para tentar fazê-lo acreditar que, realmente, eles vão manter Laurent seguro e será isso- bem, Klaus não gostava quando Ryland fazia isso. Ele é bom nisso, esse é o problema. Ryland podia fazer você acreditar em qualquer coisa, se tentar bastante.

Klaus não gostava de acreditar em mentiras, por mais legais que pareçam.

⸎⸺⸺⸺⳹۩᪥۩⳼⸺⸺⸺⸎

Parecia que ia começar a chover em breve.

Estava ensolarado quando Klaus acordou, mas agora havia nuvens escuras no céu e o ar parecia mais apertado, quase zumbindo com eletricidade. Provavelmente uma tempestade.

Klaus não se importava com as chuvas, ele realmente gostava delas. Tempestades são barulhentas e bagunçadas, claro, mas pelo menos elas limpavam as ruas e a cidade não cheirava a merda depois que a tempestade passava. O que o irritou é que fazia sol algumas horas atrás e agora não estava mais. Klaus sempre achou a dualidade do clima insuportável. Lisbeth sempre revirava os olhos para ele sempre que Klaus falava sobre isso, dizendo que ele deveria simplesmente superar isso e parar de agir como um idiota chorão e petulante. E por mais que Lisbeth não esteja errada, também não havia necessidade de ser tão grosseiro sobre isso.

Ainda assim, Klaus não se sentia bem e esperava que pelo menos a tempestade durasse a noite inteira. Só para ele dormir um pouco melhor.

Estava sentado no balcão da cozinha, sua xícara de chá intocada à sua frente, um cigarro entre os dedos que ele nem estava fumando, apenas deixando queimar e sentir o cheiro dele encher o ar.

Então, por algum motivo, estava se sentindo inquieto. Klaus adivinhou que tinha o direito de se sentir assim, considerando o fato de que eles estão, mais uma vez, em um beco sem saída. O relógio foi completamente examinado e não escondia nada, nenhuma mensagem, nenhuma informação, nenhum código, nada. Era apenas um relógio caro com alguns arranhões no quadrante. Isso é tudo. Lisbeth estava se esforçando para conseguir uma permissão para que possam cruzar as fronteiras do Distrito 4, mas eles ainda não receberam uma resposta. Realmente não tinham tempo para sentar e esperar; por tudo que Klaus sabia, Lange já deveria ter deixado a cidade, sem deixar rastros mais uma vez, já que ele parecia ser muito bom nisso.

Deus, realmente esperava que chovesse logo.

Finalmente levou o cigarro aos lábios, dando uma tragada na fumaça. A cobertura não cheira mais a flores como Laurent. Seu telefone vibrou contra a superfície do balcão, chacoalhando e tremendo. Klaus olhou para ele e viu o nome de Johnny aparecendo na tela, então ele pegou o telefone e atendeu a ligação.

"Sim?"

“Podemos ter um problema.”

"Outro? Isso é ótimo pra caralho. ”

“Klaus.” Johnny limpou sua voz. "Laurent acabou de sair de casa."

Klaus bateu no cigarro. "Porra, o que?"

"Eu acho que ele está indo para o clube." Johnny respondeu. “Estou seguindo ele com o carro e ele está no caminho de lá mas não tenho certeza .”

"Jesus." Klaus gemeu, pulando do banquinho e saindo da cozinha em direção ao elevador. "Eu disse a ele para ficar em casa."

"O que eu faço? Eu o paro, ou- "

“Basta segui-lo, vou dirigir até aí ver o que ele está fazendo. Mande a localização.” Klaus respondeu, ele pegando sua jaqueta do cabide e chamando o elevador. “Pensei que ele fosse inteligente, em vez disso ele é um idiota. Ele está sozinho, certo? "

"Sim."

"Ok, me avise saber se alguém se juntar a ele."

As portas do elevador se abriram e Klaus entrou, encerrando a ligação. Encolheu os ombros e colocou o casaco no enquanto o elevador descia.

"Isso é estúpido pra caralho." Ele murmurou, pensando em todo o tempo que ele considerou Laurent inteligente e lamentando cada um deles.

 

 

Klaus encontrou Laurent depois que ele passou pelo Nightshade, na esperança de encontrar um local aleatório onde pudesse estacionar o carro e esperar. Em vez disso, ele viu Laurent caminhando em sua direção, as mãos nos bolsos de sua jaqueta preta.

