Valentines Week: Olicity Version escrita por Ciin Smoak, MylleC, Thaís Romes, Regina Rhodes Merlyn, Buhh Smoak, Ellen Freitas, SweetBegonia


Capítulo 2
Principia - Thaís Romes.


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoinhas!
Mais um projeto e eu aqui batendo cartão.
Confesso que prefiro dia dos namorados a Natal, tipo, mil vezes. Então nem posso descrever minha satisfação em estar fazendo parte disso. Espero que gostem de Principia, não acho que vai mudar a vida de ninguém, mas me contento se derem algumas risadas.
Boa leitura!



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PRINCÍPIO DA MERDA TODA.

O motivo de ninguém gostar de aeroportos não se deve a demora para embarcar, malas perdidas, comida ruim por um preço absurdo, pessoas passando informações no autofalante com batatas cozidas na boca... Espera, tudo isso faz parte do motivo sim, mas não é a razão central.

Dizemos um dia após o outro que a única certeza na vida é a morte, só que ninguém espera ansioso por ela como se fosse uma parcela do décimo terceiro ou o vizinho gato correndo de regata em plena segunda feira, quando seu despertador foi inútil e precisa desesperadamente de um motivo para te lembrar qual a razão de viver. Apesar de mortais, preferiríamos transferir nossa consciência para robôs a enfrentar a certeza da inexistência.

Então, estávamos falando de aeroportos, um lugar onde toda despedida é intensa e a saudade parece tomar conta antes mesmo da separação. Tudo bem, sempre existe aquela pessoa irritante que geralmente estará sentada ao alcance de seus ouvidos e vai tentar convencer toda a tripulação presente de quão seguro é o meio de transporte. E essa pessoa definitivamente é a maior de todas as razões que citei para se ODIAR aeroportos.

—Suas mãos -Iris segura minha mão direita, que estava esfregando na outra enquanto olhava o salão de embarque se encher cada vez mais. -Os calmantes que a Donna separou devem ajudar -mexe em minha bolsa como se a pertencesse e retira um pequeno frasco com duas pílulas balançando dentro. -Vou colocar no bolso da sua jaqueta, assim pode toma-los quando nós estivermos no avião.

—Obrigada, eu só tenho você nessa vida... -murmuro cheia de drama, me deixando levar pelo pavor que tomava conta do meu corpo. 

—Precisa superar isso Fel! -ai meu Deus, tudo, tipo qualquer coisa mesmo, menos o discurso de segurança...—Estará muito mais protegida do que se estivesse em um carro -ela começa o que seria a milionésima tentativa de me catequisar e imediatamente algumas pessoas próximas começam a assentir de forma discreta, como uma reação em cadeia bizarra.

—Não posso mais ser sua amiga -falo a fulminando com os olhos, Iris abre um sorriso radiante que só faz aumentar minha irritação. -Acho que odeio você, e perceba que o “acho” está aqui por consideração aos nossos anos de amizade. Não quero ferir seus sentimentos sendo completamente verdadeira -nada, ela continua sorrindo.

            -Estava pensando -disserta me levando em direção a fila gigantesca de embarque. Esqueci de acrescentar “filas” em minha lista de motivos. -Precisamos pensar em uma filial física para nosso pequeno negócio. A resposta dessa palestra realmente me animou! -a expressão de Iris demonstra que ela esperava muito mais do que meu sorriso nervoso e tremulo como resposta.

—Em Central City? -ergo uma sobrancelha e a esse ponto estávamos apenas seguindo o fluxo da multidão. -Iris, tem muito sol e pessoas sorridentes em Central -abrimos o mesmo sorriso falso e cheios de dentes uma para a outra. -O que torna o aluguel absurdo -argumento e minha amiga apenas encolhe os ombros, sabendo que estava certa. -Mas se for em Gotham poderíamos comprar meio prédio e ainda sobraria para os equipamentos!

            -Isso por que eles roubariam o prédio, o equipamento e a gente! -rebate tirando nossas passagens de sua bolsa.

            -Não podemos nos dar ao luxo de buscar coisas como segurança -ironizo a fazendo dar risada.  -Vamos apenas voltar para casa, e ver o que faremos em seguida.

            E tem mais essa, como raios vou convencer a Donna Smoak a se mudar de Central City? Quando ela jurou por cada fio louro em sua cabeça que não arreda o pé de lá desde que nos mudamos definitivamente de Star City a dez anos atrás. Bom, vou me preocupar com isso caso sobreviva ao voo, o que é muito menos provável do que todos esses fanáticos gostam de afirmar.

            -Deus abençoe -escuto Iris murmurar baixinho, mas estava muito ocupada procurando meu passaporte na bolsa para olhar. -Aquele não é o tal senador super gostoso? Filho dos donos da empresa onde palestramos? -comenta apontando para um homem que parecia ser bonito, julgando por suas costas e partes mais ao sul que estavam ao alcance de meus olhos.

            -Se sua campanha politica for tão boa quanto a visão do candidato, pode apostar que ele vai ter meu voto! -penso alto, fazendo minha amiga assentir concordando.

            Uma pequena comoção começa a nossa direita, e por algum motivo idiota nós pensamos que seria bom sair da fila só por um momento para conseguir ver o que acontecia. Uma mulher loura, praticamente do meu tamanho e usando calças escuras e suéter e jaqueta preta assim como eu, passa correndo por mim. Iris segura meu braço quando sou empurrada para frente e antes que possa perceber como e por que, dois seguranças me agarram. Que brutamontes gentis, nem mesmo preciso tocar meus pés no chão. De longe escuto a voz de Iris que me chamava empurrando quem estivesse em seu caminho, na tentativa de me resgatar dos andaimes humanos que me carregavam como seu eu fosse uma boneca de trapos.

—O que vocês estão fazendo? -meus olhos vão de um para o outro, mas não obtenho nenhuma resposta, não importando quão persistente ou repetitiva eu fosse.

—Mantenha as mãos onde possamos ver! -Grita o brutamontes um, enquanto o dois me lança em direção a uma cadeira, dentro de uma sala vazia.

Não era capaz de entender o que estava acontecendo e os homens que me olhavam transbordando desprezo tão pouco se importavam em explicar. Brutamonte Dois me algema com minhas mãos presas as costas da cadeira e vejo minha bolsa ser despejada no chão. Eles pegam um a um os pendrives que guardava, lançavam meus batons e rasgaram um pedaço da capa do livro que guardei para evitar que minha mente calculasse as probabilidades diferentes de morte que enfrentaria no voo. Por favor David Nichols, me perdoe, eles não têm ideia da heresia que estão cometendo!

            -Por que estão arruinando minhas coisas? -uso todo o autocontrole que possuo para não gritar, enquanto um dos homens dá um passo para pegar um pedaço velho de papel, acaba pisando em meu livro e a esse ponto já estava sentindo a bile em minha garganta. -Olha aqui seus filhos...

            -Pode vir aqui por um momento? -um homem de meia idade abre a porta, interrompendo meu xingamento.

Um dos brutamontes me lança um olhar mortal, mas pensando em fazer justiça a Dex e Em que foram pisoteados cruelmente por ele, devolvo o olhar cheia de falsa coragem. O homem de meia idade entra novamente, mas seu rosto era piedoso, quase como se estivesse com vergonha.

—Sentimos muito. -diz abrindo minhas algemas. Me levanto massageando meus pulsos, tão brava e confusa que apesar de ter um discurso inteiro transbordando ódio e palavras malcriadas, só o que acontece é meu lábio inferior se transformar em um beicinho infantil, e sinto as lágrimas escorrendo por meu rosto. -Estávamos atrás de uma garota com um porte semelhante ao seu -o homem solta as palavras atropeladamente, me dando tapinhas paternos em meu ombro. -Está tudo bem agora -filho de uma senhora que fornece entretenimento adulto por troca de capital! Gritava internamente, mas não consigo parar de chorar, ou encontrar minha voz. As lágrimas continuavam a escorrer, o homem estava quase chorando comigo quando uma mulher de cabelos ruivos e porte de madame entra na sala.

—Nós pedimos encarecidamente que nos perdoe, Srta. Smoak. -diz de forma pomposa, e antes que perca a chance o senhor que me confortava nos deixa sozinhas. -Sou Briana Renner, supervisora da companhia. Sua amiga nos procurou e confirmamos pelas filmagens a inocência da senhorita -a voz de Briana era tão pausada e educada que de alguma forma acaba com meu choro. -Para compensá-las vamos transferir sua poltrona para a primeira classe e triplicar suas milhagens -sei que é um péssimo negócio, mas por algum motivo o sorriso acolhedor que se abre em seu rosto me faz querer estar louca, e aceitar pacificamente sua proposta.

