What if? escrita por Bianca Rogers


Capítulo 6
Someone you loved


Notas iniciais do capítulo

And we are here again!

Antes de tudo, quero lembra-los de que o enredo retratado durante a historia não passa de ficção. Ou sejas das coisas retratadas não aconteceriam exatamente desta forma na vida real.


Manoela Castle, muito obrigada pela recomendação! Me deu muita inspiração para terminar esse capitulo e desenvolver o próximo. Fico extremamente feliz que estejam gostando! E esse capitulo é todo seu.

Música do capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=zABLecsR5UE

Playlist completa: https://open.spotify.com/playlist/7dD4sxl82HbG94FR6yzY65?si=imsw9K5xSL2H4ldPb1zykQ

Boa leitura!



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Nesta noite, ela dormira melhor do que esperava.



Levantando um pouco mais cedo, conseguiu fazer sua corrida novamente. E dessa vez, não houveram reclamações. Lembrou-se de manter o celular por perto e não desviar sua rota. 



O dia mal havia amanhecido quando já estavam todos de pé. Zapata, Edgar e Rich embarcariam para Califórnia um pouco antes do almoço.



 Isso vai ser incrível, guys, só nós três, um clima ensolarado, lindas praias, pessoas mais linda ainda… — Falando sem parar, Rich parecia ser o mais animado no ambiente. O clima não era exatamente o melhor para se viver desde que voltaram para o apartamento ontem a noite. 



Quando chegaram, Weller fora direto para o quarto, sequer saindo para o jantar. Jane cogitou dividir o espaço da sala com os amigos, mas criou coragem para bater na porta e dormir ao seu lado novamente. Sem abraços durante o sono.



Zapata e Patterson nada mais disseram. Sabiam que precisavam de tempo e espaço para refletirem sobre tudo que ouviram, e satisfeitas, acreditavam ter feito a coisa certa



Reade como de costume, era o mais sossegado do time. Não concordou com essa invasão de privacidade das agentes, mas não as contrariou. Já estava na hora de aliviarem as coisas.



E Rich… sempre Rich. 



— ...Jane, você acha que os californianos são mais bonitos que os nova iorquinos? - Estendendo a faca cheia de pasta de amendoim em sua direção, tagarelava sem parar.  — Não minta.



— Eu não sou a pessoa mais qualificada pra te responder isso…  



— Ah, qual é! Vai me dizer que o senhor embaixada foi o único garanhão que deu em cima de você em 6 meses? Não mordo essa isca.



— Rich… - Tentando evitar algum desconforto, a loira chamou sua atenção com o olhar



— O que?! Eu sou curioso. Ela era uma gostosa morando sozinha em uma cidade nova. Os caras deve ter caído aos pés delas. — Respondeu inocentemente, notando um olhar nada amigável em resposta pelo anfitrião da casa.



— Não fique muito empolgado pela Califórnia, ponto&virgula. Não é como se fosse ter tempo para paquerar comigo e o Reade no seu pé. - Aproveitando a deixa para zombar o rapaz, Tasha roubou seu sanduíche em provocação, recebendo um arremesso de geleia em sua direção. Não precisa ser um gênio para saber que sua pontaria fora extremamente falha e acabou por acertar Kurt.



— Oh, merda. Desculpa, Desculpa.



Seu rosto se tencionou em um olhar assassino quando devolverá a mira e acertara o hacker com o resto da guloseima do pote, e aquilo fez Jane rir muito mais do que deveria. 



Consequentemente, todos riram. Ela era contagiante.



Esse era o ponto de partida que precisavam para começar o dia com mais leveza, e ela gostava dos momentos juntos sem a pressão do trabalho duro.



Com planos e documentações falsas impecavelmente prontas, algumas horas depois e os agentes já haviam decolado em direção às costa oeste. Estavam otimistas sobre a missão.



Após a confirmação do embarque seguro, os que sobraram seguiram para o escritório.



O trabalho continuava.