Klaus parou no meio-fio,deixando o motor ligado enquanto saia e caminhava ao redor do veículo, suas pernas se movendo rápido para que ele possa alcançar Laurent, que continuava caminhando, os olhos analisando as pessoas que passavam por ele.

Assim que estava perto o suficiente, Klaus agarrou o braço de Laurent e o puxou de volta, fazendo-o se virar com o susto.

“O que-” Laurent franziu a testa ao reconhecê-lo. "O que você está fazendo aqui?"

"Essa é a minha fala. Vamos." Klaus girou nos calcanhares e puxou o braço de Laurent, arrastando-o até o carro, embora o vampiro puxasse seu braço para longe.

"O que? Onde estamos indo? Eu preciso ir!"

"Não, você não precisa." Klaus abriu a porta do assento do passageiro e acenou com a cabeça em sua direção. "Entre."

Laurent piscou algumas vezes, olhando para Klaus, antes de zombar. "Não! Você não pode simplesmente aparecer e- ”

"Laurent!" Klaus sibilou, olhando para trás e então olhando por cima do ombro de Laurent. “Entra neste maldito carro. Agora."

Klaus daria crédito a Laurent por pelo menos tentar o seu melhor para parecer tão irritado quanto provavelmente estava se sentindo, mas eles não têm tempo. Eles nem deveriam estar aqui, pelo amor de Deus.

Laurent revirou os olhos no final e deslizou para dentro do carro, Klaus fechou a porta para ele e rapidamente foi se sentar no banco do motorista.

Klaus puxou o carro para longe do meio-fio com muita energia, as rodas batendo ruidosamente no asfalto e o carro acelerou forte, Laurent se agarrando nas bordas do assento e respirou fundo.

"Merda, Klaus, você está tentando nos matar?" ele murmurou, alcançando o cinto de segurança.

"De novo, essa é a porra da minha fala." Klaus olhou para o ruivo antes de voltar a olhar para a estrada.

"Do que diabos você está falando?"

"Agora não. Conversaremos um pouco, por enquanto mantenha essa boca fechada. ”

Laurent estalou a língua contra o céu da boca e então cruzou os braços, cruzando uma perna sobre a outra. Klaus iria realmente parar o carro apenas para que ele pudesse limpar aquela expressão irritada do rosto de Laurent, considerando que ele era a última pessoa que podia se dar ao luxo de se sentir irritada nesta situação.

"Onde estamos indo?" ele perguntou.

"Em algum lugar onde possamos conversar."

Laurent não disse nada depois disso. Ele deve ter percebido o humor geral e que era melhor ficar parado por enquanto. Klaus estava feliz por ter feito isso porque, a partir de agora, ele não estava feliz. Em absoluto.

Klaus acelerou para o mais longe possível do Nightshade. Enquanto batia seu dedo indicador contra o volante, Klaus só pode esperar que ninguém os tivesse visto ou seguido Laurent. Estavam todos caminhando em um fio muito fino de gelo e adicionando mais peso a ele apenas o faria rachar e ele não precisava se preocupar com isso além de todo o resto de sua merda.

Olhou para Laurent e o encontrou mordiscando as unhas, ainda não forte o suficiente para realmente mordê-las. Seus lábios estavam fazendo beicinho em torno dos dígitos, olhos fixos na vista para fora da janela. Ele parecia nervoso.

Klaus olhou para trás, para a estrada, vendo a transição do suave brilho amarelo para as cores neon do Distrito 6.

Klaus diminuiu a velocidade do carro, o tráfego começando a diminuir conforme ele levava os dois para o lado mais silencioso do distrito, as estradas mais estreitas e as calçadas menores. Mas os prédios e lojas ainda estavam decorados com letreiros de neon, verdes, laranja e vermelhos tão chamativos que fazem os olhos de Klaus arderem.

Passaram por uma loja de massagens chinesas, quando Klaus encostou o carro no meio-fio e o estacionou na vaga vazia. Desligou o motor e olhou para Laurent, encontrando o vampiro compartilhando seu olhar.

"Fora." ele disse, então saiu do carro, fechando a porta com força. Esperou que Laurent saisse também antes de trancar o carro e deu um tapinha no bolso da jaqueta até encontrar o maço de cigarros. Pegou um e o colocou entre os lábios, então caminhou até Laurent e gesticulou para que ele o siga. "Você tem um isqueiro?"

Laurent assentiu e tirou um isqueiro vermelho do bolso de trás da calça jeans, o entregando para Klaus, que rapidamente acendeu seu cigarro.

