Prisão de Gato escrita por Ana e Sabrina


Capítulo 11
East Blue, Baratie (Especial)


Notas iniciais do capítulo

Olá, companheiros!
Boas vindas aos antigos e aos que chegaram recentemente, para os que ainda não me compreendem: sou uma entidade e irei guiá-los nesta infeliz aventura.
Sinto-me obrigado a retornar nesse ínterim, ainda que não receba o que mereço (afinal, uma alma se faz presente na tal "aba dos comentários", ou seja lá como as autoras chamam). Contudo, iremos prosseguir, mas esperem; minha hora irá chegar.

Alguns avisos da senhora entidade:
1. Abram o capítulo 8, haverá uma bela capa desenhada pela autora Denise.
2. As fichas começaram a aparecer, fiquem atentos.

Creio que seja apenas isso por hoje, desejo a todos uma boa leitura e até a próxima, marujos.



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Naquela manhã, a capitãzinha acordou com um peso indescritível sobre seu corpo. A princípio pensou que, como em muitas outras noites, Belka tivesse rolado para cima dela em meio aos seus “sonhos de gato”, mas não parecia ser o caso, porque não importava o quanto ela tivesse comido na noite anterior, nunca que a imediata teria engordado tanto em tão pouco tempo! Além disso, era pequena demais para aquilo tudo que estava em volta de si. Não, não. O que a soterrava era outra coisa… Duro, pontudo, gelado. Algumas partes pinicavam. Analisou toda data de objetos estranhos que caíram sobre si enquanto dormia, porém, não encontrou nada parecido com aquilo. Alerta vermelho! Alerta vermelho! Não tinha dúvidas: estava lidando com uma autêntica novidade. Escancarou os olhos, empolgada. 

No entanto, a expectativa é diretamente proporcional ao tamanho da decepção, e posteriormente a fúria. Diferente do que imaginava — como a caravela desabada, o iminente prelúdio de uma aventura — o que estava em seu entorno não era algo desconhecido, não. Era um tesouro, igualzinho aos tantos outros que vira nas histórias piráticas: pilhas e mais pilhas de ouro e jóias, todos jogados em volta e sobre si, a engolindo aos poucos numa imensidão de dourado e pedras preciosas. Até podia ser bonito de se ver, mas não era dela. Após tantos contos lidos e a idealização de conquistar sua própria fortuna, receber o prêmio de uma árdua aventura de bandeja não poderia deixá-la mais irritada. 

Levantou-se bufante, pronta para desossar o desgraçado que tivera a coragem de fazer uma sacanagem dessas com ela. Quem era o infeliz que desafiou sua capitã, roubando-lhe a aventura e a deixando somente com o dinheiro? Não poderia ligar menos para aquela bufunfa!  A passos duros foi em busca da imediata, ela que lhe devia algumas (boas) explicações, mas ao ir em direção das escadas que levavam dos aposentos para o primeiro pavimento do convés, nem notou por onde andava por conta da raiva e quase tropeçou. Amaldiçoou os céus e o Diabo, porque ele parecia mesmo a favor de uma vingança. Era um revólver de cabo de madeira, caído no chão como quem não quer nada, somente esperando ser encontrado por ela. Ora, “como quem não quer nada” é uma ova! Não passava de outra prova que foram farrear sem ela, a capitã. Seus olhos queimaram de ódio e voltou a trotar em direção a saída.

Ao sair da cabine um cheiro forte de bebida invadiu as narinas, misturado com vômito e sangue: não se deram o trabalho de tentar esconder a festa! Sentia-se pronta para gritar com todos, mas a visão do convés a impediu. Todos os adultos se encontravam bêbados e maltrapilhos, dormindo nas piores posições e mal sentiam o sol queimar-lhes a pele.

Próximo ao mastro, o cozinheiro e médico dormiam jogados atravessados um em cima do outro e sobre os homens, a imediata se aninhou, tornando-os uma cama improvisada. Mais a frente, Bertruska ressonava, agarrada ao timão com uma garrafa de rum em uma das mãos e sem uma de suas botas (certamente a mais desgraçada de todos eles). Não viu Merin em lugar algum, mas não se deu o trabalho de procurá-la; tinha pendências mais importantes para resolver naquele momento. Ponderou por um momento, poderia gritar, espernear e ameaçar jogá-los no mar, porém isso lhe soou tão básico... Lembrou das bolas de canhão; seria divertido, mas não poderia ver a face de desespero de seus companheiros (e apenas talvez precisaria de ajuda para usar o arsenal). Vamos, tinha que pensar em outra coisa…! Precisava de algo especial, para queimar na memória dos tripulantes o que acontecia quando a esqueciam. 

Queimar...

Sorriu diabólica ao lembrar do presentinho do inferno que encontrara a pouco.

Correu ao quarto e com aquilo em mãos retornou aos nobres companheiros.

— BOM DIA, FILHOS DA PUTA! — a capitã gritou, a plenos pulmões. Não houve reações, apenas um grunhido ao longe (um tanto quanto selvagem), levantou uma sobrancelha, irritada — Eu disse: BOM DIA, FILHOS DA PUTA!

A garotinha gritou ainda mais alto, pegando seu brinquedo do bolso — uma arma belíssima — e atirando para cima, sentindo o impacto da arma voltar todinho em seu rosto, como um soco. “Vai ficar uma marca, legal”, pensou, sorrindo divertida ao observar todos seus malditos subordinados acordarem desesperados.

— Que... merda é essa? — a imediata pergunta, com a voz arrastada e mal conseguindo abrir os dois olhos: o que caralhos aconteceu e por que a pirralha tem uma arma? — ONDE VOCÊ ACHOU ESSA PORRA?

— SILÊNCIO! Sou eu quem dita as regras aqui! — ordena Poyo, girando o revólver no dedo pelo gatilho. Sua bochecha já começava a inchar pela batida, mas um sorriso amedrontador só mostrava o quão séria estava sobre aquilo. Apontou para eles novamente. 

Começaram a finalmente se levantar, letárgicos e com as mãos para o alto. Flint, com o nariz achatado e uma marca vermelha na testa, sutilmente desceu uma mão para ajudar Morgan a levantar, que sentia dores no peito — quem mandou cair primeiro? As fraquezas do médico não eram sua culpa, embora o peso em suas costas fosse, em partes. Bertruska, ao longe, mal conseguiu levantar os braços, precisou correr em direção ao mar para golfar: o álcool não daria trégua, nem em situações terríveis como aquela.

— Poyo, querida — a imediata tentou negociar, segurando o tom de sua voz, o tornando amável: — ONDE VOCÊ ACHOU ESSA MERDA?

— NO MESMO LUGAR QUE VOCÊS ACHARAM AQUELAS PILHAS DE OURO! SEM MIM! — a garotinha devolveu no mesmo tom. Porém, tão focada em si mesma, não percebeu a gigantesca face de interrogação que pairou sob todos.

— Do que você está falando? Estamos quebrados. — Morgan interrompeu, uma chama de esperança se acendeu, pensando que talvez a menininha tivesse achado o resto de seu dinheiro (mesmo de ressaca, não conseguia engolir que gastaram tudo na caravela).

