Lover. escrita por Jones


Capítulo 7
london boy. - Abbie e James.


Notas iniciais do capítulo

Música do capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=UO0N7j9yI10

Essa é a única em terceira pessoa, a mais boba e com participação especial de Scorose.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/792607/chapter/7

— Uma dose de Jack, puro. – Se sentou e pediu ao homem atrás da bancada. 

— Senhorita, servimos apenas café. – O barista a olhou com certa estranheza. – Os pubs só abrem mais tarde. 

— Que horas são? – Ela perguntou confusa.

— Oito e dez. 

— Da manhã? – Perguntou incrédula. 

— Sim. – Ele apertou os olhos. 

— Merda. OK. Beleza. – Respirou fundo. – Traz um espresso duplo. 

"Merda de fuso horário, merda de cafeteria, merda de Londres." Ela disse mais para si mesma do que com intenção que alguém a escutasse. Então ela ouviu uma risada. Quem ousara fazer pouco de seu desabafo? 

— Do que você está... – Parou no meio da frase. Havia um rapaz alto, de cabelo castanho escuro e olhos castanhos claros, porte atlético, algumas sardas no rosto... Mas o que chamou atenção realmente foram as covinhas que apareceram no seu rosto quando ele riu. – rindo? 

— Americana, certo? – Ele puxou um banco ao lado dela, fazendo-se confortável mesmo sem convites. – Tennessee?

— Como você...

— Sotaque. – Ele encolheu os ombros. 

— Eu nem tenho sotaque. – Girou os olhos e franziu o nariz dando razão ao estranho. – O sujo falando do mal lavado.

— Nesse caso eu sou o sujo e você a mal lavada? 

— O senso de humor de vocês é realmente estranho. – Ela agradeceu ao barista pelo café e tomou um gole. A diferença do sotaque arrastado dela e daquele sotaque Downton Abbey dele era que o dele era mais... Elegante. Ela precisava reconhecer. 

Primeiro tinha a risada gostosa. Depois as covinhas. Daí o sotaque britânico.

— Mas você não veio do Tennessee. – Ele olhou para cima tentando adivinhar. – Sul da Califórnia? 

— Ah, essa foi fácil. – Ela disse depois de uns segundos. Olhando para o seu suéter da Universidade do Sul da Califórnia, ela riu. – Não é o look mais elegante que eu já usei na vida... 

Agora que conversava com um cara bonito numa cafeteria que ela desejava que fosse um bar, reavaliou o conjunto que escolhera para sua viagem a Londres: um suéter se moletom da universidade, uma calça jeans e tênis de mola pela escoliose que ela tinha desde os 16 anos. Era um vôo de 12 horas, precisava de roupas confortáveis. 

Questionou a decisão de não colocar uma maquiagem antes de sair do aeroporto. 

— Parece confortável. – Ele sorriu.

Covinhas, sorriso torto... Talvez a Inglaterra não fosse tão ruim assim. 

— É a única coisa que eu tenho para vestir até esse aeroporto legal de vocês encontrar minhas malas. – Ela girou os olhos e tirou da bolsa alguns dólares. – Quanto custa? 

— Três libras. – Respondeu o barista.

— Quanto isso dá em dólares? – Mordeu o lábio, arrependida de não ter trocado o dinheiro antes de sair do aeroporto. 

Tinha saído do aeroporto bufando. Já não bastava ter sido transferida para o que parecia ser o outro lado do mundo, ainda tinha ficado sem a bagagem, sem bateria no celular e sem sono. Eram 8 horas de fuso horário e mais 12 de voo e, por ser péssima em geografia, sentia como se tivesse viajado no tempo para o futuro. 

Sem contar que era tão cinzento que parecia ser qualquer horário menos oito da manhã. 

— Eu pago. – O estranho a ofereceu. – Você pode me devolver em doses de Jack mais tarde. 

— Mais tarde? 

— Agora, se você não tiver nada para fazer, a gente pode dar uma volta. – Ele a estendeu um capacete. – Está um dia lindo lá fora.

— Está cinza e frio.

— Mas não está chovendo. – Sorriu novamente. – A gente pode dar uma volta na minha Scooter. 

— Você sempre convida pessoas que você mal conhece para dar uma volta? – Ela disse tentando erguer a sobrancelha. 

— Na verdade não, mas por que não? 

— Porque a gente não se conhece? 

— James. – Lhe estendeu a mão. – E você? 

— Abbie – Apertou a mão e sorriu. – Isso é loucura. Como vou saber que você não vai vender meus órgãos no eBay? 

— Do jeito que você pede Jack Daniels às oito da manhã, não tenho certeza se seus órgãos estão próprios pra uso. – A lançou uma piscadela. 

— Touché. – Abbie riu. – Não que isso tenha me convencido que você não vá roubar minhas córneas como em filmes de terror. 

— Você está ocupada agora? 

— Na verdade não. – Levantou do banco, fingiu pensar e pegou o capacete. – Para onde vamos? 

— Não sei. No caminho a gente descobre. 

Gostaria de não estar tão encantada pelo estranho que agora descobriu se chamar James. Ele parecia impulsivo e engraçado, e por mais clichê que isso seja, tinha um sotaque tão charmoso. Se Abbie contasse que subiu na Scooter de um estranho para sua mãe no seu primeiro dia em Londres, seria deserdada. 

Apertou a cintura de James enquanto admirava a cidade, talvez Londres não fosse tão ruim assim. Havia um ar elegante e romântico na cidade antiga, era fantástico o cenário digno de um romance épico e triste com final em aberto. Abbie se sentia a protagonista de uma comédia romântica enquanto tentava não morrer de medo na garupa da Scooter azul e branca. 

