A Marca da Borboleta escrita por JiyuNoSakura


Capítulo 9
2016, 22 de novembro. 16:00 às 18:00.


Notas iniciais do capítulo

OI OI MIRACULERS.
Eu voltei! Tarde, mas voltei... Voltar por si só já é motivo de comemoração UHASAU
Enfim, eu acredito que não tenho muito a dizer sobre o capítulo de hoje. Só que é o primeiro contato da Emma com a Lila, a maior suspeita de ser o Biston, como vimos no capítulo passado. E com isso, encerramos a parte da missão de reconhecimento. A partir de agora, daremos início à segunda parte da missão, que é a de infiltração e intervenção no passado, e teremos a conclusão de coisas iniciadas em capítulos atrás. Prometo novidades nos próximos capítulos. Estamos concretamente no meio da história. ESSA É UMA NOTÍCIA LINDA ♥ Perseverei até aqui, meldels, VOU CHORAR.
Bom, acho que é isso. MAIS UM PONTO IMPORTANTE. Nos próximos capítulos, provavelmente nesse e nos próximos quatro, eu irei postar nos capítulos a aparência dos personagens originais que eu criei. Eles foram criados em um site que eu deixarei o link aqui: https://picrew.me/image_maker/315844 . Estou deixando claro que as artes não são minhas e que são fruto desse site que coloquei aqui ♥
O desse capítulo é nossa querida gatinha, Emma. P.S.: O cabelo dela não está fiel ao original porque é preto-azulado e essa cor não tem no site. Decidi deixar preto por ser mais fiel assim e não azul.
É isso. Vou deixar vocês com o capítulo :D
NÃO SEM ANTES DAR OS MEUS HUMILDES AGRADECIMENTOS a AFadaQTemIdeias que foi uma linda que me deu suporte e me deu feedbacks incríveis e a Linesahh ♥ Vocês nunca me abandonaram, gente. Obrigada :D



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Agindo rápido, Bunnix abriu um de seus portais e alcançou Gatuna antes que ela chamasse a atenção de Party Crasher e especialmente de Hawkmoth. Agarrou a gola de seu casaco e a puxou com agilidade e força para dentro do burrow fechando-o em seguida. Soltando-a, a mais jovem caiu de bunda no chão, passando os olhos por todos os lugares, loucamente confusa.

“Você não pode fazer esse tipo de coisa, gatinha”, ela falou com ar divertido estendendo a mão a fim de ajudá-la a se levantar.

Emma, por sua vez, não parecia apta a responder ou até mesmo brincar. Precisava de alguns segundos para se acostumar com a drástica mudança de ambiente. Ao perceber que estava dentro do burrow, sua postura corporal começou a relaxar aos pouquinhos, à medida em que ela se situava e a adrenalina e tensão iam embora. Com isso, também veio a compreensão do que quase fizera, de como quase tinha colocado tudo a perder se tivesse se intrometido nos acontecimentos do passado. Então, ela se deitou no chão invisível e passou suas duas mãos no rosto, soltando um grunhido de frustração.

Bunnix recolheu sua mão ao ver que a jovem não a pegaria. “Amei a mudança de visual”, retomou a fala atenta às reações da parceira. Sabia que ela ficaria mal com o que havia feito e com o fato de ter tido suas atitudes intervindas. Observar primeiro, nesse caso, era melhor do que correr o risco de acusar. Ela odiaria a possibilidade de Emma achar que ela poderia brigar com ela por causa do erro. “Achei muito esperto da sua parte”, adicionou.

Gatuna, no entanto, a encarou com tristeza, muito concentrada no próprio sentimento de falha para iniciar o assunto de uma maneira mais leve como a mais velha intencionava. Alix percebeu isso com clareza e esperou. Não queria, mas estava pronta para encarar de frente o primeiro conflito entre as duas parceiras.

Tinha a sensação de que seria algo intenso.

“Seja direta, tia Alix, não precisa enrolar”, Emma soltou de uma vez, “Eu estou fora da missão, não estou?”.

Intenso mesmo. A gatinha era mesmo filha dos pais dela. Não dava nem para brincar que algum deles tinha alguma vez pulado a cerca. Por mais impossível e absurdo que essa brincadeira soasse quando o assunto era Adrien e Marinette.

“Não, gatinha. Pretendo continuar contigo até o final”, a heroína da evolução assinalou, sem rodeios.

A jovem arqueou as sobrancelhas, confusa. “Por que?”, questionou, “Eu me intrometi na linha do tempo, eu... não consegui me controlar...”.

Bunnix suspirou, sentando-se no chão ao lado dela.

“Sei disso, eu estava assistindo”, disse, “Realmente você foi impulsiva, mas eu não estava enrolando: foi muito esperto da sua parte se transformar em menino, assim como foi ótima sua discrição. Um erro pode levar a desencadeamentos trágicos em uma linha do tempo, sim, isso é verdade. E para ser sincera, se eu não tivesse te parado, haveriam alterações meio drásticas no nosso futuro, sim”.

“Então... como...?”, Emma começou a dizer gesticulando com frustração.

“Eu te conheço, gatinha”, a heroína continuou com um sorriso a interrompendo, “Eu assisti você crescer e aprender a amar seus pais com tudo que tem nesse mundo. Então, a partir do momento em que você visse Ladybug e Chat Noir capturados e sendo enviados ao covil do Hawkmoth, é claro que você iria tentar fazer algo para impedir, para tentar salvá-los e protege-los”, explicou com calma, “Na verdade, eu previ que isso aconteceria. Quis muito que eu estivesse errada, mas estava esperando que você fizesse isso”.

A jovem ficou calada, olhando e ouvindo Bunnix com atenção, a expressão fechada.

“Erros irão acontecer. Seus sentimentos irão ficar no meio de muita coisa. Isso acontece quando a gente mexe com as linhas do tempo”, ela deu de ombros, “O importante é que você não está sozinha nisso, Emma. Somos parceiras nessa missão. Não tem que se esforçar além da conta e carregar tudo nas costas”.

E ela estava falando a pura e sincera verdade.

À medida que a mais jovem foi crescendo ao longo dos anos, as duas começaram a passar mais tempo juntas e a conversarem, especialmente sobre esportes radicais já que o Parkour era a paixão de Emma e patinação de rua era a de Alix. E, embora não tenham se tornado necessariamente melhores amigas, elas ficaram consideravelmente próximas. Próximas o suficiente para Alix visse a mais jovem como uma irmã muito mais nova.

Ser suporte para a gatinha, então, era algo que vinha naturalmente.

