Valentines Week: Olicity Version escrita por Ciin Smoak, MylleC, Thaís Romes, Regina Rhodes Merlyn, Buhh Smoak, Ellen Freitas, SweetBegonia


Capítulo 4
Valentine's Day Journey - Ellen Freitas


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas!!

Como estão do lado daí, curtindo essa semana diferenciada?
Antes de liberar vocês para o capítulo, só preciso dizer: UAU!! Que coisa linda tem sido essa recepção e o carinho de vocês para nossa coleção de ones. Todo dia é babado no nosso grupo, a gente comentando como tem amado ler o os reviews que nos enviam. Mandem mais, mandem sempre!!

Enfim... Bem vindos a mais uma história. Boa leitura!!



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#7 Anos atrás…

― Lissy, pode abrir a porta? Deve ser o Oliver. ― Felicity bufou para o pedido, não queria parar seu jogo logo perto do fim daquela fase.

― Então você não deveria abrir a porta? ― retrucou, usando dois socos e um chute para derrubar seu adversário. ― Toma essa, babaca! ― gritou para a tela.

― Amiga, estou super atrasada, mesmo quando disse que não o faria esperar. De novo ― Laurel apelou, saindo do banheiro apenas de roupão, metade do seu cabelo liso e metade em cachos, um pente em uma mão e o babyliss na outra. ― Por favorzinho?

― Tô indo, tô indo.

Laurel e Felicity eram colegas de quarto há quase um ano agora. Laurel estava terminando sua faculdade de direito quando precisou sublocar um dos quartos, e Felicity, que estava entrando na universidade, aproveitou a oportunidade de moradia barata e acessível, ou precisaria ficar naqueles dormitórios horríveis. Automaticamente se deram bem, mesmo sendo tão diferentes.

Laurel era séria e focada na carreira, sustentando um namoro de longa data com Oliver Queen, e propostas de empregos em ótimas firmas de advocacia tão logo concluísse o curso de Direito. Era como a vida perfeita de uma jovem mulher de sucesso.

Felicity tinha acabado de se mudar e fazer dezoito anos. Influenciada pelas roupas extravagantes da mãe, que ela absolutamente abominava, se vestia com jeans largos, tênis e rabo de cavalo. Até achava aquelas roupas formais de Laurel bonitas, mas não desejava abrir mão do seu confortável estilo, enquanto tinha que se dividir entre estudos e o trabalho em uma lanchonete para ajudar a pagar suas contas. Só pensar em cumprir sua rotina em saltos altos lhe dava arrepios.

Com o tempo, elas se tornaram além de amigas, quase irmãs. Laurel a protegia, aconselhava, defendia, enquanto Felicity trazia a alegria para a casa, com suas noites de jogos, filmes, música alta e videogame.

― Ela se atrasou de novo, não foi? ― Oliver estava na porta com seu amigo de sempre, o buquê de flores do campo, em uma mão e uma caixa de presente em outra.

― O que você acha? ― Felicity perguntou retoricamente, voltando para seu lugar no sofá e tirando o jogo do modo pause.

― Que eu poderia ter dormido uma hora extra. ― O loiro se jogou no sofá ao lado dela. ― Mortal Kombat 9? Esse jogo não é tipo, de dois anos atrás?

― E daí?

― E daí que eu tenho uma caixa inteira lá em casa de jogos mais novos que você nunca quis experimentar.

― Ninguém gosta de exibidos, Queen.

― Eu não sou exibido, pirralha. ― Começou a bagunçar os cabelos dela, os tirando do rabo de cavalo, e logo levou cotoveladas em resposta para que se afastasse. ― Por isso te trouxe isso.

Felicity teve seu pausar o jogo novamente quando Oliver jogou o embrulho de presente em seu colo. Ela abriu e quase não acreditou quando viu o jogo de combate que ela estava doida para testar, mas que só sairia para as vendas no final daquele ano.

― Como você conseguiu isso? ― A loirinha arregalou os olhos para a capa do jogo em suas mãos.

― Eu conheço um cara. ― Deu de ombros. ― Consegui um pra você e outro para mim, e vou te dizer é muito bom! E vou dizer também, eu sou muito bom nele.

― Quer jogar agora?

Os olhos da garota brilhavam de expectativa. Oliver olhou na direção do quarto da namorada, também com vontade de jogar, mas temeroso por atrasar ainda mais aquele jantar de dia dos namorados. Como se respondesse suas dúvidas, Laurel gritou palavrões do banheiro sobre ter se queimado com o babyliss.

― Parece que ainda tenho um tempinho de te ensinar uma coisa ou duas, Smoak. Afasta para lá. ― A empurrou para sentar no meio do estofado, a fazendo rir.

― Se prepare para ter a bunda chutada, Oliver. ― Felicity saltou animada do sofá, colocando o jogo e lançando um dos joysticks para ele.

Oliver gostava da animação de Felicity. Sua irmã Thea tinha a mesma idade dela, e conseguia ser bem pé no saco, mas Felicity não, ela era bem como seu nome. Meio atrapalhada e meio menininho, mas sempre sorrindo e de bem com a vida.

Ele também não podia negar como Laurel estava melhor desde que arrumou uma colega de quarto. Oliver amava sua namorada, não havia dúvida alguma disso, mas sabia que ela podia ser bem teimosa e controladora quando queria, mas ter se tornando uma espécie de mentora a havia melhorado.

Felicity estava se mostrando uma adversária bem mais difícil do que Oliver supôs. Ela tinha reflexos rápidos e ele só ganhou a primeira partida porque já havia jogado várias vezes aquele jogo com Tommy, e mesmo assim, demorou bem mais do que ele previu. Não que ele fosse deixar ela saber disso algum dia.

― Vamos de novo! ― esbravejou inconformada, lhe dando um soco no braço. ― Você teve sorte.

― Nada disso, eu ganhei e não vou abrir mão de esfregar isso na sua cara para sempre, ex-rainha dos jogos. ― Tomou o controle da mão dela. ― Perdedora.

― Me dá isso aqui, seu chato, eu vou te socar!

Como uma criança teimosa, Oliver escondeu o objeto nas suas costas, e ergueu uma sobrancelha a desafiando a conseguir de volta, um sorriso maroto em seus lábios. De fato, ela despertava o lado crianção dele.

― Me dá, Oliver ― repetiu o pedido.

― Não.

― Eu vou tomar isso de você.

― Adoraria te ver tentar, pirralha.

Ah, como ela odiava o apelido! A diferença de idade entre eles nem era tão grande assim, e aquele apelidinho ridículo era só mais um indicativo de que ele a tratava como a irmãzinha mais nova. Ok, ela jamais faria algo que magoasse sua melhor amiga, e ok, não era como se seu All Star pudesse competir com Louboutins nas preferências dele, mas ser lembrada disso a cada dois minutos era doído.

Seguindo todos os clichês adolescentes e lógica das mulheres héteros de Star City, ela tinha uma quedinha por Oliver Queen. Quedinha nada, era um precipício sem fundo. Mas quem podia culpá-la? O homem nem parecia desse mundo de tão lindo, tinha os olhos azuis mais bonitos que ela já vira pessoalmente e não tinha sido nada além de gentil desde que ela se mudou.

Mas, como Felicity sempre repetia para si mesma, ele era muito apaixonado por Laurel e ela por ele. Os dois tinham esse relacionamento que todos diziam ser perfeito, eram tão bonitos juntos que pareciam ser algum tipo de casal de série ou de capa de revista. Não seria surpresa para ninguém quando o pedido de casamento chegasse em um futuro próximo, e o evento do ano movimentasse a cidade.

Então o que ela tinha eram esses momentos de jogos, raros abraços fraternos e brincadeiras bobas, iguais aos que ele devia ter com Thea Queen.

― Seu idiota, me dá!

Oliver não achou que ela o faria, Felicity não era muito de contatos físicos, então foi uma surpresa quando a loirinha avançou para cima dele em busca do tão sonhado controle, o forçando a cair com as costas o sofá e ela por cima, braços em torno de seu tronco, até as pequenas mãos alcançarem o tão buscado objeto.

― Peguei! ― O ergueu para cima.

― Ainda não.

― Quê? ― Com um gritinho surpreso dela, Oliver inverteu as posições, lhe atacando com cócegas, os dois gargalhando alto com a brincadeira, e ele logo tomou o controle de volta.

― E eu sou ou não a namorada mais legal do mundo ao não me importar com meu namorado em cima da minha colega de quarto, no meu sofá? ― Laurel chamou a atenção para si, colocando os brincos, já arrumada.

― Perdedora ― Oliver murmurou para Felicity, ficando de pé, e ela arrumando sem graça as roupas que haviam ficado uma desordem só.

― Imbecil.

