Prisão de Gato escrita por Ana e Sabrina


Capítulo 39
Grand Line, Carniça (Casa de Banho)




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/791492/chapter/39

Bertruska correu até o cozinheiro a fim de ampará-lo, mas não levou um segundo para que notasse o que havia ocasionado sua queda de pressão e, igualmente, sentiu seu coração disparar. A cerca de uma milha náutica de distância, o galeão marinheiro estava pousado intacto sobre as águas, ignorando a chuva fina que ainda caía sobre ambas embarcações. Sem ter o que dizer, os dois piratas apenas ficaram ali, completamente atônitos, até que Merin colocasse a mão sobre seus ombros, dando-lhes um terrível susto.

— Eu atravessei a porta — ela explicou, como se o problema das caras pálidas fosse o fato de não se justificar, não a situação como um todo. Depois disso, foram mais alguns segundos sem conseguirem se comunicar.

— Merin... — resmungou a ex-marinheira, quase sem voz.

— Ouvi isso se aproximando. Achei que estavam em nossa direção, por isso eu atirei...

— E não estão vindo mais agora? — perguntou Flint, num sopro aturdido, interrompendo-a sem olhar para trás ou tirar as mãos do parapeito em que se apoiava; ele pouco se importava com o motivo de sua fuga para o andar debaixo alguns segundos antes.

Por sua vez, nem Merin e nem Bertruska precisavam olhá-lo para saber que estava pálido como papel, mas sua voz continuava firme e dirigente; nem mesmo o filete de bile que escorria pelo canto de seu lábio e as mãos tremelicando eram o bastante para tirar sua autoridade naquela situação.

— Eu... Eu não sei — confessou, abaixando a cabeça.

Então, sem ter como respondê-la, o cozinheiro apenas tombou a cabeça sobre a palma direita, massageando o entorno de seus olhos como se, de alguma forma, aquilo pudesse aliviar a enorme pontada no crânio que se alastrava. Precisava que Morgan lhe desse algo para enxaqueca, pensou consigo mesmo, suspirando pesadamente. Precisava que Morgan lhe medicasse e o filho da puta nunca estava disponível quando precisava, amaldiçoou. 

Por fim, antes que pudesse dizer qualquer outra coisa, um clarão súbito se fez presente por todo navio, seguido quase que imediatamente por um estouro ensurdecedor e um forte tremor que desestabilizou todo o convés, catapultando-os para a frente do barco.

Um raio. Flint viu o teto preto e, ao atingir o chão outra vez, quase vomitou.

— Fogo! — gritou Poyo, ao longe e abafada pela cabine.

Mesmo com o grito, sua cabeça pesou para levantar e ele não a olhou. Perdido ao alento, Flint tinha a visão turva, tanto pela tontura, quanto pela força que as águas agitavam todo o barco, mas pior do que isso era a água salgada que respingava forte em sua face, impedindo-o de puxar o ar para se recuperar. A tempestade e ondas haviam voltado com tudo e estavam invadindo a embarcação; não havia nada além de chão e fumaça escura. Pouco distante de si, a silhueta trêmula de Bertruska tentava se levantar, porém foi impiedosamente sobrepujada pela força do oceano que teimava em os amaldiçoar. Talvez tivesse batido a cabeça forte demais, pensou consigo mesmo, sentindo mais bile subir a garganta. Sem noção espacial, Flint tateou o chão, erguendo somente o tronco e reparando, por fim, a figura de Merin recostada a amurada, inconsciente. Tinha que tirá-la dali ou...

Mais uma vez, o mar invadiu o navio, atingindo-o na face e o acordando de prontidão: os estalos secos da gávea e o som sufocado dos trovões pareciam estar do seu lado, da mesma forma que o cheiro forte de queimado que penetrava suas narinas era mais real do que nunca. Torceu os pulsos para se pôr de pé. Em sua visão periférica, notou Poyo grudada na escotilha da porta e a visão terrível do céu cinza escuro, quase tão sombrio quanto o vulto que se aproximava em alta velocidade, um pouco acima do nível do mar. Tecnologia da Marinha, pensou, levantando-se o mais rápido que conseguiu. Agora tinha certeza de que aquele galeão era mesmo o que pensava e que estava vindo em sua direção.

— Não... — resmungou Flint, olhando em pânico para Bertruska, que tentava futilmente segurar o cordame.

— Desembuche logo! — ralhou Bertruska, engolindo em seco.

Não pode ser, porra, ele murmurou sozinho, a incerteza macetando o peito como um martelo. — Fomos encontrados? — perguntou, baixo e monótono, olhando de canto para o corpo inerte de Merin e depois para a ex-marinheira, que, assimilando o que lhe fora dito, sentiu seu sangue congelar.

