Valentines Week: Olicity Version escrita por Ciin Smoak, MylleC, Thaís Romes, Regina Rhodes Merlyn, Buhh Smoak, Ellen Freitas, SweetBegonia


Capítulo 3
Os números do amor - Ciin Smoak


Notas iniciais do capítulo

Oi meus amoreeeeeees, olha quem chegou? kkkkkkkkkkkk...
Gostaria de agradecer por vocês estarem aqui nos prestigiando em mais esse projeto e dizer que eu e todas as outras autoras estamos muito felizes pelo feedback que estamos recebendo de vocês...

Obrigada pelo carinho de todos e agora sem mais enrolação, vamos a minha humilde história, espero que deixe os corações de vocês um pouco mais quentinhos!!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/791621/chapter/3

O primeiro computador surgiu em 1931, pela primeira vez no mundo aparecia uma máquina que realizava cálculos de forma automatizada. O computador foi desenvolvido por Vannevar Bush, através de uma pesquisa feita dentro de um centro de ciência e tecnologia, nos Estados Unidos.

Desde então os avanços cresceram e cresceram, essas máquinas começaram a fazer outras coisas, a ganhar funções, evoluções tão gloriosas que muitos consideravam como sendo um milagre! Nomes como Bill Gates e Steve Jobs começaram a se destacar e quase 100 anos depois, o mundo já vivia uma verdadeira era da informática.

Estudos sobre inteligência artificial, testes em robôs, algoritmos e equações cada vez mais complexos, era tudo lindo e tão matematicamente perfeito e constante.

Existiam dois tipos de pessoas no mundo, as que consideravam que a tecnologia era uma doença que afastava as pessoas umas das outras, destruía qualquer contato físico e estava prestes a levar à humanidade até a beira da extinção; e existiam as pessoas que amavam tudo o que envolvia tecnologia, que eram fascinadas por cada código e número e que achavam que a tecnologia havia aparecido para fazer a humanidade evoluir.

Eu estava no segundo grupo e me orgulhava disso, embora a minha mãe achasse que eu me escondia da vida atrás dos computadores!

Talvez ela não estivesse tão errada assim!

Eu era ótima com números, tabelas, códigos e gráficos, mas simplesmente não conseguia lidar com pessoas (principalmente homens), porque bem, pessoas eram cheias de nuances, expressões e vontades distintas, coisas essas que na maioria das vezes não faziam sentido.

A matemática era certa, exata...Mas as pessoas eram inconstantes, eu nunca sabia o que esperar e isso me dava medo porque eu simplesmente não sabia como agir, eu acabava me atropelando, falava demais, não conseguia manter um filtro entre minha cabeça e minha boca e na maioria das vezes acabava soltando informações que as pessoas consideravam inúteis porque na verdade, elas eram idiotas...

Quer dizer, eu considerava muito válido saber sobre assassinos em série, isso me preparava pra reconhecer os sinais caso eu encontrasse um!

—Com a cabeça nas nuvens de novo? –Me ergui em um pulo e então voltei a me abaixar com a mesma rapidez.

Curtis era o único homem da minha vida que não me deixava nervosa, talvez porque ele fosse gay, mas as vezes ele me tirava do sério com essa mania de me assustar.

—Eu estava pensando em pessoas, quer dizer, não em alguma pessoa específica, só pessoas...no geral! –Ele arqueou a sobrancelha e então se sentou à minha frente.

—E aí, me diz que você já arrumou a sua roupa pra...

—Por favor, não diga “festa da empresa”!

—Pra festa da empresa? –Ele tinha um sorriso no rosto e eu tive vontade de mata-lo.

—Eu não vou, é mais um evento social ridículo em que eu vou ficar deslocada, prefiro fazer qualquer outra coisa no mundo do que ir à essa festa!

—Assim você parte meu coração senhorita Smoak! –Ergui os olhos e vi Thomas Merlyn me olhando daquele jeito que só ele sabia

Ele era um chefe legal, desde que ele havia assumido o lugar do pai, trabalhar na Global Merlyn havia se tornado muito mais fácil, mas ele ainda me deixava nervosa.

—Desculpe senhor Merlyn, eu não quis parecer grosseira! –Eu devia estar vermelha como um pimentão agora.

Por que esse tipo de coisa sempre acontecia comigo?

—Você não foi grosseira, só foi parecida com a minha tia Martha que tem 75 anos e fica com uma bengala espetando o pé das pessoas dizendo que as odeia. –Eu arregalei os olhos diante daquilo e ele colocou a mão no meu ombro. –Eu tô brincando Felicity! Mas é sério, você precisa ir na festa, só um pouquinho, por favor?

—Senhor Merlyn, eu...

—Eu já disse pra você me chamar de Tommy, não disse? Senhor Merlyn é meu pai e ele não é tão legal quanto eu! –Tudo bem, ele sempre dizia isso e eu sempre me esquecia.

—Tudo bem, Tommy, eu...

—Não, não quero nem ouvir a desculpa que você vai tentar inventar, simplesmente vou confiar que meu amigo Curtis aqui vai levar você pra festa!

Ele me lançou uma piscadinha e então saiu da minha sala no andar do TI como se nada tivesse acontecido.

—Olha, vai ser legal amiga, além do mais, eu vou com você, então você não precisa se preocupar em ter um par.

Espera, oi?

—Um par? Por que eu tenho que ter um par? É um baile, por acaso? –Curtis me olhou de boca aberta, como se eu tivesse dito um grande absurdo.

—Você sabe que dia é amanhã, Felicity? –Dei de ombros e busquei a data na minha cabeça.

—Dia 11 de junho! –Ele me olhou, como se estivesse esperando algo mais, então continuei falando. –E depois é dia 12, dia 13 e assim por diante.

Ele continuou me olhando estranho.

—Você sabe o que vamos estar comemorando na festa amanhã, Felicity? Quer dizer, você ao menos olhou em volta enquanto andava na rua? –Onde diabos ele estava querendo chegar com tudo isso?

Já dava pra perceber que era alguma data importante e eu havia deixado passar!

—Você quer chegar a algum lugar com isso? Esse é o momento! –Ele bufou alto, então estendeu as mãos e me sacudiu rapidamente.

—Amanhã vamos ter a festa pra comemorar o dia dos namorados Felicity, que por sinal é depois de amanhã. Tem cartazes, pôsteres e propagandas por todos os lados, como você pode não saber?

Era isso? Todo o drama pra isso?

—Você sabe que o dia dos namorados é só uma data comercial pra aumentar a venda de artigos como chocolates, flores e joias? Fora é claro, fazer os restaurantes faturarem muito? –Tudo bem, agora ele parecia chocado.

—Você é o pior tipo de solteira que existe. Sabe disso, não sabe? –Abri a boca, mas ele me cortou no mesmo momento. –Não responda! Apenas termine o trabalho, porque assim que sairmos daqui vamos ao shopping e eu vou comprar um vestido de presente pra você, porque eu tenho até medo do que você vai vestir se eu não comandar essa operação!

Dei de ombros e simplesmente voltei a trabalhar.

Eu havia tido um namorado na vida, na época da faculdade, Cooper Sheldon e eu quase havia sido presa por causa dele!

Fora o episódio das cerejas com Billy Malone! Não estávamos namorando nem nada, mas estávamos perto disso, era dia dos namorados (que coincidência, não?) e eu havia decidido ser ousada de uma vez por todas, o que não deu certo, é claro. Por que? Bem, porque eu acabei indo parar no hospital por causa de um licor de cereja, eu era alérgica a cereja, quem iria imaginar?

Deus e o mundo sabiam que eu não tinha sorte com relacionamentos (sendo sérios ou casuais) e que o dia dos namorados sempre era terrível, por isso eu simplesmente o havia apagado da minha mente, mas já que isso deixaria Curtis e meu chefe felizes e de quebra eu ainda ganharia um vestido novo, não custava nada fazer a vontade deles.

O que poderia dar errado?

...

—Isso tem tudo pra dar errado, você sabe disso, não sabe? Quer dizer, você está tentando me matar?

Curtis me encarava como se eu estivesse sendo ridícula, mas a verdade é que eu queria mata-lo.

O imbecil havia ido sozinho ontem comprar o tal vestido (que na verdade era um macacão), nem sequer havia me deixado experimenta-lo ou vê-lo, ele apenas havia dito “confia em mim” e agora eu estava aqui em desespero.

—Você está linda, então precisa parar de ser dramática, Fel! –Laurel estava ao lado dele nesse complô todo e eu nem havia desconfiado. 

Traidora!

Meus dois únicos amigos estavam tentando acabar comigo!

—Dramática? Já viu o tamanho desse decote, meus seios estão quase pulando pra fora, do jeito que sou desastrada isso aqui vai dar merda e amanhã o assunto da empresa vai ser “Felicity Smoak pagou peitinho na festa”, e além disso, o que diabos são esses saltos? Se eu apenas conseguir andar em cima deles a noite toda vai ser um milagre. Por que vocês me odeiam? –Eu estava sussurrando enquanto tentava manter uma postura normal, tentando não chamar a atenção das pessoas a nossa volta.

