Alvorecer escrita por Mermaid Queen


Capítulo 4
Renascimento


Notas iniciais do capítulo

vou tentar fazer um cronograma e postar os capítulos às terças e sextas! espero que gostemmmm ♥ muito obrigada pelos comentários, fico muitooo feliz de ler e saber que alguém está gostando ♥



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Voltamos para casa com as compras. Eu não esperava exatamente nenhuma reação em específico de meus irmãos, mas confesso que fiquei um pouco constrangida. Minha postura de durona tinha ido pelo ralo com sacolas de compras decoradas de arco-íris e ursinhos.

Na sala de estar, Bella, Alice e Edward estavam esparramados nos sofás. Brincavam com Renesmee, que se encontrava sentada no chão. Mesmo poucos dias após meu – milésimo – casamento, ela parecia ter crescido.

Forks era uma cidade fria e a nossa casa refletia essa energia de frieza, como se tudo parecesse vazio demais. Mas quando vi aquela cena, era como se tivéssemos uma atmosfera diferente, como uma bolha de calor só nossa. Uma bolha de calor dos frios.

Edward olhou para mim de soslaio e conteve um sorriso, apesar de eu não saber o que aquilo significava.

— O que está olhando? – perguntei, irritada.

Emmett riu baixo atrás de mim e pousou a mão no meu ombro. Bella e Alice também riram e olharam para as sacolas.

— É fofo – disse Bella. – Mas é meio engraçado.

— É um pouco engraçado mesmo, amor – Emmett falou, balançando meu cabelo.

Renesmee ergueu os olhos para mim.

— Oi, tia Rose – cumprimentou, parecendo ignorar minha fala grosseira. Ou talvez nem tivesse se importado. – O que é isso aí?

Olhei para Bella e ela encolheu os ombros, como se disse “vá em frente”. Ergui as sobrancelhas em resposta. Quando abri a boca para falar, Emmett se agachou, apoiando um dos joelhos no chão.

— Sabe, Nessie, como todo mundo aqui é irmão? – perguntou ele, apontando para Alice, Edward e ele mesmo.

— E a tia Rosie e o tio Jasper – continuou ela.

— É, isso aí – respondeu Emmett, sorrindo. Ele se sentou no chão ao lado dela. – Você vai ganhar um irmão também.

Não contive um sorriso afetuoso para Emmett, mesmo que ele estivesse de costas para mim. Como alguém daquele tamanho podia ser tão doce?

Um sorriso começou a se espalhar pelo rosto de Renesmee, mas os olhos dela ainda eram desconfiados.

— Um irmão tipo do meu tamanho? – perguntou ela. – E quando? Filho de quem?

Edward sufocou uma gargalhada, e o som foi como um ronco. Isso fez com quem todos nós ríssemos.

— É nosso filho, Nessie. Meu e do Emmett. Vamos adotá-lo, e ele chega amanhã. Um bebê, que nem quando você nasceu. Mas ele vai crescer meio devagar – acrescentei, rindo.

Renesmee ergueu as sobrancelhas e voltamos a rir. Ela já estava com uma aparência de pré-adolescente, mas ainda tinha jeito de criança. Andava fazendo umas caras muito engraçadas.

— Devagar… – repetiu ela, pensando. – Bom, estou ansiosa para conhecê-lo.

Dessa vez Emmett grasnou. Começamos a rir de novo, e Renesmee não estava entendendo, mas começava a achar graça também.

— Que bom que está ansiosa, querida – falei, ainda entre risadas. – Amanhã, então.

Dito isso, subi as escadas para guardar as roupinhas. Roupinhas. Olha só como eu estava falando. Sorri sozinha, achando graça de mim mesma.

Permaneci por mais ou menos uns dois segundos guardando tudo nas gavetas. Havia um berço no carro, e levei mais ou menos dez segundos para pegá-lo e colocá-lo no chão. Emmett abriu a porta nesse momento.

— Oi, querida – disse ele, sentando-se no chão ao meu lado. – Você se importa se eu montar o berço?

Dei de ombros.

— Não. Mas por que você quer?

Os olhos de Emmett faiscaram e pensei ter visto um misto de constrangimento e empolgação em seu rosto. Inclinei a cabeça, querendo decifrá-lo. Conhecia Emmett tão bem quanto a mim mesma, talvez até mais. Mas aquela reação me deixou confusa.

