Apertei Grace em meus braços, hesitante, e a carreguei até o carro.

— Não quero colocá-la nessa cadeirinha – reclamei para Emmett, mantendo a voz baixa a ponto de um humano não conseguir ouvir.

— Por que você está sussurrando? – perguntou ele, com a voz igualmente baixa.

— Porque não quero que ela me ouça reclamando! – retruquei, fechando a porta de trás.

Eu não iria colocá-la na cadeirinha. Se acontecesse um acidente, e não aconteceria acidente nenhum, eu era a melhor proteção que ela poderia obter. Simples assim. Danem-se as leis de trânsito.

Emmett ergueu as sobrancelhas para mim, mas não questionou minha decisão.

Entramos no banco da frente e ele deu a partida no carro, mas ficou parado. Estava olhando para ela.

— É linda – disse ele, fascinado. – Como você se sente? Com… você sabe.

Engoli em seco. A proximidade com Grace fazia minha garganta queimar e tudo em mim doía. Ela tinha um cheiro especial para mim, e eu precisava reconhecer isso. Era uma questão que precisaria ser discutida e minha mente tentara bloquear desde o primeiro momento em que respirei na presença dela. Não era como se eu não pudesse… vencer. Claro que não.

Eu estava sendo ridícula. Não precisava me preocupar. Estava tudo sob controle.

— Você tem medo de não conseguir se controlar – concluiu Emmett, olhando para o trânsito. A voz dele era amena, sem acusações, apenas uma observação aparentemente inegável.

— O quê?— respondi indignada, com a voz subindo algumas oitavas. — Claro que não!

Ele virou a cabeça para mim e ergueu as sobrancelhas, como se eu tivesse acabado de provar o que ele dissera ao falar com a minha voz aguda.

Respirei novamente e dessa vez até meus olhos lacrimejaram um pouco com o cheiro.

Espiei Grace por debaixo dos cobertores e mordi o lábio inferior, nervosa. Ela dormia tranquilamente no meu colo desde que entráramos no carro, e os movimentos do trânsito não a incomodaram porque eu me mantive imóvel por todo o caminho.

— Edward lidou com coisa muito pior – Emmett argumentou, estacionando o carro na garagem de casa. – Você tem autocontrole suficiente.

Bati a porta do carro e soube que a casa toda havia escutado. Foi como uma anunciação. Se bem que eles deviam ter ouvido o barulho do motor silencioso da estrada, e o coração rápido do bebê. Como eu escutava de perto. Cada batida.

Ecoava dentro da minha cabeça.

— Rosalie acabou de admitir que é uma cabeça oca – disse Edward, no segundo andar.

Respirei fundo. Foi um erro, porque a boca do meu estômago pareceu implodir, mas foi também um acerto, porque uma inspirada profunda para me acalmar era a única coisa que me impedia de correr até Edward e arrancar a cabeça. Com um bebê no colo. O meu bebê.

— Vamos – falei, segurando a mão de Emmett.

Ele me deu uma daquelas encaradas profundas que fariam o coração de qualquer pessoa viva bater descontroladamente. Engoli em seco, porque eu sentia o coração da minha filha batendo junto do meu peito, e isso era suficiente.

Agora eu tinha uma família completa.

Assim que subimos as escadas, Alice surgiu do nada. Foi a primeira, e mal se continha de empolgação. Aquilo me tranquilizava.

Entreguei Grace para ela devagar, e ela segurou com movimentos firmes, porém delicados.

— Nossa, Rose – suspirou ela. – Eu vejo coisas tão lindas!

Enquanto Alice e os outros iam chegando, olhei para Emmett e ele me olhou de volta. Pensávamos na mesma coisa. Se Alice via coisas lindas, queria dizer que não tínhamos incidentes previstos para o futuro.

Que meu autocontrole seria suficiente.

Jasper chegou silencioso e abraçou Alice por trás enquanto dava uma boa olhada em Grace. Ela abriu os olhos e observou tudo ao seu redor, curiosa. Ele sorriu afetuosamente, algo não muito típico de Jasper.

— Ela tem um brilho no olhar parecido com o seu – disse para Emmett, rindo. – Vai ser uma encrenquinha.

Emmett soltou uma risada grave, como um pai orgulhoso. Balancei a cabeça para ele, sorrindo.