— Não seja tolo, imbecil... — ela afirmou, tão fraco que sequer convenceu a si mesma. — Daremos uma surra neles e seguimos viagem. Já fizemos isso antes, não fizemos?

De olhos fechados, Flint soltou o ar dos pulmões, arfando. — Você está certa disso? De que não será diferente?

E, para o desespero de Bertruska, não, ela não estava certa de nada. Na verdade, estava tão apavorada ao ouvir o tom vacilante na voz do amigo que até perdera o compasso de sua respiração, mas sabia que não podia demonstrar pois, naquele breve instante, Flint precisava dela para se firmar e, depois de tudo que ele fizera, não poderia negá-lo isso. Precisava se acalmar, respirou fundo. Lívida, inchou o peito e levantou o nariz, tomando força para...

— Sim... — A afirmativa saiu como um trépido bafo e, então, finalmente observando a si mesma, sentiu que as mãos tremiam e a boca já estava completamente seca. — Eu não sei, Flint — admitiu, deixando a cabeça tombar. Não conseguia enganá-lo. Sentiu vontade de chorar.

De repente, outra onda forte fez com que o navio inteiro se remexesse sobre o mar e os dois piratas sentiram, mesmo que por um breve instante, os corpos perderem a gravidade e por muito pouco se mantiveram de pé enquanto mais água invadia o deque. O peso da tempestade quase levou o resto de seus almoços direto ao chão. Ao longe, assombrosos clarões iluminavam suas faces pálidas e a figura sombria de um galeão crescia cada vez mais, aproximando-se numa velocidade exorbitante até que, por fim, atou-se ao parapeito com os ganchos e cabos, travando-os ali.

— NÃO ADIANTA SE ESCONDER, PUTINHA!

Além dos trovões e raios, apenas a voz penetrante e fora do compasso de um homem se fez presente, seguida do som aterrador de alguém descendo os cabos para invadir a Carniça. Nem um segundo depois, um rapaz de postura conspícua, esguio e de cara feia, com a característica farda da Marinha pesando sobre seus ombros, pisou firme na embarcação, espancando o assoalho com suas duras botas de couro preto em um som ríspido de pedra contra a madeira. Seus olhos purgavam de ódio, mas ele mal olhou os dois piratas, acuados no canto. Foi logo gritando:

— Não virá até mim, Autumnzinha?! Perfeito, então! Pode deixar que eu vou até você!

Vestido com a viseira da estupidez, o marinheiro nem sequer titubeou os olhos em Bertruska e Flint e, como um títere sem alma, apenas marchou pela caravela à medida que seu carretel invisível o guiava para onde deveria estar, cerrando os olhos no processo. Não precisava olhar muito fundo dele para notar que não havia brilho algum ali. Nada, nada no mundo parecia o incomodar, do balanço infindável do barco aos fugitivos que estavam ali, prontos para serem capturados. Entretanto, a despeito do sorriso parvo que começava a se desenhar no canto dos lábios enquanto chegava mais perto dela, tão subitamente quanto aterrorizante, de repente, tudo, das pernas à chuva, parou, e sua boca caiu como em uma caricatura de si mesma, desfazendo-se numa careta de puro ranço.

Os olhos do marinheiro rolaram pelo próprio corpo: um pouco acima de onde terminava sua bota, havia uma foice em meia-lua fincada na pele, flutuando exatamente onde, agora, começava a sangrar. Não sentiu dor, mas o ódio era incomensurável. Aquilo era... Patético.

— Deveria mirar no meu pescoço, se quer me matar — ele rosnou, seco e em monotom, e, num só impulso, ergueu a ponta do pé e atingiu, só Deus sabe como, exatamente onde Merin estava, mesmo que ela estivesse invisível na hora.

A opacidade de seu corpo voltou no mesmo instante, tão logo que seu corpo deslizou em direção à parede da cabine e o som bronco de um osso se quebrando se tornou perceptível a todos. Uma bela guarda-costas, Autumn, o marinheiro pigarrou no chão, tscqueando com lábio. Mas não boa o suficiente para mim.

— Quer tentar outra vez ou posso voltar para bater um papinho com você depois? — perguntou, debochado e vendo-a de cima, apoiada com as mãos e joelhos para cuspir sangue no chão. Deixou um riso nasal escapar ao notar seu chifre direito dependurar-se em si mesmo. Ela não respondeu com nada além de um olhar cheio de lágrimas.

