Lover. escrita por Jones


Capítulo 8
false god. - Hermione e Ronald.


Notas iniciais do capítulo

Música do capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=acQXa5ArHIk

Essa era a preferida da Lu antes dela decidir por Drastoria, mas ela é suspeita.
Mas essa é a minha música favorita do CD inteiro.



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Nós éramos insanos.

Nós éramos loucos em pensar que isso algum dia funcionaria, mesmo que nós dois soubéssemos o quanto nos amávamos. Que nos amávamos ao ponto de morrer um pelo outro e que morreríamos de verdade se fosse necessário. 

Lutamos lado a lado. Fomos a única companhia um do outro, exceto por Harry. Fingimos que não percebemos que éramos mais que amigos por um bom tempo e que nossos dedos não procuravam um ao outro na hora de dormir. A verdade é que seu sorriso me desmontava e me remendava novamente todos os dias, e que sua vontade de me ter por perto me dava confiança para me aproximar devagar até demais. 

Mas fomos loucos em pensar que isso iria funcionar. Agora estou em um avião, segurando minhas lágrimas. Existem maneiras mais rápidas e eficientes de se viajar, como chaves de portal ou simplesmente aparatação, porém nem sempre são as mais confortáveis ou nos dão tempo para pensar.

E eu penso demais. Talvez esse seja o problema. 

Pulamos em um oceano que nos separa fisicamente e foi aí que eu morri para ele, mesmo voando em direção a ele sempre que possível. Quando desci do avião, por um momento eu achei que ele não estaria lá, não depois de nossa última conversa por telefone. Também tinha o fato de que ele não entendia porque eu insistia em me enfiar na caixa de aço trouxa, mesmo sendo o meu meio de viagem mais familiar até os onze anos de idade. Foi nesse tipo de “caixa” que meus estranhos pais me levaram para conhecer Paris: queriam que eu visse as nuvens e a cidade pequenininha lá de cima. 

Mas ele estava lá, no fim das contas, com um sorriso cansado. Eu lhe disse algumas vezes que ele não precisava me buscar, mas era mentira. Estar lá significava que ele ainda se importava.

Ele veio me buscar no novo (velho) carro encantado da família. O Sr. Weasley sempre dizia que o carro teria mais uso para Ron em Londres que na garagem cheia de quinquilharias da família. A verdade é que a Sra. Weasley tinha ficado feliz quando se livraram do primeiro veículo e extremamente contrariada quando arranjaram um segundo.

— Como foi de viagem? - Me perguntou em um tom monótono, enquanto dirigia pelas ruas de Londres. 

— Você sabe, a mesma coisa de sempre. - Fingi desdém por Nova York, mesmo acreditando que sim, aqui era a melhor cidade do mundo, mas Nova York era um segundo lugar bem próximo. 

— Hmmm. - Disse e continuou olhando pela janela. 

Eu respirei fundo. Não queria começar uma briga quando teríamos pouco tempo juntos até eu voltar para os Estados Unidos outra vez. Aquele era meu trabalho e de qualquer maneira, é temporário: eu vou voltar para Londres um dia. 

Esse é um passo importante na minha carreira se eu quero fazer a diferença no mundo mágico, se eu quero libertar os elfos e instaurar políticas de liberdade e segurança para todos os nascidos como eu. Por mais brilhante que você seja, não há tantas oportunidades para nascidos trouxas na aristocracia britânica, que mesmo depois da guerra mascarava preconceito com "falta de qualificação" ou "perfil da instituição". 

Mas as coisas estão mudando.

Nova York era o primeiro passo. E eu queria contar que eu finalmente consegui que aprovassem meu projeto de lei na MACUSA, faltava pouco para eu conseguir que virasse uma iniciativa internacional... Mas eu não consigo falar com ele enquanto ele encara a janela como se eu não fosse a paisagem favorita dele. Eu deveria ser a London Tower, o Central Park. A melhor paisagem do mundo. Com certeza melhor que os vidros embaçados.

E eu não vou mascarar nenhum sucesso meu para um homem - mesmo que o homem da minha vida - se sentir melhor.

— Eu não consigo falar com você quando você está assim. - Falei finalmente. 

— Assim como? - Ele bufou como se dissesse "não vamos brigar pelo menos hoje?"

— Encarando a janela como se ela fosse mais importante do que eu. 

— Olhar a janela e os retrovisores é uma parte importante da direção. - Fingiu que não entendeu o que eu quis dizer e foi minha vez de bufar. 

De repente o carro parou, bem quando estávamos no meio de um nada bem tarde da noite. Ronald se levantou e foi olhar o motor como se entendesse muito disso. Deu um chute no carro e bateu o capô. 

Com as mãos no rosto entrou no carro.

— Podemos aparatar e amanhã alguém vem buscar o carro. - Me disse, sem expressão. - Pegamos as suas malas e vamos. 

— Sabe, todos nos alertaram que uma hora isso ia acontecer. - Decidi ignorar o que ele estava falando e ser uma pessoa emocional para variar um pouco. - Com casais que ficam juntos muito cedo e depois resolvem namorar a distância.

— O que ia acontecer? - Me encarou finalmente. 

— O caminho fica mais difícil e a gente se perde nele. - Encolhi os ombros. - É o que acontece quando a gente deixa de lado a razão e se deixa guiar por essa fé cega que a gente chama de amor. 

— Fé cega. Que romântico. - Disse de maneira irônica. - Eu imagino que você tenha tido um voo longo. Eu sei que eu tive um dia de cão no trabalho. Talvez não seja a hora de uma conversa tão profunda. 