Como diabos eles haviam conseguido me arrastar pra essa maldita festa mesmo?

Eu estava frustrada, nervosa e confusa. Se já não bastasse ter que sair de casa pra lidar com tantas pessoas eu ainda teria que fazer isso me sentindo tão desconfortável?

—Felicity, olha pra mim! –Curtis parecia sério pela primeira vez na noite e isso era uma coisa rara de acontecer. –Você é linda, inteligente e muito especial, mas precisa aprender a mostrar isso, ok? Nada vai dar errado, vai ser ótimo, eu estou com um pressentimento sobre hoje à noite, então tenha um pouco mais de confiança nos seus amigos, pode ser? 

Assenti, ainda que a contragosto e voltei a beber o meu champanhe.

—Agora que está tudo certo, eu vou encontrar o Ray, ele já chegou! Vejo vocês mais tarde! –Minha amiga se despediu com um sorriso e foi encontrar o namorado.

Ray Palmer e Laurel Lance eram um casal improvável! Ele, CEO de uma empresa de tecnologia, nerd e tímido. Ela, promotora da cidade, fodona 24 horas por dia. Apesar disso, eles pareciam se encaixar perfeitamente e era realmente lindo ver o amor que transbordava dos olhos deles sempre que estavam juntos. 

—Bom, precisamos nos divertir um pouco agora, o que acha de dançar? –Olhei pra Curtis e em seguida, olhei pros meus sapatos.

Ele estava brincando comigo?

—Eu não vou nem te responder! –O moreno bufou ao meu lado e continuou parado, bebendo o champanhe, mas eu percebi que ele realmente parecia louco pra dançar e interagir com as outras pessoas e eu simplesmente não queria estragar a noite dele.

—Sabe quem eu acabei de ver passando ali perto da mesa de canapés? Aquele carinha da contabilidade que você tá afim, o Paul! Vai lá falar com ele! –Percebi os olhos dele brilhando no mesmo momento, mas ele logo sacudiu a cabeça e olhou pra mim.

—Não vou te deixar sozinha Smoak, nem pensar! –Revirei os olhos e torci pra ser convincente.

—É festa de dia dos namorados, você não pode passar a noite toda com a sua amiga e perder a chance de pegar o cara gato! Além do mais, foi você quem disse que estava com um pressentimento sobre essa noite e eu não vou conseguir arrumar ninguém se estiver grudada em você o tempo todo! –Percebi que ele se preparou pra argumentar novamente, mas simplesmente o silenciei com um dedo. –Vai lá, eu vou dar uma volta por aí, comer alguma coisa, prometo que não vou simplesmente fugir da festa de fininho, ok?

Ele me olhou por mais alguns segundos e eu mantive a expressão firme, só consegui respirar aliviada quando ele abriu um sorriso e depositou um beijo estalado no meu rosto antes de sair.

Eu esperava que ele não ficasse muito chateado quando descobrisse que eu havia ido embora de fininho, quer dizer, ele estava com um pressentimento? Pelo amor de Deus, isso nunca funcionava comigo, tudo o que eu queria era me livrar dessa roupa e maratonar a quarta temporada de Lúcifer.

Essa quantidade de gente e a música alta já estava começando a acabar comigo e eu sabia que precisava ir embora logo, mas como Curtis ainda poderia estar de olho, eu teria que comer alguma coisa e andar um pouco pela festa, em seguida poderia ir embora sem mais problemas.

—É um bom plano! –Sussurrei pra mim mesma e sorri.

—O que é um bom plano? –Dei um gritinho e coloquei a mão no coração enquanto respirava pesadamente.

—Nada Sen...Tommy, eu estava apenas pensando em trabalho! –Ele revirou os olhos e então colocou a mão nos meus ombros.

—Só você mesmo pra pensar em trabalho no meio de uma festa, Felicity! A propósito, você está linda, eu devo acrescentar! –O elogio dele teve o poder de me fazer corar e acho que ele percebeu isso, pois riu baixinho. –Mas enfim, está gostando da festa?

—É claro, está muito...divertida! –Ele arqueou a sobrancelha e então se afastou um pouco, ainda sorrindo.

—Você é uma péssima mentirosa, mas fico feliz por estar tentando! –Eu sabia que a mentira estava estampada na minha cara, então não foi bem uma surpresa que ele percebesse. –Agora eu preciso ir ver como estão os outros convidados, mas tenta aproveitar, ok? Coma alguma coisa, beba bastante, converse com algum estranho, só não faça nada que eu faria, pelo amor de Deus!

Nem me dei ao trabalho de tentar entender aquela frase, simplesmente assenti e deixei que ele saísse assoviando como uma criança no playground.

Porque Thomas Merlyn era uma criança, com uma conta bilionária, mas ainda assim, uma criança...

Sorri ao perceber que poderia seguir pelo menos uma das coisas que ele havia dito, porque a comida realmente parecia maravilhosa.

Fui até a mesa calmamente e tentei comer o máximo possível sem chamar a atenção pra mim, acho que devo ter ficado uns vinte minutos por ali e somente quando eu me dei por satisfeita é que decidi ir embora.

Comecei a caminhar discretamente em direção á saída, mas uma brisa logo me atingiu e eu virei o rosto na direção dela, foi quando eu vi a enorme porta que levava à sacada do prédio.

Mordi os lábios por alguns minutos e então me decidi, Tommy havia alugado um dos prédios mais altos da cidade e geralmente a poluição e o excesso de luzes impedia que alguém conseguisse olhar pras estrelas ou até mesmo pra própria cidade, mas hoje o céu parecia estar incrivelmente limpo e seria um crime não apreciar a vista.

Peguei mais uma taça de champanhe e então fui em direção ao ar fresco. Comemorei internamente ao perceber que quase ninguém se encontrava ali e me permiti respirar fundo e sorrir.

Parei no beiral do prédio e me permiti observar as estrelas por um longo tempo, então, meus olhos se voltaram pra cidade, todas aquelas luzes piscando, eu só conseguia imaginar tudo o que estava acontecendo lá em baixo nesse momento.

Eu sabia que era caótico e confuso, mas eu também sabia que era lindo!

“As pessoas deveriam aproveitar mais as pequenas coisas, os pequenos momentos são mais gratificantes do que os que parecem grandiosos. Música alta em um lugar cheio de gente nunca vai se comparar a uma vista linda e uma noite estrelada! “        

—Eu concordo com você!

Tranquei a boca no mesmo momento ao perceber que havia falado aquilo em voz alta, mas tentei manter a calma e a aparente tranquilidade.

Ok, um homem estava falando comigo, mas eu podia agir como uma pessoa normal, não podia? Quer dizer, Tommy havia me dito pra falar com algum estranho, talvez desse certo!

Continuei olhando pro céu porque se eu não me virasse, talvez conseguisse continuar um diálogo sem me enrolar toda.

—Fico feliz que alguém concorde, talvez o mundo não esteja tão perdido assim! –O homem riu baixinho e eu vi pelo canto do olho quando ele parou ao meu lado.

Eu não conseguia olhar muito bem e nem queria (mentira, queria sim), mas conseguia perceber que ele tinha cabelos loiros e porte de atleta.

—As vezes eu me pergunto onde isso tudo foi parar, a apreciação pelas pequenas coisas, os romances com longas cartas de amor e toda essa coisa que tem o poder de fazer o mundo ser um pouco melhor. –Ele parecia um sonhador e eu sorri com isso, porque o mundo precisava de pessoas assim.

Eu gostaria de ser assim!

—Concordo com a apreciação sobre as pequenas coisas, mas sobre o lance do amor? Bem, você pode encontrar isso hoje em dia nos livros e nos filmes, na verdade, esse é o único lugar onde alguém sempre pôde encontrar esse tipo de coisa! –Percebi que o homem ao meu lado respirou fundo e então me cutucou com o ombro.

—Já entendi, você é uma cética! Não acredita no amor, mas por que? Todo mundo têm uma história! –Ri baixinho e dei de ombros.

—Infelizmente não tenho nenhuma história dramática, nenhum noivo me traiu ou me largou no altar, nem nada do tipo, só um pouco de azar também, mas nada muito extraordinário. Eu só sou uma pessoa que segue a lógica e o amor é uma coisa que não faz sentido, então...

—Espera, oi? Como assim o amor não faz sentido? –Ele me virou pra ele e eu fiquei calada por alguns segundos porque MINHA NOSSA SENHORA, O CARA ERA LINDO DE MORRER.

Por que será que ele parecia tão familiar?

A coisa toda teria sido um problema se ele não tivesse me colocado no modo “provar meu ponto de vista”.

