A Marca da Borboleta escrita por JiyuNoSakura


Capítulo 10
2044, 21 de setembro. 05hrs às 19hrs.


Notas iniciais do capítulo

OIOI MEUS MIRACULERS!
Gente, eu juro para vocês que eu não estava planejando postar hoje UASHUSHOAS Sério, podem me matar. Estou trabalhando nesse capítulo já tem uns dois meses, com ele o capítulo 11 e um pouco do 12, porém foi somente revisando hoje que percebi que ele estava pronto e que eu poderia deixá-lo aqui para vocês. O 11 também já está quase pronto, só falta eu finalizar a escrita de algumas cenas e revisar. Vai com certeza chegar mais cedo do que o 10.
Maaaaaas o capítulo está bem grande, então espero que compense. Se não, desculpe àqueles que não curtem muito capítulos longos. Saibam que podem levar o tempo que puderem e quiserem para ler.
E A MARCA DA BORBOLETA CHEGA AO SEU CAPÍTULO 10. Gente, que emoção. Nunca pensei que chegaríamos até aqui, eu sempre engaveto minhas histórias antes desse ponto e essa não está mesmo nem em risco de ir para a gaveta. Que felicidade isso significa! Muito obrigada a todos que estão acompanhando essa jornada!
Não direi muitas coisas sobre o que acontece nesse novo episódio da série UASHUHSAO Só que preparem o coração, porque só há agonia e tensão nessa bagaça!
Estendendo meus agradecimentos, carinho e amor mais do que gigantes às lindas
claradasideias e Linesahh por sempre estarem presentes. E também à todos que estão visualizando e dando mais atenção à essa história que escrevo, planejo e enlouqueço com tudo que tenho e com tudo que sou. Muito obrigada ♥
Uma última coisa: na capa do capítulo hoje temos Fleur Césaire-Lahiffe, gêmea do Gaël e filha da Alya e do Nino. Nos próximos capítulos teremos os demais personagens originais meus. Lembrando: eles foram criados em um site que eu deixarei o link aqui: https://picrew.me/image_maker/315844 . Estou deixando claro que as artes não são minhas e que são fruto desse site que coloquei aqui ♥
Deixo vocês com o capítulo! Glossário e avisos nas notas finais!



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Batendo com a cara no travesseiro, Emma soltou um grunhido longo de satisfação por estar em sua cama e fechou seus olhos imediatamente. Já havia liberado sua transformação e deixado Plagg aos queijos, tendo a extrema certeza de que ela precisava de uma longa noite de sono... ou dia.

Estava exausta. Foram um dia e uma noite muito longos.

Bunnix a havia deixado no telhado de sua casa, em seu próprio espaço-tempo no presente, em um horário próximo ao do nascer do sol. Ela, na verdade, não fazia ideia de quantas horas eram exatamente... só queria sucumbir ao descanso e deixar para pensar em viagens ao passado, em Lilas, Marinettes e Adriens de diversos espaços-tempo depois, quando estivesse em dia com seu sono e sua alimentação.

Então, colocando seu celular para carregar e conectado à internet, ela dormiu, mal percebendo o kwami negro se ajeitar no travesseiro ao lado de sua cabeça também preparado para dormir até 2067.

Em algum momento de seu desmaio, no entanto, ela ouviu uns bip bip bip incessantes a tirarem do sono gostoso que estavam tendo. Junto ao barulho irritante, ela ouviu miados manhosos reclamando ao seu lado, os quais a despertaram um pouco mais. Percebendo que era o alarme usual que a tirava da cama para ir à escola, ela o desativou, abrindo o mínimo de seus olhos para mexer em seu celular. Voltou a dormir.

Algumas horas mais tarde, um barulho diferente a acordou. Meio vesga e bêbada de sono, Emma tateou o criado mudo atrás do celular e olhou as diversas notificações que tinham chegado, algumas recebidas de madrugada e outras instantâneas. Não conseguia ler muito bem todas e nem conseguia prestar atenção. No entanto, ao olhar o nome de Adam em diversas delas, abriu um sorriso esquisito e ligou para ele, colocando o telefone no ouvido enquanto fechava os olhos de novo.

Os sons da chamada foram ficando cada vez mais distantes enquanto ela adormecia mais uma vez. “Agreste?”, a voz rouca e calma dele adentrou a chamada, ela porém não ouviu para poder lhe responder, “Agreste, está aí?”.

Abrindo os grandes olhos verde-neon, Plagg flutuou preguiçosamente até o telefone de Emma tentando entender o que estava acontecendo e o impedindo de dormir. “Emma, amor, está tudo bem?”, ele ouviu Adam dizer do outro lado da linha, o tom de voz agora um pouco preocupado. O kwami bufou, desligou a chamada e aproveitou para desativar a conexão wifi do celular com suas patas pequenas de kwami. Depois, ainda sonolento, voltou e se esparramou no travesseiro, adormecendo.

 

Com a mão na porta do quarto de Emma, Marinette deu uma última olhada em sua primogênita desmaiada de sono e o fiel escudeiro do queijo ao seu lado. Estava aliviada por eles voltarem a salvo de madrugada e estarem tirando tempo para descansar depois de terem tido o que aparentemente foi uma noite muito produtiva. Bunnix não havia lhe dado informações muito precisas, porém a pediu por uma mensagem rápida que reunisse o esquadrão para mais uma reunião. Em uma só viagem, elas haviam recolhido informações suficientes para que pudessem tecer um plano de infiltração e intervenção nos eventos passados.

A solução estava vindo mais rápido do que ela havia pensado que iria. E isso era muito bom. Mais um motivo para se sentir aliviada, menos um problema para se preocupar – especialmente naquele momento em que um intitulado “Nadja Chamack” resolvera montar acampamento entre os demais problemas.

Fechando a porta com cuidado, ela soltou um suspiro enquanto encarava uma Tikki contemplativa. “Não vai acordá-los para almoçar?”, a kwami perguntou.

Marinette negou com a cabeça. “Eles precisam dormir. Viagens no tempo conseguem ser pior do que mudança de fuso horário”, respondeu, “Depois eles comem”.

 

Verificando se havia mensagens novas de Emma pela vigésima vez, Adam fechou os olhos por alguns segundos. “Ela está bem”, “Nada demais aconteceu”, “Ela não respondeu as mensagens porque está ocupada ou porque o celular não funciona no passado”, “Tia Alix está cuidando bem dela, mantendo-a segura” eram parte do mantra que ele recitava para si mesmo. Um mantra que serviria para ajudá-lo a se manter paciente e otimista com relação ao fato de sua futura-quase-próxima namorada estar participando de uma missão que tinha muito potencial para ser fatal. E de não estar nem recebendo as mensagens que ele estava lhe enviando desde que ela o ligara e não o respondera naquela manhã.

Essas frases travavam uma briga em sua cabeça com cenas e pensamentos catastróficos sobre coisas que poderiam ter dado errado nas viagens ao tempo. Cenas e pensamentos que geralmente giravam em torno de Biston descobrindo o plano do esquadrão e indo atrás dela e de Bunnix e que sempre terminavam em sua Agreste gravemente machucada ou até mesmo morta.