Já em frente a porta, o marinheiro tomou mais uma vez impulso com a perna e então estourou a fechadura do castelo de proa, abrindo passagem para a cozinha da embarcação. Estava escura, a princípio, e vazia. Avançou. Passado o vestíbulo, notou de pronto que os objetos mais leves haviam caído por conta da força do mar e os móveis estavam todos empilhados onde mais pesava. Um silêncio mortal pairava sobre os ares. Atrás da mesa principal, um pequeno coque de cabelos tremia em meio às sombras e furtivamente tentava observar o estranho que adentrava sua casa. E, então, em apenas um segundo, o sorriso pretensioso do marinheiro se desfez pela segunda vez naquele dia, sendo substituído pela característica sensação da mais pura humilhação e, mais uma vez, um tufão do lado de fora.

Puta merda, fui enganado.

Cerrou os punhos, sentindo uma gota de suor escorrer por sua têmpora no segundo em que Poyo, com a face embebida em puro orgulho, saltou para fora de seu esconderijo, apontando diretamente para seu nariz, a pistola carregada.

— Cai fora, cuzão!

Apricot sentiu os ombros caírem e um súbito cansaço o acometeu. Rendeu as mãos para o alto.

— April, você é muito burra! — afirmou, soltando um riso de escárnio, ainda incrédulo com a ousadia da pirralha que estava a sua frente, o ameaçando com a merda de uma pistola. — Baixa logo essa arma, não vai dar um abraço no seu irmãozão?

— Vai se foder! Você veio me matar!

— Verdade.

A garota tremeu, apertando de maneira mais firme a arma entre os dedos. Engoliu em seco.

— Mas não agora, é claro — E riu baixinho, mostrando a língua para a garota. — Não tente furar a fila, garotinha! Cadê a puta da sua irmã mais velha? Ela está lá embaixo? — Pisou firme no assoalho.

— Que irmã mais velha o quê! A Belka? — Poyo apertou os olhos, inquisitiva. Por sua vez, Apricot apenas ergueu uma sobrancelha.

— Belka? — perguntou, sem desfazer a expressão desdenhosa.

— A puta que vai te matar a qualquer momento! Você não sai desse navio!

— Hum — debochou — Então será que devo jogar isso aqui fora?

Assim que terminou de falar, o marinheiro abaixou uma das mãos para o bolso da farda, de onde puxou um pequeno cartão que teimava em continuar queimando, mesmo que por muito tivesse sido guardado. Poyo esticou seus lábios, sentindo a mão que empunhava a arma vacilar. Continuou na defensiva.

— Que tem esse guardanapo? — perguntou.

Apricot levantou a sobrancelha, não conseguindo acreditar que April havia se tornado burra daquele jeito. Isto é, um tanto de estupidez era esperado; considerando a linhagem familiar do qual vieram, seria deveras surpreendente se ela inventasse algo incrível ou sequer falasse algo de relevante para sua missão, contudo aquilo ia além da ignorância do seu sangue, ao passo que chegava a se envergonhar.

— Eu iria perguntar se você havia surrupiado isso de Autumn, mas visto sua reação, imagino que nem saiba o que é. Vamos, abaixe essa arma para conver–

— Ah, tá! A vendedora da Ilha-vúcão! — respondeu, colocando uma das mãos no queixo e segurando a arma somente com a outra. — Mas, como assim, não sabia que éramos irm...

Num segundo de desleixo, sua fala fora interrompida abruptamente por um soco direto em sua mandíbula, que a lançou com força ao chão.

— Primeiramente, não me interrompa — pontuou, limpando o punho em seu uniforme. Seu olhar havia atingido outra camada de obscuridade. — Eu nem posso dizer que estou surpreso por você não se lembrar dela; o mesmo tanto que aquela vagabunda tem de escorregadia, você tem de estupidez. — Apricot deu de ombros, aproximando-se da garotinha, que, de supetão, o olhava com os olhos arregalados, arriada e com as costas da mão direita sobre o lábio inferior, passando a língua pelos dentes agora moles. Ofereceu uma mão para que ela se levantasse, mas Poyo apenas franziu as sobrancelhas, rapidamente apontando a arma em sua direção.

— Eu tinha certeza que seus anos comendo terra não fariam bem para o cérebro — ele continuou, severo e com os olhos pesados. — Se você pudesse me matar, já teria feito. Foi com essa mesma arma que sua irmã me ameaçou, e em troca eu lhe roubei um olho e vários anos de idade.

— O que você quer conosco? — A voz de Bertruska se fez presente. Apricot não precisou olhar para trás, pois sentia a pontada de uma faca em suas costas.

— O que eu poderia querer com vocês? — respondeu, levantando uma das sobrancelhas. — Isto é, com exceção das cabeças, nem você, nem o cara lá fora me servem para algo.

— Então vá embora. Autumn não veio conosco.

— Ah. Agora começamos a ter assuntos comuns — Sem medo, o marinheiro tirou os olhos da garotinha, observando a sombra projetada na parede bem maior do que a sua. Como odiava esse tipo de mulher que queria ser grande... — Antes que você torça essa faca e me deixe estrebuchando até a morte, será que posso saber o que você pretende fazer, caso me mate aqui, ao lado do galeão que me trouxe ao seu encalço?