— Este dinheiro aqui, imbecis! — foi em direção a porta, abrindo-a para mostrar a todos os motivos pelos quais mereciam clamar por seu perdão. Mas, em vez do brilho das jóias, apenas deram de cara com a face tenebrosa de um demônio azul: Merin. Droga, esquecera completamente dela com o calor do momento!

As olheiras fundas dos três olhos davam-na uma aparência ainda mais assustadora, contrastando com seus cabelos desgrenhados e mechas grudadas em sua bochecha esquerda por causa da saliva seca. Não tinha palavras para descrever o quão ruim estava. Fedia como nunca, e suas roupas rasgadas — as que usava desde que saiu da floresta — estavam completamente manchadas de sangue. Parecia mais uma besta mitológica; a própria Medusa, como nos livros de contos. Esses subordinados imbecis… Além de roubar o tesouro, trouxeram junto o dragão! Ela grita:

— Calem a boca! Agora. — retirou as mãos dos ouvidos, arrancando a arma das mãozinhas da capitã e a jogando no mar. 

Poyo não teve tempo de reclamar ou choramingar a perda de seu brinquedo, já que nem um segundo depois Belka estava sobre si, puxando suas orelhas e gritando mil e uma ofensas em seu ouvido. Quando a gata se deu por satisfeita, passou a deixa para o cozinheiro tão consternado quanto a imediata. Ora, se tivesse apontado a arma somente para a vagabunda azul, mas ousou ameaçar quem lhe alimentava e tirava os piolhos! Não suportaria uma traição dessas, nem vindo de sua salvadora. Até os mais condescendentes têm um pingo de honra a zelar. Foi em direção a menininha, que engoliu seco ao ver sua feição tão fechada (se os da Belka machucavam, imagine um tapa na nuca vindo de Flint?) porém, antes que perdesse a calma, respirou fundo e nada fez. 

 — Pirralha maldita... — reclamou alto. Queria mesmo dar uma lição nela, mas o inchaço pela “porrada” da arma e orelhas vermelhas lhe despertaram alguma compaixão. Deixe quieto. Saiu resmungando, sua cabeça explodia e tinha certeza que todos precisavam de uma boa xícara de café (em especial, a marinheira e o bicho azul). 

Foi a sua nova cozinha, admirando o único local limpo daquela pocilga de navio — aliás, só era “pocilga” por culpa deles, estava limpo antes de invadirem e resolverem dar festa. Belka passou de cabeça baixa por trás do balcão, abraçando-se as paredes em direção ao andar inferior (a pobrezinha tinha menos de um metro de altura e havia bebido bem mais que ele, de dois), e em seguida vieram Morgan e Poyo carregando a vagabunda nos ombros, uma vez que simplesmente desabou no chão com a claridade do dia. Estava toda molenga, com alguns hematomas pelo corpo e com uma expressão desgostosa, as marcas clássicas de uma primeira bebedeira. Flint ia oferecer ajuda ao médico, perguntar se tinha algo que ele pudesse cozinhar para ajudá-la, mas um (quase) grito estridente vindo do andar de baixo o interrompeu. 

— Venham aqui, agora! — era a voz de Belka. Todos se olharam (excluindo Merin, que não tinha forças para olhar para qualquer direção), mas o cozinheiro compreendeu na hora que ele era o escolhido para ir lidar com aquilo. Largou os grãos na bancada e andou a passos largos em direção a voz, acendendo o primeiro cigarro do dia e tragando com força. As escadas rangeram ao passar, um barulho insuportável para quem bebera mais que o bico na noite anterior, mas não tão ruim quanto a respiração acelerada de Belka o esperando afobada ao pé do último degrau. 

— O que foi, Belka? Você é um gato, tem mais é que aprender a matar seus ratinhos sozinha — debochou, sem abrir muito a boca ou o cigarro cairia no chão. A gata franziu as sobrancelhas, considerando chicotear o cozinheiro insolente, porém mudando de ideia: havia um problema muito maior para ser resolvido.

— Cale a boca e entra na cabine. Você tem que ver isso — diz, correndo de volta para a escuridão do segundo pavimento. 

O andar estava muito escuro, Belka não havia acendido uma lâmpada com a ressalva da cabine das mulheres, que espreitava uns feixes de luz por baixo da porta de madeira. Quando o cozinheiro chegou perto, ela não tardou mais e abriu a maçaneta na pontinha dos pés, expondo um quarto lotado de parede à parede com jóias, ouro e outros tesouros caríssimos. A cama de casal do centro estava quase irreconhecível, de tanta tralha por cima. Cômodas, cadeiras, poltronas; tudo entupido até o teto, como uma arapuca milionária que, definitivamente, não estava ali no dia anterior. 

— Que merda é essa…? — Flint pergunta aos céus, embasbacado. Nem na maior tripulação pirata que já trabalhou havia visto tanto dinheiro. 

— Eu sei! Depois da pirralha nos ameaçando com uma arma, isso agora… — Belka coloca as patinhas nas têmporas, na vã tentativa de fazer o cérebro funcionar. — Por favor, me diz que você se lembra do que aconteceu ontem depois que mandei a vagabunda ir atrás de você… 

— Você mandou a vagabunda falar comigo ontem? — ralhou com a gata, sendo prontamente ignorado. 

— Só consigo lembrar de ter ido colocar aquele veado contra a parede, e depois tudo parece um borrão — ela explica. — Eu com certeza mandei a vagabunda falar contigo antes disso, então não venha me fazer de louca, porque não tenho dúvidas sobre essa parte. Agora, quanto ao resto… 

— Não bebemos até cair, como sempre fazemos? 

— Flint, suas roupas estão encharcadas de sangue. Não tem como ter sido uma noite normal.

O cozinheiro então pareceu acordar de seu transe, olhou para baixo para ver o estrago e praguejou irritadiço. Era sangue humano. Maldito e mal cheiroso sangue humano! Precisaria comprar uma nova dólmã. Sentiu seu estômago revirar e por pouco não deixara tudo sair; poderia matar quantos fossem — após alguns cigarros sua mente apagaria por completo — entretanto, nunca conseguiria perder seu asco por aquele fluído asqueroso, que não saia nem que limpasse com água sanitária.

Diferente do sangue de bicho, o humano parecia carregar um peso diferente, tinha manchas diferentes. Dissecava animais sem dó das roupas porque, era simples: depois do serviço, bastava uma lavagem e tudo ia embora, manchas e odor, o abandonando junto de todo e qualquer arrependimento que pudesse guardar pelas vidas. 

Mas, bem… as marcas humanas não eram “simples assim”. Estas lhe perseguiam com o odor fétido, com ódio. Eram vidas interrompidas que queimavam em sua pele, lembrando-lhe que, assim como eles, o sangue o fazia pertencer a um lugar (um passo de cada vez, e um dia acordaria no inferno). De que adiantava tê-las, se não serviam para lembrar-lhe de um carma? Não tinha memórias da noite anterior. Não podia guardar arrependimentos do que nem se lembrava ter feito. Estranhamente, isso era mais perturbante que saber a dor que causara… A incerteza o assustava. Com esse temor em mente, colocou a gata em suas costas sem deixá-la contestar, e subiu as escadas de mão para a o primeiro andar, a fim de buscar mais respostas.