— Primeira parada: Camden Market. – Ele estacionou depois do que parecera ser 30 minutos. – Esse lugar aqui tem mais de mil lojas e barraquinhas de rua. Está com fome? 

— Acho que sim. – Abbie olhava maravilhada para a explosão de estilos diferentes numa mesma rua. 

— Burritos para café da manhã? – Lhe lançou um desafio estranhamente animado. 

— Topo. 

James a pegou pela mão na desculpa de guia-la por entre a multidão que abarrotava o mercado de Camden. Abbie não sabia, mas ele se sentira encantado por ela desde que ouviu sua voz, o que era esquisito, uma vez que a primeira coisa que escutara saindo de seus lábios cheios foi um pedido por doses de whiskey de Tennessee. Seu sotaque carregado com vogais mais lentas e um R puxado era muito interessante. Achou engraçado o ódio que ela tinha por Londres sem nem conhecer, pensou que talvez ela não aceitaria dar uma volta com ele... Certamente uma garota britânica não aceitaria.

Ela era uma perfeita americana que sorria fechando os olhos como uma criança, expressiva e engraçada. Tinha uma risada gostosa e tiradas irônicas e inteligentes. 

— Eu queria ter uma câmera para registrar esse lugar. - Ela disse quando passaram em frente ao Dingwalls. - Blondie e Sex Pistols já cantaram aqui. 

James tirou o celular do bolso. 

— Eu tenho câmera. – Sorriu. – Bom que eu ganho uma desculpa para conseguir seu número ao fim do dia. 

— Isso sim é esperteza. – Disse posando ao lado da fachada do Dingwalls. – Minha mãe vai adorar receber essa foto. 

James pensou que jamais vira uma mulher tão linda. Ela era baixinha, devia ter um pouco mais de um metro e meio. A pele era negra e o rosto corado com pontinhos perto do nariz com a ponta redondinha. Tinha olhos castanhos como os dele e um sorriso com uma falha entre os dois dentes da frente. Os cabelos estavam armados e inquietos enquanto ela andava lentamente de barraca em barraca, de loja em loja. 

— Burritos de Yorkshire. - James disse, quando o prato chegou à mesa. - Uma joia rara britânica. 

— Isso é incrível. - Ela disse com a boca cheia. - MARAVILHOSO! 

— Como anda sua opinião sobre Londres? – Lhe desafiou com o olhar. 

— Melhorando. - Lançou lhe uma piscadela. 

Os olhos de James brilhavam enquanto ela devorava o burrito com vontade ao mesmo tempo em que se sujava toda. Tirou fotos dela comendo, reclamando que ele estava tirando fotos enquanto ela estava comendo, fazendo careta e mostrando o dedo. 

— Os britânicos sabem cozinhar mesmo, hein. - Abbie disse quando terminou de comer, exausta. - Eu diria que foi uma das melhores coisas que eu já comi na vida. 

— A gente pode vir comer toda semana. - James voltou a flertar. 

— Que isso, rapaz, mal me conhece. – Ela riu. - Talvez se você pagar e eu descobrir onde eu moro para você me buscar. Ah, e eu tiver roupas para vestir. 

— Já está dando muito trabalho. - Fingiu bufar e sorriu em seguida.

— Coisa boa dá trabalho. - Abbie entrou na brincadeira. - Ok. Qual o próximo destino, meu guia turístico? 

— Hmmm. - Fingiu pensar por uns segundos. - Já sei! 

Voltaram a scooter sorrindo e brincando, enquanto James bancava o paparazzi. Abbie não queria admitir que estava se divertindo e que já estava gostando de um cara já nas primeiras horas em que pisara em Londres. Por mais que achasse o conceito de destino e "estava escrito" uma babaquice, não pode deixar de pensar no que teria acontecido se sua mala não tivesse sido extraviada e ela não tivesse andado aleatoriamente até aquele café perto do aeroporto. 

Será que ela ainda teria conhecido James? 

— Onde estamos? - Ela perguntou olhando para todos os lados, ansiosa. 

— Talvez resolvendo o problema de "não tenho roupas". – James pegou os capacetes. - Bem vinda ao West End, mais especificamente, SoHo.  

— Mais um lugar incrível. – Ela disse maravilhada com as pessoas e os estilos diferentes de roupas e diversidade. – Você está muito convencido a me fazer gostar da cidade. 

— E como eu estou me saindo? – Deu a volta para parar em frente a ela. 

— Muito bem. - Sorriu dando um soco fraco no braço dele. - Eu achando que você ia me levar em Buckingham ou Kensington, London Tower...

— Preciso de uma desculpa pra te ver novamente. - James falou, mas uma vez segurando sua mão para guiá-la pelas ruas. - Sem contar que são pontos turísticos óbvios, temos muito tempo para visitá-los... 

Ela já sabia que queria vê-lo novamente. Era óbvio, evidente, certo. Estava feliz porque ele já mencionara que queria levá-la para sair dezenas de vezes. 

— Vamos fazer a montagem Uma Linda Mulher. - Abbie disse correndo. 

— Você já sabe onde ir? 

— Não faço ideia! - Ela riu. - Por que você parou? 

— Só um minuto. - Pegou o celular.

Já com a câmera em punho, conseguiu flagrar seu sorriso quando os primeiros acordes de Pretty Woman tocaram na voz de Roy Orbison. 

— Não é Beverly Hills, mas você vai gostar. - James garantiu, parando em frente a majestosa Liberty. 