Tentando achar conexões com o endereço de IP que acharam, Patterson passou a maior parte de seu dia como de costume: em frente às grandes telas com um copo de café sustentando se estômago.



Já para diretor assistente, o dia seguiu repleto de reuniões e relatórios do que tem acontecido nos últimos dias. Suas conexões e pseudos envolvimentos com os fatos passados ainda o assombravam, vindo a tona em qualquer oportunidade que tinham de questionar suas escolhas e ações. Era seu fardo.



Não era surpresa que tudo se reergueria contra si novamente diante do ocorrido a sua ex-agente, e estava preparado para lidar com a situação de forma amena, levantando o mínimo de poeira possível.



Por falar em ex-agente, as coisas não estavam pra lá de calmas por aqui. Tinha uma consulta marcada com a nova psicóloga e um retorno médico do qual estava ansiosa. Tentaria ao máximo convencê-los de que estava pronta para retirar os curativo e acompanhar o time e campo se necessário. Porém, assim que chegara, fora surpreendida pela Diretora Hirst. O FBI jamais deixaria que andasse por aí livremente quando outro amigo seu parecia estar envolvido em algum tipo de atividade criminosa. Era fato, e já esperava por isso.



— Não será nada demais, e creio que já está acostumada com isso. Não durará mais do que alguns minutos. - ela dizia, enquanto cruzavam corredor adentro para sala de interrogatórios. “Polígrafo, ótimo.” — Só precisamos ter certeza de que nossas intuições estão certas sobre tudo que tem acontecido, especialmente após a aparição tão repentina deste rapaz. Não quero que haja espaço para dúvidas que podem te levar à algum constrangimento, Jane.

 

— Precisam ter certeza se podem confiar em mim, você quis dizer. - a corrigiu, recebendo nada mais do que um devido aceno em resposta, ouvindo a porta se fechar atrás de si.

 

Havia se esquecido desse lado do trabalho. O lado das desconfianças. O lado em que você passa de vítima para suspeito em questão de segundos. Basta uma palavra mal dita e você era jogado para o lado ruim do vidro. O lado das dúvidas e acusações.




“Olá, Jane. Meu nome é Nas.”




Quando sentou-se à cadeira e colocou o oxímetro em seu dedo, as memórias vieram para assombrá-la novamente. 



— Sou o agente Alexander, Identificação 386157-A. Fui designado pela Diretora Hirst e pela CIA para auxiliar o FBI nesse interrogatório. Fui informado de sua familiarização com a rotina então pularei as devidas formalidades. - ligando a máquina e o gravador ao seu lado, ele cruzou os braços diante o corpo.  Parecia tão tranquilo quanto ela. — Vamos começar pelo básico e seguir para perguntas mais complexas. Qual seu nome, agente?



Engoliu seco. — Jane Doe, e eu não sou mais uma agente.

 

Verdade.




“Poderia estar do outro lado do mundo agora. Mas então em vez disso, preferiu se esconder em Camden, Nova Jersey, a duas horas daqui. Você não fugiu porque não terminou ainda.”




— Em que dia e estação do ano estamos?



— Sexta feira, 9 de outubro. Início do outono.

 

Verdade.




“Ele disse que se eu não fizesse o que mandavam, eles matariam o Kurt. Matariam o meu time.”




— Onde esteve nos últimos 6 meses desde que saiu do FBI?

 

— Em Santa Bárbara, Califórnia. 

 

Verdade.



— O que a fez ir embora?



— Ahm, queria recomeçar as coisas.

 

Mentira.




“Onde está a diretora assistente Mayfair agora?... Jane?”




Notando a expressão indiferente do agente à sua resposta, engoliu seco. “Você não tem motivos para mentir aqui, Jane. Apenas diga.” lembrou a si mesma.



— Eu estava fugindo. 

 

Verdade.




“Você me disse que Taylor era meu ponto de partida.  Eu acho que você está errado.  Você ... você é meu ponto de partida.”




— Do que estava fugindo, Srta. Doe?