— Ou talvez seja exatamente a hora. - Olhei em volta, nenhuma alma por perto, nós dois no escuro do carro iluminados pela luz de um poste a distância. - Sozinhos, sem ter para onde fugir e sem sermos interrompidos. 

Ele respirou fundo e me olhou de uma maneira sombria, sem um traço de alegria ou humor que ele costumava exibir constantemente. 

— O que você quer de mim, Hermione? 

— Não. Assim não. - Falei e me virei até o banco de trás pegando uma garrafa de vinho que eu havia recebido como congratulação pelo bom trabalho antes de embarcar de volta para casa. - Vamos fazer isso direito.

— Dois goles e você estará bêbada. - Pela primeira vez ele sorriu e eu gostei. 

— Agora meu limite subiu para dois copos... Mas como não temos um desses por aqui, não poderemos medir. - Sorri de volta. 

Ele tocou minha mão para tirar a garrafa dela, já que eu estava com dificuldades para abri-la. Com um floreio de varinha, Ron tornou as coisas mais fáceis.

— Você costumava ser uma bruxa brilhante, por Merlin! - Debochou e deu o primeiro gole. - Forte. 

Peguei a garrafa da mão dele e fiz uma careta. 

— Agora respondendo a sua pergunta. - Dei um grande gole. - Eu quero que a gente pare de brigar. 

— Se fosse fácil assim... - Ron riu e foi a vez dele dar um gole - Brigar é o que fazemos desde que nos conhecemos 15 anos atrás. 

— Sim. - Concordei enquanto ele me oferecia a garrafa. Aceitei e bebi mais um pouco. - Mas geralmente eram coisas bobas como você sendo teimoso demais ou ciumento mesmo não me chamando para sair. 

— Agora envolvem você morando do outro lado do Atlântico e eu me sentindo solitário ao mesmo tempo orgulhoso de tudo o que você tá fazendo por lá! Eu li no jornal que você passou a lei pelo MACUSA! Isso é incrível! Eu nunca poderia roubar a pessoa mais brilhante do mundo e mantê-la só pra mim. - Ele encolheu os ombros e deu um grande gole. - Até porque existe o fato de você ser areia demais para o caminhão de todas as pessoas do mundo, imagina para o meu. 

Eu sabia que a gente conseguiria remendar e consertar tudo em algum momento, porque o que me importava é que aquela fé cega ainda existia. 

— Você nunca me disse isso.

— O quê? 

— Que tinha orgulho de mim. Que se sentia sozinho sem mim.

— Como eu posso competir com Nova York? - Sorriu cabisbaixo. - Ouvi numa música trouxa que dizia que é onde os sonhos são feitos. 

— Eu também me sinto sozinha naquela cidade enorme sem você. - Coloquei meus cabelos rebeldes atrás da orelha. - E eu também tenho orgulho do grande auror que você está se tornando. Você salva vidas, como posso competir com Londres?

Ele riu por eu estar usando sua frase contra ele e foi a melhor coisa que eu ouvi o dia inteiro. Inconscientemente eu apertei os lábios. É como se de repente um cheiro de grama recém cortada e menta estivesse inebriando meus sentidos.

— Sabe como eu sei que deve existir um paraíso? - Virei um pouco mais a garrafa.

— Não. - Disse surpreso pela mudança repentina de assunto e pelo fato de eu ser a maior descrente que existe. 

— Porque eu o sinto toda vez que você me toca. - Falei simplesmente, limpando os lábios, já um pouco alegre pela bebida. - O inferno é quando nós brigamos.

Ele ponderou por alguns segundos. 

— Eu tenho medo de você querer ficar lá e não voltar para casa. - Ele disse. - É como eu proponho pararmos de brigar. 

— Eu voltar para casa? 

— Não. - Ele sorriu e girou os olhos. - Você saber como eu me sinto. 

— Ah. - Falei surpresa. É verdade que Ron consegue não ser comunicativo quando necessário então obviamente fui pega de surpresa. - E eu tenho medo de você cansar de esperar que eu volte e queira viver uma coisa normal e menos conflituosa com outra garota mais simples. 

— Besteira. 

— Digo o mesmo para o seu medo. 

— Você nasceu para fazer coisas grandes, Hermione. - Ele penteou o cabelo ruivo para trás com os dedos. 

— Nós já fizemos coisas grandes o suficiente. - Segurei a mão dele. - Eu sempre vou voltar para casa, você é minha casa. 

— E eu sempre vou esperar você voltar para casa. - Ele retribuiu entrelaçando os dedos aos meus. - Você ainda acredita nessa fé cega que a gente chama de amor? 

— Eu ainda adoro essa fé cega. E adoraria mesmo se fosse um falso deus. - Falei um pouco bêbada e finalmente selei meus lábios nos dele. - Minha religião são seus lábios. 

— Isso soa um pouco herege. - Riu e me beijou, afastando o banco do carro e me encaixando sentada em seu colo. Não era adulta demais para não me sentir com o rosto em chamas apenas por sentir saudades físicas do meu namorado. 

Ele terminou a garrafa de vinho e mais uma vez me beijou. O que estava prestes a acontecer não condizia com a pessoa de índole correta seguidora das leis que eu era. 

Mas aquilo parecia certo. Parecia sair do inferno e chegar ao melhor dos céus em alguns minutos. O importante é que continuássemos a adorar aquele amor, mesmo que como um falso deus nos levasse a ruína. A boca dele ainda seria minha religião e meus quadris seriam seu altar. 

E nós ainda cultuaríamos esse amor: porque éramos loucos. Insanos. Bananas. 

Um pelo outro.


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