A Marca da Borboleta escrita por JiyuNoSakura


Capítulo 3
2044, 19 de Setembro. 17:00


Notas iniciais do capítulo

ALÔ. Estou de volta, dessa vez pontualmente no sábado.
Esse capítulo foi difícil para eu escrever, é do início ao fim a cena da batalha contra os novos supervilões. E, bom, eu tinha pouca experiência em escrever batalhas. Foi preciso muito bate cabeça e muitos episódios de Miraculous para me ajudar a expressar exatamente o que eu queria.
Tem muito a Kagami no spotlight, porque eu adoro o jeito que ela luta com sua espada, as habilidades de esgrima no estilo de luta dela. E temos muito Rena Rouge também. Nossa Ladybug tem mais angst, o peso de ser a líder e arcar com as consequências. E também Adam, Emma, Plagg com Viperion e Bunnix acompanhando.
E é isso. Glossário nas notas finais.
BOA LEITURA ♥



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De onde estava, camuflada por chaminés e vigas de telhados, Ryuko observava os detalhes do que acontecia à sua volta. Procurava pistas do vilão em quaisquer movimentos que as pessoas faziam, seu olhar indo de cena em cena rapidamente. Ao nível da rua os policiais estavam concentrados na tarefa de acalmar e reorganizar o trânsito, na medida do possível, enquanto os bombeiros tentavam controlar os hidrantes e o aguaceiro na calçada e na rua. A cena de caos de vinte minutos antes já não se encontrava e os oficiais conseguiam fazer o que deveriam sem interrupções ou problemas maiores.

Para Ryuko, essa situação era no mínimo estranha.

Por quinze minutos corridos, ela assistira com Rena Rouge o homem invisível fazer da vida dos civis um inferno, destruindo patrimônio público sem ressentimentos. E no momento em que os parisienses são evacuados do local, ele desaparece?

Ela sentiu os pelos de sua nuca se arrepiarem.

Havia mais do que aparentava, tinha certeza.

Afinal, quais eram suas pretensões? Parecia algo sombrio. A incerteza da situação e falta de planejamento concreta deixavam-na com mais raiva.

À sua direita, ela podia ouvir os ecos do som produzido pela flauta, ilusões se criando em seu lugar. Ladybug estava no telhado oposto ao seu, do outro lado da rua, também escondida entre as vigas e à espera. Uma falsa Ladybug, então, tomou forma cortando o perímetro da rua com seu ioiô e pousando à frente do caminhão dos bombeiros. Nos poucos civis que restaram, a reação era a mesma: quase como uma onda de alívio simultâneo. Todos estavam ansiosos com a perspectiva de soluções para os problemas e conserto dos danos.

O que um miraculous ladybug não faz!

Ela assistiu a falsa Ladybug trocar algumas palavras com os policiais e bombeiros, provavelmente os apoiando nas tentativas de afastar os civis da área. A falsa versão de si mesma e de Rena Rouge pousaram próximo a ela. Elas passaram a vasculhar o local, como se procurassem indícios do vilão invisível que havia subitamente parado seus ataques.

Ryuko fez uma nota mental de cumprimentar Rena Rouge depois por suas ilusões. A prática ao longo dos anos as fez perfeitas. Eram tão reais, críveis para se querer até mesmo tocá-las. E, uou... os detalhes de seu wind dragon eram tão fiéis, tão maravilhosos!

Aos poucos os oficiais conseguiram abrir espaço para uma nova pista e redirecionar o trânsito, fazendo com que o engarrafamento fosse suavizado. Com a chegada das heroínas, o restante dos pedestres parecia atraído para a cena, se aproximando mais com olhares curiosos. As falsas Ryuko e Rena Rouge se aproximaram deles, fazendo-os recuarem. Porém, aqueles que haviam se afastado retornaram, formando um amontoado de pessoas muito semelhante ao de vinte minutos atrás, quando o vilão apareceu.

Dada às circunstâncias, Ryuko teve uma sensação de que ele retornaria, já que os parisienses estavam ali. No entanto, tudo ainda estava muito quieto, pacífico. Ela semicerrou os olhos, vasculhando a rua abaixo atrás de um indício, mesmo que mínimo, do homem invisível. Seu coração estava batendo rápido e forte. Já estava cansada de esperar.