— Tudo?! Sabia que as coisas seriam difíceis daquele dia em diante e achei que fugir das responsabilidades fosse o certo a se fazer.

 

Verdade.



Observando seu olhar sobre o pequeno caderno a sua frente, viu o rapaz ajustar os óculos ao anotar algumas informações. Tentava manter sua respiração controlada e se apegava ao fato de que logo acabariam com isso. — Vamos falar sobre o seu "atentado".  Sabia que uma recompensa estava sendo ofertada em seu nome?



— Está me perguntando se eu sabia que queiram me matar? Claro que não.

 

Verdade.




“Onde está o Oscar agora?”




— Quem é este homem? - notando uma foto do moreno sendo arrastada até sua vista, Jane sentia o sangue ferver em seu interior.




“Ele está morto […] eu o matei. Eu o matei!”




 Seu nome é Clem, não sei o sobrenome. — sua própria resposta pareceu a incomodar. Não havia aprendido nada sobre seu relacionamento com Oliver Kind? Devia conhecer as pessoas com quem andava. — Nos conhecemos na Califórnia semanas atrás.

 

Verdade.



— Sabia que ele viria até aqui?

 

— Não.

 

Verdade.



— O que sabe sobre seu envolvimento contra o ataque a sua casa dias atrás?

 

— Nada, e vocês não sabem se ele está envolvido! 

 

Verdade.



— Você está ou esteve envolvida com alguma organização criminosa desde a Sandstorm?



— O que? Isso já está ficando ridículo.



— Por favor, apenas responda sim ou não, Srta. Doe.



— Nunca estive realmente envolvida com a Sandstorm ou qualquer outro tipo de organização criminosa se não fosse por ordem direta do FBI. - respondeu, perplexa.

 

Verdade.



— Quando foi a última vez que teve contato com ex-membro terrorista, Ian Kruger, conhecido como Roman?




“Atire.”



A arma estava em suas mãos e nenhum obstáculo impedia sua mira. Ele estava ali, ajoelhado à sua frente. 



Mas ela não conseguia atirar.



 “Atire…”



Sua mente parecia incapaz de processar obedecer suas ordens. Ian. Alice. Roman. Jane.



Eles estavam ali, presentes em seus pensamentos. Cada sensação tão vivida e recente que duvidar se anos haviam se passado desde que eram apenas crianças, protegendo um ao outro.

 

 “Atire!”



Protegendo um ao outro. É assim que deveriam ser. Irmãos protegem e cuidam um do outro. Ela achou que estava o protegendo quando aplicou aquele ZIP, mas na verdade, estava se protegendo. Sabia o quão doloroso seria para si se o perdesse para a mãe, e não lhe deu uma opção de escolha. Ela escolhera por ele. Assim como havia feito em boa parte de sua juntamente à Sheperd.



Era hora de deixá-lo seguir o próprio caminho.



“Adeus, Jane.”




— … Senhorita Doe? Resposta à pergunta.



— Há seis meses atrás, quando ele fugiu.



Verdade.






— Hey, achei que a Jane estivesse com você.

 

Arrumando uma trégua entre uma reunião e outra, Weller tirara alguns minutos para comparecer ao laboratório. Embora não houvesse o chamado, gostava de se manter presente e atualizado nos casos.



Ao adentrar o local, estranhou a ausência da mulher. Patterson parecia concentrada em uma tela com diversos dígitos se misturando, e o pacote de donuts ao seu lado denunciava que não havia saído sequer para o almoço.



— Não… ela saiu daqui pouco depois que chegamos, disse que tinha uma consulta com os médicos.



Roubando um dos pães mesmo diante protestos, ele assentiu, se aproximou do televisor. — Alguma novidade com o time?



— Folgado. Eles chegaram agora pouco, estão se instalando no hotel. Entrei em contato com o Orlando e eles irão até o banco amanhã cedo.



— Certo. Conseguiu alguma coisa com o endereço de IP?