― Adoráveis. ― Laurel achava tudo engraçado de fato. Se ela fosse perder minutos de sono com aquele jeito dos dois, não dormiria nunca mais. ― Temos que ir, Ollie, ou perderemos nossa reserva. E dá um jeito nessa sua roupa, você está uma bagunça.

― Sim senhora, senhora. ― Fez uma continência encenada, rolando olhos em seguida, arrancando uma risada de Felicity.

― Lissy, vou ficar pela casa do Oliver hoje, não me espera acordada ― avisou pegando as chaves no aparador e colocando na bolsa, já perto da porta. ― E se for trazer o Cooper aqui, não faz baderna, os vizinhos reclamaram da última vez. E usem proteção. ― A última frase foi apenas gesticulada com os lábios para que apenas ela entendesse.

Felicity fez uma careta, ligando seu videogame de novo. Como se ela fosse transar com aquele perdedor que ela já havia dispensado há semanas, só não tinha contado ainda para não ter Laurel a enchendo sobre os motivos ou sobre novos encontros.

― Quem é Cooper? ― Ela ainda ouviu Oliver perguntar, mas logo ele foi empurrado pelo corredor sem tempo para uma resposta.

E lá se ia, o casal mais perfeito do mundo rumo a mais um dia dos namorados.

#Presente

Felicity parou no meio da sala de seu apartamento, repassando na mente o que ela ainda precisaria levar para o trabalho naquele dia. Já era a terceira vez que ia até a portaria e voltava quando esquecia algum item. Ela precisava deixar de ser tão avoada algum dia.

― Acho que é isso ― falou consigo mesma, olhando a meia dúzia de fichários que tinha nos braços. Eram planilhas de vendas, modelos de designer de capas e matérias, books de modelos.

Ela trancou a porta e praticamente correu em cima dos saltos do scarpin, fazendo preces silenciosas para encontrar um taxi nos próximos cinco minutos.

― Pode pedir um taxi pra mim, Scott? ― pediu ao porteiro, equilibrando melhor a bolsa e as pastas.

― Pedi na segunda vez que a senhorita subiu de volta ao seu apartamento, já deve estar chegando.

― Obrigada, sempre me salvando. ― Sorriu, conferindo em seu relógio de pulso o quanto estava atrasada para a reunião de pauta naquela manhã. Já deveria estar na metade do caminho para a revista que trabalhava.

Scott tinha uma queda por Felicity Smoak há uns meses e estava pronto para chamá-la para sair naquela noite. Era dia dos namorados, talvez o espírito do amor que estava no ar a atingisse também. Ele já havia soltado mais de uma indireta, mas ela nunca entendia, ou fingia que não entendia, vai saber. Mas quando ela voltasse do trabalho...

― E também peguei esse café daquele lugar aqui na frente que você gosta. ― Felicity olhou com curiosidade para o copo e o gesto, mas não tinha tido tempo para um café antes, então que mal faria?

― Você é perfeito, sabia? ― elogiou tomando um gole.

― Olha, Felicity... ― Como ela parecia mais aberta a aceitar seu convite, resolveu fazer ali mesmo.

― Ah, acho melhor esperar lá fora, assim não perdemos tempo quando taxi chegar, não é?

― É, é melhor ― concordou a contragosto. ― Até mais tarde.

― Até mais, Scott.

Felicity saiu do prédio e suspirou de alívio quando viu o carro amarelo estacionar na calçada. Não se atrasaria tanto, no fim das contas.

― É meu! ― reivindicou o veículo para ninguém em específico, correndo cegamente até ele, sem querer esbarrando em alguém, se desequilibrando e não caindo pela mão sustentando firme seu braço.

― Me desculpe.

Primeiro ela reconheceu a voz do homem de terno cinza e gravata azul marinho, só então conseguiu ver o rosto. As batidas do seu coração atingindo uma velocidade medicamente preocupante.

― Oliver? ― Ele franziu a testa, então seu olhar se iluminou em reconhecimento, sua boca se abrindo de modo nada discreto.

― Felicity Smoak ― murmurou, a medindo de cima a baixo, não fazendo ideia de como estava sendo óbvio. ― Acho que não posso mais te chamar de pirralha. ― O comentário escapou baixinho sem o controle dele, a fazendo corar e dar um passo atrás, quebrando o contato da mão dele no braço dela.

Ela estava tão mudada que parecia ser uma pessoa completamente diferente. Sem óculos, cabelos soltos, saia justa, blusa de tecido fino, salto alto. Como ele pode não notar aquelas pernas e aqueles olhos durante todos os anos que conviveram?

― Não sabia que estava em Star City.

― Duas semanas.

― Duas semanas o quê? ― questionou confusa.

― Que eu estou aqui, de volta ― completou sem jeito por ter sido tão vago. ― Minha mãe se aposentou, assumi a QC daqui. Então, a gente nunca mais se viu desde que você se mudou do apartamento da Laurel.

― Vocês terminaram logo depois, não fazia sentido.

― Você era meio que a cola que mantinha nosso relacionamento. ― Felicity o olhou esquisito. Como assim? ― Quer dizer, não que você tivesse alguma coisa a ver com a gente, não é? E não estou dizendo isso de modo rude nem nada, mas...

― Deixa eu te salvar aqui, meu amigo. ― Uma pessoa que Felicity não tinha notado até o momento, se aproximou passando o braço pelos ombros de Oliver. ― Thomas Merlyn, não sei se lembra.

― Eh, claro que lembro, Tommy. Como vai?

― Muito bem, e, por mais que eu esteja me divertindo muito com o que quer que seja isso... ― Fez um gesto amplo com as palmas para outros dois. ― Tenho que trabalhar, eu sou doutor Merlyn agora ― gabou-se, mostrando o uniforme hospitalar abaixo do casaco. ― Você vem, Ollie?

― Por que você não vai sozinho e eu dou uma carona para Felicity?

― Não precisa, Oliver, meu taxi está parado logo ali.

― Isso não vai ser um problema. ― O loiro caminhou até o veículo, o dispensando sob o olhar chocado de Felicity.

― Por que fez isso? Você é maluco? ― Oliver percebeu que talvez tivesse se precipitado, quando ela deu um daqueles gritinhos bravos e tentou ir atrás do taxi, mas ele já estava longe. Ele até sentia falta deles às vezes, mas agora só parecia estar em uma encrenca. ― Eu posso perder meu emprego!

― Ou talvez eu devesse ficar, diante do acidente de trem que está virando essa conversa. Vocês podem precisar de um médico ― Tommy falou entre gargalhadas.

― Me desculpa, eu não quis... Me desculpa.

― Tudo bem, eu só preciso sair agora e encontrar outro taxi. Foi um prazer encontrar vocês, meninos, a gente se vê por aí. ― Oliver olhou significativamente para Tommy ordenando que o moreno saísse e foi o que ele fez, não sem antes de fazer sinais de beijos para o amigo pelas costas de Felicity.

― Por favor, eu te levo ― O loiro a alcançou depois apenas alguns passos mais rápidos. ― Me diz onde você precisa estar e que horas precisar estar e você estará lá. Na hora que precisar estar.

― Eu não lembrava de você tão tagarela, Oliver ― respondeu sem parar de andar.

Ela tinha razão, ele estava falando mais do que o costume e aquelas frases meio fragmentadas não eram nada do feitio dele. Mas o impacto de toda aquela mudança dela o havia deixado extasiado, ele não conseguia evitar.

― Me desculpa de novo. Por ter liberado seu carro e por estar te enchendo a paciência agora, só quero ajudar, prometo. ― Felicity olhou para os dois lados da rua movimentada, nem sinal de algum taxi por perto.

― Onde está seu carro?

― Vem comigo ― convidou, pegando todos os fichários que ela tinha em mãos. ― Para onde estamos indo e quanto tempo temos?

― Sede da revista VIP, no centro, eu tinha que estar lá às nove. Sou jornalista agora e... ― Felicity se interrompeu quando ele parou do lado da Lamborghini preta. ― Como você tem coragem de andar com um carro desse na rua?

― Não destrate minha filha. ― Oliver sorriu, abrindo a porta do passageiro para ela e colocando as pastas em seu colo. ― Eu não comprei, ok? Thea me deu de aniversário ― explicou depois de dar a volta e sentar no banco do motorista.

― Sua família é toda doida, é o que está me dizendo. ― Oliver negou com a cabeça como se deixasse aquilo para lá, sorrindo pequeno.

― Então... ― Oliver consultou o relógio rapidamente. ― Temos treze minutos para fazer um percurso de vinte e cinco. Desafio aceito, essa bebezinha chega a 350 km/h.

― Não, Oliver, pelo amor de Deus, morrer em um acidente de carro não vai ser desculpa o bastante para minha chefe não me esfolar viva!