“É só eu ou vocês também esperavam que algo acontecesse a esse ponto?”, sussurrou para as parceiras, o dedo ativando a escuta no ouvido.

“Está tudo calmo demais, é verdade”, Ladybug concordou, a voz chegando abafada, “Até onde sabemos, ele pode estar em qualquer lugar. Até atrás de uma de nós”.

A portadora do miraculous do dragão voltou seu olhar da rua para o telhado oposto ao que estava. Visualizou a heroína de roupas vermelhas e pretas com bolinhas agachada atrás das vigas. Ela não sabia dizer se Ladybug também a observava. Ao olhar Rena Rouge, avistou-a como antes: as mãos e lábios ocupados com sua flauta, mantendo as ilusões vivas na rua abaixo delas.

Tudo normal. Nada suspeito. Ainda muito estranho.

“Nadja Chamack chegou”, Ladybug anunciou pela escuta, “Assim como outros jornalistas”. Ryuko voltou sua atenção novamente para a rua, observando uma pessoa com um microfone e a outra com uma câmera correndo para o local. O tom de violeta dos cabelos dela era inconfundível.

“O que faremos?”, Ryuko perguntou já impaciente, “Continuamos a esperar ou...?”

No mesmo instante, a conversa se perdeu no ar. Lá embaixo, ao nível da rua, algo se materializou no meio das falsas heroínas. Era uma pessoa, evidentemente, porém o tom prateado de suas roupas e o penteado de mesma cor o caracterizavam como incomum. Não faltou muito para elas o identificarem como o vilão que Plagg vira e descrevera.

Ryuko abriu um sorriso de satisfação.

Não havia nada concreto e elas não poderiam se aprofundar em mais táticas para derrota-lo. No momento, porém, possibilidades foram abertas.

Ele estava ali.

Superou todas as expectativas das heroínas e se livrou de seu disfarce de invisibilidade, mas apareceu... assim como plano traçado por elas esperava.

E ele era o oponente dela.

“Você vem, bug?”, ela perguntou retoricamente já se colocando de pé.

“Estou logo atrás de você”, recebeu a resposta instantânea.

Ladybug possuía uma raiva no jeito que falava.

A mesma raiva que fervilhava dentro dela.

Ryuko evocou o wind dragon. Um-a-um com o vento, ela se jogou do telhado em direção à rua. Seu corpo já estava inteiro e concreto quando chegou ao chão, cara a cara com o vilão, a espada em punho.

As falsas heroínas desapareceram, o que significava que Rena Rouge também estava a caminho. Ilusões desfeitas, os civis que assistiam soltaram ruídos de surpresa, voltando seus olhares curiosos para a heroína do dragão enfrentando o vilão agora visível.

Sem que ele percebesse, ela bateu o cabo da espada em sua cabeça o desestabilizando e o jogando no chão com uma rasteira. Ele se tornou invisível no ato e se materializou segundos depois um pouco longe de onde ela estava, um cilindro longo de ferro nas mãos. Ryuko disparou na direção dele e aparatou em sua frente, erguendo a espada para atingir-lhe o pescoço.

O vilão, por sua vez, impediu o ataque com sua arma improvisada, um sorriso largo e sádico nos lábios. Ela franziu o cenho, sustentando sua investida e observando-o. Ele parecia estar se divertindo com tudo aquilo. Tinha algo muito errado sobre aquele homem!, mesmo com a vilania. Ele a empurrou com o cilindro, movimentando-o através do espaço que abriu e mirando nas costelas de Ryuko.

“Cuidado!”, Ladybug disse, de repente próximo demais a eles.

Ela separou o vilão de Ryuko com um chute na barriga. Ele foi jogado para longe, tornando-se de novo invisível. As duas heroínas se colocaram lado a lado.

“Agora vem o próximo round”, Ryuko sussurrou, animada com a onda de adrenalina. Ladybug assentiu com a cabeça, sua expressão mais preocupada.

No entanto, ao invés da onda de excitação que ela estava esperando, havia somente o silêncio. A heroína soltou um grunhido de frustração com a perspectiva de mais espera.