— Foi usado por um aparelho móvel, o que não faz sentido. Para criar um site como esse é preciso de muito mais capacidade do que um smartphone consegue acessar, nem eu conseguiria fazer uma criptografia tão boa com tão pouco recurso.



— Estão enganando a gente.

 

— Sim. — ela se recostou ao seu lado sobre a mesa, jogando algumas informações pra frente. — Sabe… eu estava pensando. Será que estamos fazendo o certo aqui?



— Como assim?



— Estamos gastando nossos tempos e recursos procurando quem instalou o site, quando talvez deveríamos estar apenas procurando uma forma de encerrar o site. 



— Achei que você e Rich estivessem procurando uma forma de derrubar.



— E estamos, já tentei todos os meus programas de hackeamento e até agora nada. Mas qual seria a melhor forma de acabar com o site, se não acabando com a caçada?



— Essa caçada só irá acabar quando alguém conseguir matá-la, Patterson.



— Exatamente. E se nós forjassemos a morte da Jane? Podemos entrar em contato, mandar algumas fotos e bum, fim da caça ao tesouro. Depois dávamos um jeito de rastrear o pagamento e encontrar o responsável por isso tudo.



— Não é uma má idéia, mas não acho que seja tão simples assim… podemos conversar sobre isso quando o resto do time voltar. Seria mais fácil achar o responsável pelo ataque se parassem de se esconder.



— Sim senhor. - ela brincou em resposta, bebendo um gole de seu café enquanto o observava de pé em frente ao quadro digital. Negou levemente com a cabeça quando o vira aproximar novamente a foto do rapaz. — O que achou dessa história?



— Sem pé ou cabeça. Podem me chamar de paranóico, mas algo aqui não de encaixa.



— Você disse que o Keaton não encontrou nada na ficha dele. Talvez seja apenas um cara apaixonado o suficiente para cruzar a costa atrás de alguém.



— Quem em sã consciência faria isso?!



— Bom… você teria feito se não tivéssemos o impedindo.



Verdade. "Maldita verdade."




— Você está aqui… você… 



— Estou, e não vou a lugar nenhum sem você. Está me ouvindo? Por favor, diga algo.



— Kurt… me leve para casa.



O comentário pareceu o incomodar. Ela podia dizer pela forma como seus músculos se tencionaram, e mesmo de cotas, Patterson não tinha dúvidas de que ele fechara a cara. “A verdade dói, meu caro Weller.” pensou para si.



— Mesmo se, é e um grande "se", ele estiver falando a verdade, ainda não faz sentido como chegou até aqui. Nenhum policial sairia dando informações sobre o paradeiro de ninguém, especialmente em condições como essa. Todas as autoridades sabiam sobre a Jane.



— Também não acredito no que ele disse. Suas intenções podem até ser boas, mas ele está escondendo algo.



— A questão é: o que? 



— Acha que o Keaton está filtrando informações por aqui? — Ela abaixou o tom de voz ao dizer. Amigos ou não, todos mantinham um pé atrás quando se tratava do agente.



— Eu não sei, mas não descarto a possibilidade. 



Dito isso, a dúvida ficara plantada em sua mente. Honestamente, não se surpreenderia. Não seria a primeira vez em que estaria trabalhando com ocultação de informações. 



Mas novamente, por que?



Por que a Cia teria motivos para esconder informações envolvendo o caso? 



— Diretor Assistente Weller, recebi seu recado. - o sotaque paquistanês soou do outro lado da linha quando já se encontrava de volta a sua sala.



Patterson poderia estar certa. Bem intencionado ou não, parecia esconder algo.



— Acho que podemos pular essa formalidade.



— Certo. - dessa vez, ela riu em resposta. — No que posso ajudar, Kurt?



Mesmo ciente de que o agente da CIA não ficaria nada contente se descobrisse suas intenções, precisava arriscar. Não gostava da singela idéia de que informações estavam sendo manipuladas até chegarem em seus ouvidos. Trabalhando juntos ou não, sabia o histórico de mentiras e ocultações que perseguiam a organização. 



