A Marca da Borboleta escrita por JiyuNoSakura


Capítulo 11
2044, 21 de setembro. 20hrs às 22hrs


Notas iniciais do capítulo

Oioi, meus miraculers. Como estão?
Eu sei, eu sei. Prometi no capítulo passado que voltaria mais cedo e acabei por demorando ainda mais do que a última vez. Vida aconteceu e eu passei por uma fase de muito desânimo com essa fanfic e com o próprio desenho, devido aos acontecimentos da quarta temporada e como personagens que eu amo muito estão sendo deixados de lado e outros estão sendo destruídos. MAS essa semana eu arranjei um punhado de forças e ânimo e consegui finalizar o capítulo 11 que estava 80% pronto já há algumas semanas. Está literalmente saindo do forno. Acabei de editar e revisá-lo por completo e vim aqui postar para vocês.
Alguns avisos habituais: na capa do capítulo hoje temos Gaël Césaire-Lahiffe, gêmea da Fleur e filho da Alya e do Nino. Nos próximos capítulos teremos os demais personagens originais meus. Lembrando: eles foram criados em um site que eu deixarei o link aqui: https://picrew.me/image_maker/315844 . Estou deixando claro que as artes não são minhas e que são fruto desse site que coloquei aqui ♥
No mais, obrigada a todos que estão lendo e que ainda não desistiram de acompanhar, gostar e me dar feedbacks sobre essa fanfic ♥
Deixo vocês com o capítulo! Glossário e avisos nas notas finais!



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Na sacada do antigo quarto de sua mãe, Emma segurava seu celular com força enquanto brevemente observava o céu azul escuro e iluminado pelos postes de luz e estrelas de Paris. Lá embaixo, ao nível da rua onde cidadãos e carros transitavam, parecia uma realidade tão distante vista de cima, como ela estava tendo a oportunidade de ver. Era uma visão pacífica e bonita, daquelas que poderiam ser gastos vários minutos admirando. Ela considerou sua mãe sortuda por ter passado toda sua infância e adolescência tendo a oportunidade de se refugiar do mundo naquela sacada.

A jovem olhou para a tela de seu celular novamente, enrolando um pouco mais antes de mandar uma mensagem para seu pai. Estava adiando até o último segundo o momento de vê-lo, não porque não queria verificar como estava uma das pessoas que mais amava no universo, mas porque estava receosa do que iria encontrar quando de fato visse seu estado.

Estava em um misto de animação e ansiedade, tais emoções fervendo seu sangue.

Não queria ver seu pai quebrado. Sabia que iria quebra-la também, pedaço a pedaço até que não sobrasse mais nada na qual ela pudesse se sustentar.

“Minette, corta logo essa enrolação!”, Plagg flutuou até a frente de seu rosto, fitando-a com os grandes olhos verde-claros semicerrados e as patas traseiras cruzadas, uma pose de arrogância e impaciência, “Você sabe que a saudade que sente dele é muito maior do que quaisquer que sejam os seus sentimentos dramáticos de adolescente!”

Com a atenção total em seu kwami, ela levantou uma das sobrancelhas em desafio. Sabia que ao contrário da indiferença e desvalorização que as palavras dele transpareciam, por dentro Plagg estava tão ansioso e animado para ver Adrien quanto ela. Afinal, era o parceiro de quase trinta anos e o portador dele de quem ela estava enrolando para ligar. O mesmo parceiro e portador que o ser negro vira ser quase assassinado por um akumatizado insano.

Emma conseguiu abrir um sorriso de canto, em meio à dor que ela sentia no peito, ainda sustentando seu olhar com o dele. “Tira essa fachada de durão, Plagg”, ela rebateu, “Eu consigo ver através dela, você sabe”.

E por dois meros segundos, ela viu a pose dele vacilar e os olhos grandes brilharem ao marejarem. O kwami da destruição imediatamente se escondeu nos cabelos dela, onde antes se situava, muito provavelmente tentando em vão esconder sua própria angústia.

Ouvindo o som de mensagem recebida em seu celular, ela viu o “okay” de seu pai na tela e imediatamente o chamou para uma ligação de vídeo.

Era naquele momento ou nunca.

“Plagg”, ela sussurrou, respirando fundo para aplacar a ansiedade, “Estou ligando. Sei que ele vai querer ver você”.

O kwami saiu do local em sua nuca e permaneceu flutuando no espaço abaixo do queixo dela, quase imperceptível em meio aos cabelos negro-azulados e a ausência de luz da noite. Sabendo que pela luz do celular seu pai conseguiria vê-lo, ela sorriu.

Então, quando os olhos verde-claros idênticos aos dela e o cabelo loiro despojado apareceram na tela, ela não aguentou. Lágrimas começaram a se derramar em peso pelos seus olhos e ela sentiu sua garganta ser sufocada e seu peito se comprimir.

Ele não estava quebrado.

Ele estava bem.

Em seu campo de visão, não havia um arranhão no rosto de seu pai ou um olho roxo, nem mesmo o imobilizador que sua mãe havia lhe dito que ele estava usando. Só havia as ataduras que envolviam seu braço quebrado e a camisola de hospital que ele tinha de usar. Porém, de resto, ele estava do mesmo jeito que ela se lembrava.

“Hey, minha princesa”, ela ouviu a voz dele preencher o silêncio da sacada e isso fê-la chorar ainda mais, “Que saudade eu estava de você. Nossa, você nem imagina o quanto eu fiquei triste quando você não veio me visitar com seus irmãos e sua mãe ontem”.

Ele estava bem. Seu pai estava conseguindo se movimentar e falar e estava bem.

Emma não estava chorando de agonia ou de ansiedade, era de alívio. Alívio por pelo menos ele, aquele que havia sido o primeiro alvo de Biston, estar bem e ter tido o menor dano de todos que foram atingidos.

“Pa-papai...”, ela conseguiu falar em um misto de admiração e saudade, a visão embaçada possibilitando-a enxergar somente o sorriso gentil que ele abriu.

“Não chora, princesa”, ele pediu, franzindo o cenho em um sinal de que sentia preocupação e tristeza por vê-la também triste, “Eu... eu prometo que tudo vai ficar bem. Eu vou me recuperar e isso não vai acontecer nunca mais. Nunca mais dou esse susto em vocês”.

“Papai, eu senti tanto sua falta. Foi horrível... eu, eu acho que se o senhor morresse, eu morreria também”, ela conseguiu falar de novo, dessa vez as palavras sendo proferidas sem muito esforço. Ela havia deixado essas emoções guardadas por muito tempo em seu peito, fossem pela força que ela tentava dar àqueles ao seu redor ou pelo foco exclusivo na missão. “Papai, eu te amo muito”, lhe disse, o peito explodindo em dor e alegria.