Como fomos transferidas, Iris acaba na poltrona G9 e eu na B5. Sinceramente, não ter Iris comentando as maravilhas da aeronáutica foi a melhor compensação de todas. Nós andamos pelo corredor, minha poltrona é avistada e mal posso acreditar que não precisaria aguentar uma hora e meia com as pernas encolhidas entre Iris e um desconhecido que roncasse.

—Licença -digo me sentando, a pessoa ao meu lado que a segundos estava coberta por papeis que analisava com grande seriedade, os abaixa de forma educada e assente de leve com a cabeça. Era o senador gostosão! Sério? Iris daria o rim para estar no meu lugar agora, enchendo a cabecinha loura e linda dele com as abobrinhas de aviões seguros e etc.

—Fique à vontade -responde cordialmente, antes de voltar sua atenção aos relatórios anteriores.

Sorri educadamente e comecei a procurar pelos comprimidos calmantes que Iris havia colocado em minha jaqueta. O que anteriormente era apenas um pavor costumeiro pré-embarque, somado a confusão de identidades e acusação indevida e ser tratada como uma criminosa, me levam a vivenciar um estado mental lastimável.

—Eles caíram... -constato com tristeza, tateando minha roupa, enquanto um flashback dos brutamontes me carregando em meio ao aeroporto lotado me veem a mente. -Desgraçados, inúteis! -as palavras saem em um misto de riso e choro. Consigo perceber o desconforto do Senador ao meu lado, enquanto a aeromoça fazia a dancinha da decolagem dela, e eu xingava as maldições mais sujas e indelicadas possíveis para os seguranças do aeroporto, o senhor de meia idade e a ruiva Rivotril. Aquela vaca me fez aceitar um acento e algumas milhas em troca do meu orgulho. -Tudo bem, um dia todo mundo morre -tentei soar indiferente, mas é bem dificil fazer isso enquanto está chorando compulsivamente como um bebe.

Tudo o que aconteceu a seguir, estará para sempre como uma mancha negra que corrompe a história de uma pobre garota absurdamente inteligente, formada como primeira da sua turma em ciências da computação, que sonhou por toda sua vida em ser um alicerce confiável para sua mãe, que a criou sozinha com todo o esforço que só o amor incondicional pode proporcionar...

—Senhorita... Senhorita... -uma voz grave e desconhecida interrompe minha lamentação dramática. -As pessoas, elas estão nos encarando...

Algo firme me mantinha segura enquanto o avião decolava e todo meu estomago revirava como pipoca estourando. Era a única coisa que eu possuía, minha última companhia antes do cessar dos meus dias. Ah mãe, eu queria ter tido mais tempo, juro que seria uma filha melhor... Então tudo se apagou.

Um barulho agudo me desperta e percebo estar deitada enquanto parecia me mover rapidamente, uma mão grande demais, calejada demais e forte demais para pertencer a Iris, segurava a minha. Tento abrir os olhos por vezes seguidas, mas era como se tivesse perdido a capacidade de fazer tal coisa. Por fim desisto de lutar e permito que meu corpo relaxe, incapaz de fazer qualquer outra coisa.

—Vai ficar tudo bem, nós estamos chegando ao hospital -a voz dizia com tanto carinho, que tudo pareceu ficar realmente bem.

—Como isso pode acontecer com ela? -a voz inconfundível da minha mãe toma conta da minha mente. -Disse que deveriam pegar o trem Joe! -agora me sinto um pouco mal, ao perceber o pavor em sua voz.

—Desculpa Donna, eu só pensei que alguém como a Felicity não deveria ter qualquer limitação, ela é uma garota brilhante.

Joe West parecia exausto, posso sentir no tom pausado e baixo de sua voz. Ele é o amigo mais antigo da minha mãe, então posso imaginar como seu rosto bonito deve estar triste e seus olhos escuros certamente estão avermelhados e lacrimejando. Mas ainda assim me sinto grata, pois sei que nesse momento ele está se fazendo de forte para confortá-la. Só queria conseguir abrir meus olhos e acalmar os dois.

—E o que vamos fazer com relação a todos aqueles artigos na internet? -agora era Iris, todos suspiram com sua pergunta, me deixando zonza.

—Aposto que Felicity acabaria com todos eles em um instante... Ai! -era Barry, aposto que apanhou da Iris por seu comentário.

—Não precisa bater nele -escuto um riso triste da minha mãe. -Tenho pensado a mesma coisa sem parar nesses dois dias.

“O QUE?” tento desesperadamente gritar, mas meu corpo me traí.

—Dois dias... Como? -é minha voz, sou eu! Estou falando outra vez!

—Felicity? -a mão fria e pequena da minha mãe agarra a minha. -Minha filhinha, linda! -murmura e aos poucos seu rosto borrado começa a tomar forma diante dos meus olhos. Seus cabelos loiros estavam amarrados de qualquer jeito em um coque e quase não percebo vestígios de maquiagem em seu rosto bonito, acho que nunca a vi dessa forma antes.

—Caramba, eu devo ter quase morrido! -exclamo surpresa.

—Você teve o que os médicos descreveram como uma mistura de ataques de pânico, ansiedade e exaustão -o rosto de Barry aparece ao lado do dela, seguido por Iris e Joe. -E agora parece ser a noiva secreta do Senador Queen -como sempre ele apenas vomita as palavras, sem pensar muito no peso de cada uma delas.

—Como? -sinto o ar me faltar.

—Qual parte de estar sobre grande estresse, você não entendeu? -Iris o repreende, mas ele apenas encara a todos com inocência.

—Ela vai descobrir isso cedo ou tarde, não acham melhor que tudo aconteça enquanto estamos cercados de médicos? -meu amigo volta a sugerir, e observo confusa enquanto os outros três se encaravam.

—Não deveriam avisar ao médico que eu acordei? -digo quando me dou conta da negligencia dos meus familiares.

—Isso, o médico! -Joe exclama se levantando, sendo seguido por minha mãe.

—Nada de conversarem enquanto estivermos fora! -Donna Smoak avisa, em um de seus raros acessos maternais.

Não sei dizer se pelo choque ou pela situação em si, mas a verdade é que nós realmente permanecemos em silêncio, sem nem mesmo encarar uns aos outros até o medico voltar. Sou examinada, minha mãe faz mil perguntas constrangedoras e por fim quando o pobre doutor termina seu trabalho, parecendo exausto e desesperado, da forma que só Donna Smoak consegue deixar alguém, é que exijo que me contem logo que merda aconteceu. Queria não ter exigido, afinal a ignorância é realmente uma benção.

Vou chamar isso de “experiencia extracorpórea”, me ver na tela do iphone de Barry era exatamente como sair do meu corpo e ter minha alma presenciando aquele momento vergonhoso, sem poder me parar. A Felicity do vídeo começa sentada, vomitando palavras rápido demais para serem capturadas com clareza pelo áudio da câmera do passageiro que ocupava a poltrona do outro lado do avião, e filmava tudo discretamente.

Me vejo tateando a jaqueta uma, duas, cinco vezes. A cada vez mais desespero transparece em minha face. O Senador ao meu lado havia desistido de seus relatórios, os guardando da forma mais segura que conseguiu enquanto eu apertava meus cintos e tentava por alguma razão desconhecida amarrar meu braço esquerdo na poltrona, usando minha jaqueta como corda. Deus!

—Aquele é o Senador Queen? -alguém ao lado da pessoa que gravava pergunta sussurrando. -É ele, não é?

—Coitado, a garota está surtando bem ao seu lado -completa uma segunda voz.

—Acha que eles se conhecem?

—Ele não é gay?

—Bom, não está parecendo ser no momento...

Então as perguntas mudam, e posso entender o motivo. Eu, a pessoa mais sem noção e surtada do universo, me agarro ao braço do Sr. Queen, que tenta gentilmente me afastar, sem querer chamar ainda mais atenção. Me enrolei em volta do seu braço da mesma forma que uma cobra faria, os olhos do coitado estavam prestes a saltar de suas orbitas enquanto eu chorava e ria sem parar, usando seu terno de lenço.

—Não consigo mais ver! -choramingo empurrando o celular na direção do meu amigo.

—Precisa ver, é aqui que as coisas pioram -avisa dando play novamente, e mal posso calcular o que seria “pior” até me ver agarrando o rosto do Queen.

Eu beijei Oliver Queen, em um surto mental, eu simplesmente beijei... Bom, aquilo não é exatamente um beijo, estava mais para esfregar minha língua na cara dele, e quando já podia sentir as lágrimas de desespero brotarem, eu vomito. Sim, vomito com tudo bem na cara do principal candidato ao Senado dos Estados Unidos. Por fim caio inerte em seus braços que me amparam de forma automática.

