Capítulo 3 - Mais Aulas

Os primeiros raios de sol invadiram rapidamente o quarto onde Sakura dormia. Pouco a pouco se acostumou com a claridade do lugar e finalmente tomou coragem para abrir os olhos.

 Há anos não dormia tão confortavelmente como naquela noite. O colchão confortável, o travesseiro macio e o calor das cobertas praticamente  a puxavam para mais alguns minutos de sono.

Ainda era cedo e provavelmente ninguém naquela mansão enorme estaria acordado, mas precisava levantar-se e arrumar as poucas coisas que trouxe do seu velho apartamento.

Preguiçosamente, levantou-se e andou até a penteadeira, onde sua bolsa estava devidamente posta na cadeira em frente ao móvel. Em menos de dez minutos, suas poucas peças de roupa estavam colocadas nos cabides  em cima da cama.

- Agora é só colocar no armário... – comentou para si mesma.

Pousou as roupas arrumadas sobre o braço e pôs-se a caminhar até um guarda-roupa enorme de cor branca. Quando o abriu, ficou admirada com tanto espaço. Prateleiras, sapateiras, quatro gavetas  e um espaço relativamente grande para colocar as roupas penduradas compunham a parte interna do armário.

Colocou as roupas penduradas e depois voltou para a cadeira onde a bolsa estava. Pegou seus calçados na mão e novamente, colocou-se em frente ao guarda-roupas.  Depositou seus dois tênis surrados e a sandália de cor rosa na parte debaixo do móvel e em seguida fechou-o.

Como sempre fez, arrumou a cama onde dormiu e estendeu os lençóis de modo que ninguém percebesse que alguém tinha dormido ali.

Estava tudo arrumado e o que precisava estava em seu devido lugar, e foi então que Sakura resolveu “conhecer” o quarto.

Olhou tudo a sua volta. “Lindo” pensou. Essa era a palavra para descrever todas as coisas daquele lugar.

Alguma coisa a incomodava. Era para Sakura estar feliz por ter conseguido um emprego como aquele e poder dar um suporte melhor para si mesma e para Sora... mas então, por que aquele sentimento estranho?

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Depois de algum tempo admirando cada canto do quarto, descobriu que não era um simples quarto e sim uma suíte.

Seu estômago avisou-lhe que era a hora de descer e comer alguma coisa e foi o que fez...

Adentrou a copa e de imediato, viu Chyo, mais duas empregas e uma senhora de idade que deduziu ser a cozinheira.

- Bom dia. – cumprimentou-as  em meio a um discreto sorriso.

- Bom dia... – responderam ao mesmo tempo.

Sakura andou alguns passos até ficar no centro da cozinha e ao olhar para trás verificou que só Chyo, ela e a  senhora estavam presentes.

- Você acordou cedo, Sakura... –  Chyo puxou  uma cadeira para se sentar e fitou-a. – Dormiu bem?

Sakura apenas meneou com a cabeça que sim.

- Sasuke-sama me disse que você estava perdida. – comentou em tom divertido.

- Era sobre isso que queria falar com você, Chyo... – ela apertou as mãos discretamente. – Eu não quero ser mal agradecida, mas será que não tem um quarto menor para que eu possa dormir? Aliás, eu posso vir aqui todos os dias, nem preciso dormir aqui. Não me atrasarei, eu prometo.

- Por favor, Sakura. Não seja boba! O quarto é muito luxuoso, mas não é para tanto. Falando nisso, as empregadas já foram arrumar seu quarto!

- E-eu já arrumei... – murmurou receosa.

- O quê? – perguntou incrédula.

A cozinheira que até aquele momento, não dissera uma palavra, voltou-se para a rosada com um sorriso.

- Chyo, a menina só não está acostumada. – comentou divertida.

- É cada uma que me aparece! Enfim, vou ver se Sasuke-sama precisa de alguma coisa. Tome seu café e depois vamos começar está bem?

- Uhum...

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Chyo estava parada no batente da porta, aguardando  a permissão do Uchiha para que pudesse entrar. Pelo pouco que conseguiu ouvir, Sasuke estava falando com alguém no telefone.

- Pode entrar, Chyo. - Ordenou sentado em frente ao notebook.

- Deseja alguma coisa, Sasuke-san?

- Sim. A garota já acordou? – Perguntou em tom frio. Sasuke notou o ar de surpresa da governanta, que apenas fez um discreto aceno positivo com a cabeça.  – Ontem a noite, você me disse que ela era inteligente e aplicada. Estou certo?

- Sim...

- Muito bem. Naruto ligou-me agora a pouco... – Ele colocou as mãos juntas em frente ao rosto impassível.  -  Disse que terei que participar de um jantar beneficente  e será daqui a pouco mais de uma semana! 

- Uma semana? – Perguntou atônita. As aulas de Sakura começaram a menos de um dia e em menos de duas semanas, teria que “transformá-la” em uma dama.

- Ensine-a apenas o básico, Chyo. Preciso que ela me acompanhe... você entende, não é?