Para a agonia e preocupação de Adam, as fatalidades estavam ganhando.

E ele estava começando a acreditar nelas.

Com os olhos ainda fechados, ele passou as mãos pelos cabelos cor de areia, que pela primeira vez em muito tempo estavam soltos, enquanto sua cabeça descansava na parede atrás do banco em que estava sentado. Estava alheio ao que acontecia ao seu redor, como há muito tempo não fazia. A ausência de Emma estava tirando sua energia e paz e o que as pessoas de sua escola estavam falando e fazendo durante o horário de almoço não era uma melhor opção para se prestar atenção.

Não quando todo mundo estava fofocando novamente sobre sua família.

Ele odiava isso. E estava passando a odiar Nadja Chamack na mesma intensidade.

Ao seu lado, Fleur, Gaël e Ambre estavam dando voz às insatisfações e reclamações internas dele, felizmente deixando-o quieto em seu canto, muito embora estranhassem o fato de o melhor amigo estar mais calado do que o costume. Ao contrário do restante do refeitório, a mesa deles era a mais silenciosa e quieta, devido à natureza e ao conteúdo da conversa que eles estavam tendo. Ninguém poderia ouvi-los ou mais catástrofes aconteceriam sem que eles pudessem remediar.

“Eu. Só. Queria. Que. Eles. Parassem”, Ambre resmungou pausadamente formando um bico nos lábios logo após, “Eles acham que isso tudo é brincadeira, que é um jogo pra descobrir quem os heróis são, que as identidades são motivo de fofoca. Quem eles acham que são?”.

“Está em todo lugar. É o povo da escola, os jornais, as revistas de fofoca. E tudo por causa daquela sem noção e inútil da Nadja Chamack!”, Fleur adicionou abaixando sua cabeça e passando a mão na lata de refrigerante ainda cheia na frente dela, “Não é justo com a tia Mari. Ela já está com a corda no pescoço pra tentar deter esse cara e essa ridícula ainda coloca mais spotlight em cima dela ao insinuar que ela é a Ladybug?”.

“E... não se esqueça de ter discursado aos montes sobre ‘o quão grossa, arrogante e esnobe a CEO do Império Agreste’ é”, a pequena morena lembrou, fazendo uma voz fina e irritante ao mencionar o que a jornalista havia dito, “É a tia Marinette... eu nunca a vi fazendo algo pelo menos parecido com isso. Como ela pôde inventar essas mentiras só para prejudicá-la?”.

Após se calar, ela bufou e olhou para sua pizza intacta, já não sentindo tanta fome como estava quando comprou. Ambre empurrou o prato de plástico na direção de Gaël que parecia também afastado da realidade e mergulhado em seja lá o que ele estava fazendo no celular.

“Gaël? Quer minha pizza? Perdi a fome”, ela disse com um suspiro.

“Beleza”, ele respondeu estendendo a mão e pegando o pedaço para colocar metade na boca. Depois de mastigar e engolir, o moreno olhou os três amigos com um olhar concentrado, feroz e cheio de raiva, “O problema, mulheres da minha vida, é que a Nadja não exatamente mentiu. Ela mostrou aquele vídeo, lembra? Lembra o quanto tia Mari estava agressiva e realmente a destratando naquelas cenas?”.

“Sim, mas está claro que foi uma montagem. Aquela rapariga não mentiu, mas distorceu a verdade. Na reportagem, disse que tinha ido ao hospital visitar tio Adrien para entrevistá-lo, assegurar que ele estava bem e falar pra ele que todos estavam torcendo pela sua recuperação. E então, descreveu tia Mari como um monstro que os impediu de visitá-lo e mostrou o vídeo para provar seu ponto de vista. Precisamos questionar até que ponto ela está falando a verdade e o que realmente aconteceu”, Fleur interviu espelhando a mesma raiva e ferocidade do irmão gêmeo.

“Eu concordo”, Adam se pronunciou murmurando. Se desencostando da parede, ele colocou os cotovelos em cima da mesa e passou a mão pelos cabelos mais uma vez, bagunçando os fios médios. “A gente conhece tia Mari”, continuou em um tom cansado, “Ela nunca faria isso sem motivo ou por futilidade. Ela pode ser dura, mas não assim do nada”. E empurrando sua lata de suco na direção de Gaël, também cheia e intocada, ele completou: “Vá fundo, cara”.

O moreno ajeitou os óculos no rosto e piscou para o amigo. “Obrigada”, disse pegando a lata e dando um gole, “O problema, homem da minha vida, é que nós conhecemos tia Mari. Paris, não. E eles só a veem como a talentosa designer, sucessora de Gabriel Agreste e esposa de seu filho. Eles não enxergam tia Mari como nós”.

“Foi por isso que Nadja se aproveitou da situação, inclusive”, Ambre continuou encolhendo os ombros de raiva e decepção, “Ela chegou na tia Mari em um momento difícil porque tio Adrien está no hospital e a fez surtar com ela, gravando tudo e fazendo Paris acreditar que ela é um monstro”.

“E o pior... levando todo mundo a suspeitar que ela é a Ladybug e com isso, manchando a reputação dela como heroína. Essa era a última coisa que poderia acontecer numa situação como essa”, Adam adicionou inclinando-se para se aproximar mais dos três e abaixando ainda mais o tom de voz, a face ainda cansada, porém séria, “Com as identidades de alguns reveladas e esses escândalos envolvendo Ladybug, a confiança de Paris no esquadrão está ameaçada e isso pode gerar palco para Biston fazer mais merda”.

Fleur passou as mãos em seu rosto, preocupação e impaciência evidentes em sua atitude. “Isso está saindo ainda mais fora de controle...”, ela comentou encarando os amigos um tanto desiludida.

“Vocês não têm notícias dos planos do esquadrão para acabar com isso? Pela urgência da situação, eles devem estar agindo rápido”, Ambre questionou roendo uma de suas unhas.

Adam se recordou imediatamente de Emma e da missão que ela possivelmente estava fazendo naquele exato momento. No entanto, ao invés de abrir a boca para contar o que ela havia lhe dito, apenas deu de ombros. Aquela não era uma informação dele para compartilhar com os outros. Sua Agreste havia confiado esse segredo somente a ele e os heróis estavam contando com a confidencialidade; quanto menos pessoas estivessem sabendo dos movimentos do esquadrão, melhor.

Ambre olhou os demais amigos com interesse e expectativa, arqueando uma sobrancelha. Gaël e Fleur também encararam o loiro, incertos quanto a responder à pergunta e debater sobre o assunto, visto que eles também estavam cientes dos passos que os heróis estavam dando e ainda planejavam dar.

“Melhor encerrarmos esse assunto por aqui. Do jeito que nossos queridos colegas de escola estão interessados em nossas vidas, não me surpreende alguém estar escutando para liberar mais conteúdo para fofocas”, Adam se pronunciou em um tom sarcástico enquanto olhava de esguelha os arredores da mesa onde estavam sentados.

