Great Expectations escrita por isa, Jones


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Olá gente! É com muita alegria que a gente posta capítulo novo e anuncia que hoje tem dobradinha!
Em forma de agradecimento por todo carinho, postaremos esse e mais outro e esperamos que vocês gostem. Um beijo com voto de excelente final de semana! ♥



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Na segunda-feira, Harry, Ron e Hermione aproveitaram a hora do almoço e se sentaram juntos para conversar sobre o trabalho de História. A breve interação no shopping havia operado um pequeno milagre porque ela não estava tão rancorosa em relação a Ron e os meninos pareciam bem mais dispostos em relação a ela.

Hermione dividiu algumas anotações prévias e sugestões e juntos eles dividiram o que cada um se sentia mais confortável para escrever. Granger editaria tudo numa grande redação depois porque por algum motivo obscuro demais para Harry e Ronald, ela gostava de revisar textos.

Quando Lupin tinha proposto a tarefa, além de achar que seria a pessoa mais nova no mundo a ter uma parada cardíaca, Ron também achou que era uma sorte ter sido sorteado com o melhor amigo e a pessoa mais nerd da sala, mas em nenhum momento ele considerou que a convivência entre os três fluiria bem, que dirá tão bem.

Aparentemente Hermione tinha menos comentários mordazes sobre o nível de seu Q.I quando estavam apenas os três e ela lhe tirou dúvidas sobre o assunto do trabalho de uma maneira quase simples que o fez se sentir muito mais preparado para lidar com a apresentação oral iminente.

Durante toda a semana eles tiraram um tempinho para verem uns aos outros e acertarem detalhes importantes. Harry notou, com surpresa (mas em especial nas aulas de matemática e nas aulas de Snape) que ele preferia mil vezes estar fazendo o trabalho escolar com Ron e Hermione. Ele gostava de quem ele era ao lado de personalidades tão distintas quanto a de Granger e a de Weasley. Gostava de servir como o mediador e como uma espécie de liga.

Finalmente, quando o muito-temido-dia-por-Ronald-Weasley chegou, eles já estavam familiarizados um com o outro o suficiente para que Hermione lhe desse um tapinha solidário nas costas:

— Vai ficar tudo bem. – murmurou. – Lembre-se dos cartões de memorização que fizemos.

— Isso. Vai ficar tudo bem. – ele repetiu, engolindo a seco e respirando fundo. O professor Lupin lhe lançou um sorriso sincero, mas Ron só conseguiu pensar em como um homem com uma aparência tão bondosa por fora podia abrigar um monstro tão sádico por dentro.

Na hora que o menino precisou se levantar com Harry e Hermione para ficar em frente à sala inteira, todos os seus esforços ao longo dos últimos dias foram varridos para longe pelo vendaval de ansiedade que lhe assaltou. Para além das mãos subitamente suadas, Ron sentiu o coração bater na garganta. Enquanto Harry – que tinha ficado com a introdução – falava, Weasley só conseguia perceber as grandes e incômodas manchas de transpiração que começavam a se formar debaixo das axilas.

Quando Hermione deu seguimento com uma dicção perfeita e segura (só não perfeita porque era acentuada por um maneirismo de terminar todas as falas com “né”), tudo piorou. Ron viu o momento em que Theodore Nott, um dos muitos coleguinhas de Draco, cochichou algo para outro sonserino enquanto o olhava de maneira maldosa. Ele escutou as risadinhas e o nevoeiro em sua cabeça dobrou de proporção.

Perdido em sua própria arritmia, só voltou a si muitos minutos depois quando Lupin o chamou:

— Sr. Weasley? – o professor o olhava com expectativa. Harry e Hermione também, embora nos olhos deles a emoção fosse tingida com um misto de apreensão e preocupação.

— Sim. – Ronald pigarreou, ignorando as risadinhas mais fortes que pipocaram por toda a sala. Lupin olhou de maneira severa para os alunos. – Em conclusão... – ele começou, com a única frase que se lembrava. – Em conclusão... – repetiu, sentindo que podia vomitar. Mas então a voz baixa e sussurrada de Hermione o salvou:

— A chegada dos Tudor... – ela disse e lhe lançou um sorriso encorajador.