—Pra começar que o amor e a paixão nada mais são do que uma mistura de adrenalina, noradrenalina, feniletilamina, dopamina, oxitocina, a serotonina e endorfinas. Além disso, vamos olhar pelo lado lógico, ok? Um exemplo bem simples está com Peter Backus, ele é professor de economia e estava querendo achar a namorada dos sonhos dele, por isso ele pegou a equação que foi criada por Frank Drake em 1961 pra estimar a quantidade de civilizações extraterrestres na via láctea, só que ele trocou a variável dos extraterrestes por namoradas em potencial. Ele aplicou na equação os dados oficiais que se referiam ao seu caso, como a taxa de formação de pessoas no Reino Unido; a fração da população que era feminina; quantas delas viviam em Londres; tinham a idade apropriada; possuíam formação acadêmica e eram fisicamente atraentes, e o tempo de vida que ele teria para encontrar essa namorada em potencial.

Percebi que o Deus Grego homem estava me olhando de maneira engraçada, mas agora eu não conseguia parar de falar.

—Considerando os resultados, ele descobriu que havia 10.510 namoradas em potencial pra ele no Reino Unido, o que representava 0,0014% dos habitantes de Londres. Mas as coisas ficaram piores quando ele decidiu calcular outras possíveis variáveis, como: quantas dessas mulheres estariam solteiras, achariam ele atraente ou seriam alguém com quem ele realmente gostaria de se relacionar. Adivinha pra que número as chances dele caíram? Pra 26 namoradas em potencial, isso mesmo, as chances dele de encontrar o amor de verdade seriam de 1 em 285.000. E eu acho que nem preciso entrar na questão do que seria o amor de verdade, porque isso é algo que nenhum ser humano conseguiu definir até hoje.

O homem piscou por vários segundos, como se estivesse tentando acompanhar o meu raciocínio e então arqueou a sobrancelha esquerda.

E eu me perguntei como ele conseguia fazer isso, porque eu não tinha conquistado essa habilidade!

—Você não acha que está tentando racionalizar algo que não precisa de explicação? –Dei de ombros e então bebi um pouco do meu champanhe.

—É aí que tá, eu acho que tudo precisa de explicação, quer dizer, eu odeio mistérios, me incomodam, necessitam ser resolvidos! –Ele abriu um sorriso em minha direção, um sorriso de verdade e eu simplesmente não saberia dizer como eu tinha tanta certeza de que esse era um sorriso de verdade, eu só sabia.

—Você é uma pessoa interessante, senhorita...? –Ele voltou a fazer a coisa com a sobrancelha e eu percebi que ele queria saber meu nome.

—Smoak, Felicity Smoak! E você é Oliver Queen! –Eu também estava com um sorriso no rosto, pela primeira vez na vida eu havia conseguido manter uma conversa e ainda mais com...

OLIVER QUEEN!

EU IRIA ME JOGAR DO PRÉDIO NESSE EXATO MOMENTO!

Acho que ele percebeu quando eu finalmente o reconheci, pois a expressão em seu rosto mudou, mas eu não tinha tempo pra pensar nisso pelo simples fato de que EU ESTAVA TENDO UM ATAQUE.

“Meu Deus, eu havia acabado de bancar a louca justamente pra Oliver Queen, o amigo bilionário do meu chefe”

—Você não me pareceu nada louca, na verdade, esse foi provavelmente o diálogo mais inteligente do qual eu já participei, você é uma pessoa notável, Felicity Smoak! –Confesso que o elogio dele me derreteu um pouco e isso me assustou porque se sã eu já corria o risco de falar besteira, imagina desse jeito.

—Você também é uma pessoa muito interessante senhor Queen, mas agora eu preciso ir, porque já deu a minha hora...quer dizer, não que eu tenha hora pra voltar pra casa, porque eu sou uma mulher adulta e moro sozinha, mas eu já estava indo embora, parei só pra admirar a vista porque não é todo dia que dá pra ver o céu com tanta clareza, ainda mais no bairro onde eu moro que é cheio de poluição... e eu não deveria estar dando tantas informações sobre mim!

—Por favor, não me trate diferente só porque agora percebeu qual é o meu sobrenome! –Aquilo teve o poder de fazer a minha mente frear de uma vez, ele parecia tão triste e tudo em que eu consegui pensar era no quanto as pessoas deveriam tratar ele de maneira errada por ele ser quem é.

A vida das pessoas ricas podia ser cheia de glamour, mas não era esse mar de rosas como faziam parecer!

—Tudo bem, me desculpe Senhor Queen! –Ele revirou os olhos e voltou a olhar as estrelas.

—Me chame de Oliver, Senhor Queen era o meu pai! –Imitei a posição dele e então percebi que nossos braços estavam quase se encostando.

—É, mas ele morreu! Quer dizer, ele se afogou e você não! Eu juro que isso vai acabar em 3...2...1! –Abri um sorriso totalmente envergonhado e simplesmente não entendi o olhar que ele estava me lançando.

Era como se ele estivesse olhando pra algo precioso e agora eu não sabia o que fazer, não sabia porque meu coração estava disparado ou porque eu estava suando frio.

—Mas enfim, por que você disse que não deveria dar tantas informações sobre você pra mim? Eu pareço um assassino perigoso? –Sacudi a cabeça rapidamente e bebi o resto do meu champanhe.

—Não, mas Charles Manson e Ted Bundy também não pareciam, quer dizer, sem querer ofender...Oliver! –Ele abriu um sorriso e me lembrou de uma criança que era pega fazendo arte.

—Não ofendeu! Posso te fazer uma pergunta que pode soar um tanto estranha? –Os olhos dele adquiriram uma intensidade tão tremenda que eu simplesmente não conseguia parar de olhar pra eles. –Onde você estava esse tempo todo?

A pergunta dele teve o poder de me tirar do chão por um tempo e eu precisei respirar várias vezes para simplesmente parar de tremer, eu não tinha ideia do que estava acontecendo, mas sabia que estava mexendo com todo o meu ser.

—Bom, eu estava no setor de TI da Global Merlyn, escondida atrás dos computadores! –Percebi que ele havia se aproximado um pouco mais e não encontrei em mim a força para me afastar.

—Eu acho que deveria visitar o meu amigo na empresa dele mais vezes então! –Ri baixinho, tentando afastar a tensão, mas os olhos dele continuavam tão intensos.

Tão azuis!

Imagina se ele soubesse que eu o havia visto várias vezes durante algumas visitas dele na empresa e tinha ficado simplesmente suspirando pelos corredores.

O momento foi quebrado assim que meu celular começou a tocar, eu me afastei rapidamente ainda respirando com dificuldade e tirei o aparelho da bolsa.

Assim que vi o nome no visor, desliguei a tela e voltei a guarda-lo na minha bolsa.

—Não vai atender? –Dei de ombros e então caminhei até um banquinho próximo, minhas pernas estavam doendo horrores com aqueles saltos.

—É a minha mãe, eu ligo pra ela depois, até porque eu já sei o que ela vai falar e não quero escutar, é a mesma maldita coisa todo ano! –Ele pareceu intrigado e então se sentou ao meu lado.

—Você me deixou curioso, agora precisa me contar!- Ri baixinho do jeito que ele parecia entusiasmado e então arrumei o cabelo tentando escapar do nervosismo.

Por que ele estava tão perto?

—Bom, você me parece ser do tipo de pessoa que acredita no amor, minha mãe também é assim! Todo ano, no dia dos namorados, ela dá uma festa ridícula pra comemorar a data e eu nunca estou acompanhada, sabe? Eu sinceramente nunca vi problema nisso, mas todo ano é a mesma coisa, ela e as amigas dela me perguntam se eu tenho alguém, eu digo que não e então elas me olham com pena, como se eu precisasse de um homem pra ser alguém digna de nota, aí elas tentam arrumar um encontro pra mim com todo cara solteiro que elas conhecem e a tortura se estende por um longo tempo. Eu sempre tento não ir, mas não sei mentir, então nunca consigo inventar algo pra escapar, eu só queria me safar disso esse ano!

Ele pareceu prestes a falar alguma coisa, mas nesse momento meu celular voltou a tocar, retirei o mesmo da bolsa e suspirei baixinho quando vi que se tratava da minha mãe de novo. Me preparei pra desligar o telefone novamente, mas ele coloco a mão no meu braço e estendeu a outra na direção do celular.

—Eu posso?

A situação toda era tão surreal, que eu simplesmente assenti e observei em silêncio enquanto ele tirava o aparelho da minha mão.

—Como é o nome da sua mãe? –Eu ainda estava meio que em transe, então acho que devo ter sussurrado “Donna Smoak” em algum momento, pois ele concordou e então atendeu a ligação.

—Alô, Donna? Oi, aqui é o Oliver! A Felicity me disse que você ligaria pra chamar ela pra festa de dia dos namorados, mas infelizmente ela não vai poder ir! –Ele pareceu ouvir alguma coisa do outro lado e então riu baixinho. –É, pode-se dizer que sim, mas enfim, ela vai passar o dia dos namorados comigo, então espero que você não se importe! –Ele continuava sorrindo e eu imaginei que aquele sorriso era tão consistente que minha mãe provavelmente estava conseguindo sentir do outro lado da linha. –Obrigada, tenha uma ótima festa do dia dos namorados, preciso dizer que você criou uma filha incrível. Tchau!

