Regras de Sangue escrita por Moriah


Capítulo 3
Regra Número Dois: Você não deve desabar.


Notas iniciais do capítulo

Cá estamos após dez dias dá última atualização, acredito. Eu pretendo atualizar a cada dez dias, mas eu não posso prometer isso porque a vida é bem imprevisível, né gente?

Eu espero que gostem deste capítulo, sinto muito se estiver meio deprê: Astrea anda meio deprê, o que é um pouco aceitável dado sua situação.

Me digam o que acharem, sejam sinceros ♥



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Regra Número Dois

Você não deve desabar

 

— Erga — ela pediu, mostrando-me a pedra ainda maior.

Mas eu não a ergui. Inferno, era pesada demais. Eu gritava para mim: “erga, Astrea, erga!” e soltava gemidos estridentes, mas a pedra nem tremia. Concentrei tudo o que conseguia naquilo e ela nem se mexeu.

Porra, eu já estava morta.

♔ ♕ ♚ ♛

Eu recebi presentes, deixados na porta por pessoas que minha mãe fazia questão de dispensar. Em minha cabeça a cena se repetia várias e várias vezes. O porque de ter sido eu. O único nome na urna de Dimer. Único. Como um destino já traçado, como um imenso ponto final. É assim que as pessoas resolvem os problemas por aqui e eu, com certeza, andava trazendo muitos problemas.

Ainda assim, mesmo que eu jamais tivesse incendiado um celeiro ou mesmo que jamais tivesse caçado em terrenos privados, ou até mesmo se jamais tivesse acertado uma flecha no filho do prefeito, ainda assim meu fardo seria esse. Eu jamais tive um talvez, mas eu ainda não sabia disso, então naquela noite me abracei a todos os talvez que eu sentia ter perdido, soluçando contra a pelagem cor de café de Dalva.

No dia seguinte os vômitos me despertarem bem cedo e, mais rápido do que pude assimilar, Dalva foi embora. Como sempre fazia. Era algo que eu sempre tentava não levar para o pessoal, pois sabia que se a nova marca era dolorida em mim, uma nova transformação devia ser uma dor absurda para ela. Não gostávamos de nos ver sofrer, então eu ficava sem o apoio do único ser capaz de compreender a dor, de verdade.

— Toc, toc — diz mamãe, entrando.

— Também funciona se você bater — murmurei. Meu hálito estava cheirando a peixe podre e eu não gostaria de ver meu reflexo tão cedo.

Mamãe sentou-se em minha cama, suspirando.

— As enfermeiras logo chegarão... Preciso que tome um banho, vista-se de acordo e coma esse chá — abre então as mãos, mostrando-me. Tinha flores brancas nas pontas dos galhos finos e escuros como carvão. — É para os enjôos, você sabe. Mastigue durante o banho.

Eu sabia, todo ano era a mesma coisa. Um pouco difícil de esquecer. A dor dessa vez era bastante aguda na parte de trás do ombro direito.

— O que você acha que é? — pergunto, virando-me para que ela visse enquanto eu tirava a camiseta vomitada e banhada de suor.

— Eu não sei querida — mamãe passa os dedos frios como geada pelo lugar, a pele ardia em febre e sua mão foi um reconforto. — Pode ser um cachorro, um urso, um leão? Algo com orelhas arredondas, no geral. É tudo o que consigo ver.

— Provavelmente é tudo o que ainda há — murmuro. — E se elas quiserem ver?

— Nunca querem, meu bem. Basta ter a fossa em seu braço.

E eu a tinha. A primeira insígnia, a verdadeira. Dalva. A semelhança entre a tatuagem e o animal era bizarra, pois na marca a fossa se encontrava sentada como um gato costuma fazer, posição em que fossas dificilmente ficavam, mas Dalva sempre estava daquele jeito. Porque Dalva era não só fossa, como diversas outras coisas.

— Vi Dalva saindo está manhã — mamãe comentou, levantando-se. — Talvez isso seja um problema.