— Isso é uma loja? - Abbie admirou perplexa ao que James confirmou com a cabeça - Isso. É. Incrível. 

— Americanos consumistas. - James debochou. - Também temos Louis V na Bond Street. 

— Acho que não cabe no meu orçamento. - Abbie fez uma careta para James.

De fora dava para ver que a Liberty tinha muitos andares, toda aquela fachada vitoriana escondia uma loja moderna com departamentos para todos os gostos e designers, dos americanos aos britânicos e parisienses. As sessões de bricolagem eram incríveis, Abbie concluiu que voltaria ali milhões de vezes no futuro. 

Passaram boa parte da tarde enchendo o cartão de crédito de parcelas. Era divertido ver James saindo do provador fazendo poses enquanto Abbie fazia seu book de modelo. Abbie se divertia com as roupas que James escolhia para ela e as vendedoras da Liberty não estavam acostumadas a tantas risadas numa tarde. 

Quando James e Abbie se jogaram no sofá dos provadores, cansados, as vendedoras perguntaram se elas poderiam ajudar o casal com mais alguma coisa. Abbie já estava se apressando para dizer que eles não eram um casal quando James respondeu: 

— Não, obrigado. – Sorriu educadamente e até um tanto galanteador. - Muito obrigado pelo atendimento. Essas roupas podem ser entregues no meu apartamento em Shoreditch? 

— Claro, senhor Potter. - A atendente sorriu. - As da senhorita também? 

— Sim, se não for incomodo. - James respondeu.

— De maneira alguma. - Ela disse cheia de cerimônias. - Obrigada pela visita! E mande minhas lembranças em nome da Liberty aos seus pais. 

— Claro que sim... - James leu o nome da moça no crachá - Senhorita Lindsay. 

A atendente corou com a menção de seu nome enquanto James mais uma vez segurava Abbie pela mão. Abbie tentara ignorar o frenesi que sentia todas as vezes que ele fazia isso, mas estava ficando cada vez mais difícil. Eram mãos grandes e quentes, que enlaçavam seus dedos pequenos e gordinhos com firmeza e carinho. Ela estava cada vez mais encantada por ele, era como se ele fosse a síntese do estranho charmoso de Londres. 

— Senhor Potter? - Ela perguntou tentando imitar o sotaque britânico da moça da loja. 

— Minha nossa. - Ele respondeu com uma careta. - Esse é o melhor sotaque britânico que você pode fazer? 

— Só estou aqui há umas 8 horas. - Ela encolheu os ombros. - Inclusive. Nunca passei tanto tempo com uma pessoa só, já está na hora de nos conhecermos melhor. 

— Opa. - James arqueou a sobrancelha. - Não vai nem me pagar um chá primeiro?

— Não, seu ridículo. - Abbie girou os olhos. - Estou falando de conhecer detalhes.

— Está cada vez mais indecente essa proposta. - James riu. - Venha, já está na hora do chá. 

James a levou ao Oscar Wilde Lounge e Abbie ficou louca. Estava apaixonada por cada detalhe, das cadeiras vermelhas a todas as porcelanas dos conjuntos de chá. Colocaram uma flor vermelha na mesa e cumprimentaram James como Senhor Potter novamente. Do teto pendiam lustres lindos de cristal com uma pintura digna de um teatro antigo e colunas douradas que faziam Abbie se sentir na realeza. 

— Esse é o melhor lugar que você já me trouxe. - Abbie sorriu e num rompante de alegria, estalou um beijo nas maçãs do rosto de James. - Obrigada. 

— Se soubesse que você ia ficar feliz assim, tinha te trazido mais cedo. - James riu, chamando o garçom. - O que indicamos para uma americana que nunca tomou o chá da tarde? 

O garçom listou uma quantidade imensa de chás e sobremesas que fizeram tanto James quanto Abbie ficarem com água na boca, a dificuldade para decidir foi tanta que eles pediram uma boa parte do menu. 

— Não queria admitir, mas esse dia está sendo perfeito. – Abbie disse, após respirar fundo. - Você venceu. Agora eu gosto de Londres.

— Só gosta? - James riu, colocando a mão sobre a de Abbie, que só tomou o gesto como certo e esperado. 

— Vamos ver o que mais você vai me mostrar. - Sorriu, lançando-lhe uma piscadela.

— Você está tentando piscar? - James perguntou rindo. - Fazer sotaques, piscar e levantar sobrancelhas não fazem parte da sua gama de talentos. 

— Ah, obrigada. - Girou os olhos. - E qual é o meu talento? 

— Tentar parecer indiferente quando está louca para ter o meu número de telefone. - Ele sorriu. 

— Eu consigo seu telefone e o que mais eu quiser, meu bem. - Abbie olhou para a mão dele sobre a dela. - Até porque, você está louquinho por mim. 

— Convencida. 

— Me conta uma coisa que eu não sei sobre você. - Ela pediu, enquanto mordia um macaron. - Isso é uma delícia. 

— Eu sei. - James disse mastigando. - Hmmm eu tenho dois irmãos mais novos. Al e Lily. 

— Eu tenho um mais velho e um mais novo, Will e Alex. - Ela bebeu um gole do chá? - Por que o mundo inteiro não toma chá da tarde? 

— Burrice. - James disse rindo. - Agora você me conta algo que eu não sei. 

— Hmmm. - Ela pensou por um instante - Eu sou uma agente secreta da CIA transferida para a MI6. 

— Com toda essa habilidade que você tem pra esconder as coisas? Claro. - Gargalhou. 

— Ok. - Cruzou os braços. - Eu sou uma publicitária sem vida pessoal que foi transferida para Londres e promovida. 