― Relaxe, só irei a 200. Coloca o cinto. ― Felicity obedeceu rapidamente, temendo pela própria vida, segurando nos encostos do braço do carro. ― Pronta para uma volta na máquina Queen? ― a voz dele estava permeada de malícia, mais a piscadela que ele soltou antes do motor do carro roncar, fez um arrepio percorrer a coluna de Felicity.

― Nunca aprendeu que ninguém gosta de um exibido, Oliver? ― Ele apenas sorriu, antes de arrancar com o carro.

~

Felicity olhava para sua sala sem saber como chegou naquele nível de bagunça, mas o fato é que ela estava enfiada até o pescoço nele e não sabia como sair. Haviam revistas abertas por todo o chão, assim como panfletos, artigos de jornais, recortes, tudo permeado de corações, arco íris, rosas e casais apaixonados.

Já ela, estava uma bagunça, os saltos jogados embaixo da mesa, seu cabelo antes tão bem cuidado, agora preso em um coque por um elástico, a saia enrolada até a metade das pernas, ela sentada no chão de pernas cruzadas, óculos na ponta do nariz, feições de desespero no rosto.

― Uau, o Cupido passou por aqui, mastigou você e cuspiu de volta? ― Helena tinha as mãos na cintura fina e nem tentou esconder o sorriso.

― Não tem graça, Helena, tô ferrada. Isobel me ferrou dessa vez.

― O que aquele projeto fajuto de Miranda Priestly fez contigo?

Helena, assim como Felicity, detestava a chefe e editora-chefe da revista. Isobel Rochev era uma tirana insuportável, chegava a ponto de degolar qualquer um que escrevesse uma linha que ela não aprovasse, e tinha um problema pessoal inexplicável com elas duas. Colocava sempre uma contra a outra para derrubar ambas, mas só conseguiu que ficassem cada vez mais amigas.

― Ela me mandou cobrir a feira dos namorados essa tarde e escrever a matéria sobre. ― Bufou, cobrindo o rosto com as duas mãos. ― E não quero a descrição do lugar, quero alto tocante, bonito, impressionante ― imitou a voz de Isobel.

― Ah, essa feira vai ser o máximo, vão demonstrar tradições de dia dos namorados que acontecem pelo mundo todo, estava pensando em passar lá mais tarde! Qual o problema?

― O problema é que não faz sentido eu ir. ― Ergueu rosto, um pouco ofendida por sua amiga não compreendê-la de cara. ― Terminei meu namoro recente, não lembra?

― Seis meses não é recente, Lissy, me poupe. ― Dispensou o drama da amiga abanando as mãos e rolando olhos. ― E o que é que tem, leva qualquer um. Ou não leva ninguém, tanto faz, você é uma mulher foda o bastante para ir sozinha.

― Não, você é uma mulher foda o bastante para ir sozinha ou conseguir um par perfeito em dez segundos. Eu sou só...

― Uma jornalista fodástica com uma inteligência bem acima da média, independência financeira e uma bunda gostosíssima? Aí, como sofre, a pobrezinha da Felicity ― ironizou a última frase com a mão no peito, sentando em uma das cadeiras e cruzando as pernas.

― E não é só isso. É como se ela estivesse esperando até o último segundo para me dar esse trabalho e me ver fracassar nele. Filha da mãe! ― a loirinha reclamou, deitando no chão com o braço sobre o rosto.

― Olha, você sabe como sempre serei a favor de me juntar a você para xingar a Isobel, Deus conhece meu caderno de palavrões melhor que eu, mas agora você precisa se recompor e entregar a matéria mais apaixonante que já escreveu, ok? ― Como não foi atendida de pronto, Helena começou a chutar de leve as costelas de Felicity com a ponta fina do sapato. ― Levanta, criatura!

― Não quero ― retrucou como uma criança mimada.

― Ok, então vou dispensar a sua visita ― falou calmamente como se não fosse importante, ficando de pé. ― Aliás, como deixou de me apresentar um amigo tão gato?

― O quê? ― Felicity rapidamente ficou de pé. ― Quem tá aí? Pelo amor que você tem às suas unhas, quem tá aí, Helena? ― questionou a sacolejando.

― Agora consegui sua atenção, uh? ― Tirou as mãos da loira de si, um sorriso vencedor nos lábios. ― Um cara, ele disse que vocês tinham combinado um almoço ou coisa assim.

As duas se esquivaram sorrateiramente até a janela, abrindo apenas um pouco as persianas, que Felicity tinha fechado para esconder sua bagunça, e espiando lá fora. Oliver estava sentado na recepção, lendo uma revista com o cenho franzido, como se tentasse entender o conteúdo.

― Merda!

― Vocês não tinham marcado algo? Foi só por isso que não joguei meu encanto Bertineli nele.

― Claro que não, ele é só... Ele e minha colega de quarto da época da faculdade…

― Mentira, ele é comprometido com sua amiga? Que safado! Vou já lá chutar a bunda dele.

― Não, não! ― Felicity teve que segurar o braço da outra. ― Ele não namora, pelo menos é o que eu acho. Não com Laurel, ao menos.

― Então eles terminaram recentemente? Isso dificulta por causa do nosso código das garotas, mas não impossibilita. Só atrasa, no máximo.

― Eles terminaram faz uns seis anos.

― Então qual o teu problema, mulher?! Vai agarrar esse homem! ― Helena deu um tapa forte no braço de Felicity, a fazendo até pender um pouco para o lado.

― Ai, sua lunática! Ou você para de me bater ou para de fazer muay thai ― reclamou acariciando o local doído. ― Comigo e Oliver não é assim. Ele me trata como a irmã caçula, jogava videogame comigo e me chamava de pirralha.

― E ele já deu uma olhada em você ultimamente, Lissy? Porque não tem nada de pirralha aí, e mais uma coisa. Homens não correm atrás de almoços com irmãs mais novas, correm atrás de quem estão a fim. E ele está, ou esqueceu do que se trata minha coluna na revista?

Helena escrevia sobre sexo. Na verdade, escrevia sobre relacionamentos, atração e essas coisas, mas se fossem resumir, tudo acabava em sexo para ela.

Felicity tentou não se apegar às palavras da amiga. Sim, Oliver tinha lhe dado umas duas boas encaradas essa manhã, e ela sabia como não era mais a menina que se vestia de menino de antes, mas só quem viu o amor de Oliver e Laurel poderia opinar se ele estava interessado ou não.

― Então talvez você devesse escrever essa matéria. ― Uniu as mãos em prece, fazendo sua melhor cara de cachorrinho pidão, não deixando Helena ver para onde os pensamentos dela haviam ido.

― Nah, acho que eles queriam algo mais family friendly, se é que me entende. ― Piscou para ela. ― De todo jeito, você vai fazer o quê? Fingir que não está aqui e me mandar dispensá-lo?

― Ótima ideia, você faria isso por mim?

― Claro que não, você vai falar com ele. ― Dispensou na hora, rindo da cara esperançosa de Felicity. ― E quer saber mais, vai agora, que o coitado está prestes a ser encurralado por uma cobra. Mas dá um jeito nesse cabelo e se calça, tá toda acabada!

― Acabad… Deixa pra lá! ― Felicity engatinhou para debaixo da mesa para pegar e calçar os sapatos, soltando o cabelo e os colocando minimamente organizados com os dedos, arrumando as roupas. ― Agora eu tenho que salvar o lesado do Queen, droga de Isabitch! ― resmungou, caminhando naquela direção e sendo seguida de perto por uma curiosa Helena. ― Hey, Oliver! ― interrompeu o que seria uma cantada nada discreta da editora chefe.

― Ah, quem eu vim ver. Hey, Felicity.

― Ela? ― Isobel perguntou com uma careta, mas não foi nem ouvida ou completamente ignorada pelo loiro.

― Então, já está pronta para irmos? ― Friccionou as mãos em sinal de empolgação. ― Fiz reserva em três restaurantes, não sabia que estilo de comida você ainda curte. ― Felicity teve de acotovelar a amiga depois de um “hm” acompanhado por um erguer de sobrancelhas.

― Ela não vai a lugar nenhum! ― a Rochev cortou logo a conversa, quando notou que não ganhara a atenção desejada.

― As pessoas aqui não tem nem horário de almoço? Vocês garotas deveriam denunciar em algum lugar ― sugeriu brincalhão, e Isobel pareceu prestes a entrar em combustão. Felicity segurou uma risada a muito custo, ao contrário de Helena, que nem tentou.

― Eu amei esse cara, bom trabalho, amiga!

― Não são permitidas visitas pessoais, e o Tico e Teco, de volta ao trabalho. ― Girou os indicadores, mudando o rumo da conversa.

― Ele é trabalho, sobre hoje à tarde. ― Isobel estreitou os olhos para os dois, ponderando se aquilo era verdade ou não, enquanto Helena murmurava outro sonoro e malicioso "hm". ― Vem, Oliver! ― Começou a o arrastar para a própria sala, sem esperar mais nenhuma resposta.