- Plenamente, Sasuke-san. Tentarei fazer o meu melhor!

- Preciso que faça isso, Chyo! – Retrucou com ar autoritário. Ainda sobre o olhar de Chyo, Sasuke levantou-se e caminhou até uma poltrona de couro e pegou sua pasta. – Vou para a empresa...

- Não vai tomar café, Sasuke-san

- Não. Estou sem fome... Até logo!

Chyo fez uma reverência discreta e esperou que seu patrão passasse por ela, para endireitar-se.

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- Por Kami, Sakura! Você parece que está pisando em ovos!

- Eu não consigo! – Sakura estava pendurada num pequeno console, próximo à mesinha de telefone. – Eu nunca andei de salto alto na vida... E esses saltos tipo alfinete...

- Salto agulha, Sakura... Agulha! – Corrigiu-a.

Sakura revirou os olhos. Faziam mais de quatro horas que ela estava em cima de um sapato preto com um salto finíssimo. Suas pernas e sola dos pés doíam e a cada passo que dava era um fracasso.

Perdera a conta de quantas vezes torceu o pé e caíra por cima de Chyo.

- Minha tia nunca me deixou  usar sapatos de salto. Ela dizia que apenas as mulheres vaidosas demais  usavam sapatos assim e jóias... – Sakura viu Chyo arregalar os olhos ao ouvir tais palavras. – É verdade, Chyo! Sempre usei tênis e sapatilhas sem salto. Acho que o sapato mais alto que usei, foi um tênis com amortecedores  que meu primo me deu... – sorriu.

- Sua tia era bem rígida!

- Ela foi criada em uma educação rígida. Meus avós eram muito religiosos e repugnavam determinadas coisas. – A rosada sentou-se no chão e massageou os pés. – Chyo, podemos parar só um minuto?

- Ok... – suspirou derrotada. – Se quiser tirar esses sapatos, pode tirar. Eu vou ver como anda a preparação do almoço.

- Quer que eu... Deixa para lá! – murmurou. Chyo a alertou pela manhã que sua única preocupação era se dedicar à aprender etiqueta. Nada mais que isso.

Sem delongas, tirou os sapatos e esticou as pernas mexendo os dedos dos pés. Ela sentia toda a planta do seu pé formigar. 

- Que dor... – Sakura deitou-se no carpete macio da sala de estar e se esticou. Estava exausta e, segundo a senhora, elas nem tinham começado.

A rosada deixou a cabeça tombar para o lado, onde havia uma lareira. Em cima, uma pequena mureta continha diversos porta-retratos, mas um em especial chamou sua atenção.

Sakura levantou-se e caminhou até a lareira, tentando ignorar a dor latejante em seus pés. Seus olhos não a enganaram quando viu um dos porta-retratos virados para a parede. Com cuidado para não quebrar ou deixar cair, pegou-o e trouxe para próximo de seus olhos. 

- Que estranho...  – Fitou a foto curiosa.

Se estava lembrada da fisionomia do patrão, o homem  de terno na foto era Sasuke. Ao seu lado, uma moça de cabelos negros e olhos azuis estava vestida de noiva. Provavelmente era a falecida esposa dele.

“ Eles não sorriam...” pensou.

- O que está fazendo, Sakura?

A rosada não soube quando e como Chyo apareceu, mas agora a mulher se encontrava ao seu lado. Por muito pouco, não deixou o porta-retrato cair da suas mãos.

- D-Desculpe, Chyo! Eu estava arrumando essa fotografia...  – ofegou com a respiração descompensada.  – Ela estava virada... – comentou, estendendo-a para a governanta.

Chyo pegou o retrato das mãos dela e a olhou.

- Sasuke-sama quer que fique assim, Sakura! – exclamou, recolocando a foto em seu devido lugar. – O almoço está pronto. Vamos...

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O almoço foi em total silêncio. Propositalmente, Chyo colocara diversos talheres e taças na mesa de jantar, para “simular” uma espécie de jantar de negócios. Prestou atenção em cada movimento da garota a sua frente e surpreendeu-se com tamanha naturalidade com que ela se alimentava. Executou os movimentos perfeitamente... desde o colocar do guardanapo no colo, até o uso dos mais de dez talheres a sua frente.

- Você me surpreendeu... – comentou  fitando-a.

- Chyo..?

- Você não errou em nada, Sakura! Está se saindo muito bem à mesa.

- Obrigada... – murmurou envergonhada.

Sakura limpou a boca com o guardanapo e desviou seus olhos da governanta.

- Todo esse silêncio é para se concentrar ou a algo te incomodando?! – perguntou-a.

- Queria pedir desculpas por agora a pouco. Não deveria estar mexendo nas coisas que não são minhas...

- Eu sei que foi com a melhor das intenções. Não se preocupe... – sorriu. – Mas... é só isso?

- Aquela moça morena na foto... era a falecida esposa do Sasuke-sama? – perguntou hesitante. Chyo fez um aceno positivo, recebendo uma expressão surpresa por parte de Sakura. – Chyo... por que eles não estavam sorrindo?! Quer dizer, pelo que pude perceber, a foto foi tirada no dia do casamento.

