Great Expectations escrita por isa, Jones


Capítulo 5
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

E como cantaria a insuperável Robin Sparkles, LET'S GO TO THE MALL TODAY (mas só na leitura, pelo amor de Deus, mantenham-se a salvo).

A gente queria começar esse capítulo agradecendo muito todo o carinho com a história e desejando um bom final de semana além de boa leitura. Beijos!



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Hermione Granger acordou cedinho na manhã de sábado e, ainda de pijamas e meias, sentou-se na cadeira giratória da escrivaninha. Ela havia realizado o sonho do computador próprio no ano anterior, ganhando a máquina de presente de aniversário, uma vantagem indireta de ser filha única e lucro direto de ser a melhor aluna da escola desde o jardim de infância.

Com cuidado, Granger tirou e dobrou as capas protetoras do teclado, do CPU e do monitor, colocando-as na primeira gaveta da mesa. Tamborilando os dedos no tampo, ela esperou até a música de inicialização do Windows tocar e, em seguida, se conectou à internet sem peso na consciência.

Ela só tinha permissão para isso nos fins de semana, porque o Sr. e a Sra. Granger, ambos dentistas, não gostavam da linha congestionada uma vez que era através do telefone de casa que a assistente deles, Emily, sempre informava quando havia uma emergência envolvendo uma criança cariada ou um canal obstruído fora do horário.

O som robótico inconfundível do acesso e a imagem em pixel do globo terrestre perto do ícone do telefone e do computador, bem como a mensagem automática dialing process, sempre deixavam Hermione um pouco impaciente, mas por alguma razão milagrosa, naquela manhã até que ela conseguiu acesso bem rápido.

Tinha trabalho a fazer. Nem Harry nem Ronald haviam se manifestado a respeito do grupo de pesquisa para o trabalho de História e ela definitivamente não tinha encontrado o humor necessário para abordá-los ainda, mas isso não significava que ela iria ficar parada. A menina sequer notou as horas escorrendo rapidamente enquanto dividia a atenção entre os sites que pesquisava e o caderno que ia ficando cheio de anotações em sua letra redonda e grande.

Só quando Margareth bateu à porta do quarto, primeiro delicadamente e, sem obter respostas, um pouco mais firme em seguida, que a garota percebeu que tinha perdido boa parte da manhã e que seu estomago ainda estava vazio.

— Pode entrar – avisou, girando a cadeira para encarar o semblante preocupado da mãe.

— Querida, nós já conversamos sobre isso – suspirou e Hermione sabia que “isso” era: esquecer de fazer o desjejum no dia de folga por estar muito envolvida com as atividades dos dias úteis.

— Eu sei. – Hermione teve o cuidado de se sentir culpada. – Eu perdi a hora, desculpa.

— Tudo bem.

Talvez, se Hermione não tivesse dado as costas tão depressa para a mãe a fim de voltar ao que estava fazendo, ela pudesse ter evitado a frase seguinte:

— ...Mas hoje a tarde nós sairemos um pouco.

— Mãe!

— Sem mãe. – Margareth avisou de maneira firme, embora estivesse em um debate mental interno. Era sempre assim quando o assunto concernia a maternidade. Há quinze anos atrás, quando ela e Oliver tinham decidido trazer Hermione ao mundo, a Sra. Granger havia, como todas as mães, idealizado e romantizado algumas situações, mas nem no melhor de seus sonhos ela conseguira imaginar tudo o que Hermione era e viria a ser.

Não havia um dia em que ela não sentisse orgulho da filha. Mas também não havia um dia em que não se preocupasse com ela. Era uma boa menina, inteligente como nenhuma outra, mas também era solitária e por vezes, um pouquinho arrogante.

O fato de ter entendido e dominado a habilidade de como ser uma boa aluna no sistema educacional inglês era um motivo de celebração tanto para Margareth quanto para Oliver, é claro, mas talvez, justo por isso mesmo, a Sra. Granger ficava tão aflita com as outras questões sociais e emocionais que também importavam.  