“É verdade”, Fleur concordou com um suspiro, “Desculpe, Am”.

A pequena morena balançou a mão indicando para deixar para lá. “Está tudo bem”, disse fechando os olhos brevemente, “O mano está certo. É perigoso demais ficar falando sobre essas coisas em público”.

Dando a última mordida na fatia de pizza, Gaël amassou a lata de suco com a mão na mesa, um ato de raiva. “Cara, eu odeio isso. Ter que ficar medindo palavras porque as pessoas não sabem cuidar das próprias vidas!”, ele desabafou ao terminar de mastigar, contrariado.

Os quatro ficaram em silêncio durante alguns segundos na mesa, cada um perdido em seus próprios pensamentos e refletindo sobre o que haviam acabado de conversar.

Fleur foi aquela a quebrá-lo: “Adam, tem novidades de Emma?”.

Abrindo um sorriso pequeno e cansado para a morena, ele balançou a cabeça. No entanto, se endireitando e tomando uma decisão de agir ao invés de ficar sentado esperando, ele respondeu: “Não, mas quer saber? Vou tentar saber sobre agora e te falo!”, e se levantou da cadeira.

“Vai fazer o que, mano?”, Ambre perguntou observando-o sacar o celular do bolso. Gaël seguiu o olhar dela e também o assistiu com interesse.

O loiro balançou o celular na mão. “Já que Emma não responde nossas mensagens, vou ligar para tia Mari”, informou com um sorriso mais largo se concentrando na tela e procurando o número na lista de contatos.

 

Na casa dos Dupain-Agreste, Alya levou um tempo para destrancar a porta após falar no interfone com um dos dois seguranças que guardavam e vigiavam o portão de entrada. Assim que a abriu, viu uma cabeleira loira adentrar a sala de estar como um furacão de energia e revolta.

“As coisas estão tão complicadas que foi realmente necessário contratar aqueles dois brutamontes lá fora?”, Chloé Bourgeois questionou, já se sentindo em casa ao jogar sua bolsa no sofá e encarar a heroína da ilusão com as mãos na cintura.

“Chloé”, Alya reconheceu sua presença com um sorriso, “Fiquei surpresa quando os brutamontes, como você diz, me falaram que era você quem estava à porta. Eu pensei que estava em Nova York”.

A loira assentiu, tirando uma mão da cintura e passando no cabelo. “Eu estava. Mas depois de saber do acidente do Adrikins e do que a cópia barata de Hawkmoth estava fazendo, eu acelerei todos os meus compromissos para voltar para cá o mais rápido possível. Eu imagino que Adrien ainda esteja no hospital, mas como estão as demais coisas? Cadê a Marinette? E os gatinhos?”, ela respondeu franzindo o cenho.

“As coisas estão saindo fora de controle, para ser honesta”, a morena suspirou e deixou seus ombros caírem, mostrando o quanto estava cansada, “E para além de Biston, a imprensa e os próprios parisienses não estão tornando as coisas mais fáceis. Não sei se ficou sabendo, mas Nadja Chamack...”.

“Ah, eu sei o que aquela desocupada fez”, Chloé a interrompeu agitando as mãos e a cabeça de um jeito esnobe e cheio de raiva, como só ela sabia fazer, “Em cada canto das redes que você vai, estão falando sobre esse assunto. E já que eu sei muito bem do que Marinette Dupain-Agreste é capaz e não é capaz de fazer, só pude deduzir que foi uma armação daquela jornalista de quinta para colocar ainda mais fogo no parquinho”.

“Eu concordo”, Alya a respondeu com um aceno de cabeça, “Mas não é como se as pessoas soubessem desses detalhes. Você deve ter visto o que as pessoas estão falando nas redes. Eles não estão pegando leve com a Mari. Um monte de mensagens negativas, críticas, reprovações... Nunca pensei que minha amiga pudesse ser cancelada. E nada tira da cabeça dela de que a culpa não é dela...”

Chloé assentiu ainda com o cenho franzido. O fogo nos olhos azuis se abrandou o suficiente para mostrar preocupação e tristeza. “Onde ela está? Como está?”, perguntou com o tom surpreendentemente mais calmo e baixo.

O estado emocional caótico de Marinette era motivo suficiente para fazer ambas baixarem a guarda e prestarem total atenção no cuidado e bem-estar dela.

“Na cozinha, fazendo canard à l’orange para o almoço. Segundo ela, receitas complexas tiram a cabeça dela dos problemas e fazem ela relaxar um pouco”, a morena informou abraçando seu próprio torço com os braços, “Deixei Tikki com ela. A companhia dela consegue ser mais tranquilizadora do que a minha. Inclusive, vai almoçar conosco?”.

Chloé assentiu: “Nem pensar que eu irei deixar vocês lidarem com essa situação sozinhas. O restante do esquadrão foi informado?”.

“Foi sim. Todos concordaram que qualquer plano que traçarmos está de bom tamanho. Vim almoçar aqui com esse intuito, para falar a verdade”, Alya respondeu antes de chamar Trixx e pedir que ele fosse à cozinha dizer a Marinette que Chloé chegou e que ela decidiu ficar para o almoço.

Nesse meio tempo de acomodação, a heroína da devoção tirou Póllen da bolsa e a ofereceu algumas frutas e cookies que estavam à disposição de Trixx. A jornalista guiou as duas para a sala de jantar e elas se sentaram à mesa.

Ajeitando os óculos, Alya retomou o assunto: “Esse golpe da Nadja e o tratamento de Paris com Marinette não necessariamente a derrubou, Chloé, mas se esse problema não for neutralizado com rapidez, tem o potencial de acabar com todos nós a longo prazo. Chegou a assistir os vídeos recentes do Nathan Dubois? Com teorizações simples, ele associou Ladybug à Marinette e jogou isso na internet para o mundo saber. Não vai demorar para todos descobrirem quem são o restante dos heróis. Nós temos que fazer isso parar e provar de algum modo que essas teorias estão erradas e faze-los duvidar que todos do esquadrão são amigos dos heróis já revelados”, finalizou explicando seu raciocínio de maneira rápida e frenética, tamanho seu nervosismo.

Chloé assentiu, passando a mão pelos cabelos mais uma vez. “Você tem razão”, ela suspirou antes de continuar, “Se deixarmos essas teorizações acontecerem sem interferência, a cópia barata do Hawkmoth nem vai precisar continuar com qualquer que seja o plano dele... nós já estaremos arruinados”.

Soltando murmúrios de concordância, Alya sacou o celular do bolso do casaco e começou a digitar rapidamente. Seus lábios e vinco das sobrancelhas estavam fechados de concentração, os olhos passando com agilidade pela tela.

“Qual o seu plano?”, a loira questionou arqueando uma sobrancelha e a assistindo.

