Lover. escrita por Jones


Capítulo 4
paper rings. - Arthur e Molly.


Notas iniciais do capítulo

Música da songfic: https://www.youtube.com/watch?v=8zdg-pDF10g



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Outono de 1967.

A lua estava alta, como todos os garotos em Hogsmeade naquele dia.  Se os nossos responsáveis vissem o que eles estavam misturando a suas canecas de cerveja amanteigada, todos teríamos muitos problemas aquela noite. Ignorando meus instintos de desaprovação e a vontade inerente ao meu ser de soltar muxoxos de desaprovação: me aconcheguei em silêncio no canto da mesa, afinal, se o monitor estava ali junto com eles completamente fora de si... Não teríamos problemas, não é mesmo? Sarcasmo não combina com você, Molly.

Lembrei-me de Fabian, o gêmeo mau de Gideon e também meu irmão, dizendo que eu deveria aproveitar meu último ano em Hogwarts. Acredito que as palavras dele tenham sido “Deixe de ser tão certinha, Molles, você vai sair da escola com o boletim cheio e com lembranças vazias.”

Ser certinha é o que me define para meus irmãos mais velhos. Fabian é a peste, Gideon é o gênio e eu sou a amorosa, carinhosa e certinha Molly.

Na ponta da mesa eu o avistei: ruivo, alto e corpulento. Aquela pele clara e corada pelo verão, o rosto avermelhado pela conversa alta e a bebida forte; os olhos verdes agora bem escuros e alegres. Minha nossa, ele é um gato.

Pelo semblante de felicidade, ele devia estar falando sobre artefatos trouxas e como eles eram inteligentes e conseguiam se virar bem sem a magia. Na verdade, eu conseguia fazer uma certa leitura labial.

As minhas amigas já me julgaram o suficiente por saber todos os livros que ele tem em sua mesa de cabeceira – obviamente nunca dormi lá. Nós mal nos falamos... Eu só precisava de algo para puxar assunto.

— Beba, Molly. – Linda me ofereceu um cantil escondido e eu fiz uma careta ao ingerir seu conteúdo que me queimara a garganta.

— Eca. O que é isso? – Coloquei a língua para fora.

— Coragem. – Linda, sempre tão tenaz e observadora sabia que eu não conseguia pensar em outra pessoa, ou coisa, além dele. – Hey, Weasley.

— O que você está fazendo? – Sussurrei, escondendo meu rosto vermelho com as palmas das mãos suadas. – Ele está vindo, minha nossa.

— Linda. – Ele cumprimentou com a cabeça e depois olhou para mim. – Molly.

Ele sabia meu nome. Ele sabia meu nome.

— Oi. – Respondi, colocando meus cabelos ruivos, grossos e incontroláveis atrás da orelha.

— Tudo bem? – Ele parecia sem jeito, colocando as mãos nos bolsos. – Você está bonita.

— Ah. – Estou hiperventilando. Morrendo. Se controla. – Obrigada.

E simples assim eu não tinha mais nada para dizer e ele também não. Então ele acenou com a cabeça novamente e eu mordi o lábio inferior enquanto maldizia a mim mesma por não inventar um assunto.

— Trouxas.

— Dançar. – Falamos ao mesmo tempo. – Você quer?

— Claro. - Respondi recatada e radiante. - Mas não está tocando nenhuma música.

— Ah. Verdade. - Ele ficou vermelho até as orelhas e eu sorri com a mão em seu ombro. - Parece que vamos ter que adiar a dança então. Dançaremos numa próxima vez? 

— Certamente. - Disse, ajeitando as vestes com as mãos para mantê-las ocupadas e ele me retribuiu um sorriso exultante e animado. 

— Vou me lembrar disso. - Ele colocou as mãos nos bolsos novamente e eu mordi o lábio inferior. Percebi que ele olhava para minha boca quando o vi mimicando meus traços de nervosismo e excitação. - Bem, Molly...

— Sim?