— Preciso que dê uma olhada em um nome pra mim.



Não iria permitir-se ser passado a perna novamente como fizeram quando a tomaram de si ao prendê-la. 





“Onde você e o Sr. Clem costumavam se encontrar?”




Em determinado ponto do longo interrogatório, o assunto fora retomado. Costumavam ser assim. Jogando fragmentos aleatórios durante a conversa para confundir o interrogado e levá-lo à mentira.




“Nos esbarramos algumas vezes durantes os meus intervalos de aula.”

 

Verdade.

 

“Esbarraram ou se encontraram?”



“Esbarramos. Depois, passamos a nos encontrar nessa cafeteria ao centro.”

 

Verdade.



“Seu relatório informa que ao deixar o FBI assinou diversos documentos se comprometendo a manter distância de toda a organização. Está correto?”



“Sim”

 

Verdade.



“Pode nos explicar o que fazia então tomando café rotineira e especificamente nesta cafeteria?”



“Eu não entendi o sentido da pergunta.”



“Há um total de 10 cafeterias na região, Srta. Doe. - um mapa com pontos circulados fora mostrado à ela. — Mas a senhorita frequentava justamente este aqui, a apenas 30 metros do escritório local. Por quê?”




O interrogatório havia acabado há alguns minutos e saíra às pressas daquele lugar. Sentiu-se sufocada por cada metro quadrado que percorreu até a saída.



Não havia se dado conta do quanto havia andado até chegar ao endereço que havia lhe dado. Receosa, pediu para que os seguranças a esperassem do lado de fora.



Cruzando o elevador, precisou de alguns instantes para colocar sua mente no lugar e relembrar o que a levara ali.



Ele pareceu tão surpreso quanto ela ao abrir a porta. — Olívia?



— Eu… não sei o que estou fazendo aqui.



Ela parecia atordoada, ele notou. Olhando para os dois lados do lado de fora, averiguou que ela estava sozinha. — Cadê seus seguranças? Você está bem? Como conseguiu subir?



— Pedi para que aguardassem lá em baixo. É fácil entrar nos lugares com o FBI na te acompanhando. Não queria que se assustasse, desculpe. - Um pouco surpresa com a enxurrada de perguntas, deu uma pequena olhada para o quarto atrás de si. — Será que posso entrar?



 Claro, claro! Me desculpe, você me pegou de surpresa… não achei que realmente viria. Entra. - lhe dando passagem, deu outra olhada novamente antes de fechar a porta atrás de si.



Era um quarto simples, como imaginou. Se não fosse pela mochila preta jogada ao lado da cama ligeiramente desarrumada, sequer diria que alguém estaria hospedado ali. 



 Não foi assim que imaginei que seria nosso primeiro encontro. — sua voz soou próxima a se ouvido, e só então notara sua aproximação.



Com uma risada sem graça, passou o dedos pelo cabelo se afastando sutilmente. — Isso definitivamente não é um encontro. 



Seu semblante pareceu escurecer-se ao ouvir isso, ela notou.



— Certo. Então… o que a traz aqui? 



— Queria conversar com você.



— Oficialmente ou amigavelmente?



— Amigavelmente. - respondeu na ofensiva. — Eu não sou do FBI, Clem. 

 

— Não foi o que pareceu ontem. — sua resposta viera e mesmo tom. Jane estava tendo dificuldade para entender o rumo que aquela conversa tomaria. — Sabe, quando seus "amigos" me prenderam na embaixada, eles pareciam bem preocupados com o que eu sabia ou não sobre você.



— E eles têm razão em estarem preocupados. Não o conhecem, e caso tenha se esquecido eu levei um tiro e quase fui morta. Não estranharia outra reação.



— Esse é o ponto que eu queria chegar. Por que alguém está tentando te matar? O que você fez? O que são todas essas tatuagens que você nunca me conta os significados?  - percebendo os limites que provavelmente ultrapassara, ele ponderou. Aproximou-se devagar tocando seus braços carinhosamente. — O que está acontecendo, Olívia? Você pode confiar em mim. Eu quero ajudar a cuidar de você.