Rena Rouge se aproximou das duas e como elas, permaneceu na defensiva. As três confiavam em seus ouvidos e tato para preverem as investidas do vilão. Elas sabiam que a probabilidade é que ele as pegasse de surpresa pelas costas ou pernas, objetivando desestabilizá-las de alguma maneira. E que fizesse isso estando invisível.

No entanto, por mais de trinta segundos, só o que ouviram era Nadja Chamack em frente à câmera detalhando ao vivo o que acontecia na luta para todos os parisienses que assistiam.

“Parece que ele está brincando com a gente”, Ladybug deduziu, um tom de extremo incômodo na voz.

Rena Rouge fez sons de concordância, o cenho franzido de preocupação e foco. “Precisamos de uma nova estratégia”, disse.

“Eu tenho uma ideia. Tentem seguir a minha”, Ryuko pediu, raiva reverberando em seu tom de voz.

Ela evocou o wind dragon de novo, se transformando em uma rajada de vento que se espalhou por toda a rua. Seu objetivo era sentir o corpo do vilão em algum lugar do perímetro de modo a poder localizá-lo sem a necessidade de vê-lo. E não demorou muito para tal. Parado perto dos civis, ela o achou, o vento que era seu corpo se movimentando rapidamente em direção a ele.

Quando ela se tornou inteira e concreta novamente, Ladybug já corria ao seu encontro. Os civis mais próximos arfaram e se afastaram em dois passos. O vilão e a heroína estavam próximos demais. Ao lado deles, a câmera do colega de trabalho de Nadja Chamack as filmava, tirando a atenção da jornalista para capturar o que elas estavam fazendo.

“Rena, ilusões master, por favor”, ela por fim sussurrou pela escuta.

No exato instante, ouviu-se o som doce e harmônico da flauta, árvores e arbustos muito verdes sendo criados que envolviam o perímetro da rua em um círculo fechado, do local dos civis ao dos policiais e bombeiros. Novamente uma ilusão tão real, tão detalhada. Rena Rouge tinha garantido que o vilão não pudesse ver as três heroínas, preso em sua floresta selvagem e inabitada por seres humanos.

“Perfeito, até o momento em que ele descubra como sair, eu já terei meu lucky charm em mãos”, Ladybug disse, um sorriso de canto pretensioso nos lábios.

Ryuko assentiu com a cabeça. “Vamos descobrir como vencer esse primeiro-supervilão-em-dez-anos!”, disse irônica convidando a parceira a continuar com um movimento da mão.

A parceira soltou uma risadinha e jogou seu ioiô para o alto chamando seu lucky charm. A magia da arma o transformou em um tipo de garrafa e no mesmo instante, o objeto começou a descer na direção exata das mãos de Ladybug, como em todas as vezes.

O que ela e Ryuko não estavam esperando, no entanto, era que dessa vez uma rajada de eletricidade impedisse sua queda e teletransportasse o objeto.

“Mas o que...”, Ladybug balbuciou, a face incrédula.

Ao lado de Rena Rouge, o objeto reapareceu nas mãos de um homem. Seu corpo era feito de pura energia e os olhos negros fundos as olhavam com expectativa. Ryuko o observou estática por um momento, o efeito surpresa de seu movimento a colocando junto com Ladybug fora do ar por alguns segundos.

Um outro supervilão?

Como isso é de fato possível?

 

Na casa dos Dupain-Agreste, tudo estava mergulhado em tensão e incerteza.

Como prometido à Marinette, Viperion e Bunnix estavam a postos agarrados aos celulares dos trajes, à espera de quaisquer informações. Adam se situava no sofá, tentando manter-se concentrado ao que acontecia à sua volta, tonto com a quantidade e velocidade de informações. Ao lado dele, em pé, estava uma agitada e ansiosa Emma que não conseguia se manter parada. Plagg, por sua vez, estava emaranhado nos cabelos dela, milagrosamente calado, coisa que não era do seu feitio.

A atenção de todos os cinco estava nas notícias que Nadja Chamack dava pelo jornal. Nada os havia preparado para o que assistiam na tela.