Pela tela do celular, Emma viu seu pai a acompanhar nas lágrimas. “Eu também te amo muito, minha princesinha, minha menininha”, ele proferiu, a voz entrecortada pelo embargo na garganta.

Os dois sorriram um para o outro, pai e filha envoltos em lágrimas e nas emoções do reencontro e na esperança de que tudo daria certo.

A jovem ouviu um som afinado e rouco e fungadas próximo a ela. Logo depois a voz manhosa de Plagg: “Vocês dois... por que fazem isso comigo?”, ele resmungou.

“Parceiro?”, Adrien o chamou, o tom embargado, porém surpreso em sua voz, “Você está chorando?”.

Emma franziu o cenho, concentrada nos momentos que viriam a seguir, o rosto molhado pelo choro e o nariz um pouco congestionado. Ela entendeu a incredulidade da pergunta do pai. Nunca havia visto o kwami negro chorar.

“Claro que não”, ele rebateu, limpando as lágrimas com as patinhas e virando o rosto, contrariado, “É que o odor maravilhoso do meu querido camembert chegou aos meus olhos e...”. E parou quando percebeu que Adrien e Emma não haviam falado nada com relação à mais uma das desculpas esfarrapadas que ele sempre dava.

Eles estavam em silêncio, o olhando enquanto esperavam que ele se recompusesse.

“Plagg, está tudo bem”, a jovem lhe disse com gentileza enquanto que seu ex-portador só assentiu com a cabeça.

O kwami da destruição os olhou, tomando mais dois segundos de silêncio para si. E deixando as lágrimas correrem livremente, ele flutuou para onde a luz do celular e dos pontos iluminava, encarando Adrien com os grandes olhos verde-claros.

“Garoto...”, ele disse abrindo um sorriso e deixando suas presas à mostra, “Eu estou muito feliz que você está bem”.

“E eu sinto muita falta de você e do seu queijo fedorento, parceiro”, o loiro respondeu, a voz ainda mais entrecortada pelo choro.

A de cabelos negro-azulados entregou-se às lágrimas novamente, os soluços chegando à sua garganta enquanto partilhava daquele momento com dois dos seres que amava com todo seu coração. Os três ficaram ali por mais alguns segundos aproveitando a companhia e a conexão que os mantinha unidos e em sintonia.

“Então, onde vocês estão?”, Adrien se pronunciou, o clima emotivo da conversa gradativamente se esvaindo à medida que ele falava, “O jantar com Tom e Sabine não está prestes a começar?”.

“Não. Eu te liguei quase uma hora antes. Estamos na sacada”, a filha respondeu, abrindo um sorriso sem graça e dando de ombros, “Queria falar com o senhor antes de ter de te dividir com o Esquadrão”.

O loiro soltou uma risada baixa e encarou a jovem, encantado. “No antigo quarto da sua mãe, né?”, perguntou e ela assentiu, “Ela e eu temos altas histórias dessa sacada”.

Emma comprimiu os lábios, fazendo uma careta. Ela se ajeitou melhor na espreguiçadeira em que estava sentada, secando as lágrimas que restavam em suas bochechas com a mão. “Santo queijo! Não me diga que vocês me fizeram aqui nesse lugar”, provocou, fingindo medo e nojo e arrancando uma gargalhada dele.

“Oh não, princesinha. Não foi aí”, ele confidenciou com calma na voz, “Foi em outro lugar, de outro jeito. Tudo que posso dizer é que Chat Noir estava ocupado naquele dia. Por que acha que você nasceu assim, tão viciada em adrenalina e incrível como o gato aqui?”.

Ela arregalou os olhos, sentindo suas bochechas ficarem quentes e vermelhas no mesmo instante. Pendurado à gola da camisa dela, Plagg revirou os olhos, soltando um grunhido. “Argh, garoto. Por que me fez lembrar disso?”, reclamou, “Essa conversa está ficando pior. Vocês dois... por que fazem isso comigo?”.

“Papai!”, ela também brigou, a voz ficando mais fina, “Não quero ouvir essa história. Eu estava brincando!”.

Adrien soltou mais uma gargalhada, cheia de satisfação e diversão. “Foi o que eu pensei!”, ele disse, enviando uma piscadela a ela no próximo segundo e mostrando que havia feito de propósito.

Emma ousou revirar seus olhos para seu pai. Ele apenas sorriu.

“Falando sério agora”, ele assumiu uma expressão fechada e concentrada no rosto, muito embora seus olhos continuassem vermelhos por causa do choro, “Eu queria ter tido essa conversa contigo mais cedo, mas... bom... eu estou preso a uma maca de hospital no momento e você tinha de agir rápido com sua tia. Não vou poder conversar com você do jeito que eu queria, porém tenho consciência de que minhas chances são limitadas e estamos correndo contra o tempo, então é desse jeito mesmo que conversaremos”, e sinalizou com a cabeça para que ela compreendesse o assunto secreto em suas palavras antes de finalizar: “princesa, como estão as coisas que você anda fazendo com Alix?”.

Esperta como era, a jovem entendeu no mesmo segundo, afinal ele havia passado metade da conversa se comunicando pelas mentirinhas que eles haviam combinado e escondendo os fatos reais, por proteção dos possíveis ouvidos invisíveis de dentro do hospital. E assentiu para que ele soubesse que ela estava em sintonia com o que ele estava dizendo.

Passando a mão em seu nariz ainda congestionado, ela deu de ombros, um pouco envergonhada. “Eu ainda estou aprendendo, papai”, respondeu abaixando o tom de voz para ajudar na discrição da conversa, “Cometi alguns erros, mas tia Alix diz que é normal e me apoia o tempo todo ao mesmo tempo que me larga nos lugares e praticamente diz ‘te vira, gatinha’”. E abriu o mesmo sorriso sem graça de antes: “Porém estamos avançando. Você vai saber melhor quando nos reunirmos para conversar daqui a pouco”.

Adrien assentiu, parecendo pensativo: “Isso é muito bom, princesa. É claro que você vai errar. Não tem como acertar sem cometer erros”, esclareceu em tom de conforto e isso aqueceu o coração dela, deixando-a mais leve. Ele continuou: “E... as coisas que você pode fazer, como está indo? Está conseguindo?”.

