What if? escrita por Bianca Rogers


Capítulo 7
Blindspot


Notas iniciais do capítulo

Demorei mas voltei!


Como de costume:

Música do capítulo: https://open.spotify.com/track/7JSVxBojCIgFUBMhTlCz3R?si=Wj90q7j8RL-awM8YlG1rZw

Playlist da história: https://open.spotify.com/playlist/7dD4sxl82HbG94FR6yzY65?si=9WUMQ8bWTj6LdwRptF0ZXw

Boa leitura! E Olie, Manoela; muitíssimo obrigada por todo carinho em cada comentário. Cada uma de suas palavras me anima ainda mais para o desfecho dessa jornada.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/791563/chapter/7

— Os rapazes não estão aqui, então o quarto de hóspedes está livre… Não vai precisa lidar com os meus pesadelos te acordando essa noite.



Após o jantar repleto de carícias e flertes de ambas as partes, ela resolveu arriscar o comentário. Ainda podia sentir seus braços envoltos em seu corpo e o ar lhe faltava os pulmões sempre que arriscava encarar-lhe aos olhos. Mesmo após a refeição, podia sentir o gosto de seu beijo provocando sua boca.



— Não precisa ir para o quarto de hóspedes. - Ao terminar de ajudá-la com a louça, ele puxou-a novamente para seus braços. Era difícil manter o foco e a sanidade quando estavam assim tão próximos. — Durma comigo hoje, Jane…



Surpresa, ela não soube o que lhe responder. Estaria ele insinuando algo além de deitar-se para dormir? 



Não saberia dizer. 



Tudo parecia finalmente dançar conforme a música imaginária que insistia em soar por sua mente. uma melodia suave que faziam suar pernas flutuarem sobre as nuvens debaixo de seus pés. Ali em seus braços, pela primeira vez em meses ela finalmente sentia-se em casa. 



— Kurt Weller, o diretor-assistente do FBI, está me pedindo para dormir de conchinha? — Um pouco irônica, não pode deixar de sorrir ao rodear seu pescoço, contente sobre a forma como seus braços pareciam encaixar-se perfeitamente um no outro.



Mesmo sabendo de todas as circunstâncias que a mantinham ali, sentia-se segura em seu calor.



— Se eu disser que sim, você dirá o mesmo?



— Talvez...



Quando ele a ergueu em seus braços em meio a seus protestos carregando-a para o quarto, sua risada ecoou por cada metro quadrado daquele apartamento e parecia inundar seu peito com aquela sensação que havia partido juntamente a ela. 



Era incrível como apenas algumas horas sozinhos foram o suficiente para que ambos se fizessem derrubar todos os muros que haviam criado dentro de si, e deixassem que aquela sensação entrasse novamente em suas vidas.



Felicidade. Esse era o sentimento. 



Mal sabiam que essa emoção estava prestes a acabar.



Ele riu quando sentiu seus leves tapas sobre suas costas ao pedir que a colocasse sobre o chão, mas seu riso fora interrompido pelo toque incessante de seu telefone vindo da sala de estar. — Droga, Patterson… sempre na hora certa.



Relutante e em meio a protestos, estava prestes a caminhar até o cômodo ao lado quando parou meio caminho andado. O toque cessou-se assim que todo ambiente entrou em total escuridão. 




— Estamos sem energia? - Sem entender, Jane já estava de pé novamente.



— Talvez… o prédio tem um gerador antigo, pode ter queimado.



Um forte barulho foi ouvido ao longe. Alguma coisa estava acontecendo.



Ela acompanhou até a entrada do imóvel e tomou seu celular em mãos para iluminar a caixa de luz próxima a estante, bem ao tempo que o aparelho começara a vibrar.



— Número desconhecido... — Cada vez mais confusa, notou quando sua sombra desapareceu de seu lado pelo corredor. O som vindo ao fundo indicava outra ligação vinda para ele. — Alô?



— Jane é o Keaton, saiam do apartamento agora! Ouve…



De repente, ela o ouvir gritar por seu nome em meio a escuridão. Sem entender, tentou procurar por respostas em seu olhar meio a penumbra que se fazia, mas não fora  rápida o suficiente.



 Houve o barulho de um tiro. E outro grito, mais abafado.