Concordei. O banho gelado acordou todo o resto que dormia em mim e amenizou a ardência na pele. Me sentia pesada, oca e triste, e odiava com todo meu ser isso. No meu quarto havia fotografias diversas, tínhamos fotos de papai e mamãe, papai em seu barco de pesca comigo e Sirius, mamãe e Sandy com Max, muitas fotos recheando as paredes. Da janela conseguia ver o sol lutando com as nuvens espessas por um espaço para brilhar, apesar disso o dia estava claro e frio como todos os outros em Dimer.

“Ao menos não fora no rosto, As” Sirius diria. E seu jeito direto e calculado de achar respostas e lados bons seria o suficiente para arrancar a autopiedade de mim. “Cinco minutos para choramingar, meu amor, e depois vamos descobrir as novas coisas que pode fazer” papai diria e isso me animaria pelo resto do dia.

As enfermeiras iriam testar meu elemento, por isso era preciso estar confortável. Ao me olhar no espelho era bastante claro o quanto eu podia ser grata por todas serem fáceis de esconder. Havia boatos de crianças com insígnias no rosto, nas mãos ou no pescoço, lugares complicados para se esconder anomalias.

A garota no reflexo tinha os meus olhos, mas estavam tão cansados, tinha as minhas expressões, mas no seu caso estavam caídas, a mesma pele, mas carregava nela marcas de uma noite mal dormida, com a boca que era minha curvada para baixo, com meu nariz, mas o dela era avermelhado mostrando claros sinais de uma imunidade caída. Era uma versão minha decadente assim como me sentia e eu a odiei.

— Bom dia — digo ao cruzar com Sandy no final da escada. Ela estava sentada no último degrau com um pote cheio de cereais.

— Bo di a — respondeu com a boca cheia.

— Mastigue antes de engolir, Cibele — mamãe ralhou e Sandy engoliu tudo rapidamente para corrigi-la com o famoso “Sandy, é Sandy!”

Ao sentar-me na mesa um café e dois pães me esperavam.

— Tão pálida — mamãe murmurou me olhando.

O início da longa manhã fora entediante e me deixara nervosa com as longas horas que não passavam. Eu deixei café com leite esquentar demais e derramar sobre o fogão e mamãe ficou um pouco irritada então às oito horas Molly me expulsou de casa, para que fosse treinar. Eu não saía de casa desde O Incidente de duas semanas atrás.

Sandy foi comigo até a porta, mas ao olhar para rua fez uma careta e correu se atirar no sofá. Eu a invejei por poder ficar deitada com seus fones de ouvido no máximo pensando em porque raios abacaxis não sabem falar, mas eu não trocaria de lugar por ela nem se me obrigassem. Antes eu do que ela, ou qualquer uma de suas amigas, ou de qualquer garota na odiosa Dimer.

O vento gelado era um alívio para mim e para o meu dom, mas não pude deixar de perguntar onde estava Dalva. Era sempre mais fácil treinar com ela e ela também não havia saído desde O Incidente. Ao invés de tentar treinar qualquer coisa sentei no chão e deixei que um vento frio levasse para longe todos os meus problemas, cansaço e ilusões partidas.

— Como é ficar longe de sua insígnia, mãe? — uma Astrea muito menor perguntava para Molly há anos atrás, após as primeiras partidas de sua vida.

— É um tipo diferente de solidão, meu amor — os cabelos de Molly estavam compridos e caiam em cachos perfeitos que eu gostava de ficar brincando enquanto estava no seu colo. — É como ter seu brinquedo favorito no parquinho vazio, mas ao chegar lá ver que está quebrado, isso porque você teve todas as sortes do mundo ao encontrá-la, então ela se separa de você por um tempo longo e você sente como se não soubesse mais como respirar.

— Por que eu nunca senti isso mesmo sem insígnia?

— Porque não pode sentir falta de algo que nunca teve  então Molly ergueu meu rosto e uma brisa aconchegante soprou sobre nós —, mas você logo saberá como é isso. Ela virá.

Nossa casa era o mais longe possível da vizinhança, era a ultima casa da rua ao pé da montanha. Era simples, com um galinheiro e um poço assim como todas as outras casas. Nada demais. O nosso vizinho acenou para mim, sorrindo. Agradeci por ele não tentar me parabenizar. Observei como seu nariz abria quando fazia força para tirar água do poço, observei suas rugas destacando-se quando sorriu para minha mãe, que apareceu ao meu lado e como saiu correndo para a cidade quando a carruagem motorizada apareceu.