"Obrigado." ele disse ao devolver o isqueiro a Laurent.

“Nunca estive neste distrito.” Laurent disse, olhando em volta, a luz de néon verde pintando seu rosto com uma cor sombria enquanto eles passavam por uma loja fechada, a placa ainda acesa e piscando fracamente.

“É um distrito neutro.” Klaus disse. "Ninguém o possui ainda."

Klaus avistou o restaurante alguns metros à frente e aceleriu o passo. Começara a chover, gotas d'água batendo esporadicamente em seu rosto, o ar ficando mais úmido à medida que caminhavam.

Uma vez que estavam na frente do restaurante, um alto sinal de néon rosa choque colocado acima da porta que diz Lótus,Klaus empurrou a porta e se afastou para deixar Laurent entrar antes de segui-lo para o restaurante. O interior era mal iluminado, as mesas espalhadas, apenas dois casais comem, dois homens de um lado e uma mãe com o filho do outro.

Klaus avistou a mesa vazia perto da janela e foi até lá, se sentando em um dos sofás opostos, dividido pela mesa preta e tirou a jaqueta exibindo sua camisa preta, o cigarro guardado entre os lábios.

Laurent se sentou na frente dele no lado oposto da mesa, olhando ao redor com uma carranca.

“Este é um restaurante estranho.”

Klaus deu uma tragada e olhou para a vitrine ao seu lado, o vidro já embaçando com rastros de água escorrendo. Devia estar chovendo mais forte agora.

Uma garçonete foi até eles com dois cardápios nas mãos, os colocando na mesa e sorrindo.

"Bem-vindos. Vou deixar vocês algum tempo para lerem o menu. ”

"Não precisa." Klaus respondeu, olhando para a garota.

"Oh, Sr.Klaus." A garçonete se curvou, sorrindo ainda mais. "Devo trazer o de costume?"

“Sim, e para ele o seu melhor vinho francês, deixe a garrafa. E um cinzeiro. ”

"Claro senhor. Eu volto já."

A garçonete se afastou e Klaus olhou para Laurent, que o estava encarando com o canto dos lábios puxado para cima em um sorriso.

"Este local é seu."

“Não é. Eu sou apenas um cliente regular, a comida é boa.” Klaus respondeu,a garçonete voltando com um cinzeiro de metal que ela coloca na frente de Klaus. "Obrigado."

"Eu estarei de volta em breve com sua comida, senhor."

Laurent tirou sua jaqueta, revelando uma blusa preta incrivelmente transparente por baixo. Possuia um corte em V profundo, expondo a pele lisa de seu peito e o medalhão de ouro no pescoço.Estava enfiada em sua calça jeans, enfatizando sua cintura fina. A mente de Klaus percebeu isso, como normalmente fazia com coisas bonitas.

"Ela parece ter um grande respeito por você, no entanto."

“Ajudei-os a comprar o terreno onde construíram o restaurante. Mas não é meu, eles só me devem.” Klaus bateu no cigarro acima do cinzeiro. "Comida grátis é apenas um bônus."

Laurent assentiu,alisando com as palmas das mãos o tecido de sua camisa. "Quão conveniente."

Klaus desviou o olhar de Laurent, focando na janela novamente. Nesse ponto, o vidro estava completamente embaçado, tornando impossível até mesmo ver os contornos dos prédios e ruas; os sinais de néon eran cores borradas agora, misturando-se e lançando um brilho quase roxo no restaurante.

"Não fui claro o suficiente?" Klaus perguntou, ele se vira para Laurent.

"Sobre?" Laurent pegou o menu e começou a examinar as ofertas de comida.

“Sobre ficar dentro de casa e não sair. Porque eu pensei que tinha sido bem claro sobre isso, mas talvez eu esteja errado. ”

"Você foi claro, mon chérie."Laurent respondeu, folheando o menu sem realmente lê-lo. "Você disse que eu tinha que ficar parado por alguns dias e eu fiquei."

"Obviamente, quis dizer mais do que dois dias literais."

"Então, da próxima vez, certifique-se de soletrar em voz alta e clara para mim."

Uma coisa tão bonita e, no entanto,com a pior atitude. A parte preocupante é que Klaus estava começando a gostar disso.