—Que grandessíssima merda! -o vídeo é encerrado por um cara negro bem grande que entra na frente, sendo seguido por Iris que parecia gritar ameaças aos passageiros que filmavam o escarcéu todo. -Quão longe eu consigo me mover de carro? Acha que alcanço a Ásia se dirigir sem parar por meses seguidos? -balbucio nervosa, encarando o rosto dos meus amigos.

—Quando tentaram te remover, o Sr. Queen exigiu que você fosse apenas limpa e voltasse para seu acento a fim de receber algum tratamento inicial do guarda costas dele -minha amiga falava, mas era como se voltasse a presenciar tudo de fora, sem conseguir fazer nada a respeito. -Quando desembarcamos ele quem foi na ambulância com você para o hospital. Queria garantir que fosse atendida imediatamente e cuidou para que sua equipe me levasse a tempo...

—Não esqueça de contar que ele a carregou feito uma noiva para fora do avião... -Barry palpita sendo fuzilado por Iris e eu ao mesmo tempo. -O que, foi o que aconteceu!

—Só fica quieto, Allen! -murmuro tombando de volta na cama hospitalar e rezando para que tudo isso fosse apenas um sonho muito criativo que tive.

—Para falar a verdade eu meio que curtia a história dele ser gay -Iris diz com ar de fã girl. -Já viu a tentação em forma de ser humano que é aquele guarda-costas dele?

—Grande coisa, quem você não acha bonito? -Barry reclama se sentando em minha maca.

—Você! -Iris responde sem nem mesmo hesitar.

Posso ver os ombros do meu amigo tombarem e por um instante me esqueço do inferno que estava vivendo e seguro sua mão a fim de consolá-lo. Barry parecia um grande bebe fazendo birra, apesar de sem filtro e de as vezes não ter nenhuma familiaridade com a noção, estava longe de ser alguém não atraente, mas ele e Iris vivem nesse jogo de gato e rato por toda a vida, e não serei eu a entrar no meio.

O PRIMEIRO MOTIVO

—Ollie!

Minha irmã entra em meu gabinete seguida por Laurel e John Diggle. Aproveito a companhia para fazer uma pausa, mas antes que consiga me recostar no sofá ao lado do meu amigo/guarda costas, Thea despeja uma pilha de jornais e revistas a minha frente, com o ar de repreensão que deve ter adquirido de tanto levar bronca da nossa mãe.

—Não quero ver isso, já pedi que cuidasse dos rumores -fecho meus olhos massageando as têmporas.

—Quer desistir da sua candidatura? -insiste e sou obrigado a abrir meus olhos, só para os revirar em seguida.

—Bom, ao menos é o primeiro rumor dele com uma garota -John debocha.

—Sente falta de quando diziam que eu era seu amante? -o encaro irritado, mas isso parece intensificar a diversão desse idiota.

—Oliver, não sei se entendeu ainda como a política funciona -Laurel não era sarcástica como John ou impaciente como minha irmã caçula, sua voz é quase doce, mas isso se deve ao fato de que aos olhos dela, meu QI equivale ao de um filhote de labrador. -Sua popularidade tem baixado desde que Tommy te beijou bêbado em frente a balada.

Dessa vez John e eu gargalhamos alto. Foi algo que aconteceu a pouco mais de um mês. Estávamos visando conseguir a aprovação do eleitorado mais jovem e Thea teve a ideia de sermos vistos em algumas baladas pela cidade, o que funcionou a princípio, mas meu amigo de infância quase alcoólatra definitivamente não é alguém para se ter ao lado quando buscamos aumentar a aprovação de qualquer coisa. Completamente bêbado, Tommy jurava que eu era sua noiva, e quando estava distraído chamando um carro para nos buscar, ele me agarrou e me deu um selinho em frente a um mar de fotógrafos. Mas confesso que minha reação deve ter piorado tudo.

—Você simplesmente caiu na gargalhada! -Thea reclama com pesar, deixando seu corpo cair no sofá entre John e eu.

—Speed, eu estava bêbado -dou de ombros tentando me recompor.

—Sabia que vocês dois tem até mesmo um Shippe na internet? -me seguro para não voltar a rir, por medo do olhar das duas mulheres. -Quelyn! -a esse ponto eu já estava lacrimejando com o esforço de conter o riso.

—Agora meu casamento se tornou uma cortina de fumaça para seu “amor proibido” -Laurel reclama me lançando uma das almofadas do sofá. 

—As pessoas se preocupam com coisas ridículas -dou de ombros me levantando ao som do riso estrondoso do John. -E aquilo não foi um beijo, Speed. Nós mal nós tocamos.

—Não deveria rir, Dig -Thea começa, e posso ver meu amigo se encolher um pouco. -Você é a outra ponta do triangulo. -Diver!

—Por que meu sobrenome e o nome dele? -reclama sobre o olhar de “é sério?” que Thea e Laurel o lançavam. -Isso nem mesmo faz sentido.

—É isso que te preocupa em toda essa história? -ralha Laurel.

—Estamos no século XXI, mesmo se eu fosse gay não acho que esse deveria ser um problema, as pessoas precisam focar no meu plano de campanha -decreto voltando a minha mesa. -Posso sentir sua reprovação sem nem mesmo olhar, Speed!

—Ollie, essa garota mudou todo o jogo com um único vídeo -a voz de Thea se enche de excitação. -Você se tornou o líder em todas as pesquisas pela primeira vez desde que era prefeito. Se usarmos isso a nosso favor a eleição já está ganha.

—Quer usar uma garota inocente para manipular votos? -questiono incrédulo. -Thea, eu não sou realmente gay, você sabe disso.

—Então por que raios nunca desmente? -bate na mesa, já sem nenhum vestígio de sua rara paciência.

—Por que esse não é um problema -dou de ombros. -Não quero que tratem a opção sexual de alguém como um defeito ou qualidade. Esqueça, não vou fazer isso.

—Bom, se não vai fazer por sua imagem, talvez aceite a proposta se disser que pode ajudar com a imagem de sua família -Laurel deixa um jornal cair sobre minha mesa.

Uma foto da minha mãe ao meu lado estampava a primeira página. A matéria a acusava de fazer parte de um grupo de empresários que idealizou um atentado aos Glades, um bairro periférico de Star City, algo que descobri e parei durante meu mandato, mandando diversos amigos da minha família para a cadeia. Pela primeira vez elas conseguiram minha atenção.

—Isso é impossível, minha mãe não...

—Ela fez -Thea me interrompe e posso ver a tristeza em sua face.

—Speed, é nossa mãe! -defendo, quase me irritando por ninguém mais negar a possibilidade. -Ela não faria nada assim.

—Ao menos ele é consistente -Laurel começa.

—Oliver, você nunca percebe os defeitos de ninguém que ama -John completa, me encarando com ar empático.

—Eu consegui encobri no primeiro momento, mas acho que isso não é mais o bastante, precisamos de algo grandioso para cessar os rumores -Thea deixa um envelope pardo a minha frente, o abro com cuidado e vejo um dossiê completo da garota do avião. -Ela não tem nada que possam usar contra você, não importa quão fundo cavem. Se formou como a primeira do país, venceu o campeonato mundial de TI. Aos vinte e cinco anos está começando uma empresa de segurança virtual, a fim de proteger trabalhadores e melhorar as condições deles em seus ambientes de trabalho, a garota é quase o Gandhi.

—É uma gata! -acrescenta John com um sorriso de lado para Laurel que balança a cabeça com reprovação.

—A melhor parte é que vocês estavam no mesmo local naquela tarde -Lance sempre profissional, volta o assunto para o que interessava. -Ela palestrou na Q.C. Podemos forjar a história perfeita.

—Ollie, se quiser salvar nossa mãe e o futuro da sua carreira política, esse é o único meio. Isso ou entregar tudo nas mãos corruptas do Damien.

PRIMEIRO ACORDO

Nunca antes havia estado em um restaurante como esse. Ocupava uma espécie de sala privada, com uma mesa enorme a minha frente, repleta de comida, muito mais do que duas pessoas poderiam comer em uma semana. Levanto a delicada manga do vestido azul claro de reanda que Iris me forçou a colocar, para verificar as horas. Quinze minutos atrasado, a essa altura meus saltos estavam prestes a criar um buraco no chão, um tique nervoso idiota, que não consigo vencer desde que me entendo por gente. Estava ponderando se deveria começar a comer ou não, quando as portas se abrem e vejo Oliver Queen passar por elas.

Minha primeira reação foi piscar várias vezes, meus olhos certamente estavam me traindo. Ele usava um terno cinza e caminhava em minha direção com um sorriso cordial em seu rosto perfeito, eu posso ver os músculos sob as camadas de roupa com tanta clareza que me pego engolindo em seco. Não faz nem sentido alguém ser assim tão bonito.

“Ele é gay!” repito mentalmente como um mantra para manter minha sanidade.