 Não deveria se preocupar com isso, é o trabalho deles, não o seu. Mal nos conhecemos e não deveria ter perdido tempo procurando por mim.



— Eu não perdi meu tempo. Gosto de você, e mesmo não sabendo ainda o tipo de relação que temos, já que você não é muito de conversar sobre isso, eu me importo.



Eles estavam próximos demais, sua mente a alertava sobre isso. Sua mão tocava seu rosto enquanto a olhava intensamente. Não piscara ou desviara de seus olhos ao falar, e parecia estar sendo honesto com ela.  



Então por que não conseguia sentir verdade no que dissera? Por que seus instintos mais profundos lhe alertavam para manter distância e duvidar de tudo que ouvira?



Culpava o FBI por isso. Era cada vez mais difícil se entregar e confiar em alguém após tudo o que havia passado na organização.



Ouvindo o celular vibrar tocar em seu bolso, agradeceu mentalmente a Deus pela desculpa perfeita para escapar de seu charme. — Eu preciso ir agora… Não deveria ter vindo até aqui. Kurt deve estar me esperando e não devo ficar na rua até tarde.



— Você devia ficar, Liv. - Tentou argumentar, segurando sua mão gentilmente. — Podemos pedir algo para comer, conversar… Ligue e diga a ele que vai dormir por aqui, eu posso protegê-la melhor do que qualquer segurança. 



— Não tenho dúvidas quanto a isso, mas não posso arriscar. Só estaria colocando nós dois em risco desnecessário. - Incerta sobre quais atitudes deveria tomar frente ao homem, Jane limitou-se a lhe dar um leve sorriso. Inconscientemente sentia-se incapaz de qualquer ato além deste. — Boa noite, Clem. 



Ela não ficou para ouvir sua resposta. Tentando parecer o mais normal possível, saiu às pressas daquele quarto de hotel.



Precisava olhar em seus olhos, e estava certa sobre seus instintos. Algo estava errado. A hesitação em sua voz e sua linguagem corporal o denunciaram.




“Você tem que acreditar, que nunca quis que fosse torturada.”




Apressou-se em responder à ligação perdida, mas caíra direto no caixa postal. 



“Mel. Essa é a palavra mais estúpida que existe.” Tratou de lhe enviar uma mensagem, não contendo o riso ao escrevê-la. Perguntava-se o que se passava na cabeça de Rich ao escolher os códigos.




“Pensei que estava protegendo você, todos vocês, fazendo o que eles pediam. Eu estava errada.”




“Mel. Cuidado na rua." Era o que dizia sua resposta. Aquilo arrancou-lhe um sorriso. Não sabia o que havia acontecido para sua mudança de comportamento tão repentina, mas não iria reclamar. Isso era muito melhor do que pisar em ovos.



Quando chegou em seu andar, agradeceu aos seguranças e adentrou o apartamento equilibrando-se com as sacolas. A procura de uma distração, havia passado no mercado durante o caminho. Iria cozinhar hoje. 



Embora tivesse teimado para convencer os médicos a tirarem sua tipóia, ainda sentia o ferimento em seu ombro latejar quando fazia mais esforço. Arrependeu-se disso quando sentira o peso das compras obrigarem-na a se curvar a procura de um alívio. — Merda.



A luz da sala estava acesa, mas o silêncio predominava no local. Checou novamente seu aparelho telefônico. 9:47pm.



Talvez ainda estivesse preso no trabalho, ou no trânsito. Não havia mencionado que ficaria até tarde mas imprevistos acontecem. “Ou talvez tenha saído com alguém…”

 

 

Este último pensamento a incomodou mais do que deveria. Desde que o flagrara no telefone mais cedo quando passou em sua sala para avisar sua ausência, ficara com a pulga atrás da orelha. Sua curiosidade à instigava a tentar obter mais informações sobre sua vida pessoal, mas o receio e a precaução lhe diziam para respeitar seu espaço. Ele a contaria se quisesse.