“Laurent, eu não posso estar em todos os lugares. E eu preciso ter certeza de que você não está sendo seguido ou encontrando alguém suspeito..” Klaus apagou o cigarro no cinzeiro e se recostou no assento. “Ir para o Nightshade agora não é seguro, alguém poderia estar esperando por você bem aí. Não torne meu trabalho mais difícil do que já é. ”

Laurent colocou o cardápio de volta na mesa com força, o papel batendo contra a madeira. "Talvez não fui eu quem foi claro o suficiente, Sr.Klaus."

"Como assim?"

"Não posso ficar preso, eu preciso sair."

"Pelo que eu sei, você é rico."

“Dinheiro não é o problema, eu sou.”Laurent arqueia uma sobrancelha. "Eu sou um vampiro."

Klaus concordou. "Estou ciente."

Laurent conseguiu abrir a boca, mas a garçonete os interrompeu, pondo os pratos na mesa de forma organizada e cuidadosa e quando terminou, ela se curvou para Klaus, desejando uma boa refeição e foi embora.

Klaus agarrou seus hashis, pegando uma tigela de lamen a trazendo para perto de si. Ele mexeu um pouco com os pauzinhos, que depois limpou e deixa de lado, encontrando uma colher dobrada em um guardanapo e a pegou, cavando o ensopado.

Laurent soltou um suspiro antes de olhar para os diferentes pratos e pegar uma das taças e a garrafa de vinho Pinot Noir. Cuidadosamente serviu um pouco em sua taça, trazendo-a aos lábios.

Klaus trouxe à boca uma colher de seu ensopado, cantarolando enquanto o sabor da sopa quente de yakisoba cobriu sua língua. Com a próxima colher, Klaus se certificou de pegar um pedaço do tofu macio, que ele mastigou lentamente, sibilando levemente na temperatura quente, mas por outro lado apreciando o sabor plenamente.

"Você tem um bom gosto para vinho." Laurent murmurou depois de tomar um pouco de vinho. “É saboroso.”

"Você estava dizendo algo antes de sermos interrompidos."

"Eu preciso sair,não posso ficar preso em casa."Laurent repetiu, balançando o vinho na taça.“Eu sou um vampiro, chérie, eu não posso continuar sem sangue e eu não vou me rebaixar a me alimentar de ratos como na Idade das Trevas. Achei que você soubesse. ”

"Eu sei." Klaus responde, pegando a garrafa de vinho de servindo a si próprio.

O perfume floral de Laurent estava de volta, suave mais presente, definitivamente uma parte de seu ato.

"Então você também pode perceber por que me impedir de sair é uma péssima opção." Laurent enviou a Klaus um olhar antes de olhar para seu vinho novamente. “Eu preciso de sangue para permanecer vivo, eu preciso de um negócio de verdade. Se eu não posso ir trabalhar então eu preciso sair para caçar.”

Klaus assentiu. “Na verdade eu sei mais do que você pensa sobre vampiros, e sei que quando mais velhos vocês são mais tempo podem ficar sem se alimentar.”

Laurent bufou com raiva, bebendo mais vinho. "Não significa que é algo agradável."

Klaus pressionou os lábios antes de decidir comer um pouco mais de seu ensopado antes que esfriasse. Ele engoliu a sopa, mastigando lentamente o pedaço de frutos do mar que pegou com a colher.

“Veja, essas são suas opções. Ou você volta ao trabalho agora e corre o risco de levar uma bala na bunda, ou fica como eu disse e continua vivo. O que é melhor entre essas duas opções?”

Laurent ficou quieto com isso, olhando para Klaus com a mandíbula cerrada e olhos estreitos. Raiva era um visual bonito em Laurent.

“Como eu disse,” Klaus sorriu. "tenho certeza que você vai conseguir por mais alguns dias. E eu prometi que conseguiria alguém para você se precisasse, e minha oferta ainda está de pé.”

Laurent olhou para ele com os olhos arregalados, sua boca se separando lentamente, quase como se ele estivesse pessoalmente ofendido com o que Klaus disse. Inferno, talvez ele esteja, Klaus não se importava.

Laurent então se recostou no sofá, cruza os braços e franzindo os lábios. Klaus arqueou uma sobrancelha para ele, Laurent inclinou a cabeça para o lado.

"Pode conseguir qualquer um para mim? Até mesmo aquela garçonete?"

Esse maldito pirralho.

"Por que, você a quer?"

Laurent bateu os cílios para ele, completamente impressionado, mas com uma pitada de diversão brilhando em seus olhos.

"Seria um jantar delicioso."

