Prisão de Gato escrita por Ana e Sabrina


Capítulo 10
East Blue, alto-mar (Dawn Island)


Notas iniciais do capítulo

Infelizmente minha greve terá de ser prorrogada porque minhas contratantes precisam desse espaço para comunicar o término de mais um arco nesse infeliz romante pirata. Espero que estejam se divertindo até então. Fora isso, também saliento que as vagas para a primeira tripulação secundária serão encerradas muito em breve, já que falta pouco para apresentá-los na história — cerca de três à cinco capítulos.

Não vou me prolongar mais, obrigado por sua atenção e boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/791492/chapter/10

Estavam organizados em uma fila indiana, correndo pela praia em direção ao barquinho. Poyo era a primeira dos quatro, trotando na areia fofa sem se preocupar com a lama nos sapatos, e em seguida Morgan e a vagabunda vinham grudadinhos — por mais que o médico não parecesse de todo contente com a situação. Bertruska vinha no final de todos eles, velando pelos companheiros para que ninguém se perdesse dessa vez (ao mesmo tempo que aproveitava para checar se sua “bonequinha” estava sendo bem tratada). Quando avistaram Flint e Belka, deu-se um estardalhaço que só; imagine, não comiam a horas! A comoção era justificável. Após o anúncio (voraz) da capitã, a guerrilheira também declara:

— Eu também, se não comer imediatamente, vou desmaiar de fome! — sua voz foi alta o bastante para que a gata e o cozinheiro se arrepiassem por completo. Os fantasmas não só existem como também são estupidamente exigentes! Voltaram a vida somente para os atormentar. — Flint, pode preparar um rango pra oito pessoas, viu? Eu sozinha comerei por três — e riu alto, uma gargalhada retumbante que talvez tenha feito o mar se remexer. Mas só talvez. 

Flint nunca sentiu tanto pesar por ver alguém respirando. Ó deus, clamava, ao menos levasse Bertruska, somente isso bastava, entretanto, todas as preces eram inúteis.

— Nós nem estamos na praia, seus filhos da puta. — ralhou a gata, infelizmente, quase chegando a beira-mar. — E falem baixo, minha cabeça dói.

Abicar com a canoa não fora de grande dificuldade, ao menos para Belka, que apenas pulou nas costas do cozinheiro e deixou que fizesse todo trabalho. Em sua mente havia somente uma preocupação: Morgan. Desde o singelo furto, temeu que o homem retornasse. Contudo, não acreditou que isso fosse de fato acontecer, afinal ele estava com Bertruska em busca da maluca, tudo estava contra a sua volta. Mas, de que adiantava a fé, se os deuses lhe traziam todos inteiros e com um extra na mala? Irritada, mexia o focinho de um lado a outro em negação; sabia que ter a obcecada em viagem traria problemas — a instabilidade facilmente tiraria o controle de suas patas felpudas — e sequer tinha noção de seus poderes, apenas sabiam que representava perigo (Bertruska lhe pagaria caro por isso). Dentre tantas incertezas algo era claro, precisava dar um jeito de dobrar o médico, pois em hipótese alguma lhe entregaria as suas jóias. 

 Ao pisar as patinhas na areia, após uma leve piscadela para Flint (que fora prontamente compreendida), partiu em direção a capitã, dando-lhe um cascudo. No fim das contas, estava extremamente grata por vê-la ali.

— Vamos comer e evacuar esta pocilga — ditou alto para que todos ouvissem claramente. Apontou para o drácar e virou-se para o oceano, em direção da caravela que surrupiaram na noite anterior. — Veem aquela embarcação no mar? É nossa nova carniça. 

— Ai! — Poyo reclama, acariciando a própria cabeça, mas não levou um segundo para a dor ser ofuscada pelo interesse na caravela ao mar. Seus olhos quase se encheram d’água: era o navio perfeito para ser uma excelentíssima capitã! 

O sol da manhã trouxe detalhes que Flint e Belka não puderam reparar na noite anterior. Era uma embarcação grandiosa em todos os mínimos detalhes, certamente digna do nobre que a tinha — até a noite anterior, no caso, porque agora pertencia a um bando pirata. O casco era da cor da madeira, um marrom avermelhado muito elegante que, devido ao minimalismo, só servia para destacar ainda mais a proa e bordas em dourado. As escotilhas laterais e outros detalhes que deveriam ser de metal também tinham o mesmo tom de dourado, todavia dessa vez eram entalhadas à mão com pequenos rococós entre os parafusos de metal, como se cada uma delas fosse uma obra de arte a parte. Tudo era muito requintado; muito chique. Era bem mais do que poderiam sonhar, e bem mais do que mereciam, considerando sua prole imunda. 