Gatuna assentiu e desviou o olhar, com um pouco de vergonha. “Eu... eu realmente senti um monte de coisa enquanto estava lá. Ver meus pais... mais novos que eu... minha mãe tão desastrada... descobrir fatos importantes da infância do meu pai... e ver meu pai, especialmente!, tão perto e sem estar quebrado por causa de um acidente...”, ela explicou baixinho, “Foi uma loucura, tia Alix. Eu estou exausta. Como você faz isso? Como viaja no tempo e recebe esse tanto de informação e isso não te derruba?”.

Bunnix a encarou, levando a sério cada palavra. Pelo jeito de timidez e vergonha, admitir aquilo não deveria ter sido uma tarefa fácil. A primeira viagem no tempo havia sido conturbada, fazendo Emma sentir mais coisas e tudo mais intenso que a mais velha havia previsto que ela sentiria. E o erro de se intrometer havia a atingido mais do que pensou que tinha atingido, embora ela não tenha feito muita coisa e nem tenha alterado a linha do tempo. Aos poucos, ela entendeu: a jovem estava tentando compensar seu despreparo e falta de experiência sendo a heroína que faria tudo certo e atingiria os objetivos da missão que havia insistido em encabeçar. Não havia espaço para erros, como o que havia acabado de cometer. Não havia espaço para falhar em impedir Biston e deixar de consertar o futuro.

A mais velha optou, então, por dar a resposta mais pesada, mesmo sendo desconfortável. Sabia que essa resposta iria ser a melhor para Emma. Ela clareou a garganta: “Ah eu estou exausta. E fazer tudo isso já me derrubou diversas vezes”, revelou dando de ombros, “Especialmente no início. Eu fui a última a receber meu miraculous, embora tenha passado anos sabendo que eu iria ser uma heroína e que teria o poder da evolução, conseguindo viajar no tempo. O esquadrão se formou quando eu entrei. E sabe, todo mundo já tinha uma certa experiência... As minhas primeiras viagens foram terríveis. Descobri muita coisa sobre a minha família e isso doeu muito... Para mim, é sempre uma loucura... Eu só estou acostumada”.

Emma a encarava com olhos arregalados. “Eu... eu não fazia ideia, tia Alix. Você sempre pareceu tão confiante, tão inteligente e segura do que faz...”, disse se erguendo do chão invisível e se sentando de frente a ela, uma expressão de desculpas no rosto, “Mas sabe... é um alívio saber que eu não sou a única quase surtando de nós”.

A heroína da evolução sorriu, o coração se enchendo com o afeto que sentia pela menina. “Eu acho que consigo esconder bem meus surtos e nervosismos”, afirmou soltando risadinhas, “Eu gosto da ideia de você saber disso, inclusive. Somos parceiras e estamos juntas nessa, gatinha, até nos surtos. Saber que nós duas podemos errar e que uma vai dar apoio à outra pra remendar esses erros é reconfortante”.

“Com certeza”, a outra concordou assentindo com a cabeça, “Ah e... obrigada por ter me impedido a tempo. Sabe se lá o que aconteceria se eu tivesse realmente enfrentado Party Crasher e sido pega ou feito qualquer outra coisa...”.

Bunnix se ajeitou e colocou seus cotovelos descansando nas pernas. “Bom, as probabilidades iriam desde você ser pega e eu ter de intervir mais para te recuperar até Mestre Fu e King Monkey não conseguirem parar Party Crasher”, ela explicou enquanto Emma repetia “King Monkey” e combinava com “tio Kim” aos murmúrios; depois a mais velha abriu um pequeno sorriso macabro, “Uma grande possibilidade seria você nem ter sido nascida anos depois, gatinha”.

Gatuna abriu a boca, assustada. “O que?”, questionou, “Minha própria intervenção iria fazer com que eu nunca existisse?”.

Nunca é tempo demais. Calma!”, o sorriso macabro virou uma risada alta, “É bem provável que você veja com seus próprios olhos, mas... Adrien e Marinette sempre tiveram uma relação meio... confusa. Há muita história detalhada envolvida nisso, não vou contar para você agora. O ponto é que eles serem levados ao covil do Hawkmoth poderia resultar nele pegando seus miraculous e em uma revelação das identidades antes da hora. Ladybug e Chat Noir descobrindo quem eles realmente são e o tanto de sentimentos e história que os envolve vindo à tona... depois Adrien descobrindo que o próprio pai é seu arqui-inimigo. Essas coisas já aconteceram antes e fora do tempo certo que deveriam acontecer e... o resultado foi catastrófico”.

Impactada, a mais jovem complementou: “O dia que o papai cortou a lua ao meio, né? Eu não fazia ideia que tinha a ver com a mamãe e o vovô Gabriel”.

A outra assentiu, séria. “Tem muita coisa que seus pais não te contaram para não te assustarem sem necessidade”, esclareceu, “Enfim, a melhor das probabilidades seria eles iniciarem seu relacionamento mais tarde do tempo que começaram e você nascer muito depois. Talvez hoje você teria cinco anos ou dez, até mesmo meses de idade”.

“E meus irmãos não existiriam”, Emma deduziu em um tom triste e quieto.

“Não necessariamente. Às vezes sim, às vezes não. O tempo é incerto. O que é certo é que Marinette sempre quis três filhos e Adrien sempre quis uma família”, Bunnix deu de ombros com um sorriso grande no rosto.

“É muito a cara da minha mãe fazer planos muito antes da hora. Ela me contou que tinha escolhido nossos nomes desde quando tinha quatorze anos”, a mais jovem acompanhou a tia nos sorrisos, divertida, “Papai sempre quis uma família, hum? Quer dizer, então, que ele não tinha uma antes da minha mãe?”, fez uma pausa soltando um suspiro, a outra acompanhando com atenção, “Eles nunca me contaram muita coisa sobre a convivência e história entre o vovô Gabriel e meu pai. Eu entendo um pouco do porquê agora, especialmente depois desses detalhes que você e Plagg me deram. Quero dizer... eu sempre soube que vovô Gabriel era Hawkmoth e que por isso tinha um passado pesado, mas meus pais nunca me deram detalhes, sempre diziam que ele deu a volta por cima e que hoje vive de uma maneira muito melhor”.

“Esses assuntos envolvendo Adrien e Gabriel são extremamente delicados, gatinha”, Bunnix comentou franzindo o cenho, “Eu acompanhei um pouco de perto por sempre ter sido muito amiga dos seus pais, então eu sei de algumas coisas. Porém não acho que é direito meu te dar essas informações. Se Marinette e Adrien optaram por não te contar tudo, eles tiveram um motivo. E se você sente que precisa saber, você é quem tem que questioná-los sobre isso”.

Emma assentiu, silenciosa e pensativa. “Está tudo bem, tia Alix. Você tem razão”, concordou depois de uns segundos.