Nesse momento, Trixx flutuava de volta junto à sua portadora trazendo as notícias de que a senhora da casa já sabia da presença de Chloé e de Póllen e que logo ela e Tikki iriam se juntar aos quatro na sala de jantar com o almoço. Convidando a kwami da devoção, Trixx se sentou na mesa e se pôs a observar as duas humanas conversando.

“Por mais que eu e você tenhamos assistido os vídeos, quero propor que assistamos novamente para coletar dados mais precisos e analisar o que eles usaram para acusar Marinette em ambos os casos”, a outra explicou, após agradecer a seu kwami pelo favor realizado, girando o celular na horizontal e mostrando a ela.

“Ah é verdade, né. Nadja está pensando em processá-la por violência moral e difamação”, Chloé relembrou, torcendo o nariz e jogando o cabelo para o lado, “Que ela nunca mais cruze o meu caminho, porque se não quem estará respondendo a um processo serei eu e por agressão física”.

Alya soltou uma risada baixa, por não conseguir dar créditos às respostas rápidas de Chloé, antes de iniciar o primeiro vídeo. Era um que continha cortes da edição naquela manhã do jornal Actualités et Café, um dos jornais matinais que mais tinha audiência em Paris.  “No dia 20 de setembro, ontem, por volta de uma hora da tarde, a jornalista Nadja Chamack fora brutalmente destratada e agredida verbalmente pela CEO e principal estilista da empresa de design ‘Agreste’, madame Marinette Agreste. Em entrevista com um de nossos repórteres, madame Chamack pediu para não ser gravada por temer a demasiada exposição, porém relatou que havia comparecido ao hospital no início do horário de visitas para tentar uma chance de conversar com monsieur Adrien Agreste que continua hospitalizado devido ao acidente que sofrera na última segunda-feira, dia 19. A jornalista nos confessou que intencionava saber de detalhes da recuperação e do bem-estar de não só um dos ex-modelos mais queridos de Paris, como também um dos mais amados e adorados heróis, Chat Noir, como fora revelado também no dia 19, pela tarde. Contou, então, que ao invés de ser enviada ao quarto de monsieur Agreste, fora recebida pela madame Marinette Agreste que a impediu violentamente de vê-lo e desconsiderou sua presença, destratando-a e utilizando de histórias pessoais que ambas compartilhavam para agredi-la e chantageá-la”, a apresentadora Lola Angélle, que Alya conhecia muito bem, começou a narrar os fatos com sua voz imparcial, muito embora o texto não partilhasse da mesma característica.

“Isso é errado em tantos níveis”, Chloé juntou as mãos em frente à boca, a respiração acelerada pela raiva, assim que a morena fez a primeira pausa no vídeo.

“Fato”, Alya assentiu segurando o celular com firmeza, “Marinette me contou todos os detalhes do que aconteceu com Nadja e essas descrições não batem com a versão dela. Na verdade, essa aparente entrevista que ela deu parece somente uma extensão das boas intenções que Nadja relatou ter quando conversou com a Mari. Ela distorceu tudo que aconteceu de modo que ela ficasse como a vítima da situação e todos se voltassem contra nossa amiga”.  

Testemunhas que estavam no local disseram que a estilista avançou em direção à jornalista, iniciando um discurso permeado por sarcasmo e finalizando-o com insultos e ameaças. Relataram também que madame Chamack não mostrou sinais de agressividade ou de retorno à essas ameaças, mantendo-se calada durante todo o tempo e incapaz de se defender, pois a primeira não lhe dava espaço de fala”, a apresentadora continuou quando Alya despausou o vídeo, “A seguir, mostraremos um vídeo que comprova os relatos das testemunhas e as acusações contra madame Agreste. O vídeo foi gravado pelos próprios colegas de trabalho da jornalista que estavam no local enquanto ela pedia à estilista que concedesse uma entrevista com seu marido”.

“Okay, aqui vamos à nossa principal prova”, Alya sussurrou para si mesma, embora Chloé estivesse muito consciente do ela estava falando e curiosa sobre o que a amiga jornalista iria analisar e deduzir.

Àquela altura, Trixx e Póllen haviam desistido da atitude passiva que haviam tomado na conversa e flutuavam próximo às cabeças das portadoras, também assistindo ao vídeo e compartilhando das feições preocupadas e raivosas delas.

E então, as cenas gravadas no hospital começaram a ser transmitidas, mostrando a sala de espera de paredes brancas e cheia de cadeiras e Marinette e Nadja em cena junto à outras pessoas, famílias que claramente estavam concentradas em seus próprios motivos e sofrimentos para se importar com a jornalista plantada com câmeras ao seu redor.

Com seus olhos de águia e raciocínio afiado, Alya tentava acompanhar o que estava sendo dito e como eles haviam editado o vídeo de modo a favorecer mais Nadja do que Marinette. Chloé, por sua vez, dividia sua atenção em observá-la e assistir o vídeo, de fato, assim como Póllen. Trixx parecia tão entretido e analítico quanto sua portadora, os olhos de raposa também concentrados nas cenas, tentando dar suporte e ser útil o máximo que lhe cabia.

“Aqui, conseguem ver?”, a morena chamou a atenção dos demais três presentes, apontando para os movimentos de câmera do vídeo com o dedo, “No início, as imagens se concentravam nas duas, nas palavras e reações de ambas; porém quando Nadja começou a insistir muito para conversar com Adrien e Marinette começou a ser mais incisiva, a câmera passou a mostrar somente as expressões da Nadja. É uma tática para quem está assistindo notar, assistir e ter mais empatia por ela que está fingindo se sentir humilhada e assustada, atacada”.

“É realmente algo muito dramático”, Chloé comentou, o cenho franzido, “Quase como se fosse a edição de um episódio de série”.

Alya assentiu, os olhos brilhando pela satisfação de ter percebido as maquinações de Nadja Chamack. Trixx flutuou até o local à frente das duas humanas e kwami: “A voz da Marinette também parece estar mais alta. Como a câmera não está mais em seu rosto, não há como perceber que na verdade ela estava falando mais baixo do que o vídeo dá a entender. Eu acho que eles também aumentaram o tom de voz dela e a editaram para parecer mais agressiva e abusadora”, ele explicou com sua voz fina e rabo de raposa agitado.

“Muito bem pensado, Trixx”, Alya o elogiou abrindo um sorriso sincero para o kwami, “Essas edições foram o suficiente para pintar a imagem de uma Marinette arrogante, insensível e irresponsável”.

“Os exatos motivos pelos quais estão a acusando e cancelando nas redes sociais”, Chloé complementou com um suspiro exasperado, um vinco de estresse se formando entre suas sobrancelhas, “Todo mundo está apoiando Nadja na ação de processá-la e arrancar muito dinheiro dela”.

Póllen, que até então havia se posicionado de modo observador e silencioso, se colocou à frente dos três também para participar ativamente da discussão. “Isso é muito sério, meus caros”, ela disse com seu modo tímido e contido, “Se aquele vídeo que as mademoiselles mencionaram, aquele sobre o homem que teorizou sobre madame Marinette ser Ladybug, tiver influenciado toda Paris a acreditar nisso... então, há um grande risco de eles estarem dizendo também que Ladybug é arrogante, insensível e irresponsável. E isso se recai sobre nós com grande peso. Porque todo o esquadrão pode ser descreditado pela mídia como não merecedores de confiança e habilidade de proteção. Paris pode cair em desgraça!”.