— Sábado é dia de descansar. – Hermione protestou, num fio de voz e Margareth arqueou uma sobrancelha.

— É mesmo? – perguntou em ironia e Hermione jogou as costas contra o espaldar da cadeira, vencida.

*

Quando os gêmeos Weasley se propunham a realizar uma tarefa dada, ela com certeza era uma tarefa cumprida – principalmente se a tarefa não tivesse nada a ver com a vida acadêmica. Era por isso que naquele sábado de temperatura até agradável para o mês de novembro, acompanhado por Dean e Simas, Ronald caminhava pelo shopping como quem tinha autorização para estar ali.

Não era nada demais para falar a verdade, metade dos alunos que não estavam presos aos dormitórios e moravam na região se reunia no lugar arejado com uma praça de alimentação enorme e cheio de lojas de departamento. Era o único shopping do vilarejo de Hogsmeade e tinha sido inaugurado em algum momento de 1992, quando os shoppings viraram uma tendência mundial e Hogwarts firmou um nome na educação pública preparatória: dali saíam as aplicações para faculdade mais promissórias.

Enfim, Gladrags Shopping Centre, começara como uma loja de roupas da moda que agradava aos estudantes, nos anos oitenta virara um centro comercial e agora era um conglomerado enorme com um teto de vidro que destoava completamente do restante do vilarejo idílico e bucólico.

Sirius tentou não levar para o lado pessoal quando Harry dispensou o almoço e pediu para ser deixado no local naquele sábado à tarde. Ele até perguntou se o garoto queria companhia, mas ele disse que encontraria os amigos. Seria aquela a tão temida fase da adolescência que todos os pais chatos nas reuniões igualmente chatas de conselho (que ele se obrigou a participar no início das aulas) reclamavam por horas a fio?

— Precisa de dinheiro? - perguntou, quando Harry fez menção em sair do carro.

— Ainda tenho algum dinheiro da mesada do mês passado. - Harry encolheu os ombros.

— Tome uns trocados, compre uns lanches para os seus amigos. - Sirius também encolheu os ombros. - Vai te fazer mais popular. E fique longe de problemas.

Harry sorriu enquanto colocava as notas do dinheiro extra no bolso; talvez pagasse mesmo uns hambúrgueres para os amigos. Havia aquela rede de fastfood americana que tinha acabado de abrir as portas no shopping e ele sabia que Ronald nunca tinha provado um daqueles Big Mac. Harry sabia também que a última frase dita pelo padrinho era uma das muitas recém adquiridas em seu dicionário parental.

— Pode deixar. – e pensou em cumprir como uma promessa para não desapontá-lo, já que morar com Sirius era um sonho, ainda que estranho, de tão bom. Preferia facilitar o processo.

— Me liga mais tarde. - Sirius disse olhando em volta no estacionamento lotado.

Viu quando um jeep branco estacionou e dele pularam duas garotas que deviam ter a mesma idade de Harry, uma com feições indianas e cabelos lisos escuros e outra um pouco mais baixa de cabelos cacheados e rebeldes. Percebeu que Harry olhava para elas com certa cobiça e que elas acenaram para ele, deixando-o completamente corado.

Eram duas garotas muito bonitas que fizeram Sirius pensar que realmente a tal da fase tinha chegado e que se Harry fosse um pouco como seu pai e ele eram nos anos 70, talvez ele devesse procurar logo ajuda para as conversas constrangedoras que em breve viriam.

Harry por sua vez mal percebeu as rugas que se afundaram no cenho franzido de Sirius enquanto batia a porta da caminhonete atrás de si e tentava parecer o mais legal possível andando até o shopping. Se o plano dos Weasley tinha funcionado, seus amigos deveriam ter acabado de chegar e estar no grande chafariz como combinado por telefone.