Em um movimento rápido, o segundo vilão que apareceu há pouco agarrou Rena Rouge pelo braço. O ato a fez se desequilibrar e deixar a flauta cair quicando no chão para fora de seu alcance. As ilusões que mantinham o homem invisível preso e afastado deles se desfizeram no mesmo momento. O homem feito de energia fez uma chave de braço no pescoço dela, apertando o suficiente para que a fizesse ter dificuldade para respirar.

Tudo ficou em silêncio na cena. Nadja Chamack estranhamente calada, as cenas não precisando mais de mediação para serem compreendidas.

“Rena Rouge!”, a voz de Ladybug reverberou pela sala, próxima da câmera o suficiente para ser capturada com clareza.

Ryuko se movimentou para alcançar a flauta e fazer algo a respeito do estado de sua parceira, porém teve seus braços presos e sua mobilidade impedida. Ela se debateu contra o aperto de ferro invisível e não obteve sucesso.

“Eu não faria isso se eu fosse você, esquentadinha”, o vilão invisível se mostrou em todo seu resplendor prateado, um sorriso sádico nos lábios. Ele brutalmente moveu os braços dela para as costas com uma mão, um pedaço de vidro afiado indo em direção à garganta dela com a outra, “Biston não tem problemas em ver vocês sangrarem!”, concluiu.

Ladybug se voltou para a cena, o olhar aterrorizado provavelmente focado na lâmina de vidro junto ao pescoço de sua amiga de longa data. Ela sacou o ioiô, de maneira rápida o colocando em ação no costumeiro escudo. Antes que dois passos fossem dados por ela, a voz grave do segundo vilão a impediu deixando-a estática no lugar.

“Tente avançar sobre nós e suas amigas morrem, Ladybug”, ele ameaçou, as palavras saindo calmas e frias, como se não tivessem nenhuma importância.

Quando a câmera se virou para ele, também havia um pedaço de vidro próximo à garganta de Rena Rouge. Na mesma mão que a lâmina, o lucky charm mantido preso com firmeza.

Emma sufocou um grito, os olhos arregalados e a boca coberta por suas mãos. Ela sentiu a tensão subindo por sua espinha, aquele aperto, como se seus órgãos estivessem sendo esmagados. Desespero e impotência eram o que existiam nela, bem como uma raiva crescendo em largas proporções. Sua mãe e tias estavam sendo ameaçadas por vilões que aparentemente não tinham nenhum motivo para tal. Ameaçadas... de morte! E mais cedo naquele dia, seu pai havia sofrido um acidente e quase havia sido morto por um daqueles homens.

Não! Não!

Isso não pode estar acontecendo!

Por que eles estavam fazendo isso?

Sua família nunca havia feito nada de mal a ninguém!

Os braços de Adam envolveram o torço dela e Emma sentiu o calor bem-vindo do abraço dele. No entanto, ela estava estática demais para sequer reagir. “Pai, tia Alix”, ela ouviu a voz dele, um tom firme e raivoso substituindo o usual calmo e baixo que ele tinha, “Nós temos que fazer algo!”.

Viperion e Bunnix olharam para ele, as faces pálidas como se estivessem vendo um fantasma. Também pareciam paralisados, como se estivessem vivendo em um tipo próprio de inferno pessoal. Ela foi a primeira a reagir, assentindo com a cabeça e parecendo se situar à realidade. “Sim, sim”, sussurrou, “Eu vou ligar para ela. Avisar que estamos indo”.

“Ligar?”, Adam indagou imediatamente soando reprovador, “Ligar não vai ajudar!”

No entanto, antes que ela pudesse dizer algo ou ao menos discar o número, Nadja Chamack recomeçou a narrar chamando a atenção deles.

O homem feito de energia prendeu o lucky charm em algum lugar de seu traje e movimentou a lâmina de vidro de modo que seus dedos ficassem livres. O vilão invisível fez o mesmo. E ao mesmo tempo, em um movimento rápido, os dois agarraram os miraculous de Rena Rouge e Ryuko.

“Espera, o que vocês dois estão fazendo?”, Ladybug perguntou exasperada.

Ambos só se limitaram a sorrir.