“E o pânico dos parisienses e as medidas drásticas que as autoridades podem tomar construirão um palco ainda melhor e mais tentador para Biston. Ele pode se aproveitar da situação para revelar mais identidades e humilhar os heróis... a diferença é que nesse ponto, ele de fato terá apoio porque as nossas reputações já estarão manchadas e todos vão querer nos ver cair”, Alya continuou a linha de raciocínio, tentando ao máximo não deixar que o desespero e o terror dessas realizações a atrapalhassem a encontrar uma solução lógica.

Foi então que Chloé se levantou bruscamente da cadeira e bateu as mãos com força na mesa. “Sabe o que?”, ela começou com uma expressão irada no rosto e as sobrancelhas muito franzidas, o vinco muito maior, “Isso é ridículo, totalmente ridículo. Como uma coisa tão pequena pode gerar consequências tão graves? Como um momento de vulnerabilidade de uma pessoa pode fazer os outros se mobilizarem a agir dessa maneira tão cruel?... Eu sei que eu já fiz muitas coisas cruéis, mas isso passa de todos os limites possíveis. Nós não merecemos isso. Só estamos tentando ajudar essa cidade ridícula. Por trinta anos foi isso que fizemos... como eles podem ser tão absurdos?”.

Nos últimos segundos, ela já estava gritando. Alya continuou olhando para ela com sua expressão indiferente, aquela que sempre usava quando precisava ser mais racional do que emocional – o que era o caso. Póllen, por sua vez, se aproximou mais dela e pediu com a voz suplicante: “Se acalme, minha rainha, por favor. A fúria não é nossa melhor aliada hoje, embora eu saiba o quão frustrada se sinta”.

“Frustrada?”, Chloé continuou a gritar, os olhos se enchendo de lágrimas de raiva, “Eu estou irada! O que eu quero fazer agora é fazê-los nos ouvir, nem que seja a base da força, nem que seja preciso colocar fogo nessa cidade”.

“O que não vai nos ajudar em nada, Chloé”, Marinette disse assim que adentrou a sala com uma travessa em suas mãos e Tikki fielmente flutuando ao seu lado.

Nenhuma das duas humanas nem dos dois kwamis haviam percebido que elas estavam ali. E nenhum deles falou mais nada após o pronunciamento, deixando que o silêncio ocupasse o cômodo.

Não havia mais espaço para a raiva de Chloé, as teorizações de Alya e Trixx e nem o cuidado de Póllen. Só o que havia era a preocupação com a recém-chegada à sala.

Eles nunca haviam visto Marinette daquele jeito antes, nem quando ela havia lidado com o papel de guardiã sendo completamente inexperiente e equilibrando mil afazeres ao mesmo tempo anos atrás. Ao lado dela, Tikki mostrava o mesmo desespero que o deles no rosto sempre gentil, porém acima de tudo se encontrava nela uma sensação esmagadora de impotência.

Havia um aspecto de exaustão no rosto da líder do esquadrão, muito mais profundo do que o que já estava ali desde que Biston atacara pela primeira vez. Era algo a mais do que só as olheiras abaixo dos olhos e os ombros caídos: era uma aura de desânimo e desistência que ela emanava, um sentimento de desesperança que estava estampado em seu rosto.

Eles temiam que ela não fosse mais capaz de suportar aquela situação.

Com lágrimas ainda escorrendo pelo seu rosto, Chloé tentou calar seus gritos internos muito embora suas mãos ainda estivessem fechadas em punhos em cima da mesa. Sua atenção estava na figura de Marinette caminhando até onde eles estavam com duas travessas equilibradas nos braços. A loira a observou enquanto ela organizava a mesa para o almoço, colocando os pratos principais no centro e ajeitando lentamente cada pedaço do jogo americano que Tikki a entregava.

Quando ela finalizou e fez menção de voltar à cozinha para pegar os pratos, Alya se levantou e a impediu: “Não, amiga, eu termino de arrumar e nos sirvo. Sente e descanse um pouco”, ela sugeriu abrindo um sorriso gentil, muito embora sua expressão ainda estampasse a calma racional que ela lutava para manter.

Marinette a olhou, arqueando uma sobrancelha. “Alya, eu posso...”, começou.

A morena negou com a cabeça a calando. “Você já fez demais”, assegurou antes de sair da sala de jantar e ir em direção à cozinha. Trixx a seguiu flutuando com velocidade.

A mulher de cabelos preto-azulados soltou um suspiro e sentou na cadeira à frente de Chloé. Tikki também se permitiu descansar e socializar, avistando Póllen e abrindo um sorriso para a companheira kwami enquanto flutuava até ela.

Franzindo os lábios, Chloé desfez os punhos e levou sua mão até a de Marinette para chamar-lhe a atenção e passar conforto pelo calor do toque. “Como você está?”, perguntou quando ela reagiu.

Ela começou a responder com um dar de ombros. “Eu... não sei... eu só consigo sentir cansaço...”, e murmurou com um tom de voz fraco e baixo sem conseguir olhar a loira nos olhos.

A amiga assentiu com a cabeça a assistindo. Estampado no seu rosto, estava o desespero e a mesma raiva que a fez perder a paciência mais cedo.

Após uma pausa, a primeira continuou ao conseguir subir seu olhar para a outra, embora ainda falasse baixo: “Eu não consegui me manter longe das notícias... As notificações estão me deixando louca. É um bip maluco... os comentários nas redes triplicaram. Parece que alguém começou mais rumores com meu nome, pegando notícias de anos atrás... pronunciamentos, posts... mais fatos me conectando à Ladybug, mais afrontas sobre coisas que fiz...”, e fez outra pausa.

Com as mãos um pouco trêmulas, passou-as no rosto e tentou pentear levemente o cabelo com os dedos. Chloé viu o exato momento em que ela os puxou levemente do couro cabeludo.

Arregalou os olhos, alarmada.

“Okay, isso claramente não está te fazendo bem”, ela assinalou agarrando sua bolsa e sacando seu celular em um movimento só, “O quarto de hóspedes ainda está vago?” e perguntou digitando um número rapidamente nas teclas.

Franzindo o cenho, a líder assentiu a observando enquanto respirava fundo.

Balançando a cabeça em concordância também, ela questionou: “Okay. Se importa se eu ficar aqui por um tempo?”. Marinette levou poucos segundos para entender o que ela a havia pedido e arregalou os olhos. A que perguntou, no entanto, não esperou uma resposta dela e colocou o celular no ouvido.

“Chloé, o que está fazendo?”, perguntou com um tom de voz um pouco mais firme e alto. Isso chamou a atenção de Póllen e Tikki que estavam conversando baixinho próximo às frutas e cookies. As duas kwamis se aproximaram para entender e acompanhar a conversa das duas.