Passos ecoavam pelo corredor ao lado de fora e flashes de luzes invadiam a pequena fresta por baixo da porta. Quando deu-se por si, algo havia se projetado sobre ela e Jane estava ao chão.

 


 

Eles a encontraram. Novamente.



 

Podia ouvir os outros moradores assustados correndo para fora de seus apartamentos enquanto a madeira que fazia barreira contra a movimentação, cada vez mais frágil, parecia tender ao chão. 



Estavam cercados ali dentro.



— Kurt?



Só quando tentou se levantar, notou o homem imóvel ao seu lado. Tudo parecia um terrível pesadelo.



Tentando ao máximo forçar sua visão a acostumar-se com o escuro, tateou sua volta a fim de localizar algo para iluminar seu caminho. Mas nada. Seu celular parecia ter caído longe de seu corpo e a única coisa que conseguiu encontrar com a ponta de seus dedos era o líquido que havia se derramado com sua queda e formava uma pequena poça sobre o chão. Provavelmente algum vaso de flores que havia se quebrado.



Flores… o layout do apartamento que se formou em sua mente não identificou nenhum vaso que pudesse ser derrubado. Talvez o vinho em cima da mesa… mas o cheiro que inundou suas narinas não era adocicado e convidativo.



Era mais forte. Enjoativo, e deixaram uma sensação de quentura em seu pulmão.





Sangue. E não era seu.

 



— Kurt! 



Sentindo o desespero tomar conta de si, voltou suas mãos para o local anterior e identificou a origem daquela umidade. 

 



Ele. 

 



Kurt havia se jogado sobre ela e agora estava sangrando. 



O tiro. 



Teria o acertado?



— Jane… 



— Kurt! Você está bem? Precisamos sair daqui… eles vão entrar aqui logo, precisamos de ajuda…



 O cofre… 59420. Pegue a arma e se proteja.



A pequena e fraca luz feita pela lua iluminava a varanda e o canto da sala, permitindo que seus olhos identificassem o objeto indicado por ele. Sem saber o que fazer, ela o arrastou para próximo do sofá. A iluminação não era favorável para que pudesse utilizar a senha com clareza, mas conseguira abri-lo há tempo antes que a porta fosse completamente destruída e sua guarda estivesse desprotegida.



Com a arma em mãos, voltou para seu lado e o entregou a pistola reserva. A partir dali, tudo aconteceu rápido demais.



A energia do prédio havia sido cortada, mas luz vermelha de emergência do corredor agora invadia o ambiente e lhe permitia enxergar vagamente o quão pior do que imaginava era a situação.



Estavam em desvantagem. Pareciam oito contra dois, se pudesse contar com a mira de Kurt.



Bombas de gás rolaram pelo chão antes de explodir, e teve de esforçar-se para proteger sua respiração. Ouvia sua tosse atrás de si.



— Vou chamar a atenção deles. Você tenta sair pelo corredor.



Tiros.

 

 

 Um, dois, três.




— Não vou deixá-lo aqui.



Quatro, cinco, e um sexto certeiro na vidraça já rachada pelo tiro anterior, que se despedaçou ao seu lado.



— Jane…



— Eu não vou deixá-lo aqui!



Subitamente, projetou-se para cima e golpeou a figura próxima a barreira que havia feito com o móvel. Mais tiros. Dessa vez, deferidos por ele. 




Podia ouvir os passos e o calor dos corpos se aproximando de si. O homem aos seus pés precisando de cuidados médicos serviu de foco e força extra para agir. Sabia que ele tinha suas costas dando a proteção necessária, e arriscou. 



Uma granada fora jogada ao chão e precisou cobrir os ouvidos para que seja tímpanos não se estourassem. Tentou enxergá-lo e ver se havia feito o mesmo, mas os sons agudos pareciam bagunçar seus sentidos. Sua mente processava as informações com mais dificuldade do que gostaria.

 

 

 Ela estava cega pela escuridão e surda pelo nervosismo.

 

 

Traída pela falta do que ver, sentiu um golpe certeiro em seu estômago que a fez cambalear e deixar que a arma caísse ao chão.



“Há um lugar em sua mente que ninguém pode ir. Um lugar que pertence só a você.”




 Não se daria por vencida. Iria lutar até o último minuto.