A gargantilha e o colar foram soltos, caindo quase em câmera lenta em direção ao chão. Ladybug arfou, inquieta no local onde fora forçada a permanecer. Rena Rouge e Ryuko mantinham os olhares nela, enquanto seus trajes de heroína desapareciam revelando as faces de Kagami e Alya. Seus kwamis apareceram, as expressões de Longg e Trixx tão perturbadas quanto as de suas portadoras.

A transmissão e o local da batalha entraram em um profundo silêncio.

Ninguém conseguia acreditar no que estava acontecendo.

“Ah meu Deus”, a voz de Nadja Chamack saiu como um sussurro através da tela, “Kagami Tsurugi, a famosa esgrimista e Alya Lahiffe, nossa jornalista?”.

“Trixx, Longg, fujam! Vocês sabem para onde!”, Ladybug disse rapidamente, “Recolham os miraculous, protejam-os”. Os dois assentiram e fizeram o que ela havia mandado, as imagens dos dois kwamis pequenos desaparecendo da cena.

Pela tela, ela parecia saturada, entorpecida.

“O que vocês querem?”, disse novamente, dessa vez soando menos ameaçadora do que antes. A pergunta se assemelhava a uma súplica.

“Era uma armadilha”, Adam disse dando voz ao óbvio. Ainda com uma silenciosa Emma em seus braços, ele tirou a atenção da televisão e olhou seu pai, que havia se levantado e pego o comunicador. Ao lado dele, Bunnix assentia com a cabeça o incentivando a ligar para oferecer reforços. “Pai, tia Alix! Com todo o respeito, mas o que vocês estão fazendo? Só ligar não vai adiantar nada. Precisam ir até lá!”, ele levantou o tom de voz.

Bunnix negou com a cabeça. “Não podemos fazer isso assim sem avisá-la, Adam”, dessa vez conseguindo explicar, “Não estamos lá para saber o que de fato acontece. Ainda há um jeito de consertar as coisas, talvez Marinette já tenha um plano e está apenas esperando uma deixa para executá-lo”.

Foi como se a conversa despertasse Emma e fizesse ela os olharem estupefata.

“M-mas... Tia Alya e tia Kagami estão sendo ameaçadas. Um escorregão daquelas lâminas e elas morrem!”, tentou argumentar, a voz falhando devido ao desespero.

Viperion levantou a cabeça, o semblante sério e triste, deixando de olhá-los nos olhos. “Eles não têm a intenção de matá-las. Adam está certo: era uma armadilha. E nós seguimos o plano deles cegamente, talvez até melhor. Eles queriam a revelação das identidades o tempo inteiro”, o tom de sua voz seco e baixo, meio desanimado.

A jovem se desarmou, deixando cair os ombros. “Faz sentido. Nunca vi vilões tão calmos”, assentiu com a cabeça, “O tempo todo eles estavam seguindo uma estratégia maior, prontos para pegá-las no pulo. E ainda parecem estar. Mamãe deve estar muito agoniada”.

Adam apertou-a mais contra seu corpo, tentando sanar sua própria agonia. “E agora?”, perguntou, por fim.

“Agora a gente liga e espera”, Bunnix respondeu.

 

Ladybug estava desesperada.

Não parecia haver uma saída para a situação atual. Ela já havia utilizado todas as suas cartas na manga dentro das possibilidades. Seu lucky charm havia sido confiscado e ela não poderia dar dois passos para fazer algo sem que suas duas amigas fossem feridas. E para completar, toda Paris agora sabia a identidade de ambas. Ela não conseguia nem pensar sobre as consequências disso. Os dois vilões haviam acabado de abrir um emaranhado de problemas sem fim, onde ninguém seria deixado de fora. Era uma situação paralisante, digna de se sentar, surtar e depois chorar até dormir de cansaço.

Não!

Hora de parar e raciocinar. Sem se aprofundar no furacão de seus sentimentos.

Se ela se deixasse levar por toda a onda de emoções desse dia, ela não prenderia os vilões, não salvaria suas amigas e nem consertaria os danos na rua.

Não!

Ladybug podia pensar sobre as consequências em outro momento. Deixaria para depois, quando estivesse com todos. Tinha muito o que discutir com seus companheiros.