Uma vez elucidado de sua própria situação, notou que Morgan e Merin estavam no mesmo estado na sala de jantar. Com as roupas completamente ensanguentadas, especificamente. A cena era a seguinte: a vagabunda azul caída de cabeça estática no sofá, enquanto Poyo segurava um copo d’água perto de sua boca, a forçando a beber um gole atrás do outro. O médico, por sua vez, costurava uma ferida exposta no braço da mulher, profunda demais para ser um arranhão de queda. Pensou por um segundo que todo o sangue, tanto o de sua roupa quanto o dos outros dois, poderia ter vindo daquele único machucado, mas… Era uma besteira infundada. Estavam todos cobertos dos pés a cabeça, afinal. O que diabos haviam feito na noite anterior? Puta merda, estavam à deriva! Como puderam roubar tudo aquilo e ainda sair machucados se estavam sozinhos no mar? Nada naquela maldita situação parecia fazer sentido. Se ainda não o tinham, com certeza absoluta recebiam agora o título de piores piratas da história.

— Homem! — a ex marinheira invadiu a cabine, interrompendo a melancolia dos demais tripulantes. Apontou diretamente para o cozinheiro ao dar a ordem. — Dê-me uma vara de pesca, vi um peixe gigantesco.

Flint empalideceu no ato. Uma leve vertigem tomou conta de seu corpo, isso não poderia estar acontecendo consigo agora, ainda não estava pronto. Milhares de coisas passaram por sua mente limitada, uma vez que tratava-se de Bertruska, mas imediatamente se lembrou da última vez que duvidou da existência de seu arqui-inimigo: por pouco não adormeceu com os corais. Um minuto de hesitação era o bastante para perdê-lo para sempre, e isso era a única coisa no mundo que nunca iria deixar acontecer. Sem pestanejar, praticamente engoliu a maior quantidade de ar que seus pulmões aguentavam e correu em direção a proa, deixando a marinheira indignada para trás. 

Parecia um retardado, pensou Bertruska, mas se a capitã gostava dele, não havia nada a ser feito. Não poderia ser mais ridículo, um homem daquele tamanho se pendurando na borda do navio como uma criança, quase caindo no mar para espiar. No horizonte, enfim, o cozinheiro avista uma figura embaçada por estar tão distante, mas indubitavelmente se tratava de um peixe. E que peixe, aliás! Os encarando com os olhos pretos e mortos e bocarra aberta, como se nadasse para os engolir. Um grandessíssimo d’um invertebrado, de fato, mas infelizmente, a medida que notava os detalhes, suas esperanças de findar sua busca iam sendo amassadas e jogadas fora uma a uma. 

— Vai ficar só olhando, homem? — pergunta Bertruska, observando o tolo com os ombros caídos e transmitindo derrota por todos os poros — Temos que pescá-lo, ora bolas.

— Que peixe o quê, sua maluca! — a imediata surgiu por trás, observando com a face mal humorada, garota burrinha — Olhem isso aqui! É apenas aquele restaurante-peixe dos jornais. — ergueu uma folha amassada: era o jornal de alguns dias atrás, descrevendo sobre a guerrilha dos cozinheiros contra os Piratas do Krieg. 

— Me dá essa merda aqui! — Flint bufou, não poderia acreditar que justo ele caíra nas historinhas de marinheiro de Bertruska. Peixe gigante uma ova, praguejou. Arrancou as folhas das patinhas da gata, pronto para entrar na cabine e esquecer de tudo aquilo, tomar um bom banho e tentar ignorar como aquelas pilhas de ouro apareceram no quarto das mulheres, porém parou de andar no mesmo instante que viu a imagem da manchete: um peixe, de olhos sem vida e boca aberta. 

Não… Estava maluco. Conferiu outra vez. 

Um peixe gigante; de olhos sem vida; e a boca aberta.

Olhou o mar. 

Um peixe gigante; 

Olhos pretos e sem vida; 

E uma bocarra aberta.

Sentiu um gosto ruim, havia golfado em sua própria boca. Respirou fundo e engoliu, não poderia demonstrar tamanha fraqueza em frente aos seus. Mais uma vez fora enganado, jamais encontraria a merda do peixe e sua mãe estava certa, pensava exasperado, a bile retornava. Travou a própria respiração e o punho no papel, em busca de um minuto de controle, observando ao longe o enorme restaurante. Um objetivo tão distante... a pouquíssimos nós de si! Jogou o jornal com força no chão, fodam-se o sonhos impossíveis, um deles estava na sua frente. O impacto das folhas assustaram a gata, algumas desprenderam-se e foram diretamente em seu rosto, mas antes de ficar completamente puta, tivera as duas patas capturadas pelas mãos enormes do homem, de joelhos para tentar ficar de sua altura, e olhando para si com um brilho inacreditável.

— Nós iremos ao restaurante! Mandem todos se arrumar, jantaremos como reis. 

Belka quase deixou escapar o “Com que dinheiro, seu merda?” de praxe, mas não tinha aquele argumento. Não hoje. Estava assustada com o jeito eufórico do homem, jamais o vira assim antes (nem bêbado), entretanto, aquela mudança não era nem um pouco ruim. Gargalhou alto, era engraçado vê-lo como os outros: mais novo que si, eu quero dizer. Jovem e cheio de sonhos para se realizar. Amaldiçoou os céus por terem lhe dado um coração tão mole! Se um dos desejos de seus companheiros estava ao seu alcance, faria de tudo para realizá-lo, custe o que custar — por eles, estava disposta a dar até mesmo seu precioso dinheirinho! 

Como sabia que ela não iria se opor a uma boa refeição, sequer teve o trabalho de consultar sua capitã: —  VÃO VESTIR SEUS PANOS DE BUNDA, FILHOS DA PUTA! VAMOS ATRACAR NO RESTAURANTE—  gritou a gata. 

— OBA, COMIDA! — Poyo gritou da sala, largando o copo que segurava para Merin no chão. A moça de três olhos a encarou como se fosse matá-la por berrar em seu ouvido, ainda mais naquela situação. 

— Caralho, Poyo, olha o que você fez com o copo! — Morgan reclama alto. Nem ele conseguia se manter calmo diante das atitudes imprudentes de sua capitã.

Você. — a gata deu uma pausa, referindo-se a capitãzinha, que não ousou retrucar — está de castigo pela arma e por tentar atirar em nós! Vai limpar esse convés imundo agora ou não vai comer nada. 

— O quê? Tudo isso? — Poyo pergunta, indignada. — É impossível! Não vou terminar até ano que vem!

— Uma capitã nunca atenta contra seus companheiros. — piscou. Caminhou até a cozinha, catando um grande esfregão e um balde, e entregando-os na mão da menininha, que soltava grunhidos de frustração. Não satisfeita, deu um pequeno afago em sua testa e como uma mãe carinhosa a alertou; um lindo vestido a esperava depois da árdua tarefa. — O resto de vocês, pro banho já! Estão fedendo a mijo.

Sorriu o sorriso dos vencedores, partindo em direção ao quarto para mergulhar em meio ao ouro. Não importava o que dissessem, era uma irrefutável comandante e, acima de tudo, estava podre de rica.