— É que… sei lá – enrolou ele. – Parece coisa de pai montar o berço.

— Ah, Emmett! – exclamei, abraçando-o. – Você é perfeito!

Beijei-o no rosto, e depois nos lábios, e fiquei abraçada com a cabeça apoiada no peito de mármore.

— Amo você, querida – murmurou ele, beijando o topo da minha cabeça.

E então ele me empurrou gentilmente, com uma piscadela, e pegou a caixa do berço na mão. Começou a abri-la lentamente, e fiquei logo sem paciência. Não lentamente, mas Emmett cortava o papelão de um jeito… humano.

Não entendi.

— O que está fazendo? – perguntei.

Emmett se demorou com os olhos na caixa antes de me encarar.

— Acho que nós temos um problema – disse ele, comprimindo os lábios.

Fiquei um pouco aflita e olhei em volta, procurando por um problema.

— Que tipo de problema?

— Nós não podemos ser vampiros na frente de uma criança que não entende que isso é um segredo – Emmett me explicou, hesitante. – E se ele chegar na escola e dizer à professora que os pais não comem? Ou então que não dormimos, ou que corremos mais rápido do que os olhos podem acompanhar. Imagine os desenhos, amor.

É, eu entrei em choque. Não há nenhuma outra explicação para o que senti. O mundo desmoronou porque eu percebi que criaria meu filho à base de mentiras. Pensei em nossa família, rosnando uns para os outros, jogando beisebol nas tempestades e correndo pelos bosques, e tudo que eu teria que esconder dele.

— Não podemos fazer isso – sussurrei, com a voz embargada.

Emmett me puxou para si, e me abraçou contra o seu peito.

— Calma, querida – sussurrou ele novamente, beijando o topo da minha cabeça. – Vamos falar com Carlisle. Vai ficar tudo bem. Se tudo der errado, podemos viver com ele afastados do clã até ele chegar à idade de compreender as coisas.

As lágrimas começaram a escorrer.

— Carlisle – chamei, com a voz em volume normal. Ele ouviria.

Carlisle realmente chegou ao quarto em menos de trinta segundos. Mas pareceu um pouco chocado quando me encontrou no chão, chorando nos braços de Emmett. Emmett afagava minhas costas e passava as mãos pelos meus cabelos, querendo me acalmar.

Embora eu chorasse, o choque só durara poucos segundos em meu corpo. A apatia agora era quem me preenchia e me consumia, porque todo o futuro que eu planejara como mãe desaparecera diante dos meus olhos, e restara somente o vazio.

— Como não havíamos pensado nisso antes, Carlisle? – perguntei, com lágrimas nos olhos. – O maior problema nunca foi transformá-lo. O problema é a nossa natureza. O que ele vai dizer para os amigos quando ver que os outros adultos comem nas refeições? Ou que, sei lá, o pai levanta um carro com uma mão só?

Carlisle esboçou uma ruga entre as sobrancelhas quando terminei de falar. Ele fitou as paredes por um longo período – ou pelo que me pareceu um longo período – enquanto eu o encarava, aflita. Pelo canto do olho, Emmett olhava para o berço com a testa franzida.

— O que é? – perguntei, olhando de relance para o berço.

Emmett encolheu os ombros.

— Não sei se eu monto ou não, linda – respondeu ele, parecendo confuso.

— Emmett! – bati no braço dele. Com certeza foi uma patada, porque não estava acostumada a controlar a força, mas ele naturalmente nem sentiu.

Carlisle soltou um riso baixo.

— Pode montar o berço, Emmett – falou, meio risonho. Não entendi o que era tão engraçado. – A solução estava na nossa frente o tempo todo. Tudo o que têm a fazer é educá-la em casa.

Ergui as sobrancelhas, e o alívio que senti foi como se houvessem retirado uma pedra gigantesca do meu peito. Como se eu fosse uma humana frágil e impotente, e aquilo me esmagasse. Também me senti meio ridícula por não ter pensado naquilo.

— Genial! – exclamou Emmett, abraçando-me com entusiasmo. – Está resolvido, gata! Viu? Não tem com que se preocupar. Quando ele tiver idade suficiente para entender, nós contamos a ele e ele pode ir para a escola que nem as outras crianças.