Ele desligou a chamada e me entregou o celular, enquanto eu ainda olhava atônita na direção dele.

—Eu achei que a sua mãe ficaria preocupada por um homem estranho atender o seu celular e dizer que você passaria o dia com ele, mas ela pareceu bem feliz! –Finalmente eu consegui me controlar e então ri baixinho.

—Bom, essa é a minha mãe! Donna Smoak é uma força da natureza a ser levada em consideração! –Ele abriu um sorriso e concordou.

—Eu sei como é, também tenho uma Donna Smoak na minha vida, mas ela se chama Thea Queen! –Eu sabia que a irmã dele era um furacão ambulante, na verdade, toda Starling sabia disso.

—Obrigada por mentir por mim, você me livrou de mais uma sessão de constrangimentos! –Ele me encarou por alguns segundos e eu jurei que vi algo passar pelo seu olhar, mas foi tão rápido que nem dava pra saber se eu havia visto algo mesmo.

—Quem disse que eu menti? Nós vamos passar o dia de amanhã juntos, senhorita Smoak, vai ser divertido! –Tentei imitar o arquear de sobrancelhas dele, mas falhei miseravelmente e ele riu disso.

—Você quer passar o dia dos namorados comigo? –Ele deu de ombros e sorriu.

—Você não acredita nesse tipo de coisa, então o dia dos namorados nada mais é do que uma data comercial, certo? Vamos apenas ser dois novos amigos passando um dia normal juntos!

“Felicity Smoak e Oliver Queen? Eu não sabia se isso era compatível!”

—Bom, eu preciso ir agora, mas passo na sua casa amanhã as nove! –Abri a boca pra dizer que ele não sabia o meu endereço, mas ele nem me deixou falar. –Não se preocupe, Tommy vai me passar o seu endereço, ele vive furando as fichas pessoais de todos os funcionários, mas não conte pra ninguém que eu te contei isso, tudo bem?

Ri baixinho e assenti rapidamente, preferi fazer isso para não estender ainda mais a conversa, pois sabia que ele não estava falando sério.

Oliver Queen saindo comigo? Isso jamais aconteceria e eu sabia disso, mas a brincadeira era divertida!

Ele apertou de leve o meu ombro e então se levantou e começou a andar em direção a tumultuada festa.

—A propósito, eu acho que Felicity e Oliver é uma mistura totalmente compatível!

Depois disso ele saiu dando uma piscadinha e me deixando atordoada.

O que havia acabado de acontecer?

...

—Eu espero que você ao menos tenha ficado um pouco na festa antes de ir embora porque se eu bem me lembro, você prometeu que faria algo assim! –Curtis parecia chateado ao telefone, embora eu soubesse que ele não estava se sentindo assim realmente, ele só queria que eu fosse feliz.

Se ele soubesse tudo o que havia acontecido ontem!

—Eu fiquei, juro! Comi bastante, até escutei umas duas músicas e depois disso fui pro terraço, aproveitar a vista da cidade, na verdade, eu fiquei naquela festa muito mais do que eu esperava ficar!

Eu não havia conseguido contar pra ele sobre a minha noite “inusitada” ao lado de Oliver Queen, nem sequer havia conseguido atender alguma ligação da minha mãe ou de Laurel, a primeira porque eu sabia que me encheria de perguntas que eu não saberia responder e a segunda porque bem, Laurel era a promotora fodona da cidade por um motivo, a mulher tinha um sexto sentido quando alguém tentava esconder algo dela.

—Eu acredito em você e fico muito feliz por isso, entendeu? Você precisa viver mulher, se jogar em uma aventura, vai ser demais! –Ri baixinho e revirei os olhos enquanto me olhava no espelho.

Eu havia acabado de me arrumar e estava até que bem simples, pra falar a verdade. A minha geladeira estava vazia e eu precisava repor o estoque de comida porque cozinhar, na minha opinião, era uma coisa de momento!

As vezes eu parecia uma chef na cozinha, fazendo pratos deliciosos, e as vezes eu parecia uma doida que explodia coisas e aí desistia de tudo e só ficava comprando comida pronta.

—Tudo bem, agora chega! Eu vou ao mercado, nos falamos depois, te amo! –Nem sequer dei tempo de ele me responder, apenas desliguei o telefone e como se fosse um relógio cronometrado, a campainha tocou e eu rapidamente peguei a minha bolsa e fui abrir a porta.

Eu não fazia ideia de quem poderia ser, quer dizer, eu não havia marcado nada com ninguém, nem tinha nada pra receber!

A não ser que...

Por que o ar havia começado a faltar de repente?

Oliver Queen parecia um deus grego, eu sabia que meus pensamentos já estavam ficando repetitivos, mas o que eu podia fazer? Acho que não existia um jeito de fazer aquele homem ficar feio.

—Você está linda! –A frase dele me tirou dos meus devaneios e eu fiquei confusa por alguns minutos, olhei pra mim mesma e vi o quanto eu estava simples com um vestido leve e sapatilhas.

—Eu estou tão simples, ontem sim eu estava arrumada! –Ele sorriu e então me estendeu a mão, eu a aceitei rapidamente e ele me puxou pra fora do apartamento.

—Exatamente, hoje você parece mais natural, mais você mesma! –Aquilo colocou um sorriso no meu rosto e antes que eu começasse a parecer uma maluca, me virei na direção da porta e comecei a tranca-la.

—A que devo a honra da sua presença? –Porque não era possível que ele estava falando sério ontem sobre o tal “encontro de amigos!”.

Aquilo não fazia o mínimo sentido!

—Como assim? O nosso passeio, esqueceu? –Travei no mesmo momento e então coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha, em uma tentativa de conter o nervosismo.

—Não, eu não esqueci, é que... –Eu parei de falar, mas ele continuou me olhando e eu sabia que precisava terminar a frase. –É que eu não achei que você estivesse falando sério!

A expressão dele pareceu decair um pouco e eu me senti mal no mesmo momento!

Por que eu estava me sentindo mal pelos sentimentos dele? Quer dizer, eu o conhecia pessoalmente a apenas um dia, então por que estava me importando?

—Eu sinto muito, não quis parecer invasivo ou te incomodar, mas realmente, como você iria sair com alguém que acabou de conhecer? –Eu me preparei pra falar que não era bem assim, mas ele continuou falando. –Me desculpe por qualquer coisa Felicity, eu já vou agora!

Sabe aqueles momentos do filme em que você vê que o personagem precisa fazer uma escolha que talvez mude tudo? Esse era o meu momento.

Eu poderia apenas deixa-lo ir, ou poderia fazer algo que eu nunca fiz antes e nem sabia que era possível pra mim...

Ser impulsiva!

—E então, senhor Queen, aonde nós vamos? –Ele passou a mão pelos cabelos e eu fiquei meio que hipnotizada por aquele movimento, mas logo tratei de me recuperar e caminhei até ele com um sorriso.

—Felicity, eu...

—Em lugares públicos, eu espero! –Continuei com o sorriso e aquilo pareceu convence-lo e deixa-lo feliz, pois ele logo sorriu também.

—Ainda pensando sobre assassinos em série? –Dei de ombros e ri baixinho.

—Você não pode culpar uma garota por ser cautelosa! –Ele revirou os olhos, mas suas expressão logo adotou aquela seriedade de antes.

—Felicity, é sério, você não precisa vir comigo só porque... –Fiz um sinal de silêncio e ele parou no mesmo momento, eu não queria que ele pensasse que eu estava fazendo isso por qualquer outro motivo que não fosse o próprio fato de eu estar querendo isso.

—Oliver, eu gostaria de sair com você! –Ele abriu um lindo sorriso e então, foi impossível não sorrir também. –Agora me diga, onde nós vamos?

—Eu pensei em irmos ao parque, o sol está brilhando e como você disse que gosta de olhar a vista, acho que você vai gostar da vista do lago! Depois disso podemos ir comer em algum restaurante, você escolhe! –Assenti e começamos a andar.

Eu pensei em diversos restaurantes chiques, mas quem eu estava tentando enganar? Eu não gostava dessa frescura toda e Oliver havia dito que preferia quando eu parecia eu mesma, então...

—Podemos ir ao Big Belly Burger? –Ele riu baixinho quando meus olhos começaram a brilhar e concordou rapidamente.

—Eu deveria saber que sua escolha seria algo inusitado! Você não é como as outras mulheres que eu conheço! –Aquilo teve o poder de me quebrar um pouco, porque é obvio que eu já sabia disso.

Oliver Queen já havia sido fotografado com atrizes, modelos, mulheres exuberantes...Eu sabia que não me encaixava em nenhum lugar dessa lista.

Até porque isso não era um encontro, éramos apenas dois novos amigos passeando em um dia comum, ele mesmo havia dito isso!