— Espero vê-la com mais frequência. - Sorriu de canto, se afastando de mim. - Fora da sala de aula, quero dizer. 

— Eu também, Arthur. - Demorei sentindo seu nome enrolando minha língua e gostando da sensação. Imagine beija-lo...

Porém... Eu tive que manter o beijo apenas na imaginação. Por um mês, dois ou três. Até o clima ficar frio como o gelo que ele me deu. 

— Eu não sei porquê, Linda. - Disse pelo que parecia ser a milésima vez. - Nós estávamos nos dando bem, agora quando eu passo, ele me dá um tchau e vira o corredor. 

— Vai ver ele está saindo com alguém. - Ela encolheu os ombros. - Ou simplesmente não está interessado. 

— Ouch. - Falei, com a mão no peito, caindo na cama. - Mas nós somos perfeitos um para o outro. 

Tentei ignorar os olhos que giravam de Linda, minha colega de quarto enquanto tentava assimilar suas palavras: Arthur Weasley não gostava de mim. 

Não entendia. Eu era perfeitamente normal, não era exatamente magra, mas minhas amigas me descreviam como curvilínea - parece um elogio, não? Eu já nos imaginava juntos com dois meninos e duas meninas, ruivinhos como nós, num chalé antigo de madeira rústica, com uma lareira charmosa e suéteres combinando na manhã de natal. 

— Tudo bem. - Eu disse com um novo vigor de falso entusiasmo e otimismo. - Se Arthur não gosta de mim, talvez eu deva gostar de outras pessoas. 

Não era fácil assim, eu admito. 

Mesmo que eu conversasse com outros rapazes, quando eu pensava em beija-los eu via o sorriso de Arthur. Era como se ele tivesse sequestrado meus sonhos inquietos e minha vontade de beijar outras pessoas. 

— Arthur? - Tomei coragem e encostei no ombro dele, depois da aula de poções. 

— Ah, oi, Molly. - Ele colocou as mãos nos bolsos, subitamente envergonhado. 

— Eu queria saber se podíamos ser amigos. - Mal acreditava que aquelas palavras tinham saído de minha boca. 

— A-a- amigos? - Ele coçou o cabelo ruivo desgrenhado e eu senti vontade de colocar suas mechas no lugar certo. 

— Eu sei que é um pedido estranho. - Muito estranho. Olhei em volta para ter certeza que ninguém tinha me escutado. Queria que ele não tivesse me escutado. 

— Eu achei que já éramos amigos. - Ele sorriu timidamente. 

— Achou? - Tentei conter minha surpresa. Ele mal falava comigo. Tentei esconder meu rubor com um largo sorriso. - Ah, claro que somos. Eu estava pensando mais no tipo de amigos que saem juntos com frequência, que caminham por Hogsmeade juntos, tomam umas cervejas amanteigadas...

Andam de mãos dadas, se beijam... Eventualmente, se casam. Sem pressão.

— Ah. - Eu não sei se ele entendeu o tipo de amizade que eu queria, mas parecia ter entendido alguma coisa. - Você quer andar com a gente no lago amanhã?

— A gente? - Tentei esconder a decepção. 

— É. Nós vamos dar um mergulho. Uma tradição dos finalistas! - Ele disse empolgado e ao fundo alguém gritou seu nome. - Não esqueça o traje de banho, te vejo por aí Mollywobbles.

Enquanto ele se afastava com a mão na testa e as orelhas vermelhas, eu sorri e dei uma volta completa no ar sorrindo feito uma boba abraçada aos meus livros: Mollywobbles. Ele me deu um apelido que eu não faço ideia do que significa, mas é fofo. Fofo como ele. 

Voltei radiante ao meu quarto e contei tudo para Linda. 

— Você está tantã da cabeça? - Ela me perguntou. - Estamos em novembro. 

— E? - Perguntei procurando meu maiô. 

— E que o lago deve estar congelante. - Ela me disse a obviedade que eu ainda não tinha pensado. - O inverno já está quase aqui, Molly. Está 10 graus lá fora. 