― Que furacão passou aqui? ― comentou olhando ao redor.

― Pronto, você fica dez minutos aqui e depois pode ir.

― Ou eu te ajudo com isso e em cinco minutos vamos almoçar juntos e colocar a conversa em dia, que tal? ― propôs com um sorriso e ela soltou um suspiro pesado.

― Como você pode ver, tenho muito trabalho por aqui, então não dá, sério.

― Jantar então?

― Oliver…

― Por que não quer sair comigo? Estou começando a ficar frustrado.

― Por que quer sair? Você nunca foi assim comigo e eu e Laurel não estamos próximas como antes, mas ainda somos amigas.

― Nós terminamos há um século, tenho certeza que há algo no código de vocês garotas que mostre que já prescreveu ― respondeu ignorando totalmente sua colocação inicial.

― Sinto muito, mas ainda é não.

― Tudo bem, se é o que você quer… ― Os ombros dele caíram, e Oliver suspirou desanimado. ― Só me responde uma coisa: que trabalho é esse que você disse pra sua chefe que eu faço parte?

― Uma matéria estúpida sobre a feira do dia dos namorados. ― Felicity falou sem ser dar importância ao evento, mas no fundo contava com mais uma respostinha esperta dele, mas nada disso veio.

― Ok, não quer ir, não quer ir. A gente de esbarra por aí, Felicity. ― E foi saindo.

― Como assim, deixou ele ir tão rápido? ― Helena entrou sem convite logo em seguida, era quase como se estivesse escutando atrás da porta.

― Eu disse, Helena, ele só quer colocar a conversa em dia, como ele mesmo falou. Não estou com tempo para isso hoje.

― Não, não. Meu radar de feromônios não falha.

― Falhou dessa vez, então a menos que vá me ajudar na matéria, me deixa sozinha, por favor. Preciso aprontar tudo, passar em casa para trocar de roupa, a maldita feira começa em duas horas.

~

― Droga! ― Felicity resmungou quando tropeçou ao descer do táxi em frente ao enorme centro de atividades montado na praça que ficava às margens da baía de Star City.

Ela poderia colocar a culpa de seu tropeço na pavimentação desregulada da calçada, em seus saltos Anabela, em seu vestido florido que resolveu voar tão logo desceu do veículo e ela teve que segurar a saia folgada para não mostrar demais, ou até mesmo na sua escassez de habilidades físicas, mas seria mentira.

Seu nariz quase quebrado no concreto foi responsabilidade inteiramente do susto de ver Oliver Queen parado e sorrindo para ela, braços cruzados e costas apoiadas na parede de entrada. Ele havia trocado o terno formal da manhã por jeans e blusa de malha, parecendo de novo com o cara que ela conhecera sete anos atrás. Só que ainda mais bonito, se é que isso era possível.

― Eu, você e um taxi. ― Oliver se aproximou, o sorriso maior e as mãos nos bolsos. ― Estamos construindo uma história juntos ― Acenou um tchauzinho pelo retrovisor para o taxista, que saiu sem entender quem era aquele estranho lhe cumprimentando.

― O que faz aqui, Oliver? ― perguntou desconfiada, o olhando de lado.

― Aparecendo no mesmo lugar que você disse que estaria? ― respondeu com uma pergunta. ― Nada.

― Espero que você não esteja me perseguindo, minha amiga Helena tem no mínimo uns três ex namorados policiais.

― Quem disse que eu deixei minha multinacional aos próprios cuidados apenas para vir atrás de você?

― Você ― apontou o óbvio. ― Acabou de falar, duas vezes.

― Um homem não pode ter interesse em cultura? ― Felicity sentia que devia estar irritada, mas aquele jeito cínico dele era extremamente charmoso.

Controle-se mulher, repetia para si mesma.

― Sério, se você responder com mais uma pergunta, eu chuto sua canela! ― Oliver entortou o pescoço, não contendo uma risada. Não mais os sorrisos de flertes que vinha destinando a Felicity desde que a reencontrara, mas um sorriso de felicidade genuína que poucas pessoas conseguiam dele ultimamente.

Ele não confessou para Tommy e suas mensagens indiscretas durante toda a manhã sobre Felicity, e não confessou para sua secretária que notou em sorriso bobo logo que chegou para trabalhar, mas precisava confessar ao menos para si mesmo. Ele sentia uma coisa estranha por Felicity quando ainda namorava Laurel e estava sentindo de novo agora. Só que mais forte.

Na época, não estava apaixonado pela loirinha nem nada, a menina era quase uma menor, e também ele amava muito sua namorada, mas de algum modo, não conseguia ser indiferente. Não perdia oportunidades de tirá-la do sério, rir com ela durante suas partidas de videogame e filmes trash de terror que Laurel não curtia, ou mesmo aconselhar quando lhe era permitido. Tipo com Thea, sua irmã, mas menos fraterno.

Mas reencontrá-la tanto tempo depois, mudou aquilo, aprofundando de algum modo. Ela estava crescida, a diferença de idade, que em sua cabeça de anos atrás seria um problema, agora não fazia a mínima diferença, e ela fora seu único pensamento durante toda a manhã. Por isso tinha ido à sua revista e por isso estava aqui agora.

Oliver nunca fora uma pessoa paciente, receber não significava não, sem insistência em encontros, mas com Felicity, ele não queria abrir mão tão fácil. Principalmente porque ela não parecia tão indiferente a ele quanto gritava aos quatro ventos. Talvez o visse apenas como o namorado mais velho da sua colega de quarto, adjetivos que ele estava mais do que disposto a mudar, ou temesse por envolver com alguém tão diferente de si.

Mas ver aquele lampejo da Felicity que conheceu através da ameaça de um chute, aqueceu seu coração de uma maneira tão boa que o fez trocar palavras. Isso acontecia quando ele ficava desconcertado e há muito tempo ninguém o deixava assim.

― Aí está ela.

― Quê? Ela quem? ― Felicity procurou ao redor por alguém conhecido, mas não viu nenhum rosto familiar naquela pequena multidão. Oliver balançou a cabeça com um pequeno sorriso nos lábios, dispensando a ideia de lhe dar uma resposta.

― Eis minha proposta... ― Voltou ao seu modo executivo cheio de argumentos para fechar negócios. ― Nós dois entramos nesse lugar, você faz seu trabalho, eu não atrapalho. E ainda pode ser melhor estar de casal, sabe? É uma feira dos namorados. ― Deu de ombros.

― Olha aqui, eu sou foda o bastante para entrar aí sozinha! ― Apontou o indicador na direção do rosto dele, chegando bem perto. ― E não somos um casal!

― Desculpa, não foi o que eu quis dizer, daqui você parece alguém bem foda.

― Ótimo que saiba disso. ― Acenou afirmativamente, como que para si mesma. ― Droga, estou atrasada, a feira já começou ― resmungou olhando para o relógio de pulso. ― Olha, Queen, não vou ter tempo para te expulsar, então... Tchau!

― Nossa, que garota difícil ― falou sozinho quando a jornalista lhe deu as costas entrando no local de eventos. ― Estou animado!

O local por dentro estava lindo e muito bem movimentado. Haviam algumas dezenas de estandes com bandeiras de países e pessoas caracterizadas de acordo com a nacionalidade representada. Haviam também locais de jogos como em parques de diversões e barraquinhas de lanches, o que lembrou de Felicity do almoço que havia pulado.

― Vamos começar por essa que tem comida ― falou sozinha, pegando um bloquinho de anotações, um gravador portátil e indo para o primeiro estande, o da Alemanha. ― Chocolates, flores e presentes em forma de coração. Não tão criativo, uh? E esses porquinhos? ― falou apenas a última frase alto o bastante para ser ouvida pela garota loira da barraquinha.

― Representam sorte e luxúria. As pessoas se presenteiam com fotos, desenhos, bichinhos de pelúcia, mini estátuas, tudo de porcos.

― Aqui na América só significa bacon. ― Felicity soltou uma risada anasalada, mas a garota apenas a olhou como se fosse um E.T contando piadas. Sem senso de humor, ok. ― E esses biscoitos? Ich liebe dich ― testou uma péssima pronúncia de alemão.

― Amo-te.

― Jesus! ― Ela se voltou com a mão no peito, ao ouvir as palavras cochichadas tão próximas ao seu ouvido, quando ela nem percebeu que alguém se aproximava. ― O que disse, Oliver?

― Amo-te ― repetiu, um sorriso espalhando-se em seu rosto. ― É o significado do que está escrito. ― Apontou com o queixo para o biscoito de gengibre na mão dela.

― Ah ― Felicity soou levemente decepcionada, reação bem estranha para alguém que já havia dispensado a companhia dele mais de uma vez só naquele dia. ― Não sabia que falava alemão.