“Você precisa de apoio aqui. Adrikins está no hospital, Alya tem uma família para cuidar e Emma está encabeçando uma missão com Alix. Você tem problemas até demais e duas crianças. Eu estou disponível. E não aceito ‘não’ como resposta”, explicou de maneira rápida e direta, em um só fôlego. A líder abriu a boca para protestar, no entanto a loira levantou um dedo para interrompê-la e começou a falar na ligação. “Alô, Jean-Jacques?”, chamou o mordomo que até àquele tempo trabalhava para ela e cujo nome ela finalmente aprendeu.

Enquanto ela fazia os pedidos e acertava os detalhes com ele no telefone, Marinette olhava incrédula para Alya e Trixx que entrava na sala de jantar com os pratos, taças e uma garrafa de vinho. A morena murmurou um breve “o que?” para ela enquanto a de cabelos preto-azulados gesticulava freneticamente para Chloé. Quando os objetos foram colocados em cima da mesa, o kwami da ilusão se aproximou e começou a arrumar as taças junto às peças do jogo americano, uma por vez, e a heroína passou a servir o canard à l’orange perfeitamente preparado aos demais.

“Chloé, você não vai ficar aqui”, Marinette se pronunciou com um tom mais firme e mais alto assim que a loira desligou a ligação, “Eu sou perfeitamente capaz de cuidar da minha casa e dos meus problemas, obrigada”.

“Quanto mais cedo você aceitar, melhor será para você, Marinette Dupain-Agreste”, ela disse pegando a taça cheia de vinho branco que Alya havia servido e saboreando um gole logo após, “Sei que tivemos uma relação meio estranha de amizade ao longo dos anos, mas se não for por isso, considere que eu não vou deixar a esposa nem os filhos do meu Adrikins desamparados”.

Aparentando mais enérgica por causa da raiva e da incredulidade, ela rebateu mais uma vez: “De onde você tirou que estamos desamparados? Estamos muito bem. Eu estou emocionalmente abalada e os problemas estão triplicados, mas tudo está bem por aqui”.

“Marinette, eu não acho que seja disso que Chloé esteja falando”, Alya se pronunciou terminando de servir a si mesma e sentando à mesa. Ela olhou a amiga nos olhos, ainda com a mesma calma e racionalidade de antes. “Chloé não está questionando sua habilidade de cuidar dos seus filhos agora. Ela está oferecendo ajuda, do jeito dela, visto que você está muito afogada nos problemas. E sinceramente? Eu acho que é uma boa ideia”.

“Eu também acho, Marinette”, Tikki entrou na conversa concordando com a morena, “Você poderia ter mais tempo para tirar uns cochilos a tarde, fazer algo para tirar sua cabeça dos problemas, cozinhar mais, talvez. Ela pode ajudar os meninos com as coisas do dia-a-dia para aliviar um pouco suas responsabilidades. Temporariamente. Só até essas complicações com Biston e Paris acabarem”, e finalizou com seu tom de voz mais convincente e doce.

A heroína da sorte encarou sua kwami e suas amigas de maneira dura por uns instantes, como se para provar que embora quebrada, ela ainda podia se manter firme.

Soltando um suspiro alto e passando as mãos no rosto, no entanto, ela concordou com uma balançada de cabeça e um “okay, se vocês acham que é o melhor a se fazer”. Depois, se voltou para a comida em seu prato e levou o garfo à boca, contrariada.

“Ótimo”, Chloé abriu seu sorriso convencido e estendeu a mão por cima da mesa, “Agora me dê seu celular. Comigo aqui, você terá contato direto com o esquadrão e com Adrikins. Não precisa ficar mexendo nas redes sociais e lendo o que aqueles imprestáveis estão falando por aí”.

Torcendo ainda mais seu rosto abatido e cansado, Marinette estendeu seu celular para a amiga loira que arrogantemente guardou em sua bolsa. As duas voltaram para suas comidas e taças de vinho, almoçando em silêncio por alguns minutos.

Alya foi quem o quebrou, abandonando seus talheres por um instante e olhando as duas e os kwamis com seriedade. “Eu pensei em um plano e sei como acabar com os rumores de que Ladybug e você são a mesma pessoa, Mari. Não vai resolver todos os nossos problemas e nem acabar com as fofocas girando em torno do seu nome, mas irá manter intacta a confiança dos parisienses em nós como heróis e a reputação do esquadrão, que é o que precisamos agora!”, ela explicou do jeito direto e pragmático dela, as sobrancelhas franzidas por causa do raciocínio lógico, “Uma vez que Biston estiver derrotado, podemos nos concentrar nos problemas mundanos, como o possível processo que Nadja está sendo encorajada a jogar nas suas costas”.

“Nada que não podemos resolver, inclusive”, Chloé adicionou rapidamente ampliando seu sorriso arrogante e movimentando o garfo em sua mão.

Marinette respirou fundo mais uma vez, encarando as duas com uma determinação maior no olhar. “Vamos ouvir seu plano, então, Alya”, assentiu.

Isso fez a morena se sentir mais segura e mais confiante em seu plano.

“Okay. Primeiro de tudo: precisaremos do meu miraculous e o plano será colocado em prática quando formos buscar Adrien no hospital daqui a dois dias”, ela anunciou.

 

No pátio da Lycée Moilère, Adam se afastou da mesa onde estava sentado com Fleur, Gaël e Ambre para fazer sua tão esperada ligação. Já tinha o celular na orelha quando caminhou alguns passos para longe, a ansiedade martelando com as batidas rápidas do coração em seu ouvido. Havia um pouco de esperança misturada à sensação agonizante. E ela crescia a cada vez que a ligação chamava e a cada segundo que passava sem que ela atendesse o telefone.

Nunca ficara tão animado para conversar com sua futura-quase-próxima sogra.

“Oi, Adam”, tia Marinette atendeu e embora ele estivesse esperando ansiosamente, levou um leve susto ao ouvi-la.

A voz dela estava tão cansada e triste, em um tom arrastado e baixo, que ele sentiu um aperto no peito e a sensação de agonia se expandir da falta de notícias de Emma para o estado emocional da mãe dela. Ele ficou levemente estático com o celular no ouvido, confuso com a onda esmagadora de sentimentos que aconteciam dentro de si.

“Como está, querido?”, o loiro a ouviu dizer de novo, o convidando a falar visto que ele havia ficado calado na chamada por segundos já.

E muito embora quisesse muito saber de sua Agreste de imediato, ele decidiu que era melhor conversar e dar suporte emocional à sua tia que claramente necessitava mais do que ele. “Tia Mari!”, Adam conseguiu dizer, “Está tudo bem por aqui. Mas eu quero realmente saber como a senhora está. Eu... eu fiquei sabendo do que aconteceu...”, e adicionou tentando utilizar o tom mais gentil que conseguia.