— Espero que tenha treinado — mamãe resmungou, limpando as mãos molhadas no pano de prato no seu ombro.

— Você me conhece melhor que isso — sorri amarelo.

De dentro da carruagem saíram duas mulheres idênticas com cabelos curtos e pele escura como a noite. Eram lindas, mas havia algo perturbador em seus olhos.  Eram terrenas, eu logo consegui sentir pelo modo como desceram da carruagem e cravaram seus pés no chão, pareciam árvores em seus devidos lugares. As coisas a partir da chegada delas foram rápidas e confusas. Uma tirou meu sangue enquanto a outra desenhava minha insígnia em um papel que carimbou com o selo real e pingou uma gota do meu sangue — e eu mordi a língua para não perguntar porque desenhos e não fotos. Eu tive alguns minutos de paz no banheiro enquanto tentava mijar dentro de um pote minúsculo para que a Número Dois fizesse com ele o mesmo processo que com o sangue, catalogando, carimbando, guardando. Ao sair de casa outra vez a Número Um sorriu ardilosamente para mim, tirando seu casaco pesado e soprando ar quente em suas mãos.

Eu não sabia como as observações sobre meu dom seriam feitas até aquele momento, mas ver a Número Um se preparar me surpreendeu bastante. Ao contrário do que pensei, ela não lutou comigo como eu esperava, mas ao invés disso montou uma mesa entre nós e depositou sobre ela pedras de diversos tamanhos.

— A senhorita já fez isso alguma vez? — ela perguntou, tirando mais e maiores pedras de uma mochila.

— Não — respondi. Estava curiosa como uma criança, primeiro erro que Sirius apontaria.

— Esse teste vai ver quão forte seu dom é — explica a Número Um. — Chrys vai anotar dados como extensão do seu poder, além de distância e tamanho usando como base os diferentes tamanhos de pedras, a força do seu poder comparado com os níveis de contrapeso que eu vou colocar sobre a pedra que você tentará fazer flutuar e a sua concentração enquanto eu falo com você.

— Falar comigo?

— Não gosta de conversar? — mais um daqueles sorrisos que mostra os caninos.

— Não quando não conheço o outro lado — disse. Amarrei o cabelo tentando abafar a mania de arregaçar as mangas, pois o beija-flor no braço esquerdo podia estragar bastante as coisas.

— O que você quer saber? — ela pergunta, arregaçando suas mangas e estrelando os dedos. Parecia se divertir muito com tudo. — Fazemos assim, uma pergunta por uma pergunta.

— Por que falar comigo? — pergunto, pois perguntas ela faria de qualquer jeito.

— Para saber como você assimila os seus sentimentos. A maioria das pessoas não consegue agir sem pensar bastante no que irá fazer, porque pensar é um reflexo maldito muitas vezes. Você faz ideia de como as emoções dominam as pessoas?

— Faço, essa foi sua pergunta. Quem é você?

— Sou Kat, irmã mais velha de Chrys — ela sorri e aponta para a Número Dois. — Ela é minha única família. Agora me conte sobre sua família, Astrea, enquanto ergue essa brita.

— O mais velho se chama Sirius, depois vem Cecily, então eu e por último Sandy — a pedra dava piruetas enquanto eu falava, era bom usar o dom outra vez. Libertador. Eu conseguia sentir a pedra como se estivesse sobre minha palma enquanto a girava no ar, por fim resolvo soltá-la sobre a mão de Chrys, que observava tudo escorada na carruagem.

No início fora fácil e eu pensei que o tópico família estava preenchido, vieram perguntas sobre escola, sobre insígnia onde mostrei Dalva em meu braço e expliquei que ela havia ido caçar, pois andava bastante nervosa nos últimos dias — uma desculpa bem aceita já que eu estava nos Jogos agora. Houve a repetição das mesmas perguntas que H. Carpenter me fizera até que as perguntas ficaram mais difíceis assim como as pedras ficavam cada vez maiores. “Por que vieram para Dimer? Como vieram? Em quantos? Como fora se adaptar a um novo clima completamente diferente da capital?”, achei então que não houvesse como piorar até chegarmos na maior pedra de todas, escorada na ponta direita da mesa, ela era do tamanho do poço em nosso quintal e eu estava tão exausta de lutar contra Kat e suas perguntas difíceis que gostaria de nunca ter começado esse interrogatório — seria mil vezes melhor fingir ser fraca à passar por isso.  