“A dor é apenas um sonho.”




Um por um, arduamente eles os derrubaram. Tiros, socos e objetos eram lançados às cegas, e seu corpo já latejava de dor quando tudo pareceu finalmente se silenciar.




As lanternas jogadas ao chão faziam sombras sobre a névoa formada pelo gás, e nada mais parecia vir em sua direção. Normalmente, isso seria um bom sinal. 



Mas a ausência de uma figura específica ao pé do sofá fez seu coração gritar ao peito. 



Pegando uma das armas e luminárias caídas, ela se aproximou com receio. Mentalmente, fez questão de contabilizar os homens que estavam caídos ao longo do ambiente destruído.



Os corpos contabilizaram sete. Pelo que soube dizer, com ela e Kurt havia nove pessoas naquele apartamento.





Então onde estão os dois homens?





Cautelosamente, pegou o celular jogado próximo a cozinha e discou o primeiro número que viera à mente. O reforço já deveria estar a caminho, mas não poderia esperar. Se ele realmente havia se ferido como imaginava, não teria ido muito longe. 



Alguns toques foram necessários até que a voz familiar da agente Patterson soasse do outro lado da minha, no exato momento em que ela ouviu ruídos vindo do quarto. Algo caindo e seu gemido abafado. Com arma e lanterna empunhadas para frente, ela seguiu em direção ao cômodo. — Weller? 




 — Nem mais um passo.



“Merda.”



Ali, bem à sua frente, iluminados pela luz da lua; Os dois últimos homens em pé.



— Largue a arma! - ela gritou, mesmo ciente de sua desvantagem.



Com mãos presos para trás e arma apontada para si, Kurt parecia prestes a desmoronar a qualquer instante. Embora precária, a iluminação era suficiente para que pudesse ver a mancha de sangue que se formou na altura da barriga em sua camisa azul. Ele havia sido baleado.



— Eu vou matá-lo! Arma no chão!



— Não vai querer fazer isso. Mate-o e eu farei o mesmo com você em seguida… — tentou argumentar, arrependendo-se amargamente quando o viu aproximar-se ainda mais, fazendo com que se contorcesse de dor o homem que há poucos a tinha em seus braços.



— Arma no chão!



Mas ela não podia. Sabia que se baixasse a guarda, ambos estariam mortos. Por sua culpa. 



Esses homens entraram ali com um único objetivo, e foram capazes de derrubar qualquer obstáculo para pegá-la.



 

Agora ele estava ferido. E seria morto por ela.

 



— Jane? — sua voz era fraca e ofegante, rasgando a escuridão direto em seu peito. — Não dê ouvidos a ele! 



 Largue a arma ou eu faço outro buraco no corpo dele! Agora!



“Como sabia que eu conseguiria acertar o tiro?”



“Eu não sabia. Testei a sorte em você.”



 Jane...



O pequeno feixe de luz momentaneamente trazido pela lua fora o suficiente para iluminar seu olhar, permitindo o contato visual. Intenso e certeiro ao seu, Jane o conhecia suficientemente bem para saber o que aquilo significava.





 Aquela era sua deixa.





Então ela atirou, sem hesitar.





Tudo estava escuro e silencioso. O barulho do tiro pareceu desnortear seus ouvidos por milésimos de segundos.



— Kurt? — Assustada, chamou por seu nome tentando avistá-lo na penumbra que se formou a sua frente . 



— Aqui, eu estou bem… 



Surgindo pela sombra em sua direção, ele cambaleou até que o peso de seu corpo fosse maior do que suas forças. 

 

— Kurt!









Algumas horas depois...








Se perguntassem à ela como achava que seu dia iniciaria, Jane jamais seria capaz de imaginá-lo tão amargamente como acontecera. 



Não passava das 8h da manhã e já sentia-se exausta, talvez pela abstinência de descanso. 



Suas roupas ainda cheiravam a sangue quando chegou no escritório acompanhada pelos seguranças. O resto do time havia retornado às pressas após o ocorrido, e estavam prontos para recebê-la de braços abertos. E assim o fizeram.



Sentia-se derrotada, frustrada; perdida. Estava acontecendo novamente. Pessoas estava se ferindo por causa dela.



Como ele está?