Mais confiante, ela abriu um sorriso de canto. “Bom, eu sou a filha do Chat Noir. Ter te acompanhado lutando e defendendo Paris durante anos não foi em vão”, começou e ele a espelhou, abrindo o típico sorriso do Chat Noir, “Eu estava bastante insegura no início, mas... percebi que é algo fácil e prático. Ainda não precisei usar, mas a super força e velocidade me permitiram dar a louca com Parkour pelos telhados e eu descobri que posso usar isso a meu favor quando for necessário”.

Ele assentiu novamente, sustentando o sorriso. Parecia satisfeito. “Você descobriu seus pontos fortes, isso é ótimo. Parkour pode ser um bom aliado mesmo, especialmente nesse trabalho. Outro bom aliado é o instrumento que você recebe. Explore os botões e suas funcionalidades; ele é bem versátil. E tome cuidado com sua principal ferramenta e as demais especialidades dela. Ela faz estragos irremediáveis”.

“O bastão e o cataclysm, eu sei. Ainda não explorei os cataclysmic disks e nem as catnails. Não tive oportunidades”, ela disse ainda de voz baixa, franzindo o cenho, “Eu tentarei dominá-los, papai...”.

“Não se preocupe. Acredito que terá muitas oportunidades. E o caminho é esse: quanto mais prática, maior sua habilidade”, Adrien confirmou se aconchegando na maca e soltando alguns grunhidos de dor. Fez menção de continuar a falar depois de alguns segundos e foi interrompido.

“Você não vai tentar, minette, você vai dominá-los”, Plagg se intrometeu na conversa encarando-a enquanto flutuava para sua frente. Depois, se voltou para Adrien e disse: “Isso é drama adolescente, garoto. Ela é fantástica. Ela nasceu uma gata e se tornou a melhor das gatas de rua. Você não precisa se preocupar”.

O loiro soltou uma risada baixa e assentiu. “Eu também acho, parceiro”, concordou, “E eu agradeço por estar a ensinando e a ajudando nessa jornada, quando eu não pude”.

O kwami continuou olhando para ele com seriedade. “Você não precisa agradecer, garoto. Não me custa nada e... eu também sou responsável por essa missão. Sem falar que você a ensinou bem a me tratar do jeito que devo ser tratado. Faço tudo por camembert, você sabe”, e finalizou sendo o Plagg de sempre.

“É claro”, o ex-portador riu novamente e se voltou para Emma: “Só reforçando o que ele disse: você tem capacidade para fazer isso, princesa. Eu confio e acredito em você. Queria ter feito isso de outro modo: ter te mostrado, ter te treinado ao invés de só ter te falado das possibilidades desse trabalho, mas...”.

“Eu sei, papai. E eu agradeço muito”, ela o interrompeu lhe enviando um sorriso gentil e de conforto, “Infelizmente as coisas nem sempre acontecem do jeito que a gente quer ou espera”.

Adrien parou e a encarou, não mais frustrado e sim maravilhado com o que havia acabado de ouvir. “Isso mesmo. Você está crescendo, princesa”, ele constatou semicerrando os olhos de admiração. Emma sustentou o olhar dele, sentindo suas bochechas ficarem vermelhas e quentes de novo ao sentir o orgulho de seu pai nela. “No fim, é só uma questão de seguir seus instintos. Reflexos, observação, análise da situação, resolução de problemas... esses são os pontos cruciais. Se agarre a eles e você vai conseguir. Se concentre no que está fazendo e nunca perca seu objetivo de vista, mas não deixe de se divertir no processo quando der”. E finalizou com uma piscadela.

A garota de cabelos negro-azulados assentiu, se sentindo mais confiante e energizada ao gravar as palavras do pai no peito e as considerar lições para a vida.

Ela havia sentido tanto a falta dele.

 

Enquanto descia as escadas para sair do antigo quarto de sua mãe e se dirigia à sala de estar, Emma se concentrou em respirar profundamente três vezes para disfarçar a sessão de choro que havia tido conversando com seu pai. Ela segurava o celular em pé de modo a permitir que Adrien acompanhasse todo o seu trajeto pela câmera frontal e quando chegasse aonde o esquadrão estava, conseguisse ver todo mundo.

Emaranhado em seus cabelos, Plagg notou sua perturbação e passou suas patinhas pelos fios da nuca dela, tentando passar conforto. Ela sorriu com a demonstração de preocupação do kwami que quase nunca se mostrava interessado nos demais.

Quando colocou os pés na sala de jantar, abriu um pequeno sorriso quando o grupo de dezoito heróis e kwamis ao todo a cumprimentaram. Max pediu que ela colocasse o celular em cima da mesa e Markov, o melhor amigo robô do herói, se aproximou se conectando ao celular de modo a transmitir a ligação de vídeo com Adrien em uma tela maior. Era uma alternativa mais prática e fácil na comunicação do grupo numeroso com o membro hospitalizado. Emma se sentou na cadeira entre Alix e sua mãe e esperou o pequeno robô finalizar seu trabalho, observando a todos.

O grupo imenso estava mergulhado em conversas paralelas e rodeado pelos quitutes do vovô Dupain, os kwamis especialmente pois pareciam ser movidos por doces e frutas.

Ali, ao lado de sua parceira de missão e da líder do esquadrão, a jovem de cabelos preto-azulados se sentiu verdadeiramente parte do grupo. Era um sentimento diferente do que ela havia sentido quando fora aceita pelos heróis para encabeçar a missão de reconhecimento noites atrás. Naquela reunião, ela sentiu que sua opinião e ideias foram valorizadas e que eram espertas o suficiente para chamar a atenção de todos eles. No entanto, ela os havia forçado a escutá-las depois de bisbilhotar e assistir tudo escondida. Mesmo que ela já tivesse recebido Plagg como seu kwami, não havia tido uma sensação de certeza de que poderia ser chamada de heroína.

E naquele momento, ela teve.

Sentada junto aos dez heróis, ela se sentiu parte do esquadrão. Não porque tinha um miraculous em formato de anel em seu dedo, mas porque havia sido chamada para participar, para estar ali com os demais e poder igualmente discutir e traçar estratégias em prol de retardar as ações de Biston e derrota-lo.

Emma sentiu orgulho de si mesma. E por isso, ela alargou seu sorriso.

Quando Markov criou uma tela maior e mais larga que abrigava o rosto de Adrien, ela assistiu seu pai notar e retribuir seu sorriso. Esse ato deu-lhe maior confiança e ela se sentiu grata, mesmo que ele nem fizesse ideia do que estava passando na cabeça dela.

“Bom, lanche pronto, todos presentes e satisfeitos... Está na hora de começarmos”, Marinette se pronunciou fazendo com que todas as conversas paralelas se encerrassem gradativamente. Depois, ela olhou para Alix e para Emma, dando a deixa para que uma das duas tomasse a palavra.