— E sobre seu pai? — Kat perguntou. Seu suor fazia os cabelos loiros grudarem em sua testa.

No início era fácil ignorar o leve peso que ela estava fazendo nas pedras, mas conforme cresciam as pedras a sua influência ficava mais forte e agora seu poder era tão palpável para mim quanto o seu ar. Eu quase podia o ver fluir dela até o ar entre nós: era denso, escuro e terroso e eu procurei qualquer sinal de que mais alguém conseguia ver a nossa batalha. Eu tentava erguer a pedra, mas sem resposta alguma e Kat a sugava para baixo, fazendo a mesa ranger e as outras pedras vibrarem, uma platéia sem vida para nós.

— E o seu pai, Astrea? — repetiu a pergunta, mais severa, mais dura, mais abafada. Me senti soterrada, há milhares de metros abaixo da superfície e afundando.

Olhei para mamãe que pelo canto do olho se aproximava, mas rapidamente Chrys a segurou, pedindo para que esperasse. Tudo parte da consulta. Enfermeiras diferenciadas, eu preciso admitir.

— Desaparecido — cuspi. Erga!, eu implorava dentro de mim, por favor, erga-se merda, mas não funcionava e eu já não sabia se gritava com a pedra ou comigo. — Quem é, realmente, você? — murmurei assustada para Kat, ela sorriu outra vez. Qual era sua maldita insígnia afinal?

— Já contei tudo o que perguntou sobre mim.

— Insígnia — cobrei, enquanto rangia os dentes fazendo mais e mais força. Eu estava suando e tentava fazer com que alguma brisa soprasse em minha direção, mas não adiantava e minha nova insígnia ardia cada vez mais.

— Coiote — então ela solta a pedra. Eu sinto quando a barreira enorme desaparece e eu faço a pedra voar. Eu queria gritar com ela, eu queria bater nela, eu queria destroçá-la e isso não vinha de mim, mas da marca no meu ombro ardendo como o inferno. Eu sentia que poderia partir aquela pedra em pedaços e jogá-los todos na mulher a minha frente.

Sandy já encontrava-se sentada na porta assistindo ao pequeno show e eu fingia ainda não ter notado a multidão atrás da carruagem das gêmeas que aumentava e tentava enxergar o que estava acontecendo e porque tantas pedras voavam. Dessa vez não havia forcados e gritos enfurecidos.

Curvo-me até apoiar minhas mãos nos joelhos. Kat agora rolava até o nosso meio uma pedra ainda maior, maior que o poço, maior que a maldita última pedra, quase do tamanho da carruagem. Nem fodendo. Ela havia tirado aquilo da montanha apenas para me estudar? 

— Erga — ela pediu, mostrando-me a pedra ainda maior.

Mas eu não a ergui. Inferno, era pesada demais. Eu gritava para mim: “erga, Astrea, erga!” e soltava gemidos estridentes, mas a pedra nem tremia. Concentrei tudo o que conseguia naquilo e ela nem se mexeu.

Porra, eu já estava morta.

Era disso que dependia minha sobrevivência? Podiam servir-me a milanesa, e que o primeiro prato fosse para as gêmeas. Elas mereciam, bem no fim. “Coiote”, bem, agora fazia sentido seus caninos sempre tão à amostra. Neste dia eu era a sua presa e ela se divertia comigo, não pude deixar de pensar onde estava sua insígnia e a da irmã. 

— Você treinou alguma vez seu dom? — Chrys pergunta. Agora via que tinha uma planilha em suas mãos.

— Quando meu irmão morava conosco ele treinava com todos nós.

Chrys sorriu, concordando.

— Você foi muito bem — Kat diz. — Para alguém que não sabe o que está fazendo...

