What if? escrita por Bianca Rogers


Capítulo 8
Oceans


Notas iniciais do capítulo

Sábadamos!

Antes do capítulo, um pequeno aviso:

Algumas pessoas podem se sentir desconfortáveis lendo textos +18, então para evitar qualquer constrangimento desnecessário, deixei uma das falas de Kurt negrito para que caso um de vocês prefira, pare de ler enquanto ainda há tempo.

Oh yes... finalmente aconteceu.

Música do capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=RpdXBjwXbMg&frags=pl%2Cwn

Playlist What If? completa:https://open.spotify.com/playlist/7dD4sxl82HbG94FR6yzY65?si=imsw9K5xSL2H4ldPb1zykQ

Boa leitura :)



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Tudo parecia estar em completo silêncio ao seu redor quando encarou a bagagem a sua frente. A seringa caída sobre o chão havia se quebrado, mas nenhum líquido sequer restara no recipiente.

 

 Se o antídoto realmente funcionasse como lhe disseram, ela já deveria ter se mexido.

 

Algo estava errado

 

Pelo comunicador, era possível ouvir Rich e Patterson lhe dando algum tipo de explicação sobre o que poderia estar acontecendo, mas não conseguia entendê-los. Sua mente estava em completo êxtase.

 

Com as mãos trêmulas, ele ousou puxar o zíper e aumentar aquela fresta que havia deixado para o ar. Os 5 cm logo se tornaram 10, 15, até que toda mala estivesse aberta e pudesse enxergá-la por inteira.

 

Sua Jane estava ali. Inconsciente.

 

Desesperado, a pegou em seus braços como se fosse o objeto mais frágil deste mundo. O ferimento na altura de seu abdômen ardeu pelo esforço extra, e ao grunhir de dor, pode ouvir seu nome soar de algum lugar daquele armazém agora habitado; Mas ele não se importou com nada disso.

 

A única coisa em que conseguia podia pensar no momento era nela.

 

Ela era sua prioridade.

 

Sua pele estava mais fria do que se recordara e a palidez parecia iniciar sua aparição. Ele precisava fazer alguma coisa e rápido se quisesse ter aqueles olhos verdes sobre os seus novamente.

 

Assopre.

 

Quando o resto do time se aproximou, Kurt já havia se debruçado por cima de seu corpo. Suas mãos formavam uma concha sobre seu peito e a respiração boca a boca era feita habilmente e com urgência.

 

Um, dois, três, quatro. Assopre.

 

— Kurt nós precisamos levá-la para um hospital!

 

Um, dois, três, quatro. Assopre.

 

— Weller!

 

Um, dois, três, quatro. Assopre.

 

 

A voz de Patterson invadia sua mente muito além de seus gritos sobre o transmissor em seu ouvido. Há 2 anos atrás, ela havia ministrado uma série de testes para saber os limites daquela desconhecida mulher que apareceu com seu nome tatuado às costas.

 

Ele se lembrava vividamente do ocorrido, pois estava lá a observando. Fez questão de participar e monitorar cada um deles. Queria entender e conhecer cada vez mais sobre o misterioso quebra cabeça que surgira em suas vidas.

 

 

“Jane Doe consegue prender sua respiração enquanto se mantém em atividade debaixo d'água por mais de 4 minutos.”

 

 

— Quantos minutos já se passaram? – ele perguntou, ignorando as advertências dos amigos.

 

 

Um, dois, três, quatro. Assopre.

 

 

 

— 3 minutos e 27 segundos.

 

 

Um, dois três, quarto.

 

Assopre.

 

Nada.

 

 

— O socorro já está a caminho…

 

 

Limites.

 

 

4 minuto e 7 segundos já haviam se passado quando cansado, empurrou o ar uma última vez sobre seus lábios gélidos.

 

Ela havia chegado em seu limite.

 

 

Assustado, tentou acordá-la chamando por seu nome. Até arriscou segurar uma de suas mãos na esperança de que o calor de seu contato lhe causasse algum tipo de alerta. Mas Jane sequer se moveu, piscou, ou esboçou alguma reação.

 

Um completo silêncio tomou conta do ambiente. Ninguém ousou sequer um passo adiante.

 

Teriam todos seus esforços sido em vão?