Klaus realmente deveria ficar bravo com ele por isso, por ser tão arrogante e irritante, mas o brilho de néon que vem da janela embaçada ficava bem na pele de Laurent, seu cabelo vermelho pintado de verde. Confiança, Klaus pensou, confiança lhe convém.

Mas ainda assim.

"Laurent." Klaus abaixou a colher, olhando para o ruivo em seus olhos. “Você foi contra uma das minhas ordens, embora elas estejam lá para sua segurança. Posso não parecer, mas estou puto pra caralho. Agora, eu saio do meu caminho para manter seu traseiro vivo, levo-o para um restaurante decente para que possamos conversar sobre isso como adultos, e ainda assim você age como uma criança petulante e mimada. Isso não me deixa feliz. Então o que você vai fazer agora é se comportar. Se você realmente quer aquela se alimentar de alguém posso arranjar isso mas em troca você tem que se comportar e me obedecer.”

Laurent manteve a atitude por mais dois segundos antes de seus ombros caírem e ele soltar um suspiro profundo. Ele pegou a taça mais uma vez e continuou a beber.

Satisfeito, Klaus afastou a tigela de ensopado e pegou outro prato, o sabor saboroso do porco e da cebola o fazendo lamber os lábios.

"Você não pode simplesmente sair de casa assim, Laurent." Klaus disse e, dessa vez, tentou manter a voz mais suave. Se Laurent precisava de algum incentivo gentil, então que seja. “Eu sei que isso te irrita, mas é assim que as coisas são. Estou tentando mantê-lo até o fim disso tudo então agradeceria se você não tentasse ir contra mim."

Laurent pôs sua taça na mesa. "Eu sei."

“Apenas tente ficar parado por uma semana. Se eu ainda não tiver tudo planejado até lá, terei alguns dos meus homens ficando de olho nos seus clientes só por garantia." Klaus olhou para ele. "Nós temos um acordo?"

Laurent levantou os olhos da mesa.

"Nós temos um acordo." ele disse no final, antes de se concentrar no vinho novamente, enchendo a garrafa mais uma vez.

Obrigado porra.

Klaus voltou a comer seu ensopado, saboreando-o até a última gota, mantendo apenas um pedaço de tofu macio na tigela antes de colocar seus pauzinhos de lado. Laurent franziu a testa para a ação, olhando para sua tigela quase vazia por alguns segundos, mas então ele volta para seu vinho e não fez perguntas.

Um garçom diferente veio até a mesa então, ele devia ser novato, pois Klaus nunca o viu antes. Mas ele sorriu e se curvou para ele, suas mãos claramente tremendo, embora ele estivesse tentando escondê-las atrás das costas, o que significa que ele estava muito ciente de quem é Klaus.

"Devo levar isso embora?"Ele perguntou, apontando para a tigela de Klaus.

"Sim, obrigado."

O rapaz balançou a cabeça e começou a recolher os pratos, deixando sobre a mesa a comida que ainda não foi tocada. O garçom se virou para Laurent e seu sorriso desapareceu. O rapaz olhou para ele por alguns segundos, os olhos arregalados e as narinas dilatadas.Laurent arqueou uma sobrancelha, os braços cruzados sobre o estômago enquanto o rapaz apertou a mandíbula e todo o seu corpo enrijeceu, as mãos apertando os pratos. Os olhares que o rapaz estava dando a ele só podem ser considerados de nojo, uma careta já torcendo seus lábios. Ele se endireitou e saiu sem dizer outra palavra, seus passos rápidos e deliberadamente altos.

Klaus olhou para Laurent, que revirou os olhos e bebeu um pouco mais de vinho.

"Posso roubar um cigarro para você?"

Klaus pegou seu maço de cigarros e o entregou para Laurent. "Se você fuma, compre seu maldito veneno."

“Eu os compro.” Laurent respondeu, colocando um dos cigarros entre os lábios e o acendeu, então jogou o maço na mesa para Klaus. "Não significa que não vou roubar alguns quando puder."

Klaus não podia realmente discordar dessa linha de pensamento. Por que pagar por algo que você também pode obter gratuitamente de outras pessoas?

"O que foi aquilo?" Klaus perguntou, acenando na direção geral de onde o garçom saiu.

Laurent encolheu os ombros, levando o cigarro aos lábios e o punho da manga deslizou para baixo. Havia uma pulseira em seu pulso, uma fina corrente de ouro verdadeira. Ele tinha pulsos delicados, que pareciam fáceis de quebrar e são bonitos de segurar. Klaus só podia imaginar quantas pessoas já disseram isso a ele.