A voz de Patterson despertou-a durante o abraço, e sentiu um tremor percorrer seu corpo ao tentar formular uma resposta.



“Kurt, fique comigo, ok? A ajuda já está chegando, fique comigo.”



— Ele está bem. - lágrimas brotaram em seus olhos ao relembrar o medo que sentiu ao ter seu corpo tão frágil e gélido em seus braços. —  O tiro não acertou nenhum órgão vital e fraturou uma das costelas na queda, mas ele ficará bem.



“Eu achei que pudesse protegê-la…”



— Viemos assim que soubemos. Não tivemos sorte na Califórnia. Mas… - dando-lhe um momento para racionar, Tasha aproximou-se da amiga e a entregou o tablet de suas mãos. — Temos um plano. 



— Arriscado, mas um plano. 

 

 

— Apenas me diga.

 

 

Em silêncio, os acompanhou até o laboratório. Para alguém que sequer fosse uma agente, sua presença já era mais do que comum ao local. 

 

 

O time a explicou o principal, e Rich estava certo desde o início. Era um plano arriscado.

 

 

Uma droga seria injetada em seu corpo, fazendo com que seu coração batesse tão fracamente quanto se realmente estivesse morta. Levariam seu "corpo" até o local de encontro, e uma vez comprovado seu falecimento e a recompensa estivesse fora do ar, eles agiriam e a resgatariam. Assim. Preto no branco.  



— Vamos colocar você em uma mala e só aplicar a injeção pouco antes de entrarmos, assim teremos tempo suficiente até os 30 minutos máximos do efeito. É arriscado e pode dar muito errado se qualquer passo for dado fora do planejado. — Sabendo dos riscos, Reade mantinha a frente atento ao pequenos detalhes. 



— Dias atrás me atingiram no ombro, e há algumas horas Kurt foi acertado para me proteger de um tiro que com certeza teria tirado minha vida. - Ela engoliu a culpa. — Dois ataques. Não podemos deixar que o terceiro aconteça. Não temos outra opção.

 

 

— Se formos mesmo fazer isso, precisaremos de uma ajuda extra. Não podemos arriscar que nenhum de nós faça a entrega e seja reconhecido.

 

 

— Eu vou! - Como sempre, mais animado do que deveria, Rich se voluntariou.

 

 

— Ex-hacker da darkweb e você espera não ser reconhecido?! - ironizou a loira.



E estava certa. Todos ali seriam de longe identificáveis, e não se daria a chance de ter seus amigos correndo o risco sem que estivesse apta a defendê-los.



— Clem. Ele pode ajudar nisso.



— Desculpe, Jane, mas não acho que seja uma boa ideia. - todos concordaram com o moreno. Envolver outro civil em mais uma investigação federal estava fora de cogitação.



— Ele é capaz disso, acredite. Nós… fizemos alguns trabalhos de S&R juntos



— S&R? — confuso, o mais recente membro do time sussurrou à ex-policial, que respondera em audível tom.



— Sequestros e resgates. Achei que tinha dito mal conhecer esse cara.



— E mal conheço. Olha, a vida na Califórnia não era exatamente a mais emocionante. Eu tenho todas essas habilidades, e de que são úteis se não usadas? Ele pode fazer isso sem ser reconhecido. 



— Weller não vai gostar nenhum pouco disso…



— Ele não precisa saber. Nesse momento, tudo que o Kurt precisa é de um pouco de paz. Podemos colocar um fim nisso de uma vez por todas sem ninguém se machucar.



Embora cientes de que as coisas poderiam dar extremamente erradas, concordaram em seguir a programação. 

 

 

Patterson e Reade ficaram responsáveis por marcar o encontro; Zapata organizou um time reserva para possíveis emergências: Reade arranjou a van e a mala para utilizarem. E "Olívia" ligou para o amigo.



Fora mais fácil do que esperava.



Minutos depois, o homem já estava na sala de reuniões ouvindo o plano insano que haviam feito. Para isso, precisaram revelar sua verdadeira identidade. Jane Doe, ex-agente do FBI e atual procurada pelos melhores assassinos em troca de uma recompensa nada modesta.




— Eu preciso entrar, entregar o corpo e esperar por vocês. Tudo em menos de 30 minutos.



— Exatamente. Estaremos ao lado de fora e será rápido. Não precisará de armas ou nada do tipo.