— Isso parece bom... Menos a parte da falta de vida pessoal.

— Meu objetivo era Nova Iorque. - Girou os olhos. - Quem manda ser boa no trabalho? Agora é sua vez. 

— Eu sou rico. – Ele disse, como se fosse a mesma coisa que dizer o que faz para viver. – Na verdade meu pai é, herança do meu avô que também era rico... E meu pai e meus tios meio que salvaram o mundo o que sempre traz uma publicidade boa. 

— Potter... – Ela disse como quem recebera uma pancada na cabeça e gritou: - Seu pai é Harry Potter! 

— Ótimo. - Girou os olhos meio chateado escondendo o rosto. - Agora pessoas vão vir aqui. 

— E você é... James Potter. - Ela disse em choque. 

— Geralmente quando o pai é Potter o filho assumido costuma ser também. - James espremeu os olhos. 

— Você é... Muito rico.

— Eu só apliquei o dinheiro da família e investi em algumas startups, inventei uns aplicativos... Essas coisas nerds de Oxford. - James tinha a mesma resposta de sempre na ponta da língua. - Eu devo ser o solteiro mais cobiçado de Londres, ênfase no solteiro para minha modéstia não deixar de fazer sentido. 

— Todo mundo com aceso a Wikipédia sabe que a modéstia é falsa. - Abbie girou os olhos. - Não acredito que eu tô saindo com um Forbes under 30.

— Não acredito que você é uma nova aspirante a socialite agora que sabe da minha fortuna.

— Não acredito que eu ando pagando minhas contas quando a socialite aqui poderia estar sendo bancada. - Abbie riu. 

— Você é péssima. 

— Uma péssima que você quer transformar na sua socialite de reality show. - Abbie mostrou a língua. Rindo como uma criança.

— Existe reality show de socialite, tipo namorada de "empreendedor digital"? - Ele debochou do título fazendo aspas com os dedos.

— Existe reality show de tudo o que você imaginar nos Estados Unidos. De Drag Queen à procura de Vestidos de noiva. - Abbie disse rindo. - Ok. Vamos a outra coisa que você não me contou ainda. 

— Eu gosto de você. - Ele disse simples e naturalmente. - O que é esquisito considerando que nós nos conhecemos há nove horas. 

— Intenso... - Abbie riu nervosa. - Eu também gosto de você, como você deixou óbvio. 

Ele arranhou a garganta, meio aliviado por confessar algo e ser correspondido. Apesar de não estar acostumado a ser rejeitado, ela era diferente. E não daquele jeito que os amigos falavam para as meninas para levá-las para a cama, mas diferente do tipo "vou levá-la para Highgate e apresentá-la a Harry e Gina e passar todos os almoços de família com a melhor pessoa do mundo". Meio precipitado, mas era o que ele sentia. 

— Vamos para Shoreditch. - Ele disse, pagando a conta e deixando uma gorjeta. 

— Para o seu apartamento? - Abbie disse hesitante. - Não é porque eu disse que gosto de você que o senhor me convenceu a ir pra cama, mocinho. 

— Apesar da ideia ser interessante e provocante. - James analisou Abbie da cabeça aos pés. - Não era o plano. As roupas devem ter chegado e você pode tomar um banho, descansar e depois eu meio que tenho um compromisso que eu queria cancelar, mas agora eu pensei: acho que Abbie vai gostar. 

— Compromisso? Que compromisso? As roupas que eu comprei servem? 

— Qualquer coisa que você usar vai ficar perfeito. - James disse. - Eu fiquei a fim de você com um casaco largo e um jeans desbotado. 

— Mas é porque você é esquisito. - Abbie girou os olhos com as bochechas quentes. - Eu nem reparei nas suas roupas de gente rica. 

— Claro que reparou, tá aqui me admirando e me querendo há mais ou menos nove horas. 

— É você quem está contando as horas desde que nos conhecemos como num aniversário de namoro. - Abbie o seguiu de mãos dadas pelas ruas do soho até chegarem a sua scooter. - Isso porque nem nos beijamos ainda. 

— Ainda é? - James parou com Abbie encostada em sua Scooter. - Podemos resolver esse empecilho.

Encostados na Scooter de James os dois se beijaram pela primeira vez. E depois pela segunda e terceira vez. Abbie sentia seu corpo se aquecer naquele fim de tarde de Londres, os lábios de James eram firmes e gentis ao mesmo tempo, como se ele tivesse uma pressa de beija-la e ainda assim quisesse levar todo o tempo do mundo. Pareciam dois adolescentes na garoa fina londrina. Em qualquer lugar, Abbie teria se sentido irritada com a água destruindo os cachos do seu cabelo, mas não ali. Não em Londres com o céu acinzentado e ainda assim com tons crepusculares de lilás, azul e laranja, num pôr do sol sem seu maior protagonista dar seu adeus declarando o fim de sua participação no que poderia ser o dia mais perfeito e surreal de todos os tempos.

— Resolvido. - Ele disse colocando o capacete em Abbie e afivelando-o. - Podemos resolver mais vezes se você quiser, inclusive.

— Eu acho que estarei disponível para trabalharmos nesse problema. - Abbie beijou seu pescoço enquanto ele dava partida na moto. 

— Acho bom saber. - James disse enquanto eles deslizavam pelas ruas com cheiro de chuva fresca de Londres. 

As luzes da cidade pareciam vagalumes brilhantes e bonitos. James apontava para os lugares e dizia coisas que Abbie não conseguia entender enquanto ela gritava para ele manter as duas mãos na motocicleta. Abbie começou a pensar em todos os relacionamentos que teve no Tennessee, na USC e em Nova York que não deram certo e pensou se talvez fosse porque quem ela tinha que conhecer morava do outro lado do Atlântico. Não pôde evitar sentir seu cheiro e aperta-lo a cintura. 