— Vocês gastaram todo o dinheiro nela? — Morgan pergunta, analisando o barco de longe. 

— Uma belezinha, não é mesmo? — a gata respondeu, sorrindo sutilmente para o médico. Não tiveram tempo de planejar uma justificativa, já que sequer pensavam que o veriam novamente, mas parecia uma boa oportunidade para ficar com o dinheiro só pare eles. Apenas torcia para que Flint entrasse na dança. — Foi uma pechincha, acho que a cara de mal do Flinny assustou o vendedor. 

—  “Flinny”? — o cozinheiro indaga, mas foi prontamente ignorado, já que o médico continuou:

— Você tem certeza que achou todo o dinheiro? Não é possível que o preço de um só barco esteja tão inflacionado — ele diz.

— São tempos difíceis, amigo — Belka dá um tapa na panturrilha do rapaz, seguindo em direção ao drácar — Não viu? Não faz três dias que explodiram a maior frota pirata do East Blue explodiu o Restaurante Flutuante, está em todos os jornais! Não me surpreende que estão dificultando a compra de novos barcos, nunca se sabe quando está se vendendo para piratas

A imediata fez um sinal com a pata, indicando que deveria ser seguida. Estava farta daquele lugar, esgotada de suas companhias e completamente desgostosa por precisar pisar no navio da marinheira novamente. Atrás de si, Bertruska e Poyo caminhavam conversando sobre alguma inutilidade (talvez sequer falassem sobre o mesmo assunto, apenas gostavam de tagarelar); Flint ainda finalizava o nó que prendia a canoa e observava Morgan — seu... amigo? Decerto preferia ter o psicopata do seu lado, invés de tê-lo como inimigo — suspirar pesadamente após as duras palavras de Belka. Ao seu lado, a mulher azul mal parece titubear e preparava-se para carregar o homem abatido pelo braço.

— Ei! Doutor Morte, espere um pouco. — gritou, enquanto dava um último puxão na corda. Acenou para o médico, mas em troca recebeu somente um olhar indignado da selvagem (uma verdadeira filha da puta), quase enfiando suas unhas no braço do rapaz de tão forte que o apertava. Por sua vez, Morgan desvencilhou-se de seu abraço, colocando as mãos em seus ombros e sussurrando algo em seu ouvido; a moça mordeu seus lábios, porém assentiu complacente, e em seguida seguiu a passos duros atrás das outras mulheres. 

Flint riu sozinho. Quanto mais distante a vagabunda estivesse, mais seguro estava.

E o médico veio até si, já dizendo:  

— Aviso que não sou mais forte que qualquer uma das mulheres, então se é de ajuda com a canoa que precisa, é melhor chamar outra pessoa. 

— Você sabe muito bem do que eu quero tratar — Flint pontua firmemente, olhando por cima do ombro do rapaz para confirmar que todas já haviam entrado. — Sendo sincero, eu não dou a mínima para que merda você fazia antes de nos encontrar, mas Belka com certeza se importa. Então, acho válido dar a ela algumas explicações, e aconselho a não mentir, pois ela deu uma boa lida nisso aqui. — tirou de seu bolso o diário do médico, o chacoalhando ao fim da sentença, antes de jogá-lo no peito de Morgan e seguir andando. Quando estava na metade do caminho, parou e disse, sem se virar:

— Aliás, só para você saber, ninguém aqui é santo. Você não é o único com um passado para esconder — sorriu ladino, enfim pronto para ajudar suas outras companheiras. Foram os dois de volta para drácar. 

Embarcar tralha por tralha no navio demorou menos tempo do que pensavam — afinal, o que um bando de fodidos tinha para carregar? Uma sacola de roupas ali, suprimentos acolá; os halteres de Bertruska e seus equipamentos de costura; e a foice da estranha, que continuava no barco desde a noite que invadiu. Nada especialmente relevante, ou difícil de se carregar. Em pouco tempo, já estava tudo a postos e remaram, em duas viagens, de volta a caravela. 

