Lover. escrita por Jones


Capítulo 5
cornelia street. - Vic e Teddy.


Notas iniciais do capítulo

Hey!
Essa é a música do capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=VikHHWrgb4Y




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That’s the kind of heartbreak time could never mend…

Eu o vi de longe, sentado no balcão do bar. Quem não notaria um rapaz alto de cabelos coloridos berrando para a televisão? 

Era uma partida de futebol, Manchester City contra Manchester United, e o United estava levando a melhor nos 3x1 recém marcados. Futebol conseguia ser bem divertido quase como quadribol numa copa do mundo, mas esses campeonatos ingleses não me chamam atenção... É quase uma taça entre as casas, uma coisa sem emoção: você torce para Grifinória porque todo Weasley que existe é Grifinória e acabou. Bom, eu lembro que eu desejava ser Lufa-Lufa por causa dele. 

Ele era a síntese de tudo de bom que definia Lufa-Lufa e deve ser por isso que eu não fui parar lá. Ele era paciente, tranquilo, empático e carinhoso. Coisas que eu sempre falhei em ser...

Enfim, parecia assistir ao jogo sozinho. 

— Pode me ver uma coisa mais forte? - Perguntei para o rapaz que limpava minha mesa. Ele me olhava com um sorriso abobalhado e eu fiz uma força sobre-humana para não virar os olhos e mandar ele recolher a baba. Sim, mulher loira bonita. Cresce. - Preciso de coragem para falar com meu ex-namorado. 

Me justifiquei mais querendo demonstrar interesse em outra pessoa que devendo alguma satisfação para ele. 

— Temos whisky e tequila.

— Serve.

O rapaz loiro com cara de criança continuou me encarando até entender.

— Isso. 

Girei os olhos três vezes para tirar do meu sistema o que eu estava reprimindo e voltei a encara-lo. Estava lindo. Sempre fora lindo, mas minha nossa

— Dose de coragem. - O rapaz loiro trouxe a tequila - E Whisky no gelo. 

— Obrigada. - Tentei sorrir encantadoramente através do nervosismo. 

Todos os homens já tinham me encarado hoje. Menos ele. Talvez fosse o futebol na televisão ou ele já me vira tantas vezes através dos anos que eu deixara de ser uma novidade excitante. Não sei. Faz tempo que não estamos juntos, desde pouco depois da escola, na verdade. Então... deve fazer uns seis anos. 

— Ei você. - Falei puxando um banco ao lado dele, espero que de maneira graciosa. 

— Oi. - Ele respondeu sem tirar os olhos da tv. E talvez uns segundos depois tenha reconhecido minha voz porque finalmente olhou para mim e fez o tom agradável de surpresa que eu estava esperando. - Vic? 

— Oi Teddy. - Sorri, colocando meu cabelo atrás da orelha. - Quanto tempo. 

— Sim, desde o aniversário...

— ... Do Tio Harry. - Completei a frase dele, sorrindo como uma idiota. - O que faz uns bons anos. 

— É. Estava por aí. - Ele sorriu, encarando meus lábios e virou o corpo na minha direção. - Fiquei sabendo que você estava na França. 

— Sim, voltei faz pouco tempo. - Apertei os lábios, o que falar além das amenidades? - O que tem feito? 

— Um pouco disso, um pouco daquilo. - Deu de ombros. - Catalogando uns animais, fazendo algumas poções antídoto...

— Que legal. 

— É. - Ele continuava me encarando. - E você, o que tem feito? 

— Abri um bistrô no fim da esquina. - Sorri orgulhosa de mim mesma. - Venho aqui depois do expediente para evitar matar alguém. 

Ou para não voltar sozinha pra casa. De qualquer forma, achei bom dizer que nosso encontro tinha sido casual.

— Sabe, eu estive em Paris um tempo desses atrás. - Falou, dando um gole de sua cerveja. - James me disse que você ainda estava morando por lá. Pensei até em te procurar. 

— Deveria ter procurado. - Deixo escapar sem pensar, talvez agora ele ache que eu seja desesperada e que nunca superei nosso romance. - Quer dizer, eu poderia te mostrar a cidade ou te oferecer um sofá pra dormir.

— Seria legal de sua parte. - Ele sorriu, tímido com aqueles dentes brancos e levemente tortinhos. - Mas eu não quis incomodar... Até porque a gente não manteve muito contato. 

E será que foi por culpa de quem? 

— Você voltou de vez? - Perguntei, espero que sem segundas intenções. 