 

 ≈≈≈

 

Depois de Belka se lavar, foi a vez de Bertruska, Merin e por último os dois homens; Flint primeiro e Morgan em seguida, respectivamente e em ordem de prioridade. Não foi exatamente uma tarefa rápida, uma vez que a gata tinha costume de escovar todos os seus pelos no banho para se “embelezar” e a vagabunda-selvagem teve um pequeno colapso ao ver água saindo do chuveiro (era a primeira vez que conhecia a máquina diabólica), mas, depois de algum tempo, todos estavam limpos e cheirosos, prontos para sair. Bem, quase todos.  A pequena capitã ressonava em pé mesmo no meio do convés, apoiada ao enorme esfregão, porém ao menos com um chão tinindo — algo que ninguém confiou que pudesse acontecer. Não fora difícil levá-la para o banho (como normalmente era), Flint a ergueu nos braços até o banheiro e a gata fez sua magia; um banho fazia mesmo milagres, olhando-a de longe, com as elegantes roupas escolhidas a dedo pela imediata, poderia dizer que a substituíram por uma garotinha normal. 

— Ouçam todos! — a gata iniciou, chamando a atenção para si. — Não quebrem nada. Estão avisados. — lançou um último olhar para Poyo, Bertruska e agora, Merin. Estavam finalmente chegando e não tinha a menor vontade de perder seu tempo cuidando das terroristas. — Aliás, queridas, usem talheres para comer e apenas para comer, entendido? — finalizou o discurso com um suspiro derrotado, percebendo que perdera a atenção da menininha na terceira sentença. Melhor entender metade do aviso que nada dele, pensou conformada.  

O Restaurante Flutuante estava acendendo suas luzes externas quando chegaram perto, prontos para atracar. A imediata ordenou que preparassem o desembarque, enquanto Flint, distante e de olhos brilhantes, recolhia as velas e fazia a bandeira da gávea sumir dos olhos de todos — não permitiria que um desenho terrível estragasse sua experiência. Estava genuinamente empolgado, como uma criança visitando um lindo parque de diversões pela primeira vez. Mesmo com embarcação truncada, cheia de remendos e andaimes para consertar o estrago da “briga pirata”, nada disso era o bastante para fazê-lo se desanimar; podia entrar somente na carcaça do navio e, com certeza, estaria feliz do mesmo jeito, porque o que o movia não eram as idealizações do local em si, e sim seu significado no total: o amor pela culinária e, principalmente, a comida para todos.

Com o queixo levantado e um cigarro nos lábios tragou profundamente, deixando a fumaça preencher seu pulmão — às vezes fumar não servia apenas para lhe desestressar, e sim para diminuir sua ansiedade. Não fora treinado para realizar seus próprios sonhos, então não sabia ao certo como lidar com suas emoções em dada situação, mas tinha que criar coragem de uma vez e seguir em frente. Soltou a fumaça devagar e caminhou sem preocupação atrás de seus companheiros, vendo-os discutir qual mesa deveriam ocupar e do lado de quem deveriam sentar-se. Riu nasalado, seu humor estava genuinamente bom. 

— SANJI, SEU MERDA! — o cozinheiro mal teve tempo para reagir, antes que pudesse procurar o dono da voz, fora atingido na face por uma frigideira. Caiu no chão consternado, retirando uma de suas facas do paletó, pronto para fatiar o infeliz. Contudo, o cigarro amassado caíra dos lábios ao perceber que fora atingido por outro cozinheiro. — JÁ FOI EXPULSO?  

 

Flint havia abaixado a guarda, afinal nunca imaginou que algo pudesse acontecer em meio ao restaurante, entretanto, houvesse prestado mais atenção sentiria os olhos queimando em suas costas desde o momento em que seu corpo atravessou a entrada principal. Em meio ao salão um homem gigantesco sentira uma dor no peito e perdera a cor das bochechas; o maldito voltou para lhe assombrar, era isto!, pensava repetidas vezes em poucos segundos. Chorar com a partida não significava que desejava que retornasse. Não de mãos vazias, sem realizar seu sonho, aliás. O receberia de bom grado se fosse anos depois, com uma infinidade de peixes de todos os mares, mas de jeito nenhum o queria de volta assim, caminhando sozinho e de mãos abanando. 

Um furdunço entre os funcionários e curiosos começou a tomar forma, se juntando em volta do cozinheiro abatido e o agressor. 

— Quem diabos é Sanji? — a voz de Belka foi ouvida ao longe, após se dar conta que estavam alvejando seu cozinheiro. Se for para atingi-lo que seja pelas próprias merdas e não pelas de outrem, pensou. Os olhares se voltaram a gatinha, que se encolheu ao ver a altura daquela gente desocupada. Abaixou o tom um pouquinho: — Se é que posso saber, é claro...

— Fique tranquila, ô, Sra. Gato. Vamos apenas resolver essa pendência e logo lhe daremos o melhor atendimento — o temível agressor respondeu a imediata, com um sorriso torto e forçando uma voz doce, tirando os olhos do indivíduo jogado ao chão. 

— Que porra foi essa? — Flint se levantou sem dificuldade, tirando um novo cigarro. Apanhar normalmente não o desestabilizava, mas isso não diminuía a desonestidade de ser atacado enquanto distraído, e ainda mais quando não fizera nada de errado. Se isso o deixava irritado? Com certeza absoluta. Entretanto, precisava manter a compostura, e com uma boa dose de “respire fundo”, engoliu, acendendo o cigarro e ajeitando os cabelos para trás (se entrou limpo, queria sair dali limpo também). Foi quando o cozinheiro local viu, as malditas sobrancelhas... Elas não estavam ali. Sentiu todo o seu sangue ser drenado do corpo. 

— São dois... — ele diz, a voz amedrontadora se esvaindo num sussurro assombrado. Talvez fosse um pesadelo elaborado — Como é seu nome, meu jovem? — a voz do homem tremia, ainda encarando as malditas sobrancelhas do cliente. Tinha que ser um pesadelo.

— Flint. Ludwig Flint, caro agressor. — tragou o cigarro, olhando para o bando, que não compreendia o acontecido, mas não mexia um dedo sequer. Foi um segundo de silêncio, até Poyo quebrar com um grito ensurdecedor: 

— Mete um murro nele- — ia terminar a jura, mas Morgan conseguiu impedir segurando sua boca; não podiam arranjar mais problemas (e, acima de tudo, ele não queria ter que brigar com aquela coleção de homens mal-encarados).  Sussurrou um “chiu” baixinho, olhando fundo em seus olhos sedentos por porradaria.

Os cozinheiros, antes murmurando curiosos, correram exasperados de volta para a cozinha, desejando trabalhar como nunca antes. Mil vezes lavar pratos e arrumar mesas do que estar nos sapatos de Patty, o cozinheiro agressor; esse sim tinha um problema sério para lidar! Pelo bem da reforma, que ele e o falso-Sanji levassem as desavenças para fora do navio; não tinham mais nada a ver com aquilo e não queria de modo algum atrair a atenção de seu chefe.