Ron tinha dito na ligação que Neville tinha desistido de ir por medo de ser pego e Harry achava uma pena, parecia que o garoto se beneficiaria de alguns amigos. Ele encontrou os meninos sentados no grande banco de madeira em volta da grande fonte que espirrava pequenas gotículas de água quase imperceptíveis para todo lado.

— Finalmente, cara. - Ronald bufou.

— Tenho certeza de que vocês acabaram de chegar. - Harry deu de ombros.

— Estamos aqui esperando há... - Ronald checou o relógio central do shopping. - vinte minutos.

— É que realmente não temos muito o que fazer nesse lugar - Simas reclamou. - Além de olhar as garotas passarem com milhões de sacolas.

— Achei que olhar as garotas de forma esquisita era o seu lance. - Dean caçoou, fazendo o amigo girar os olhos. - Sem contar que a luz do seu céu, o sol das suas manhãs acabou de chegar. – murmurou, referindo-se a Parvati.

— Elas acenaram para mim no estacionamento. - Harry contou vantagem sentando-se entre os amigos. - O que significa que elas não falam comigo na escola porque eu estou sempre acompanhado de moleques feios.

— Espero que não esteja falando da gente. - Ronald semicerrou os olhos. - Pois saiba que eu sou mais alto e mais bonito que todos vocês.

— Virou concurso de Miss. - Dean cutucou Simas com o cotovelo. - Vou ignorá-los porque sabemos que vocês não podem realmente competir comigo e eu estou morrendo de fome.

— O que tem nesse lugar que caiba no bolso de um imigrante irlandês recém-chegado ao solo inglês? - Simas Finnigan perguntou de maneira dramática e sotaque pronunciado com a mão na barriga.

— Cara, a Irlanda fica a 500km daqui. - Ron girou os olhos. - Não é como se você tivesse vindo do Japão.

— De qualquer forma o lanche hoje é por conta desse que vos fala. - Harry apontou para si mesmo. - Até porque se vocês forem pegos voltando para Hogwarts, Deus sabe quando vocês vão poder comer um hambúrguer novamente.

Ronald se mexeu com desconforto. Não aceitava muitas coisas de Harry, para falar verdade, e não porque sentia que lhe faltava alguma intimidade com o amigo. Desde o primeiro dia eles eram inseparáveis e parceiros e era justamente por isso a relutância: sabia que suas condições financeiras não eram das melhores e que Harry tinha herdado uma boa fortuna e que seu padrinho era ainda mais afortunado. Não queria que parte alguma de sua amizade fosse confundida com um interesse diferente da simples camaradagem.

— Relaxa. - Harry percebeu a relutância de Ron que andava três passos atrás dos amigos mortos de fome. - Sirius que recomendou que seria legal pagar o almoço hoje, disse que me faria popular.

— Mal sabe ele que você já anda com os mais derrotados da escola. - Ronald relaxou visivelmente os ombros. - Ou seja, vai fazer zero diferença.

— Exatamente. - Harry riu abraçando o amigo mais alto pelos ombros. - Simas, você vai querer um normal ou um que vem o brinquedinho?

— Eu disse que eu tinha uma coleção de brinquedos do kinder ovo quando eu era criança. - ele girou os olhos. - Todo mundo tinha, seus otários.

— Sei. - disseram em uníssono caminhando até a praça de alimentação.

No andar superior, não tão longe dali, Hermione caminhava com sacolas de roupas mais informais que sua mãe insistira para que comprasse (para que ela andasse como as outras adolescentes), os observava com os olhos.

Talvez roupas novas que se parecessem menos com uniformes fossem uma boa ideia. Assim talvez parecesse menos rígida e mais como uma pessoa da sua idade. Não gostava da ideia de mudar seu estilo e personalidade apenas para que pudesse agradar uma faixa etária julgadora e cruel, entretanto, sua mãe insistiu que não era realmente mudar o estilo e sim deixá-lo mais condizente com sua personalidade, e bem, Margareth era boa com as palavras e para falar a verdade, eram apenas jeans, casacos e saias que realmente lhe caíam bem.

