Alvorecer escrita por Mermaid Queen


Capítulo 2
Família


Notas iniciais do capítulo

spoiler: edward vai apanhar de 2 muie bonita



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Durante a festa, nós bebíamos e comíamos politicamente, por causa dos humanos. Pelo menos eles aproveitavam a comida. E Renesmee tinha bolo até no cabelo. Mas eu estava um pouco alheia às comemorações.

A ideia ainda martelava na minha cabeça, e Emmett me observava discretamente, os olhos cheios de dúvida e preocupação. Fingi não perceber nada e o driblei pela festa diversas vezes. Mas não é de todo mundo que se pode escapar.

— Rosie, sua maquiagem – disse Alice, sorrindo discretamente.

Revirei os olhos por ter de consertar a maquiagem naquele momento, mas a ideia de não estar perfeita no meu próprio casamento me dava arrepios. Eu poderia me casar cem vezes, e em todas as cem estaria impecável.

Segui Alice para dentro da casa, e subimos os degraus em um piscar de olhos, assim que estávamos fora das vistas humanas. Quando Alice fechou a porta do quarto atrás de si, notei a presença de Edward.

— O que está fazendo aqui? – perguntei, sentando-me na cadeira.

A expressão dele me deu um nó no estômago.

— Não é uma boa ideia, Rosalie.

A voz de Edward era solene, e em um segundo entendi tudo. Lancei um olhar cortante para Alice, mas ela apenas encolheu os ombros em um pedido de desculpas.

Coloquei-me de pé e senti minha raiva subir e crescer como uma fera dentro de mim. O monstro que eu era lutava para chegar à superfície, e eu não queria controlá-lo.

— De todas as pessoas… - comecei, andando na direção de Edward. – Qualquer um dessa família que tentasse me dar uma lição de moral… logo o babá de humana vai querer me dizer o que é ou não uma boa ideia?

— Não é a mesma coisa – disse Edward, erguendo um dedo no ar. – O que eu e Bella tivemos…

— O que você e Bella tiveram? – interrompi, ultrajada. – O quê? O sangue dela tinha um cheiro gostoso demais e você enrolou tanto para matá-la que se apaixonou? Quer dizer que isso é válido, mas o meu caso não?

— Você era tão contra transformar a Bella para que ela pudesse ter uma vida, e agora quer fazer o mesmo com outro humano inocente. Brincar com a alma dele só para satisfazer seus prazeres pessoais.

— Edward… - Alice tentou avisar, mas era tarde demais.

Voei na direção de Edward e enterrei a mão no pescoço dele, erguendo-o na parede. Ele podia não sentir dor, mas sentiria a minha fúria.

— É fácil para você falar, seu babaca egoísta – sibilei, batendo-o contra a parede. – Já é pai. Tem a esposinha para você para sempre. Você já tem tudo o que queria.

Soquei a parede com força, fazendo um buraco ao lado da cabeça de Edward.

— “Prazeres pessoais” é a sua bunda, Edward – falei, soltando-o. – Você conhece a minha história e conhece a minha vida e sabe o que isso significa para mim. Você teria abortado aquela garota se eu não tivesse te impedido.

Edward agarrou o meu pescoço e chutou as minhas pernas, e eu estava na parede antes que pudesse perceber.

— Não fale da minha filha dessa forma – sussurrou ele.

Senti que ele queria arrancar a minha cabeça.

Literalmente.

— Chega – disse Alice, puxando o braço de Edward para baixo com mais força do que aparentava, toda contida naquela graça natural.

Edward cedeu com a cara fechada e finalmente me soltou. Comecei a me afastar dele e dei um encontrão com o ombro. Só para ser babaca como ele estava sendo.

— Agora você tem um motivo para ajeitar a minha maquiagem – falei para Alice. – Graças a esse idiota.

Edward saiu da sala sem dizer mais nada.

Alice ergueu um pincel na minha direção, mas algo a interrompeu. Ela congelou, o olhar ficou vago e as mãos tremeram. O pincel caiu com um barulho metálico no chão.

Alice estava vendo alguma coisa.

Fiquei parada como uma estátua, esperando que terminasse. Cada segundo que se passava era arrepiante, porque eu já podia imaginar do que se tratava.

— Você está bem, Rose? – disse Alice, em transe, olhando para o nada. – Quer sair daqui? Tem certeza de que quer mesmo fazer isso?

A voz dela era arrastada, e os meus olhos se encheram de lágrimas.

E acabou, tão de repente quanto tinha começado. Depois de poucos minutos que me pareceram eternos. E eu sei bem o que é uma eternidade. Já fiz o ensino médio algumas vezes.

— O que você viu? – perguntei, alarmada. – Era o meu bebê? Houve algum problema com ele?

Alice piscou algumas vezes para se situar, e finalmente focou no meu rosto. Em segundos, pegou o pincel do chão e retocou minha maquiagem.

— Eu vi o seu bebê, Rosie – disse ela, com os olhos baixos. – Estou preocupada, é claro. Não sei muito bem o que pensar sobre isso.

— O que quer dizer, Alice? – insisti, segurando o braço dela. – Ele teve algum problema? É ele ou ela? Eu desisti?