Não tinha parado para pensar nisso. De fato, estava arriscando uma hipotermia. Mandei uma coruja para o meu irmão mais velho, Fabian e perguntei se ele tinha feito algo assim no seu último ano - Há dois anos. 

A coruja dele chegou no outro dia de manhã. 

"Duvido que você vai ter coragem. Mas se você fizer, tenha um cobertor seco e um conhaque separados para aquecê-la. Mas mais uma vez... Molly certinha fazendo algo errado? weasels me mordam." 

— Ha-ha. - Murmurei alto para o bilhete de meu irmão. E olhei para o lado de fora nesse sábado frio e sem sol. 

— Molly. - Um rapaz quintanista que eu nem sabia o nome me olhou na sala comunal e me entregou um bilhete. - Weasley disse para entregar para você. 

— Ér... Obrigada. - Murmurei sem graça. 

"Molly, 

Acabei me esquecendo de te informar onde nos encontraremos essa noite. Vamos levar as bebidas e nos encontramos no pátio às seis. Te vejo lá?"

Guardei o bilhete com carinho, perto do meu coração e escrevi um bilhete de volta dizendo "mal posso esperar, Mollywobbles." 

Agora eu pularia naquele lago de qualquer jeito.

Passei o dia todo tentando não checar o relógio de dois em dois minutos. Passei um batom e deixei minhas bochechas coradas. Coloquei meu maiô vermelho e dourado e preparei meu cobertor seco e minha toalha, coloquei mais uma na bolsa para Arthur, por via das dúvidas. Homens nunca se preparam e eu não queria que ele ficasse resfriado! Me vesti normalmente, com uma saia até a panturrilha e um casaco grosso por cima de tudo. 

Quando eu o encontrei, com Linda à tiracolo, me controlei para não parecer uma idiota que só sabia dizer "oi" e "aham". Ele também não estava de muitas palavras e logo saiu para cumprimentar os amigos. Resignada, fiquei dois passos atrás de todo mundo, uma vez que Linda já se engraçara com Robbie Rogers e eu não estava muito interessada em conversar com outras pessoas. 

— Estou feliz que tenha vindo. - Despertei dos meus devaneios com a voz ansiosa dele. - Não sabia se uma atividade assim era... Adequada para você. 

— O que está dizendo? - Apertei os olhos, mas sorri em seguida. - Está dizendo que eu não tenho coragem? 

— Não, de maneira alguma. - Ele se apressou em dizer, com o rosto vermelho. - É só que isso é uma coisa boba, você é tão...

— Tão? - Eu o incentivei a continuar, com o rosto corando. 

— Adorável. - Ele falou e logo emendou: - E responsável. 

Eu estava sorrindo de orelha a orelha e pudia jurar que ele tinha murmurando: bonita. E no fundo ele tinha razão, eu era mais responsável que isso. 

— Hmm - Falei sem jeito, colocando algumas mechas de cabelo atrás da orelha, o vento não deixava minha juba ruiva em paz. - Obrigada, você é encantador. 

Eu acho que ele gosta de mim, parece que sim, pela maneira que seu rosto ficou corado ao receber meu elogio sincero. Ele era mais que encantador, ele era um sonho.

Ele me esticou a mão de maneira tímida e eu respondi entrelaçando meus dedos aos dele. Eu odiava acidentes, exceto o que fez a gente sair da definição dele de amizade para isso. Ele era o único que eu queria. 

— Vocês não vêm? - Alguém gritou já pulando no lago gelado. Percebi que caminhamos em silêncio de mãos dadas até ali. 

— Já estamos indo. - Ele gritou em resposta e em seguida murmurou baixinho para mim, de maneira carinhosa. - Você não precisa fazer isso, se não quiser. 

Eu corei enquanto eu o assistia tirar as calças e exibir um calção de banho, tirando a camisa e colocando uma camisa de mergulho. Percebi que estava mordendo o lábio constatando que ele era melhor que o que eu imaginava nos meus sonhos picantes. 