— Cara, de cozinheiro para cozinheiro. — Flint decidiu resolver por si mesmo a questão, com a faca ainda em mãos, apontou para si mesmo e para o homem quase desfalecido. — Vamos resolver assim: foda-se esse Sanji, nunca o vi e apenas desejamos uma mesa. Somos clientes comuns. — guardou o facão dentro de seu paletó, vendo o homem com a face iluminada (talvez apenas aliviado por não terem chamado o chefe), retornou a natureza robusta e como todo bom funcionário, entregou o problema para um garçom qualquer, provavelmente o menos experiente deles, pedindo para que lhes indicasse a melhor mesa do restaurante.

O grupo de piratas andou pelo restaurante em pernas de pau, sem coragem de abrir a boca para falar com Flint, o único que parecia minimamente tranquilo naquela situação desgraçada (ao menos do lado de fora). Ao chegar, foram apresentados a uma mesa redonda grande, posta com uma prataria fina e um pequeno papel de “reservado” pousado sobre o centro, mas que o funcionário conseguiu sumir antes que o percebessem. 

Todo o bando encarava Flint de canto de olho, esperando uma reação que fosse, contudo, o homem apenas fumava calmamente. Percebendo que ele não iria começar, Morgan, já com muita fome, suspira e puxa a cadeira para sentar-se, mas Merin foi mais ligeira, agradecendo-o com um sorriso simpático por sua gentileza (Belka havia lhe contado muito sobre cavalheirismo nos últimos dias). O cozinheiro da tripulação riu, divertindo-se com a indignação do médico, e como forma de deboche, faz o mesmo para Belka, sentando-se de seu lado. Poyo encheu as bochechas imediatamente, queria sentar-se ao lado dos dois, cozinheiro e gata, mas conteve-se em olhar desafiadora para o garçom, induzindo-o a puxar a cadeira para ela também. Bertruska puxou sua própria cadeira, dando uma boa analisada no salão, afinal nunca é tarde para cortejar uma dama. No fim, sentaram-se, em sentido horário, da seguinte forma: Poyo, Bertruska, Merin, Morgan, Flint e Belka.

— Está tudo bem, Flint? — indaga o médico, tentando soar de maneira casual (e falhando miseravelmente, não era um homem social).

— Óbvio, perfeito! É verdade que minha cabeça, repleta de ressaca, dói devido a uma maldita — rangeu os dentes — panelada, mas creio que este seja apenas um aviso do destino. — terminou com um sorriso, sem devolver o olhar. Estava ocupado passando manteiga em uma das fatias de pão quentinhas, recém entregues na mesa. — Desejam um drinque? Pois eu preciso de um.

Ninguém, exceto Poyo desejando se aproveitar da situação, respondeu a pergunta. Estavam traumatizados demais e poderiam golfar só de sentir o cheiro amargo do álcool, então iriam de suco e margaritas para a gata, pois segundo seu imaginário, bebidas doces nunca lhe fariam mal; somente a vodca e o rum poderiam lhe derrubar. O garçom foi anotando tudo no papel, volte e meia olhando para os demais cozinheiros da casa, que disfarçadamente também tentavam espiar a mesa do “falso Sanji”.

— Garçom, eu quero essa bebida aqui! — a capitã apontou para um drinque colorido no cardápio, uma mistura de licores doces. Tinha completa noção do que era, mas pela cor torcia que os companheiros vissem como um suco. O garçom olhou para os adultos a mesa, como quem pede confirmação, recebendo um simples “não” da gatuna, e a ordem de que servisse groselha a menina.

— Você não tem tamanho para beber cachaça ainda, Pirralha — diz Belka, folheando o cardápio. 

Poyo fez um bico e murmurou: — Olha quem fala… Deve ser tão pirralha quanto eu, olhe seu tamanho...

— Bobinha. Aceito como elogio, saber que minha pelagem ainda é tão jovem, mas eu tenho mais que o dobro de sua idade. — piscou, enquanto a menininha, estarrecida, contava com os dedos o quanto isso daria.

— Vinte e seis, então? — pergunta a capitã, depois de um longo tempo.  A gata assentiu, não faria mal mentir um pouquinho. Não iria entregar aos jovens que beirava os trinta, completamente solteira e incapaz de arranjar um marido ou filhos por conta daquela forma esquisita! Maldita  fruta... — Velhos, serei a última a morrer daqui! Ou a primeira, o que for mais legal. 

E deu de ombros, perdendo o interesse na idade dos subordinados.  

— Você tem vinte e seis, Belka? — Flint pergunta, por mais que soubesse a resposta. — Eu também, fico feliz de não ser o velho esquisito da tripulação. — no fim, era apenas um dos esquisitos.

 

Na cozinha, alguns dos cozinheiros murmuravam, como em um verdadeiro telefone sem-fio:

— Souberam? A cópia do Sanji tem vinte e seis anos.

— Vinte e seis?! O Sanji estava mal mesmo, puta merda. 

—  É o que você ganha atormentando as clientes. Dez anos nas costas. 

— Enruga a pele, por isso sou lindo.

— Cale a boca e vão cozinhar, vocês dois! — outro gritou, tão alto que deu para ouvir em todos os andares. Alguma “coisa” quebrou na parede também.

 

O médico observou a conversa, ainda que não tivesse pensado sobre o assunto, desde o momento que entrara na tripulação assumiu que estava em uma posição mais alta em relação aos outros. Afinal, era um médico, certamente seria o mais velho dentre eles. Não poderia estar mais errado, ainda que estivesse na metade mais velha, ainda era considerado um dos pirralhos, e por somente um ano tinha a autorização de beber sem preocupações. Se sentiu um sapato.

— Acho que tenho 19, não tenho certeza. Bertruska falou que devo ter isso. — diz Merin.

— Como assim, “A Bertruska falou”, piranh- — Flint foi interrompido por uma leve tossida de Belka — quero dizer, como assim, Merin? Você só repete o que te dizem? — terminou, arqueando uma sobrancelha.

— Eu nasci na caverna e vivi na caverna. Não sei quando que aprendi a contar. — todos olharam para a garota azul, movendo a cabeça em concordância, fazia sentido. E de maneira geral, não poderiam discordar da marinheira naquele momento, Camerin tinha traços adolescentes.

— Entendi… — diz Belka, querendo impedir o silêncio que se formara por um breve segundo. — E você, Bertruska? 

Mas a moça não se deu o trabalho de dar bola para aquela conversa; estava entretida demais com uma mulher “boazuda” — quadril largo e seios fartos — que sentara a algumas mesas de distância da deles. Sem mover a cabeça, respondeu somente um “vinte” vazio e baixo, logo voltando ao plano mirabolante que deveria usar para abordá-la. Enfim restava somente o “doutor”, calado desde que o assunto se iniciou. Flint e Merin olharam para si, esperando que dissesse por vontade própria e ansiosos com sua resposta.

— Tenho vinte e cinco. — mentiu, olhando para o cardápio de sobremesas. Não ter experiências sociais incluía o fato de não saber mentir também. 

Mia-rá-rá-rá, temos um mentiroso aqui. — Belka sorriu ligeira, soltando uma risada — Eu vi sua data de nascimento, ainda é um pequeno mancebo. Apenas vinte e dois aninhos, Flinny. 