—Ei, não se parecer com as outras mulheres que eu conheço é algo bom, na verdade, é algo maravilhoso pra ser bem sincero. –Paramos ao lado do carro dele e ele abriu a porta pra mim como um cavalheiro. Somente quando já estávamos acomodados lá dentro e ele já havia colocado o carro em movimento é que eu abri a minha melhor expressão de curiosidade. Oliver percebeu isso, pois logo voltou a falar. –Você é de verdade Felicity, é uma pessoa autêntica e as únicas pessoas autênticas na minha vida são aquelas que eu já conheço a muitos e muitos anos. Eu nem consigo me lembrar de qual foi a última vez que eu conheci alguém que não tentou me bajular ou me manipular por causa do meu sobrenome e de tudo o que vem com ele.

Coloquei uma mão no ombro dele e o acariciei de leve, tive medo de ser algo íntimo demais, mas eu queria conforta-lo de alguma forma, pois sabia como era péssima a sensação de não poder confiar em ninguém, de sempre ter medo das pessoas te usarem.

—Olha só, prometo que se um dia precisar de dinheiro emprestado, não vou pedir pra você! –Ele riu alto com aquilo e eu sorri ao perceber que tinha conseguido faze-lo se animar.

—Se você precisar de ajuda qualquer dia, vou ficar mais do que feliz em ajudar! –Tive vontade de revirar os olhos ao perceber que eu estava corando novamente e me perguntei o que estava acontecendo comigo hoje, porque eu estava parecendo uma adolescente idiota.

Depois disso nos dispusemos a conversar amenidades durante todo o trajeto e eu pude conhecer mais sobre ele, não sobre o cara que aparecia na mídia, mas sobre o homem por detrás daquela imagem.

Eu estava gostando do que estava conhecendo!

Gostando até demais, sendo bem sincera...

—E então, está gostando do sorvete? –Oliver e eu estávamos sentados em um banco de frente pro lago e a vista era realmente de tirar o fôlego.

—Eu amo sorvete, mas confesso que nunca tomei de manhã, parece que estamos quebrando as regras não acha? Sorvetes são pra tardes, noites e madrugadas, é claro! –Ele gargalhou alto e negou com a cabeça rapidamente.

—Você ainda não percebeu, senhorita Smoak? Nós fazemos nossas próprias regras! –Concordei com um aceno e voltei a comer.

Era estranho, eu me sentia como se estivesse vendo tudo pelo lado de fora, acompanhando um filme na tela do cinema.

A minha vida inteira eu havia tido medo de me relacionar com as pessoas, de conversar, de rir, de ser eu mesma, as pessoas eram confusas e nunca faziam o que eu esperava, por isso eu me assustava tanto.

Mas agora? Eu não sabia o que estava acontecendo, porque eu estava mais do que feliz aqui sentada, conversando com um homem que até então era um estranho pra mim.

Oliver também era inconstante e nunca dizia o que eu esperava, mas eu gostava disso, gostava das variáveis dele, das possibilidades.

Eu nunca havia sentido isso antes!

—Gostaria de comprar um lindo bichinho de pelúcia pra sua bela namorada, meu jovem? –Fui tirada dos meus devaneios quando vi um senhor à nossa frente, com um carrinho cheio dos mais variados animais de pelúcia.

Tudo era muito fofo, mas Oliver não era meu namorado!

—Ah, desculpe, mas nós não somos...

—Eu quero comprar sim! –Oliver me interrompeu rapidamente com uma piscadela e então se levantou e começou a analisar o carrinho. –Preciso encontrar um que combine com ela!

Ele ficou rodeando o carrinho por alguns minutos, até que parou do outro lado, fora do meu campo de visão e começou a conversar com o vendedor.

Consegui ver quando ele tirou a carteira do bolso e então, quando o homem saiu, levando embora o seu carrinho, Oliver voltou a sentar ao meu lado e me estendeu um unicórnio extremamente fofo.

Eu senti meus olhos ficando marejados naquele momento e o pé da minha barriga estava tão gelado que eu não conseguiria me levantar nem se quisesse muito.

—Por que você acha que um unicórnio combina comigo? –Minha voz não passava de um sussurro e eu só conseguia pensar que meu coração nunca havia se acelerado dessa maneira.

Nem quando eu tentava fazer exercícios...

—Porque os unicórnios são seres fantásticos, doces e puros! –Ele também parecia um pouco afetado e voltou a se sentar ao meu lado, mas ao contrário do que eu pensava, ele não falou mais nada, apenas continuou em silêncio, assim como eu.

Perdi a conta de quanto tempo mantivemos aquele ambiente quieto entre nós, ficamos apenas admirando a água e apenas quando uns garotinhos começaram a jogar algumas pedrinhas no lago é que voltamos a falar.

—Está tudo bem? –Ele me olhava parecendo ansioso e eu não sabia como assimilar tudo aquilo.

—Tá tudo ótimo, obrigada pelo unicórnio, é muito lindo! –Ele abriu um sorriso e fiz o mesmo.

Sorri ainda mais ao perceber que estávamos fazendo aquilo com bastante frequência desde ontem.

—Posso fazer uma pergunta? –Ele assentiu rapidamente e eu voltei a me recostar confortavelmente no banco. -Como é ser um CEO bilionário de uma das maiores empresas do país?

A minha pergunta era genuína, porque eu me perguntava como ele lidava com tudo isso, afinal, o comentário dele de hoje mais cedo havia feito parecer que as coisas não eram um mar de rosas.

—Sendo sincero? Na maior parte do tempo é um saco, quer dizer, não me entenda mal, eu sou agradecido pelas chances que eu tive, nunca me faltou nada, nunca passei necessidades, meus pais são maravilhosos e eu sei que tive oportunidades que as pessoas apenas sonham em ter, mas... –Ele parecia confuso por um momento, mas enfim respirou fundo e parecer colocar os pensamentos em ordem. –Mas eu não podia brincar com as crianças no parque, na verdade eu nem podia ir ao parque se minha babá e um segurança não estivessem junto, as mulheres sempre olhavam pra mim como um Queen e nunca tentavam conhecer o Oliver, eu sempre preciso calcular o que vou dizer, porque as vezes, um mínimo comentário é motivo de manchete no jornal e com o tempo, perceber que a maioria das pessoas não gosta de você, gosta apenas do que está incluso no pacote, torna as coisas um pouco mais vazias.

Refleti sobre aquilo por um momento e percebi que apesar de ter uma mãe louca e as vezes as contas pareceram em maior quantidade do que eu dava conta de pagar, eu tinha uma vida feliz em um amplo aspecto.

—Eu sinto muito por isso, mas você tem sorte de ter pessoas que te amam de verdade, algumas não tem ninguém, além do mais, eu gosto de você e prometo nunca usar você pra ganhar dinheiro, só pra passar na frente das pessoas nas filas, talvez...-Ele riu alto com aquilo e de forma automática, segurou a minha mão.

Meus pulmões não estavam querendo trabalhar direito hoje!

—Eu nunca contei essas coisas pra ninguém, mas sei lá, talvez seja loucura minha porque eu te conheço a um dia, mas sinto que posso confiar em você completamente! –Ele estava um pouco mais próximo do que era socialmente aceitável pra um par de amigos, mas eu não estava com vontade de reclamar.

—Fico feliz em saber disso senhor Queen! –Percebi que ele foi se aproximando aos poucos e eu estava dividida entre chegar ainda mais perto e me afastar, mas no final meu estômago roncando alto decidiu por mim.

Oliver voltou a rir e eu corei um pouco, mas qual é? Eu não tinha comido nada hoje!

—Acho que já está na hora de irmos ao Big Belly, já é praticamente hora do almoço e seu estômago parece cansado de esperar! –Revirei os olhos e dei um empurrão de leve no ombro dele.

Depois disso voltamos pro carro e eu peguei o meu celular, nem havia percebido que já estávamos no parque a tanto tempo.

Conversamos durante todo o caminho e eu percebi que ele olhava pra minha boca com frequência, mas a minha cabeça estava dando pane, porque a situação não podia ser do jeito que eu estava enxergando, eu só poderia estar me confundindo ou imaginando coisas.

Isso não fazia sentido e eu precisava que as coisas começassem a fazer sentido logo!

...

—Eu não consigo acreditar que você chamou a sua professora de velha psicossomática! –Oliver ria alto e chamava atenção de alguns olhares curiosos a nossa volta, mas sinceramente? Eu não poderia estar me importando menos.

—O que? Ela estava explicando de forma totalmente errada como resolver uma equação de segundo grau, eu só tentei avisar isso e ela soltou os cachorros pra cima de mim, eu não aguentei, mas no fim deveria ter ficado quieta porque fiquei três dias de suspensão! –Eu falava isso, mas no fundo não me arrependia de nada, chamaria aquela doida de psicossomática mais vezes só pra poder ver a cara dela.

—Eu nunca precisei brigar com professor nenhum, na verdade, eu sempre tive professoras mulheres na escola, acredita? E eu sempre usava meu charme em cima delas e funcionava, então...-Ele parecia um pouco sem graça e eu meio que já estava perdendo o foco.