— Agora estamos em Shoreditch, Hackney. - James disse apresentando o lugar. - Esse é o distrito onde eu moro, e pelo jeito que eu vi como você gostou do SoHo, vai ser o seu lugar favorito de Londres. E não só porque eu moro aqui, mas porque aqui a gente tem grafites de Banksy, galerias a céu aberto, feiras e mercados. 

— Eu não sabia que você era tão ligado a arte e grafites. - Abbie implicou.

— Eu tenho muitas camadas. Ok? - James se fingiu de ofendido. - Sem contar que os Potter têm gostos variados. Sabia que eu toco piano? 

— Que coisa de gente rica. 

— Sim. - James ia negar, mas deu o braço a torcer. - Muito coisa de gente rica. Enfim, vou te mostrar todo o bairro amanhã. 

— Amanhã? - Abbie sorriu.

— Você já sabe que eu quero te ver todos os dias. - James encolheu os ombros. - A não ser que você não queira...

— Meu Deus a gente tá parecendo ter 16 anos. - Abbie disse fazendo seu movimento assinatura, o famoso girar os olhos. - Claro que eu quero. 

— Eu sabia. - James riu, a segurando pela mão. - Só queria ter certeza. 

— Idiota. - Usou a mão livre para acerta-lo no braço. - É aqui que você mora? 

— Sim, bienvenue! - Fez um sotaque francês. - Mi casa és su casa.  

James era rico, Abbie constatou. 

Ele já tinha dito que era rico, mas ela viu a riqueza toda naquele grande espaço que ele chamava de casa. Parecia ser um galpão abandonado de alguma grande fábrica. Era enorme. Tinha paredes de tijolos expostos, um sofá preto gigante, uma televisão da mesma magnitude e muitos videogames. Tinha uma parede cheia de fotos e quadros, uma estante com medalhas e troféus, uma mesa de jantar para dez pessoas naquele grande espaço aberto. Havia também uma mesa de sinuca num canto com um quadro de giz e vários tacos. Em outro canto havia um corredor que deveria levar aos outros cantos do palácio de James. Abbie pensou que em Nova Iorque um lugar daqueles custaria um milhão por mês. 

— Quer um tour? - James ofereceu a puxando pelo braço - Nossas compras estão no quarto. 

— Onde nessa imensidão é o seu quarto? 

— Você acha isso aqui grande? - James perguntou animado. - Espera ver a propriedade dos meus pais.

— Nossa. Propriedade é uma coisa muito rica de se dizer. - Abbie brincou. - E esse convite para conhecer a propriedade dos seus pais meio intimidante.

— Relaxa, a gente pode ir a Highgate no próximo fim de semana. - James brincou. - Sem pressão. 

— Entendi. - Abbie riu. - Talvez daqui a um mês se eu não tiver cansada de você ainda. 

— Magoou. - James colocou a mão no coração dramaticamente. - Bem, essa é a piscina interna.

Ele disse apontando para um cômodo e ascendendo a luz. "Coisa de gente rica", Abbie murmurou. 

— Negócios de alto risco nem sempre trazem tanto retorno. - James deu de ombros. - A maior parte dessas coisas já veio com a casa quando eu a roubei.

— Entendi. - Abbie disse. - E o que é realmente seu aqui? 

— A caixa de frootloops no armário. 

— A gente é muito idiota. - Abbie riu e James encostou os lábios nos dela. - É legal ser idiota com alguém.

— Era nisso que eu estava pensando. - James a segurou pela mão novamente. – Essa aqui é uma parte importante da casa, o quarto principal.

— Ah, importante por que? 

— Porque é um lugar confortável, sua pervertida. - James se fez de ofendido. 

— Sei. - Abbie cruzou os braços. 

— Tá bom. Eu te deixo dormir comigo de vez em quando. - Fingiu relutância. - Mas não se acostuma. 

— Por enquanto meu cômodo favorito é a piscina. - Abbie mostrou a língua. - Mas no Tennessee a gente usa a piscina no lado de fora. 

— Aqui em Londres chove um bom tanto. - James disse - E piscina fortalece esse corpo esbelto. 

— Não sei como esbelto depois do tanto que comeu, inclusive. - Abbie falou. - Acabou a casa? 

— Tem mais uns dois quartos, um escritório, a cozinha e a área de serviço. - James falou como se não tivesse importância. - E o quintal, mas te mostro amanhã. 

— Você tá com a mania de amanhã. - Abbie girou os olhos. - Como você sabe que eu vou ficar até amanhã? 

— Está nos seus olhos, minha cara. Você me quer muito. 

— Caramba. Você é muito convencido mesmo! 

— Só quando eu tenho razão, o que é cem por cento das vezes.

— Nós precisamos sair hoje ainda? - Abbie perguntou, abraçando James. - E isso não é uma proposta indecente. 

— Não precisamos fazer nada que você não queira fazer. - James falou entrelaçando os dedos entre os dela. - E isso não é uma insinuação indecente.

— Quais eram os planos? - Abbie falou, brincando com o polegar dele. 

— Ah, nada. Uma ida ao pub, umas cervejas e umas comidas. - James disse sorrindo. 

— Legal. Vamos. - Abbie disse. - Primeiro quero tomar um banho e vestir uma das minhas roupas britânicas novas. 

— Vou colocar seu celular para carregar. - Ele falou, procurando um carregador. - Tem toalhas no banheiro. Quer que eu te mostre? 