— Tudo bem. Estou pronto.



“Tudo bem?” ela pensou. Podiam chamá-la de paranóica, mas não havia notado qualquer sinal de surpresa por sua parte. Quase como se já esperasse por algo do tipo.



Resolveu arriscar alguma dúvida, notando que os colegas também estranharam sua concordância com tudo o que fora ouvido, mas não. Nada. Ele estava pronto.




— Certo… não temos muito tempo. Conseguimos marcar o encontro para aqui uma hora, tempo suficiente para organizarmos o que falta. Jane, eu vou perguntar novamente - cautelosamente, Reade mediu suas palavras. — Você tem certeza de que quer fazer isso? Podemos achar outra forma e…

 

— Absoluta. - decidida, não permitiu que terminasse seu discurso.



Não deixaria que mais ninguém se ferisse por ela. Mesmo que seus instintos a mantivessem alerta.



— Bom, então vamos nessa.



Aflita com os possíveis caminhos que o plano poderia levar, fora a primeira a se retirar da sala. Sua mente ainda parecia atribulada e confusa pelo tanto de acontecimentos passados no início da madrugada. Não havia voltado para o apartamento depois que o deixará no hospital, mas tinha plena certeza de que o local deveria estar destruído. A culpa era inexplicável. 

 

 

Recordava-se vividamente do desespero em sua voz quando tentou convencê-la a escapar pelo corredor. A forma como mesmo no escuro, sabia que seus olhos se conectavam aos seus em um diálogo que nenhuma palavra seria capaz de descrever. Mesmo em meio a tempestade, ela se sentia segura por tê-lo ao seu lado. 

 

 

O que não daria para ter isso naquele momento? Seu abraço apertado, o beijo que compartilharam momentos antes da invasão… todas as coisas das quais havia se privado por meses, agora sendo arrancadas de suas mãos novamente.

 

 

Não era justo. Com nenhum deles.

 

 

E por isso precisavam que esse plano desse certo. Ela precisava. Por ele.



Atordoada, respirou fundo para conter a adrenalina e observou quando o elevador se abriu. 



 

Ele.



 

O homem pálido e visivelmente cansado que saiu de dentro fez seu coração saltar para fora da boca. 




— Kurt?! O que você está fazendo aqui?



Ele não deveria estar ali.  Deveria estar no hospital descansando!



 O que eu estou fazendo aqui? - olhando diretamente em seus olhos, levantou uma das mãos e apontou para cima de seus ombros. — O que ele está fazendo aqui?! 



“Droga. Não agora.”

 

Estava tão distraída em pensamentos que mal notará quando o resto do time se juntara a ela prontos para sairem. 



— Nós…Temos um plano. Para acabar com isso tudo de uma vez. Clem vai ajudar. 



— Esse plano por acaso envolve vocês agirem pelas minhas costas achando que eu não saberia? Quem vocês acham que autoriza o uso do helicóptero?!



— Kurt…



— Quem vai me explicar o que diabos está acontecendo aqui?





Barreiras. As velhas e cinzentas barreiras estavam de volta.




Protetivamente, sabia que era a hora de calar-se. Aquela não era sua área. Da última vez que o vira, estava deitado em uma cama de hospital se recuperando de um atentado sofrido para protegê-la. E agora, ela estava agindo pelas suas costas com a desculpa barata de que estava fazendo o mesmo por ele.

 

 

O protegendo.

 

 

Sabia que era um pensamento falho.

 

 

Haviam passado por momentos difíceis nas últimas horas, e sabia que Kurt sentia-se traído não apenas por ela, mas por todo seu time agindo clandestinamente.



 

E sem que soubesse, ele se aborreceu com seu silêncio.

 

 

Já pensava na possibilidade de que Patterson seguiria com o plano comentado no dia anterior, e estava ciente de que o mesmo poderia ser executado enquanto estivesse fora. Isso não lhe agradou, mas estava disposto a aceitar.



Até saber de sua presença. Aquilo sim o aborreceu.



Seu corpo estaria vulnerável dentro de uma mala novamente, e ele é quem deveria estar ali para protegê-la.



Se algo desse errado e precisassem agir às pressas, ele quem deveria acordá-la e situá-la dos perigos. 