—Desculpe o atraso, é complicado entrar em qualquer lugar sem ser notado, minha equipe precisou verificar o local -justifica sorrindo cordialmente, enquanto se sentava. -Devo ter tomado muito do seu tempo nessa tarde, sinto muito por isso. -Uau, ele é perfeito! -Srta. Smoak?

—Sim? -balanço a cabeça algumas vezes. -Na verdade você quem veio até Central City, então não precisei mudar muito o que estava em minha agenda. Por agenda quero dizer procurar por imóveis na internet e maratonar The Oficie, mas o senador bonitão não tem que saber disso.

—Obrigado por me encontrar -mais uma vez o maldito sorriso, seus olhos chegam a brilhar, ele claramente nasceu para a política. -Precisamos falar sobre os rumores...

—Ah sobre isso, eu realmente quero me desculpar -disparo. -Sei que não justifica, mas eu tenho pavor de aviões, e naquele dia fui confundida com uma terrorista e os brutamontes um e dois me carregaram para uma sala escura e me fizeram perder minhas pílulas calmantes. Não estou dizendo que isso me isenta de toda a culpa, afinal eu vomitei em você... Bem depois de te agarrar -acrescento essa parte baixinho. -Também não dormia a quase três dias, e estava completamente exausta. Sinto muito, mas tudo o que posso fazer para compensar é pagar seu terno. Em algumas parcelas se possível. -Finalizo brincando com o tecido da saia do meu vestido, incapaz de encará-lo. -Me desculpe.

—Não precisa se explicar -sua voz é tão calma que me faz querer observá-lo. Havia um pequeno sorriso em seu rosto que me encarava com algo muito parecido com carinho. -Eu estava no hospital naquela noite, escutei todo o diagnóstico médico. Na verdade, não estou aqui por desculpas ou compensação -pela primeira vez desde que chegou à confiança aparentemente inabalável em todo seu modo de ser fraqueja. -Eu preciso muito que me ajude.

Oliver calmamente me explica como os rumores o ajudaram a subir no gráfico de intensões de votos. Mas o incomodo em seu rosto era perceptível, bom, não é para menos, deve ser um inferno não poder ser quem é. Me parte o coração, a certo ponto preciso conter as lágrimas, que seriam extremamente vergonhosas ao caírem enquanto ele falava sobre eleitorado e planos de campanha. O que me faz questionar o quanto esse homem deve guardar para si, sem poder confiar em ninguém ao seu lado.

—Você quer que eu continue deixando as pessoas pensarem que estamos juntos? -minha voz soa baixa e mantenho meus olhos no prato, tenho medo de chorar se encará-lo. Qual o problema de amar alguém? Isso não é crime algum. As pessoas deveriam deixar de ser tão preconceituosas!

—Claro que vai ser uma via de mão dupla, sei que está em busca de uma sede para sua empresa. O que acha de Star City? -pondera.

—Quer me ajudar com a Helix? -levanto meus olhos com cuidado, e Oliver pisca algumas vezes, como se buscasse organizar os pensamentos, engraçado, quase me faz pensar que ele é hetero.

—Eu estava em sua palestra, o que estão fazendo é realmente importante. Adoraria ajudar no que for possível -ele retira um envelope pardo de uma pasta e o coloca sobre a mesa ao meu lado. -Esse é um contrato. Como estamos lidando com muitas coisas importantes, talvez isso nos proteja -explica. -Não quero que se sinta usada de forma alguma, prometo que se aceitar farei o possível para protege-la. Ficarei na cidade por mais dois dias, quando se decidir pode entrar em contato. A qualquer hora.

Adoraria dizer que liguei após os dois dias, nos últimos minutos enquanto ponderava com extremo cuidado todos os pros e contras do contrato. Mas a verdade é que procurei a namorada do Joe que é advogada assim que sai do restaurante, e quando ela acabou de me explicar todo o contrato eu imediatamente liguei para o Sr. Queen. A vida não é nem de longe tão emocionante quanto a literatura pinta.

Nos dias que se passaram eu me tornei uma especialista em Oliver Queen. Assisti a cada comício, entrevista e vídeo feitos por fãs na internet. A esse ponto eu já era totalmente time Diver. A forma encantadora que eles riam um para o outro tentando não serem percebidos, como John Diggle era protetor e cuidadoso com seu chefe, aquilo era muito melhor do que qualquer novela mexicana. Talvez por isso tenha aceitado assinar o contrato, eles mereciam ser felizes. Bom, isso e o aluguel grátis.  

A dois dias da nossa mudança para Star City, Iris, Barry e eu estávamos sentados na escadaria da casa dos West, observando a rua na qual crescemos, quando meu celular vibra em meu bolso.

“Queen” brilhava na tela, fazendo meus amigos darem risadinhas. Me levanto os ignorando e corro para a minha casa do outro lado da rua, me sentando no balanço velho em minha porta, antes de atender.

—Alô? -tento soar confiante, sem sucesso.

“Srta. Smoak.” Sua voz era ainda mais bonita no telefone, rouca e masculina, algo em mim vibra involuntariamente ao som. “Aqui é Oliver Queen. Está podendo falar?”

—Claro! -rápido demais garota, respiro fundo me recompondo. -Alguma coisa aconteceu?

“Não exatamente, minha equipe te enviou todas as informações a meu respeito...”

—Já estudei todas elas, pode me testar! -o interrompo animada, e me surpreendo com o som divertido de sua risada do outro lado da linha.

“Tenho certeza que sim.” Ainda posso sentir o sorriso em sua voz. “Sinto decepcionar uma aluna tão aplicada, mas a verdade é que não quero confirmar o que sabe a meu respeito, esperava poder fazer algumas perguntas sobre algo mais interessante.” Ele sorri sozinho do que deve ter pensado ser uma piada. “Deveria conhecer minha noiva, não acha?”

Não esperava por essa. Sinto meu rosto esquentar de imediato, sou grata por não estarmos nos falando cara a cara. Limpo a garganta antes de responder.

—Acho que sua equipe deve ter cavado a história de todos os meus antepassados!

“Acredite ou não, você foi quem me forneceu a maior parte das informações que tenho.”

—Eu? -questiono confusa, e ele solta um risinho do outro lado da linha.

Uma pobre garota absurdamente inteligente, formada como primeira da sua turma em ciências da computação, que sonhou por toda sua vida em ser um alicerce confiável para sua mãe que a criou sozinha com todo o esforço que só o amor incondicional pode proporcionar...” recita como se tivesse acabado de ouvir.

—Eu... Eu disse em voz alta? -só queria que um meteoro atingisse a terra, não é pedir demais. Já passou da hora do apocalipse acontecer.

“Na hora eu estava apavorado, mas agora é uma lembrança divertida...”

—Oliver! -o nome sai antes do meu filtro voltar a funcionar. -Quer dizer, Sr. Queen.

“Gosto que me chame de Oliver.” Escuto alguém do outro lado da linha, como se o estivesse apressando. “Me desculpe, Felicity, preciso ir.” Gosto de como ele diz Felicity. “Nos vemos amanhã pessoalmente e vou poder fazer todas as perguntas que desejo.”

—Bye, Oliver.

“Bye, Felicity.”

Devo estar louca!

Me levanto, aceno um tchauzinho para meus amigos e entro em casa. Por que raios isso pareceu tanto com um flerte? -Não seja idiota Felicity, ele é gay. Super gay.

—Quem é gay? -minha mãe aparece em minha frente com ar confuso. -E por que está rindo feito boba?

—Eu não estou! -exclamo na defensiva. -Mãe, vou dormir no seu quarto -decreto desviando o assunto, correndo em direção ao quarto dela enquanto era perseguida.

—Ah, não vai mesmo! -ela gritava as minhas costas. -Gosto de espaço, pode ir para seu próprio quarto, mocinha! -sorrio me jogando em sua cama. -Felicity!

A PRIMEIRA ENCENAÇÃO

—Temos mesmo que fazer nossa primeira aparição como casal no casamento do seu melhor amigo? -questiona fazendo careta. -Não acho que tenha intimidade suficiente com a noiva para ser dama de honra dela.

Felicity estava deslumbrante, em um vestido floral, segurando um pequeno buquê de flores do campo, com seus olhos claros trêmulos encarando cada canto da sala, como se calculasse uma possível rota de fuga. Era adorável. Me limito a sorrir e tocar levemente em seu ombro, a fim de ganhar sua atenção.

—Tommy e Laurel são meus amigos mais antigos, e se nós estivéssemos realmente juntos a dois anos como alegamos estar -a lembro. -Eles seriam seus amigos próximos também.

—Eles são mesmo um casal? -franze a testa se inclinando em minha direção para sussurrar em tom de segredo. -Não estão fingindo como nós dois?

—Você parece bem confusa -mordo os lábios para não sorrir. -Vamos, nós seremos os próximos a entrar.