— Voltei. - Ele respirou fundo. - Me ofereceram uma boa posição de pesquisador e eu ainda poderei viajar de vez em quando com um pouco mais de estabilidade. E você? 

— Também. - Encolhi os ombros. - Meus pais andam reclamando da minha ausência e Nick está grávida... Pareceu certo.

— Dominique está grávida? Meu deus ela tem o que? Quinze anos? 

— Vinte. - Revirei os olhos. - O que não faz dela adulta o suficiente ou com emprego o suficiente... enfim. 

— Gente. Eu me lembro quando ela corria atrás da gente o tempo todo. - Ele riu, e eu pensei na gente em Hogwarts. Eu no sexto ano e Nick no segundo não me deixando em paz um segundo. - Ela costumava dizer que não conseguia fazer o dever de casa só para ficar no meio da gente. 

— Hoje em dia a julgar por suas escolhas, eu imagino se ela estava mesmo fingindo não saber fazer o dever de casa. - Ri, tomando um gole da minha bebida. - Agora minha irmãzinha vai se casar. 

— Minha nossa. 

— Minha nossa de fato. - Respirei fundo. - Você sumiu por um tempo. 

— Eu sei. - Suspirou, franzindo o cenho. 

Parecia que queria dizer alguma coisa, então o encarei. 

— Victoire. - Me olhou com os olhos sérios e sombrios. Eles ficaram castanhos de repente. 

— Edward. - Disse no mesmo tom. 

— Vic.

— Teddy? 

Ele sugeria que eu sabia de algo que não sei, porém não consigo entender o que. Mas seu humor mudara. Era fácil de ver pelas cores dos olhos e dos cabelos: estavam ambos castanhos.

— Deve ser fácil te tirar dinheiro no poker. - Murmurei. - O que foi? 

— Você sabe o que aconteceu.

— Obviamente pela minha cara embasbacada de paisagem, não. - Apoiei o rosto na mão. 

— Você não apareceu. 

Depois do aniversário de Tio Harry, a gente conversou. Ele me disse que ele queria ficar e eu disse que eu tinha que ir, nós falamos sobre o meu sonho de um dia ter um restaurante e ele de conhecer o mundo. E eu disse que eu poderia aprender e estagiar em qualquer lugar e ele disse que ele poderia descobrir e catalogar animais em qualquer lugar e ficou implícito que a gente tentaria, de alguma forma. 

Nós nos beijamos. 

E ele me pediu para encontrá-lo em Kings Cross. Eu recebi uma ligação dizendo que tinha sido aprovada no Le Cordon Bleu de Paris. Julia Child estudou lá e eu estava extasiada, meus pais ficaram emocionados e foi um momento singular na minha vida.

Eu fui atrás dele para perguntar se o qualquer lugar dele poderia ser a França e de longe o vi embarcar no primeiro trem para Bruxelas. 

— Eu apareci. - Confessei, olhando para os nós dos meus dedos desenterrando algo que tinha escondido no fundo da memória: a rejeição. - Você não me esperou. 

— O quê? 

— Eu me atrasei e quando eu cheguei te vi subir no trem para Bruxelas.

— Não. - Ele fechou os olhos e pinçou o nariz com o polegar e o indicador. - Dominique me ligou. Me disse que você ia para Paris, se eu sabia da novidade. 

— Ligou é? - Apertei os lábios. - Eu estava indo atrás de você para te contar, para saber se você queria ir comigo...

— Ah.

— Ah. - Girei os olhos. - Eu achei que você não tinha me esperado.

— E eu achei que você não iria. - Ele me encarou com os olhos agora verdes, o que me fez sorrir. - O que foi? 

— Seus olhos mudaram para a minha cor favorita. - Sorri, mais uma vez colocando minhas mechas de cabelo loiro atrás da orelha. 

— E você tá fazendo aquilo de morder o lábio que me dá vontade de...

— De? 

Sem mais, nos beijamos. E foi com um daqueles nossos milhões de novos inícios que eu guardo de maneira sagrada no coração, quase como uma religião.

Não que aquilo fosse um início de fato. Mas era uma faísca de algo. 

— O que foi isso? - Balbuciei com os dedos nos lábios.

— Desculpa... Eu... não sabia... - Ele suspirou fundo. - Eu queria saber como seria depois de todo esse tempo.

— E como foi? - Prendi um sorriso apertando os lábios. 