Isso definitivamente era o que Tikki falaria para ela.

O toque do celular de seu traje a tirou do transe em que estava. A heroína recolheu seu ioiô rapidamente e atendeu a ligação se deparando com o rosto de Bunnix.

“Bug!”, ela disse imediatamente, “Estamos indo!”.

“Não!”, a líder recusou, o cenho franzido, “Eu lido com isso. Rena Rouge e Ryuko já tiveram suas identidades reveladas e estão em perigo. Não posso colocar mais heróis nessa situação, nem mais miraculous em risco!”.

Com uma expressão preocupada, Bunnix assentiu relutantemente.

“Essa é uma sábia decisão. Parece nem ter vindo de você, visto o quão confusa e perdida está”, a voz arrastada e fria do homem feito de energia chamou sua atenção. Ela desligou a ligação e olhou para ele, o ioiô se transformando em um escudo novamente. Em volta dos seus olhos, havia um familiar brilho arroxeado no formato de uma borboleta. Seus olhos se arregalaram e ela se sentiu tonta, dando dois passos para trás.

Não poderia ser.

Os vilões... Akumatizados. Eles tinham poderes porque um portador do miraculous da borboleta os havia dado, em troca de algo.

O miraculous da borboleta... Nooroo... Roubados.

Não! Ela tinha se assegurado de que eles estivessem seguros. Como alguém conseguiu roubá-lo da Miracle Box dentro de um cofre na casa dela?

Ladybug continuou o encarando, alheia a qualquer tipo de reação das pessoas ao seu redor. Os olhos dele eram tão negros, macabros. O brilho arroxeado acentuava essa característica. Ela se sentiu vazia por dentro. No forte aperto de seus braços e ameaça da lâmina de vidro, Alya mantinha o cenho franzido, o olhar cravado na amiga. Ela não conseguia ver o símbolo do akuma na face do homem feito de energia?! Ela não sabia com quem eles estavam lidando e as proporções disso?!

“No mínimo... estranho te ver nesse estado. Você que sempre teve as respostas, teceu todas as estratégias. Agora olhem, Paris, a líder do seu esquadrão de heróis sem soluções para os problemas!”, ele completou, o tom mais alto e sarcástico, veneno escorrendo por suas palavras.

“Pare de brincar com ela!”, Alya gritou, a fala saindo com dificuldade devido ao aperto em seu pescoço, enquanto se debatia.

A tontura voltou enquanto Ladybug assistia o homem soltar uma risada e aproximar o vidro da pele logo abaixo o queixo de Alya. Um filete de sangue escorreu do pequeno corte que ele fez e a heroína sentiu seu coração apertar. No rosto da amiga, uma pontada de dor cruzava suas feições.

“Não, não, por favor”, a líder suplicou, os olhos marejando.

“E implorando”, o homem invisível retomou a fala do primeiro, o sorriso sádico nunca abandonando seus lábios. Ela se voltou rapidamente a ele. O mesmo brilho arroxeado no formato de uma borboleta em volta de seus olhos. Isso não podia estar acontecendo! “Não acho que esteja tão corajosa agora, não é, Ladybug? Eu não acho que seja tão confiante sem o seu Chat Noir. Onde ele está, a propósito? Ah é, no hospital. Eu, de fato, causei o acidente de Adrien Agreste hoje de manhã”, concluiu.

Ladybug deu mais dois passos para trás, a vontade de surtar agora maior do que nunca. Ela olhou ao seu redor, perdida, atenção indo de akumatizado para akumatizado. Ao longe, ela ouviu Nadja Chamack repetindo para todos a identidade secreta de seu marido. Havia uma expressão de espanto no rosto dos civis que ali estavam.

Adrien, Alya, Kagami... Seus gatinhos, Nino e os gêmeos... Todos em perigo.

“Sim, eu sei de tudo”, as vozes dos dois vilões agora estavam sincronizadas, o portador de Nooroo falando através de ambos. Ela sentia arrepios em suas costas e braços, uma dor em seu coração que a dilacerava. Queria achar a força para enfrenta-los, a confiança para completar a missão. Porém ela não conseguia reagir... não mais.