"Ele provavelmente entendeu que eu sou um vampiro." Laurent disse."Os olhos geralmente revelam, especialmente em certa iluminação.Não consigo esconder muito bem sem óculos ou um chapéu. ”

"Olhos refletores como os de um gato." Klaus disse sem pensar. Laurent olhou para ele com interesse nisso, algo como satisfação brilhando em seus olhos, mas ele não comentou sobre isso. "Isso não explica as adagas que ele estava jogando em você."

“Oh, chérie, você pode ser terrivelmente sem noção às vezes. Alguém já te disse isso? Ou eles estão com muito medo de você quebrar os dedos deles se o fizerem? "

"Provavelmente o segundo."

"Mh."Laurent dobrou uma perna sobre a outra, seu cotovelo apoiado em seu joelho. “Vampiros não são exatamente populares entre os humanos. Ou, bem, não entre aqueles que não tem um fetiche estranho conosco. ”

Seguiu-se um breve silêncio, um carro passando velozmente pelo restaurante, o motor alto o suficiente para ser ouvido até mesmo dentro da sala.

“Alguns humanos nos tratam como se não fôssemos pessoas." Laurent continuou, olhando para Klaus quase como se estivesse estudando sua reação. “Sabe, alguns deles tratam os não humanos como animais. Mas vampiros? Eles nos tratam como se fôssemos bestas, mesmo nós andando nesta terra antes de qualquer um de vocês. Os humanos tendem a ser gananciosos e arrogantes, mesmo se são inferiores.”

Klaus pegou um cigarro para si também. Laurent então se inclinou para frente.

Laurent fez o clique do isqueiro e moveu a chama para mais perto do cigarro de Klaus, mas Klaus só conseguia se concentrar na maneira como o néon vermelho que sai da janela embaçada parecia esculpir as maçãs do rosto de Laurent, manchando sua camisa que fica solta em seu peito, revelando mais pele. E a visão o está sufocando, quase, de uma forma que fazia Klaus lutar para respirar, mas ainda assim desejar mais.

Klaus se inclinou, o cigarro entre os lábios começando a queimar na borda e Laurent se afastou, sentando no sofá em sua posição anterior.

“Esta cidade,” Klaus começou. “É um chiqueiro.”

Laurent bufou. "Essa é uma maneira de colocar as coisas."

“E as pessoas que vivem aqui são porcos. Você joga um pedaço de pão velho no meio da lama e todos eles vão pular sobre ele como se eu tivesse dado caviar." Klaus balançou a cabeça, sua voz ficando um pouco mais alta e ele limpou a garganta. “Todos porcos. Cada um deles."

Quando olhou de volta para Laurent, Klaus o encontrou olhando para ele com a testa franzida e olhos semicerrados.

"O que?"

“Esta é a sua cidade.Você possui esta cidade. Por que você odeia tanto?”

Klaus riu. Não pôde evitar, realmente, e o pior é que não há nada de engraçado nisso, nada. Na verdade, é muito triste. Ou talvez um pouco patético, mas mesmo assim - ele ria.

"Minha cidade." Klaus murmurou assim que sua risada cessou, raspando um pouco do papel do filtro do cigarro com o polegar. “Esta não é minha cidade. Este é o fantasma da cidade do meu pai. Puta merda, ele mijou em cada poste,em cada esquina, só para ter certeza de que continuaria cheirando como ele mesmo depois de sua morte. Estou apenas aplicando uma nova camada de tinta, mas não é minha cidade, nunca vai ser Se fosse, não seria nada parecido com isso."

Laurent olhou pela janela, a névoa no vidro começando a derreter em alguns pontos, gotas de umidade escorrendo para o chão.

"Qual seria a aparência?" Ele perguntou, virando-se e olhando para Klaus nos olhos.

"Como cinzas."

Klaus ouviu a respiração de Laurent mudando, seus olhos ficando um pouco mais escuros. Se perguntou se é assim que a excitação se parece. Seja o que for, Klaus podia sentir seu coração batendo forte contra sua caixa torácica por um momento, uma onda de adrenalina correndo por seu corpo.

Então Laurent engoliu seco e relaxou em sua cadeira novamente.

“Sempre pensei nesta cidade como uma selva.”

Klaus levanta as sobrancelhas. "Uma selva?"