Caminhamos de braços dados pelo corredor repleto de flores em direção ao altar. O bizarro dessa situação é que eu deveria estar tenso, aquilo poderia ser um grande fisco se um de nós cometesse um erro. Mas enquanto andávamos em meio aos barulhinhos dos outros convidados, os flashes animados dos fotógrafos e diante do sorriso debochado de Tommy no altar, percebi que pela primeira vez em alguns anos pude me sentir completamente a vontade. Devo finalmente estar ficando louco.

No fim da festa já estava sentado em uma mesa próxima a pista de dança, assistindo Felicity, Thea e Tommy dançarem Like a Virgin da Madona no salão quase vazio a essa altura. Laurel chorava de rir sem conseguir se mover ao lado dos três, agiam como se fossem amigos de anos, mesmo tendo se conhecido a poucas horas.

—Eles parecem felizes -escuto John dizer se sentando ao meu lado.

—Esperaram muito por isso -pondero observando meu casal de amigos.

—Você também -acrescenta tomando um gole de sua bebida. -Precisa confessar que de todos os acordos políticos que já fez, ela é o primeiro que parece gostar.

—Felicity é incrível -dou de ombros. -Foi muita sorte ser ela ao meu lado no avião -percebo que ela nos observava da pista, cheia de animação no olhar. John sorri para a garota que assente de leve em um cumprimento afetuoso.

—A propósito, quando é que vai contar a ela que não é gay? -questiona me olhando de lado, com ar divertido.

—Quero ver quanto tempo ela leva para descobrir -respondo piscando para ele que bufa revirando os olhos.

—Sua garota é totalmente time Diver -debocha ao ver minha noiva falsa suspirar enquanto nos observava.

PRIMEIRA VEZ QUE SINTO SUA FALTA

Agora que a Helix já estava funcionando meu tempo livre passou a ser cada vez mais escasso. Namorar um candidato ao senado era uma baita publicidade, Iris, Barry e eu virávamos noites trabalhando sem parar, e quando conseguia algum tempo livre que poderia ser usado para manter a “publicidade” ativa, Oliver era quem tinha a agenda cheia. Passamos quase dois meses apenas nos falando pelo celular, mensagens e afins. Mas ultimamente tenho vivido uma série de chamadas perdidas e ligações não completadas. Não que isso me incomode, por que me incomodaria com um relacionamento falso?

Sugeri para Thea, sua relação publica e irmã mais nova que nós usássemos as redes sociais. Afinal nós dois necessitávamos de algumas horas de sono, caso quiséssemos sobreviver. A essa altura “Olicity” o nome do nosso Shippe era tão famoso quanto Diver. Bom, ao menos eles dois devem estar tendo bons momentos agora que não são alvos de tanta especulação. Não mereço nem mesmo um telefonema de agradecimento?

—Por que não tira os olhos do celular? -Barry deixa uma xicara de café ao meu lado, se encostando em minha mesa para observar o que estava fazendo.

—Nada -guardo o objeto de imediato, mas posso escutar o riso baixo do meu melhor amigo por ter obtido sucesso em sua provocação. -Iris não deveria estar de volta? -olho o relógio em meu pulso e Barry faz o mesmo.

—Bom, ela estava decidida a conseguir uma prova do plagio que nosso cliente sofreu, não temos muito tempo até o julgamento -mesmo se esforçando para soar despreocupado, a essa altura ele já caminhava em direção a seu casaco. -Se importa em analisar isso sozinha? -aponta para as gravações de CFTV que passavam nas três telas de computador a minha frente.

—Está rodando com reconhecimento facial, pode ir busca-la -sorrio dando a aprovação que ele não pediu, mas seu rosto se torna repleto de satisfação ao conseguir.

Barry sai e resolvo me focar no trabalho. Afinal foi esse o motivo de ter começado toda essa história. Mas mal tive tempo de colocar em pratica todo o meu foco e profissionalismo, quando escuto três batidas firmes na porta. Nove horas da noite, não é exatamente um horário ideal para visitas, me levanto com o teaser que Joe me deu de natal nas mãos e vou atender.

—Quem é? -tento soar firme, mas só por precaução, checo se o teaser estava funcionando.

—Sou eu -reconheço a voz do Oliver no mesmo instante.

Adoraria dizer que fui o retrato da elegância ao abrir a porta, mas nem me dou ao trabalho de tentar a esse ponto, meu corpo praticamente se move por conta própria. Escancarei a porta com tudo, no segundo em que ele pronunciou as palavras, escondendo o teaser atrás do meu corpo, apenas para não parecer uma louca paranoica. O sorriso em meu rosto não poderia ser maior, Oliver também sorria, bom, bem mais contido e controlado do que eu vou chegar a ser um dia. Segurando dois copos de café nas mãos enquanto esperava calmamente que eu voltasse a controlar meus próprios lábios e o convidasse para entrar.

—Está sozinho? -me inclino em sua direção a fim de checar o corredor do lado de fora.

—Eu cresci nessa cidade Felicity, sei passar despercebido por aqui -comenta passando por mim. -Principalmente tarde da noite -um sorriso estranho brinca em seus lábios por um segundo, como se apreciasse uma piada interna. -Me desculpe demorar quase dois meses para finalmente conhecer onde trabalha -acrescenta me oferecendo um dos copos em suas mãos.

—Latte! -comemoro ao provar.

—Era o que estava na sua ficha, latte com muito açúcar. Nem um pouco saudável -pisca com ar brincalhão, me fazendo precisar segurar o copo com um pouco mais de força para não o deixar cair. -Você geralmente fica sozinha a essa hora da noite?

—Não, Iris está investigando... Bom, não posso dar detalhes, espero que entenda -ele assente calmamente. -Como já está tarde, Barry foi busca-la.

—Vocês três cresceram juntos?

Oliver é estranhamente despreocupado, acredito que se o conforto se personificasse a imagem seria a dele. O observo puxar a cadeira de Barry para ficar ao lado da minha, se sentando em seguida e apontando para meu lugar, como se ele e não eu fosse o anfitrião. Impressionante.

—Eles se conheceram desde bebes, seus pais eram vizinhos -começo a narrar. -Eu nasci aqui em Star City, mas minha mãe se mudou para Central quando meu pai nos deixou e a mãe da Iris faleceu.

—Eu sinto muito -parecia realmente sentir, seus olhos azuis queimavam ao me observar.

—Já faz muito tempo, mal me lembro dele -falo quase automaticamente. -Minha mãe e Joe, o pai da Iris são amigos desde o colegial, brincam que são irmãos de karma. Seja lá o que isso signifique -sorrio ao pensar na louquinha da Donna Smoak. -Depois de um tempo Barry perdeu os pais em um incêndio e bem, ele cresceu com nossos pais. Oficialmente Joe é seu pai adotivo, mas ele mora nas duas casas. Muito complicado?

—Não mesmo -toca de leve entre as minhas sobrancelhas e sinto meu corpo congelando devido a surpresa. -Acho que isso aparece sempre que você se preocupa.

—Isso?

—Uma ruguinha, bem aqui -pressiona levemente o dedo, antes de se afastar. -Ela estava aí no dia em que nos encontramos em Central City, antes de entrarmos no casamento do Tommy, e agora que falou sobre sua família -toco minha testa, desviando meu rosto para as telas de computador, não queria ser pega corando.

—Por que escolheu a política? -pergunto mudando de assunto. -E por favor, não me dê a resposta oficial -ele sorri tão espontaneamente ao escutar meu comentário que preciso me forçar a respirar.

—Não sei se já estive longe disso em algum momento da minha vida -da de ombros se recostando confortavelmente na cadeira. -Eu herdaria a empresa da família de qualquer forma, acho que sempre tive privilégios. Boa educação, saúde e nunca me preocupei com dinheiro.

—Isso é bem sincero! -debocho.

—Você pediu a resposta verdadeira -justifica, mas não estava nem um pouco incomodado. -Quando completei dezenove anos conheci um garoto que tinha a mesma idade da Thea, mas parecia ter vivido muito mais do que qualquer pessoa ao meu redor. Tommy e eu bebemos muito e acabamos sendo levados para a delegacia, não me peça detalhes, sinceramente eu só me lembro que envolvia um guarda -se apressa a justificar ao perceber minha expressão. -Nós estávamos errados, não era dificil chegar a essa conclusão, mas saímos de lá com um pedido de desculpas. Ainda me recordo do olhar do Capitão Lance. Era como ter desapontado meu próprio pai.

—É como se isso ainda o incomodasse -o observo perdido em suas próprias memorias, seus olhos vagando sem foco.

—Mas incomoda -ele sorri com tristeza. -Nós fomos soltos de imediato, sem nenhuma ocorrência, mas aquele garoto era tratado como um pedaço de lixo pelos policiais que o pegaram, parecia completamente indefeso. Ele era só uma criança, entende?