—Eu tenho certeza que funcionava! –Ele me olhou de maneira engraçada e eu logo percebi o que havia falado. –Quer dizer, eu imagino, eu imagino que funcionava!

Abaixei a cabeça novamente na direção do meu milk-shake e fiquei tão concentrada nele que poderia parecer que eu nunca havia tomada um na vida.

“Eu tenho certeza que funcionava” ? O que diabos eu estava pensando?

Ah é, eu NÃO ESTAVA PENSANDO DIREITO DESDE QUE ESSE HOMEM HAVIA VINDO FALAR COMIGO.

—Você quer outro milk-shake? –Ergui os olhos em confusão e só então percebi que a minha bebida já havia acabado e que agora eu estava sugando o nada.

—Não, eu tô satisfeita, obrigada!

Havíamos passado a última hora no restaurante, conversando e comendo, eu havia insistido em pagar a minha parte, mas ele não havia deixado, me dizendo que era o mínimo que um cavalheiro podia fazer.

Eu havia me derretido só um pouquinho com isso!

—Eu não acredito nisso! –Ele havia voltado a rir, mas dessa vez estava revirando os olhos também.

Olhei pra ele, a interrogação praticamente estampada no meu rosto e ele apenas estendeu o seu celular pra mim.

Peguei o aparelho, ainda sem entender muita coisa, mas tudo fez sentido assim que vi a mensagem na tela e comecei a rir também.

“Eu super gostei desse encontro fofo de vocês dois, mas não ouse roubar a minha funcionária, Oliver Jonas Queen ou eu vou te amaldiçoar e você vai ter ejaculação precoce PELO RESTO DA SUA VIDA!”

Eu adorava Thomas Merlyn, era isso!

Foi impossível não olhar em volta e percebi que Oliver estava fazendo a mesma coisa, quer dizer, eu meio que esperava ver o meu chefe atrás de nós com aquele sorriso sarcástico dele, mas o lugar parecia totalmente limpo de Tommy Merlyn.

—Bom, eu acho que agora é o momento ideal pra você pedir um aumento pra ele! –Concordei, ainda dando risada e então me levantei com ele.

Caminhamos pra fora da lanchonete, ainda dando risada das loucuras do meu chefe, e só então eu percebi que a programação do Oliver só vinha até aqui.

—Bom, obrigada por tudo, foi um dia incrível, Oliver! –Ele sorriu, mas logo arqueou a sobrancelha e abriu a porta do carro pra mim.

—Quem disse que o dia acabou? –Eu gostaria de dizer que não senti borboletas no meu estômago quando ele disse isso, mas estaria mentindo feio, então...

Entrei dentro do carro e somente quando o veículo entrou em movimento é que eu me lembrei de perguntar.

—Aonde nós vamos? –Ele me olhou por alguns instantes antes de voltar os olhos pra estrada.

—Como você se sentiria se eu dissesse que é uma surpresa? –Ele tinha um leve sorriso no rosto e eu pensei por algum tempo antes de responder.

—Bom, você disse que confia em mim, eu também confio em você! Então, partindo da premissa que eu acho que você não vai me assassinar, eu diria que está tudo bem e que estou ansiosa!

—Obrigada por isso senhorita Smoak! –Ele olhou pra mim de maneira um tanto quanto sugestiva e eu tremi por dentro.

—Sou eu quem agradece, senhor Queen!

Por que eu estava começando a pensar que esse negócio de senhor Queen e senhorita Smoak era um código pra outra coisa?

Durante o trajeto pro “lugar surpresa” conversamos ainda mais e eu gostei de continuar o conhecendo, ele me contou sobre a infância dele, sobre as brincadeiras com a irmã, a amizade com o Tommy e com o seu outro melhor amigo, John Diggle.

Eu contei a ele sobre ter nascido e crescido em Vegas, sobre a minha mãe arrumar um novo amor quase todo mês e sobre como eu havia me sentido quando consegui entrar no MIT.

Estar com ele era fácil como respirar e eu tinha um certo receio do que estava acontecendo no meu corpo, porque no fundo eu sabia o que estava acontecendo, mas não sabia se estava pronta pra admitir.

Comecei a ouvir um barulho de música ao longe e rapidamente adivinhei onde estávamos.

—Você trouxe a gente pro parque de diversão que está na cidade? Eu adoro parques de diversão! –Os meus olhos deveriam estar brilhando como os de uma criança e eu praticamente grudei o rosto no vidro pra poder observar melhor.

Assim que paramos o carro, eu estava tão ansiosa que nem esperei ele sair e abrir a porta pra mim, simplesmente saí por mim mesma e comecei a caminhar em direção ao show de luzes.

—Ei, será que a senhorita poderia esperar por mim? –Olhei pra trás e vi que Oliver me seguia com um sorriso, corei rapidamente ao perceber o meu lapso e então voltei pro lado dele.

—Desculpe, é que eu estou empolgada! –Ele assentiu, ainda sorrindo e então segurou a minha mão e naquele momento eu não consegui ouvir a música ou ver as luzes, tudo o que eu conseguia ver era o brilho dos olhos dele, sentir o calor da pele dele contra a minha.

—Só pra garantir que você não vai sair de perto! –Ele parecia um menininho tímido e eu sorri com aquilo, concordei em silêncio e juntos, seguimos em direção ao parque.

Mas eu estava com medo de ter um ataque cardíaco, porque minha pele estava quente, a mão que ele segurava formigava e meu coração estava acelerado demais.

Começamos a caminhar até o centro do parque e tudo o que eu conseguia pensar era que as pessoas estavam nos encarando, mas a verdade é que ninguém reparava em nós porque hoje era dia dos namorados, estava cheio de casais por todos os lados e nós só parecíamos mais um casal em meio à multidão.

—Então, aonde você quer ir primeiro? Devo dizer que eu sou muito bom nesses jogos! –Ele tinha um sorriso arrogante no rosto e eu revirei os olhos.

—Meu caro Oliver Queen, eu cresci em Vegas, não existe nenhum jogo aqui que eu não seja capaz de ganhar de você! –Aquilo atiçou algo dentro dele e Oliver logo me puxou pra mais perto de si.

—Eu senti um tom de desafio na sua voz? –Abri um sorriso predador (bem, que eu esperava que fosse) e então apontei pra uma barraca de tiro ao alvo.

—Pode apostar que sim!

Oliver era extremamente competitivo, mas eu era mais, então como era de se esperar, eu ganhei dele no jogo de tiro ao alvo.

Também ganhei no jogo de atirar dardos nas bexigas, no de basquete, no de derrubar as garrafas, no de colocar os anéis nas garrafas, entre VÁRIOS outros.

Eu fui acumulando uma quantidade considerável de bichinhos de pelúcia e em um certo momento tivemos que voltar pro carro pra colocar todos lá.

—AHHHHH GANHEEEEEEI, FINALMENTE! -Oliver ria como uma criança enquanto pulava de um lado pro outro comemorando, eu havia ganhado dele em todos os jogos do parque, mas não havia conseguido vencer no único que realmente envolvia força bruta, meu golpe com o martelo não havia feito o pino subir nem 20 centímetros, enquanto o golpe do Oliver havia feito o pino ir pra cima em direção ao topo e disparar a sineta.

—Foi uma vitória justa, parabéns! –Ele fez uma mesura em minha direção e então saímos do centro do brinquedo pra deixar os outros jogarem.

—Como você conseguiu ganhar todos os jogos? Quer dizer, você é humana? Começo a achar que você é um robô! –Ri alto com aquilo e então dei um empurrão no ombro dele.

Ao contrário do que a maioria dos homens faria, Oliver não parecia chateado por ter perdido, ele só parecia curioso e parecia também estar se divertindo muito...

Assim como eu!

Na verdade eu tinha certeza de que nunca na vida havia dado tantas risadas assim e a sensação era espetacular.

Embora eu achasse que as borboletas no meu estômago ajudassem um pouco.

—Eu já te contei o meu segredo e você nem percebeu, não passa de matemática e um pouco de física, eu aprendi isso cedo e então comecei a ganhar todos os jogos em Vegas, eu era muito boa mesmo!

Eu nunca havia contado aquele tipo de coisa pra ninguém, sempre havia escondido meu passado em Vegas, por medo de que as pessoas me olhassem de forma diferente se soubessem que eu havia sido criada em meio a cassinos e jogos.

—Tudo bem, que tal o carrinho bate-bate agora? –Olhei pra Oliver por alguns segundos e então dei de ombros.

—Se você quer perder em mais um jogo, por mim tudo bem! –Ele riu alto e então me levou até a barraquinha, compramos os ingressos e entramos na fila, percebi que Oliver tinha um olhar de vitória no rosto durante todo aquele tempo e somente quando chegou a nossa vez e entramos nos veículos é que ele me chamou novamente.

—Eu não contaria com uma vitória fácil senhorita Smoak, eu sou ótimo nesse brinquedo!

...