A heroína da evolução se colocou de pé. “Sei que acabamos de falar sobre coisas bem pesadas, mas você já está se sentindo melhor da última viagem?”, perguntou abrindo um sorriso de conforto.

“Sim, sim”, a outra respondeu levantando seus braços e fazendo um rápido alongamento, “De antemão, já te aviso que não achei nada suspeito da minha parte. De todos os meninos que haviam na mansão naquele dia, nenhum chegou perto do escritório do vovô Gabriel e muito menos perto dos miraculous e livro”.

Ela assentiu com a cabeça. “Menos um espaço-tempo para nos preocuparmos, então. Do meu lado, tem uma coisa para te mostrar e contar”, disse estendendo a mão de novo para Gatuna.

Arqueando uma sobrancelha, a mais jovem pegou a mão e se levantou com a ajuda dessa. Bunnix a guiou até uma das telas ovais do burrow e estendeu a mão sobre ela a ativando e fazendo as imagens retrocederem até chegar em um ponto específico da linha do tempo. Nelas, havia uma jovem aparentemente da mesma idade de Emma com cabelos lisos longos e ruivos caminhando em direção à Mansão Agreste.

“Essa é Lila Rossi, em junho de 2019”, a mais velha começou a explicar a imagem da jovem agora congelada na tela, “Da lista que fiz com as pessoas que haviam adentrado a mansão entre 2016 e 2021, ela foi uma daquelas que a visitou mais vezes. Ela foi nossa colega de sala durante o final do ensino fundamental e o ensino médio inteiro. E hmmm, Lila não foi a melhor pessoa do mundo. Ela era muito manipuladora e contava mais mentiras do que trocava de roupa. Levou uns bons dois anos para que nós conhecêssemos sua verdadeira cara e enquanto ela nos manipulava, fez uns bons estragos”.

Emma passou a mão no queixo, ainda encarando a jovem na tela. “Acha que ela é o Biston?”, questionou.

“Altas chances de que seja”, respondeu, comprimindo os lábios, “Além das manipulações e mentiras, Lila era muito ambiciosa e sucumbia de maneira muito fácil aos akumas. Nos deu um trabalho imenso. Enquanto você lidava com Party Crasher e a mansão sendo invadida praticamente, eu descobri coisas importantes: ela firmou parceria com Gabriel durante um tempo alegando querer cuidar de Adrien na escola, o afastando de más influências. Essa pista confirmou minhas suspeitas e me levaram a algo muito maior. E pensando agora: o que eu descobri faz muito sentido”.

Muito sentido mesmo. Com aquelas informações, ela conseguiu compreender por completo o porquê de Lila ter parado com seus planos e maquinações depois de um tempo, enquanto ainda eram colegas de classe.

Encarando-a com um olhar cheio de expectativas, a mais jovem fez um gesto com a mão pedindo que ela continuasse: “E...?”, disse, “O que você descobriu?”.

Bunnix abriu mais um sorriso macabro e indicou com a cabeça a tela oval. Uma vez que a atenção de Gatuna estava nas cenas, ela desfez a pausa e deixou as imagens contarem a história que ela contaria.

Concentrada, a mais jovem assistiu a garota ruiva que ela descobrira ser chamada de Lila Rossi caminhando em direção à mansão. Tinha um olhar determinado e um sorriso malicioso nos lábios enquanto passava pela segurança típica do lugar. Em pouco tempo, estava sendo anunciada a Gabriel em seu escritório e deixada sozinha com ele.

“A que devo o prazer dessa visita repentina, mademoiselle Rossi?”, seu avô questionou, a face impassível e o tom polido, como sempre.

Lila alargou o sorriso não o encarando diretamente. Pareceu analisar por um momento as fotos da versão de dezessete anos de Adrien penduradas na parede antes de responde-lo: “Sabe, monsieur Agreste”, começou pronunciando sarcasticamente o título e o sobrenome, “Eu pensei que depois de dois anos inteiros de parceria, nós seríamos capazes de não escondermos segredos um do outro”.

Vovô Gabriel arqueou uma de suas sobrancelhas, a face ainda sem emoção, porém. “Eu receio não compreender o que quer me dizer”, explicou calmamente.

Ainda passeando pelo escritório, ela soltou uma risadinha irônica como resposta. Da perspectiva de Emma, a ruiva não parecia se importar muito com o que o fashion designer dizia de volta. Na verdade, ela não parecia querer conversar com ele, só empurrar verdades dela para ele. “Então, acredito que irá entender quando eu disser o quanto me senti traída ao descobrir seu segredinho sujo. Especialmente quando percebi o quanto poderíamos ter progredido em nossos planos se o senhor tivesse tido a decência de me contar”, continuou finalmente parando em sua frente e colocando as mãos na cintura em indignação, “O quanto seria sido mais simples se eu soubesse que o grande Gabriel Agreste também era Hawkmoth”.

Gatuna deu um passo para trás, surpresa.

Imediatamente, Bunnix girou a mão sobre a tela e pausou as imagens. Nelas estavam a pose feroz e confiante de Lila e a expressão e postura impassíveis de seu avô. Se ele havia se surpreendido ou até mesmo se sentia ameaçado, ela não sabia dizer. Ele parecia um cubo de gelo, indiferente às tentativas de ataque daquela que uma vez chamou de “parceira”. Isso a fez comprimir os lábios, incomodada. Era como se ela não soubesse mais quem o avô dela era, mesmo que tivesse tido contato frequente com ele pelos últimos dezessete anos.

Também estava surpresa pelas ações de Lila Rossi. Desmascarar um vilão do porte que seu avô costumava ser era algo sério e que exigia muita esperteza e observação. Como uma garota da mesma idade que a dela poderia ser tão cruelmente inteligente?!

“Então, ela descobriu que ele era Hawkmoth”, comentou baixinho, séria, “Como?”.

“Ainda não sei, mas te dizer... eu a parabenizo pelo feito. Nós tentamos por anos desmascará-lo. A reclusão de Gabriel em sua casa o ajudava a encobrir seus feitos. E a ligação que ela tinha com ele com certeza foi uma oportunidade que a auxiliou a descobrir”, a heroína da evolução cruzou os braços, “Mas... o que realmente importa é que ela descobriu a identidade dele e fez o que fez, não o como”.

“O que acontece depois disso?”, Emma perguntou voltando seu olhar às imagens congeladas na tela oval.

“Nada que vale a pena olharmos com atenção. Ele obviamente nega, mas ela consegue desmascará-lo e o chantageia. Estilo Lila de fazer as coisas. Pelo silêncio dela, Gabriel dá a ela uma posição permanente de modelo na empresa”, explicou com claro incômodo na voz, “Depois disso, Lila deixou de nos dar trabalho. Gabriel e Hawkmoth deixaram de usá-la para atingir seus objetivos e ela conseguiu diversas oportunidades para alavancar na carreira”.