Isso— murmurou e levantou a voz de novo, agora olhando apenas para Granger. Ela parecia um ponto de equilíbrio no meio do caos que era o seu próprio nervosismo. Como se não houvesse mais ninguém por perto, Ron recitou toda a sua fala para Hermione e, ainda que estivesse falando com um pouco de pressa demais, no fim o professor Lupin puxou palmas e foi com um sorriso frouxo e aliviado que ele voltou para a própria carteira.

O bilhetinho dobrado pousou na mesa de Hermione apenas dois minutos depois. A garota sentiu o coração falhar: era a primeira vez que recebia um pedaço de papel com um recado numa aula. Ela o desdobrou com cuidado debaixo do tampo e reconheceu a letra inclinada e garranchosa de Ronald:

Obrigado.    

Levantando os olhos, Hermione o viu sorrir para ela e isso foi o suficiente para que suas bochechas esquentassem. Dobrando de novo o papelote, ela o guardou no bolso ao invés de jogar na lixeira.

— Brilhante! – Harry disse animado, puxando os dois para um abraço no fim do horário. – Nós somos brilhantes!

— Hermione é brilhante. – Ron corrigiu, relembrando o fiasco da apresentação. – Você é mediano e eu sou um fracasso.

— Não é verdade, Ronald. – ela foi a primeira a defender, antes mesmo que Harry pudesse pensar em abrir a boca. – Você se saiu muito bem no fim das contas.

— Viu? – Harry concordou com Granger. – E ela sempre está certa, não vale rebater.

Ron girou os olhos, mas sorriu para os dois.

— E sabe do que mais? – Potter disse ainda muito entusiasmado. – Nós deveríamos comemorar depois da aula hoje.

— Você sabe que eu não posso sair da escola. – Ron o lembrou.

— E quem falou em sair da escola? – Harry sorriu torto pensando na cafeteria anexa à Hogwarts onde os alunos tinham permissão de frequentar independente do ano em que se encontravam.

— Pensei em irmos ao Três Cafés. Às 17:00. Você topa, Hermione?

— Claro. – disse surpresa pelo convite, sem ter a menor pista de que ao longo dos anos aquele se tornaria um ponto de encontro para o trio. As coisas eram ainda muito incipientes entre eles e Hermione não queria criar muitas expectativas, mas a verdade é que há coisas que não se pode fazer junto sem acabar gostando um do outro e concluir uma redação de três laudas sobre a Guerra das Rosas com apresentação oral é uma dessas coisas.

*

Às cinco em ponto Hermione estava sentada num assento de estofado vermelho, os braços apoiados numa mesa de plástico, de costas para a entrada da cafeteria e lanchonete Três Cafés.

Além dela só havia uma garota de cabelo rosa chiclete que vestia um uniforme amarelo complementado por um avental vermelho, andando de patins de um lado para o outro sob o ladrilho preto e branco enquanto mascava uma goma e cantarolava o sucesso do Michael Jackson da década anterior que ressoava no alto falante.

Tonks – como dizia o crachá que levava ao busto – já havia perguntado se Hermione gostaria de pedir alguma coisa, e, como a resposta tinha sido negativa, agora ela estava apenas concentrada em limpar as mesas restantes. Granger invejou a idade indefinida dela (dava apenas para chutar que era uma jovem adulta) e a calma que os anos pareciam lhe trazer, enquanto Hermione não poderia estar mais nervosa ou mais autoconsciente de todas as escolhas que havia feito antes de sair de casa.

A camiseta colorida de listras, o macacão jeans e os tênis lilases (todas aquisições de sua última visita ao shopping com Margareth) pareciam confortáveis e casuais, mas enquanto aguardava, Hermione começou a hiperventilar, sentindo-se de repente muito boba. Aquilo com certeza era um erro. Ela deveria ter ficado em casa. E onde diabos estavam os garotos? Será que ninguém tinha um relógio?