As bochechas de Morgan ficaram enrubescidas, fora pego no pulo. Havia esquecido completamente que a gata sabia quem ele era. Quis afundar a cabeça ainda mais quando os demais tripulantes se juntaram ao coro de risadas. Era justamente para evitar situações como essa que nunca fizera amigos, lamentou. 

 

 ≈≈≈

 

Despistando todos os contratempos do dia — como o dinheiro que apareceu no navio, a ressaca insuportável e a frigideira na cara — era realmente um restaurante esplendoroso, com toda a pompa que se pode pedir num lugar daquele nível. A gata não queria gastar muito dinheiro naquela noite, mas acabou que não teve jeito; ao ver os pratos de comida, tão requintados e cheirosos, ela também decidiu que queria ter um dia de princesa.

Sorver de um belo ensopado e mastigar uma saborosa carne era impagável para quem já viveu na miséria das ruas. Tudo era perfeito, não diferente da comida de Flint (alguns ousariam dizer que preferiam os pratos feitos pelo loiro), entretanto a sensação de comer em um lugar elegante e podendo pagar cada centavo tornava o sabor da refeição ainda mais satisfatório. Mal conversavam, estavam concentrados demais em levar seus garfos até a boca para manter um diálogo, e entre as garfada cheias e mulheres insatisfeitas querendo bater em Flint por conta do tal de “Sanji”, o espaço no estômago foi diminuindo e diminuindo, até que tiveram de prorrogar a “empanturração” — palavra inventada por Poyo — ou não sobraria espaço para uma boa e merecida sobremesa. 

— Eu posso escolher qualquer um? Mesmo? — indagou Poyo, sentada na pontinha da cadeira pela excitação. Era muito poder para suas mãozinhas; Belka jamais lhe dera liberdade de escolher sobremesas assim, sem se preocupar com o preço (em seu preceito, se quisesse algo caro, teria de roubá-lo).

— É uma ocasião especial — respondeu a gata, dando seu melhor para não se render a vontade de abrir o zíper do vestido e deixar os alimentos se acomodarem no organismo. — Só peça o que quiser, e…

Não só sua fala como também as outras conversas paralelas do salão foram  interrompidas pelo estampido da porta se escancarando. Todos os clientes, os piratas inclusos, se viraram confusos para a entrada, onde jazia a silhueta escura de um homem meio troncho sob a meia luz da noite, capaz de iluminar apenas uma feição decrépita de pavor e um imenso chapéu pirata. A capitãzinha deu um salto na cadeira, imediatamente interessada naquela figura. Fez-se um silêncio mórbido, esperando que desse seus primeiros passos. 

Primeiro um pé, e depois o outro; 

Sovava o assoalho vagarosamente e com uma presença assombrosa.

Um pé, e o outro. 

O homem pôs-se no centro imóvel, o corpo inteiro ereto em uma linha de soberba como se fosse um boneco ou estátua. Era desconcertante, certamente. Não pelo porte ou essência requintada, apesar de serem características marcantes, e sim porque, ao mesmo tempo que esboçava um orgulho imensurável, seu rosto pálido entregava um medo descomedido, que escapava pelos olhos arregalados e boca semi aberta, junto da respiração descompassada que ecoava fúnebre pelas paredes do restaurante. Estava arquejante; completamente aterrorizado com algo que não tinha forças para descrever. Suas roupas, outrora elegantes vestes de um capitão pirata, agora pingavam um líquido carmesim viscoso, além das manchas secas que tinham uma tonalidade amarronzada.  

— Eu… Preciso de ajuda… — suplicou, erguendo trépido o braço direito e expondo uma queimadura pungente no antebraço. 

Era uma marca de ferrete. O couro latejava vermelho vivo, cercando uma ferida sem casca de tonalidade mais escura que o resto da pele; um desenho circular, com duas pontas ao topo e um único olho narcísico, zombando diretamente do que ele sabia — e só ele sabia. Um gato caolho e traiçoeiro. Ao ver a figura inconfundível, um súbito desespero tomou os seis piratas e como um tapa,  flashes da noite anterior voltaram a suas mentes. Nem mesmo Poyo tivera coragem de questionar sobre aquilo, em especial depois de notar seus companheiros se encolhendo cada vez mais na mesa, com os rostos atrás dos cardápios.

— Minha tripulação foi atacada durante a madrugada. Meus homens… Estão todos mortos! — o velho aturdido voltar a falar. Dessa vez, no entanto, o desespero foi expressado com lágrimas e a face se contorceu em dor e ódio — Por Deus do céu, secaram todo o navio e só me deixaram vivo, com esta maldita marca!

Naquele instante, a clientela estava estarrecida, todos de olhos bem arregalados e gravando para sempre a figura do gato risonho estampado na pele. Isto é, um monstro, não só gato. Ninguém tinha coragem de interferir, tampouco os trabalhadores, que por mais que desejassem dar suporte, não podiam parar e deixar a máquina esfriar.  

 Contudo, de dentro da cabine principal, o clamor fora ouvido e acatado. Um pirata nunca deveria passar pela dor de ver todos mortos aos seus pés, independente do que quer que tenha feito em seu passado. Não somente isso, não se tratava de um pirata qualquer (bêbado e desorientado, como a maioria deles), e sim um capitão que não pôde proteger seus subordinados de um mal onipotente. Um homem desamparado. E, de capitão para capitão, não havia como não se compadecer com uma história de desonra daquelas.

 Zeff um dia fora um desbravador dos mares e não ignoraria o chamado de um confrade. Desceu ao salão, sem pressa ordenando aos garçons que providenciassem uma cadeira e avisarem a Patty que era preciso cuidar da ferida; o enfermo desabou em lágrimas e soluços no momento em que tocou seus ombros. Não conhecia aquelas feridas, perdera tantos que mal podia contar (e guardava o nome de cada infeliz que tivera a vida tomada em sua tutela. Mal conseguia mensurar a dor e principalmente, a sujeira. Aquele homem certamente jamais voltaria a se sentir limpo. Fora banhado enquanto dormia com as entranhas de seus marinheiros, todos eles, sem discriminação; senhores que o seguiam bem de antes de estar na Grand Line pela primeira vez, e também recrutas que se juntaram ao galeão após voltar ao East Blue com tesouros e histórias para contar, todos interrompidos antes de realizar seus sonhos.

— Não me diga que nós temos algo a ver com isso? — O médico sussurra para o cozinheiro, temendo já saber a resposta.

— Não importa. Não tem nada que confirme que fomos nós! — a gata retrucou, irritada. Tudo que menos precisava era um gigantesco conflito; a bandeira, lembrou exasperada, o maldito gato estava eternizado na bandeira. — a bandeira, alguém precisa escondê-la.

Flint ia avisar que já havia a escondido, quando Bertruska o interrompeu, com os olhos fundos: sempre fora uma mulher má e impulsiva, entretanto era a primeira vez que dava de cara com um dos fantasmas de seu passado. — Isso é nossa culpa, correto? — não importava a resposta, foi uma mulher da lei e agora cometeu seu primeiro ato pirata. Algo em si queimava, implorava para que sentisse culpa, mas… nada parecia acender. 

— Se fossem para se arrepender, que o fizessem quando não me chamaram para participar! — Poyo aumentou sua voz em um tom, como quem sussurra gritando. Morgan, diretamente a sua frente, lhe lançou um olhar severo, pedindo sem palavras para que baixasse seu tom —  Agora já foi. Eu, como capitã, assumo a culpa. 