Bertruska não vacilou, mas também não o respondeu. Continuou de cabeça erguida.

— Isto é, suponho que você não tenha pensado que, sozinha, seria capaz de destruir meu poderio inteiro, não é? — Seu lábio contorceu um sorriso devasso.

— Vá embora. Eu não vou dizer outra vez — ela insistiu, apertando a faca mais um pouco, o suficiente para que a lã e algodão se partissem e a lâmina fria alcançasse a epiderme.

— Me mate. Pague para ver o que acontece.

A ex-marinheira não via sua cara, mas sabia que sorria extravagantemente, porque tinha certeza de que estavam em xeque-mate. Rendida, Poyo abaixou a arma e, em seguida, ela a acompanhou, abaixando sua faca enquanto Apricot deixava escapar um riso alto e relaxava as costas.

— É realmente de dar pena. Uma recompensa tão alta perdida nesse bando de merda e sem um tostão furado. — Ele suspirou alto, virando-se para a mulher mais velha. — O que ela é sua, Kalahan? Comandante? Ou é Capitã?

— Autumn não é nada minha. Ela só vendeu as armas.

— Estou falando dessa vadia aqui — elucidou, puxando Poyo pelos cabelos do coque até que ficasse de pé. — Ela é sua capitã? — Sua voz se tornou mais incisiva dessa vez.

Vendo o couro cabeludo de Poyo se esticar e seus avermelharem-se, Bertruska estava a um passo de negar, de fazer qualquer coisa que ele demandasse para deixar a menininha em paz, entretanto um sibilo soou mais rápido e mais alto, impedindo-a de dizer qualquer coisa:

— Eu... — resmungou Poyo em voz chorosa. — So-sou a capitã.

— Ah, que maravilha. — E soltou seu cabelo, derrubando-a no chão e, no segundo seguinte, posicionando-se de cócoras ao seu lado, com as mãos sobre os joelhos e aqueles mesmos olhos fundos de sempre.

Ah, como April detestava aquele olhar... Não Poyo, veja bem; a capitã que era hoje em dia de nada tinha a ver com aqueles horrorosos olhos azuis que trancaram as portas do celeiro de noite, abandonando-a sem comida ou água além do líquido escuro e parado do cocho. Poyo não tinha nada a ver com o corpo coberto dos pés à cabeça de sangue logo depois de matarem um porco, de nada tinha a ver com o quanto apanhara do pai porque a culpa era dela; o que April era...

— Você quer saber o porquê de eu não te matar aqui, April? — ele perguntou, fixamente encarando as lágrimas que começavam a escorrer de uma vez só. Poyo olhava de soslaio para Bertruska, a Carniça e todo estrago da tempestade, mas não conseguia dizer nada. — Porque eu nunca ouvi falar de você — mentiu, de cara lavada, abrindo na cara um sorriso débil; completamente insano. — Dos seus amigos, veja bem, eu sei a recompensa de cor. Você, contudo, eu não sei nem o nome.

Poyo engoliu em seco com dificuldade, uma vez que o restante de seu orgulho que não fora pisoteado, agora fechava por completo sua garganta com um gosto intragável. O sentimento de humilhação nunca havia a tomado daquela maneira antes e, mais do que nunca, a capitã desejou dar com a língua nos dentes, vangloriando-se por todos os seus feitos; desejava cuspir na face orgulhosa de Apricot que ela havia sido a responsável pela queda de diversos navios da Marinha e que, a partir de suas ordens, seu bando sobrevivia as sombras, entretanto engolir a própria língua e encarar o chão pareceu a conduta mais apropriada e assim o fez, em prol da tripulação.

Mais lágrimas escorreram de seus olhos. Ninguém conheceria seus feitos e, mesmo que seu maior sonho fosse a grandeza, um forte arrepio em sua nuca lhe dizia que o anonimato era sua aposta mais segura. Mordeu o beiço.

— Capitã Poyo — ciciou a garota, apertando os punhos ao lado do corpo. — Esse é o meu título, ainda que nenhum feito esteja associado a ele.

Com a resposta, Apricot riu ainda mais alto, jogando o pescoço para trás e, finalmente, se levantando. — Que nome estúpido, Poyo — disse, chutando-a no estômago algumas vezes, ao ponto de fazê-la se contorcer em si mesma, protegendo o tronco com as mãozinhas e braços.