Quando a porta de vidro com detalhes dourados abriu, tocando o sininho da parte interna, Hermione virou-se de súbito, repentinamente animada. O humor, no entanto, desmanchou assim que percebeu que quem entrava não era Ronald ou Harry, mas a desagradável da Pansy Parkinson.

No rádio começou a tocar Atomic, da Blondie, e Hermione viu a cara de nojo que Pansy dirigiu à garçonete que agora mexia o corpo em uma dancinha alegre. Parkinson era uma sonserina que gostava de vestir verde até quando não estava em horário escolar e de fazer hora extra inclusive na arte de ser rude.

Hermione pensou que aquele era o tom mais horroroso da cor que já tinha visto, ainda mais em uma saia xadrez combinada com a cor cinza num tom mais metálico. A garota usava também uma blusa cropped de mangas longas verde musgo na tentativa de combinar com a saia curta demais.

Granger, que vinha convivendo passivamente nos últimos meses com Parvati Patil sabia o que ela diria ao ver aquele look: desastre fashion. Os cabelos longos com franja até às sobrancelhas caíam negros e lisos até a linha baixa do top. Talvez ela pudesse ser bonita, não fosse o rosto sempre franzido com o nariz pequeno demais, como o de um buldogue francês.

— Hello, eu não sei se você percebeu mas você está sentada no nosso lugar. - ela se aproximou de Hermione com os braços cruzados.

Hermione olhou em volta; Parkinson parecia estar desacompanhada, o que fazia a palavra "nosso" perder um pouco do sentido. Vistoriou a mesa a procura de algo que indicasse a presença dela antes e encontrou o espaço completamente vazio de casacos ou mochilas que geralmente guardavam lugares em locais públicos.

Nada.

Percebeu então o que ela queria: perturbá-la. Mas Hermione estava tendo um dia bom, então apenas respondeu da maneira mais petulante que pôde:

— O Três Cafés não aceita reservas de mesas - arqueou as sobrancelhas. - E não há nenhum indicativo do seu nome ou de qualquer um dos seus amigos imaginários aqui. 

Não tão longe, Tonks parecia pronta para intervir com a política anti-valentões da casa, porém ao ouvir Hermione, sentiu que ainda não seria necessário.

— E eu tenho cara de quem tem amigos imaginários, queridinha? - ela sorriu com desdém nos lábios e naqueles olhos azuis claros. - Isso parece ser coisa de gente solitária e sem amigos como você.

— Para sua informação, e não que eu deva dar alguma informação para você, eu estou esperando companhia. - Hermione cruzou os braços e desejou que Harry e Ronald não demorassem tanto para aparecer. Ronald morava ali, pela amor de Deus.

— Todo mundo sabe que você é uma chata de uma nerd sem amigos e cabelo de pico que vive sozinha pelos cantos. - Pansy cruzou os braços. - Você já pensou em fazer alguma coisinha para tratar esse seu cabelinho ruim, querida?

— Meu cabelo é ótimo, obrigada. - Hermione se defendeu, pela primeira vez sem saber o que dizer, o sangue parecendo ferver nas veias. Ela já tinha idade o suficiente para entender os muitos subtons de racismo velado, nem por isso doía menos.

— E ela tem amigos sim. - Ronald falou, se aproximando atrás de Hermione. - Amigos que não entendem o que você e sua cara de buldogue estão fazendo aqui. Tem várias mesas para você escolher então porque você não fica longe?

— Longe. - Harry repetiu, atrás de Pansy.

Sentindo-se intimidada, Parkinson girou os olhos e saiu de perto da mesa.

— Um bando de perdedores que se merecem. - Pansy falou andando para a outra extremidade da cafeteria. - Tanto faz.

— Desculpe o atraso. - Harry murmurou com o tom de voz aturdido pela tentativa anterior de emular um bully do clã Malfoy. - Sirius precisou abastecer.

— E eu não sou muito bom em conflitos. - Ron coçou a cabeça. - Mas quando vi aquela Pansy mexer com você senti que precisava fazer alguma coisa. Espero que não tenha pegado muito pesado.

— Ela meio que merece. - Harry encolheu os ombros. - E seu cabelo é legal.