— Eu consigo me virar sozinha. - Abbie mostrou a língua. 

James a observou revirando as sacolas enquanto encaixava seu celular numa tomada. Estava cantarolando sem perceber uma música familiar que James ouvia com atenção, era uma graça a maneira com a qual ela colocava uma roupa em cima do corpo em frente ao espelho procurando por alguma combinação ao mesmo tempo em que cantarolando alegremente. 

Resolveu a dar uma certa privacidade e se sentou em frente ao piano, tocando a música que Abbie cantava. Coincidentemente era uma das músicas favoritas da sua mãe, Gina. Se chamava Your Song do Elton John e James achava uma música boa, mas nunca fizera tanto sentido como agora. 

— Você é muito bom nisso. - Abbie bateu palmas quando a música acabara. - Eu amo essa música. 

James percebeu que ela estava abraçada nas roupas que pretendia usar, com uma toalha nos ombros. 

— Eu estou encantada. - Ela disse sorrindo. 

— É o meu único objetivo, te encantar. - James sorriu de volta. 

— Seu bobo. - Ela disse com as bochechas em chamas. - Eu vou tomar o banho, mas obrigada pelo show. 

— Disponha. - James riu. 

Já tinha pensado e repetido uma centena de vezes que ela era a melhor coisa que acontecera a ele nos últimos tempos. Ele a conhecia há doze horas. Doze horas que ele não pensava em outra pessoa, outro sorriso e outra voz senão a dela. Seu jeito espontâneo, bruto e carinhoso ao mesmo tempo, era tão verdadeiro e excitante. Nunca passara um dia inteiro conversando apenas e se divertindo com a mesma pessoa. Queria que todos os dias fossem assim: sem preocupações, sem destino e com a melhor companhia que já tivera na vida. 

Despertou de seus pensamentos com o toque do telefone.

— Ei. - Atendeu ao telefone.

— James, até que enfim. - Disse a voz do outro lado da linha. - Cadê você? 

— Estive ocupado durante o dia. - James falou, andando de um lado para o outro. - E você o que tem feito? 

— Além de idiota por você, não muita coisa.

— Malfoy, você está andando muito comigo. Está soando meio dramático. 

— Quem é a garota?

— Como assim? - James olhou em volta para ver se estava sendo vigiado em sua própria casa.

— A garota pela qual você me trocou o dia inteiro. - Malfoy disse. - Só poderia ter sido uma garota. 

— Você não tem namorada não? Ou outros amigos quem sabe. - James riu de seu melhor amigo. - Vai encher o saco da Rose. 

— Ela está aqui do meu lado querendo saber quem é a garota que você levou as compras hoje. 

— Como vocês sabem... vocês colocaram um GPS em mim? Estão indo longe demais com essa obsessão. 

— Está delirante. - Scorpius fingiu confidenciar de maneira audível para a noiva. - Você é, não sei por qual motivo já que nunca fez nada demais, famoso nesse país. O que significa que as pessoas sempre espalham seu paradeiro e tiram fotos de beijos em scooters. 

— Jura? - Fingiu não ter ouvido o tom paternalista de Scorpius. 

— Fica tranquilo que eles não sabem quem ela é. Nem a gente. - Ele falou rindo. - Estão chamando de Miss Americana, acho que pelo suéter da universidade. 

— Eita. 

— Eita.

— Enfim, acho que ela saiu do banho. - James falou, ignorando as insinuações feitas. - Daqui a pouco estou aí. 

Abbie saiu do banho e colocou uma saia, meia calça e um cardigã no estilo cropped Stella McCartney que quase se encontrava com a saia, deixando um pouco de pele a mostra. Resolveu secar o cabelo com o secador e um difusor improvisado com a peneira, adorava como seus cachos ficavam definidos e enfeitavam seu rosto. Resolveu acertar as olheiras, passar um batom e um rímel. Se sentia finalmente uma pessoa apresentável e atraente. Mesmo James sendo vários centímetros mais alto que ela, nada no mundo depois de tanto que andaram, a faria colocar um salto alto. Por isso colocou seus oxfords com saltos médios novíssimos e sorriu para o seu reflexo. 

— Hey, Abigail, há algo que eu preciso te contar. – James disse, a examinando de cima a baixo e vendo seu rosto se franzir com a pronuncia de seu nome e não apelido.

— A gente nem começou e você já quer terminar comigo? - Abbie se fez de ofendida e riu. 

— Talvez você queira terminar comigo. - James a chamou para sentar-se ao seu lado no sofá. 

— Tá parecendo sério. - Abbie olhou desconfiada. 

— É meio louco, devido primeiramente ao fato de que nos conhecemos hoje e nem eu e nem você tivemos a oportunidade de contar para alguém ou discutir o que a gente tem e o que a gente quer fazer... 

— A gente ainda tem tempo para isso. - Abbie achou fofa a preocupação dele. 

— Então... mais ou menos. 

— Por que? - Abbie semicerrou os olhos. - Aconteceu alguma coisa? 

— Mais ou menos. 

— Você conhece outra expressão? 

— Sim. - James girou os olhos. - Eu só não quero que você fique irritada com a situação e não queira mais sair comigo. 

— Você já tem uma namorada? - Abbie disse já irritada. 

— Primeiramente, o que? – James riu e coçou o cabelo, continuando. – Enfim, tem dia que eu esqueço que eu sou meio que famoso. 

— Ok.... – Ela semicerrou os olhos, desconfiada.

— Enfim. – James respirou fundo. - Seu celular tem uma quantidade enorme de ligações não atendidas e mensagens. 