“Por que não me disse? Eu acreditei que fosse Taylor Shaw porque não tinha motivos para dívida.”



“Porque eu não queria que fosse verdade. Queria que fosse Taylor. Mais do que tudo.”




Mesmo ciente de que não deveria se preocupar tanto, não conseguiu se conter. Já estava com o celular em mãos para telefona-lo quando sua voz ecoou corredor a fora. — Aposto uma cerveja que esse ombro dói mais do que aparenta.



“É claro que ele ouviu…”



Envergonhada, deixou as sacolas sobre o balcão da cozinha. — Não achei que fosse te encontrar por aqui…

 

 

— Ahm… eu acho que ainda moro aqui, não moro? - Brincou, se aproximando curioso — O que tem aí dentro?



— Bom, passei no mercado e trouxe algumas coisas para fazer uma lasanha. Onde está a Patterson?



— Ela preferiu ficar no escritório hoje, caso o time precisasse de algo mais urgente. 



— Então acho que sobrara para você o fardo de ser minha cobaia. - arqueando uma das sobrancelhas provocativamente, ela sorriu, arrancando-lhe um riso alto.



— Ha! Nos seus sonhos, Jane… tem um bife me esperando na geladeira.



— Droga… - fingiu frustração, fazendo uma leve careta de desapontamento. — Achei que seria meu essa noite…



Surpreso, agora ele quem sorria. O que ela queria dizer com isso?



Com um riso fraco, sentou-se à cadeira do balcão. — Os médicos já te liberaram?



— Yeah, preciso fazer algumas fisioterapias para o ombro e tomar alguns remédios, mas sim, nada de braço enfaixado.

 

— Uma pena, era engraçado ver você tentando fazer tudo com um braço só. - provocou, roubando um pedaço da verdura que ela prontamente já cortava.



“Idiota”.




De volta o hotel, mesmo incomodado por sua atitude, ele apenas a observou sair. Sua mente o alertava sobre suas verdadeiras intenções assim que a viu parada em sua porta horas atrás. 



Algo estava errado. E não poderia estar.



Bebendo o que restava em seu copo de whiskey, remoeu dentro de si a ideia de apelar para ele novamente. Uma missão lhe fora dada, e não gostava de demonstrar qualquer dificuldade que fosse para executá-la. Mas precisava agir.



Mesmo contrariado, Clem tomou para si o celular de cima da mesa e discou o único número presente no histórico. Não poderia esperar. 



Bastou apenas poucos toques para que a ligação fosse aceita.



— Sou eu. Nós precisamos conversar sobre Jane Doe.



O badalar de sinos aos fundos o fez afastar o aparelho momentaneamente, como em diversas outras vezes em em suas conversas. Veneza não era exatamente o lugar mais silencioso e discreto para se esconder, mas não questionaria suas escolhas.




— Estou ouvindo.





“De onde tirou as memórias? De pescar comigo e meu pai?”



“Eles disseram que eu era ela. Oscar me deu fotos e disse para mentir  e dizer que me lembrava delas.”



“Por que você fez isso?”



“Porque eu queria que fosse verdade. Eu queria ser a Taylor. Mais do que tudo.”




Abrindo uma cerveja, já podia sentir o cheiro da massa assando e seu forno. Estava distraídos em uma conversa sobre a missão quando Kurt notou seu olhar se distanciar, e uma sombra parecer cair sobre ela. 



— Você está bem? 



Sua fala pareceu pegá-la de surpresa novamente, e ele percebeu o quão desacostumada ela deveria estar em ter alguém para perguntar como se sentia. Ela sempre fora assim.



— Estou, estou… eu só…



— Tudo bem se não quiser falar sobre isso comigo, Jane. Sei que não tenho sido a melhor companhia ultimamente.



— Deixa disso. — ela recostou-se de costas para pia e coçou a nuca, mordendo o canto dos labiosa. “Tem algo a incomodando.” pensou, mas não a questionou. — Posso perguntar uma coisa? 