Enquanto a agredia, o marinheiro pensava sobre o que tinha de fazer a partir dali. Para ele, reencontrar April havia o divertido como nada o fazia a muito tempo, mas por outro lado já era hora de retornar a seu trabalho; precisava encontrar Autumn e, sobretudo, havia muito o que ser apresentado à Marinha depois do que encontrara por ali. Nada do que Hanzo havia lhe dito parecia ser uma verdade exata; sem sombra de dúvidas aquela tripulação cheirava a carnificina, todavia as mãos de sua irmã pareciam especialmente pequenas para quebrar pescoços de algo além de galinhas e, destarte, não via necessidade alguma de mudar sua rota inicial para impedi-la agora — a irmã do meio era maior perigo naquele preciso momento, por mais que seus dias estivessem contados segundo o vivre cardIsto é, a não ser que...

— Poyo — Ele parou repentinamente de a chutar, deixando que se recuperasse. — Onde está o papel que Autumn lhe entregou? — perguntou, olhando-a inquisitório.

— E-eu não sei onde... — resmungou a garotinha, cuspindo sangue no chão.

Sem demora ou remorso, Apricot apenas deu de ombros, tomando do chão a pistola que a pouco ela havia derrubado no chão. Atrás de si, Bertruska entrou em posição defensiva, empunhando de maneira mais firme a faca, contudo o marinheiro apenas abriu a recarga para conferir as balas, sequer meneando a cabeça para ameaçá-la. Sempre esteve cheia, constatou ele. Ela poderia ter atirado e o matado.

Suspirou, recarregando-a.

— Tem cinco balas aqui — disse. — É o suficiente para todos vocês?

— Eu já disse que não sei onde está! — Poyo se levantou, olhando-o de olhos arregalados. De repente, ela parecia mais apavorada.

— Então encontre — ordenou, franzindo o cenho.

— Eu procu-

Bertruska começou a falar, mas sua voz foi entrecortada por um grito de agonia quando, súpeto, Apricot atirou em sua coxa. O impacto fez com que ela caísse no sofá. Nesse instante, Poyo começou a chorar alto. Ela sabia muito bem que quatro balas não significava que três deles seriam poupados. Pelo contrário.

— Ela procura — O marinheiro apontou a arma para a garotinha, que anuiu nervosamente, dando um soluço desengonçado.

Quase sem forças, a capitã fungou, trupicando em direção a cozinha e começando a procurar, entre as gavetas e gabinetes, o diabo do papel que não sabia onde havia deixado. O cérebro mal podia formular uma única frase e as mãos tremiam enquanto mexia nos papéis de procurado e outros jornais que haviam guardado. Agora de costas para o irmão, sua nuca ardia como nunca antes, sabendo exatamente o que ele planejava, mas sem poder fazer nada a não ser continuar a procurar; toda onda que batia contra o casco a fazia querer vomitar e o choro que saía de sua garganta era tão feio, tão gutural, que tinha vergonha de se considerar a comandante encargo daquele barco.

Apricot, vendo-a do outro lado do balcão, outra vez tirou de dentro da farda seu próprio vivre card: a chama sobrenatural quase chegava ao seu dedo, de tão forte que estava. Morreria, quem quer que fosse, pensou consigo mesmo, lentamente apontando a arma na cabeça da menina e engatilhando-a. Como esperado, o fogo tornou-se uma labareda, crepitando alto na direção da cozinha.

Vadia.

— Chega — Ele abaixou a arma, e Poyo deu um pulo no lugar, sem coragem para se virar. — Pode jogar isso fora. Eu não preciso mais.

Sem mais delongas, Apricot largou o papel no chão, pisoteando-o para apagar o pequeno chamusco que restara. Iria embora.

≈≈≈

Poucas conversas do andar de cima chegaram ao pavimento inferior por conta da tempestade, mesmo assim Morgan e Fionnula não tiveram muita opção senão esconder-se atrás das escadas, à espreita de uma rota de fuga caso o invasor resolvesse saquear seus tesouros e tentasse matá-los no processo (a experiência de fugir da panela algumas vezes realmente vinha a calhar, pensou o médico, olhando de rabo de olho para a menininha ruiva que estava encolhida sob seu braço). Eles não faziam ideia do que estava acontecendo: ele, porque estava responsável de Belka até então, tratando de seu mal e ouvindo atentamente todas as maldições que a gata lhe lançava e, por sua vez, a ex-galinácea fora enfiada alçapão adentro por Poyo no momento em que ouviram a voz do "assaltante", então não podia mais espionar — aliás, "assaltante" só para ela, a Fio. Não precisava ser pensante a muito tempo para saber que sua irmãzona estava a escondendo de alguém que conhecia muito bem. (E era bem isso que a preocupava).

— Popó-brezinha... — piou bem baixo, assoando o nariz ranhento na casaca de Morgan, que só por isso percebeu que ela estava falando algo, já que tinha olhos e ouvidos somente a escotilha acima de suas cabeças, donde pequenas frestas de luz e sombras vazavam, mas nada de palavras compreensíveis.