― Só um pouco, a empresa tem uma filial lá ― explicou. ― Com licença, vamos querer meia dúzia desses biscoitos e mais duas caixas desses chocolates ― falou para a moça da barraca alemã, conseguindo uma cara de estranheza de Felicity. ― O que foi? Por sua causa, não almocei hoje.

― Você não vai mesmo embora, não é?

― Viu? Gosto do quanto inteligente e perspicaz você é. ― Tocou com o indicador no nariz de Felicity, pagando e recebendo tudo que havia pedido.

― Tá bom, desisto. ―  Ergueu as mãos rendidas ao alto. ― Mas se começar a me atrapalhar, te chuto para fora daqui.

― Eu já prometi isso logo no início. Quer um biscoito?

― Me dá! ― Praticamente roubou o doce das mãos dele. ― Por sua causa também não almocei, minha chefe não me liberou.

― Sério, vocês deveriam denunciar.

― Deixa a Isabitch pra lá. Qual a próxima? ― Ela olhou para todas as opções, pegando outro biscoito logo que terminou o primeiro.

― Hm, que tal a China? Eu lembro de ter passado um Qixi Festival lá uma vez, é bem interessante.

― Um “qi” o quê?

― Qixi Festival, é o mais perto do que eles têm do dia dos namorados, acontece em agosto. E tem uma lenda bem legal por trás de toda a história.

― Tá, me pescou. Conta a lenda.

― Eu não lembro dos nomes exatos, mas posso te dar um resumo. ― Respirou fundo como se fosse fazer algum tipo de relato solene. ― Era uma vez uma fada, que conheceu um jovem mortal e se apaixonaram à primeira vista, mas quando se casaram a Deusa do Céu ficou tão furiosa que criou a Via Láctea apenas para os separar.

― Espera aí, quem é essa Deusa do Céu e porque tão mal-amada?

― Eu sei lá, Felicity. ― Deu de ombros. ― Continuando... De um lado da Via Láctea está a estrela que representa a fada, e do outro, o jovem que chora por sua esposa. Mas uma vez no ano os dois tem a oportunidade de se verem, somente durante a celebração Qixi.

― Ainda preciso entender porque as pessoas são tão infelizes nesse tipo de lendas. Sempre amores não correspondidos ou separados por um mal maior, é como um aviso para ninguém se apaixonar, que vai ser trágico.

― Nossa, que depressivo, Felicity. Quem foi o babaca que quebrou seu coração? ― Você, seu idiota, quando eu tinha dezoito anos!, era o que ela quase falou, mas segurou a língua. Não havia sido culpa dele, afinal.

― Obrigada pela explicação, Oliver, mas sinto que preciso ir até lá. A “fada” e o “jovem mortal” precisam de um nome se querem entrar na minha matéria.

Quando chegaram no estande da China, estava para começar uma competição de esculpir melões, como mandava a tradição das mulheres para homenagear a fada, que era chamada de Zhinu, a deusa do amor e dos relacionamentos.

― Eu não vou cortar o pobre melão só porque você quer, Oliver.

― Não é só porque eu quero, é porque vai ser divertido, vamos?! Vamos. ― A puxou pela mão até o lugar das inscrições.

― Individual ou casal?

― Casal, Oliver e Felicity Smoak ― o loiro se apressou em dizer. ― Recém-casados, muito apaixonados.

― Parabéns! Vocês vão competir com o número sete.

― Obrigado. ― Oliver pegou os adesivos das mãos da mulher. ― Vamos, coração? ― Passou o braço pelos ombros dela.

― Eu não acredito no que você acabou de dizer para aquela mulher.

― Você preferia que usássemos o sobrenome Queen? ― Fez uma careta. ― Acho Smoak mais bonito e menos pretencioso.

― Eu não estou falando disso, descarado, você disse que éramos casados!

― Felicity, se você quer saber o comportamento de casais, tem que estar no meio dos casais e não como uma observadora distante.

― Senhor, dai-me paciência! ― Massageou as têmporas. ― Me dá esse número aqui, se nos obrigou a competir, que seja ao menos para ganhar.

― Essa é minha garota! ― ele vibrou. ― Mas só pra deixar claro, eu não entendo nada de escultura em melões, vamos perder com certeza.

Acabou que eles passaram bem longe da vitória, mas foi se divertiram bastante, fazendo do melão uma cabeça, para descobrir ao final que poderiam ter esculpido qualquer coisa mais fácil.

― Oh, deusa Zhinu, aceite essa cabeça decapitada em sinal de minha boa-fé, ouça minhas intenções ditas de coração puro e me mande um bom marido! ― Felicity elevou o melão ao céu, quando já estavam fora do ambiente da China.

― Você não deveria brincar com isso, Zhinu pode te atender. ― Ela soltou uma risada incrédula.

― Não acredito nessas coisas, fala sério.

― Tem certeza que você era a pessoa para escrever essa matéria? Não duvidando dos seus dotes jornalísticos nem nada, mas mandaram para uma feira de tradições do dia dos namorados alguém que além de ser uma cética, acha que paixão é algo trágico.

― Minha chefe me odeia e me deu o pior trabalho que conseguiu pensar ― falou como se não fosse nada.

― Vem trabalhar para mim, então. A QC sempre está à procura de pessoas competentes e bonitas como você para as relações públicas. ― Soltou o convite que estava misturado com o flerte e um sorriso, e Felicity não acreditou como ele fora tão evidente dessa vez. A cara de pau dele era até engraçada.

― Esquece, não gosto da minha chefe, mas amo meu trabalho na revista. ― Dispensou a ideia de cara, lhe entregando o melão. ― Pega, você carrega o Oliver Smoak Junior, esse garoto está ficando muito pesado.

― Não ouça sua mãe, bebê, ela te ama apesar de tudo. ― Felicity lhe mostrou a língua em um gesto de rebeldia. ― Você é uma péssima influência para o nosso filho ― recriminou cobrindo os olhos desenhados na fruta.

― Engraçadinho ― ironizou. ― Eu escolho para onde vamos agora, me deixa ver... ― Olhou ao redor. ― País de Gales!

― Por que o País de Gales? Desse não sei nada.

― Mais um motivo e também, gostei da decoração. Vamos.

O estande do País de Gales acabou sendo uma decepção para ambos. O que poderia ser um assunto interessante sobre como colheres de madeira viraram símbolo do amor remetendo à uma tradição do século de XVII, acabou virando uma aula tediosa sobre o que significava cada símbolo.

Ferraduras, boa sorte, rodas, apoio, chaves, as chaves para o coração de um homem, sinos, casamento. A mulher com roupas que pareciam ir direto para alguma cerimônia de sacrifício, tinha a fala tão entediante, que Felicity estava quase dormindo em pé entre uma anotação e outra, enquanto a atenção de Oliver estava em algum joguinho bobo no celular.

As coisas só ficaram mais interessantes quando Oliver a provocou para uma briga com as colheres de cabo longo, que tão logo se tornou uma disputa animada de espadas, que chamava a atenção das outras pessoas bem mais do que a explicação, a dupla consequentemente sendo convidada pela mulher a visitar outro local para evitar as distrações da plateia.

― Nunca fui expulsa de aula nenhuma, você é uma péssima influência para o nosso filho. ― Ela até tentou falar sério, mas acabou rindo da forma como ele ainda segurava o melão como um bebê.

― Não fomos expulsos, fomos libertos ― rebateu. ― E minha vez de escolher... Que tal a Eslovênia?

Na Eslovênia, o dia dos namorados era comemorado em várias datas, incluindo o mesmo que eles, no dia 14 de fevereiro, por o país ser bastante ligado à agricultura, e nesse dia também se comemorava o dia de Zdravko, santo padroeiro da primavera. Segundo as histórias, nesse dia que os pássaros casavam, e para não invadir a privacidade, as pessoas andam descalças no meio do campo. E como não conseguiam se manter fora de qualquer competição, logo se viram em uma prova de resistência e habilidade.

A prova os desafiava a andarem descalços por uma plataforma muito estreita coberta de musgo e grama, que ficava a quase um metro de altura do chão, um de cada vez, por mais tempo que conseguissem sem cair. Oliver Smoak Junior foi colocado de lado no chão, e Oliver pai ajudou Felicity a subir na plataforma, segurando a sua mão para lhe dar apoio.

― Se olhar debaixo da minha saia, eu te dou uma joelhada.

― Nem dá pra ver nada, relaxe ― dispensou a ideia.

― Você tentou olhar, seu safado? ― O encarou chocada.

― Claro ― respondeu, e quando a garota parecia que ia ter uma coisa, ele sorriu. ― É brincadeira, Felicity, eu sou um homem respeitador. Aliás, melhor segurar o vestido, não vai querer pagar calcinha no meio desse monte de homens não respeitadores.