Alice balançou a cabeça.

— Não posso influenciar o futuro, Rosalie. É uma decisão sua, afinal, e ninguém pode te impedir. Se Emmett se recusar, você pega esse bebê e vai criá-lo sozinha, mesmo com vocês sendo inseparáveis.

Senti um aperto no peito ao pensar na possiblidade de me separar de Emmett, mas Alice tinha razão. Ele era o meu marido, minha alma gêmea, e a única pessoa no mundo que me entendia e me completava.

Porém eu estava descobrindo que eu não era completa realmente. E seria decisão de Emmett me apoiar ou não, sabendo das consequências.

— Ele nunca abandonaria você – disse Alice.

Suspirei e encolhi os ombros.

— Eu sei que não.



— Você ficou maluca? – exclamou Emmett, levando as duas mãos à cabeça.

Eu o observava andar em círculos no nosso quarto, tão rápido que em breve faria um buraco no chão. Não me atrevi a falar.

— Eu? Pai de alguém? Não sei ser pai, Rose!

Mais círculos.

— E se um de nós acabar devorando-o?

— Isso é ridículo – intervi, revirando os olhos.

— E se um urso o atacar?

— Daí você ataca o urso.

— E se ninguém aqui souber cozinhar? Ele vai morrer de fome?

— Eu posso aprender – falei, dando de ombros. – Tenho literalmente todo o tempo do mundo.

— E se ele…

— Por que você tem tanta certeza assim de que vai ser um menino?

Emmett finalmente parou de andar.

— Você quer uma menina?

— Não, meu amor! – exclamei, puxando-o para perto. – Não faz diferença. Eu só quero ser mãe.

Ele se sentou na cama ao meu lado e cruzou os braços.

— Eu só sei perseguir ursos e jogar beisebol!

— Crianças adoram beisebol – argumentei.

— E se ele quiser ser transformado? – perguntou Emmett, baixando a voz. Ele me olhava intensamente.

Umedeci os lábios e baixei a cabeça. Não aguentei sustentar aquele olhar.

— Eu nunca faria isso, querido.

— Eu sei que não, amor – respondeu Emmett, segurando as minhas mãos.

Ele me puxou para si e me aninhou no colo seu colo. Descansei a cabeça no braço dele, sentindo que poderia confiar em Emmett para qualquer coisa. Tive vergonha de ter cogitado a possibilidade de ele me abandonar. Alice tinha razão. Ele me apoiaria em qualquer decisão que eu tomasse.

— Amo você, macaquinho.

— Amo você, Rose – disse ele, me apertando mais em seus braços.


Se eu achava que a parte mais difícil já havia passado, eu estava muito enganada.

Convoquei a reunião familiar na cozinha de madrugada. Estavam todos meio irritados depois de agir como humanos durante a tarde toda, mas eu sabia que a cara de Edward não tinha nada a ver com isso.

— O que pode ser tão importante assim, Rosalie? – perguntou Carlisle, recostando-se na bancada.

— Como se você tivesse alguma coisa mais importante para fazer – repliquei, cruzando os braços.

Emmett me cutucou nas costelas, mas Carlisle não pareceu se abalar.

Olhei para Emmett e para Alice em sequência, sem saber como começar. Por fim, percebi que não adiantaria fazer muitos rodeios. Edward começaria a apontar aquele dedo estúpido na minha cara assim que tivesse oportunidade.

— Quero adotar um bebê.

Carlisle e Esme arregalaram os olhos, e o queixo de Esme até caiu.

Jasper olhou para Alice, querendo alguma explicação, e ficou ainda mais confuso quando o rosto dela não esboçou reação.

Bella levou a mão à boca e Edward ergueu as mãos com as palmas para cima.

— Essa é a coisa mais absurda que Rosalie já disse, e eu já a ouvi dizer coisas muito absurdas.

Carlisle começava a se recuperar do choque.

— Você quer explicar melhor essa história, Rosalie?

Cruzei as mãos na frente do corpo, já me preparando.

— Eu sempre quis ser mãe, Carlisle. Sempre quis ter uma família. E agora que nós sabemos que é possível, depois de Renesmee nos mostrar que é possível, acho que…

— Renesmee foi um acidente! – Edward interrompeu. — E nós todos quase morremos por…

— Não repita isso nunca mais por toda a eternidade! – exclamou Bella, os olhos se contorcendo de fúria repentina.

Ergui as sobrancelhas para ela. Mas agradeci o apoio. É sempre bem-vindo. Até Edward recuou.

Alice olhou em volta timidamente antes de se pronunciar.

— É claro que eu fico insegura com essa história, mas… Rosalie tem todo o meu apoio.

— Estou ao seu lado também, irmã – disse Jasper, surpreendendo-me.

E de repente percebi que a atmosfera da cozinha havia mudado sutilmente, tornando-se um ambiente mais calmo. Edward já segurava a cintura de Bella, e Bella afagava a nuca dele. Esme e Carlisle ponderavam a situação com uma aparente tranquilidade. Jasper estava me ajudando, enviando essas sensações calmas e agradáveis para todos.

Sorri para ele.