A heroína do tempo imediatamente se virou para a mais nova, abrindo um sorriso gentil nos lábios. “Gatinha, você se importa de eu começar?”, perguntou fazendo com que ela arregalasse os olhos. Em sua cabeça, não imaginava que faria o relatório oral da missão, de qualquer maneira. Sua tia pedir permissão a ela, a tratando como uma opção igualmente importante e capaz da tarefa a surpreendeu.

“N-não”, ela gaguejou levemente. E reunindo mais confiança e abrindo um sorriso pequeno, reforçou: “Está tudo bem!”.

“Obrigada, parceira”, Alix lhe enviou uma piscadela e voltou sua atenção para o restante do esquadrão, assumindo um tom sério.

Pelos dez minutos seguintes, a mulher de cabelos cor-de-rosa explicou a todos as investigação e discussões que ela e a jovem fizeram e o que elas descobriram. Falou sobre as missões de Emma em datas específicas dos espaços-tempo e sobre toda a linha de raciocínio que foi utilizada para vasculhar os demais, em busca de pistas. Indicou todos os suspeitos que teve e apontou uma como aquela que mais se encaixava nos requisitos e que teria motivação suficiente para dar vida à Biston: Lila Rossi.

Os demais membros do esquadrão ouviram calmamente o relatório oral da missão e esperaram até que Alix finalizasse e se calasse para emitirem qualquer comentário que fosse. No entanto, nenhum deles pôde nos dez primeiros segundos após a apresentação dela. Um silêncio se instalou entre os heróis e kwamis e eles apenas se entreolharam, a preocupação e inquietação evidente em seus rostos.

“Lila... Lila Rossi”, a primeira a quebra-lo foi Kagami, que mantinha seus braços cruzados e uma carranca em seu rosto. O nome daquela que sempre foi uma das suas inimigas declaradas foi pronunciado com um tom de descoberta e familiaridade, como se a heroína testasse o nome e como ele ficaria se fosse dito com raiva e amargura.

Longg estava ao seu lado, tentando passar o máximo de tempo possível próximo à sua portadora visto que eles estavam temporariamente separados. Póllen também flutuava ao lado dos dois e de Chloé, pronta para demonstrar suporte e ajudar se fosse necessário.

“Por que não estou surpresa?”, a loira se pronunciou logo após, soltando uma bufada de impaciência enquanto analisava suas unhas.

Assim que ela terminou de falar, uma rajada de cor azul rapidamente cortou a sala de jantar. Era Fluff voando em direção à mesa para pegar uma cenoura, na rapidez e loucura que só ele administrava e compreendia. No ato, acabou atravessando por dentro da mão de Kim que se estendia sobre os pratos também para pegar um quitute. O chinês se assustou levemente enquanto que os demais portadores nem deram atenção, acostumados demais à natureza imprevisível dos kwamis.

“Lila firmar uma parceria com Gabriel, maquinar contra nós junto a ele... Descobrir a identidade de Hawkmoth e chantageá-lo... E conseguir o que queria no final”, Alya destacou essas informações, soando incrédula e revoltada e olhando diretamente para Marinette, “Como nós não prevemos que isso estava acontecendo? Não era atoa que ela era a favorita de Hawkmoth e estava presente em literalmente todo lugar!”.

Marinette, por sua vez, soltou um suspiro e voltou seu olhar para Adrien na tela de Markov, abrindo um sorriso fraco. Seu esposo sustentou o olhar dela, os dois gastando alguns segundos em uma comunicação silenciosa que somente eles compreendiam.

“Meu pai nunca foi um suspeito, Alya”, foi o loiro quem respondeu, sua expressão adquirindo um tom cansado, “Falhamos nesse ponto”.

“Não, eu não acho que vocês falharam”, uma voz fina disse do centro da mesa. Flutuando para estar ao nível de visão de todos, Duusu franziu os lábios azuis e começou, mesmo que estivesse exalando insegurança e incerteza: “Mestre Nathalie...”.

“Lembre-se, Duusu, você pode chama-los pelos seus nomes”, Wayzz a interrompeu do local onde estava com os demais kwamis, “Monsieur Agreste e mademoiselle Sancoeur não eram mestres de ninguém”, e continuou relembrando-a gentilmente do que já haviam conversado muitas vezes.

A kwami das emoções assentiu rapidamente, sentindo seus olhos marejarem um pouco. “Digo, mademoiselle Sancoeur...”, ela retomou com a voz um pouco trêmula.

Escutando Duusu de seu lugar, Emma se remexeu na cadeira, desconfortável. Havia algo na maneira como a kwami se expressava que a lembrava exatamente de como ela se sentiu ao assistir como seu avô se portava de maneira fria e calculista com Lila Rossi. Aquela única cena a ensinou que o seu avô, que sempre a tratara com carinho e respeito, mesmo que seus atos sempre fossem polidos, tinha a capacidade de ser cruel e antipático.

E vendo a maneira que Duusu estava insegura ao meramente elevar a voz para falar a outros humanos a fez concluir que: se vovô Gabriel tratava um ser humano daquela forma, ele tinha completa capacidade de tratar seres não-humanos, como os kwamis, de maneira pior. Como se eles fossem inferiores. Como se eles fossem objetos. Como se eles não fossem dignos de respeito. E essa realização fê-la se sentir muito mais do que só desconfortável.

Ela estava agoniada e com raiva. Como ele pôde trata-los assim? Esses seres com quem ela convive desde recém-nascida e que sempre a fizeram tão bem, que sempre a divertiram e a ensinaram tanto.

Do centro da sala, Duusu continuou com o que queria dizer, mais decidida, enquanto Emma prestava atenção em como as mãozinhas de kwami dela tremiam: “...costumava fazer de tudo para cobrir os rastros das ações de Hawmoth e Mayura de modo a nunca deixar pistas de suas verdadeiras identidades. Essas eram as ordens do Mestre Ga... digo, monsieur Agreste. Essa mademoiselle Rossi parece ser bastante perigosa e astuta. Não haviam maneiras de ela descobrir quem eles eram, a não ser que procurasse nos locais corretos”.

Quando a kwami das emoções se calou e voltou flutuando para onde Wayzz e os demais estavam, a jovem ergueu sua mão para o topo da sua cabeça e acariciou a cabeça de Plagg. Ela sentiu o ronronar dele de resposta vibrar em seu couro cabeludo e sorriu.