A mais nova assentiu com a cabeça, o cenho franzido. Continuava surpresa. Pelo pouco que tinha visto, já conseguia perceber que Lila usava as pessoas para atingir seus objetivos como usava pratos para comer. Chegava a ser assustador. “E ao que tudo indica, ela é o Biston?”, questionou retomando o ponto principal.

Bunnix confirmou com uma expressão concentrada e triste no rosto.

Gatuna tomou um tempo para analisar rapidamente todas as informações que tinha na mão. Era lógico e possível que Lila Rossi poderia estar por trás dos feitos de Biston, no entanto ainda haviam espaços muito importantes naquele quebra-cabeça que estavam em branco. Ela se voltou para a parceira: “Okay, estou entendendo sua linha de raciocínio, tia Alix, e faz muito sentido. Mas uma coisa não encaixa: se Lila conseguiu tudo que ela queria e ainda em 2019, parou de agir a favor de Hawkmoth, por que ela iria tramar contra o esquadrão em 2044?”.

“Bom... Lila sempre odiou Marinette e Ladybug. Sempre foram rivais, especialmente com relação a Adrien”, a outra explicou dando de ombros, “E, como disse Luka na nossa reunião, esse tipo de plano tem sido desenhado por anos. Talvez o casamento de Marinette com Adrien tenha atiçado sua raiva ou ela tenha descoberto a identidade de Ladybug e decidiu se aproveitar... Há muitas possibilidades!”.

Arqueando uma sobrancelha, a mais nova soltou a primeira coisa que veio à sua cabeça: “Você não parece ter muita certeza sobre as motivações dessa garota, tia”.

A heroína da evolução parou por uns segundos e encarou a jovem curiosa e questionadora. Realmente não tinha muitas certezas e as que tinha, não necessariamente poderiam ser reveladas no tempo que ela queria. “Eu não sei de tudo”, respondeu com sinceridade, “E também há coisas que preciso deixar em segredo”.

Emma ficou um pouco quieta. “Eu sei. Literalmente acabamos de conversar sobre as leis do tempo”, afirmou soltando uma risadinha mais de vergonha do que de humor, “Mas... vai ficar mais fácil se fugirmos de suposições e lidarmos com fatos. Das coisas que você pode contar e que não nos colocarão em perigo, mas que são importantes... por exemplo... sei que você olhou o futuro e que o que viu a auxiliou a propor a missão que estamos agora... você deve ter visto quem é Biston...”, fez uma pausa, “É Lila?”.

A mais velha desviou o olhar para o chão, desconfortável.

A resposta da pergunta era justamente um dos segredos que tinha de guardar a sete chaves e que só poderia ser de conhecimento de todos na hora certa. Não poderia revelar essa informação à gatinha. Ela sentiu seu coração se apertar. Não queria frustrá-la e nem a deixar se sentindo pior, no entanto era necessário.

“Tia Alix?”, a mais jovem se aproximou franzindo o cenho.

“Gatinha... eu não posso te dar essa certeza, não posso te contar isso”, respondeu em um tom de desculpas.

A outra se calou por alguns segundos, comprimindo os lábios. “Eu... eu só não vejo como conseguiremos seguir com a missão com essa falta de informações...”, desabafou deixando seus ombros caírem, “Tia Alix, não temos o luxo de perder tempo. Estamos todos com alvos nas costas. Há muito em risco!”.

Bunnix confirmou com seriedade, cruzando os braços. “Eu sei disso”, verbalizou.

Gatuna se abraçou, no rosto preocupação e um pouco de agonia. “Só lidar com suposições não é o suficiente... Eu entendo que eventos acontecendo antes da hora podem acabar em tragédia, mas um momento certo até para descobrir quem esse cara é?”, questionou em tom acusatório, “Difícil engolir isso sabendo que Biston pode fazer coisas piores com nossas famílias, tia Alix. As coisas andam difíceis, Fleur e Gaël me contaram o que está acontecendo com tia Alya... Mamãe está mega sobrecarregada por causa do acidente de papai e a revelação das identidades... Imagina como tia Kagami deve estar...” e fez uma pausa, desviando o olhar para o chão invisível, “Eu... eu pensei que resolveríamos isso de maneira rápida e certeira”.

A heroína da evolução deixou seus braços caírem. Se sentia péssima. Ela compreendia o que Emma estava lhe dizendo, compreendia muito bem. No entanto, ela viu o futuro e mesmo não tendo a certeza de tudo que iria acontecer e nem a ciência de todos os detalhes, sabia que as duas tinham de agir na mesma sintonia e tinham uma linha do tempo a seguir. Seu desafio naquele momento era fazer sua parceira compreender isso.

Em um movimento, então, ela agarrou os ombros da mais nova fazendo as duas se encararem: “Gatinha, eu também estou no meio do fogo com vocês, a diferença é que eu ainda não me queimei e posso fazer algo a respeito e contigo, eu farei. Eu nunca te disse que isso seria rápido e certeiro. Pode parecer que viajar no tempo é fazer tudo e consertar tudo de uma vez, mas não é assim que funciona”, a relembrou parando por segundos, determinação irradiando em seus olhos, “Olha... sei que tem muitos questionamentos... sei que esse seu coração grande se preocupa com quem você ama. Mas eu preciso que você confie em mim e não me questione. Precisamos obedecer, acima de tudo, as leis do tempo, querendo ou não, sofrendo com isso ou não. Tudo tem uma hora e um lugar para acontecer”.

Encarando a heroína, Gatuna respirou fundo. O que ela poderia fazer a não ser seguir o que sua tia Alix diz? “Eu confio em você”, assegurou com sinceridade, “Eu... só... quero ver nossa família segura e vivendo do jeito que queremos viver, sem ninguém observando cada passo que nós damos...”.

“Eu quero isso também”, a outra concordou, abrindo um sorriso.

“O que me deixa calma nisso tudo é a possibilidade de consertar tudo, voltar à estaca zero como se Biston nunca houvesse existido”, Emma comentou, com um novo olhar de confiança.

O sorriso de Bunnix se alargou. “Essa é a ideia”, confirmou, “Ele e tudo que ele fez entrarem para o rol de linhas do tempo alternativas”.

A mais nova espelhou o sorriso enquanto elas trocavam olhares de cumplicidade. “Seguiremos, então, investigando e intervindo nas ações de Lila mesmo não tendo completa certeza de que ela é Biston?”, perguntou.