 

 

Em sua mente, a ideia de que nada disso deveria ter acontecido era o que o assombrava. Não devia ter permitido aquilo; deviam ter testado o antídoto antes. Ela não devia ter se arriscado, e ele não devia ter a deixado em outras mãos… Deviam ter sido mais rápidos.

 

 

“Você me assustou demais. Quando aquela porta fechou e eu ouvi os tiros, achei que eles…”

 

“Jane, eles não fizeram nada, certo? Eu estou bem.”

 

“Então fale com Mayfair.”

 

“Você nunca para, não é?”

 

“Eu acho que não.”

 

 

E ele estava certo. Jane nunca parava.

 

Ela não hesitava. Sempre estava um passo à sua frente. Enquanto pensavam em um plano, Jane já estava agindo, confiando e sabendo que teriam suas costas. Ela se provou leal desde seu primeiro dia, quando nem mesmo sabiam do que era capaz.

 

Jane nunca pararia.

 

Quando lágrimas se formaram em seus olhos e já estava prestes a desistir, ele sentiu seus dedos se moverem sobre os seus. Inicialmente, achou que estivesse delirando; que sua mente estivesse lhe pregando uma peça de muito mau gosto.

 

Até acontecer novamente.

 

— Jane?

 

Fazendo um esforço incomum, seu peito subia e descia em um ritmo descompassado, puxando o ar minimamente.

Ela estava viva.

 

 

 

 

Quando tomou-a em seus braços novamente e a ergueu do chão, Kurt não soube explicar o medo sufocante que surgiu em seu peito. O temor e a angústia da quase perda o tornaram incapaz até mesmo de deixar que a colocassem sobre a maca da ambulância quando o socorro tardiamente chegou.

 

Não sabia o que havia acontecido, mas de uma coisa tinha certeza: não iria deixar seu lado novamente. 

 

Ela permaneceria em seu aconchego até o último instante.

 

 

 

“Como conheceu seu parceiro e qual foi sua primeira impressão?”

 

— Nós nos conhecemos enquanto estávamos na mesma de interrogação. Minha primeira impressão… eu estava aterrorizada.

 

Verdade.

 

“Próxima pergunta. Qual foi a melhor coisa que eu parceiro já fez, e qual foi a pior?”

 

— Eu costumava criar barreiras. De alguma forma, ela deu um jeito de atravessá-las. A pior coisa, é a mesma resposta.

 

Verdade.

 

 

“Última pergunta. Por que você escolheu trabalhar com seu parceiro? E por que ele escolheu trabalhar com você?"

 

— Eu escolhi trabalhar com meu parceiro porque ele era honesto; leal. E eu o confiaria minha vida. Quanto a ele, não escolheu trabalhar comigo. Ele foi forçado.

 

Verdade.

 

 

Um segundo a mais foi o que bastou para que seu coração fosse de batimentos mínimos para insuficientes.

 

Momentaneamente, ela esteve morta.  Ele tomou ciência disso quando os médicos a arrancaram de seus braços às pressas dias atrás.

 

Sim, dias atrás.

 

— Ainda não sabemos ao certo os danos que a baixa oxigenação possa ter gerado em seu cérebro, mas até o momento, todos os nossos testes tiveram bons resultados. Ela ficará bem.

 

— Mas o que aconteceu? Por que está levando tanto tempo para ela acordar?

 

— Tempo, assistente-diretor Weller. Pelo que me disseram, vocês dois passaram por um alto nível de adrenalina nos últimos dias. Seu time não soube me informar o histórico médico da Srta. Doe, mas seu corpo foi seu prontuário. Ela passou por muito estresse nos últimos meses. Nesse momento, precisamos respeitar seu tempo e deixar que seu corpo desperte quando estiver pronto.

 

 

Tempo.

 

 

Com Jane, Kurt aprendera o verdadeiro significado de desespero.

 

Sentiu-se desesperado quando a Sandstorm mandou Markus até sua casa-segura anos atrás, e ela quase foi morta. Há alguns meses, o sentimento veio à tona novamente quando, depois de darem um basta à organização criminosa, ela simplesmente desapareceu de sua vida. Não saber onde estava, com quem estava, como estava...

 

Era cômico ao seu ver como a vida ousava testar seus limites quando o assunto era relacionado à ela.

 

"Cômicamente frustrante, para ser mais exato." Ele pensou.