—Sabe o que aconteceu com ele? -Oliver pega o celular em seu bolso e mexe nele por alguns segundos antes de virar a tela me mostrando a foto de um homem bonito em um terno preto, com aqueles pontos que os guardas costumam usar no ouvido, ao lado de sua irmã que sorria o olhando de esguelha. -Roy Harper, ele é guarda-costas e namorado da minha irmã.

—Isso de namorar guardas deve ser de família -solto sem pensar, agradecendo a Deus ou Darwin por ele estar ocupado demais observando a fotografia com o olhar transbordado de carinho.

—O que disse? -questiona, guardando o aparelho e voltando sua atenção novamente para mim.

—Parece ter crescido bem, apesar de tudo -improviso.

—É um bom garoto, só precisava de alguém para se apoiar -da de ombros.

—Então ele te fez escolher a política?

—Não exatamente, Roy me fez perceber que eu tinha poder em mãos e que existiam pessoas que precisavam desse tipo de poder, só para sobreviver mais um dia.

—Foi uma escolha consciente -comento.

—Está desapontada, Smoak? -brinca e eu nego com um aceno.

—É um grande trabalho -não consigo me parar, antes de parecer uma adolescente completamente boba pelo cara mais popular da escola.

—Por que uma empresa de segurança? -devolve a pergunta. -Por que uma técnica em TI, um cientista forense e uma jornalista investigativa?

—Não sou muito boa em falar de mim mesma -choramingo escondendo meu rosto entre as mãos.

—Percebi isso -ele pega as minhas mãos com as suas as abaixando, mas não as solta. Passamos alguns segundos observando nossas mãos juntas, as minhas poderiam ser cobertas completamente pelas dele, era algo quase bonito.

—Quando estava na faculdade, minha mãe foi mandada embora de uma empresa por denunciar seu chefe -meu coração ainda se aperta, não importa o tempo que passe. -Depois disso ela nunca mais encontrou trabalho em sua área, e passou a servir mesas para me sustentar. Seu nome foi queimado para sempre e ninguém quis depor a seu favor, não existia uma prova se quer que a ajudasse.

—Qual foi a denúncia?

—Assedio... -minha voz vai perdendo a força. -Como você mesmo disse, algumas pessoas possuem poder. Outras que não nascem com esse poder, precisam contar com a sorte e boa vontade dos que possuem. Então nós simplesmente decidimos fazer o que podíamos com o poder que nós mesmos nos esforçamos para conquistar. Iris é muito melhor que um agente da CIA quando se trata de conseguir informações, eu posso encontrar qualquer coisa que esteja na internet e Barry como forense, pode ir mais fundo e impedir que a vitima precise se portar como uma ré no tribunal -suspiro orgulhosa. -Só preciso contratar um advogado! Isso diminuiria pela metade todas a horas extras que andamos fazendo...

—Você é impressionante, Felicity Smoak -diz me olhando com tanta seriedade que comecei a cogitar se ele poderia ter visão de raio x. Não havia percebido que estávamos inclinados um na direção do outro, nossos joelhos se tocando.

—Bom, você não é dos piores também -brinco lançando meu cabelo para trás. -Confesso que não tinha certeza do meu voto, mas posso declarar que você o conquistou. Gosto do seu estilo Robin Hood! -Oliver sorri de lado, antes de parecer um tanto confuso.

—Como assim não tinha certeza? -se inclina em minha direção inconscientemente. -Estamos noivos a meses e você ainda pretendia votar em outro candidato? -sua voz baixa faz todos os cabelos do meu corpo se arrepiarem, posso sentir sua respiração quente em minha face me fazendo engolir em seco.

“Ele é gay!” começo a recitar mentalmente meu mantra.

“Ele é gay...” mas por que então não se afasta?

“Ele é gay?” o cara está claramente encarando meus lábios.

“Ele...” vai me beijar?

Estávamos a poucos centímetros, não sabia ao certo se deveria me afastar ou permanecer parada. Os olhos azuis de Oliver não deixavam meu rosto, como se estudasse minha reação a proximidade. Nos encaramos por alguns segundos que pareceram horas, dias. Ele desvia seus olhos para meus lábios e sinto que meu coração poderia facilmente saltar da minha garganta. Ele é gay, o que infernos eu estou fazendo?

—Felicity... -sussurra meu nome e posso sentir sua mão afastando uma pequena mexa de cabelo em meu rosto, o que me leva a fechar os olhos, isso não deveria parecer tão certo. Seu calor era real agora, estávamos prestes a nos tocar...

—Eu consegui! -Iris entra correndo com Barry a seguindo. Oliver e eu nos afastamos de imediato, olhando em direções opostas. -O que está acontecendo? -nos observa desconfiada.

—O que? -ecoo sua pergunta e Oliver se levanta.

—Bom, agora que tem companhia eu posso ir sem ficar preocupado -diz sorrindo para meus amigos. -Nos vemos na sexta?

—Claro, na sexta -sorrio amarelo, o vendo sair em seguida.

—Nós atrapalhamos algo? -Iris soava confusa.

—Nós não, você e sua gritaria -Barry passa por ela, se jogando na mesa ao meu lado. -Depois eu que sou o sem noção!

Não consegui pregar meus olhos a noite, só preciso dormir e recarregar minhas baterias, mas acho que seria mais fácil invadir o sistema de segurança da Coreia do Norte, a pegar no sono. Após passar algumas horas virando de um lado a outro na cama resolvo procurar consolo na internet e talvez recuperar o pouco de sanidade que conseguir manter ao decorrer da minha vida.

Digito o nome do Oliver no Google e várias imagem do meu falso noivo em comícios e eventos públicos aparecem na tela. Tento “Oliver e namorada”, pronto, dezenas de vídeos dele sendo escoltado por John Diggle surgem, mas agora existiam meia dúzia de fotos minhas, quando começava a me iludir um vídeo me chama a atenção.

“Diver x Olicity”

—Quanto tempo livre essas pessoas devem ter? -murmuro dando play.

Para minha completa humilhação, tudo começa com o vídeo do avião. Mas estava editado de forma que nós parecíamos um casal quase normal e meu chilique poderia ser facilmente confundido com um leve mal estar. No final ele me carregava pelo aeroporto lotado, como o ápice de um filme romântico, quando dei por mim já estava suspirando feito trouxa. Algumas fotos nossas entrando no casamento do Tommy Merlyn e andando juntos pela festa, era mesmo uma imagem doce, é fácil acreditar que estamos apaixonados.

—Uau, Thea é realmente boa em seu trabalho!

Então meu mundinho cor de rosa foi a baixo. Diggle me deu uma surra nos primeiros trinta segundos de sua parte do vídeo. Os dois saiam da prefeitura com imensos sorrisos, se entreolhando quando ninguém estava por perto. A minha parte favorita foi quando John segurou o guarda-chuvas para Oliver que carregava uma bela garotinha negra nos braços, era como ver a imagem de uma família perfeita. Não, eu nunca tiraria isso de alguém, os dois merecem ser felizes.

—Cai na real Felicity!

Fecho o notebook de qualquer jeito e me jogo na cama, com raiva de ter cogitado que Oliver estivesse realmente atraído por mim, mais raiva ainda por pensar como uma pessoa do tempo das cavernas que imagina que sexualidade pode ser mudada. Ah, eu deveria me envergonhar!

PRIMEIRA CONFISSÃO

Escutava a contagem final dos votos em meio a toda a equipe de campanha, família e amigos. Thea sorria mais a cada estado que era anunciado, Tommy não estava nem um pouco interessado, mas como Laurel estava lá, ele simplesmente não se opôs e ficou sentado ao lado da esposa, cochilando como um bebê. Mas a única pessoa que me preocupava era Felicity, que estava ao lado de John, encarando as próprias mãos como uma criança que foi pega fazendo arte.

—Só falta Gotham para ser oficial! -Thea saltita, completamente alheia a onde realmente estava meu foco. -Ollie, nós vamos ganhar!

E nós ganhamos. Todo o gabinete explodiu em comemorações e aplausos, Tommy acordou assustado e saiu abraçando Laurel que sorria. Abraço Thea e Roy, antes de caminhar em direção a Felicity, que dá um passo para trás, deixando John a sua frente. Aquilo pareceu estranho, mas estava feliz demais para procurar qualquer significado oculto. Simplesmente abracei meu amigo, que me deu tapinhas nas costas e me voltei novamente em sua direção.

—Não vai me parabenizar? -brinco parando a sua frente com os braços abertos. Ela sorri sem graça e olha de soslaio para Diggle, que falava distraidamente ao telefone sem se quer percebê-la.

—Acha que devemos? -sussurra olhando para os lados, me deixando ainda mais confuso.

—Por que não deveríamos?