Naquele momento, ela prometeu para si mesma que nunca o desprezaria e nunca o faria se sentir menos importante do que é. Mesmo que ela nunca tenha feito isso antes e mesmo que ele seja mais arrogante do que um ser de sua estatura deveria ser.

E essa promessa acalentou mais a agonia em seu peito, permitindo que ela prestasse mais atenção na conversa que se seguia após a participação de Duusu.

“Significa, então, que ela estava de olho desde sempre. Ela nunca confiou no tio Gabriel”, Chloé deduziu se ajeitando em sua cadeira e cruzando as pernas. Ela estava com uma de suas sobrancelhas loiras arqueadas. “Isso é a cara da Lila. Não doeu nela passar a perna no tio Gabriel, mesmo depois de ela descobrir que ele era o vilão. Provavelmente porque ela também era e está sendo agora, ao que tudo indica”.

“Positivo”, Max disse logo após, ajeitando os óculos em seu rosto e digitando rapidamente no seu celular. Seu kwami, Kaalki, estava ao seu lado observando a todos com sua pose e ar soberano. “É um raciocínio lógico simples”, ele retomou, “Se ela agiu contra uma pessoa com quem tinha uma relação de parceria, há a possibilidade de agir contra aqueles que ela considera serem inimigos. Dadas todas as vezes em que Lila nos manipulou e foi cruel conosco, portanto, a probabilidade de que ela viesse a agir contra nós novamente é 87,54%”.

Ainda ligado ao celular de Emma, Markov continuou com sua voz robotizada: “Estou analisando todas as notícias desde que os ataques começaram. Ligando essas informações com o que mademoiselle Kubdel acabou de nos explicar, há poucas evidências que contradizem essa conclusão. Ademais, a natureza estratégica e manipulativa das ações de Biston correspondem à maneira que mademoiselle Rossi agia, igualmente. Eu diria que, de fato, há 90% de certeza de que ela seja Biston”.

“Ela foi realmente responsável por pelo menos um terço das akumatizações e foi alvo no outro um terço”, Nino lembrou observando Max e Markov com atenção e concordando.

Com as declarações e balançadas de cabeça em concordância de mais sete dos dezoito presentes, Emma fechou os olhos. Ela ainda estava agoniada com a sua resolução sobre o modo como seu avô tratava os kwamis e essa sensação absoluta de certeza que os discursos de todos exalavam a deixou pior. “Não! Se de fato não houvessem mais dúvidas, tia Alix teria soado menos incerta nas suas respostas quando elas conversaram. A investigação não pode ser restringida dessa maneira rápida à somente uma pessoa”, ela queria gritar para os companheiros.

Ao invés, decidiu por ser firme e razoável ao rebater, pelo bem da discussão lógica e amigável entre os integrantes: “Sim, mas ainda há os 10% de margem de erro. Ela é a principal suspeita, pois o número de provas favorece esse tipo de acusação, no entanto não sabemos com 100% de certeza de que a identidade por trás de Biston seja de Lila Rossi. Vamos seguir essa pista, porém peço que mantenhamos nossas possibilidades abertas”.

“Eu concordo”, Luka se pronunciou olhando para a jovem e assentindo, lhe dando crédito, “Biston pode ser qualquer um, até mesmo a pessoa que menos esperamos. Manter as possibilidades abertas é a melhor opção para um caminho com menos problemas. Não precisamos de mais, definitivamente”.

Max, Nino e Chloé assentiram em concordância, observando Emma discretamente com um brilho no olhar. Sass, Trixx, Duusuu e Wayzz também a cumprimentaram pela linha de raciocínio aberta e flexível, levantando as frutas e doces que comiam em sua direção como se a brindassem. Markov, por sua vez, se manteve calado, pois raramente se encontrava errado em seus cálculos e deduções. No entanto, como era treinado para conviver com humanos, sabia que refutá-los levaria a confusões e brigas, em sua maioria.

“Exato”, Emma ouviu Plagg cochichar acima de sua cabeça, em um tom manhoso, “Vocês têm de dar valor ao que minha minette diz”. Ela sentiu suas bochechas esquentarem, sabendo que havia ficado pelo menos um pouco vermelha com a demonstração de apoio de seu kwami. E esticando sua mão de novo, fez mais um carinho nele, mas dessa vez de agradecimento. Ele soltou grunhidos de satisfação como resposta.

“Okay, mas todos concordamos que é nas ações de Lila que devemos intervir”, Kagami resumiu em prol de acabar com a discussão que, na opinião dela, tornava o caráter da reunião menos prático e objetivo.

Longg assentiu olhando para sua portadora, sua calda de dragão se agitando pelo ar e a língua bifurcada saindo de sua boca enquanto ele falava: “Se caso acharmos pistas e provas de que outra pessoa seja Biston, fazemos mais missões de reconhecimento e investigação, mesmo se for necessário enviarmos mais pessoas ao passado”.

Os demais heróis e kwamis próximos assentiram, também concordando com as ideias sugeridas e reforçando a decisão de seguir primeiramente as provas que quase gritam “Lila Rossi é Biston”.

Emma quase suspirou de alívio ao ver sua tentativa de debate obter sucesso.

Naquele momento ela obteve também a confirmação de que seus sentimentos e instintos estavam corretos: o Esquadrão de fato respeitava suas opiniões e decisões, a reconhecendo. Segurando a sensação de vitória consigo, ela passou alguns segundos sorrindo igual uma boba e concentrada no calor em seu peito.

Balançando a cabeça em concordância e movendo o moicano em seus cabelos no processo, Kim apoiou seus cotovelos na mesa, mirando Alix. “E qual plano você maquinou nessa sua cabeça inteligente, algodão-doce?”, ele questionou abrindo um sorriso travesso ao dizer o apelido que ele a deu há anos, “Porque eu sei que você pensou em um”.

O comentário fez a atenção de todos migrarem novamente para Alix.

Ela soltou uma risada, dando de ombros. “Eu realmente pensei, cabeça de carne”, ela respondeu também utilizando o apelido que ela sempre lhe chamava em um tom divertido, “Meu plano é fazer nossa querida gatinha voltar ao passado duas semanas antes de Lila descobrir que Gabriel era Hawkmoth e ganhar a confiança dela ao se aproximar. Sendo amiga e acompanhando os passos de Lila, ela terá um poder maior de persuasão e até pode descobrir coisas importantes para nossa missão”.

O sorriso de Emma se fechou, a sensação de vitória desaparecendo em um instante. “O que?”, ela franziu o cenho se voltando para a tia, “É por isso que você me mandou para o dia que Lila chegou ao Françoise-Dupont? Porque você estava planejando me fazer conviver com ela e manipulá-la...?”