“É o que precisamos fazer por agora”, a mais velha disse quase suspirando de alívio e soltando os ombros da outra. A gatinha estar de novo em sintonia com ela e com a missão era um colírio para os olhos. “Vai entender que os fins justificam os meios. É doloroso, mas necessário”, concluiu.

“Eu sei”, Emma fechou os olhos respirando fundo uma e duas vezes, “Então... qual o próximo destino?”.

Ela levantou as sobrancelhas. Podia jurar que a mais nova iria pedir para que elas voltassem ao presente e se entregassem à cama para um bom resto de noite de sono. “Você disse que estava exausta”, lembrou, “Não quer ir para casa descansar?”.

A mais jovem negou com a cabeça, a expressão séria. “Posso aguentar mais uma viagem”, afirmou.

“Certeza? Agora no nosso espaço-tempo deve estar no meio da madrugada”, explicou, “Você praticamente ficou de pé sem descanso um dia e metade de uma noite. E gastou muita energia, tanto física como emocionalmente”.

“Eu descanso depois”, a mais jovem insistiu, “Quanto mais tempo investirmos na investigação, melhor. Biston tem que ser parado o quanto antes”.

“Não posso discordar, gatinha”, a heroína deu de ombros, “Okay. Eu tenho um plano. O espaço-tempo que vou te enviar é do primeiro dia que Lila realmente começou a conviver com a gente. Naquela época, ela entrou na nossa turma no Françoise Dupont”.

“Uh, é verdade”, Emma arqueou suas sobrancelhas ao se lembrar, “Vocês estudaram na mesma escola que meus irmãos estudam hoje... quer dizer, não hoje, no nosso presente”.

Soltando risadinhas, Bunnix assentiu. “Era a época que o Françoise Dupont ainda tinha o ensino médio e o ensino fundamental. Hoje a Lycée Molière é a mais indicada para preparar os estudantes para o ensino superior”, explicou rapidamente revirando os olhos com diversão, “Enfim, o que importa é que ela faz nesse dia em específico. Nós poderíamos ficar aqui e investigar pelas telas do burrow e conseguiríamos descobrir o que precisamos. E eu preciso de novo dividir esse fardo contigo, gatinha. Porém, para o que eu estou planejando, a divisão desse fardo te inclui no meio da ação”.

“E... o que é que você está planejando exatamente, tia Alix?”, Emma questionou, os olhos semicerrados e os braços cruzados, “Você não me contou ainda”.

A heroína da evolução abriu um sorriso de canto. “De novo: confie em mim”, pediu, “Para te contar o que eu estou querendo fazer, preciso que veja Lila com seus próprios olhos”.

 

Com o portal se fechando às suas costas, Gatuna ainda vestida com seu disfarce de Adam se viu novamente em cima do mesmo telhado que havia sido deixada por Bunnix da última vez. A mesma vista para o quarto do mini Adrien e a Mansão Agreste, o mesmo quarteirão com a estação de metrô e o chafariz elegante ao longe. O clima, no entanto, estava diferente. Ela sentia um vento frio balançando seus cabelos e nuvens nublando o sol. O moletom que ela usava por baixo do traje, de repente, era perfeito para o tempo fresco desse espaço-tempo. Era muito parecido com o clima de outono do seu presente.

Será que ela conseguiria alguma vez deixar de estranhar a mudança súbita de ambiente?! Bom, não é como se ela fosse fazer viagens no tempo para sempre.

Já familiar ao território, ela caminhou até à beirada e analisou os prédios que se estendiam do lado oposto à mansão. Ao longe, ela conseguia ver as duas pontas quadriculares do colégio Françoise Dupont e para além dele, a Torre Eiffel grande, gloriosa e um pouco opaca junto ao céu acinzentado.

“Bom, acho que é no colégio que devo começar”, sussurrou colocando uma mão no queixo, “A sensação que eu tenho é que tia Alix me dá um quebra-cabeça, Plagg. Ela nunca me explica claramente o que tenho que fazer”.

Descendo seu olhar para o conjunto de vigas e chaminés que a impedia de avançar para o próximo prédio e, portanto, próximo telhado, ela sorriu. Aqueles não eram nem obstáculos, especialmente no momento em que ela tinha a super força como aliada e magia para protege-la, sem falar da flexibilidade de um gato.

Seria o Parkour mais lindo e eficiente que ela performaria.

“Digo, dessa vez ela ao menos me deu um norte: observar Lila e pelo visto, analisa-la. Tinha dado uma instrução parecida na primeira vez, mas...”, continuou seu monólogo, sabendo que Plagg era obrigado a ouvi-la e incapaz de resmungar ou responde-la, “Não sei... é estranho... acho que ela quer que eu veja as coisas por mim mesma, sem ter a interpretação dela para me influenciar”.

Emma continuou encarando os telhados à sua frente, seus lábios comprimidos com o súbito silêncio pairando ao seu redor, com exceção dos uivos dos ventos um pouco mais fortes nesse espaço-tempo.

“Eu definitivamente prefiro quando você pode falar, Plagg”, ela suspirou e logo depois, revirou os olhos, “Embora eu esteja feliz que você não possa falar agora e me provocar por causa do que acabei de dizer”. Depois, inclinando-se, ela finalizou com um sorriso de canto travesso e a excitação correndo por suas veias: “Vamos ver, então, o que seus poderes podem fazer por mim”.

Flexionando suas pernas, então, ela começou a correr atravessando o telhado de ponta a ponta em linha reta como se estivesse em uma corrida de obstáculos da escola. Utilizar as mãos como apoio e empurrar seu corpo para cima em prol de pular as vigas e chaminés era uma tarefa fácil que não gastou muito do tempo dela e nem de sua energia. Quando chegou à beirada oposta à que estava, ela impulsionou seu corpo com a velocidade muito alta e sua recém-adquirida super força e se lançou em direção ao prédio à frente, planando sobre uma rodovia quilômetros de altura abaixo.

Gatuna não precisava olhar para baixo para saber que havia um trânsito considerável de carros e não precisava pensar muito para saber o que uma queda daquelas faria com ela, o frio na barriga e o peso da gravidade já lhe diziam isso. No entanto, ela sentia o vento nos cabelos e no rosto e a adrenalina queimando dentro de seu ser, assim como o mastro que havia selecionado para se segurar assim que chegasse ao telhado se aproximando cada vez mais. Um grito de alegria e animação saiu de sua garganta enquanto que o sorriso não deixava seus lábios.

Uma vez mais, ela se sentiu viva.