Como resposta ele sorriu, um sorriso torto, de canto. Umedeceu os lábios como se fosse falar alguma coisa, mas desistiu e tomou mais um gole da sua cerveja. Eu o imitei, tomando um gole do meu whisky. 

— Quer dividir um Uber para casa? - Ele me perguntou de repente.

— Não quer terminar de ver o jogo? - Sorri, mordendo o lábio e erguendo a sobrancelha para a tevê. 

— Não tá tão interessante assim. - Ele me disse olhando nos meus olhos. - Eu pensei que poderíamos conversar mais.

— Eu gostaria disso. - Levantei a mão para o bartender na intenção de pagar nossa conta. 

Ele não tirava os olhos de mim, nem enquanto nos levantamos para sair do bar lado a lado com as mãos nas costas igual a dois adolescentes. 

— Ah, foda-se. - Eu disse antes de me pendurar no pescoço dele e beija-lo mais uma vez. - Eu também precisava ver uma coisa. 

— Já viu? 

— Preciso ver mais coisas. - Sorri de uma forma travessa e não me reconheci. Eu estava com... Desejo. 

O Uber chegou. 

Nós estávamos no banco de trás bêbados de algo mais forte que os drinks no bar. 

— Eu aluguei um lugar na Rua Cornelia, aqui perto. - Tentei de dizer de maneira casual. 

Eu não precisei dizer mais nada, já que Teddy apenas franziu a testa e mudou o destino no aplicativo.

As janelas estavam abertas no ar de outono e o vento era frio, mas a sensação era de uma carícia no rosto que me deixava levemente corada. Ou talvez fossem meus pensamentos adultos acerca daquele homem que estava sentado ao meu lado, me encarando. Eu coloquei o rosto para fora da janela sorrindo enquanto o vento batia no meu rosto e me trazia um certo alívio para o calor misterioso que eu estava sentindo... E era quase místico como todos os lugares que eu olhava naquele caminho para minha rua gritavam o nome dele.

— O que você está fazendo? - Ele se divertiu como se perguntasse se eu estava maluca. 

— A noite está linda! - Gritei da janela.

Ele me acompanhou, colocando a cabeça para fora sob protestos do motorista que nos mandou descer no início da minha rua. A gente ainda teria que andar cerca de vinte minutos para chegar em casa. 

Descemos rindo do carro e Ted jogou sua jaqueta em minha direção. Mesmo sem estar com frio, protegi meus ombros com ela e sorri. Tinha cheiro de sabonete, amaciante e cerveja. 

Ele fez uma careta quando viu que eu estava olhando para ele. 

Nós nos conhecíamos há vinte e tantos anos. Nós namoramos dos meus 15 aos 19 entre idas e vindas. Tentamos de novo no fatídico trem aos 22. E agora aos 26 éramos - mais uma vez - uma página nova na mesa preenchendo as lacunas enquanto andávamos. 

As luzes da rua eram como uma seta gigante nos apontando o caminho de casa. 

— Você namorou muita gente nesses últimos anos? - Perguntei com as mãos no bolso, caminhando ao lado dele. 

— Muita gente é um exagero. - Ele encolheu os ombros. 

— Ninguém tão bonita como eu. - Mostrei a língua. 

— Ninguém tão convencida como você. - Devolveu a careta e depois sorriu resignado. - Mas de fato. E você? 

— Ninguém que valesse apena apresentar para os Weasley. - Também encolhi os ombros. 

— Ninguém tão interessante e divertido como eu. - Ele me imitou e eu ri. - Será que de alguma forma a gente sabia que isso ia acontecer? 

— Isso o quê? 

Ele ficou vermelho e eu me senti culpada. Mas a gente só tinha se beijado... Eu já saí correndo atrás dele antes e fiquei sozinha. Não era fácil para mim imaginar que aquele nosso encontro fosse nos levar finalmente a estar no mesmo lugar e na mesma página.

— Nos encontrarmos de novo. - Ele sorriu, sem graça.

— Eu acho que eu não sabia que ia acontecer. - Falei e notei uma nota de desapontamento nos olhos esverdeados dele. 

A verdade é que eu realmente não sabia. Me deu muito trabalho tentar esquecê-lo depois daquele último desencontro, eu tentei me convencer que não era mesmo para acontecer. Mas no fundo eu sei que eu queria.

Ninguém que eu namorei, encontrei na rua, conheci, me interessei... Ninguém me provocou o mesmo sentimento que Teddy me provoca. Ninguém era tão engraçado, bonito, divertido e atraente como Teddy.