― Um cavalheiro, quem diria ― ironizou, rolando olhos, e quando o sinal foi dado, começou a andar pelo que parecia ser uma trave daquelas de ginástica artística, sua mão presa à dele para suporte.

― Ei, enquanto temos um minuto, podemos nos atualizar... Como anda a agitada vida de Felicity Smoak nos últimos seis anos?

― Não tão agitada quanto a sua, senhor divorciado.

Oliver sorriu sem humor, estava evitando o assunto todo esse tempo. Não que fosse algo que o fazia sentir mal ou algo do tipo, ele só não queria falar com a garota que ele estava tentando conquistar sobre seu casamento fracassado em tempo recorde.

― Então quer dizer que ficou de olho em mim? ― Ergueu uma sobrancelha para ela com um sorriso sedutor e saiu pela tangente, voltando o assunto para Felicity.

― Você casou em evento televisionado em um castelo na Europa. Eu sou jornalista, querido, uma notícia assim não dá pra ignorar.

― Foi uma besteira. Não que eu não gostasse da Samantha, eu gostava, mas foi precipitado demais. ― Deu de ombros. ― Nos conhecemos e casamos em um período total de três meses, o que foi mais do que durou o casamento em si. Morar junto acabou totalmente com a atração, viramos amigos.

― Que romântico.

― Oh, senhorita sarcasmo, eu não desisti não, viu? Ao contrário de você, eu realmente acho que estar apaixonado é uma sensação que deva ser experimentada por todo mundo pelo menos alguma vez na vida.

― Taquicardia, dor de estômago, sudorese excessiva. Ah, com certeza, uma doença que devia se espalhar por aí.

― Você nunca se apaixonou então? ― Felicity parou de andar, olhando sério para o rosto do homem, ponderando se respondia ou não.

― Eu acho que uma vez, há muito tempo, mas não o bastante para me fazer esquecer como é. ― Voltou a caminhar.

― Eu conheci? ― a pergunta a surpreendeu, ela achou que sua última frase havia sido clara o bastante para encerrar o assunto. ― Se foi há bastante tempo, pode ter sido na nossa época. Eu conheci?

Felicity ia mentir descaradamente, mas ficou presa em um detalhe, o “nossa época”. Não havia sido a época deles dois, era a época de Oliver e Laurel, Lauriver como ela mesma apelidara o relacionamento tão perfeito. E falar disso trazia todos aqueles sintomas de volta. Como alguém poderia gostar disso?

O olhar azulado não desviou do rosto dela por um segundo sequer, Oliver não queria perder a resposta, estava até um pouco ansioso por escutá-la. Mas Felicity mordeu os lábios, olhando para qualquer lugar que não ele, a falta de atenção em seu parceiro a fazendo perder o equilíbrio, e, seguindo todos os clichês de comédias românticas, cair direto para os braços de Oliver.

― Opa, peguei.

Felicity segurou firme nos ombros dele, inspirando profundamente pelo susto e trazendo com isso o cheiro do loiro direto para inundar não apenas seu olfato, mas todos seus sentidos, a deixando levemente tonta. A jornalista prendeu o lábio inferior entre os dentes, observando com uma certa hipnose quando ele passou a língua pelos próprios, umedecendo-os. Tomando aquilo como permissão, Oliver aproximou o rosto do dela.

― Seu nariz é torto. ― Foi a frase idiota que acabou escapando dos lábios da loirinha, quando não mais de dois centímetros separavam as bocas deles. Ele se afastou começando a rir, tanto que curvou a cabeça para trás. ― Me coloca no chão, por favor.

― Você é única ― atestou obedecendo ao pedido dela.

Felicity estava claramente desconfortável quando colocou mechas dos cabelos atrás de ambas as orelhas, procurando suas sandálias no chão, já que haviam perdido mais aquela prova. Oliver ia beijá-la, não era tão boba para não perceber, mas a dúvida era se ela teria deixado acontecer se não tivesse que lidar com sua língua enorme. E se tivesse acontecido, quais as consequências daquilo.

“Não pense demais”, sua mãe vivia repetindo a ela quando o assunto era amor, ou qualquer coisa, na verdade. Mas esse era um conselho que ela tinha escolhido ignorar em todos os seus longos quase vinte e seis anos de vida.

― Um cheiro bom está vindo do Chile, a gente devia ir... ― Ela apontou com o polegar na direção da bandeira vermelha, branca, azul e estrela.

― Tá, claro. América Latina, aí vamos nós. ― Soou animado, dando um soquinho no ar. ― Nosso filho, sempre esqueço nosso filho. ― Voltou, pegando a fruta no chão, Felicity admirada como o humor dele era sempre tão bom. Nada o abalava e era algo que ela não tinha se atentado antes. ― Pastel de choclo ou cazuela, senhorita? ― Ofereceu ao olhar as opções no cardápio para o jantar chileno.

O pastel de choclo consistia de um prato típico feito com o grão do milho e recheado com carne moída ou frango, manjericão e azeitonas pretas, enquanto a cazuela, era o termo chileno para caçarola, que poderia ser feito de vários sabores como mariscos e frango, mas ainda era uma sopa.

― Considerando minha habilidade incomparável de sujar minhas roupas e parecer uma idiota, o pastel de choclo.

― Dois desse, por favor ― pediu com um sorriso para a moça, que pareceu encantada com ele.

Até agora, nenhuma novidade para Felicity, a capacidade de Oliver de fazer mulheres caírem por ele havia deixado de surpreendê-la nos primeiros meses. Os dois comeram em silêncio pelos minutos seguintes, e, apesar do momento constrangedor de momentos atrás, o silêncio não era nada disso. Era confortável até.

― Olha, me desculpa ter feitos aquelas perguntas, foi invasivo demais. ― Ele se desculpou quando ambos já terminavam seus pratos.

― Tá tudo bem, eu só não entendo como essas coisas de romance e apaixonamento podem ser tão fáceis para você, Oliver. ― Deu de ombros, colocando seu prato com o que sobrou de lado, os dedos se contorcendo sobre a mesa.

― Não são fáceis, Felicity, eu nunca disse que eram. Só disse que valiam a pena, apesar de serem difíceis. ― A mão de Oliver deslizou por cima da toalha vermelha e branca, até segurar a dela. Felicity olhou para o contato, sentido o choque térmico. Ele tinha a mão quente, forte, enquanto a dela estava gelada, os olhos de ambos presos um no outro.

― Com licença, o belo casal gostaria de participar de um concurso típico do dia dos namorados do Chile? ― Um jovem educado os interpelou, quebrando contato visual. Felicity sorriu educada para ele.

― Sempre ― ela respondeu, e ficaram em pé, seguindo o garoto para um espaço no interior do estande do Chile. ― Vamos tentar ganhar pelo menos esse.

― Vocês são o número treze, os últimos inscritos. Quais os nomes?

― Oliver e Felicity. ― Ele anotou os nomes e número em duas etiquetas adesivas e as entregou a eles. ― Ah, de que é o concurso mesmo?

― De beijos ― falou já saindo.

Felicity arregalou os olhos e seu queixo caiu, piscando várias vezes seguidas. Seus pés já estavam prontos para fugir para longe dali, quando Oliver interceptou seu plano de fuga a detendo pela cintura.

― Espera, espera, não corre.

― Eu não vou beijar você, seu doido, nem o prêmio fosse a demissão da minha chefe!

― Ouch! ― Encenou uma careta.

― Sem querer ofender.

― Era pra eu me sentir lisonjeado então? ― Ela torceu os lábios em um beicinho que Oliver achou adorável. ― Qual é, só um beijo. É porque eu comi aquele negócio de carne agora a pouco?

― Não seja ridículo, eu comi a mesma coisa. É que não faz sentido, esse é um concurso para namorados, o que não somos, logo vamos perder.

― Então sua relutância não é por me beijar, mas por perder o concurso?

― Você não está entendendo, e não vou beijar você na frente desse monte de gente.

― Um monte de desconhecidos, no meio de outros doze casais. Ninguém vai prestar atenção na gente, Felicity.

― Quanto esforço por um concurso, Oliver.

― Esforço por um beijo seu, coração. ― Fez carinho no rosto dela, sorrindo com malícia, mas ela o afastou levemente.

― Cara de pau.

― Todos prontos? ― Quem dirigia a prova perguntou alto o bastante para todos ouvirem. ― Beijando em três... ― Felicity olhou ao redor, procurando uma saída. ― Dois... ― Olhou para Oliver, que ainda mantinha sua postura de “quero te beijar”. ― Um.

― Eu vou te beijar agora, tá bom? ― ele anunciou.

Ela sabia que deveria negar novamente, mas que mal poderia fazer? Os dois eram adultos, solteiros, seria só um beijo. Como os que atores vivem trocando em cada cena romântica de filmes e séries, e como milhares de pessoas faziam todas as noites nas boates da vida. Beijos únicos, com estranhos e sem significado.