— Você estava fuçando meu celular? - Abbie cruzou os braços. - Isso não é legal. 

— Não, nem queria ver. Eu só percebi quando coloquei para carregar e liguei e ele começou a vibrar loucamente. - James encolheu os ombros. - Daí eu recebi uma ligação de um amigo, dizendo que nossos passeios de hoje foram devidamente documentados por diferentes paparazzi e que tem uma galera tentando descobrir quem você é. 

— Ok... - Abbie levantou do sofá e começou a andar de um lado para o outro. - O que faremos agora? 

— Eu gostaria muito de continuar fazendo o que quer que seja que estamos fazendo. 

— Ah, sim. Isso eu também, claro. – Ela sorriu, mesmo que nervosa. - Eu quero dizer o que a gente faz em relação a isso, criatura. 

James se levantou e abraçou Abbie, estava zonzo de todo o seu ziguezague pela sala e feliz que a perseguição dos tabloides não a afastou dele. 

— A gente pode pensar nisso. – James acariciou seus cachos. – Eu só não queria te colocar no meio disso. 

— Como ainda estamos descobrindo esse lance, isso acaba sendo um tanto inconveniente. – Abbie falou, mordendo o lábio inferior e colocando um cacho de cabelo atrás da orelha. – Mas eu gosto de você... Quer dizer, você é até legal. Então, talvez a gente tente ter mais cuidado na próxima vez.

— Próxima vez?

— Riqueza não limpa as orelhas mesmo. - Abbie respondeu sorrindo. - Nunca imaginei que eu seria uma Kardashian. E nem precisei soltar uma sex tape.

— Kar...Quem?

— Meu Deus! Eu tenho uma quantidade infinita de cultura pop americana para te mostrar. 

Saíram na noite de chuva e correndo pegaram um taxi. 

— Você parece animada. - James disse, sentado ao lado dela na traseira do taxi. 

— Ah, me mostre um céu cinzento e uma volta de taxi na chuva que eu me sinto uma inglesa. - Abbie riu. – E é impressionante a mudança que uma ducha causa na vida de uma pessoa.

— Estou vendo, você está até mais simpática. - James apertou sua bochecha e ela riu.

— Idiota. - Ela mostrou a língua. - No seu caso nem o banho resolveu. 

— Ouch! - James exclamou colocando a mão no coração. 

— O drama chega a escorrer. - Girou os olhos em deboche. 

— Enfim... - Ignorou a careta dela. - Você vai conhecer umas pessoas agora.

— Você não tinha falado nada sobre outras pessoas. - Abbie o olhou de soslaio. 

— A gente fica uma horinha, se você não gostar a gente vai embora. - James apertou a sua mão. - Muito provável que eles gostem mais de você do que de mim. 

— Mas isso é fácil. - Ela riu. - Eu sou adorável.

— Seu sotaque inglês é risível. 

— E você é muito antipático. 

James riu e encostou os lábios nos dela. Ela era engraçada e bonita, muito bonita. Do tipo que dava vontade de encarar por um bom tempo quando ela não estivesse olhando. Abbie, por sua vez, fingiu que não estava vendo seu olhar embasbacado e pensou se era nessa cara boba que seu rosto se transformava quando olhava para ele. 

— Bem vinda ao The Crown and Shuttle. - James disse cheio de cerimônia. 

— Obrigada, mas por que estamos dando a volta? - Abbie perguntou quando viu o carro passando direto. – É porque você é tão famoso que os fãs se amontoam?

— Você fica zombando da minha cara, mas eu sou uma grande coisa aqui na Inglaterra, ok? 

— Isso. Bem Daniel Radcliffe ou Príncipe Harry duque de Sussex. 

— Um sujeito gente boa o Harry. Daniel por sua vez... - James sorriu girando o indicador perto da orelha. - Mas estamos dando a volta porque a área de trás está reservada para a festa.

— James. Que festa? - Abbie o encarou com pânico nos olhos grandes arregalados.

— Lembra que eu disse que eu tinha um compromisso que eu não queria muito ir, mas talvez você gostasse? 

— Hmmm? 

— E se eu te disser que é uma festa? 

— Agora que eu sei que é uma festa? 

— E se eu te disser que algumas pessoas são umas vinte? 

— Algumas pra mim são cinco, James.

— E se eu te disser que é uma festa depois da festa já que eu perdi a primeira parte? 

— Então a gente ainda vai chegar como atrasados? 

— Aí que tá. E se eu te disser que eu organizei essa festa porque eu sou o padrinho do casamento e essa é uma festa de noivado? 

— James!? - Ela fez a tentativa de dar meia volta. 

— Tarde demais. - James acenou de longe - Os noivos acabaram de nos ver.

Se arrependeu amargamente de não ter colocado um salto alto e um vestido. Nem que fosse um vestido simples, qualquer coisa que a fizesse se misturar e parecer invisível perto dos provavelmente ricos amigos de James. James que pagaria por isso depois, mas isso com toda certeza.

Precisava daquela dose de Jack agora.

James apertou a mão de uma nervosa e irritada Abbie sabendo que ela o faria se arrepender pela emboscada mais tarde. Mas ele sabia que as coisas ficariam bem no final, sabia que seus amigos iriam adorá-la e que ela seria certamente a acompanhante dele ao casamento, e uma acompanhante que Rose aprovaria, o que era bem difícil para início de conversa.

— Quem é vivo sempre aparece! – Um rapaz loiro e elegante, vestindo um terno já sem a gravata se materializou na frente do casal. – Você insiste em fazer uma festa depois da festa e não aparece em nenhuma das duas.