— Não. Eu sou grifinória. – Falei com um certo excesso de confiança, tirando o casaco no vento gélido do fim de tarde e o observando tentar desviar os olhos do decote do meu maiô. Quando tirei minha saia, percebi que ele estava hiperventilando e sorrindo com as orelhas em chamas. - Eu estou com você, mesmo que isso me deixe azul. 

Ele riu e segurou minha mão, dessa vez de maneira segura e firme. 

— Vamos juntos então. - Me disse, me puxando pela mão numa corrida até o lago. 

A água estava terrível, eu não sei quem tem ideias terríveis assim de pular num lado praticamente congelado em pleno fim de outono/início de inverno, isso poderia nos arranjar uma hipotermia, uma gripe, um terrível resfriado. Mas eu me sentia aquecida por dentro, não apenas pela atividade perigosa, como pelo abraço aconchegante de Arthur que insistia em me manter quentinha. 

Saí da água batendo o queixo, correndo atrás da minha bolsa. 

— Tome isso. - Ele me deu um cantil, no qual eu imaginava ter uma bebida ilícita. Acertei. Estava forte e pareceu uma bombada quente e vigorosa no coração. 

Ele riu do meu rosto corado e pegou o cantil de volta, dando um gole. 

— Agora você, pegue isso. - Estendi a toalha que tinha trazido para ele. 

— Mas você vai se secar com o que ele? - Ele murmurou surpreso enquanto eu tirava a água do seu corpo com minha varinha. Em seguida fiz o mesmo no meu. 

— O que foi? - Peguei minha toalha e me embalei. - Eu trouxe essa para você. 

— Eu não tinha pensado... - Ele sorriu. - Você é incrível. 

Fechei os olhos saboreando aquelas palavras e sorri mais uma vez. Eu só queria cuidar dele, por mais estranho que isso possa parecer. 

— Eu também trouxe um cobertor e um sanduíche... - Murmurei, envergonhada por transformar uma situação em grupo em um encontro. Encolhi os ombros - Pensei que poderíamos dividir. 

Ele não precisava saber ainda que eu já tinha sonhado com um futuro com ele enquanto o admirava de longe nos últimos anos. Ou que eu queria voar com ele para longe, queria as complicações dele também... Queria até as suas segundas entediadas. Mas naquele momento ele fez o que eu mais queria: colocar os braços em volta de mim embaixo daquele cobertor. 

Me abraçando de maneira protetora, com os braços em volta da minha cintura e o cobertor sobre de nós dois ele disse: 

— Me desculpe ter te evitado nos últimos tempos... - Apoiou sua cabeça na minha. - Eu não sabia o que te dizer, eu queria te chamar para dar uma volta ou para comprar chocolates em Hogsmeade. Estava com medo de você não...

— Eu adoraria. - Sorri, grata por ele não ver meu rosto radiante de alegria. - Eu gosto de você, Arthur Weasley. 

— Puxa, é um alívio. - Ele disse me virando de frente pra ele e me embalando ainda mais no cobertor - Porque eu meio que gosto muito mesmo de você. 

Finalmente ele me beijou.

Uma vez porque aquela era uma noite longa e perfeita.

Duas vezes porque tudo ficaria bem. 

Três vezes porque foi pelo que eu esperei minha vida toda! 

Um pouco depois da escola nos casamos. Ele queria me dar diamantes e por mais que eu gostasse de coisas brilhantes, eu me casaria com ele até com anéis de plástico que vinham nos chicletes, ou até com anéis de papel.

Tivemos Bill no ano seguinte. E depois Charlie, Percy, Fred e George, Ron e por fim a pequena Ginny. Graças a Arthur minhas segundas nunca foram entediantes, meus porta-retratos eram recheados de nós todos e nossa casa era simples, mas a nossa cara e aqueles braços nunca deixaram de me embalar. 

Ele era o meu lar.


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Notas finais do capítulo

Olá!
Eu queria uma vibe sessentista nessa fic :) Me digam se eu acertei!
Beijos ♥