Mantendo o seu próprio sorriso travesso, Alix assentiu. “Você pensa rápido, gatinha”, a elogiou antes de confirmar a dedução dela, “Sim, eu precisava que você a observasse e a analisasse... sabe como é, para ter uma dica do que você iria enfrentar”.

A jovem de cabelos preto azulados sustentou os olhares que dirigia a ela, a agonia que sentia antes crescendo e se juntando à revolta. Não estava necessariamente com raiva e triste pelos atos de sua tia, porém sentia-se magoada pelas falhas de comunicação propositais e indignada pela impotência que elas proporcionavam.

Chloé, alheia à tensão que se instaurava entre as parceiras, soltou uma gargalhada sarcástica abrindo os braços em comemoração. “Oh wow”, ela suspirou, satisfeita e contenta, “Lila finalmente vai sofrer um pouco do próprio veneno”.

Ao lado dela, Kagami assentiu abrindo seu próprio sorriso, o sentimento de dever cumprido e de sucesso resplandecendo através dele. “Você, de fato, esperou isso por muito tempo, minha rainha”, Póllen comentou espelhando a satisfação de sua portadora e também da namorada dela.

Observando que Alix não se afetou por sua falta de concordância e pelo jeito que ela a estava encarando, Emma deu voz à sua revolta e indignação potenciadas pelo que sentiu em silêncio por seu avô minutos antes: “Por que você simplesmente não me contou, tia Alix?”, questionou com a voz baixa e afetada, “Eu teria tido uma noção do que fazer lá. Na verdade... você nunca me conta os detalhes do que tenho que fazer, nenhum roteiro... nada. Só o que é minimamente importante”.

A heroína da evolução devolveu a seriedade no olhar da parceira e deixou de sorrir por alguns instantes. Isso surpreendeu os demais, pois não estavam esperando um desentendimento, e os pôs em alerta do que poderia acontecer entre ambas. Ninguém se pronunciou durante o curto espaço de tempo, no entanto; nem Marinette ou Adrien, que instantaneamente se puseram muito preocupados com o trabalho de equipe entre elas e com o bem-estar de sua filha. O esquadrão como um todo optou por observar, agindo em sintonia por serem um grupo que praticamente pensava por si só.

Depois de segundos, a mulher de cabelos cor-de-rosa abriu a boca para responder, sendo interrompida no ato. “Ela é desse jeito, Emma”, Luka se pronunciou em seu lugar.

Conhecendo bem sua namorada, ele sabia que ela não teria escolha a não ser responder de maneira incompleta e vaga, como sempre. Afinal, sua responsabilidade com as leis do tempo determinava que seria assim e que não poderia ser diferente. Ele decidiu tornar o clima mais leve com um comentário divertido para que eles pudessem seguir em frente com a reunião e tratar dos assuntos que de fato importavam no momento.

Alix e Emma poderiam conversar e se resolver depois, quando estivessem sozinhas.

“Desde que se tornou a heroína da última chance, ela tem nos dito meias-verdades. Meu palpite é que ou ela gosta de nos ver sofrer ou acha que temos bola de cristal, como ela”, retomou com sua voz tranquila mesmo no momento da ironia.

“Há”, Max soltou o grunhido de concordância e sarcasmo logo após, “Eu nem preciso fazer contas para saber que essa é uma máxima verdade”.

“Isso é típico da algodão-doce”, Kim acompanhou o amigo, o gosto pela provocação dançando em seu rosto e voz.

Deixando de encarar a tia, Emma olhou em volta observando os demais cochicharem e soltarem risadas baixas acerca das memórias que o comentário de Luka trouxe. Ainda estava séria e indignada, porém deixou-se levar um pouco pelo ar de diversão e sarcasmo que foi instaurado. A expressão dela se suavizou quando ela voltou a olhar a parceira.

Percebendo o objetivo de Luka com suas palavras, Alix abriu um novo sorriso agradecendo-o com ele. Em seguida, levantou o dedo do meio para o namorado e ele soltou uma gargalhada, apertando sua coxa com a mão que mantinha ali. Ela mostrou o mesmo dedo também para Max e Kim, que haviam compactuado com o guitarrista nas provocações. Recebeu reviradas de olhos do de óculos e o dedo do meio do de moicano, fazendo todos rirem baixinho da criancice deles.

Se voltando para a jovem Agreste, ela levantou uma sobrancelha em uma expressão provocativa, ousando fazer graça da insatisfação da parceira: “Gatinha, você mesma disse: eu lhe conto o que é minimamente importante. Você não precisa saber de toda a história. No negócio da viagem do tempo, quanto menos sabermos, melhor”.

A de cabelos preto-azulados continuou a olhando. Embora ainda estivesse revoltada e indignada com a falta de informações e comunicação por parte da tia, ela assentiu dando-se por vencida naquele momento. Não queria usar o tempo da reunião para discutir assuntos delas que conseguiam ter um caráter pessoal. Tinham de ser práticos e rápidos quando todos estavam reunidos, já havia percebido. “Okay”, deu voz à sua decisão, “Mas conversaremos depois”.

Alix assentiu com muita seriedade fazendo Emma retribuir ao seu sorriso anterior. As duas estavam bem apesar dos desentendimentos – era isso que aquela troca de sorrisos representava.

“Muito bem”, Marinette retomou o controle da discussão, soltando um suspiro rápido de alívio e movendo os lábios de ansiedade, “Voltemos às estratégias da segunda parte da missão”.

 Nino assentiu abrindo a boca para opinar, até então se mantendo calado enquanto suas colegas resolviam suas diferenças, mesmo que mínimas. Atrás dele, Fluff passava em disparada com rapidez, voando de um lado para outro sem razão alguma. “Parece um bom plano, Alix. Só tenho uma pergunta: qual o objetivo de fazer Emma se infiltrar dessa forma?”, o herói da proteção questionou arqueando uma sobrancelha.

A de cabelos cor-de-rosa assentiu, considerando a pergunta. “O objetivo é fazer Lila se afastar de Gabriel e assim deixar de ser uma ameaça para nós”, respondeu instantaneamente.

Ao lado do esposo, Alya trocou olhares com Trixx que flutuava próximo a ela e se voltou para Alix com o cenho franzido. “Mas... Lila já agia contra nós antes de descobrir a identidade de Hawkmoth”, ela rebateu, “Não acho que afastá-la de Gabriel irá mudar alguma coisa nas coisas que ela faz. Por que agir justo nesse momento?”.

“Isso faz bastante sentido”, Kagami assentiu em concordância, seus braços ainda encostados nas costas da cadeira de Chloé, mantendo-a perto dela.