— Ótimo, é uma boa ideia – avaliou Carlisle.

— Apesar de eu ainda não saber por que alguém iria querer ir para o ensino médio… – acrescentou Emmett, pensativo.

Eu os observava enquanto me deliciava com as coisas novamente tomando seu rumo. Eu tive um pequeno surto, tudo bem, mas já estava novamente dentro dos conformes… Buscaria meu filho no dia seguinte, e ser mãe estava de pé novamente. Eu não precisava mais temer nenhum problema…

E, mesmo assim, continuava sentindo aquela coisa estranha. Um vazio borbulhante, um sentimento de euforia que eu não sabia interpretar. Olhei para baixo, para a barriga, de onde vinha.

Deixei os dois conversando no quarto e fui atrás de Bella. É, aquilo estava ficando comum. Ela já tinha material o suficiente para usar contra mim.

— Toc, toc – falei para a porta aberta.

Bella estava sentada no chão, lendo. Parecia um romance, mas não me ative ao título, pois ela ergueu os olhos para mim. Pareceu um pouco surpresa.

— Animada para o grande dia? – perguntou, sorrindo.

Ela não forçava sorrisos. Eu a admirava por isso, Bella sempre fora altruísta de uma forma surpreendente. Tipo, eu já havia sido bem cruel com ela. Ainda era, às vezes. Deixei que meus ombros caíssem, uma mania tipicamente humana que eu havia aprendido com os adolescentes no ensino médio.

— Estou sentindo uma coisa esquisita – falei de uma vez.

Ela estranhou. Apertou os olhos para mim.

— Tipo um mau pressentimento?

Pensei sobre.

— Não, tipo uma coisa física. Aqui – passei a mão em círculos no local. – É meio… incômodo. Parece que eu quero sair correndo. Ou quebrar tudo.

Bella se manteve séria, e depois explodiu em uma gargalhada. Semicerrei os olhos para ela, questionando se era algum tipo de insulto.

— Você não está mesmo acostumada a não estar no controle de tudo, não é? – disse Bella, rindo. – Isso é frio na barriga. É quando você está nervosa com alguma coisa que vai acontecer. Dá medo, ansiedade, expectativa, até animação…

Meu rosto se iluminou, identificando-me com cada emoção que ela citava. Nossa, Bella sabia tudo sobre sentimentos. Balancei a cabeça, incrédula. Que inteligência emocional admirável! Será que ela aprendera tudo aquilo com os humanos?

— É isso mesmo que estou sentindo – confirmei, ainda impressionada. – Muito obrigada, Bella.

Ela assentiu para mim de volta, sorrindo. Deixei o quarto e fui para o meu próprio, onde encontrei Emmett com o berço já montado.

— Você não aguentou fazer isso como humano, não é?

Ele ergueu os olhos para mim e deu de ombros com ar de derrotado.

Assenti, compreensiva.

Sentei-me na beirada da cama e fiquei, bom… é, fiquei parada pelas horas seguintes. Como uma estátua. Apenas esperando e sentindo aquele estranho “frio na barriga”, como Bella chamara. Pela janela, vi a noite ser levada e o sol lentamente despontar. Lentamente mesmo.

Quando finalmente chegou a hora marcada, coloquei-me de pé com urgência. Emmett estava assistindo televisão, e também se levantou e se vestiu em segundos. Olhou para mim com determinação, mas exibia um sorriso doce.

— Vai dar tudo certo – disse ele, querendo me tranquilizar. Provavelmente, minha cara deveria ser a de um ratinho assustado.

Caminhamos juntos até a garagem, e encontramos todos lá. Todos, menos Renesmee.

— Deixamos ela dormir um pouco mais – Edward explicou, lendo meus pensamentos.

Balancei a cabeça, querendo dizer que entendia.

Alice se aproximou e me abraçou com força. Ela não precisava sempre de palavras, e eu a admirava por essa comunicação significativa que Alice conseguia manter com os olhos. Jasper a acompanhou e abraçou Emmett, dando um tapinha no braço dele.

— Você vai ser um ótimo pai – murmurou Jasper, lançando um sorriso encorajador. E ondas de tranquilidade que eu senti emanarem por meu corpo. – Mas eu vou ser o preferido dele.