— Fique quieta, não consigo entender nada — ele sussurrou, olhando-a severo. — Que bosta, se não fosse esse tufão... 'Que diabos foi fazer a Merin, quando mais preciso dela?

— Póras, ela veio vê-lo mais cedo...

— Ela sempre vem me ver. E não adianta nada se não está aqui agora — rebateu rápido, novamente fazendo sinal para que Fionnula ficasse quieta.

— Disse que tinha ouvido sobre o passado da irmã-Belka... — insistiu a garotinha, tentando falar baixo, e então Morgan parou no mesmo instante para olhá-la sério.

— O que foi que você disse? — perguntou, dessa vez em tom normal.

— Que a Vagabunda Azul ouviu meu passado. — Súpeto, a voz de Belka os interrompeu, surgindo da escuridão do quarto em direção a sala de estar que estavam. — Você é surdo?

— Bom, eu não sou gato — Ele deu de ombros, olhando-a de sobrancelhas franzidas. — Pensei que quisesse ficar sozinha por mais tempo. Até me expulsou do meu próprio quarto.

— Eu me recupero rápido. Preciso — suspirou, cansada, e nesse instante o médico pôde notar a vermelhidão em suas escleras, características do choro. — Não subiu para ajudá-los?

— Pelo contrário, Poyo me jogou a Fionnula para cuidar.

— E depois disso?

— Disse que tem um homem lá em cima. Mas não conseguimos entender o que está acontecendo-popó — Fionnula se intrometeu.

— Um homem só? Nessa tempestade? — A gata arregalou os olhos, correndo para as escadas, porém Morgan a segurou pela pata traseira. — Temos que abater, o que quer que esteja...

— É da Marinha. Fomos enganchados — ele sussurrou, fazendo-a se calar. Em seguida, o médico apontou com o polegar a escotilha da sala de estar, onde uma enorme figura metálica escondia qualquer vista.

A cor do rosto da imediata se esvaiu por inteiro e, diabolicamente sincronizado com seu terror, um alto estouro foi ouvido do andar de cima. O som de um tiro, seguido de um grito.

Estão todos mortos, Belka ruminou para si mesma, sentindo um gosto amargo em sua boca, entretanto não era acometida por qualquer embargo. — Morgan...

— Não.

Batendo um dos pés no carpete e arregalando os olhos, o médico pontuou, muito sério. Não havia qualquer razão para que se sacrificasse por Belka; se havia a chance de sobreviverem, não era o certo que prezasse por seu próprio rabo? Fionnula poderia se juntar a si, era jovem e aprenderia a ser uma boa assistente, a gatuna entretanto, após esses meses de convivência, somente teria passe livre em seu consultório como experimento e, se fosse para escolher um bode expiatório, usaria da maioria e jogaria ela.

— Quer morrer lá em cima ou aqui embaixo? — indagou a gata, franzindo o cenho para o médico.

— Prefiro não morrer de nenhum dos dois jeitos — respondeu, seco. — Além disso, foi um tiro somente. Pode ter vindo da arma de Poyo...

A gata o encarou, desafiadora. — Se veio da arma de Poyo, então estamos ainda mais fodidos. Tem um navio marinheiro lá fora.

— Você não tem recompensa, suba você.

— Você é burro ou o quê? — Ela pisou firme no chão. — Minha cara está estampada naquela merda de bandeira! Sabe o que isso significa?

Morgan revirou os olhos. A resposta daquela pergunta estava estampada em sua cara pálida.

— Eu, a recompensa sou euzinha — disse, já com as presas se projetando para fora da cara. — Então, se tem algum amor a sua vida, crie bolas e veja o que está acontecendo.

Sem poder contra-argumentar, o médico apenas anuiu com a cabeça, mordendo os lábios e puxando o fôlego. Partiu em direção às escadas, mas antes de começar a subir, Belka o puxou uma última vez, como quem precisa alertar algo.

— Inclusive, não banque o herói — pediu, séria. 

Por um instante Morgan levantou as sobrancelhas, confuso com a fala da gata, mas não demorou muito para que ela se esclarecesse: — Não precisa enganar ninguém. Sabemos o que você é.

Suspirou.

Com as mãos suando, tomou os degraus e subiu lentamente, sentindo o balanço do mar desequilibrá-lo e os dedos tremerem em contato com a madeira. A chuva fazia um barulho aterrador, mas ao menos disfarçava seus passos. Abaixo de si, Belka e Fionnula o encaravam de olhos arregalados, cada vez mais distantes e escondidas. Abriu a escotilha, sem mais hesitar. No mesmo instante, a vozinha fina de um choramingo se fez presente, além do choro feio de Poyo, que não podia ver de onde vinha. Finalmente, ainda que nenhuma das duas estivesse em seu melhor estado, Morgan sentiu um gigantesco alívio em notar que estavam vivas, ao menos —  entretanto sua calma não durou muito porque havia um terceiro par de pés na sala de jantar.