 

Sempre que pareciam chegar ao fim dos problemas, o universo conspirava contra si e o jogava para longe da linha de chegada.

 

Agora, mesmo sabendo onde ela estava, sentia-se exatamente da mesma forma. De volta à estaca zero.

 

Desesperado.

 

 

— Nunca fui forçado a trabalhar com você.

 

— Desculpe?

 

— Mais cedo no polígrafo, disse que fui forçado a trabalhar com você.

 

— Nunca se recusou a me deixar no campo diversas vezes?

 

— Não soa como algo que eu faria.

 

— Bom, não foi o que eu quis dizer. Só estamos aqui porque a Shepherd quis.

 

— Talvez. Tudo bem. Estamos fazendo muitas coisas boas. Salvando diversas vidas.

 

— É.

 

— E…

 

— O quê?

 

— Tudo isso. Me levou até você. E você até mim…

 

 

 

 ...Isso é algo que eu jamais iria desfazer.

 

 

...

 

 

Ele não estava lá quando ela acordou. Um telefonema urgente o obrigara a largar o sofá ao lado de sua cama. Há noites estava dormindo naquele pequeno e desconfortável móvel, onde também passava a maior parte de seus dia.

 

Não que precisasse, já que seu apartamento havia sido devida e rapidamente limpo após o tiroteio inesperado.

 

Mas o lugar parecia vazio demais sem ela.

 

Não aceitou que ninguém tomasse seu posto, nem mesmo por algumas horas. Os amigos tentaram convencê-lo a revezar turnos;  até mesmo Clem aparecera, levando algumas flores das quais Kurt fez questão de se livrar na primeira oportunidade que tivera.

 

Ninguém o tiraria dali.

 

Era esse pensamento que o consumia quando, prestes a render-se ao sono naquela almofada desconfortável, seu telefone o despertou. Nas. Imediatamente, ele atendeu.

 

— Você estava certo. Há algo de errado com Clem.

 

Desespero.

 

 

 

— Onde estamos com o plano?

 

— Onde deveríamos estar. Eles me contaram tudo. Até agora, nenhum deles suspeitam de que estamos trabalhando juntos.

 

— O veneno funcionou?

 

— Exatamente como deveria, consegui injetar  assim que chegamos no galpão. Ela está no hospital há alguns dias. Weller sequer me deixou chegar perto dela.

 

— Perfeito. Está quase na hora do grande passo. Em breve, minha irmã receberá um grande presente…

 

Aos fundos, Clem ouvia os sinos badalarem incessantemente quando encerrou aquela ligação.

 

 

 

Fotos.

 

Uma quantidade considerável de imagens dentro de um envelope era o que carregava debaixo de seu braço quando adentrou aquele hospital novamente no dia seguinte.

 

Atordoado com as últimas informações recebidas, sequer lembrou de carregar o celular no escritório. Tudo o que queria era voltar para aquele quarto e ficar ao seu lado. Sentar à beirada da cama, segurar sua mão e torcer para que logo abrisse seus olhos e aquela imensidão esverdeada o engolisse novamente. Tinha tanto o que lhe contar...

 

Mas ela não estava lá quando ele chegou. O ambiente todo estava vazio, com se nunca ninguém estivesse instalado naquele cubículo hospitalar de cor mórbida.

 

Teria errado de quarto? "317". Não. Aquele era o certo.

 

Uma enfermeira terminava de fazer os últimos ajustes no lençol quando, confuso, ele bateu os dedos sobre a porta entreaberta.

 

Tal ato assustou a senhora de cabelos grisalhos.

 

— Desculpe… onde está a mulher internada nesse quarto?

 

— Oh, a senhorita com as tatuagens… Dollie, Donny…

 

— Doe. Jane Doe.

 

— Isso! Ela não está mais aqui.

 

—  O quê? Para onde a levaram?

 

— Eu não sei. O senhor deveria perguntar ao médico responsável por essa ala. Dr. Stephan… Stevan talvez, não sou boa com nomes.

 

“Não, não é.”

 

 

Tentando manter a calma, pegou o aparelho eletrônico de seu bolso apenas para constar a falta de bateria.

 

Eles a levaram dali.

 

Desesperado, procurou pelo tal doutor às vistas sobre o corredor. Nada. Honestamente, seus olhos pareciam não reconhecer nenhuma das figuras que passavam em sua frente.