― Vem.

― Antes que você desista ― murmurou, as mãos ladeando o rosto dela, e com apenas um pequeno passo, já lhe alcançou os lábios.

Felicity tinha uma mente que funcionava bem acima da média, sua mãe descobriu isso quando a garota ainda tinha três anos de idade. E por ter um cérebro funcionando tão acelerado, ela conseguia perceber tudo. O toque macio dos lábios nos seus, as mãos dele que seguravam seu rosto e desceram para seu pescoço, a pequena inclinação que sua coluna fez para trás para receber o corpo de Oliver que ajustava ao dela, e o cheiro. Aquele cheiro.

A jornalista apertou a cintura dele quando o beijo foi aprofundado, a maciez e delicadeza do toque inicial sendo substituído pela aspereza da língua de Oliver e a pressão que os lábios dele faziam nos dela, seu estômago dando piruetas e seu cérebro perguntando quando ela virou aquele tipo que trocava carinhos tão intensos em público.

Quando eles afastaram as bocas, não conseguiram fazer o mesmo com os olhos. Ela não mais só a amiga mais nova da namorada ou a garota bonita e interessante, e ele não era mais o namorado da amiga ou o empresário charmoso que parecia interessado. Era possível apenas o beijo torná-los um casal?

― Uau, que beijão! ― Felicity olhou assustada para Helena, que acenava não muito longe dali. Ela se afastou de Oliver com um empurrão. ― E eu achando que você precisava da minha ajuda.

― Você conhece eles? ― Só então ela e Oliver notaram Tommy, que também havia chegado em algum momento. ― Prazer, Thomas Merlyn. Só Tommy, se preferir.

― Helena Bertineli. ― Os dois trocaram um aperto de mão.

― O que está acontecendo aqui? ― Felicity se perguntou retoricamente, coçando um ponto imaginário no pescoço, e indo, sem muita escolha, em direção à dupla que havia chegado, ambos perdendo o momento que finalmente foram anunciados como vencedores daquela competição.

Seu beijinho inocente que não deveria seria visto por ninguém conhecido, acabara de ganhar plateia, pequena em número, mas pelo que ela lembrava do melhor amigo de Oliver e que conhecia da sua melhor amiga, grande o bastante para virar assunto de fofoca e um enorme pé no saco.

― Ollie, seu cachorrão, eu sabia que você iria conseguir pegar...

― Cala a boca, Tommy! ― Oliver o cortou antes que falasse algo que fosse deixar Felicity ainda mais constrangida do que já parecia estar. ― O que faz aqui, criatura?

― Saí do plantão e vim direto, você me mandou mensagem que estaria aqui atrás da sua loirinha. ― Deu um tchauzinho para Felicity. ― Hey, loirinha.

― Isso ficou estranho tão rápido e tão intensamente. ― Oliver massageou as têmporas, frustrado. Ele finalmente havia beijado Felicity, e sequer tinha tido um segundo para falar sobre. Não havia sido apenas um beijo como disseram que seria.

― E você, hein, safadinha? Veio com a história de “a gente só jogava videogame” e agora estava aí com a língua enfiada na garganta do cara, adorei! ― Helena exclamou animada, batendo palminhas.

― Oh, Deus, tem dois deles ― Oliver murmurou para Felicity relacionando os comportamentos comuns de Tommy e Helena, lhe tirando uma pequena risada nervosa.

― A gente não vai interromper nada, mano, podem continuar essa coisa de vocês aí. ― Gesticulou na direção do casal loiro.

― Não tem coisa nenhuma, aquilo lá era só mais um concurso ― explicou rapidamente. ― Eu vou pro Japão agora, vocês três se quiserem, fiquem por aí.

― E esse melão, Ollie?

― Felicity, Felicity... ― Oliver não respondeu à pergunta do amigo, já que teve de correr para alcançar a jornalista. ― Você não vai deixar essa interrupção estragar...

― Estragar o que, Oliver? A gente não tem nada, nunca teve, e você ficar fingindo que sim, não faz bem pra ninguém, principalmente para mim ― elevou a voz, fazendo gestos amplos.

― Estávamos nos conectando.

― E daí? Por um segundo achei que não, mas você ainda é o cara mais velho e muito atraente por quem todo mundo tem uma queda e eu sou mais uma das garotas que você quer pegar, como seu próprio amigo disse. ― Os dois olharam para Tommy, que ergueu as mãos ao alto, como se se desculpasse pela fala. ― Por algum motivo, você colocou isso na sua cabeça, e o grande empresário Oliver Queen nunca aceita negativas!

― Você está errada sobre mim.

― Ah, Oliver, tanto faz. Vem, Helena! ― gritou a amiga, que correu para acompanhá-la, fazendo um gesto de desculpas ao passar pelos dois.

― Sério, cara, qual é a do melão com rosto?

― Cala a boca, Tommy! ― Oliver cruzou os braços, olhando as duas se afastarem. Ele havia desistido de segui-la.

~

― É seguro eu me aproximar? ― Helena chegou cautelosamente perto de Felicity, que estava em um dos bancos escrevendo em seu bloquinho e organizando todos os áudios que tinha gravado naquela tarde. ― Já parou de atirar raios de calor em garotos bonitos? ― Sentou ao seu lado.

― Sutil. ― Rolou olhos.

― É sério, você está bem, Lissy? Pra quem está acostumada com Isobel Rochev, aquela reação lá atrás com o coitado do Oliver foi um pouquinho não você.

― Oliver não é coitado, Lena.

― Tommy me disse que ele não quis dizer aquilo exatamente. Segundo ele, o amigo está interessado em você de um jeito diferente do que costuma estar em suas conquistas passageiras ou algo sim.

― Desde quando você é amiga de Tommy Merlyn? ― questionou com o cenho franzido.

― A gente conversou na barraquinha do Japão. Sabe, aquela que você ficou dois segundos para a explicação chata, e ignorou completamente todos os chocolates? ― Felicity suspirou, estressada pela amiga que não chegava a lugar nenhum com aquela conversa. ― Então... Trouxe uma coisa para animar minha melhor amiga. ― Tirou uma caixa de bombons de uma sacola. ― Tomo-choko. ― A loira sorriu, seu humor melhorando ao ver do que se tratava.

― Chocolate para amigas mais próximas. Obrigada, Lena. ― As duas se abraçaram, e resolveram a pequena desavença tão rápido quanto começou. ― Eu sei que posso ter sido um pouco dura, mas é complicado. Oliver não é um cara que conheci essa manhã e me chamou pra sair, tem toda essa história.

― Só é complicador porque você está complicando algo simples, então me deixa facilitar para sua cabecinha genial capitar: você gosta desse cara desde que tinha dezoito...

― Eu não gost...

― E ele está muito a fim de você, claramente. Radar de feromonios, lembra? ― Ergueu a palma. ― Os dois se beijam como se o mundo estivesse perto do fim por um apocalipse zumbi ou coisa assim, tem vontade, tem química, tem pegada, ou seja, sexo.

― Que visão única do amor, amiga ― satirizou. ― Ok, talvez eu tenha exagerado com ele, mas é que eu não sei o que ele quer comigo.

― O problema não é esse Felicity, Oliver sabe exatamente o que quer e já te disse, quem precisa decidir o que quer com ele é você. Bom, dito isso, aqui está algo que ele te mandou. ― Lhe entregou mais uma caixa de chocolates.

― Homnei-choko ― falou um pouco emocionada. Significava amor verdadeiro.

― Eu e Tommy votamos pra ele te dar uma lingerie branca, que significa reavivar a pureza do amor adolescente e depois inaugurá-la em algo não tão puro, mas Oliver preferiu ser mais discreto. ― A morena deixou um beijo no rosto de Felicity. ― Quando terminar isso aí e decidir ir embora, me manda mensagem, vou ali fazer uma consultinha e exame físico completo com o doutor Merlyn, se é que me entende. ― Piscou para a amiga, que nem se chocava mais com essas coisas.

Como ela resolvia esse tipo de coisa tão fácil?

Quando Felicity encontrou Oliver, já tinha escurecido completamente e ele estava de volta à Eslovênia. Estava acontecendo algum tipo de cerimônia na beira da Baía de Star City, onde as pessoas tinham lanternas acesas e estavam prontas para lançá-las na água.

― Está planejando lançar alguma filial da Queen Consolidated na Eslovênia? Você gostou bastante do país. ― Felicity sentou ao lado dele em uma pedra, e Oliver sorriu pequeno.

― Eles têm tradições interessantes.

― Quer me falar um pouco dessa? ― Indicou com o queixo para a lanterna na mão dele.