— Chega! Pode jogar isso fora. Eu não preciso mais.

A voz do marinheiro ressoou por todo o cômodo, sobrepondo-se ao choro desesperado da capitã e aos gemidos contidos de Bertruska; em seu esconderijo, Morgan sentiu as orelhas esquentarem e um fio de ansiedade preenchê-lo por completo, sabendo que precisava estancar o ferimento da ex-marinheira e ver porque Poyo chorava tanto, contudo ao mesmo tempo se acovardava naquele buraco. Era um maldito rato.

Foi quando o papel chamuscado flanou até o chão e Apricot pisou firme para apagá-lo. Não levou um segundo para entender sobre o que aquilo se tratava, e uma vontade de chorar lhe tomou o âmago, culpando-se por sua curiosidade: decerto tudo era culpa daquela maldita vendedora, que convencera Flint a lhe entregar aquele papel, mas por mais terrível que fosse admitir, ao menos uma parcela daquele inferno se devia ao fato de não tê-lo jogado fora.

— Eu vou embora — bradou o homem, marchando em direção ao vestíbulo, sem se dar conta que era cuidadosamente observado pelo médico na escotilha. Morgan respirou fundo, não poderia se dar ao luxo de esperar que o outro barco se afastasse para que então fosse dar os primeiros socorros a Bertruska e, sobretudo ao observar no chão a quantidade de sangue que fora perdida, sabia que não poderia sequer esperá-lo deixar a Carniça. 

Um terrível peso caiu sobre suas costas quando, enfim, escutou o barulho da porta se abrindo. Aterrorizado, porém com um resquício ínfimo de coragem dentro de si, ele rastejou para fora da escotilha  como uma lesma e caminhou a passos leves em direção a ex-marinheira, que gemia de dor, tentando estancar a ferida com a mão. Fez sinal para que ela se acalmasse, ao mesmo tempo que viu de relance Poyo cambalear para fora da cozinha, já com o queixo inchado e boca sangrando. A guerrilheira meneou para que ela voltasse, para que não denunciasse a presença de Morgan ali. Contudo, foi só começar o torniquete que outro tiro retumbou a embarcação.

— Eu vim da fazenda, você acha mesmo que eu não consigo discernir o barulho dos ratos saindo da toca? — perguntou Apricot, já fora da cabine e sem se virar.

Bertruska sentiu as pálpebras pesarem. À sua frente, Morgan procurou sobre as roupas um furo ou machucado sangrando; alguma dor fora do normal, mas não encontrou nada, até que a segunda manifestação do marinheiro fizesse seu sangue congelar:

— Com medinho, Guinevere? — Ele olhou-o de canto, levantando uma sobrancelha enquanto, com a mão direita para cima, chacoalhava levemente a pistola em mãos, brincando. — Eu atirei para o céu, relaxe. E eu ouvi quando saiu da escotilha.

Sua boca torceu, mas não disse nada. Em vez disso, abaixou a cabeça e voltou-se ao torniquete.

— Vai me ignorar? — perguntou, andando em passos largos em direção ao castelo de proa e parando junto à porta de entrada, apoiando-se na estrutura de madeira.

Silêncio.

— Garoto esperto, com instinto de sobrevivência — apontou, sorrindo largo. — Presas como você aguardam em silêncio o próximo movimento de seu caçador, apenas torcendo pela sobrevivência, mas nunca lutando pela própria vida. Eu acho isso fofo — confidenciou, fechando os olhos devagar e guardando a arma confiscada num dos coldres da farda. — Será que você não devia cuidar da minha irmãzinha, antes que eu estoure mais da cabeça dela?

Nesse instante, Poyo sentiu a cabeça pesar, mas não conseguia chorar mais nada, nem mesmo quando viu seu irmão voltar a porta e a encarar coçando a bainha de sua cimitarra. Ele estava a ameaçando, da mesma forma que sempre fazia, todavia estava tão cansada que apenas encostou a cabeça na parede, observando Morgan na sala tentar controlar a própria respiração e continuar checando cada um dos ferimentos de Bertruska antes de constatá-la como situação controlada. Foi aí que ele lhe lançou para si um olhar leniente,  como quem diz que chega logo. De soslaio, a figura de Apricot contorceu a face em transigência, mas parecia mais com um retardado. O médico veio até ela.

— Sou médico, não poderia deixar Bertruska morrer — disse, sem olhá-lo, erguendo-a para a bancada sem fazer contato visual com o homem. 

— Acha que não sei quem você é, Doutor Morte? Sei muito mais do que você poderia suspeitar.