 

Com o celular em mãos, cruzou o corredor em direção a saída pronto para procurar o telefone público mais próximo. Patterson, Reade, Zapata… nem sequer Rich soube dizer o que havia acontecido.

 

Ele deixou o hospital por apenas algumas horas, com policiais sobre a porta. O que estava acontecendo?

 

— Tem certeza de que esta no hospital certo?

 

— Claro, Patterson! Conseguiu rastrear o celular dela?

 

— Está no seu apartamento. Você deve ter levado de volta, ou ela deixado por lá, eu não sei!

 

 

Ela havia sumido.

Assim como fez meses atrás

 

 

— Ela fez isso novamente, não foi?

 

— Talvez seja um grande mal entendido e ela tenha sido transferida para outro lugar... Até ontem ela estava em coma, como poderia acordar e de uma hora para outra desaparecer?! Kurt, se acalma.

 

 

Calma. Algo que não sabia ter quando se tratava dela.

 

Sem avisar, ele largou o aparelho pêndulo sobre o fio público e correu até seu carro. Condenou-se mentalmente por não ter um cabo conector dentro do veículo.

 

Seu apartamento. Não soube dizer em que exato momento seu corpo o conduziu à isso, mas ao dar-se por si, já estava passando em alguns faróis vermelhos próximos a residência. Não iria viver aquele pesadelo novamente.

 

As chaves se embaralharam e caíram sobre o carpete de entrada quando chegou à porta recém trocada. Suas mãos estavam trêmulas. Precisava manter a calma.

 

Lembrando-se do ferimento recém cicatrizado em seu abdômen, se abaixou para tomar o molho de objetos. A simples ação de  encontrar a chave correta e colocá-la para dentro do buraco da fechadura parecia o pior dos desafios naquele momento. Precisou de mais paciência do que lhe havia até finalmente sentir o clique sobre seus dedos e a porta destrancar. Pronto para projetar seu corpo para dentro do apartamento, congelou ao deparar-se com seu maior devaneio. — Jane?

 

— O zelador me deixou entrar… fizeram um ótimo trabalho aqui. As paredes ficaram novinhas em folha.

 

Lá estava ela.

 

Acordada.

 

Em seu apartamento.

 

Sentada sobre uma das cadeiras do balcão trajando a jaqueta que ele havia esquecido no hospital na noite anterior.

 

Sentiu uma inexplicável vontade de tomá-la em seus braços. Dizer o quão preocupado e assustado ele estava, e que tudo ficaria bem. Tudo já estava bem.

 

A caçada havia chegado ao fim. Em alguns dias, ela estaria livre para ir embora novamente.

 

“Você não me quer aqui eu não quero estar aqui tanto quanto.”

 

Sem que sequer notasse, seus pés se fincaram no chão. De repente, não sentia mais felicidade em seu peito..

 

Sentia temor. Medo. Angústia e ansiedade. Todos os sentimentos que mais temia e tornaram cada vez mais comuns em sua vida por causa dela.

 

Às vezes, se perguntava como alguém poderia ter tanto poder sobre suas emoções. No começo, tentou negar para si mesmo que ela fosse seu ponto cego. Dizia que era passageiro, até que se acostumasse e aprendesse a lidar com sua presença.

 

Mas estava completamente errado. Mesmo quando não estava por perto, a tinha em mente influenciando suas decisões.

 

Havia chegado a essa conclusão no momento em que correu para fora daquela van para salvá-la.

 

Para ele, essa era a pior parte.

 

Era incapaz de levantar seus muros e pensar logicamente quando do outro lado, sabia que ela já estava pronta para derrubá-los.

 

Ultimamente, por incontáveis vezes ele orou pelo momento em que poderia dizer a ela que tudo havia acabado. Agora, as palavras pareciam fugir de sua boca e egoistamente, ele desejava que pudesse adiar aquele árduo instante.

 

“Ela vai embora assim que estiver livre.” sua mente lhe gritava.

 

Mas tudo isso; as mágoas, os medos; inseguranças, receios e temores caíram por terra quando a viu se levantar e correr em sua direção.

 

“Nada disso parece real.”

 

“Jane, você vai ficar bem. Eu Prometo.”

 

“Eu não sei qual é a sensação.”

 

 

Não disse nada, e até mesmo chegou a prender a respiração quando ela se lançou em seus braços. um abraço tão forte quanto da primeira vez, quando ele a deixou na casa segura.