— Filha? - Margareth tentou chamar sua atenção mais uma vez. - Você os conhece? Quer ir dizer um oi?

— Nem morta. - ela riu para dentro, soltando o ar pelo nariz. - Eles me odeiam.

— Impossível. - Margareth disse carinhosamente, dando o braço para a filha.

— Me chamam de metida a sabe-tudo. - Hermione girou os olhos. - E de puxa-saco de professores, esquisita... Dizem que eu tenho o nariz arrebitado por enfiá-lo demais nos livros.

— Eu deveria dizer algumas coisas para esses seus colegas de escola. - Margareth Granger semicerrou os olhos conduzindo a filha que chegou a prender a respiração até uma das escadas rolantes. - Mas provavelmente essa seria uma má ideia.

— A pior de todas. – a garota soltou o ar em alívio.

— Então minha sugestão é que você mostre que há mais em você que a melhor aluna que Hogwarts já viu. - Margareth disse simplesmente e Hermione quis gritar um "como?". - ...Mostrando que você é generosa, corajosa, linda e gentil, quando quer.

— Eu sou sempre gentil. - Hermione cruzou os braços. - Frequentemente. Certo, de vez em quando.

— Vá praticar a gentileza e dizer um olá para os seus colegas. - a Sra. Granger os indicou com um aceno de cabeça.

— Mas mãe... - Hermione gemeu em reclamação.

— Você é corajosa, lembra? - A mãe a incentivou, pegando as sacolas de suas mãos. - Estarei te esperando com uma casquinha de baunilha.

Hermione se deu por vencida. Incentivada pelo doce que os pais dentistas nunca ofereciam e com as mãos nos bolsos do vestido azul, se aproximou dos colegas de escola a passos lentos e minúsculos. Ronald imitava um leão marinho usando dois palitos de batatas fritas como dentes enquanto os outros garotos riam. Não sabia o que diria quando se aproximasse deles então deu graças aos céus quando Harry a avistou e disse em voz alta:

— Ei Hermione! - sua voz era animada e ele parecia elétrico. Provavelmente aquele não era seu primeiro copo de refrigerante.

— Ah, oi Harry. - Hermione o cumprimentou como se não os tivesse visto antes. - Oi Dean e Simas... E Ronald.

— Olá. - Ronald murmurou de boca cheia. Era estranho vê-la vestida de maneira normal com meia calça e vestido de mangas cumpridas. Ela parecia... Inofensiva e bonita.  

— Está tudo bem com vocês? - ela perguntou com a voz um pouco aguda demais, nada parecida com sua voz normal.

— Está! - Harry respondeu com as mãos tamborilando a mesa. - Sobre o trabalho de História...

— Podemos conversar sobre isso segunda feira. - Hermione sorriu e deu de ombros, se esforçando ao máximo para ser uma jovem de quinze anos e não uma adulta de vinte e seis. - Nem pesquisei muito sobre, mas se vocês quiserem conversar sobre isso após a aula, vai ser legal.

— Legal. - Harry e Ron concordaram ao mesmo tempo, levemente surpresos e preocupados que o trabalho para a próxima quarta-feira ainda não estivesse pronto.

Talvez Hermione não fosse esse tipo de sabe-tudo que gostasse de ser explorada. Harry sentiu um respeito até maior pela colega de sala e sorriu pensando que talvez eles deveriam tentar ser amigos.

— Bom, vou voltar às compras. - Hermione disse como se fosse algo que fizesse frequentemente e, fingindo normalidade, sorriu. - Afinal, sábado é dia de descanso. Até mais, galera.

— Até mais! - eles responderam juntos e animadamente.

Respirando aliviada quando virou de costas, sorriu para a mãe, fazendo um gesto cúmplice e disfarçado com o polegar para cima. Talvez esse negócio de fazer amigos fosse menos complicado que as aulas de física da Professora McGonagall.


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