Alcançando o mastro com as duas mãos, ela as enganchou ali sentindo a velocidade fazer seu corpo girar duas vezes antes que ela soltasse e pousasse com segurança no telhado. Um gritinho mais fino e de vitória saiu de sua boca involuntariamente de novo. Ela tentava manter sua respiração estável, com a certeza de que seu rosto estava vermelho. Isso não importava, no entanto, o que de fato importava era como havia se jogado em uma situação que nunca faria normalmente, muito arriscada inclusive, e saído com vida.

Emma teria dificuldades de devolver seu miraculous depois de ter vivenciado isso.

Sem deixar com que seu organismo descansasse, ela tornou a correr atravessando uma trilha muito parecida com a última de obstáculos, visto que todos os prédios em Paris tinham a mesma arquitetura. E assim como tinha acabado de fazer, se lançou sobre mais uma avenida quando chegou à beirada. Atravessou-a sem complicações mais uma vez, o frio na barriga se intensificando junto com a excitação crescendo, e ela chegou ao outro lado. Enganchando-se em um parapeito, ela utilizou suas pernas, mãos e a super força dos braços para escalar o restante e ficar no topo do telhado.

Dois prédios inteiros junto a dois saltos atravessando avenidas em um menor tempo do que ela esperava. Emma estava radiante. Não podia esperar para contar isso a Adam.

Respirando em um ritmo estável, ela caminhou até a outra beirada dessa vez. O telhado do Françoise Dupont já estava muito próximo e à medida que avançava, ela podia avistar o parque ao lado do colégio e ao lado da padaria dos avós Dupain-Cheng com o lindo chafariz característico dele. Sua tarefa no momento era só descer o prédio e adentrar o espaço verde. Logo estaria lá.

Para descer, ela observou as janelas e vigas que o prédio tinha, tentando calcular como exatamente tinha que se balançar e usar os braços e pernas para ter segurança. Agradeceu ao universo quando percebeu que eram muito iguais ao prédio que havia descido na viagem anterior. Rapidamente, então, ela se pendurou com as mãos firmes em uma janela de frente à parede e foi utilizando a velocidade como vantagem para ir caindo de viga em viga, janela a janela até aterrissar no chão flexionando as pernas.

Pronto, essa era toda a ação que ela teria naquela viagem.

Os demais passos teriam uma natureza mais intelectual. Não planejava mesmo repetir o mesmo erro e entrar em um combate que não a dizia respeito.

Ajeitando suas roupas, Emma passou os olhos nas redondezas. Ninguém parecia ter notado sua presença ou ter percebido sua descida do prédio. Os comerciantes continuavam tranquilamente a desempenhar suas funções e alguns poucos cidadãos dentro do parque faziam quaisquer atividades que estavam fazendo.

“Okay, Plagg”, sussurrou começando a caminhar em direção a um beco próximo. Seu ritmo era estável e discreto o suficiente, em prol de tentar não levantar suspeitas dos estudantes nem dos comerciantes, “Vamos nos trocar. É hora de eu voltar a ser uma menina”.

Antes de adentrar o espaço muito escuro e cheio de latas de lixo urbanas, ela olhou para os dois lados verificando se não havia alguém por perto para testemunhá-la se transformar. Tendo um sinal verde, ela se escondeu e sussurrou “claws in”. O brilho verde-neon típico a envolveu e o disfarce de Adam se desfez, revelando seu longo cabelo liso preto-azulado e suas curvas femininas. Plagg saiu do anel caindo em suas mãos abertas, no rosto uma expressão de cansaço e fome que ela conhecia bem. Mas nos pequenos lábios negros, havia um sorriso travesso.

Emma revirou os olhos. “Que foi, minette?”, ele começou em um tom abusado, “Cansou de ser... hmm, qual era o nome mesmo?... Adam? Ou ele não parecia muito com o humano com quem você gosta de trocar saliva?”.

Ela abriu levemente a boca, incrédula pela ousadia do pequeno ser à sua frente que estava claramente precisando repor as energias, porém não deixava de fazer seus comentários maldosos. “Bom, é óbvio que não sou eu que não consegue nem se levantar”, ela revidou arqueando uma sobrancelha.

“Você estava usando meu poder, minette”, o kwami colocou as patas atrás da cabeça, semicerrando os olhos, “Seu tempo como gata de rua foi pago com meus esforços”.

“Ah, então, meu disfarce, escaladas e corridas te cansaram? Você disse que era moleza. E eu nem ao menos usei o cataclysm. Parece que o kwami da destruição não dá conta do recado”, o enfrentou.

Plagg a encarou, um bico nos lábios junto às presas. “Eu dou conta do recado. Você estar intacta e satisfeita com suas manobras são prova disso”, ele disse em um tom mais sério, “Nem um roxo nesses braços. Lembra disso, minette”.

“Você quem começou falando daquele jeito sobre minha relação com Adam”, Emma fez seu próprio bico.

Ele, no entanto, a respondeu com silêncio em um ato de teimosia manhosa.

Ela tirou um pote cheio de camembert da pochete que usava no quadril. “Tenho certeza que esse queijo deliciosamente fedorento vai te fazer me perdoar!”, disse com um sorriso presunçoso e estendendo um dos pedaços para ele.

 À primeira instância, ele virou o rosto, se mantendo por uns segundos em silêncio. Depois soltou um grunhido se dando por vencido, atacando o queijo e engolindo-o para logo depois comer mais dois. “Ah e minette... eu sei que você adora me ter ao seu lado”, comentou abrindo mais um sorriso travesso, se referindo à declaração dela mais cedo dizendo que preferia os momentos em que eles podiam conversar.

Emma revirou os olhos mais uma vez e depois espelhou o sorriso dele.

Aquele era o jeito de eles se assegurarem de que estava tudo bem entre os dois.

 

Saindo da Tom & Sabine Boulangerie Patisserie, Emma acenou para sua incrivelmente mais jovem avó pela janela. Havia se sentido estranha de novo ao ter de socializar com mais um de seus entes queridos e os verem tão diferentes. Não havia tido muita escolha, no entanto, pois assim como Plagg, ela estava com fome e não conseguia resistir aos deliciosos, maravilhosos e muito crocantes croissants de seu avô. Então, fez a melhor cara de paisagem que pôde e fingiu ser só mais uma cliente muito fã dos pães e quitutes mais amados de Paris.

Havia sido difícil. Com tudo que tinha acontecido nos últimos dias, tinha tempo que ela não recebia os abraços amáveis e quentinhos dos avós Dupain-Cheng. E naquele espaço-tempo, ela não poderia nunca os abraçar ou dizer o quanto adorava a companhia deles.

Com a sacola de croissants na mão, ela se dirigiu ao Françoise Dupont. Se deparou, no entanto, com uma pequena multidão de adolescentes caminhando tranquilamente na calçada à frente do local. Eles estavam saindo do colégio. As aulas daquele dia já haviam acabado. Ela mordeu o lábio inferior, percebendo que estava atrasada.