 

Ela parecia tão pequena, frágil, impotente. Odiava vê-la dessa forma.

 

— Você está bem? - Cauteloso, arriscou um diálogo quando o pequeno espaço se formou entre eles. Não queria soltá-la, mas precisava ter certeza de que nenhum dano lhe restava do que aconteceu.

 

— Deveria estar, certo? — cabisbaixa, ela manejou os ombros. — Quero dizer, acabou… Não sei se ainda temos algumas coisas para resolver, mas acabou… e eu deveria estar feliz.

 

— E o que a impede de estar?

 

— Você quase morreu bem aqui, e eu ainda nem sei como mas acordei em um hospital nesta madrugada e descobri que há dias estava em coma, e que se você não estivesse lá eu teria morrido sem ao menos ter a chance de lutar. – sua voz pareceu mais fraca ao responder, e não era pela distância ainda maior que resultará quando ela desviou de seu olhar e se afastou de volta para o sofá. — Desde que cheguei, eu fiquei tão ocupada tentando entender tudo que estava acontecendo, tentando proteger a todos sem me sentir culpada por tudo que nos assombrava novamente, que sequer percebi o quanto sentia falta do perigo que era ser Jane Doe. Isso é loucura… mas eu sentia falta.

 

Surpreso, não soube o que lhe responder. Ela estava aterrorizada. Kurt só havia presenciado tal fato uma única vez.

 

O desespero ao vê-la injetar aquela toxina em seu corpo e a imagem de seu corpo pré-falecido em seus braços era algo que não sairia de sua mente tão facilmente. Jamais imaginou que ela sentia falta daquilo. Falta a adrenalina, do perigo, e da responsabilidade que era ser e estar com Jane Doe.

 

Sabendo que nenhuma de suas palavras serviriam de conforto neste momento, ele largou o envelope sobre a mesa e deu alguns passos à frente, apenas para encurtar a distância entre eles e segurar uma de suas mãos. Tal ação recebeu seu olhar de volta, e ele notou as lágrimas escorrendo por seu rosto.

 

“Eu sinto muito se… de alguma forma isso é minha culpa. Sei o quanto esse caso significa pra você.”

 

“Você nunca foi só um caso pra mim, Jane”

 

— Eu estava com tanto medo. Quando vi que não estava respirando e o antídoto parecia não funcionar… eu achei que tivesse te perdido.

 

— Eu pensei o mesmo quando você caiu nos meus braços bem ali, perto da cozinha. Precisos parar com esse hábito. — ela riu. Um riso singelo; receoso.

 

Ele concordou prontamente, lhe dando o mais sincero e torto sorriso que ela já havia visto. Aquela visão aqueceu seu coração.

 

Era inexplicavelmente bom poder ouvir sua voz novamente e se perder na intensidade que aqueles olhos azuis lhe transmitiam. Jane não saberia explicar a sensação frustrante que sentira ao acordar na penumbra daquele quarto hospitalar e não saber seu paradeiro. Sequer recordava o que havia acontecido. Sua última memória fora desmaiar no meio do laboratório e seus braços a segurarem antes que uma total escuridão lhe viesse à tona.

 

Ele. Como sempre, ele.

 

Quando os médicos a contaram o que aconteceu, demorou a acreditar. Queria que estivesse ao seu lado tornando tudo mais claro. E de certa forma… estava.

 

Sua jaqueta jogada pelo sofá havia exalado seu perfume por todo ambiente, e ela não resistiu em jogar o tecido sobre os ombros na primeira oportunidade que teve. Era como senti-lo a abraçando.

 

Mas não era o suficiente.

 

Precisava de seus braços largos envoltos sobre seu corpo. Precisava sentir sua respiração próxima a seu pescoço lhe causando arrepios por lugares que sequer sabia ser capaz de sentir. Precisava estar envolta por seu calor inconfundível que aquecia muito mais do que sua pele. Aquecia seu coração.

 

Ela se aproximou hesitante.

 

Suas mãos ainda estavam firmes uma na outra, e com a direita livre, tocou seu rosto com as pontas de seus dedos. Gelados, como sempre.

 

Esperou que Kurt recuasse, mas sua reação fora totalmente contrária. Ele direcionou seus olhos diretamente aos dela. Ali Jane soube.