— Como é linda! – exclamou Bella, aproximando-se deles.

Fiquei um pouco insegura de deixar Bella se aproximar, confesso. Ela era uma vampira recente. Meus olhos faiscaram na direção de Alice e de Carlisle, que acabara de chegar com Edward.

— Não se preocupe – disse Edward, surpreendendo-me com a voz tranquila. – Bella está bem.

— Consigo senti-la – murmurou Jasper, os olhos fixos em um ponto na parede enquanto se concentrava. – Bella está se controlando muito bem.

— Estou muito orgulhosa de você, Bella! – ouvi a voz alegre de Esme, enquanto ela surgia e afagava o braço de Bella. – E mais ainda de você, Rose! Estou tão feliz que tenha conseguido!

Sorri para Esme enquanto Bella encolhia os ombros para ela, parecendo constrangida. Recebeu Grace nos braços e eu a observei, impressionada. Bella embalava Grace com um jeito muito… humano.

Senti uma pontada de inveja. Queria aprender com ela.

Carlisle olhou para o bebê nos braços de Bella, e então para mim, com uma aprovação estranha. Mais tarde, eu perceberia que aquilo era uma aprovação de pai. Sorri para ele.

— É linda mesmo – disse Bella, chamando minha atenção. Oferecia Grace de volta para mim, e eu a peguei imitando a delicadeza de Bella. – Você vai se sair bem.

De novo, aquela onda de emoção. Eu não soube definir muito bem em palavras o quanto meus sentimentos haviam mudado em relação a Bella, mas estava tudo muito diferente. Talvez… não, não era um talvez. Era uma certeza. Nos últimos dias, eu começara a amá-la como irmã.

— Obrigada, Bella – falei, olhando nos olhos dela. Porque eu queria que ela soubesse que era de coração.

Ela abriu a boca para dizer algo, mas passos na escada a interromperam. Bella soltou um risinho e deu espaço no corredor para uma curiosa Renesmee, que vinha a passos hesitantes.

— E então, Nessie – chamei, ajoelhando-me no chão para ficar mais próxima da altura dela. – Está pronta para conhecer a sua irmã?

Nessie arregalou os olhos e se aproximou mais. Espiou pela coberta por alguns segundos antes de dizer com voz solene:

— Bom, é menor do que eu pensava.

Todos nós começamos a gargalhar após curta observação e ela franziu a testa, sem entender.

— E eu achei que seria um menino – continuou ela, analisando. – Mas acho que prefiro assim. Em quanto tempo ela vai começar a falar?

Comecei a rir mais ainda. Tentei me conter enquanto Renesmee me observava com a expressão séria, mas era impossível.

— Acho que vai demorar um pouco para ela falar – intrometeu-se Carlisle, com a expressão divertida. – Talvez uns dois anos para vocês terem as conversas que você parece almejar.

Renesmee arregalou os olhos para ele.

— Meu deus – murmurou ela, chocada. – Vai demorar uma eternidade!

Troquei olhares com Emmett, querendo rir.

— Você não faz ideia – disse Edward, afagando a cabeça de Nessie com uma risada.

Ela não pareceu notar o tom irônico de Edward, nem a cotovelada que ele levou de Bella, e continuou avaliando Grace.

— E então? – perguntei, chamando a atenção de Renesmee de novo. – Acha que vocês serão amigas?

Renesmee olhou para Grace nos meus braços e abriu um sorriso tímido antes de levantar os olhos para mim. Notei as bochechas dela ficando rosadas, e pude até sentir o cheiro do sangue que enchia seu rosto.

— É, acho que sim – disse ela, sustentando o sorriso. – Se ela aprender a falar logo.

Isso levou a outra leva de risadas, mas dessa vez Grace se juntou a nós. E todos ficamos paralisados ao ouvir aquele riso adorável.

Estendi a mão para ela depois de me certificar que eu ainda usava as luvas. E Grace agarrou meu dedo enquanto ria.

Imediatamente procurei o olhar de Emmett, querendo ter certeza de que ele estava sentindo o mesmo que eu. E ele estava. Os olhos dele me mostravam o amor que ele transbordava naquele momento.

Eu me aproximei de Emmett e ele passou os braços em volta de mim, um abraço com Grace entre nós. Minha nova família completa.