Kurt. Não aquele homem desconhecido que tão pouco sabia sobre sua Jane.




— O que acontece se errarmos e não injetarmos o antídoto a tempo?



Repassando o plano, o time tentou amenizar ao máximo a situação e os riscos, sabendo que o diretor-assistente refutaria o plano sobre qualquer  brecha de vulnerabilidade de sucesso.




— O coração da Jane vai parar de vez. - sem qualquer sinal de emoção ou cautela, seu convidado indesejado aprontousse em responder.



— Isso é loucura! Não vamos injetar algo experimental no sangue dela e torcer para que dê certo?! Precisamos de algo seguro. E se essa injeção não funcionar? Ou o comprador atrasar? O tempo é muito curto!



— Nós sabemos disso. - aflita, William tentou acalmar os ânimos do amigo. O suor se formava em sua testa e era notório seu estado. Ele não estava psicologicamente bem para aquilo. — Mas não temos algo seguro, e enquanto esses caras estiverem por aí, duvido que teremos muitas opções. Precisamos tentar isso.



— Ela está certa, Kurt. - Pela primeira vez em minutos sua voz fora ouvida. 




Baixa, incerta e falha. 




— Isso é arriscado e pode dar muito errado se qualquer coisa ocorrer fora do planejado.



— Quanto tempo acha que nos resta para ficar arriscando a sorte? — Levou seu olhar para ela. Suas palavras eram certeiras; diretas, e sabia reconhecer seus sinais: estava destemida àquilo. — Eu não estou segura aqui, e enquanto isso tudo não acabar, vocês também não estarão. Eles sabem que estou aqui, Kurt, e virão atrás de nós novamente. Precisamos fazer isso e precisamos fazer agora!



— Jane, espera…



Sem dar-lhe tempo para constatações, ela tomou a seringa da mesa e injetou em sua própria perna. Ele a encarou surpreso. Sua teimosia e determinação ainda o causavam arrepios.

 

 

Não restou segundos até que seu corpo sucumbisse aos efeitos da toxina e perdesse seu equilíbrio; ignorando a dor que sentira sobre o ferimento recente, mais do que prontamente Kurt a segurou em seus braços.




Precisavam agir e tinha de ser agora.




 

“Sabem de quem é a mala? Senhora, sabe de quem é esta mala? Com licença, é sua?!”




A partir dali, tudo pareceu correr devagar demais para seu gosto.

 



“Nenhum sinal de radiação. Iniciando inspeção manual. Nenhuma anomalia externamente. Ok. Vou procurar por fios para analisarmos melhor com o que estamos lidando.”





Estavam ficando sem tempo.



O cronômetro em seu celular já marcava dezessete minutos a menos desde sua saída, e a angústia dentro de si crescia a cada passada de segundo. Sentia que algo não estava certo.



“Tem algo dentro!”




Ele quem deveria estar ali carregando aquela mala.



O silêncio era perturbador dentro da van, mas muito mais do que isso, o barulho em sua mente e a tensão em seu corpo parecia sufocá-lo. 



Pelas câmeras minuciosamente posicionadas, podiam observar seu caminhar. Até mesmo os passos do homem pareciam devagar demais para seus olhos.



O helicóptero havia demorado mais do que o esperado para chegar até o local marcado, e mesmo assim, o comprador estava atrasado.



“Não se preocupe, eu cuido dela foi o que lhe dissera quando o automóvel o deixou próximo ao local do encontro. Não soube explicar a aflição e a dor que consumiram seu peito quando repousou seu corpo dentro daquela bolsa, dando uma última olhada em seus traço antes de fechar aquele maldito zíper.

 

 

5 centímetros. Essa foi a pequena abertura que ele deixou para que o ar fresco não tivesse chance de tornar-se escasso para seus pulmões.  



Doze minutos e vinte e oito segundos restantes.




— Ele entrou em contato?



— Não. 



— Tem algo errado aqui. Mantenham os olhos bem abertos.




O local era um armazém abandonado ao norte afastado do centro, próximo a antiga linha de trem. Escolha do negociador. 



O time se mantinha há alguns metros em uma van disfarçada, aproveitando a sobre de uma árvore. Mais metros do que Kurt esperava. Precisaram de um táxi para despistar qualquer possibilidade de vigilância.