― Também tem a ver com a agricultura. Lançar essa luz na água, simboliza que podem ter dias mais longos, e, apesar de já não haver mais a luz do Sol, pessoas que se gostam podem aproveitar aquele bocadinho de dia para estarem um com o outro.

― É lindo. ― Observou as inúmeras luzes iluminarem a água escura, como em um conto de fadas da Disney. Era como se todos estivessem concentrados naquele lugar para aquela cerimônia final. ― Oliver, me desculpa por mais cedo, você tinha razão, estava te julgando sem nem conhecer.

― Tudo bem, Felicity, como poderia? Você só conheceu o namorado da sua amiga e já faz anos. E eu mal te dei espaço para respirar.

― Na verdade, eu sentia medo de acontecer de novo. ― Um silêncio se seguiu, Oliver estava processando as palavras, foi quando ele entendeu.

― Mais cedo quando você disse que se apaixonou... ― Deixou a pergunta suspensa no ar, apontando para si mesmo.

― Óbvia, eu sei. ― Rolou olhos.

― Desculpa não notar e por meio que estragar o amor pra você.

― Não foi culpa sua. E também, o jeito que tratava Laurel, meio que me fez querer aquilo e projetei em você. Eu tinha dezoito, não me julga. ― Apontou o indicador para ele.

― Tá tudo bem, não julgo. Eu sou o cara que casou em três meses e separou em dois, lembra? ― Os dois riram. ― Mas agora, podemos tentar algo só nosso. Começar de novo, o que acha? ― Segurou a mão dela.

― Podemos. ― Suspirou. ― Mas vamos devagar, pode ser? Nos reencontramos essa manhã, e só porque é dia dos namorados, não quer dizer que precisamos começar hoje, certo?

― Claro ― concordou a contragosto, mas sorrindo. Era um passo para a frente. ― Mas te beijar eu posso, não é?

― Pode, Oliver.

Muitos outros casais de beijavam ao redor deles, todos parecendo muito apaixonados, inclusive Tommy e Helena estavam se pegando em algum lugar por ali, mas foi como se tudo sumisse. Felicity desligou sua mente de tudo ao redor e aquele beijo foi ainda melhor que o primeiro.

― Vamos colocar essa lindinha na água? ― Oliver ergueu a lanterna.

― Para que os dias com a pessoa que a gente gosta sejam mais longos. ― Os dois assistiram abraçados sua luz se juntar à multidão de outras luzinhas, como se um céu estrelado estivesse ali pertinho deles na água.

~

― Tá difícil morar nesse prédio hoje, vou dizer ― Felicity resmungou, quando foi abrir a porta. Ainda não eram nem sete da manhã e aquele dia já estava tão agitado. Quando abriu a porta, não viu nada além de um buquê de rosas vermelhas gigantesco. ― O quê? Quem?

― Bom dia! ― Oliver saiu de trás do arranjo com um grito.

― Pelo amor de Deus, que susto! ― exclamou com a mão no peito. ― A gente não tinha combinado de sair apenas à noite? ― Abriu mais a porta e deu espaço para ele entrar.

― Sim, mas eu sou impaciente. E fiz umas pesquisas.

― Pesquisas? ― Franziu as sobrancelhas para ele, que parecia pronto para mais um dia de trabalho na empresa.

― Sabia que no Taiwan o dia dos namorados é comemorado em duas datas diferentes, em fevereiro e julho, e buquês de flores são dados como presente?

― Como na maioria dos lugares do mundo.

― Sim, mas lá a cor e quantidade das rosas tem significado, então aqui está um buquê com noventa e nove rosas vermelhas. ― Estendeu as flores para ela, que sorriu.

― O que elas significam? ― questionou, fazendo carinho nas pétalas macias, aspirando seu cheiro.

― Vermelho, amor único, noventa e nove, amor para sempre.

― Fofo. ― Fez carinho no rosto dele, indo procurar na cozinha um vaso grande o bastante para abrigar todas aquelas flores.

― Tem mais uma coisa ― continuou a seguindo. ― Segundo tradições da Itália, o primeiro homem que você ver no dia será seu namorado e estarão casados em um ano.

― Casamento? Vai com calma, cowboy. ― Deu dois tapinhas em seu ombro, voltando para a sala. Não tinha nenhum daquele tamanho. ― E outra, eu meio que já vi outro homem hoje, Scott, o porteiro ― falou com uma careta por ter que contrariá-lo.

― Quê? Mas eu vim tão cedo, pra não correr esse risco! Tudo bem, ontem foi o dia dos namorados e nos encontramos logo cedo, esse deve valer mais.

― Então aí seria o Scott de novo.

― Droga, quem é esse Scott tentando me ferrar?! ― exclamou com exagero. ― Acho melhor deixarmos a Itália pra lá, concorda? ― Enlaçou a cintura dela a puxando para perto. ― Posso te beijar?

― Você vai anunciar toda vez? ― Ergueu as sobrancelhas pela ele.

― Parei.

Desceu os lábios para os dela.

― Terminei de escrever minha matéria sobre ontem, quer ler? ― Deu pulinhos animados ainda nos braços dele.

― Já terminou?

― Ontem à noite, depois que cheguei. Digamos que tive muita inspiração.

― Pois eu adoraria ler essa obra prima baseada na minha pessoa.

― Sempre o exibido ― o recriminou, recebendo um beijo na testa, antes de se afastar para buscar o notebook e entregá-lo.

― Hm, vamos lá... ― Oliver esfregou as mãos, sentando no sofá e começando a ler. ― “O amor é uma doença”. Nossa, começamos bem.

― Continua, vai ― o incentivou, sentando no braço do sofá e dando tapinhas nos ombros dele.

O amor é uma doença.

O Ministério da Saúde coloca como doença uma alteração no estado de equilíbrio de um indivíduo com o meio ambiente, que também pode se entender como a apresentação de anormalidades na estrutura e no funcionamento de um organismo, que pode ser causada por fatores externos.

Estar apaixonado significa estar constantemente ansioso, sentir dores no estômago, taquicardia, sudorese excessiva, respiração entrecortada, mas não foi por todos esses sintomas que poderia fazer parte do quadro de algum tipo de virose, que cheguei a essa conclusão, mas foi visitando vários países e suas tradições, que pude ver que o amor é sim, uma doença.

O amor tira seu equilíbrio, te faz cair, levantar, se jogar.

O amor mexe em suas estruturas, transforma em outra pessoa, e se fizer isso certo, alguém melhor.

O amor transforma o funcionamento, te desafia a aprender novas habilidades, te faz conhecer novas músicas, novos idiomas, novas culturas, novas formas de amar.

O amor é causado por fatores externos, pessoas diferentes de você, que te transformam na pessoa que é hoje e sem elas, suas escolhas, seus caminhos, seriam totalmente diferentes. Você seria outra pessoa.

Em resumo, estar apaixonado é se sentir vulnerável, é ler poesia, é chorar em filmes de romance, é passar vergonha com vozes engraçadas, trocar carinhos públicos, ter uma pessoa como seu primeiro e último pensamento do dia. É respeito, é risadas, é admiração, é carinho. E não importa o país, o idioma, a data que se é celebrado, as tradições diferentes, demonstrar amor é universal.

― Tá incrível, Felicity.

― Achou mesmo, ou seu juízo está nublado porque quer transar comigo?

― Sim, claro que quero, mas não é por isso. Tá incrível, de verdade.

― É só um rascunho, ainda falta adicionar algumas especificidades dos países que visitamos e tudo, revisar, mas vou mostrar hoje à tarde para minha editora quando for trabalhar. Dedos cruzados. ― Fez o movimento, mordendo os lábios em nervosismo.

― O que eu entendi foi, você só vai trabalhar à tarde? ― testou, um sorriso malicioso nos lábios.

― Ir devagar... ― o lembrou.

― Eu posso ir bem devagar, se quiser. Então rápido, e devagar, e mais rápido ― cochichou no ouvido dela, a arrepiando e a puxando para baixo de si no sofá, posição bem parecida do que já estiveram tantas vezes em suas briguinhas pelo controle do videogame, mas agora com uma conotação totalmente diferente.

― Não há uma empresa com seu sobrenome em algum lugar dessa cidade que precisa de alguém que a gerencie? ― perguntou sorrindo.

― Deve ter, mas prefiro ficar aqui, com você. ― Tirou os cabelos loiros do rosto dela. ― Eu acho que estou me apaixonando por você, Felicity.

― Eu também, Oliver. E sabe a melhor parte? Esse é só o começo.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam da nossa jornada? Espero que tenham curtido, espero vocês nos reviews pra gente papear sobre esse Oliver, essa Felicity e o bebê Oliver Smoak Júnior. Tão adoráveis!!

Sem dar spoiler, mas continuem acompanhando o projeto. Muita coisa linda está por vir!! Até mais.. Bjs*



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