Ela soltou um som similar a uma risada baixa, que saiu meio amarga: “Pra ser sincera, eu quero saber quem não ficou sabendo... Está em todo lugar...”, e fez uma pausa, “Mas obrigada por ligar e por se preocupar, Adam. Você é um doce”, comentando o que pareceu um genuíno agradecimento devido ao jeito meigo de suas palavras, “Eu estou de pé e tentando me manter inteira, pra ser muito honesta com você. Acho que tanta gentileza da sua parte merece minha honestidade e não o normal ‘está tudo bem’”.

Foi a vez do loiro soltar uma risada baixa, mesmo que ela saísse um pouco envergonhada e fina demais. A situação era cômica, mas os sentimentos que esmagavam seu coração ao vê-la naquele estado não eram.

Era como se a agonia e ansiedade vencessem a batalha em sua cabeça, finalmente.

“Tia Mari, eu sinto tanto pelo que esteja acontecendo. Eu queria que houvesse uma forma de isso nunca ter acontecido ou de eu conseguir fazer mais para ajudar... E não só pelo que a Nadja fez”, Adam confessou em um tom de voz mais baixo, sem perceber muito bem o que estava de fato fazendo.

“Emma te contou, não é?”.

E então, ele sentiu seu corpo gelar.

Adam, em sua confusão, havia acabado de dar a entender à líder do esquadrão que sua futura-quase-próxima namorada e responsável pela missão principal contra Biston havia contado a ele sobre o plano dos heróis... algo bem confidencial.

Ele abriu a boca para falar e saiu alguns ruídos, mas nenhuma palavra propriamente.

Tia Marinette soltou mais uma risadinha. “Está tudo bem, Adam. Eu já esperava que ela fizesse isso”, ela o tranquilizou. A heroína também parecia saber o quão mortificado e desorganizado ele se encontrava naquele momento. “Emma tem um tipo de coragem que eu não tinha na idade dela. Ela sabe que, embora você não consiga ajudar diretamente, vocês dois juntos são mais fortes do que ela sozinha”, e finalizou, sem alterar o tom de voz em nenhum momento e sem demonstrar a raiva ou a decepção esperadas.

O loiro teve de tomar alguns segundos para compreender o que estava acontecendo.

Com uma transparente incredulidade, ele conseguiu falar, finalmente: “Okay, eu realmente não estava esperando isso... Nem sei o que!... Acho que... Obrigada por levar isso numa boa, tia Mari. Eu realmente estou surpreso. Não tinha planos de... enfim... já aconteceu, então não estenderei as justificativas”.

Era a primeira vez em muito tempo que ele havia gaguejado tanto ou tido tanta dificuldade em expressar o que estava pensando e sentindo.

“O irônico é como você tomou o cuidado de abaixar o tom de voz para que ninguém da sua escola pudesse ouvir, mas mesmo assim contou para alguém que não poderia descobrir”, ela comentou fazendo graça da situação, o que contradizia seu tom de voz arrastado e baixo quase apático, “Está realmente tudo bem, Adam. Inclusive, eu agradeço por manter a discrição”.

“Disponha, eu acho... tia Mari”, ele soltou uma risada sem graça, passando as mãos pelo cabelo enquanto olhava ao seu redor.

Respirou fundo silenciosamente uma e duas vezes.

Por mais que a situação tenha se tornado levemente vergonhosa, Adam sentiu uma onda de alívio toma-lo, tanto pela ausência de punições por parte de sua tia Mari quanto por ouvir sua risada através do telefone.

Ela estava quebrada e arrasada, mas bem o suficiente para fazer piadinhas.

Voltando sua atenção ao verdadeiro motivo que o fez telefoná-la em primeiro lugar, ele perguntou com um suspiro: “Falando na Emma, como... como ela está?”

“Ela está bem”, ela respondeu e aquela informação por si só o fez sorrir abertamente, “Está dormindo. Ficou o dia todo e a noite toda na missão, chegou hoje de manhãzinha e está exausta”, a mulher contou com tranquilidade.

Seu coração deu saltos.

A onda de alívio se tornou um maremoto de felicidade e esperança.

Ela estava bem. Sua Agreste estava bem, são e salva em seu quarto, dormindo tranquilamente e descansando da provável parte difícil e arriscada que realizou da missão.

Adam não conseguia tirar o sorriso idiota do rosto.

“Faz todo sentido ela estar dormindo. Estou tentando falar com ela desde cedo... e nada”, comentou também achando que fazia todo sentido ela não ter respondido a ligação quando ela mesma o ligara, provavelmente tendo adormecido enquanto esperava ele atender, “Eu estou muito aliviado que ela esteja bem, de verdade. Estava bem preocupado”.

“Eu imagino. Deve ter sido um dia tortuoso para você sem ela aí e fazendo o que ela está fazendo”, Marinette continuou, “Eu... eu não consegui dormir muito bem essa noite... também preocupada”.

Adam engoliu em seco, um pouco da sensação de preocupação e agonia retornando. E acima de tudo: confusão. Os acontecimentos daquele dia estavam fazendo-o sentir uma montanha russa dentro de si; era como se ele não soubesse mais como regular suas emoções.

Cada notícia ou cada palavra dela o acalentava ao mesmo tempo que o derrubava.

“Tia Mari... a senhora não merece o que está acontecendo”, começou, “Eu só quero que saiba que... não só eu, mas Fleur, Gaël e Ambre... todos nós estamos com vocês. Sei que é meio óbvio por sermos quem somos, mas suporte nunca é demais, mesmo que pequeno como o que podemos dar”.

“Você realmente é um garoto muito doce, Adam”, Marinette repetiu, “Obrigada. Sei que você acha que é pequeno, mas nessa altura do campeonato, esse suporte é imenso”.

“Disponha, de novo”, ele repetiu reabrindo o sorriso idiota. Não aguentando ter de esperar mais para ver sua Agreste, no entanto, ele teve uma ideia: “A senhora se incomoda se eu aparecer aí mais tarde?”, pediu.

 

À noite, Alix estacionou o carro na frente da Tom & Sabine Boulangerie Patisserie e se manteve olhando para frente ao invés de sair imediatamente do banco do motorista. Observava sem interesse particular os demais carros estacionados e o movimento de parisienses na calçada sob as luzes da cidade. Aquela era uma tentativa de fazer com que seus pensamentos se direcionassem para outros focos que não fossem os eventos que descobriu em suas olhadas no tempo desde que a missão começou e que tinham de ser mantidos em segredo a todo custo.

Segredos que, se descobertos, poderiam gerar catástrofes.

Precisava clarear sua cabeça, nem que fosse com o cotidiano despreocupado dos civis que ela e o esquadrão tentavam incessantemente proteger.

A mulher de cabelos cor-de-rosa sentiu sua mão ser envolvida por uma outra quente e reconfortante. Os dedos dela se entrelaçaram com os dele, trazendo a atenção dela de volta para o carro e para o presente.

Quando olhou para Luka que, para sua surpresa, ainda estava sentado no banco do passageiro ao lado dela, ela apertou mais a mão dele na sua e abriu um leve sorriso.