A verdade é que só existe um Teddy.

— Mas eu queria que acontecesse. - Eu disse por fim, estendendo a mão para ele, que prendeu os dedos nos meus e relaxou. Sorrindo. - Eu não sei o que vem depois desse nosso encontro, mas eu tinha esperança que acontecesse sim e que você sentiria o mesmo que eu sinto. 

— O que você sente? 

— Eu não vou dizer primeiro. - Apertei os olhos e ri. - Talvez eu não saiba distinguir o que eu sinto. 

— Eu me sinto feliz em te ver. 

— Eu também. - Falei, enquanto o vento jogava meu cabelo para todos os lados. - E eu também sinto saudade, uma vontade de te conhecer de novo, de saber tudo sobre você e de te mostrar meu quarto.

— O quão longe é sua casa mesmo? - Ele brincou, me agarrando no meio da rua e me beijando novamente.

Em Londres, o céu pode estar claro e bonito e do nada um vento vem e traz uma chuva torrencial que transforma um beijo normal em uma cena nada glamourosa de cinema, uma vez que ficamos com frio, ensopados e corremos por cinco minutos até chegarmos em casa. 

Mas Deus abençoe a chuva que nos fez chegar mais rápido em casa. 

Não tivemos tempo de falar uma vez que ele interrompeu aquelas frases prontas de boas-vindas ao lar me beijando enquanto tirávamos os sapatos e entrávamos descalços pela porta da cozinha. Contra a parede tirávamos as roupas molhadas e nos víamos pela primeira vez em anos. 

Eu estava tomada pelo desejo e ele também parecia estar, me beijando enquanto suas mãos me apertavam e me sentiam em cada parte do meu corpo e meus dedos puxavam seu cabelo azul claro. Não daria tempo de apresentá-lo ao meu quarto. Em um só movimento ele me encaixou de uma vez e eu gemi baixinho enquanto me entregava mais uma vez de corpo e alma a ele.

— Ah, Edward. - Lembro de ter dito enquanto me perdia nele. 

— Vic.

E de certa forma, mesmo sem uso da magia. Fora uma noite mágica. Tão mágica que eu me peguei pensando enquanto ele dormia ao meu lado na minha cama que eu esperava nunca mais perdê-lo. Eu esperava que isso não terminasse dessa vez... Ou eu não seria capaz de andar pela minha rua novamente. 

Já que os nossos términos eram daquele tipo que o tempo nunca conseguiria consertar. 

Dormi feliz dessa vez sem pensar no dia seguinte e quando eu acordei ele não estava ao meu lado na cama e eu senti que de maneira dramática todo o sangue tinha fugido de meu rosto. Vesti meu robe e o encontrei de roupão de banho roxo no telhado do meu quarto observando a cidade quando fui procurá-lo na varanda. Então da bancada o encarei, olhando pra cima.

Parecia que ele estava me esperando.

— Eu acho que eu não tinha coragem de voltar para Londres antes porque essa cidade grita Victoire. - Ele murmurou e eu mordi o lábio. - O que foi? 

— Eu estava pensando a mesma coisa. Principalmente no verão. - Sorri pensando na nossa adolescência e nos nossos tours pela cidade, nas aventuras em bairros trouxas como esse, onde a gente ficava maravilhado com o dia a dia sem magia das pessoas. "Como elas conseguem?"

— Faz um dia só do nosso reencontro e eu já sei que eu não quero te perder. - Ele confessou baixinho e depois girou os olhos. - E isso porque eu estava querendo fazer as coisas devagar dessa vez.

— Nunca é devagar quando é a gente. - Encolhi os ombros sorrindo. - Se te consola, eu acordei morrendo de medo que você tivesse ido embora.

Ele desceu do telhado em um pulo, me assustando e segurou minha mão: 

— Como você disse durante o sono ontem: eu não quero te perder. Eu espero que isso que a gente tem nunca acabe ou eu nunca andaria pela rua Cornelia novamente. - Ele riu enquanto eu queimava de vergonha por minhas confissões inconscientes e beijou os nós dos meus dedos ascrescentando: - Eu nunca andaria por Londres novamente. 

E eu não sei se dessa vez vai dar certo. Não sei de verdade. Sei que a gente quer bastante, sei que eu não consigo olhar para nada que não seja ele. 

Sei também que eu já morei em Paris, estagiei na Côté d'azur em frente ao mar, mas aquele lugar, ali com ele na rua Cornélia, era o meu favorito no mundo inteiro. 


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