- Digamos que nenhum dos dois queria estar lá! – respondeu triste.

- Hum? Mas...

- Foi um casamento arranjado... Questão de negócios   entre os pais de Suky e Fugaku-sama. – Chyo  percebeu a expressão assustada da rosada. – Não faça essa cara! Por incrível que pareça, ainda existem casamentos assim!

- Entendo... – Sakura apoiou o rosto nas mãos e sorriu. – Eu sempre me achei atrasada por nunca ter me casado... mas pensando por esse lado, não é tão ruim! Sempre sonhei em casar com alguém que eu realmente amasse e que pudesse construir uma família...

-Não fale assim. Você é nova e encontrará alguém... É questão de esperar! Minha mãe sempre dizia que o que é nosso, está guardado! – Chyo se colocou de pé e pegou as coisas da mesa. – Vamos continuar?

- Ahh Chyo! – resmungou .

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Eram por volta das nove e meia da noite quando Sasuke estacionou o carro na garagem da mansão. Como sempre fazia ativou o alarme do veículo e subiu as escadas que lhe conduzia à sala de estar da mansão. Foi recebido por Chyo que o aguardava com a mesa posta para o jantar. 

- Boa noite,Chyo.

- Boa noite, Sasuke-san. O jantar já será servido...

- Não estou com fome! Se precisar de mim, estarei no escritório... – Sasuke deu as costas e entrou na porta que correspondia ao escritório, fechando-a logo em seguida.

Colocou sua maleta na poltrona e andou até um pequeno bar presente no cômodo, tirando de lá uma garrafa. Pegou um copo e despejou o líquido de cor turva no copo, tomando-o logo em seguida.

Sasuke escutou duas batidas na porta e virou-se, encontrando a governanta parada na soleira.

- O que foi, Chyo? – resmungou.  – Eu disse que não quero jantar! – avisou-a ao vê-la com uma bandeja contendo um lanche e um copo de suco que ele deduziu ser de laranja.

Sem dizer nada, Chyo andou até a escrivaninha e depositou o objeto sobre ela.

- Não quero me intrometer, mas se não alimentar-se  vai acabar adoecendo, Sasuke-san...

- Não sou mais criança, Chyo. – grunhiu dando os ombros.

Chyo sorriu.

- Está com problemas?

- Nada importante... -  respondeu virando-se e ao encará-la  suspirou. – Falei com meu pai hoje...

- Problemas?

- Os de sempre, Chyo... você sabe!

- Imagino...

O silêncio instalou-se entre os dois. Sasuke fitava a bandeja a sua frente, enquanto Chyo continuava parada em frente a ele, apenas o observando.

- E a garota?

- Ela já foi para o quarto... O quarto certo! – exclamou divertida. – Ela está se saindo bem.

- Uhum... – resmungou. 

- Hoje pela manhã ela parecia envergonhada... – comentou. Sasuke olhou para a governanta, arqueando uma sobrancelha. – Pediu-me se não podia trocar de quarto...

- Trocar?

- Disse que o quarto era grande demais para ela... fora o fato de que ela mesma arrumou a cama! 

- Hum...

 Sasuke massageou as temporas e fechou os olhos recostando-se na  poltrona.

- Sasuke-san, se não está com fome vá se deitar...

Sasuke suspirou e assentiu, porém antes de sair, pegou o copo de suco e levou consigo. Sorriu de canto ao ver Chyo dando um discreto sorriso.

Subiu as escadas em passos lentos, enquanto bebericava um pouco do suco.

Ao chegar no corredor, percebeu a porta do quarto de Sakura entreaberta, porém não tinha a intenção de bisbilhotar. Virou-se e ao girar a maçaneta da porta do seu quarto, escutou alguns murmúrios vindos do quarto dela.

Não se conteve e estreitou os olhos pela fresta do quarto de Sakura e encontrou-a sentada na beira da cama, calçando sapatos pretos que jurava serem de Chyo.

- Isso machuca... – reclamou.

Sakura ajeitou-os nos pés e tentou se colocar de pé. As três primeiras tentativas falharam, até finalmente conseguir manter-se ereta. Andou alguns passos meio cambaleantes, até que finalmente conseguiu andar sem muita dificuldade.

- Consegui! – exclamou contente. Começou novamente a andar, agora com maior facilidade. – Direito... esquerdo... direito... – repetia conforme dava os passos.

Sasuke, que observava toda a cena, sorriu de canto e fez um discreto não com a cabeça. Por um minuto, conseguiu esquecer de tudo o que passara naquele dia e acabou por se divertir com aquele pequeno, e não intencional, show de comédia particular.

Percebeu que ficou ali por algum tempo, quando ouviu-a resmungar que estava cansada. Decidiu que ele também deveria ir para o seu quarto e descansar, porém as cenas dela o fizeram dormir com um sorriso no rosto. Um sorriso discreto, mas não deixava de ser um sorriso.

Talvez seria divertido tê-la por perto.

Continua...