Dê-me a sua mão escrita por Mary


Capítulo 3
3. Bárbara


Notas iniciais do capítulo

A capa provisória no Inks eu fiz no Canva, é amarela, mas não trabalhei numa de fundo lilás... se eu estivesse no meu tempo de auge, postaria as duas opções no facebook pra vocês votarem na mais top... heheheheh
Sério, amo essa participação de vocês, me sinto menos sozinha porque, olha, gente, junho foi um 7x1 atrás do outro. Quero me esquecer do dia 05. Escrever essa história é homenagear quem me tirou do armário, a minha Lety. Bom, ela não desconfia que é minha Lety, mas isso não vem ao caso...



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 Um dos meus sonhos mais frequentes era com balanços. À medida que deles me aproximava, mais distante me encontrava. Hoje sonhei que havia um balanço de cordas na colina e ela me empurrava para que eu fosse mais alto e revivesse aquele delicioso frio na barriga com gosto de infância, estávamos juntas como se nada tivesse acontecido e a realidade fosse aquele amargo na língua.

Então, eu acordei. Por mais que tenha dormido por quase dez horas, o corpo não correspondeu às expectativas. A dor emocional revela-se tão cruel porque os mais incautos limitam o sofrimento a "frescura" e "mania de chamar atenção", porém mal sabem eles o tormento de uma emoção mal-resolvida ser tão poderosa a ponto de repercutir no aspecto físico.

A distância amplifica os incômodos ruídos da melancolia, ressalta meu desgosto pelo cinza e a solidão torna-se tão espaçosa quanto um móvel que destoa da proposta pensada para aquele ambiente. Aquilo que a alma cala, o corpo faz questão de expurgar.

Se eu quisesse chamar a atenção, criaria uma conta no Tik Tok para postar vídeos dançando funk e ralando a bunda até o chão. Um decreto já vigora entre mim e mim mesma e eu o internalizo para levar adiante: nunca invalidar a dor alheia, tampouco a sua. Não importa se fulano passa por coisas piores, se o seu mundo estiver um caos, você não tem que sentir culpa e minimizar o que te incomoda. Se você sente dor, angústia, raiva, fale sobre isso, anule essa crença que uma pessoa boa não pode sentir certas coisas. Pessoas boas são humanas e se irritarem, falarem um palavrão ou se revoltarem não apaga a beleza da alma, aliás, a reacende, porque beleza encantadora vai além de uma casca, transborda de dentro, encanta.

Deveríamos ser mais gentis uns com os outros. E não somos. Às vezes o nosso coração está tão quebrado que num dado momento nos tornamos um pouco egoístas, mas tudo bem, quando o mundo desmorona sobre a sua cabeça, só você sabe o quanto pesa nos ombros carregar todo esse entulho, todavia, é sempre bom ter alguém para compartilhar nossos sentimentos e para nos ajudar a enxergar a situação sob outro prisma, para isso servem nossos verdadeiros amores. Nossos pais, avós, irmãos, amigos (tão amigos que irmãos de alma são) e também as pessoas que nos fazem acreditar que vale a pena dar um passo adiante e cultivar esse sonho tão lindo de ter a nossa própria família, levando adiante aquilo que aprendemos para que os exemplos bons não feneçam. Que seja um círculo restrito de gente, mas valha a pena sofrer. Porque elas, diante de uma inevitável consternação, estarão presentes para te socorrer, cada um guarda a sua dor no bolso para acolher quem chora.

Sabe essa mãozinha nervosa que adora ler o texto alheio para caçar "erros" e me demonizar porque eu não sou uma reencarnação do Machado de Assis?

Então, segure-a.

Você tem o direito de não gostar da minha arte e eu lhe asseguro que não me ofende de maneira alguma que você leia e não se identifique com o meu jeito de escrever, a minha personalidade, o meu jeito de amar, entretanto, aprofunde esse pensamento e se pergunte se sua crítica visa me invalidar ou mesmo impedir que eu possa me expressar ou se ela é pertinente.

Uma palavra destrói alguém, não seja filha da puta, o mundo já vai mal, ninguém tem certeza acerca do amanhã, se você é frustrada na sua área, em vez de descontar o recalque nos outros, lute mais e curse Direito, deixe Letras para quem tiver vocação para a docência e uma mente aberta porque uma professora bem-resolvida pode empoderar tanto quanto uma influenciadora famosa.

Eu gostaria de te dizer umas palavrinhas antes de prosseguir: você não é o centro do universo e as pessoas não têm obrigação nenhuma de te agradar. Não vomite o ódio que você sente por si mesma na arte alheia. A sua crítica construtiva é o machado que destrói sonhos e eu trombei com semelhantes vermes durante minha vida inteira, com máscaras e entonações diferentes, mas o propósito em comum: calar-me.

Amo exemplificar para auxiliar a compreensão. Até eu atinar o que significava invalidação do meu ser, eu era uma águia que por infelicidade do destino caiu do ninho e foi criada como pomba. Por ser diferente das outras, era vista com maus olhos. Ela não via outras águias e nunca seria um pombo. Sem saber da sua força interior, do quão alto poderia voar, mendigava grãos de milho no chão, amargando exclusão e outras formas de abuso.

Para te situar sobre a águia no meio das pombas, que tal uma continha simples: Bárbara Batista + Ensino Médio. O resultado, você saberá mais adiante, foi desastroso. Bendito seja quem concluiu que depois de tempestade vem a bonança. Alguns de nós se desesperam porque o temporal não cessa, o barulho do granizo tocando o telhado e rachando os vidros da janela é desesperador, tanto quanto não enxergar nada adiante. A vida ensina, aprende quem insiste e também quem se machuca, mas não desiste.

Ontem eu tive uma crise. Meu balde da paciência se encheu tanto que transbordei. Ainda dói. E chove tanto lá fora, faz frio, até o céu anda carrancudo. Entre alternâncias se dá o ciclo da vida, o sol voltará tão reluzente quanto aquele infinito azul que eu queria alcançar enquanto ela me empurrava no balanço, rindo junto comigo.

Eu já conheço os ventos que precedem grandes tempestades. O medo ainda me paralisa, porém eu já me desesperei mais, hoje mensuro que se não encontrar explicação lógica para tudo que me ocorre, posso extrair algum aprendizado e "passar de fase", detalhe que a Bárbara de dez anos atrás ignorava.

Um dia estaremos juntas novamente.

— Babs


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Notas finais do capítulo

Faz anos que estou num processo de autodescoberta para aprender a gostar de mim mesma e me aceitar antes de exigir isso do mundo. Para ser honesta, desde meados de 2016, e a resposta veio em 2017... no começo eu não queria aceitar a realidade de jeito nenhum, chorei muito, me assustei, não quis acreditar, pois vieram provações (leia-se ter parentes adicionados nas redes sociais) e porque ainda era muito precoce para tirar conclusões.
Conforme eu fui lendo sobre o assunto e me aprofundando em memórias que eu já nem me lembrava mais, entendi o que a Babs vai entender ao longo dessa fic, só que advirto que tive (e tenho) recaídas porque... tipo... eu não tenho problemas com isso, só que o mundo ainda é muito preconceituoso, misógino, então é como se eu sempre estivesse tendo que me desculpar, pedir licença para existir, temer...
Esse processo é doloroso, mas acredito que necessário para "passar de fase", senão você continua cometendo os mesmos erros e vivendo situações de gatilho que te levam para o fundo do poço.



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