Era demais. Muito para lidar.

“Ladybug, não ouse se entregar!”, ela ouviu um grito desesperado vindo de Kagami, “O que Chat Noir diria para você?”.

Chat Noir, seu parceiro. Adrien, seu marido.

Ainda era demais, o entorpecimento a dominando. Porém a menção dele a fez se sentir quente e confortada por dentro. Ela sorriu. Ficaria bem, todos eles ficariam bem.

“Fui eu que roubei o miraculous da borboleta”, os dois akumatizados continuaram, como se as palavras de Kagami não haviam sido proferidas, “Não sei o porquê de exaltarem tanto Chat Noir, a casa dele foi imensamente fácil de invadir e ser assaltada. Aquela Miracle Box de fato é tentadora, tantos miraculous, tanto poder em conjunto. Mas eu só precisei de um. Esse broche tem tanto potencial; não desperdiçarei como Hawkmoth fez”.

Todos pareciam estar em um transe. As vozes deles juntas tinham um tom elevado, fazendo com o que os civis e Nadja Chamack ouvissem com clareza e acompanhassem cada palavra.

“Como se sente, Ladybug?”, eles retomaram. Ela ergueu a cabeça. Lhe faltava força e confiança, mas ainda existia uma coragem renovada. “Eu farei da vida de todos vocês um inferno. Acha que só você pode ficar conhecida, ser temida, respeitada? Não! Essa não é a última vez que ouvirão falar de mim. Biston! Guarde esse nome. O que aconteceu com Adrien Agreste, Kagami Tsurugi e Alya Lahiffe é só o início. Com eles, vocês sentirão o gostinho de terem suas vidas destruídas!”.

As vozes em conjuntos ecoavam pela rua, cortando o silêncio que todos mantinham.

Ladybug assistia os dois vilões akumatizados a olharem compenetrados, o brilho arroxeado enfeitando cada um dos pares de olhos.

Ela ainda sorria.

Dessa vez, perderia a batalha. Não havia muito o que fazer, não enquanto eles tivessem suas amigas sob custódia. No entanto, venceria a guerra.

Mais segundos em silêncio entre eles, o vento e os carros ao longe no engarrafamento encarregados de produzir ruídos.

De repente, as lâminas de vidro foram jogadas ao chão e Alya e Kagami empurradas para a frente. O homem invisível desapareceu e o feito de energia se transformou em uma rajada de eletricidade. Inesperadamente, os dois foram embora na velocidade em que chegaram, quarenta minutos atrás.

Nadja Chamack e os parisienses levaram alguns segundos para compreenderem o que havia de fato acontecido. Alya e Kagami estavam em um transe semelhante. Não conseguiam acreditar que saíram com vida da situação. O corte abaixo do queijo de Alya já havia parado de sangrar, o rastro de sangue seco em seu pescoço e blusa. Quando os civis entenderam que estavam a salvo, eles começaram a se aproximar das heroínas.

Ladybug, então, rapidamente agarrou seu lucky charm que também havia sido derrubado ao chão. Em um movimento só, ela o jogou no ar chamando o miraculous ladybug. Na extensão de toda a rua, a magia restaurava os patrimônios públicos e consertava os danos, o estado de tudo e todos sendo reconstruído para o mesmo de antes do ataque.

E no meio da distração que eram as rajadas vermelhas da magia, Ladybug agarrou as duas amigas e lançou seu ioiô em direção a um dos prédios, fugindo do local.


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Notas finais do capítulo

AÊEEEEEEEEEEEE BISTON APARECEU.
EU. AMO. ESSE. VILÃO. E não, não vou contar a identidade dele. Teorizem vocês se quiserem e me contem.
Volto em breve. Assim que eu escrever mais um capítulo, eu posto o já pronto aqui.
BEIJOSSSSSSS

Glossário:
Ryuko é a versão de heroína da Kagami.
Kagami é o nome da Kyoko na versão francesa e americana.
Wind dragon é o comando traduzido por “dragão de vento” que transforma a Ryuko em vento.
Lucky charm é o “talismã” da Ladybug.
Miracle Box é a caixa que contém os miraculous.



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