Desisto de tentar entende-la e faço logo o que estava com vontade. Aperto meus braços ao seu redor, sentindo seu cheiro doce. Felicity parece tensa a princípio, mas posso sentir sua resistência cedendo e logo suas mãos estão em minhas costas, permanecemos assim por algum tempo, até que Thea aparece para me lembrar das entrevistas.

—Pode me esperar aqui? -sussurro em seu ouvido antes de me afastar apenas o necessário para conseguir ver seu rosto. -Volto para você assim que terminar. -Felicity assente com um pequeno sorriso, então a solto a contra gosto e sigo Thea, para o pequeno palanque que improvisaram.

—Ou você é o melhor ator do mundo, ou está mesmo apaixonado por sua noiva -sussurra Speed, enquanto caminhávamos juntos em meio a multidão.

—Nunca soube atuar, em toda a minha vida! -pisco para ela, antes de parar em frente ao microfone.

PRIMEIRA DESCOBERTA

Oliver discursava como só quem nasceu para isso pode fazer. Ele é o tipo de pessoa que nos faz crer que a humanidade tem salvação. Ao meu lado, John parecia pensar o mesmo, seu sorriso cheio de orgulho não poderia ser maior. Assim como os de seus amigos, até mesmo o Merlyn que a poucos minutos estava no mundo dos sonhos, comemorava com sincera alegria. Fico feliz por ele ter tantas pessoas que o amam ao seu redor, dessa forma faz parecer que não vai ter diferença quando nossa farsa acabar.

—Me desculpa Jonny, minha mãe só chegou agora com a Sarinha -uma voz feminina chama minha atenção.

Uma mulher bonita de cabelos curtos e traços elegantes, entregava uma garotinha negra para John Diggle. A mesma garotinha do vídeo. Ela era ainda mais adorável de perto, a vejo esconder o rosto sorrindo enquanto John a beijava, mas o que me deixa perplexa é que no instante seguinte ele se inclina na direção da mulher bonita e lhe dá um beijo carinhoso nos lábios. Verifico rapidamente o palanque, mas Oliver havia começado a responder os jornalistas e felizmente não viu aquilo.

—Não tem problema, Sweet -ele responde a mulher, então parece se lembrar da minha existência, logo eu que encarava os três de boca aberta. -Essa é a Felicity Smoak! -diz me indicando com um gesto. -Felicity, essa é Lyla Michaellson, e essa aqui é a Sarinha -acrescenta com voz infantil, enquanto balançava o bebe em seus braços.

—Uau, eu queria mesmo conhecer a mulher que tem rivalizado com meu marido! -brinca me fazendo engasgar. -Ela é linda, Jonny! Areia demais para o caminhãozinho do Ollie!

—Ei, e eu? -rebate Diggle indignado. -Não sou demais para ele?

—Ma... Marido? -meus olhos devem estar se mantendo dentro das orbitas por puro milagre. -Vocês são... -sou incapaz de formular uma frase se quer.

—Casados? -Lyla sugere e eu confirmo com um aceno. -Sim, duas vezes! -eles riem de alguma piada interna.

—Ela pensa que pode fugir de mim!

Os dois estavam se divertindo tanto com meu desespero que mal podiam disfarçar. John passa um dos braços pelos ombros da esposa como se me permitisse assimilar calmamente a imagem de sua família feliz. Não sei quando Oliver terminou, mas ele aparece ao lado de Lyla, que se solta de John e o abraça de forma fraternal, sussurrando algo em seu ouvido que faz Oliver me olhar dando risada. Depois pega a garotinha dos braços de John.

—Sarinha, o que nós vamos fazer com essa garota que acredita em tudo o que lê na internet? -brinca, virando a garotinha sorridente em minha direção, a vejo estender os bracinhos e por puro instinto a pego. Perplexa demais para entender o que raios estava acontecendo ali.

—Parabéns Oliver!

Oliver tinha um de seus braços ao meu redor, enquanto apertava a mão das pessoas que se aproximavam. Sara começa a se recostar em meu ombro e quando percebo o bebê já estava dormindo.

—Se um dia precisar de emprego, eu contrato! -escuto Lyla dizer em tom divertido. -É a primeira vez que a vejo adormecer em um lugar onde Oliver e Tommy estão.

—Me desculpa, devo ter parecido grosseira ao pensar que seu marido...

—Não tem problema -me interrompe rindo e se inclinando para pegar a criança em meus braços. -Para dizer a verdade é bom que pensem que ele não tem interesse em mulheres, se é que você me entende.

—Acho que entendo -nós rimos com cumplicidade uma para a outra, e mesmo querendo dar um soco no estomago do Queen, não posso negar que a fama tem suas vantagens.

Na volta para casa, permaneço em silencio dentro do carro, ele por outro lado tinha um sorriso arrogante nos lábios enquanto dirigia. Paramos em frente ao meu prédio, e me viro para dizer tchau, quando ele cai na gargalhada, se dobrando sobre o volante.

—Foi divertido, Queen? -questiono seca. Oliver conserta a postura no mesmo instante, e tenta controlar o riso, o que leva alguns segundos. -Tem ideia da confusão que deixou minha cabeça nesses meses?

—Meses? -se vira em minha direção. -Você pensava mesmo que eu era gay desde o começo? -soa perplexo. -Mesmo depois daquele dia na sua empresa? -balanço minha cabeça confirmando e ele volta a gargalhar. -Nós quase nos beijamos, por que eu faria isso se gostasse de homens? -escondo meu rosto com as mãos. -Uau! Isso quase feriu meu orgulho.

—Posso ferir outra parte se quiser -meu tom seco acaba com qualquer resquício de divertimento que ele tinha.

—Vamos falar sobre isso -suspira.

—É o mínimo! -esbravejo. -Como? Quer dizer, todos aqueles vídeos e vocês se olhando... -minha cabeça latejava.

—Por que não me perguntou? -agora ele estava falando sério, o vejo soltando seu cinto de segurança e se virando para me olhar com mais atenção. Começo a pensar em quando essa história surgiu, e no que ele fez para alimentá-la. A verdade é que aquilo foram todas conclusões as quais cheguei sem nenhuma ajuda, o riso dele até se torna justificável...

—Não queria ser indelicada -murmuro envergonhada, desviando meus olhos dos dele.

—Bem que achei estranho quando concordou tão rápido em assinar o contrato -comenta pensativo.

—Eu queria ajudar, vocês pareciam de verdade ser um casal -começo.

—Muito nobre da sua parte -rebate quase sarcástico.

 -Tudo bem, eu criei toda uma história onde ajudava duas pessoas incompreendidas a encontrar o amor. Confesso! -disparo sem nem respirar. -Mas não fiz por reconhecimento, eu simplesmente não suporto preconceito, qual o problema de duas pessoas se amarem? Isso não deveria ser motivo para ganhar ou perder uma eleição. Na minha cabeça estava te dando uma forma de suportar por mais algum tempo, um meio de tornar esse mundo melhor...

Meu discurso é interrompido pela mão de Oliver acariciando minha bochecha. Fico olhando confusa, quando ele solta meu cinto de segurança e me puxa gentilmente para a frente.  Estávamos novamente a menos de dez centímetros um do outro, seus olhos como de um predador em meus lábios, tão obviamente mal intencionado que não tenho ideia de como consegui encontrar justificativa para isso antes.

—Você me odeia? -sussurra estudando meu rosto com cuidado.

—Por que? -minha voz soa tão baixa quanto a dele.

—Por ter feito você pensar...

—Você acabou de dizer que eu poderia ter perguntado -o lembro e um pequeno sorriso brinca em seus lábios.

—Acho que posso entender isso como um não -conclui e espera por um segundo, como não me movo ele cobre a distancia que faltava e sinto seus lábios nos meus.

Era um beijo quase que de desculpas, calmo e carinhoso. Sua mão acariciava minha face com tanto cuidado que no fim, eu mal me lembrava do motivo de seu arrependimento. Nos afastamos e ele passa a beijar meu rosto, bochecha, testa e queixo, então estava novamente nos meus lábios. Bem menos gentil agora e talvez eu tenha alguma culpa nisso, tudo o que andei reprimindo por todos esses meses explodiu de uma vez, de alguma forma já estava em seu colo, com o banco inclinado para trás, suas mãos sob minha blusa, quentes contra a pele das minhas costas, no fundo da minha mente, minha consciência tentava me parar, mas para minha surpresa Oliver foi quem conseguiu recuperar o controle primeiro.

—Acho que se não pararmos agora, vamos acabar sendo enquadrados por atentado ao pudor -sussurra com os lábios nos meus, e aproveito para saltar de seu colo enquanto ainda mandava nos meus próprios membros.

—Você definitivamente não é gay -penso alto, enquanto abotoava novamente minha blusa e a colocava para dentro da calça.