— Claro.



— Você sabia que a Hirst me passaria no polígrafo?



Ele não esperava por essa.



— Não. Quando ela fez isso?



— Hoje. - pode notar a falha em sua voz, e o nó que se formaram em sua garganta quando desviou de seu olhar. — Acho que alguns acreditavam que eu estivesse envolvida com a Sandstorm esse tempo todo e isso tudo fizesse parte de mais algum plano para derrubar o FBI…



— Jane… - Essa hipótese sequer passara por sua mente. Sentia-se de certa forma enjoado por saber que algumas pessoas poderiam questioná-la sobre isso. Jane provara sua lealdade diversas vezes àquele time. Inclusive, arriscada a própria vida dia após dia ao seu lado quando preciso. Embora houvesse dito o contrário dias atrás, sabia que ela era um deles. Sempre fora. — Eu sinto muito por isso. 



— Obrigada. 



Kurt sabia que o assunto não se encerraria por ali. E não poderia. Queria perguntar o que abordaram no interrogatório, queria saber tudo o que fora dito, mas era incapaz de invadir sua vida desta forma. Nos últimos meses havia passado por diversos momento como esse para saber o quão íntimos e invasivos poderiam ser. Quando não se deve nada, não há o que temer sobre a verdade. Mas mesmo assim, é difícil de dizê-la quando não por livre e espontânea vontade; quando arrancam de si apenas para saciar o ego do sistema em estar no controle e por dentro de todas os fatos.



Aquilo era invasivo. 



— Isso isso é um pouco exaustivo. Tinha me esquecido dessa parte.



O tom de sua voz pareceu abrir um rasgo em seu peito, e se lembrou das diversas vezes nos últimos dias quando ele a abordava com os olhos marejados, escondendo-se de seu olhar. Ainda se surpreendia quando conseguia presenciar os poucos momentos em que deixava suas emoções transparecerem. Jane sempre fora muito boa em esconder "suas fraquezas". 



— Vem aqui.



Sem saber o que dizer para que se sentisse bem, fez o que sentia que devia nessa situação.



Ele a abraçou. Envolveu seus braços ao redor de seu pequeno corpo com cuidado, temendo o machucado recém curado. Deixou que sua cabeça descansasse em seu peito enquanto acariciava seus cabelos. Não sabia dizer o quanto havia sentido sua falta, e ansiado por aquele contato.



Surpreendentemente, a retribuição fora quase que imediata. Escondeu o rosto em meio ao tamanho de si e apertou sua cintura como se não quisesse escapar dali. E não iria.



Ele não a deixaria escapar.



Tudo parecia bem naquele momento. Ali, sentia-se segura como não fora capaz nem mesmo rodeada pelo exército de homens bem armados que colocaram em sua cola nos últimos dias.



Ali, era o único lugar em que poderia desmoronar, pois sabia que o teria ao seu lado para reerguê-la.



Se apegou à isso. Deixou que o soluço preso em sua garganta escapasse, e as lágrimas transbordassem livremente para fora de si. Sentia-se exausta como nunca antes.



— Jane? - Afastando minimamente, levou uma das mãos à seu rosto. Doía em seu peito vê-la dessa forma. — Olhe pra mim.



E ela o fez. Com os olhos vermelhos e molhados, ela o encarou de perto. Não disseram mais nada, e nem precisavam. Naquele instante, palavras eram desnecessárias pois seus olhares falavam por si só. 



Acariciando sua bochecha recolhendo suas lágrimas, ele mostrou tudo que gostaria de lhe dizer com um beijo. Calmo, cuidadoso e suave. E ela tornou a conversa bilateral ao envolver os braços em seu pescoço quebrando o pouco espaço que havia entre os dois.




Depois de meses, estavam aprendendo a se comunicar. 

 


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Notas finais do capítulo

Alguma aposta sobre quem estava do outro lado da linha e como ele sabe o verdadeiro nome da Olivia?

I'll see you when I see you.



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