— É isso que veremos – respondeu Emmett, rindo.

Edward veio na nossa direção meio a contragosto.

— Eu não apoiei vocês dois como vocês me apoiaram antes e sinto muito – disse ele, solene. Evitava nossos olhos. – Mas a partir de agora, esqueçam. Estarei aqui para o que precisarem. Qualquer coisa.

Eu o abracei primeiro e sussurrei um agradecimento, que nem era necessário. Edward podia ler a minha mente e saber o quanto aquelas palavras significavam para mim. Em seguida, Bella se aproximou.

Ela primeiro olhou para Edward com satisfação, para depois abraçar Emmett.

— Estou animada! Voltem logo com ele – disse ela, sorrindo.

E então se virou para mim, e aqueles olhos enormes diziam muito. Nós nos abraçamos sem dizer nada, e eu soube nesse momento que fora ela quem convenceu Edward a se comportar. Eu já havia agradecido o suficiente a Bella, e ainda tinha vontade de dizer mais. Mas soube que não era preciso.

— Lembre-se – disse ela em voz baixa, rapidamente. – Segure o corpo com uma mão, e a cabeça com outra. E cuidado com a sua pele fria.

— Eu peguei luvas – garanti, batendo na bolsa que eu segurava.

— Ótimo – respondeu Bella.

Então ela se afastou, e foi a vez de Esme e Carlisle. Esme me olhava com os olhos de uma mãe orgulhosa. Suspirou teatralmente, e balançou a cabeça para mim.

— Nem consigo acreditar – falou, com os olhos se enchendo d’água. – Mal posso esperar.

— Não precisam se preocupar com nada – garantiu Carlisle, também sorrindo.

Eu e Emmett os abraçamos e entramos no carro. Emmett segurou minha mão enquanto dirigia, e me dirigia palavras de ternura durante o percurso. Quando chegamos à porta da clínica de adoção, congelei no lugar e olhei para Emmett.

— Tem certeza de que quer fazer isso? – falei de repente. – Ainda podemos desistir se você quiser. Quer dizer, aconteceu tudo muito rápido e…

— Não, amor – disse Emmett, segurando as minhas mãos que gesticulavam. – Está tudo bem. Vai dar tudo certo, e você sabe.

Assenti, olhando nos olhos dele.

— Prenda a respiração antes de entrarmos – ele orientou, e soltou minhas mãos.

Tomei fôlego e o vi fazer o mesmo.

Passamos pelas portas de vidro e eu olhei em volta, desconfortável no ambiente desconhecido. A secretária chamou o meu nome, e éramos as únicas pessoas por lá. Preenchi alguns papéis e assinei outros, e voltei ao assento ao lado de Emmett.

Olhei para ele com expectativa. Ele passou o braço pelos meus ombros em resposta.

De repente, a secretária se levantou e desapareceu por uma porta nos fundos da sala. Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, a porta se abriu de novo. E eu ouvi o choro.

Foi preciso todo o esforço do universo para não atravessar a sala em um milésimo de segundo. Apenas saltei da cadeira com o maior autocontrole que consegui, e fui na direção da mulher com a criança no colo.

— Meus parabéns, mamãe Rosalie – disse ela, e empurrou com gentileza a criança embrulhada, que ainda chorava.

Só percebi que minhas mãos tremiam um pouco quando a toquei. Por sobre do cobertor que a envolvia e a luva que eu vestia, senti o calor da pele dela. E segurá-la foi quase… instintivo.

Ela pousou os olhos escuros em mim e foi como se o choro tivesse parado para dar lugar à curiosidade. Arfei com aquele contato visual, e o cheiro do sangue dela me queimou a garganta como brasa, mas não desviei os olhos. Foi como se essas sensações físicas estivessem em segundo plano.

Ela tinha a pele negra, e os cabelos crespos cresciam em tufos de cachos desalinhados. Passei os dedos pelos cachinhos e desejei tirar as luvas, mas decidi não o fazer. Não naquela sala fria.

Quando reuni força suficiente para tirar os olhos dela, passei-a para Emmett.

Ele a segurou com encanto, e o sorriso se espalhou por seu rosto. Pelo meu também, enquanto eu o observava.

— É a nossa filha, amor – sussurrei. – Grace Cullen.


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Notas finais do capítulo

e aí? :)



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