“Preocupada?”, ele perguntou em seu tom gentil, “Estou te sentindo distante, talvez ainda dentro da toca do coelho?”.

O sorriso dela se alargou e se tornou um riso. “Algo assim”, respondeu o encarando, “As linhas do tempo que envolvem nossa situação atual são cheias de detalhes complicados e delicados. As coisinhas que vocês ainda não podem saber. Preciso mantê-las guardadas a sete chaves”.

O moreno assentiu, os olhos azuis dele presos nela e lhe passando o conforto necessário. “Quer que eu suba primeiro pra você ficar sozinha aqui mais um pouco, então?”, sugeriu.

Alix imediatamente balançou a cabeça, puxando mais as mãos dos dois entrelaçadas junto ao seu corpo. “Não, não”, verbalizou, “Te quero aqui, mesmo que eu não possa contar. Você é a minha âncora para me trazer de volta para o presente quando eu viajar demais entre as linhas do tempo, lembra?”.

“Como se fosse ontem...”, Luka respondeu com firmeza e seriedade. Ela sentiu seu coração bater mais forte frente à honestidade das palavras dele. E para expressar o agrado, ela ergueu as mãos entrelaçadas de ambos e beijou as costas das dele. “Aquela é uma noite que eu não esquecerei tão cedo”, ele confessou.

A noite do terceiro encontro oficial deles, um ano atrás. A noite que eles compreenderam que todos os passos que deram em suas vidas favoreceram que eles se aproximassem e ficassem juntos.

Lembrando-se das conversas daquela noite e olhando seu namorado nos olhos, Alix sentiu todo o seu interior esquentar e sentiu-se relaxar dentro da bolha que ela e Luka criaram inintencionalmente. Como que para completar o momento, ela o assistiu se aproximar dela e beijar o canto dos lábios dela. Em meio à quentura, a de cabelos cor-de-rosa sentiu um arrepio percorrer sua nuca e ela respondeu ao convite dele beijando os lábios dele com calma, mas também com intensidade.

“Então”, o moreno sussurrou ao se separarem, embora estivessem próximos. Ele tinha um sorriso largo no rosto e os olhos estavam fechados, um estado não muito diferente do dela. “Já está pronta para subir?”, perguntou.

Alix assentiu antes de puxá-lo novamente para um último beijo.

 

À porta, Luka e Alix foram recebidos por uma Marinette mais calma, mais descansada e com um aspecto melhor no rosto. Ela os cumprimentou com um largo sorriso ansioso e vasculhou o corredor atrás de ambos com os olhos. Queria ter certeza de que ninguém estava ali e de que eles não haviam sido seguidos.

“Tudo bem? O caminho até aqui foi tranquilo?”, ela deu voz às suas preocupações, apertando o avental que estava vestindo em um sinal de ansiedade.

O moreno assentiu com a cabeça enquanto que a de cabelos cor-de-rosa respondia com palavras, do jeito sarcástico de sempre: “Tudo okay, Bug. Só almas inocentes na rua”. E complementando, ele quem adicionou: “Ficamos um pouco dentro do carro antes de subir, nada suspeito aconteceu nesse meio tempo”.

Marinette deixou os ombros caírem, se desarmando um pouco das neuras. Respirou fundo enquanto os deixava entrar no apartamento. Quando Luka passou por ela, soltou a mão de Alix e puxou a de cabelos preto-azulados para um abraço quente e apertado. A mulher reagiu com surpresa nos primeiros segundos, porém logo o abraçou de volta, se permitindo sugar da tranquilidade infinita que o amigo sempre emanava.

“Estou feliz que você está melhor, mais disposta”, ele sussurrou próximo ao ouvido dela, soltando um suspiro um tanto agonizado ao falar, “Quando Chloé me contou do seu estado mais cedo e Adam chegou da escola me contando da conversa que vocês tiveram por telefone, eu fiquei muito preocupado. Sei que você está passando por algo insuportável e que é difícil se manter de pé, mas... Mari, eu só estou feliz por te ver bem”.

Ao escutar, ela o apertou mais contra seu corpo pequeno, lutando para que as lágrimas não caíssem e ela não se entregasse ao choro desenfreado que o abraço de Luka a convidava a fazer. Sabia que se se entregasse, não havia volta. E naquela noite, ela precisava estar inteira para liderar a reunião e continuar lutando.

À alguns passos dos dois, Alix abraçou a si própria enquanto assistia de camarote Marinette soltar algumas lágrimas que lutava para não derramar. Ela simplesmente sabia o quanto a amiga estava sofrendo para evitar um colapso emocional interno nos braços de Luka. Já havia presenciado cenas similares como aquela ao passar dos anos, embora a experiência não a livrasse da dor e agonia em ter de vê-la sofrer.

Naquele momento, a heroína da evolução se lembrou novamente das coisas que sabia e que guardava a sete chaves para que ninguém soubesse do que se tratava. E mais uma vez lembrou a si mesma, enquanto mantinha seus olhos em Marinette e em Luka, que estava fazendo a coisa certa ao manter as informações em segredo até que elas pudessem ser reveladas.


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Notas finais do capítulo

Alguns avisos, gente: Eu criei um Instagram para lançar novidades e coisas sobre minhas histórias. Não há muitos posts porque ainda estou tentando criar e descobrir posts legais hehe O user é @jiyunosakura. Vocês podem conversar comigo por lá também!
Outra coisa: Quarta temporada de Miraculous está sendo lançada. Eu estou acompanhando os episódios. Porém, essa história não vai acompanhar as novas informações que estamos recebendo com os novos acontecimentos do desenho. Um porque eu planejei tudo que acontece aqui me baseando com as três temporadas somente, nem os especiais nem a quarta temporada foram base para a criação dessa história. Dois porque seria dar MAJOR spoilers para os leitores e quero que todos tenham a oportunidade de assistir e descobrir por si próprios. É isso que eu queria que vocês soubessem.
Mais uma coisa: Chloé aqui é parte do esquadrão, amiga confiável e fiel de todos e teve seu momento de redenção ao longo dos anos junto aos heróis. NADA do que ela está fazendo na Quarta temporada ela fez no passado dessa história. Vocês vão entender melhor nos próximos capítulos.
Antes da despedida e do glossário, deixando o link aqui do spin-off de Agraine para que vocês saibam melhor como esse casal começou: https://fanfiction.com.br/historia/797582/Des_Harmonia/ .
UM BEIJO! Me deixem saber o que estão achando nos comentários. Nos vemos!

Glossário:
“Adrikins” é o apelido que Chloé dá a Adrien no desenho. Em Português, é algo como “Adrienzinho”.
“Canard à l’orange” é uma receita francesa de pato ao molho de laranja.
“Actualités et Café” é o nome de um jornal matinal fictício que se chama “Atualidades e Café”.
“Lycée Moilère” é o nome de uma escola de ensino médio que existe de verdade em Paris.
“Tom & Sabine Boulangerie Patisserie” é o nome da padaria que os pais da Marinette, Tom Dupain e Sabine Cheng, possuem no desenho.



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