— Se Rosalie quer ser mãe, eu vou ajudá-la – disse Bella firmemente, recebendo um olhar de choque de Edward.

Acho que eu também olhava chocada para ela. Carlisle e Esme se entreolhavam com as testas franzidas, sem saber que decisão tomar.

— Se vocês não forem a favor, eu vou embora – ameacei. – Não vou permitir que esse clã me impeça de ter minha própria família. Estou cansada de passar a eternidade em melancolia.

Emmett pousou o braço no meu ombro, dando-me apoio.

— Se Rosie for, eu também vou.

— Você quer ser pai, Emmett? – Carlisle perguntou.

A expressão de Emmett vacilou e ele encolheu os ombros.

— Não sei direito o que eu quero, Carlisle – disse ele, olhando para mim. – Mas a minha esposa sempre quis ser mãe, então estou ao lado dela.

Emmett passou o braço pela minha cintura e me puxou para junto dele, dando-me apoio. Ergui as sobrancelhas para Esme.

— Ele ou ela vai ter sempre que nos esconder dos amigos, querida – disse Esme. – Já pensou nisso?

Foi minha vez de hesitar. Isso era injusto.

— É claro que não – Bella interveio. – Atrizes de cinema conseguem chegar aos 50 anos e se passar por uma garota de 20. Olha só para a Madonna.

Eu virei a cabeça lentamente na direção dela. Acho que todos tiveram a mesma reação que eu. Era o comentário idiota mais útil que ela já fizera.

— Até que é uma boa ideia – concordou Emmett, erguendo as sobrancelhas. Parecia surpreso.

Pelo menos eu podia ver na cara de Alice que ela queria um bebê na casa tanto quanto eu, embora não pelos mesmos motivos. Mas se aquilo fosse me ajudar, ela podia transformar meu bebê na boneca particular dela sempre que quisesse.

— Não vejo então por que me opor a você nessa decisão, Rosalie – disse Esme, por fim,

— Você não vê?— perguntou Edward, indignado. – Carlisle, por favor!

— Edward, será que dá para você calar a boca?— cortou Bella.

Fiz careta para Bella. Eu estava, tipo… gostando dela?

— É, Edward, cala essa boca – concordei.

Edward olhava de uma para a outra sem entender nada. Eu e Bella estávamos concordando. E aparentemente, o único assunto que podia nos fazer concordar era bebês.

— Edward, vamos dar uma palavrinha no meu escritório – Carlisle sugeriu, sutilmente.

Edward revirou os olhos, mas acabou seguindo-o.

Essa era a parte boa de ser uma família de vampiros. Só ficamos lá parados, como estátuas, fazendo uso da paciência interminável — Edward conseguia terminar a minha paciência interminável, mas isso não vem ao caso.

Quando eles voltaram, ele ainda parecia irritado, mas duvido que tivesse ganhado de Carlisle.

— Eu… sinto muito, Rosalie – disse ele, parecendo sentir dor a cada palavra. – Não concordo com a sua decisão, mas irei respeitá-la.

Nossa, aquilo devia estar sendo muito humilhante para ele. Eu adorei.

— Muito obrigada, Edward – respondi, sorrindo. – E então, Carlisle?

Carlisle pareceu pensar e então me dirigiu um sorriso contido.

— É claro que podemos fazer dar certo.

Não me segurei. Corri na direção de Carlisle e saltei para abraçá-lo.



Quando todos estavam dispensados da reunião da madrugada, segurei Bella pelo braço. Ela virou a cabeça violentamente na minha direção, e segurei o impulso de gargalhar.

— Só quero falar com você, Bella.

Ela soltou o braço e me olhou com desconfiança.

— Vá em frente, então.

— Eu só quero te agradecer – disse eu, surpresa que estivesse dizendo aquelas palavras. Bella parecia tão surpresa quanto eu. — Seu apoio e as coisas que você falou foram muito importantes. Significou muito para mim.

— Nossa, Rose, eu… - hesitou ela, olhando para o chão em busca das palavras. – Você foi muito importante para mim. Renesmee, tudo… Só estamos aqui por sua causa. Podemos ter nossas diferenças, mas você defendeu a minha filha como se fosse a sua própria vida em jogo, e pretendo fazer o mesmo. Quero que você tenha a mesma experiência da maternidade que eu. Só um pouco menos caótica.

Fiquei parada olhando para ela. Era uma das primeiras vezes na vida que eu ficava sem palavras.

— Eu te ensino a cozinhar, e… posso te ajudar com as outras coisas de humano. Eu imaginei que você precisaria.

Pisquei para tentar sair do choque.

— É, isso… isso seria muito bom mesmo. Obrigada.

Dei um sorriso sincero. Eu sentia uma gratidão naquele momento que jamais conseguiria colocar em palavras. Não sabia nem mesmo como agir.

Bella resolveu isso para mim. Deu um passo à frente e me abraçou, surpreendendo-me. Ergui os braços e a abracei de volta, querendo que ela soubesse o quanto aquilo significava para mim.

— Muito obrigada mesmo – sussurrei, as lágrimas voltando a encher meus olhos.


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Notas finais do capítulo

:)