Flint bateu na mesa e os copos e pratos voaram alguns milímetros: — Você não vai se entregar. Não mesmo! — sua voz saiu mais alta que o esperado. Por sorte, todo o salão estava em polvorosa demais para notar o movimento de uma mesa suspeita. 

— E quem disse que eu iria? — todos fecharam a cara, não compreendiam o que se passava na cabecinha burra da capitã. Ela ia entregá-los? — Quero dizer, até que se prove o contrário, nós matamos toda essa gente. Eu os mandei matar. Enquanto eu estiver viva, o segredo está protegido; mas serão meus cúmplices quando for executada. 

Eles ficaram sérios, sem ter o que dizer. A atitude da ranhenta parecia sombria de alguma forma, aos poucos enrolando cada um em suas teias para que nunca se soltassem de seu bando. Ora, cúmplices... Estava mais para reféns! 

— Não há como saber que fomos nós, o velho não nos reconheceu e recolhi a bandeira antes de entrarmos. 

— Huhuhu — a menininha riu, debochada como o gato da bandeira. — Não pense que é fácil assim, Flinny. Eu sou a culpada, sem dúvidas. — no mesmo sorriso sacana, arrancou o curativo do braço e o mostrou para os subordinados: por debaixo da manga transparente do vestido, uma prova irrefutável: o primeiro gato, o que antes pintava o curativo, agora estava eternizado no ombro da garotinha.

— Você tatuou a Poyo, Morgan? — Flint quis gritar, imediatamente se lembrando do “fazê-lo permanente” que ouviu no dia em que se conheceram.

— Eu estava bêbado. — Morgan pensou por alguns segundos e pareceu ter um estalo. — Merda, era por isso que fiz o ferrete. Era o molde.

— Você tatuou a Poyo BÊBADO?

Merin interrompe com um riso frouxo: —  hihihi, só é a prova que meu benzinho consegue fazer um desenho melhor que o de Flint, mesmo desestabilizado.

A capitã coçou a garganta, pedindo a atenção de todos. O homem marcado chorava alto, amaldiçoando os assassinos e ladrões, que lhe retiraram os maiores companheiros e o tesouro de uma vida, comovendo os demais piratas que o atendiam. Poyo ignorava, não era de sua conta o sofrimento alheio (como Belka a ensinou, “se for para sofrer por uma desgraça, que seja pela minha própria”).  Esperou que todos se calassem, colocou a cabeça apoiada sobre as mãos entrelaçadas e iniciou: — Será que devo falar algo? Afinal, vocês me roubaram uma aventura. E pelo que vi, a maior até o momento, acham mesmo que devo perdoá-los?

Belka “tsc”ou alto. Da mesma forma que quando se encontraram na cidade, ela venceu; a menina a deixou completamente sem palavras e enjaulada em suas mãozinhas, sem a menor possibilidade de fugir numa hora dessas. Todavia, quem disse que pretendia fugir? Sua decisão havia sido tomada no momento que pisou suas patas bem cuidadas naquela imunda carniça; a primeira de todas elas.

— Façamos assim: iremos jurar lealdade, como um bando pirata — a gatuna sabia como dobrar a menina melhor que ninguém. — Desta maneira estaremos eternamente ligados. Seremos os Gatos fantasmas do qual o homem tanto fala: companheiros e seus lacaios. 

— Para sempre! — Poyo afirma. 

— Para sempre. — a gata concorda. 

A capitã buscou aprovação dos demais companheiros. Nenhum sequer pestanejou negar, haviam diversas desvantagens em participar daquele fatídico bando: juntaram pessoas terríveis, com personalidades perigosas, perturbados até os limites e o principal, terrivelmente fracos. Nunca chegariam a lugar algum. Certamente jamais seriam reis ou até mesmo conhecidos por todos os mares, seus nomes não estariam nas bocas da população e muito menos na dos outros piratas. Contudo nenhum deles jamais desejou o reconhecimento. Eram tolos, alguns com sonhos impossíveis e outros desejando somente vingança. No fim, não cabia a nenhum apontar os defeitos, visto que eles eram os defeitos. Poyo era uma menina promissora que escolheu errado, pegou a dedo as piores almas para carregar em seu pequeno bote e por alguma razão, em toda sua maldade, não desejava libertar nenhuma delas de seu purgatório pessoal.

Flint por pouco não se largou na cadeira. O que era antes desta tripulação? Um viajante solitário, um alucinado caçador de peixe (a maldição de um peixe que ninguém jamais havia visto) ou apenas um derrotado? Desde o momento que fora salvo pela pirralha não pensou naquele dia — afinal, por qual outro motivo um pirata deixaria ser morto pela marinha se já não estivesse planejando acabar com a própria vida? Pouco se importava com os meios, só queria morrer. Mas ela conseguiu ver uma luz em si, mesmo que não tivesse mais nenhuma. O cozinheiro pegou uma das facas que guardava no paletó e com ele cortou superficialmente a pele de sua mão e em bom tom assumiu o compromisso: — A vós, darei meu sangue.

Belka recuou o rosto, achando estranho a decisão de fazer “aquilo” fisicamente, mas sorriu. Não tinha outro jeito. Com delicadeza pegou a faca, limpou sua ponta e cortou a palma de sua pata. Jamais faria isso por alguém, ao menos era isso o que pensou durante toda sua trajetória, não era doce e tampouco uma mulher que se doava aos outros, porém não mudaria nada desde o momento em que pisou na primeira carniça. Amava a pirralha, como a tanto não amava alguém; tinha o cozinheiro em uma parte essencial em seu coração felino e, quanto aos outros, estava aprendendo a amá-los (ou ao menos tolerá-los) também. O contrato não dizia nada a si, pois já estava presa. Com seu tom mandão, prosseguiu: — A vós, darei meu sangue, Pirralha.

— A vós, darei o meu sangue! — Bertruska não perdeu tempo, cortou a palma com a faca ainda ensanguentada. Estava calada, pensativa desde que a assombração chegou a porta, matutando sobre tudo que fora e o que desejava ser. Nunca desejou ser pirata; isto era um fato, mas nada a fez tão bem até então. E não era pela criminalidade, veja bem, com os desafortunados encontrou um lar. Encontrou uma família. Não sabia dizer se estava em um ponto fora da curva, ou se piratas viviam assim normalmente, e ela que teve azar de encontrar um grupo malfeitor em sua infância, mas, bem, que se foda também! Agora estava na mesma casta que eles e nada no mundo tiraria sua família novamente. Podia vir o que fosse: outros piratas, marinheiros, civis, tanto faz. Estava disposta a destruir todos que quisessem acabar com essa felicidade de ter um lugar só para si.  

Camerin não perdeu tempo pensando; contratos e outras formalidades não significavam nada para quem não sabia ler. Além disso, antes dali tinha o que, exatamente? Vivia em uma caverna úmida, completamente sozinha, e agora estava sentada em uma mesa elegante (como tantas que viu pelas janelas da cidade), rodeada das pessoas que lhe deram uma cama quente e um nome; sentada ao lado de seu amor, tomando um suco tão delicioso que poderia chorar e utilizando roupas quentes, compradas especialmente para si. Era feliz e por mais que não entendesse esse sentimento ainda, era grata. Não lhe desejaram ali no início, mas não a expulsaram. Poderia estar no meio dos peixes, mas estava junto a mesa. — A vós, darei meu sangue e alma, e mesmo depois de morta estarei sempre a alguns passos de distância de você, Capitã. Sempre.