—Acho que devemos concordar que foi um empate e assim todo mundo fica feliz, o que acha? –Oliver riu baixinho e concordou rapidamente, em seguida continuamos a comer o nosso algodão doce.

Nós dois havíamos dado um verdadeiro show com os carrinhos e Oliver estava certo, ele realmente era ótimo naquele brinquedo, só que eu também era, então no fim, optamos por declarar um empate.

Agora estávamos sentados enquanto Oliver e eu comíamos algodão doce!

—Sabe o que é engraçado? Tommy não ter me mandado mais nenhuma mensagem, quer dizer, depois daquela ameaça tão criativa eu achei que ele iria no mínimo, me importunar por mais algumas horas! –Ri baixinho e então apontei pra minha bolsa.

—Você teve sorte, só nas últimas horas minha mãe me mandou 14 mensagens e me ligou seis vezes. Curtis e Laurel não ficaram muito atrás dela, então eu simplesmente respondi com “Estou ocupada, ligo mais tarde” pra todos eles e deliguei essa porcaria porque eu não estava aguentando mais! –Oliver abriu um sorriso de canto.

—Tomara que mais ninguém na sua vida tenha fixação por assassinos em série ou podem estar nesse momento pensando que você foi sequestrada!

—Talvez, Laurel é a promotora da cidade e o pai dela é o capitão da polícia, então pode ser que tenha algumas viaturas te esperando quando você for me deixar em casa!

—Por sequestrar você? Esse é um crime que estou mais do que feliz por ter cometido! –Nesse momento os olhos dele se pareciam como cometas e mais uma vez, tudo foi silenciado ao nosso redor.

Oliver aproximou a boca da minha e eu fechei os meus olhos, em apreciação, nossos lábios se encostaram levemente, quase que como a sombra de um beijo, mas nesse momento algumas crianças passaram correndo entre nós dois e nos separamos rapidamente.

Meu rosto deveria estar vermelho como um pimentão e meu coração batia tão descompassadamente que eu já começava a sentir um incômodo no peito.

Ficamos nos olhando por várias segundos e eu simplesmente não conseguia encontrar a minha voz, então Oliver teve que fazer isso por mim.

—Então, o que você acha de irmos na roda gigante pra encerrar o dia? –Eu sabia que ele estava tão nervoso quanto eu e apesar de tudo, eu sentia que precisava falar algo, mas se ele estava escolhendo não tocar no assunto, o que eu poderia fazer?

—Ou quem sabe nós podemos pular essa? Porque essa coisa de metal parece realmente enferrujada... –Oliver deu uma risadinha, embora parecesse ter perdido o humor de antes.

—Você tem medo de altura, senhorita Smoak? –Dei de ombros e tentei manter a normalidade, embora eu ainda estivesse tonta.

—Só um pouquinho senhor Queen! –Ele assentiu e então ficamos nos olhando por mais algum tempo. –Acho que seria melhor irmos pra casa agora, quer dizer, eu pra minha casa e você pra sua, é claro!

Oliver pareceu triste com isso, mas assentiu mesmo assim e então seguimos em silêncio na direção do carro dele, mas diferente de antes, não era um silêncio confortável.

Era um silêncio cheio de coisas não ditas!

Eu odiava isso...

Paramos ao lado do veículo e assim que ele destravou o mesmo eu me preparei pra entrar, mas algo me fez parar com a mão na maçaneta.

Eu havia passado a vida inteira fugindo de tudo que não seguia um padrão, porque por mais que eu dissesse que eu gostava das coisas fazendo sentido, no fundo o motivo era outro, eu tinha dificuldade de deixar as pessoas entrarem na minha vida porque não queria que ninguém tivesse o poder de me quebrar, porque não queria ser abandonada como a minha mãe havia sido pelo meu pai.

Mas eu estava errada esse tempo todo, não estava?

Talvez a beleza da vida estivesse presente na inconstância das coisas, uma coisa não era bela só porque era durável ou porque era confiável, a beleza também estava no fato de não saber o que se esperar e desde ontem eu estava vivenciando isso de uma forma tão profunda que agora eu sabia que me arrependeria pra sempre se não fizesse nada nesse momento.

Não era lógico, não era racional, talvez nem sequer fosse sensato...

Mas era o que o meu coração estava pedindo desesperadamente e pela primeira vez em toda a minha vida, eu decidi escuta-lo.

—Oliver? –Ele estava caminhando para o outro lado do carro, mas parou assim que ouviu minha voz. Eu caminhei até perto dele e ele completou o resto do trajeto, parando bem na minha frente e me deixando entre o seu corpo e o carro. –Sabe aquela mistura de adrenalina, noradrenalina, feniletilamina, dopamina, oxitocina, serotonina e endorfinas? –Ele assentiu levemente e vi quando ele respirou fundo e se aproximou ainda mais de mim. –Acho que estou sentindo tudo isso agora, senhor Queen!

Ele abriu um sorriso largo e eu percebi que ele havia me presentado com vários tipos de sorrisos hoje, mas esse era inédito.

—Isso é ótimo, porque eu acho que estou sentindo isso desde ontem à noite, senhorita Smoak!

Depois disso, ele não me deixou falar mais nada (não que eu estivesse reclamando) e grudou a boca na minha, dessa vez não havia estômago roncando, celular tocando ou crianças correndo, não existia nada pra nos atrapalhar.

Não existia nada além de nós dois e daquele beijo.

Oliver me pressionou um pouco mais contra o carro e apertou a minha cintura, eu rapidamente passei os braços pelo pescoço dele e o beijo evoluiu pra algo mais.

Sempre achei ridículo quando nos livros a descrição do beijo era algo como “nossa línguas batalhavam pelo controle”, mas era exatamente assim que eu estava me sentindo no momento.

A cada minuto que passava ficava mais difícil de respirar e Oliver me apertava com mais força, eu já começava a me sentir tonta e tinha absoluta certeza de que nunca havia me sentido assim com nenhuma outra pessoa antes.

Era incrível, era intenso, era quente, era delicado, era tudo o que um beijo deveria ser!

Nos afastamos somente quando já era impossível respirar e Oliver grudou a testa na minha enquanto sorria em meio a respiração que saía em lufadas.

—Confesso que tive medo de terminar a noite sem poder fazer isso! –Eu não poderia ficar mais corada do que eu já estava, mas a minha mão ainda estava na nuca dele e a dele ainda apertava com força a minha cintura, então talvez eu ainda estivesse fora de órbita.

—Dizem que depois do primeiro beijo as coisas ficam sem graça! –Oliver se abaixou novamente e grudou a boca na minha mais uma vez com tanta força que eu tive medo que a minha alma resolvesse se desprender de mim.

Nos beijamos por outros longos minutos e quando enfim nos afastamos novamente, Oliver me soltou um pouco, pra que parássemos de chamar atenção, porque nós já havíamos escutado várias risadinhas e eu tinha certeza que estávamos parecidos com dois adolescentes.

—E então, acha que as coisas ficaram sem graças? –Neguei rapidamente e ele riu baixinho antes de voltar a me olhar, dessa vez com uma expressão mais séria no rosto. –Eu não sei direito o que é isso, só sei que nunca me senti assim e eu sei que você não acredita em paixão ou amor, mas talvez nós possamos tornar isso lógico, o que acha?

Eu queria dizer a ele que minhas convicções sobre paixão e amor estavam sendo fortemente revistas, mas estava curiosa pra ver o que ele tinha pra falar.

—Como você tornaria isso lógico, senhor Queen?

—Tudo bem, vamos pensar em uma equação bem simples, ok? Talvez, amor/paixão seja igual a Oliver sobre Felicity! –Ele parou por alguns segundos enquanto eu me segurava pra não rir, até que ele pareceu perceber o que havia falado. –Não, não é isso! Pareceu muito melhor na minha cabeça, meu Deus do céu!

Eu gargalhava tanto que algumas lágrimas até chegaram a sair pelos meus olhos e somente quando consegui me acalmar é que voltei a puxar ele pra perto de mim.

—Só pra você saber, essa é a equação matemática totalmente sem sentido mais fofa que eu já ouvi e não se preocupe, eu posso te ensinar, nós temos tempo! –Ele respirou aliviado nesse momento e me deu um último beijo antes de se afastar e caminhar pro outro lado do carro.

Entramos no veículo e ele deu partida, só que dessa vez, Oliver estava segurando a minha mão.

Fizemos a viagem totalmente em silêncio, mas era uma coisa estranha porque eu sentia como se nós dois estivéssemos absorvendo a magnitude de tudo o que havia acontecido entre nós nesse curto espaço de tempo, quer dizer, quem diria que logo eu me apaixonaria à primeira vista?

Oliver só voltou a soltar a minha mão quando chegamos no meu prédio e então, ele decidiu me levar até a porta, só pra garantir que eu chegasse bem, é claro.

—O que você vai fazer amanhã, senhorita Smoak? –Ele me colocou contra a parede (literalmente falando) e eu abri um sorriso antes de segurar nos braços fortes dele.