— Eu te disse que eu não tinha a mínima intenção de comparecer na primeira. – James franziu o cenho. – Draco me odeia, é levemente possessivo em relação a você e tem certeza que você foi expulso da escola por minha causa.

— Mas eu fui expulso da escola por sua causa. – Ele disse e olhou para Abbie como se fosse óbvio e ela estivesse entendendo todo aquele assunto.

— Tecnicalidades... – James encolheu os ombros rindo. – Sem contar que isso faz uns dez anos e seu pai não supera.

— Enfim, vamos entrar que Rose está começando a ficar bêbada e a partida de Rugby vai começar.

Abbie se sentiu uma alienígena que não estava entendendo nada que estava acontecendo.

— Antes que você comece... – James disse levantando as mãos em frente ao peito de maneira defensiva – Me desculpa por não deixar claro que eu não ia aquela festa. Prometo que eu vou ao casamento.

— Nossa, mas eu acho bom você aparecer no casamento. – A ruiva disse irritada, falando em alguns tons acima do normal. – Me desculpe querida, isso não tem nada a ver com você, tenho certeza que não é sua culpa e sim do irresponsável do Jay.

— Aliás, essa é a Abbie. – James sorriu colocando Abbie em sua frente de maneira defensiva. – Abbie, esses são meus melhores amigos do mundo inteiro que eu amo com uma intensidade incomparável.

— Eu sou Scorpius Malfoy. – O loiro elegante estendeu a mão para Abbie rindo. – Esses dois são sempre assim, não ligue.

— Ah, ok. – Abbie sorriu e encolheu os ombros. – Mas a culpa deve ser do James mesmo.

— Todos contra mim. – James girou os olhos.

— Já gostei de você. – Disse a ruiva abraçando Abbie. – Rose Weasley, James e eu somos primos também... Então estou acostumada a uma vida de atrasos e bolos.

— Abigail Jones. – Abbie retribuiu o abraço.

— Jones é? – James sorriu.

— Vocês estavam se pegando o dia inteiro e você só soube o sobrenome dela agora? – Scorpius cruzou os braços se divertindo.

— Eu estava aprendendo sobre coisas mais importantes, ok? – James debochou como uma criança. – E em minha defesa ela só foi saber o meu na hora do chá.

— Eu quero ouvir sobre tudo isso! – A ruiva que agora Abbie sabia que se chamava Rose disse um tanto bêbada. – Vocês dois são tão lindos juntos... Muito melhor que aquela ex dele.

— A gente não chegou na fase de falar de ex ainda, Ro-Ro. – James dessa vez se colocou defensivamente na frente de Abbie. – Nós não queremos assustar a convidada.

— Ah, por favor, vamos assustar a convidada. – Abbie disse sentando-se no balcão e pedindo uma dose do seu whisky. – Estou desde às oito querendo um desse.

— Ela não é alcoolatra. – James se apressou em dizer. – É só americana.

— O que isso quer dizer? – Abbie o encarou de olhos semicerrados.

— Americanos. – Scorpius e James riram trocando um olhar cúmplice.

— A verdade é que eu não liberei um plus one para James. – Rose disse para quem conseguia entender um sotaque britânico embriagado, encostando a taça de champanhe no copo de whisky de Abbie. – Vai que ele levava aquela Jenny horrorosa.

— Ela é a pior. – Scorpius concordou bufando e em seguida fez uma reverência em direção a nova companhia de James. – Mas você está convidada, Abigail Jones.

— Vocês nem sabem se ela quer ir. – James girou os olhos.

— Quem recusaria a gente? – Rose apontou para si mesma e depois para Scorpius. – Nós somos quentes. Incríveis.

— E bêbados. – James disse o que Abbie estava pensando. Ele a abraçou por trás e sussurrou em seu ouvido. – Eles costumam ser mais normais que eu, juro.

Abbie riu alto e Rose inclinou a cabeça admirando os olhos brilhantes de James olhando para a garota nova. Ela nunca tinha visto isso, nunca tinha visto ele olhar assim para alguém. Nunca tinha visto ele encaixar o pescoço no ombro de alguém de maneira tão carinhosa.

— Sabe, Abigail...

— Abbie. – Ela corrigiu sorrindo com simpatia, podia se acostumar com os amigos de James e queria que talvez um dia eles fossem amigos dela também. – Por favor.

— Abbie. – Rose abriu um sorriso largo. – Eu tenho um sentimento que seremos todos amigos.

— E eu tenho absoluta certeza que vocês a verão com muita frequência a partir de agora. – James colocou as mãos suadas no bolso esperando que Abigail olhasse para ele e sorrisse como ela fez. – Sem pressão.

— Sem pressão. – Scorpius girou os olhos e brindou com Abbie. – Eles são primos e intensos. Não acredite no ‘sem pressão’ deles ou amanhã você vai estar em Highgate sendo encarado por um monte de gente ruiva perguntando se você é loiro assim naturalmente ou se tinge o cabelo. Quando você menos esperar vai estar no altar.

— Estou achando que esse relato está um tanto pessoal. – Abbie sorriu para Scorpius que gargalhou em resposta.

Ali no bar, com Rose e Scorpius, abraçada a James enquanto assistiam uma partida de um esporte que ela não entendia nada sobre, sentiu que Londres poderia ser um lar sim. E mais tarde de volta a casa de James, quando ele perguntou meio bêbado a abraçando em sua cama, se agora ela gostava de Londres ela respondeu, com toda a sinceridade assustadora da frase enquanto encarava aqueles olhos castanhos vivos:

— Estou amando.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ah, e a mais longa ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lover." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.