 

A mesma ternura, insegurança, saudade e mágoa que ela carregava em seu peito era transmitida por seu olhar. Ele estava ferido, tanto quanto ela.

 

A recordação de sua última noite juntos era forte em sua mente. O beijo, os abraços, os risos… o convite indireto para que dormissem juntos. Como gostariam de voltar no tempo e viver aquele pequeno momento de felicidade antes da correnteza chegar e os levar de volta para maré brava.

 

Agora, mesmo tão próximos, sentiam como se oceanos estivessem os distanciando.

 

Um oceano que os afogava cada vez mais, e sua única salvação era justamente o que parecia estar preso em uma âncora sobre seus pés.

 

Eles eram a salvação um do outro. E ela estava disposta afundar naquela imensidão se fosse necessário, para que se libertassem daquela arrimo pesado que os puxava cada vez mais para o fundo.

 

— Jane… o que estamos fazendo?

 

Deixou que sua mão desliza-se sobre a barba por-fazer que despontava em seu rosto. Sentiu seu músculos relaxarem com toque e tornou nulo o vão entre seus corpos, incapaz de sequer piscar e correr o risco de perder aquele olhar sobre o seu.

 

— Por meses, eu me senti vazia… sozinha. Eu quase morri. Duas vezes, nas últimas semanas. E tudo que eu conseguia pensar era em você, Kurt...

 

Então ela se inclinou para ele, pressionando seus lábios com toda saudade que sentira em seu peito. Seu coração quase saiu pela boca quando seu polegar roçou em seu rosto e suas mãos desceram para seu pescoço, buscando ainda mais contato. O que até então tratava-se apenas de um simples selo, tornou-se uma guerra de línguas que ela estava convicto de que perderia.

 

Eles queriam um ao outro.

 

Seus dedos passearam toda extensão de seu peito e desabotoou sua camisa. Precisava sentir o calor de sua pele novamente para acreditar que aquilo era real. Que dessa vez, ela não estava sonhando.

 

Kurt a pegou pelas coxas e sorriu quando suas pernas pareceram encaixar perfeitamente em volta de sua cintura enquanto rumava em direção ao quarto. Ela retribiu o gesto contra seus lábios.

 

Imediatamente buscaram o olhar um do outro, e ali, avistaram todo desejo que durante anos reprimiram. Sandstorm, Califórnia… mentiras e segredos. Agora, não havia nada em seu caminho que os impedissem de chegar aonde queriam. 

 

Exceto aquela quantidade desnecessária de tecidos que pareciam sufocá-los. Mas dariam um jeito de se livrar disso também.

 

Ele queria ver e tocar cada uma de suas tatuagens com a ponta de seus dedos. Queria sentir seus delicados traços. Queria ouvir de perto sua voz enquanto o fazia.

 

Deitando seu corpo sobre a cama, Kurt não deu-lhe tempo para nada. Seus lábios fizeram um caminho quente entre sua boca e pescoço enquanto a despia sem pudor. Em segundos, peças de roupas foram arremessadas em qualquer direção do quarto.

 

Peito, abdome, pelve. Ele fez questão de beijar todo seu tronco sem nenhuma pressa. Ela gemeu quando sua boca aproximou-se do fino tecido de sua calcinha. Por um momento, o mundo pareceu parar de girar ao seu redor. Ele esperou tanto tempo por aquele som, que mal acreditará quando o ouvira.

 

Sentiu seus dedos se enroscarem aos fios de seu cabelo e entendeu seu recado. — Não me faça pedir…

 

Aquelas quatro palavras foram suficientes para que todas as suas reservas desaparecessem.

 

Suas mãos subiram pela lateral de seu corpo até alcançarem as barras da última peça que cobria sua pele, agarrando-a e a tirando por suas pernas. Sem perder tempo, seus lábios foram de encontro a sua intimidade e sua língua percorria cada mínimo espaço entre suas dobras, memorizando e sentindo todas as sensações e sabores que aquele momento os proporcionavam.

 

Ela não teria como estar mais entregue a ele. Seus gemidos agora era mais altos, e ela não se preocupava com a marca que suas unhas provavelmente deixavam em sua nuca. Ele era bom naquilo, e mesmo que por diversos momentos houvesse imaginado como seria, nada se comparava com o prazer e a excitação que era finalmente deixar se levar por seus desejos.