—Eu preciso trabalhar, senhor Queen! –Ele me lançou um sorriso cafajeste antes de encostar a boca na minha.

—O que você acha de eu ir fazer uma visita pro meu amigo amanhã? Ou melhor, o que você acha de vim pro setor de TI da minha empresa pra eu poder passar todos os dias lá ao invés de ficar parecendo um maníaco indo sem parar em outra empresa? –Eu mordi os lábios enquanto revirava os olhos, mas antes que eu pudesse grudar a boca na dele, fui tomada pelo susto com a gritaria que se veio a seguir.

—EU SABIA QUE A TRAIÇÃO IA ACONTECER, MEU DEUS DO CÉU, É ISSO QUE EU MEREÇO POR TE AJUDAR A ARRUMAR UM ENCONTRO COM ALGUÉM DECENTE, OLIVER JONAS QUEEN? VINTE E QUATRO HORAS, VOCÊ NEM AO MENOS ESPEROU VINTE E QUATRO HORAS ANTES DE ME APUNHALAR PELAS COSTAS E TENTAR ROUBAR A MINHA FUNCIONÁRIA. É MELHOR VOCÊ APROVEITAR O SEU PÊNIS ENQUANTO VOCÊ AINDA TEM UM PORQUE A PRAGA QUE EU VOU TE JOGAR VAI SER TÃO FORTE QUE ELE VAI CAIR!

Tommy gritava como um maluco, mas antes que algum de nós pudesse sequer pensar em responde-lo, o circo ficou completo.

—Laurel, aquela é a Felicity abraçada com Oliver Queen?

—A nossa Felicity estava prestes a beijar Oliver Queen?

—Espera foi com ele que você ficou conversando ontem quando disse que foi ver as estrelas? Ver as estrelas? Como é que acreditei nisso?

—Como assim ver as estrelas? Que história é essa? Eu não tava sabendo disso não, ela estava em um encontro, por isso não atendeu nossas ligações? QUANDO FOI QUE ISSO ACONTECEU?

—Do que vocês dois estão reclamando? Ela omitiu uma informação de vocês, só isso, já eu estou sofrendo porque meu melhor amigo está tentando ROUBAR A MINHA MELHOR FUNCIONÁRIA, sem ofensas Curtis, eu adoro você também!

—Peraí, como assim roubar? Isso aqui é um encontro ou uma proposta de emprego?

—Meu Deus ninguém está focando realmente no problema, Felicity está em um ENCONTRO COM OLIVER QUEEN, nossa Felicity que até semana passada tinha vergonha de falar com o Pietro, entregador de pizza!

—A gente precisa ligar pra Donna, quer dizer, quando ela disse que um tal de Oliver disse que a Felicity ia passar o dia dos namorados com ele eu achei que ela tinha pago alguém pra mentir!

Loucos.

Eram todos loucos!

Meu Deus, o que estava acontecendo?

—O que você acha da gente entrar e esperar eles se acalmarem? Depois disso podemos explicar tudo! –Oliver sussurrou no meu ouvido e mesmo em meio a toda aquela loucura, eu senti um arrepio no pescoço.

—Acho uma ótima ideia! –Lentamente, eu abri a porta do meu apartamento, enquanto os três continuavam discutindo como os doidos que eram.

Oliver e eu entramos em silêncio e então fechamos a porta atrás de nós, comecei a rir baixinho assim que voltei a ouvir o resto da conversa.

—Isso não é nada, vocês tinham que ver como eles estava no Big Belly Burger hoje! Ele já estava usando a lábia dele pra fazer a Felicity me abandonar.

—Como assim? Você viu eles?

—Espera, você tava seguindo eles?

—Eu não estava seguindo ninguém, embora eu devesse. A Thea quis ir comer lá e eu levei ela, nós vimos os dois e eu precisei de trinta minutos pra convence-la a sair de lá sem ir falar com ele. Vocês tem alguma ideia de como foi irritante ficar ouvindo a mesma frase repetida diversas vezes? “Ele é meu irmão mais velho, é minha função de irmã mais nova atrapalhar o encontro dele”!

—Eu não posso julgar, faria a mesma coisa!

—É claro que faria Curtis, até porque você é...espera, onde eles estão?

—Eu não acredito, eles deixaram a gente do lado de fora!

—OLIVER JONAS QUEEN, VOCÊ TEM CINCO SEGUNDOS PRA ABRIR ESSA PORTA ANTES QUE EU CHAME A POLÍCIA E TE ACUSE DE SEQUESTRO!

Nesse momento as nossas risadinhas se transformaram em gargalhadas altíssimas e em meio a risadas e beijos nos preparamos pra abrir a porta.

—Feliz dia dos namorados, Felicity!

—Feliz dia dos namorados, Oliver!

...

TRÊS ANOS DEPOS

 

—Você sabe que se demorarmos mais quinze minutos pra sairmos de casa, vamos chegar atrasados e perder as reservas né? –Oliver estava me olhando com um sorriso no rosto e isso era a única coisa que me impedia de jogar o meu sapato na cara dele.

—E você sabe de quem é a culpa de estarmos atrasados, não sabe? –Maldito Deus Grego que conseguia me fazer molhar a calcinha só com uma piscadela.

—Desculpe, mas eu não ouvi você reclamar em nenhuma das três vezes! –Corei como um tomate bem maduro e então terminei de colocar os brincos.

—Eu odeio você, Oliver Jonas Queen! –Ele negou rapidamente e então me puxou pro colo dele.

—Eu sabia que você ia dizer isso, mas nós dois sabemos que isso não é verdade! Confesse Smoak, eu sou o amor da sua vida! –Revirei os olhos antes de abraça-lo!

—O que? Eu mal consigo ficar perto de você, só estamos namorando nos últimos três anos porque graças ao seu nome eu não precisa ficar em filas! –Ele gargalhou alto antes de me beijar e eu agradeci aos céus por estar usando um batom nude.

Hoje era nosso aniversário, Oliver e eu estávamos fazendo três anos de namoro, porque sim, havíamos instituído nosso aniversário de namoro desde aquele primeiro dia dos namorados e agora comemorávamos nossos anos juntos na data mais romântica do ano.

Não me entenda mal, eu ainda achava que era um feriado criado pra aumentar a venda de artigos como chocolates, flores e joias Fora é claro, fazer os restaurantes faturarem muito! Porém, agora a data tinha um certo apelo pra mim e tendo encontrado o amor da minha vida (embora ele não fosse ser capaz de me fazer admitir isso agora) eu estava mais do que feliz em comemorar.

—Quer saber uma coisa inusitada? –Oliver assentiu rapidamente e eu me ajeitei melhor no colo dele. –Você já disse que ama 1.499 vezes e calculando o fato daquele primeiro ano ter sido um ano bissexto, os últimos três anos totalizaram um total de 1.096 dias, o que quer dizer que você disse que me amava todos os dias, alguns dias mais de uma vez!

Ele encostou o nariz no meu e então sorriu contra a minha boca.

—Eu ia fazer uma surpresa, mas você é muito estraga prazeres, então... –Ele retirou um cartão do bolso e me estendeu.

O cartão era realmente lindo e delicado, mas eu estava curiosa, então rapidamente o abri e senti lágrimas chegando aos meus olhos assim que li o que estava escrito.

“Feliz aniversário de três anos senhorita Smoak! Pela milésima quingentésima vez, eu te amo!”

Eu não podia descrever o quanto minha vida era mais feliz desde que Oliver havia entrado nela, não éramos perfeitos, longe disso, éramos cheios de imperfeições, mas nos tornávamos perfeitos quando estávamos juntos.

Voltei a olhar pra ele, com um sorriso encabulado no rosto e ele sorriu também, apesar de ter ficado vermelho.

—Eu te amo muito, sabe disso, não sabe? Só você mesmo pra conseguir me pegar de surpresa assim!

—O que? Achou que só você tava contando? –Ri baixinho e depositei um beijo nos lábios dele.

—Acho que você me ama mesmo, senhor Queen! –Ele me ergueu do seu colo e então passou os braços pela minha cintura.

—É o que a matemática diz, senhorita Smoak! –Meu coração se encheu de felicidade ao me lembrar da primeira vez em que eu havia me questionado se esse “senhorita Smoak” e “senhor Queen” não seriam um código pra outra coisa... Bem, agora eu sabia que realmente eram um código pra outra coisa. –Agora, precisamos ir ou vamos nos atrasar! Não podemos perder essas reservas porque eu tenho uma surpresa pra você!

Me lembrei do anel que eu havia achado na gaveta do seu closet e que hoje eu o havia visto colocando no bolso e sorri.

—Eu mal posso esperar!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí meus amores? O que acharam? Comentem tudo e não me escondam nada kkkkkkkkkkkk...
Obrigada por terem lido e não se esqueçam de que amanhã tem mais, ok?

Se cuidem, lavem as mãos, se protejam e Feliz dia dos namorados pra todo mundo!
Beijooos....



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Valentines Week: Olicity Version" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.