Laurent exalou fumaça,uma nuvem pintada com neon verde e vermelho. “Cheia de animais dispostos a matar uns aos outros pelo motivo mais fútil.” Ele fez uma pausa, seus olhos pareciam estar focados na taça à sua frente. “No fim do dia, humanos não são tão diferentes de outras criaturas como pensam. Lutando por sobrevivência e liderança do mais superior, sempre derrubando uns aos outros de seus altares imaginários.” Ele levou o cigarro aos lábios. "Não importa o quão diferente você acha que seja, somos todos iguais até mesmo quando morremos."

Klaus nunca teve medo da morte. Ele cresceu cercado por ela, tanto que quase se tornou um velho conhecido, algo que ele teve que aprender a aceitar e, quando chegar a hora, abraçar. Laurent também não parecia com medo da morte, mas talvez seja porque já estava morto.

"Você está falando muito hoje, Flor."

Laurent olhou para ele bruscamente, os olhos brilhando. "Flor."

"O que?"

"Eu não gosto de ser chamado assim."

Oh.

"O que foi que você me disse uma vez?" Klaus pergunta. "Ah sim. Coisa difícil. ”

Laurent lambeu os lábios e balançou a cabeça. "Bem. Tanto faz."

"Não faça beicinho, minha Flor."

"Eu realmente não gosto disso."

"Que pena." Klaus apagou o cigarro no cinzeiro e depois pegou a jaqueta “Parou de chover, vamos.”

Laurent lançou um olhar para a janela antes de pegar sua jaqueta e vesti-la.

Klaus pegou seu maço de cigarros de volta, colocou-o no bolso de sua jaqueta e se levantou do sofá, caminhando de volta para a entrada com Laurent atrás dele.

"Espere por mim nos fundos, por favor." Klaus disse a ele, apontando para a porta.

Laurent franziu a testa, mas concordou, se afastando dele. Klaus procurou a primeira garçonete que o serviu e a encontrou recolhendo pratos vazios de uma mesa.

"Você."

A garçonete se virou e, assim que seus olhos caíram sobre Klaus, ela ignorou a tarefa que tinha e correu para ele, sorrindo.

"Sim senhor? A refeição foi agradável? ”

"Isso foi. Eu tenho uma pergunta, qual é o nome do garoto que nos serviu depois de você? "

"Oh, ele se chama Jake, senhor."

Klaus concordou. "Diga a ele para me encontrar nos fundos, quero dizer pessoalmente que ele está demitido."

A jovem piscou, seu sorriso vacilando por uma fração de segundo. "Claro, como desejar."

"Bom trabalho esta noite, a comida estava deliciosa."

"Obrigado, senhor." Ela se curvou novamente e Klaus inclinou a cabeça para baixo também antes de se virar e sair.

Laurent estava esperando por ele na pequena viela mal iluminada atrás do restaurante, Klaus teve que apertar os olhos para que as luzes fortes não o incomodem muito depois de estar por tanto tempo no restaurante escuro.

"O que estamos esperando?" Laurent perguntou, se recostando na parede ao lado da porta dos fundos.

"Prometi um jantar a você, não prometi?Estou pagando minha parte, só não faça uma bagunça e sem mortes."

Laurent piscou, surpreso, então sorriu para Klaus com suas presas afiadas a mostra. No mesmo minuto, a porta dos fundos do restaurante se abriu e o rapaz, Jake, saiu olhando ao redor, a porta batendo com força atrás.

"Sr.Burzynski?" Ele se virou para Klaus, parecendo não notar Laurent se movendo nas sombras. "Alana disse que queria falar comigo?"

As mãos do rapaz tremiam e ele parecia realmente nervoso e confuso. Uma pena, Klaus pensou, mas você ofendeu Laurent.

"Sim garoto." Klaus suspirou. "Você está demitido."

Os olhos do rapaz se arregalaram. "O que?Eu eu o que—?"

"Você ofendeu meu amigo. Tem que pagar por isso."

O rapaz teve apenas tempo de abrir a boca, mas ficou sem resposta quando as mãos pálidas de Laurent o seguraram — uma na boca do rapaz para impedi-lo de gritar e o outro braço ao redor do peito para segurar Jake no lugar. Laurent rapidamente cravou os dentes na carne da jugular do rapaz, sequer dando tempo dele gritar ou lutar ao ser agarrado por ele e segurado no lugar. 