Mais uma vez, Alix respondeu com propriedade: “Porque Lila pediu algo em troca pelo silêncio de Gabriel e deixou de nos atormentar e ajudar Hawkmoth a aterrorizar Paris depois disso. Eu acho que se Emma a persuadir e lhe dar conselhos amigos de buscar o sucesso por outros caminhos, ela desistirá por contra própria”.

O raciocínio rápido de sua tia e parceira fez Emma encará-la longamente. Embora não lhe desse as informações completas do que havia pensado, a heroína da evolução havia analisado e pensado em todas as possibilidades e estratégias do plano que havia traçado. A confiança e admiração que ela tinha por Bunnix não haviam sido chacoalhadas pelo desentendimento que tiveram minutos antes, porém cresceram ao observar como a heroína lidava com os problemas que tinham para resolver em sua área de expertise.

Mesmo com a falta de comunicação, Alix lhe passava segurança e a fazia se sentir confiante de que conseguiriam consertar toda aquela situação insana e aparentemente incontrolável.

Com a resposta da colega, Adrien semicerrou os olhos, seguindo o raciocínio em sua cabeça e ficando surpreso com sua descoberta. “Porque aí ela já vai ter conseguido o que queria sem usar meu pai para conseguir”, deduziu complementando a fala de Alix.

“Exato”, a mulher confirmou, com tranquilidade.

Os demais concordaram com balançadas de cabeça e murmúrios, tanto heróis quanto kwamis, mostrando que compreenderam o plano e suas ramificações, objetivos e motivações. Marinette, por sua vez, tinha um aspecto concentrado e preocupado em seu rosto extremamente exausto.

A líder do esquadrão se voltou à sua filha. “Mas... Emma, você acha que conseguirá fazer isso?”, perguntou deixando que sua incerteza transparecesse pela voz.

A jovem levou um tempo para responder, refletindo sobre o que já fez e sobre o que tinha capacidade e habilidade de fazer. Lembrou-se da conversa com seu pai mais cedo, em como ele e Plagg tinham plena confiança de que ela conseguiria fazer tudo a que se propusesse, em como assinalaram que ela era uma gata de rua desde que nasceu. Isso e também como sua tia Alix, sua parceira de missão, parecia ter tudo sob controle ao relatar sobre plano que ela traçara e que era delas.

Essas coisas a fizeram encontrar as palavras para responder à mãe, com sinceridade: “E-eu... Não tenho como saber disso antes de tentar. E... bom... eu vou dar o melhor de mim”.

O sorriso que Adrien lhe direcionou após suas palavras a fez se sentir segura de que aquela era a posição que ela deveria tomar diante o fato de que não tinha experiência suficiente. O movimento de seu kwami em seus cabelos e o “é assim que se fala, minette” que ele disse também a asseguraram de que o suporte e a confiança das pessoas que lhe eram importantes ela tinha.

“Okay”, Marinette concordou após soltar um suspiro.

Em busca de segurança, ela se voltou mais uma vez à imagem de seu esposo na tela de Markov. Adrien lhe enviou seu sorriso reconfortante, o mesmo que havia acabado de passar à filha, para que a mulher de sua vida também se sentisse melhor com a ideia de que estava enviando sua primogênita para o perigo de uma missão arriscada e para a incerteza das viagens do tempo mais uma vez.

Para o estado já ansioso, exausto e agitado da mulher, imaginar sua filha sendo pega pelo vilão e sofrer nas mãos impiedosas dele era a cereja do bolo.

Com ar de satisfação e alheio aos dramas familiares dos Dupain-Agreste, Kim cruzou os braços atrás da cabeça e mirou Alix mais uma vez. “Como você vem sempre com os melhores planos, algodão-doce?”, ele questionou com o mesmo sorriso travesso, “E como sempre concordamos tão rápido contigo?”.

A de cabelos cor-de-rosa soltou uma risada baixa e revirou os olhos. Luka, ao seu lado, passou a mão por sua coxa mais uma vez como se a cumprimentasse por sua genialidade enquanto mantinha um sorriso próprio de satisfação nos lábios.

A resposta veio de um ser que nem todos estavam acostumados que falasse mais do que algumas palavras conexas. Fluff finalmente cessou seu hábito de voar por todos os lados e devorar cenouras se posicionando ao lado de Alix e falando com seriedade e certeza: “Porque ela é a única que tem acesso às linhas do tempo e sabe quais serão os planos que darão certo. Não podemos nos dar ao luxo de investirmos em estratégias que não estão de acordo com o que deveria acontecer. Estamos com falta de tempo!”.

A declaração do viajante do tempo pegou todos de surpresa, até mesmo os mais tranquilos e lógicos dos kwamis, como Sass, Wayzz e Tikki, e eles passaram os segundos seguintes atônitos e se entreolhando. Dito o que queria dizer, Fluff deu as costas a eles voltando a fazer o que queria fazer.

Como de costume, Kagami foi a primeira a quebrar o silêncio, o valor da praticidade a fazendo agir em prol do objetivo da reunião. Mantinha a expressão de satisfação no rosto desde o início da discussão e falava com todos em tom de decreto: “Está decidido, então: Emma voltará ao passado e vai tentar mudar o destino de Lila Rossi”, e depois se voltou para a jovem especificamente, a encarando com os penetrantes olhos castanhos, “Não vou mentir, essa vai ser uma tarefa difícil, garota”.

Emma assentiu, respirando fundo logo após.

“Okay. Temos o ‘o que fazer’ e falta o ‘como fazer’. Você tem algum plano em mente, Emma?”, Tikki iniciou um novo assunto da pauta de estratégias para a segunda etapa da missão. Seus olhos grandes e azuis a olhavam com interesse e com compaixão, sentimentos que tipicamente emanavam dela.

Ela sustentou o olhar da kwami sem saber muito bem como responder à sua pergunta. O fato é que ela não tinha o que dizer. Não havia conversado com sua tia antes sobre estratégias e nem sobre o espaço-tempo que viajaria para ao menos ter um “norte”. E à medida que os demais membros do esquadrão passaram a olhá-la esperando uma resposta, ela optou por ser honesta: “Bom, como vocês, é a primeira vez que estou ouvindo esse plano. Eu não cheguei a pensar no que fazer previamente. Tem como eu ter um tempo e nós discutirmos isso depois?”.

Imediatamente, Alix balançou a cabeça. “Não, gatinha. Porque eu e você partimos hoje a noite, de novo. Você está descansada, alimentada e nós já discutimos tudo que podíamos e deveríamos. Não temos um minuto a perder”, respondeu colocando a mão no ombro dela e a acariciando levemente.

