A Criada Francesa escrita por Claen


Capítulo 4
Um Pedido Silencioso




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No fim das contas, acabamos não visitando Lestrade, mas pelo menos, Holmes conseguiu expor seu ponto de vista para o médico, que para nossa sorte, aceitou sua opinião muito melhor do que imaginávamos.

Não havia mais nada a ser feito no hospital naquele momento, então aproveitamos a presença do Inspetor Gregson e decidimos que o acompanharíamos até a Scotland Yard, enquanto a Sra. Hudson voltaria para a casa. Porém, antes que pudéssemos seguir com o planejado, algo inusitado aconteceu, quando passávamos por um corredor, à caminho da saída. Algo nos deteve momentaneamente, ou melhor, deteve a Holmes.

Enquanto caminhávamos, Holmes parou subitamente. De início não entendi sua atitude, mas logo vi que ele não tinha parado porque queria, mas sim porque sentiu seu casaco sendo segurado por alguém. Ele olhou à procura do responsável por tal ato e se deparou com um homem ao seu lado, bastante debilitado. Ele aparentava ter por volta de 65 anos e seus cabelos já estavam quase que completamente embranquecidos pelo tempo, assim como sua longa barba. O idoso estava sentado em uma cadeira de rodas e não se movia nem emitia som algum. Ele parecia estar usando toda a força que ainda tinha para segurar o casaco.

Holmes pareceu ter se irritado no início, mas em questão de segundos sua expressão mudou para algo mais parecido com curiosidade. Ele se agachou em frente à cadeira de rodas e olhou atentamente para o pobre homem, mas também não disse nada, apenas soltou sua mão do casaco delicadamente e se libertou.

Os dois permaneceram em silêncio, se olhando, e todo o ato não levou mais do que um minuto, porque logo em seguida, uma moça que parecia uma enfermeira, mas não daquele hospital, veio se desculpar e conduziu sua cadeira de rodas em direção à saída.

— Peço que me desculpe, senhor. Ele não teve a intenção de incomodá-lo. – disse ela, com uma expressão séria.

— Não foi nada. – respondeu Holmes, enquanto via os dois se afastarem.

Contudo, quando eles já estavam cruzando a porta, fui surpreendido por um chamado de Holmes.

— Atrás deles, Watson! – disse ele, já saindo em disparada.

— O quê? – perguntei atônito, mas sem obter uma resposta, porque ele já estava longe. Perguntei-me o que teria levado meu colega a sair correndo como um doido dentro de um hospital, mas acabei tendo que fazer o mesmo, e deixando a Sra. Hudson e o Inspetor Gregson para trás, olhando um para a cara do outro, sem entenderem nada.

— O que foi, John? Onde vocês estão indo? – foi o que escutei a Sra. Hudson perguntar enquanto me afastava, mas também não pude dar-lhe uma resposta, afinal, eu mesmo não sabia o que estava acontecendo.

Quando o alcancei, já na calçada, o encontrei olhando freneticamente para todos os lados, bastante contrariado.

— Mas que droga! Demorei demais para entender! – dizia ele, já desistindo de sua busca.

— O que foi, Holmes? – perguntei novamente, tentando conseguir uma resposta dessa vez.

— Eles devem ter entrado em uma carruagem. Já deviam estar esperando por eles.

— Eles quem?

— O velho e a enfermeira!

— Mas por que você estava atrás deles, afinal?

— Porque ele estava me pedindo ajuda, você não viu?

— Como assim? Ele não disse uma palavra... – perguntei totalmente confuso.

— Não foi preciso. – disse ele seriamente.

Ainda perdido, acompanhei-o de volta ao hospital. Encontramos a Sra. Hudson e Gregson na porta, mas Holmes entrou novamente e seguiu até a recepção.

— Mas vocês vão entrar outra vez? – perguntou nossa senhoria cada vez mais confusa. – O que está acontecendo, John?

— Para falar a verdade, eu não faço a menor ideia, Sra. Hudson. Mas acho melhor irmos atrás dele.

Quando entramos outra vez no hospital, encontramos Holmes discutindo com a pobre da recepcionista.

— Infelizmente, só temos autorização para passar informações a respeito dos pacientes para seus familiares ou amigos. E o senhor claramente não é uma coisa nem outra. – disse a moça calmamente.

— Mas eu só quero saber o nome dele, nada mais! – disse ele, irritado.

— Já disse que não posso passar essa informação, senhor. Isso é ilegal. – continuou ela.

— Ilegal! Ilegal! Por que é que eu não posso saber apenas um nome? – alterou-se Holmes.

— Holmes, pare com isso! – precisei intervir, porque ele já estava causando um pequeno alvoroço dentro do hospital. Se ele continuasse com aquilo, os seguranças com certeza o colocariam para fora.

— A moça já disse que não pode dar informações sobre os pacientes e ela tem razão. – falei, já o puxando em direção à saída. – Desculpe o meu amigo, senhorita. É que ele está um pouco alterado, porque um conhecido nosso está em estado delicado.

— Tudo bem, senhor. Só leve-o daqui, por favor, porque ele está incomodando os pacientes.  

— Pode deixar. Nós já estamos de saída.

Assim que disse isso, o arrastei em direção a Sra. Hudson e Gregson e fomos embora. Ele não estava nenhum pouco satisfeito, mas tinha se dado por vencido e entendido que não conseguiria as informações que queria daquele modo impetuoso.

— Ela não quis me dizer por pura implicância! – disse ele contrariado.

— Eu também não lhe teria dito, se fosse ela! – falei, deixando-o ainda mais irritado.

— Oras...

— Ela não pode sair passando informações pessoais dos pacientes para qualquer um. Talvez se você tivesse sido pelo menos um pouco mais gentil, teria conseguido alguma coisa. Pega-se mais moscas com mel do que com vinagre.

Ele viu que eu tinha razão.

— John... – disse ele, e eu não gostei. Ele só me chamava pelo primeiro nome quando queria alguma coisa. – Você sempre teve mais jeito com as mulheres... Não gostaria de voltar lá e tentar arrancar a informação daquela tiranazinha?

— De jeito nenhum! Depois da vergonha que nos fez passar? Eu não tenho cara para voltar lá e continuar importunando a moça, que só está fazendo o trabalho dela. É capaz até que o segurança nem nos deixe entrar.  Vamos esperar um pouco. Talvez eu volte amanhã, em outro horário, e fale com outra recepcionista.

— Mas aí ela nem vai saber de que paciente se tratava, afinal ele já foi embora.

— Sinto muito, essas são as minhas condições. – respondi, irredutível.

— Tudo bem, Watson. Não o obrigarei. Eu vou dar um jeito de descobrir. – disse ele já conformado, mas totalmente decidido.


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