Klaus observou os olhos animalescos de Laurent brilhando na escuridão, gotículas de sangue escapando de onde ele mordia Jake, cujo corpo relaxava cada vez mais no abraço do ruivo. Nunca tinha visto isso antes, e parecia como a cena de um filme noir, com o neon refletindo nas poças de chuva no asfalto, as sombras e reflexos coloridos dançando na forma de Laurent como se fossem partes dele — e talvez fossem. O contraste da eterna beleza juvenil de Laurent com a ferocidade do que ele realmente era fazia o coração de Klaus se acelerar em ambos excitação e medo, e ele esperava que Laurent não notasse.

Após alguns minutos — mas que para Klaus pareceram horas — Laurent se afastou do rapaz, que havia desmaiado, segurando-o nos braços. Klaus suspirou aliviado ao ver que o rapaz ainda estava respirando enquanto Laurent o deitava lentamente contra a parede do restaurante.

"Ele vai se lembrar disso?"

"A maioria não se lembra." Laurent respondeu, cuidadosamente posicionando o rapaz. "Sabem o que aconteceu, mas nunca lembram exatamente quem o fez ou como."

"Mas e se ele lembrar?"

"Ele não vai, mon chérie." Laurent levantou, virando-se para Klaus e sorrindo com seus lábios pintados de vermelho vivo. "Acredite em mim, ele só vai lembrar falar com você então desmaiar."

Como poderia uma criatura tão selvagem ser tão linda? Mesmo sujo de sangue fresco, Laurent ainda parecia um anjo com um sorriso doce de garoto. Klaus sentia seu coração martelando em seu peito com aquele sorriso.

"Eu vou te levar para casa." Ele disse.

"Eu posso andar de volta."

"Não enquanto você está comigo." Klaus pegou as chaves do bolso da calça jeans. “Eu vou levar você. Vamos."

 

 

 

O distrito 13-B era quieto aquela hora da noite, as ruas claras e vazias, nenhuma alma a ser vista na calçada, as luzes nas casas e condomínios todas acesas.

Klaus seguiu as instruções de Laurent e dirigiu até o extremo leste do distrito para se encontrar em frente ao que parecia ser um dos novos condomínios de alto luxo.

"Merda." Klaus murmurou enquanto parava o carro no meio-fio, olhando para o prédio. "Você não estava mentindo quando disse que tinha dinheiro."

"Mas é óbvio."Laurent destravou seu cinto de segurança.

“Esses apartamentos custam muito.”

“Eles são lofts. Mas sim, eles custam muito. ” Laurent se virou para ele. "Então,huh...Obrigado pelo jantar, eu acho.”

“Nós temos um acordo, certo? Não vão haver mais merdas como esta noite."

Laurent revirou os olhos. “Chega de merdas assim, eu vou ficar parado. Você pode dormir sem se preocupar. ”

“Não há necessidade de atrevimento, Laurent. Só não torne difícil para mim ter você por perto. "

“Vou tentar o meu melhor.” Laurent abriu a porta e começou a sair do carro, mas parou seus movimentos assim que seus pés tocaram o chão. Ele suspirou e se virou para Klaus. "Obrigado por esta noite."

Klaus franziu a testa. "Eu não fiz nada."

"Obrigado."Laurent repetiu, sorrindo um pouco. “Por ser gentil comigo.”

Antes que Klaus pudesse responder, Laurent saiu do carro e fechou a porta, indo em direção à entrada do condomínio.

Klaus ficou no carro, observando-o e esperando-o abrir o portão e entrar na residência. Assim que o portão se fechou e Laurent desapareceu de sua vista, Klaus se afastou do meio-fio e começou a dirigir de volta para seu apartamento. Sentiu seu telefone zumbindo de repente no bolso e suspirou antes de atender a ligação.

"Lisbeth."

"Consegui permissão."Lisbeth disse. “Em dois dias, dez da manhã, na casa dele.”

Bem, isso só levou quase três dias.

"Eles vão nos conceder passagem?" Klaus perguntou, acelerando o quarto querendo nada mais do que escorregar em sua cama e dormir por pelo menos quatro horas. Se tiver sorte.

"Eles querem falar com você primeiro."

"Idiotas de merda."

“Sim, bem, são eles. O que você esperava? ”

"Tanto faz. Obrigado, Lis. ”

"Você saiu? Posso ouvir um motor, você está dirigindo? ”

"Sim?"

"O que você está fazendo a esta hora ? Já passou da meia noite!"

Klaus suspirou. “Cuidando de alguém.”

 


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