 

 

Não haviam casas ou comércios próximos. O lugar perfeito para esse tipo de negócios.



Uma câmera escondida em suas roupas poderia ser arriscado caso passasse por alguma inspeção, então optaram por uma minúscula escuta presa ao interior da mala.



Tudo estava silencioso demais.

 

 

Nenhum sinal de que alguém estivera no local nos últimos dias, e talvez anos. 



“Desculpe pela demora, meus homens gostam de checar bem as informações de um negócio.”



O relógio não parava de girar, e já se aproximava dos vinte e dois minutos quando dois carros estacionaram ao lado de fora do local e homens armados desceram em seguida, escoltando uma figura morena para dentro.



Alerta.



“Um homem de negócios aprecia sua precaução. Mas esperar não é o meu forte.”



Ele notou a calma presente na voz de Clem, e pressionou o maxilar por isso. Não havia sobra de tempo para conversa fiada.



“Vejo que temos um profissional por aqui.”



Ouvia-se o som mala sendo arrastada por alguns metros até ser colocada frouxamente sobre algo. Imagina-la exposta e fragilizada naquela situação estava torturando Kurt.



O zíper foi aberto e um riso soou. “É realmente ela. Uma pena, imagina todas as coisas que poderiam ser feitas com essa mulher viva”.



 Tensão.



Zapata precisou esticar o braço para impedir que ele invadisse o local quando o comentário malicioso foi ouvido.



“Bom, ela está aqui.”



Outro objeto pesado pareceu ser jogado sobre o chão, e pediu mentalmente à Deus para que não fosse Jane. 



“Sim, e o seu dinheiro foi pago. Você está livre para ir”



“O que vai fazer com ela? Como disse, ela poderia fazer muitas coisas viva, mas não creio que será mais útil agora.”



“Oh não será mesmo. Iremos queimá-la bem aqui. Sugiro que deixe o local antes disso, ouvi dizer que churrasco humano tende a ter um cheio desagradável.”

 

 

Queima-la. 



— Ele não vai conseguir injetar o antídoto a tempo.- Sem aviso prévio, Kurt pulou para fora da van e sinalizou para o reforço. 



— Weller espera! Ah que se dane, vamos! Movam-se!






Vinte e oito minutos.





Ignorando a dor aguda que atingira seu corpo, correu para dentro do prédio armado. Imediatamente tiros foram disparados em sua direção. Eles revidaram.



Reade e Zapata entraram em seguida e se esconderam atrás de uma das pilastras ao lado da sua.




“Vou chamar a atenção deles até aqui e você tenta sair pelo corredor.”



“Não vou deixá-lo aqui.”



“Jane…”



“Eu não vou deixá-lo aqui!”




Ela não iria morrer ali. Ele não deixaria isso acontecer.




— Me deem cobertura, ela está nos fundos.



Sinalizando visualmente, ele correu entre os tiros. O relógio em seu pulso o alertava sobre os poucos segundos restantes até que seu esforço fosse em vão. 



O homem em seu caminho fora derrubado antes mesmo que alcançasse a arma em sua cintura, e o caminho estava livre até a mala jogada sobre uma velha mesa aos fundos.



Ela estava jogada.



Não havia tempo suficiente para reabrir o zíper. Arrancando a tampa com os dentes, Kurt espetou a seringa sobre o tecido da mala o mais fundo possível e rezou para não acertar nenhuma parte vulnerável de seu corpo. 

 

Então esperou.

 

Por segundos, que pareciam minutos. Ele esperou por ela.

 

Checou novamente seu pulso, atordoado por aquela angústia. Tudo parecia tão barulhento e confuso para ele.



— Weller!



Sentindo seus pelos arrepiados, despertou de seu transe. Virou-se a tempo para o homem em sua direção. 

 

 

Um tiro direto no peito.



Todos ao chão. 

 

Silêncio.

 

 

Estão todos bem?

 

 

Os agentes imobilizavam alguns homens ao canto e notou quando o entregador da mala saiu de seu esconderijo atrás de algumas madeiras quebradas.

 

 

Reade e Tasha sinalizaram com um aceno.

 

 

Todos estavam bem. 






Todos… mas e Jane?

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Nos veremos logo logo.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "What if?" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.