Se não fosse rápida, perderia o rastro de Lila.

 

Indo na direção contrária à dos estudantes, colocou um croissant na boca e tentou performar as melhores expressões e andar discretos. Com os olhos, no entanto, se pôs a procurar entre os adolescentes à sua volta cabelos ruivos e pele em um tom de caramelo em uma garota que seria mais nova do que aquela que tinha visto mais cedo no burrow. À frente da escola, ela parou e continuou a comer e vasculhar os detalhes e possíveis pistas que poderia obter com os olhos.

“Plagg, me ajuda”, sussurrou observando monsieur Damocles se despedir de alguns estudantes no portão da escola, “Vê Lila por aí?”.

Emma sentiu o kwami se mover por entre seus cabelos, possivelmente colocando a cabeça para fora e começar a procurar, como ela. “Oh, minette, Lila não... mas eu vejo uma mini Marinette em modo ninja. Acho que pode ser uma pista”, ele informou em um tom de alerta.

Fazendo uma careta, a jovem começou: “Minha mãe em modo ninja?”, fez uma pausa, “Okay... Estranho, mas não vou questionar isso por agora. Tenho uma pergunta melhor: por que seria uma pista?”.

Plagg soltou uma risadinha misturada com um miado. Depois, respondeu a sério: “Bunnix mencionou que estamos no espaço-tempo do primeiro dia de Lila na escola. E Marinette tinha o costume de segui-la e investigar possíveis planos e manipulações. Se eu bem me lembro, esse é um desses dias”.

Pegando mais um croissant da sacola, ela assentiu com a cabeça. “Vamos atrás da mini mamãe, então”, respondeu com a boca cheia.

O kwami saiu rapidamente de seus cabelos para apontar a direção em que deveriam ir e depois se escondeu de novo. Com alguns passos apressados, ela logo conseguiu avistar a típica calça jeans cor-de-rosa de sua mãe e sua mochila mais clara com bolinhas. Ao longe também viu um borrão vermelho muito familiar saindo de sua bolsinha. Isso fez a jovem arquear suas sobrancelhas com surpresa. Mini Marinette não parecia tão preocupada com discrição e identidades secretas quanto sua mãe Marinette. Ou as pessoas que eram realmente muito cegas e realmente não percebiam o kwami flutuando ao seu lado.

Mais alguns passos adiante revelaram uma garota da mesma altura e idade da heroína da sorte andando à frente. Cabelos ruivos e pele cor de caramelo. Era ela. Era Lila. Plagg estava certo: sua mãe era uma pista e segui-la foi a melhor decisão no momento. Mantiveram distância e discretamente se dirigiram com elas ao parque do lado da escola. Emma soltou uma risadinha. Se ela soubesse e tivesse ficado no local teria as encontrado de qualquer forma.

Ah, a ironia do destino.

Se escondendo junto à árvore atrás da que Marinette e Tikki tinham escolhido para espionar, a jovem soltou um grunhido. “Estamos longe demais”, sussurrou, “Plagg, sua super visão dá conta do recado?”.

“Espero não entrarmos nesse assunto de novo”, ele rebateu em tom baixo, colocando sua cabeça para fora dos cabelos dela, próximo ao seu queixo. Ela riu, dando de ombros, “Claro que eu posso observar para você, minette”.

“Vá em frente”, Emma o encorajou, “Lila está segurando uma coisa. O que é?”

Plagg bufou em resposta, explicando logo depois: “Ela está colocando o que ela disse ser seu miraculous da raposa”.

Miraculous da raposa? Disse ser? Então, era um colar falso? O que Lila estava fazendo com uma réplica falsa do miraculous da raposa? Como ela ao menos conhecia a aparência da joia para poder caracteriza-la como um miraculous camuflado?

Suspeito.

“E pasme, minette: o livro dos miraculous. Ele está com ela”, o kwami deu mais informações aos sussurros. Imediatamente Emma arregalou os olhos, alarmada. O livro com Lila?, “Está o folheando agora e parece comparar o colar com o que está nas páginas, na parte que fala sobre ele. Com sorte, as passagens do livro estão em uma linguagem que só o guardião consegue decifrar”.

Ainda mais suspeito. Como ela poderia estar com a posse de um livro tão importante e nem se dar conta? “Nessa época... ela chega a saber que livro é esse, Plagg? Tipo, seu conteúdo...?”, perguntou.

“Não, ela nem imagina. Tanto ela quanto Adrien não fazem ideia do que esse livro representa”, ele explica o tom de voz sério, “Minette, esse livro só fica na posse do guardião, que é onde sempre deveria estar, quando Hawkmoth é derrotado. Nesse mesmo dia, pela manhã, meu eu do passado e o mini Adrien o descobrimos no cofre do seu avô e o pegamos. Não foi um dos nossos movimentos mais discretos, porque depois dá muita merda para seu pai, mas ele só entrou em circulação por causa disso”.

Refletindo sobre as novas informações, Emma continuou encarando a cena à sua frente. Lila se levantou e recebeu seu pai versão mais jovem o forçando a se sentar no banco junto com ela. Ao mesmo tempo, mini Marinette e Tikki avançaram para a árvore mais próxima aos outros dois e a kwami impulsivamente mergulhou para a lata de lixo onde Lila havia jogado o livro no momento em que Adrien chegou. A jovem também se deslocou de sua árvore e se escondeu onde sua mãe estava anteriormente.

No novo local de espionagem, ela conseguia enxergar melhor e o principal: escutar.

Ouviu os sussurros de Tikki para Marinette dizendo que aquele era o livro que ela se lembrava e Lila dizendo que era uma amiga muito próxima de Ladybug e que ela havia salvado a vida dela. Emma franziu o cenho, desconfiada. “Isso é verdade?”, sussurrou para Plagg.

Ele soltou um miado e risadinhas sarcásticas. “Não”, respondeu, “Só observa”.

“...em comum. É o que eu queria te falar”, Lila continuou em um tom de voz meigo e sedutor, se inclinando para muito perto do mini Adrien. A ousadia e coragem dela fez a jovem ter vontade de rir. Quem ela achava que era para dar em cima de seu pai? “Eu sou descendente de uma super-heroína raposa, Volpina”, revelou.

“Volpina?”, o loiro perguntou, surpreso, se afastando um pouco, “Eu li sobre ela no meu livro”.

Super-heroína? Ah, era por isso que ela havia pego um miraculous falso da raposa. Para se passar de super-heroína e assim justificar sua aparente profunda ligação com Ladybug. Esperto e engenhoso. Como tia Alix havia dito, as artimanhas e mentiras eram muito fáceis para Lila utilizar em prol de conseguir o que queria. E ela pensava rápido e parecia lidar muito bem com os recursos que tinha nas mãos.