O último parecia pálido, desde o momento que as palavras “para sempre” foram proferidas, sua mente não respondia da maneira correta. Era terrível com juras, não compreendia as relações e por toda a vida jamais se comprometeu com alguém, somente com a medicina. Não queria depender dos outros como dependeu de sua mãe antes, temendo se decepcionar outra vez (humanos não são perfeitos, e ele também não é). No fundo, sabia que ninguém além dos cadáveres de pássaros e peças em decomposição poderia alcançar o que realmente buscava em alguém; essa perfeição estática, que nunca machucaria ninguém. Todavia, mesmo eles eram efêmeros. Se desfazem no toque e fediam a morte. Levantou a cabeça, ainda repleto de dúvidas e encarou a tripulação: todos ali o esperavam, com paciência. Ao seu lado o cozinheiro deixou a faca, limpa e pronta para o momento que se sentisse à vontade. “O ser humano tem quase cinco litros de sangue mesmo…”, suspirou, não tinha nada a perder, os conheceu na completa mazela e talvez, se retornasse a ela, dessa vez aproveitaria o caminho — A vós, darei meu sangue.

Poyo abriu um sorriso de orelha a orelha, uma expressão vitoriosa e cheia de malícia, como a criança que acabara de roubar a vida e alma de cinco condenados. Sem pestanejar, tomou a faca e rasgou um pedaço da própria mão: o contrato estava assinado, e nada o quebraria.

A gata levantou, empurrando a cadeira sem chamar atenção e pegando sua carteira, todos compreenderam o recado. Pagar, aproveitar a distração dos outros e sumir para todo o sempre. Se o homem os denominou fantasmas (dentre tantas outras ofensas e juras de morte), era dessa maneira que seriam conhecidos. Com a voz comedida, mandou o cozinheiro entregar o paletó para a capitã, dizendo que poderia ficar gripada com o sereno da noite — tatuagem devidamente coberta, check. Um item da lista marcado, ordenou que Morgan cuidasse de Flint, pois havia exagerado nos drinques — evitar que o maluco fosse tietar Zeff, check. E caminhou, apontando o  rabo a direção que deviam seguir, evitando ao máximo o campo de visão do velho, uma vez que um gato cor de rosa não é algo fácil de se esquecer. Não dariam margem para o azar, isso check também.

Foi tranquila, tudo precisava ser natural. Elogiou os cozinheiros e deu risadinhas ao lembrarem do ocorrido com Flint, aceitou o pequeno desconto devido às causalidades e fora embora, ouvindo um dos homens gigantes falar ao seu cozinheiro que o homem que o confundiram, o tal de “Sanji”, era pirata também — disseram para lhe retribuir a frigideira na cara, caso o encontrassem nos mares. Fitou uma última vez o velho, que bebia depressivo em uma das mesas, aparentemente o lamento havia sido findado. Ao dar o primeiro passo para fora do restaurante viu sua belíssima carniça pronta para zarpar. Sorriu grata. “Cada um com suas merdas”, pensou antes de embarcar, “e sempre seguindo o fluxo do mar”. 

Sorriu, a luz nunca pareceu tão bonita. Olhando para cima, reparou que Poyo estava apoiada sobre a borda do navio, já dentro e pronta para partir. 

— Vamos logo, Belka! — ela gritou.

— E para onde vamos, afinal? — a gata riu, sabia exatamente o que ouviria. 

— Ué, é óbvio — se pendurou para fora, quase despencando — Para Grand Line, é claro! 

Os instintos de uma mãe-gato nunca falham.

 

≈≈≈

  Ao longe — bastante distante, isso é fato, um som característico era ouvido. A melodia já era repetitiva por natureza, mas como se não bastasse isso, repetia-se num maldito looping de um minuto e meio, sem folga, nunca; rodando e rodando. No meio do oceano, uma roda gigante girava sem parar, tocando as mesmas notas circenses, afugentando aqueles que passassem por perto, como ela gostava.

O garoto suspirou, iria enlouquecer seguindo os desejos absurdos da capitã, já estava morto, mas poderia perder os braços só de ouvi-la sonhar acordada: uma desequilibrada. Abaixou o observador, não havia nada nas redondezas, felizmente. Desligou a música que tocava na superfície e mandou que o navegador ligasse os propulsores (poderia fazê-lo sozinho, mas não estava com muita vontade de se deslocar até o painel de controle), os suprimentos estavam chegando ao fim, precisavam encontrar uma ilha o quanto antes.

Caminhou se arrastando até a boca do peixe, sentindo um pequeno enjoo — andar de submarino certamente não estava entre suas atividades favoritas, uma vez que a pressão era demais para suas costuras e pareciam querer se romper a qualquer hora. Queria desembarcar de qualquer jeito.

— HYAHYAHYA! Estamos chegando, meu caro?

— Aonde? Ainda não sei o raio do destino! — respondeu dando um grande bocejo, tentando impedir a capitã de roubar-lhe uma mão. Os olhos da garota brilharam, soltou o subordinado e pulou em direção a sua mesa, repleto dos mais diversos mapas (alguns roubados, outros confeccionados por ela mesma: confiáveis ou não, eram o que tinham). Fez um sinal para que fosse até ela e ralhou ao vê-lo andar com tanta calmaria. Sentia sono ao ver tanta agitação, e ela sentia raiva por ver tamanha falta dela (a empolgação, no caso, não uma pessoa).

— À Loguetown, oras! A cidade do fim e do começo!  — Apontou, jogando-se para trás.

Acho que… tanto faz, pensou, deixando a capitã rir sozinha de seus planos mirabolantes. Caminhou até o sofá que havia na sala, onde um pequeno macaco se acomodava, tranquilo e de pernas abertas, com um charuto pronto para ser aceso. 

— Não acenda aqui. Estamos embaixo d’água. — diz o garoto. O macaco lhe retribuiu com um olhar cínico, como se fosse pular em sua jugular, e obviamente não cumpriu sua ordem. — Não adianta me ameaçar, eu já morri mesmo — deu de ombros, soltando um suspiro ao sentar-se do lado do símio.  Por um segundo descansou os olhos, se preparando para o sono dos justos, mas antes de se entregar ao reino dos sonhos, abriu apenas um olho e, zombeteiro, cobra: — Mais sorte no próximo palpite, quero meu dinheiro.

O macaco franziu todo o rosto e torceu os lábios, emputecido. Logo agora, que estava pensando em comprar uma nova peça para sua prótese! Entregou o dinheiro e apagou o charuto na perna do maldito. O lança chamas novamente ficaria para a próxima. 


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Notas finais do capítulo

Algo bom ou algo ruim? Deixe marcado neste caixa esquisita abaixo, lhe dou certeza que não cairá os dedos e muito menos perderá anos de vida.
Palavra de entidade.

Uma boa noite para todos vocês.



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