—Não -ele fazia o mesmo.

—Então como ninguém nunca o viu com nenhuma garota? -não estava controlando minha própria curiosidade. Oliver me observa, como se procurasse pela melhor forma de explicar aquilo.

—Sou bom em não ser pego -dá de ombros diante da minha clara insatisfação. -As pessoas gostam de fantasiar Felicity, elas só veem o que querem ver. Você mesma não percebeu que eu estava apaixonado, justificou até onde conseguiu que não era a pessoa com quem eu queria estar -sorri de lado estendendo uma mão para acariciar meu rosto. -Eu gosto de verdade de você, desde que começou a tagarelar feito louca no avião...

—Ei! -interrompo ofendida, o fazendo dar risada. -Não tem que me chamar de louca, eu estava passando por uma crise!

—Claro, claro -concorda de imediato, o que não me dá satisfação nenhuma. -Escutou a parte onde eu disse que estou completamente apaixonado por você?

—Claro, claro -remendo revirando os olhos. -Espera! -só então me dou conta. -Você acabou de dizer que...

—Eu te amo, Felicity Smoak.

—Oliver, nós estamos namorando por contrato -balbucio confusa. -Não é real...

—Todo mundo precisa começar de alguma forma -rebate segurando minhas mãos com as suas. -Se isso não é real, não sei mais o que pode ser. -ele leva minha mão a seu peito, e posso sentir seu coração acelerado. Apenas nos encaramos por alguns instantes, eu precisava absorver o que estava acontecendo. -Não posso decidir por você, não sei se sente o mesmo que eu, mas mal consigo te deixar aqui hoje e ir para minha casa sozinho.

—Oliver...

—Eu fico olhando para meu celular durante o dia, no meio de reuniões e momentos onde você deveria ser o ultimo dos meus pensamentos, ainda assim eu te espero, espero que me mande qualquer mensagem boba, me contando se está cansada ou se seu café não estava doce o bastante. Eu conto os dias para nossos encontros e quando não conseguimos nos ver, me pego inventando desculpas para aparecer no seu trabalho, ou conseguir qualquer coisa que nos obrigue a aparecer em público juntos. Eu gosto de você, realmente gosto de você.

—Mas e o contrato? -nem eu sei por que estava me prendendo a isso.

—Bom, podemos termina-lo ou não -dá de ombros se recostando em seu banco. -Felicity, ele não tinha nenhuma data limite, nem clausulas que nos impedem de tornar o relacionamento falso em real, aliás, nem mesmo o termo “falso” é citado, Laurel foi bastante cuidadosa no caso de alguém conseguir vazar o documento -se vira me encarando com clara repreensão. -Você praticamente assinou um pré-nupcial -balança a cabeça com reprovação.

—Hey! Você me fez assinar! -me defendo, bem no fundo da minha mente me recordo da Cecile a namorada do Joe dizendo algo parecido, que o contrato parecia ser apenas uma formalidade para manter o sigilo sobre nosso relacionamento, precisando da aprovação de ambos para qualquer comunicado público. Agora até mesmo a fama de gay dele faz mais sentido... -Uau!

—Por que está me encarando?

—Você finalmente faz sentido, Queen -tento não sorrir, mas sua expressão inocente acaba com todo meu esforço. -Realmente, nasceu para ser um político!

—Foi isso o que te disse quando me perguntou, a politica nunca esteve distante em toda a minha vida -ele era a imagem da inocência, quase consigo enxergar a auréola sobre sua cabeça.

—E agora, o que nós fazemos?

—Eu quero ficar com você, essa é a minha escolha -responde completamente sério. -Agora é sua vez de decidir, vou fazer o que você quiser.

O CONTRATO 2.0

No que seria nosso primeiro dia dos namorados juntos, sem precisar encenar ou garantir testemunhas, me vejo obrigado a cancelar as reservas para jantar, planos já feitos ou qualquer romance que tivesse em mente. Segundo Felicity, nós precisamos esclarecer algumas coisas primeiro. Sabe lá Deus o significado disso.

Quando chego na Helix por volta as dezenove horas, vejo Barry e Iris se empurrando para passar pela porta estreita. Eles discutiam tanto que só se dão conta da minha presença quando estou bem diante de seus olhos.

—Oliver, a quanto tempo -cumprimenta Barry com um sorriso cordial nos lábios.

—Bom te ver, Allen -devolvo o mesmo sorriso. -Como vai Iris?

—Poderia estar melhor -responde fuzilando Barry com os olhos.

Felicity me avisou inúmeras vezes para não entrar no meio da briga deles, então sorrio como se estivesse entendendo o que acontecia por ali e passo pelos dois sem atrapalhar a discussão que retomavam. Ao entrar no escritório vejo Felicity sentada ao fundo, em uma mesa redonda que normalmente era usada para comer. A frente de seu acento havia uma folha em branco e uma caneta, onde eu deveria me sentar.

—Por que? -semicerro meus olhos para a folha, antes de me inclinar e lhe dar um beijo rápido nos lábios. -Precisamos mesmo fazer isso?

—Você disse que faria o que eu quisesse, Queen -rebate com o sorriso mais encantador que já vi na vida estampado em seu rosto.

—Só de te olhar agora, sinto que deveria chamar minha advogada -sorrio de lado. -Só por precaução.

—Vamos começar, por que quero comer sushi em casa! -ignora minha provocação com maestria, agora só consigo me imaginar enroscado no sofá com ela, assistindo qualquer coisa na televisão.

Seguro a caneta e escrevo ao mesmo tempo que ela o que me é ditado, apenas coisas básicas que introduziam o contrato. Felicity parecia satisfeita, que é como ela normalmente fica ao conseguir qualquer coisa que deseja. Todas as vezes em que meu nome era referido como parte B, seu rosto quase se partia com o sorriso enorme que surgia nele.

—Clausula primeira, ambas as partes se comprometem em manter contato com a maior frequência possível -começa.

—Mesmo se não for possível devemos arranjar tempo, nem que seja para uma mensagem -acrescento e a vejo concordar com um aceno enquanto escrevia. -Quando nós brigarmos o responsável pela briga deve entrar em contato com o outro em no máximo doze horas.

—Mas como vamos saber quem está errado? -levanta os olhos para me observar. -Eu sempre penso que estou certa -sua sinceridade me faz dar risada.

—Tiramos na sorte? -sugiro.

—Claro, vamos nos encontrar e tirar pedra, papel e tesoura -ironiza, mas escreve mesmo assim a sugestão. -Você cozinha, eu lavo.

—Obrigado -concordo sem objeções. A comida dela quase me assassinou a alguns dias. -Sempre que estiver em algum caso perigoso quero que me avise!

—Mas eu não posso falar sobre meus clientes... -começa a protestar.

—Não precisa me dar detalhes, só não pode correr perigo sem que eu saiba -meu tom não dava espaço para protestos. -Isso vale para os dois lados -amenizo. -Vamos nos apoiar nos bons e maus momentos.

—Isso está começando a parecer com votos de casamento -solta, então seu rosto fica purpura e finjo não ter escutado apenas para não a constranger ainda mais. -No mínimo um encontro por mês?

—Por encontro você quer dizer sair para comer e essas coisas? -a ideia de a ver só uma vez a cada trinta dias chega a fazer minha cabeça latejar.

—Claro, acho que isso vai ser útil daqui a alguns anos -reproduz o que na cabeça dela deve ser uma risada maligna, mas estava mais para um coelhinho fofo do que um gênio do crime.

—Só tem uma coisa que eu quero colocar nesse contrato, o resto você pode decidir -começo e a vejo balançar a cabeça concordando. -Quero ser seu contato de emergência, a primeira pessoa para quem contará todas as notícias boas ou ruins, quem vai te dar colo quando precisar de consolo ou mimo. E quando estiver com muita raiva e precisar desabafar, ou até mesmo descontar em alguém, eu quero ser essa pessoa.

—Isso vale para os dois? -questiona com a voz baixinha e confirmo com um aceno.

Me levanto e dou a volta na mesa para me ajoelhar em sua frente e pego do meu bolso o anel que era da minha mãe. Felicity tinha lágrimas em seus olhos e diante do meu olhar de questionamento ela assente um sim. Coloco o anel no seu dedo e a puxo comigo, selando nossos lábios no processo. Nosso contrato falso que se tornou verdadeiro, que foi o principio da nossa história, agora se tornou uma garantia para preservar nossos dias juntos.


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Notas finais do capítulo

Se chegaram até aqui, muito obrigada!
Não esquçam de dizer o que acharam, isso significa muito.
Feliz dia dos namorados pessoainhas, longe ou perto de quem amam. Afinal a internet deu jeito em quase tudo ;)
Fiquem em casa se puderem, se cuidem sempre.
Bjnhos!



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