“É claro que ela está nele”, a ruiva rebateu, se aproximando de novo e suavizando ainda mais seu tom de voz, “Ela é uma das super-heroínas mais importantes e mais poderosa ainda do que Ladybug. Ladybug não fica nem no top 10”.

Oh wow, ela ousou dizer isso? Emma soltou um som de surpresa e olhou imediatamente para sua mãe, que estava escondida trás da lata de lixo com Tikki e no momento, mordendo o livro dos miraculous com toda a força.

Okay... ela nunca pensou que assistiria sua mãe, sua muito bem controlada mãe que resolvia os problemas na base do raciocínio lógico, fazer uma coisa assim. E nem cair no chão por pura raiva, como ela fez logo depois.

Quando Marinette se levantou e saiu correndo para a direção da entrada lateral do parque, passando por onde ela estava, a jovem quem teve de pensar rápido. Se moveu atrás da árvore de modo que sua mãe não a notasse se olhasse para o lado. Depois, olhando a calçada do lado de fora do local, teve uma ideia. A última coisa que ouviu antes de pular a cerca foi o comentário de Tikki sobre Lila: “Ela é boa, muito boa”.

Tentando disfarçar seus atos, Emma rapidamente abriu sua pochete e retirou seus fones os colocando e fingindo escutar música. Ficou de costas para seu pai e a ruiva sentados no banco e apoiou seus pés na cerca. Em poucos segundos, era como se ela estivesse ali há um bom tempo e como se nunca tivesse parado para escutar a conversa dos outros em local público.

No entanto, ela continuou escutando, mesmo que daquela distância a compreensão não fosse excelente. Ouviu Lila falando sobre o colar que aparentemente sua avó lhe dera e ela implicitamente dizer ao mini Adrien que ele era um miraculous. A jovem cruzou os braços, curiosa e instigada. Ela era boa. Inventou toda uma história e a contou facilmente, se mostrando admirada, animada e falando com uma voz de veludo perfeita para acariciar os ouvidos de quem escuta.

Ouvindo a voz estrondosa de sua mãe, ela tentou prestar mais atenção. Plagg deu uma olhada entre seus cabelos e confirmou que Ladybug estava ali.

“E aí, Lila. Como está? Muito tempo que a gente não se vê”, a voz da heroína da sorte reverberou pelo parque, deixando mais fácil para a jovem escutar. Era do mesmo jeito que Emma estava acostumada: feroz e cheia de confiança, como se tudo que saísse de sua boca fosse uma verdade absoluta. “Eu assisti sua entrevista. Trabalho incrível. Claro que eu me lembro quando salvei sua vida”, continuou, o tom ficando cada vez mais sarcástico e até mesmo um pouco aterrorizante, “A gente se tornou ótimas amigas desde então, praticamente melhores amigas. Na verdade, quando que eu salvei sua vida mesmo? Não consigo me lembrar. Ah é claro... agora eu me lembro: nunca!”.

A jovem estava perplexa. Ouviu grunhidos de surpresa e de indignação por parte tanto de Lila quanto de Adrien. Sua mãe havia acabado mesmo de jogar a verdade na cara de Lila na frente de seu pai e, querendo ou não, humilhá-la?

“E não somos amigas também”, Ladybug continuou, a voz ainda mais pesada, “Mademoiselle Eu-Sou-Diva estava tentando te impressionar e todo o resto”.

“Então, você não é a descendente de um super-herói?”, ouviu Adrien perguntar para provavelmente à Lila, ainda incrédulo.

“Está mais para uma super-mentirosa”, a heroína da sorte finalizou.

“Como ousa fazer isso comigo?”, Lila gritou fungando e aparentemente chorando, Emma não sabia dizer se era verdade ou não.

E ela, com certeza, não precisava ouvir o resto. Se desencostou da cerca do parque e saiu andando pelas calçadas e ruas, como se tivesse realmente só passeando por ali.

“Eu te disse que você ia entender tudo assim que observasse, minette”, Plagg disse ao pé de sua orelha, de maneira travessa e instigante. Ela assentiu, pensativa.

E havia compreendido mesmo, especialmente a raiva que tia Alix havia falado que Lila sentia de Ladybug e muito provavelmente desenvolveria por Marinette. E de novo: fazia muito sentido o que ela havia indicado como motivação para a ruiva seguir com um plano de vingança e humilhação durante anos. E sua mãe havia contribuído para isso, em sua tentativa cega de calar a boca da mais nova rival e limpar seu nome como heroína. Sabia muito bem que a Ladybug do seu presente pensaria duas vezes em agir dessa maneira, mesmo nos seus dias mais estressantes e conturbados.

O ponto, entretanto, era que Bunnix estava certa: Lila tinha potencial demais para ser Biston. Se elas estavam erradas ou não quanto a traçar um plano para intervir nas ações dela, havia uma chance grande de que elas estivessem certas.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam? Mais uma vez, MIL AGRADECIMENTOS POR VCS ESTAREM COMIGO, LINDOS ♥

MAIS UM PONTO IMPORTANTE: Como a Emma voltou no tempo e foi exatamente o episódio Volpina do final da primeira temporada, eu coloquei os exatos diálogos que aconteceram no episódio. Isso não é plágio, gente. É uma menção à obra original devido à circunstância da viagem no tempo. Quero deixar claro porque pode ser confundido com plágio, mas todo mundo que lê a história compreende que o contexto de viagem no tempo pede por cenas assim.

Antes que eu esqueça: querem saber mais do casal Emma e Adam? https://fanfiction.com.br/historia/797582/Des_Harmonia/ (Des)Harmonia: O primeiro spin-off de MDB, logo logo chega capítulo novo pra vcs ♥

Glossário:
“Monsieur Democles” é o nome do diretor da escola Françoise-Dupont, no desenho.
“Françoise-Dupont” é o nome da escola fictícia de ensino fundamental e médio onde os personagens do desenho estudam.
“Lycée Moilère” é o nome de uma escola de ensino médio que existe de verdade em Paris.
“Parkour” é um esporte radical francês que utiliza as construções urbanas como obstáculos para se fazer uma corrida com manobras.
“Tom & Sabine Boulangerie Patisserie” é o nome da padaria que os pais da Marinette, Tom Dupain e Sabine Cheng, possuem no desenho.
“Minette” significa “gatinha” em francês.
“Burrow” é o nome do poder da Bunnix de abrir o portal do tempo.
“Claws in” é o nome de transformação para super-herói do gato preto.



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