 

Mas ela queria mais do que apenas seus beijos. Ela o queria.

 

Sua voz saiu mais rouca do que esperava quando o chamou, fazendo seu olhar se juntar ao dela novamente. Suas pupilas estavam completamente dilatadas e não havia nada ali além de puro desejo e amor. 

 

Quando suas bocas se juntaram novamente em um beijo cada vez mais urgente, ele pressionou o corpo contra o dela. O volume em sua cueca roçava sobre sua pele, deixando-a cada vez mais desejosa pelo que estava por vir.

 

Empurrando seu peito, ela trocou suas poses até que estivesse por cima dele. Queria retribuir o que a fizeram sentir.

 

— Você não precisa…

 

Nem sequer teve tempo de contrariá-la. Suas mãos já haviam se livrado do tecido e agora, ela o tocava sem nenhum receio e resquício de vergonha. Seus olhos adquiriram um tom de verde hipnotizador enquanto o encarava, e Kurt jamais havia a visto desse jeito.

 

Impossível de controlar a si mesmo, apoiou o corpo sobre um dos braços a procura de seus lábios avermelhados. Estava viciado nela.

 

Sua mão passeava por uma de suas coxas em volta de seu quadril e alguns gemidos escapavam de sua garganta quando sentiu que não aguentava mais aquele distância. Precisava estar dentro dela compartilhando aquela sensação.

 

— Jane…

 

Por instantes, tudo entrou em um completo silêncio.  Pareceram incapazes de falar ou mover-se.

 

Ela entendeu imediatamente o que ele queria e arqueou o corpo apenas o suficiente para guia-lo até sua intimidade e deslizou sobre seu membro com mais facilidade do que esperava. Não saberia dizer quem dos dois estava mais excitado e pronto para o outro.

 

Repousou as mãos sobre seus ombros e deixou que seu quadril se movesse sem pressa. Começou devagar, cuidadosa e receosa. Não sabia o limite de seus corpos considerando tudo que haviam passado.

 

Sentiu o pássaro em seu pescoço queimar quando seus lábios sugaram sua sem pudor. Ele não seria o único a sair daquele quarto sem marcas.

 

O aperto que se firmou em sua cintura fora mais do que suficiente para que perdesse todo seu auto-controle. Não se deixaria ser provocada sozinha. Quando a realidade a atingiu, havia ultrapassado todos os limites e já se movia sobre seu colo sem nenhuma precaução. Queria se entregar a ele de corpo e alma, sem medo e arrependimento.

 

— Kurt!

 

Ela gemeu alto seu nome quando a primeira onda de calor que havia reprimido em seus lábios a atingira novamente. Kurt pesou suas mãos sobre seu quadril e a impulsionou para baixo, fazendo-a sentir toda sua extensão dentro dela enquanto conduzia seu ritmo, entrando e saindo tão lentamente quanto os sons que escapavam de sua boca.

 

A resposta viera em seu movimento quando a derrubara sobre a cama. Queria mostrar a ela que estava perfeitamente bem para aquilo. — Você me enlouquece falado meu nome desse jeito...

 

O sentimento era mútuo. Era incapaz de explicar o quanto ele a enlouquecia a cada vez que impulsionava seu corpo contra o dela e preenchia toda sua intimidade de prazer.

 

Já podia sentir o quão tenso estava quando inclinou-se e juntou seus lábios aos dele. Sabia que não iriam aguentar muito tempo e ambos estavam desprotegidos. Parte de si queria parar enquanto ainda havia tempo; mas a outra parte consumida por pura luxúria e desejo, falara mais alto. Egoistamente, ela o queria, cada pedacinho de si dentro dela.

 

— Jane…

 

— Não pare.

 

 

E ele não parou até sentir o êxtase consumir seus corpos e ambos se perderem em uma única explosão.

 

Naquela noite, nada mais importava além da vontade de saciarem o desejo um do outro.

 

O que ele fizeram.

 

Dentro daquele quarto, Kurt e Jane sorriram, choraram, se beijaram e se amaram quantas vezes foram possíveis até sucumbirem ao cansaço e adormecerem nos braços um do outro.

 

Amanhã… eles saberiam o quão longe a maré havia os levado.

 

 


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Notas finais do capítulo

Mais alguém com o coração quentinho?



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