Como resposta, a jovem assentiu. Luka, por sua vez, optou por oferecer respostas à pergunta e tomou a palavra: “Fazemos assim, então: Emma, passe a primeira parte da missão de intervenção observando Lila e tentando se aproximar dela. Tente saber o que ela gosta, o que vocês duas possam ter em comum ou escolha algo dela que você possa fingir que também gosta”, explicou com tranquilidade, “Faça tudo, mas ganhe a confiança dela. Dessa forma, você vai ter mais influência sobre ela”.

Alix assentiu, recolhendo a mão e fechando os olhos por alguns segundos. “Como eu disse: mentiras e manipulações são grande parte desse trabalho”, ela relembrou.

Ao redor da mesa, os demais membros do Esquadrão começaram a concordar com o guitarrista e com a artista, seja com murmúrios afirmativos ou balançadas positivas de cabeça. Ruídos foram levemente produzidos pelo cômodo. E pouco a pouco, eles seguiram o exemplo e começaram a dar ideias e alternativas para ajudar Emma a criar as estratégias quando estivesse frente à Lila.

Chloé, em específico, se endireitou e a olhou com uma expressão maliciosa: “Nem que você precise passar pano para as coisas que ela faz de mal, querida. E acredite: é só o que ela sabe fazer. As formigas da bunda dela nunca param”, disse.

Emma soltou uma risada baixa, assentindo.

Do seu lugar, Marinette soltou um suspiro. Estava mais do que nunca em concordância com as palavras de Chloé. E para além, elas a fizeram lembrar de algo importante para dizer à sua filha: “Ah e... eventualmente, quando você se juntar a ela, nós todos daremos às costas a você. Nós não conseguíamos nos misturar com ela naquela época. Então, não fique surpresa quando acabarmos te odiando também”.

A declaração de sua mãe fez a jovem olhá-la com as sobrancelhas arqueadas.

“Os fins justificarão os meios, princesa”, a voz de Adrien reverberou da tela que Markov continuava a transmitir. Ele tinha um timbre calmo ao falar com ela, para justamente passar-lhe tranquilidade e segurança mais uma vez naquela noite, “Não tenha medo de fazer o que precisa ser feito”, disse.

No entanto, dessa vez ele não conseguiu deixá-la mais segura do que enfrentaria.

“Bom, ao menos Ladybug e Chat Noir de 2019 estarão ao meu lado, correto?”, Emma se pronunciou dessa vez alternando o mesmo olhar inquisidor para seu pai e sua mãe, o cenho franzido, “Poderei contar com eles?”.

Ao invés de palavras, ambos deram a resposta de maneiras diferentes. Marinette soltou uma risada um pouco fina demais, claramente nervosa, e Adrien desviou o olhar, passando a mão do braço saudável na nuca. Emma franziu o cenho ainda mais, dessa vez mais como uma amostra de desconfiança do que de insegurança. Era óbvio que eles haviam lembrado de algo daquele ano. Algo que era relacionado aos seus alter-egos como super-heróis. Algo que os fizeram agir dessa maneira e silenciarem-se.

Foi Alix quem deu a resposta: “Eles são nossos aliados”, garantiu com os braços cruzados e tom firme, “Já sabem que eu apareço quando algo dá errado na linha do tempo. Pode contar com eles e se apresentar como Gatuna”.

Movendo o olhar atento para sua tia, a menina de cabelos preto-azulados assentiu e respirou profunda e longamente depois. No fim das contas, tia Kagami tinha razão. As palavras dela proferidas mais cedo se repetiram em sua cabeça: “Não vou mentir, essa vai ser uma tarefa difícil, garota”. Ela só havia se enganado sobre o tempo verbal: a tarefa já estava difícil, se é que algo poderia ter sido considerado fácil desde que Biston enviou os akumatizados atrás do Esquadrão.

“Só... tome cuidado”, ela ouviu Tikki dizer a ela de maneira doce e cuidadosa.

A voz de Wayzz, cheia de otimismo e segurança, veio logo em seguida: “E haja de acordo com o que conversamos aqui, mas também siga seus instintos e raciocínio próprio”.

E como que para finalizar o momento de motivação combinado dos kwamis, Plagg puxou um pouco seus cabelos para chamar a atenção dela e proferir com arrogância: “Você vai arrasar, minette! Eu não tenho dúvidas. E... eu estarei lá contigo. Nada vai dar errado”.

Olhando todos com gratidão em meio à incerteza, Emma sorriu.

 

Ao final da reunião, Adrien se despediu de todos e Markov encerrou a transmissão e a ligação de vídeo, retornando o celular à sua dona. Os demais, heróis e kwamis, então, se levantaram e começaram a auxiliar Tom e Sabine com a organização da sala de jantar e com a lavagem das louças. Em pouco tempo, as despedidas aconteceram e todos desceram as escadas para seguirem cada um seu caminho. Marinette, por sua vez, passou um par de minutos abraçada a Emma, como que para prolongar seus momentos com ela antes da nova missão, mesmo com Louis e Hugo adormecidos na limusine a esperando junto a Gorilla.

Uma vez que a mamãe-coruja a deixou, Alix também encerrou o momento de despedidas com Luka e se aproximou dela. Entretanto, ao chegar com um sorriso largo, foi recebida com uma expressão séria e tom de voz firme vindos da jovem heroína da destruição:

“Antes, precisamos conversar, tia Alix”.


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Notas finais do capítulo

UM BEIJO! Me deixem saber o que estão achando nos comentários. Nos vemos!
Antes do glossário, deixando o link aqui do spin-off de Agraine para que vocês saibam melhor como esse casal começou: https://fanfiction.com.br/historia/797582/Des_Harmonia/ . Uma hora o capítulo 2 virá, eu prometo.

Glossário:
“Françoise-Dupont” é o nome da escola fictícia de ensino fundamental e médio onde os personagens do desenho estudam.
“Lycée Moilère” é o nome de uma escola de ensino médio que existe de verdade em Paris.
“Parkour” é um esporte radical francês que utiliza as construções urbanas como obstáculos para se fazer uma corrida com manobras.
“Minette” significa “gatinha” em francês.
“Burrow” é o nome do poder da Bunnix de abrir o portal do tempo.
“Cataclysm” é o nome do poder principal do Plagg e, por consequência, do Chat Noir. Em português, foi traduzido para “cataclismo”.
“Cataclysmic disks” e “Catnails” são dois poderes derivados do cataclysm que eu criei para a Gatuna e para essa história. A explicação sobre o que eles fazem virá nos demais capítulos.



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