Agora eu já estava completamente ajoelhada no chão.

Obrigada?

— Sim — respondo.

— O que ela está tentando dizer é que seu nível de desempenho foi um dos melhores, afinal as pessoas tendem a focar esforços em suas insígnias. Você é uma surpresa — Chrys explica, se aproximando. A enorme pedra rola para o lado para que elas cheguem até mim.

— Uma boa surpresa para encerrar um dia de trabalho — Kat concorda. — Pertenço a Guarda Azul, deve realmente sentir-se orgulhosa pelo seu desempenho. Os dados serão entregues a você no seu primeiro dia no palácio, assim como os resultados do exame de sangue e urina, e se houver qualquer anomalia entraremos em contato com você.

Eu nunca havia ido a muitos médicos, mamãe dedicou sua vida em descobrir jeitos de me curar sem precisar me levar para pessoas que fariam perguntas ao ver tantas insígnias em alguém. Eu não fazia ideia se algo como “insígnias demais” aparecia no sangue ou urina.

— Preciso que assine aqui — Chrys alcança então a planilha. — É para confirmar que estivemos aqui e você fez o exame de desempenho.

Ao fim das burocracias, quando todas as pedras foram recolhidas por uma Chrys calma e uma Kat devoradora, ambas se aproximaram para se despedir e para agradecer o café e lanche que minha mãe as entregava (para a viagem de volta — ela dizia). Ambas se encontravam dentro da carruagem quando começaram a discutir algo e então Chrys desceu, levemente irritada.

— Houve uma mudança de planos e as apresentações serão feitas está madrugada, aqui está um número de emergência para que tirem qualquer dúvida e que cobrirá qualquer transtorno pelas mudanças repentinas de planos.

Isso fora bastante confuso naquele dia. Porque esse tipo de jogo era muito distante de nossa realidade.

— Está tudo bem? — mamãe perguntou, torcendo as mãos.

— Houve uma tentativa de ataque há duas selecionadas durante seus exames — Chrys explicou calmamente. Eu soube que o único motivo para ter nos contado foi o jeito hospitaleiro de Molly, o olhar duro que Kat lançou a irmã confirmou isso —, por isso será mais seguro ter todas juntas o quanto antes.

Acho que vacilei um pouco ao ouvir isso e cai outra vez ao chão.

— Hoje à noite? Partirei essa noite?

— É para sua segurança, senhorita Howard — Kat respondeu. Fazia sentido ela ser parte da Guarda Azul, bastava olhá-la para saber. Dura como o mármore e assustadora como a noite, eu sentia como se ela pudesse derrubar a montanha sobre nós. Eu não me decidi ainda se isso me encantou ou me apavorou.

— Sirius tentará vir — Chrys sussurrou, passando por mim. — Amanhã seria uma surpresa, hoje me parece impossível.

Então partiram e o povo partiu com elas, nada demais havia ficado para trás: eu sentada no barro, minha irmã congelada na porta e minha mãe chorando para o caminho.

— Por que não pediram para você fazer redemoinhos? Sempre fora boa com isso — Sandy diz, espanando a bunda e entrando outra vez em casa. Estava chateada.

Mamãe respirou fundo antes de oferecer sua mão para mim. Ainda usava a aliança de casamento, era grossa com redemoinhos desenhados. Um lembrete dos grandes vendavais que conseguia criar, da tempestade de neve que guardava dentro de si.

— Bem, parece que temos muito a fazer, então — sorriu para mim.

Odiei fazê-la passar pelas horas seguintes.

Ligar para parentes, arranjar um padre, arrumar a igreja, escrever um discurso de despedida e comprar vestidos novos para mim e Cibele. Na maior parte desse tempo foi me permitido sentar e vegetar, o que me deu muito tempo para me preocupar com o que seria de minha família agora. Sandy era muito nova para caçar e mamãe não saía de casa para sobreviver há muitos anos, além de que agora sobrava apenas uma fossa anã para protegê-las.

De todas as maneiras possíveis Astrea era, de novo, a ruína dos Howard. E eu não podia nem mesmo me dar o direito de desabar.


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Notas finais do capítulo

E aí?
Uma boa semana doces ♥



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