— Obrigada, meninos. - Hermione entrelaçou os próprios dedos e sorriu. - Vocês não precisavam...

— É isso que amigos fazem. - Ronald a interrompeu. - E Harry já disse: seu cabelo é legal. Tem muitas ondinhas.

Hermione não conseguiu evitar sentir o leve rubor lhe invadir as bochechas além da ligeira ideia de nunca alisar os cabelos novamente. A sensação de estar entre amigos era diferente, era algo que ela nunca tinha sentido de verdade e eles pareciam confortáveis juntos, falando sobre os colegas da escola ou a vida antes de Hogwarts.

Conferia uma sensação de pertencimento. Era como se tivessem nascido uns para os outros.

— Pera, você nunca foi ao dentista? - Hermione perguntou perplexa em algum ponto da conversa.

— Não me lembro. Quer dizer, tinham dentistas que iam a minha escola aplicar flúor. Isso conta? - Ron sorriu com as orelhas vermelhas.

— Não! - gargalhou. - Por favor nunca comente isso perto dos meus pais ou eles vão tentar checar suas gengivas.

— Vou me lembrar disso.

— E você Harry? - Hermione perguntou, tomando um gole de seu café com leite.

— Os Dursley me diziam que eu não comia açúcar então não precisava de dentistas. - Harry encolheu os ombros. - E para falar a verdade, eles me assustam.

— Como assim? - Hermione perguntou já rindo outra vez. Estava fácil demais rir ao lado deles e as vezes ela se perguntava se não parecia uma idiota.

— Aquelas maquininhas e coisas para manter sua boca aberta. - Harry sentiu o arrepio em sua espinha. - Sem contar que dentistas arrancam coisas da sua boca, como dentes.

— Ou cáries. - Hermione completou girando os olhos. - Mas de qualquer maneira deve mais legal ter pais músicos que dentistas.

— Sirius é bem legal na verdade. - Harry concordou comendo suas batatinhas. - Às vezes ele esquece coisas simples como jantar e horários para dormir, mas é melhor do que qualquer coisa que eu já tive para falar a verdade.

— O que seus pais fazem, Ron? - Hermione perguntou sentindo-se subitamente envergonhada por usar o apelido em voz alta.

— Minha mãe cuida da gente. - ele encolheu os ombros. - Provavelmente o trabalho mais complicado da face da terra se vocês já conheceram meus irmãos... E meu pai trabalha em registro e regulamentação de patentes no parlamento. Ele leva cada coisa legal para casa!

Harry poderia ter perguntado sobre as coisas legais que ele levava para casa. Entretanto, algo lhe chamou a atenção: poderia ser a mudança do vento do outono ou a voz fina e melodiosa que o fez sentir um cheiro bom de perfume doce e olhar para o batente da porta por onde ela passava.

Harry sabia que a garota era da Corvinal não só por causa das roupas em tons azulados que ela usava nos corredores da escola, mas porque a observava todos os dias. Sabia que ela era de um ano diferente do dele, que ela não falava muito alto e que cobria os lábios quando ria. Ela era linda e tinha os olhos inclinados que faziam Harry se perguntar de qual parte da Ásia vinha sua ascendência.

Naquele instante, estava vestida com uma daquelas calças esportivas e tênis chunky, além de um agasalho curto aberto que cobria um top de academia branco. Ria com colegas de alguma coisa que a distância não o permitia ouvir.

Quando ela percebeu que ele a olhava, sorriu e acenou com simpatia. Não que eles tivessem trocado muitas palavras, mas por um acaso do destino estavam na mesma aula de biologia aplicada da Madame Sprout - de acordo com a sua orientadora, ele era bom nisso e a as aulas normais de sua turma não eram desafiadoras o suficiente. Potter chegou a se sentir brilhante na época, até ver que era apenas a mesma matéria dos colegas com mais atividades práticas.

De qualquer maneira, Harry pensou que aquela talvez fosse a melhor semana desde que começaram as aulas: estava cada vez mais conectado aos amigos, tinha apresentado o trabalho assustador de história e Cho Chang, a garota mais bonita do mundo, havia acenado para ele.


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