Evidentemente, ele não disse nada, concentrando-se apenas na capitã atordoada e pedindo para ver suas contusões. Havia muito a ser tratado e nenhuma certeza que permaneceria vivo para que sequer pudesse limpar os ferimentos da capitã, no entanto ele da mesma forma tirou o algodão e álcool da gaveta com calma, sinalizando o que faria durante o procedimento para o homem que o encarava sem dizer nada. Era um refém. Com o marinheiro ao seu lado, assistindo ao processo de remoção dos estilhaços de dente fincados a gengiva, Morgan tinha certeza de que morreria ali, antes de terminar de socorrê-la, mas ele não podia parar, então só continuava. 

— Não se preocupe comigo, não vou fazer nada enquanto você dá o seu melhor! — Ele mantinha o mesmo sorriso sacana de sempre, enquanto, por outro lado, Morgan não movia um músculo senão os braços. — Quero dizer, por que eu te capturaria agora, se por tanto tempo já estivemos em sua cola? — perguntou, enfim colocando um de seus braços em torno do pescoço alheio.

Ia morrer. Tinha que aceitar que jamais voltaria a estudar, tampouco realizar seus sonhos.

— Ora, quem cala, consente! — cantarolou o marinheiro, dando mais risada. — Você quer saber, Doutor Morte? O porquê de termos sua imagem e uma fofoca sobre a putinha que era sua mamãe? Então vamos lá. Pode ficar em silêncio mesmo, eu gosto de ver o suor na sua face. Já tem anos que estamos atrás de você, mas não por conta desse seu habitozinho de abrir covas, é claro. (Isso até eu já fiz) — murmurou a última parte e, ao ver a contração nos olhos do rapaz, continuou a falar, sorridente:

— Como você foi (e ainda é) uma criança bem burra, nem deve ter estranhado, mas não se preocupe com isso, eu posso acordar essa pulga há tanto tempo adormecida atrás da sua orelha! — Aproximou-se de seu ouvido, caricatamente pondo a mão em frente a própria boca para começar a lhe confidenciar: — Pense comigo, será que não era estranho desde o princípio morar em uma cidade tão rica, não tendo uma vivalma de sua família além da sua mamãezinha por perto? Será que não era estranho ser um nobre, sem título?

Morgan nada respondeu.

— Estude sobre isso, querido. Lembre-se do tempo em que você esteve sozinho, também.

A respiração do médico se tornou mais pesada e então o sorriso de Apricot parecia cada vez mais largo a medida que ele o soltava e saía da cozinha, mas antes que tornasse a porta do castelo de proa, ele olhou para trás uma última vez, dizendo:

— Afinal, se até uma mãe terrível arruma tempo para bater em seu filho, por que diabos a sua sentia asco até de ver a sua cara?

Nada foi dito. E então Apricot soube que seu trabalho ali estava feito.

— Bom, vou embora antes que comece a choradeira!

E, rindo zombeteiro, o marinheiro partiu em direção ao galeão, encarando por cima dos ombros o estrago que havia realizado naquele local: não era uma de suas melhores obras, mas não poderia deixar de sentir um certo orgulho do que fizera, afinal estavam destruídos por conta de suas mãos e, no momento certo, seriam seus troféus. Por agora, bastava ir embora e...

— Já terminou de fazer o que tinha de fazer? — A voz de Izumi interrompeu seus pensamentos. Ela estava recostada sobre a amurada da Carniça, com a presença camuflada e os olhos fechados. Apricot abriu um sorrisinho sacana ao ver, além da espada oriental coberta de sangue,  a mancha escarlate envolta de Merin, a Sombra, e Flint, o Abutre.

— Não, não terminei, sinto muito — respondeu, apoiando os cotovelos no parapeito e olhando para o céu que, de supetão, engoliu toda chuva. — Ainda temos que encontrar uma pessoa.

— Eu odeio o alto-mar... — ela murmurou.

— Não vamos continuar muito tempo por aqui, meu bem. Só mais alguns dias de viagem e estaremos em Pulvereta.

— E essa gente toda? — Meneou a cabeça para a caravela, abrindo os olhos para encarar o rosto lúgubre de seu chefe. — Eu não os matei. Não vai prendê-los?

— Pode deixar quieto por enquanto — Aproximou-se dela, colocando a madeixa originalmente branca, mas agora tingida de vermelho, atrás de sua orelha. Estava absolutamente sereno. — Tenho um peixe muito maior para buscar.

O mar, agora mais calmo e sem as mesmas ondas de antes, apenas cantarolou baixinho a música dos quatro ventos e o céu parecia se abrir outra vez. 

— Fora que, mais tarde, voltaremos a nos encontrar — finalizou, partindo em direção ao galeão. — Vamos, é hora de voltar, hiyu-hiyu


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Prisão de Gato" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.