Não tinham um relógio em mãos, mas pela posição do sol, assumiram que passava do meio-dia quando pisaram, pela primeira vez sóbrios, no novo navio. Um grito de satisfação fora proferido pela capitã, que após largar suas tralhas no chão, correu para explorá-lo (Belka rezou para todos os deuses para que nada fosse quebrado, a menininha inclusa). No primeiro momento, sem nem se dar conta, todos esperaram o padecer da gata quanto ao local onde deveriam depositar seus pertences, porém no lugar de ordens claras, a imediata se ateve a uma conversa em particular com a mulher azul, que não tirava os olhos do mar:

— Estou muito grata pela sua ajuda, vagabun- quero dizer, mocinha — a gata se corrige, não poderia deixar escapar o apelido infeliz que Flint usava, não agora que tudo havia se resolvido. —  Fico feliz que as pendências tenham sido resolvidas, mas chegou a hora de dar adeus. — moveu a pata em direção ao médico.

— Como assim… — Bertruska tentou se intrometer, porém foi calada por um sinal da mulher de três olhos. Feito o silêncio, ela começa:  

— Pretende velejar com eles? — pergunta ao médico. Somente ao médico.

 Belka entendeu a deixa e, com um animado “Bertruska, vamos conhecer o resto do deque?”, saiu empurrando a mulher de cabelos curtos pelas panturrilhas, invejando o sexto sentido de Flint que fugira daquela melação antes mesmo de começar. Aliás, podia ter tudo contra Morgan, mas independente desses problemas pessoais, sabia muito bem quando era hora de deixar um casal (ou seja lá o que fosse aquilo) a sós. No fim das contas, Não é porque ela perdeu seus sonhos de viver um conto de fadas que deveria sair por aí estragando o dos outros.

— Sim — Morgan responde duro. Não acreditava que devia explicações para ela, só precisava ir e pronto. 

— Mas… E a clínica? Sua casa? — sua voz vacilou, enquanto apelava para qualquer um dos lugares que estivera o observando, angustiada em deixá-lo partir e ficar sozinha outra vez. Ele não a respondeu; aquilo tudo não fazia mais parte de sua vida. Ela não fazia parte da vida dele (nunca fez). Sabendo que não teria outra chance, criou coragem para perguntar: — Você… me odeia? 

— Não tenho motivos para lhe odiar. Sequer te conheço.

— E se conhecesse? Se eu tivesse o encontrado em uma situação normal, ou se eu tivesse me apresentado como uma pessoa normal…

— Faz alguma diferença saber essa resposta? — Morgan dá um tapinha em seu ombro, se preparando para ir para dentro do convés — Quero dizer, não adianta remoer sobre os “e se” quando não se sabe nem o que quer fazer com seu futuro. Depois desse tempo todo, eu percebi que tanto faz o que se passou. Cansei da segurança e a joguei fora. É minha decisão deixar as sombras e me arriscar pela primeira vez — suspira — Se você me admira tanto, deveria seguir meu exemplo e ir em frente também, para não guardar arrependimentos ou dúvidas. Depois disso, e só depois disso, eu posso te responder o que penso sobre você. 

Todas as palavras que iria dizer entalaram na garganta. Morgan havia imposto um fim e por mais que quisesse muito, não era seu direito pedir para que ficasse. Não era ninguém para ele, e não somente isso, era um fantasma para todos que a viram de relance. A floresta nunca lhe requisitou uma personalidade, e até o momento atual sequer sentira a necessidade de ter um nome próprio, mas agora… Acima de todos os seus desejos, incluindo a vontade de fazer o médico continuar consigo, queria ter uma forma de se apresentar. De dizer quem era e, de alguma forma, fazer com que todos daquele barco lembrassem de sua existência. 

Queria sair da escuridão também. 

Se a autoproclamada capitã queria fazer história e, que pena, não tinha um nome para colocar nos livros e mencioná-la na tarde que a salvou dos monstros da floresta, então que ao menos levasse sua imagem junto na memória, e contasse para todos o que ela e seus três olhos fizeram. Que falasse sobre seus chifres e pele, não importa! Não queria desaparecer naquela ilha como tantos outros animais que comeu e se alimentou — cada um deles, cada uma de suas batidas pulsava consigo naquele momento, e desejavam ecoar juntas por todo o vasto oceano. 

Era hora de partir. 

Estava preparada para deixar a embarcação, quando um enorme estouro soou e antes que pudesse proteger seus ouvidos, tudo escureceu. 

 

≈≈≈

 

— PUTA QUE PARIU! — a gata gritou no momento em que ouviu a explosão. Será que não poderia ter um minuto de paz naquele inferno que chamava de vida? Antes que pudesse tentar entender o que estava acontecendo, deu-se início a um fuzuê indescritível, todos correndo de um lado para o outro sem ao certo saber o porquê. 

— BELKA! — Flint grita, arregaçando a porta da cabine para olhar a imediata com olhos tão arregalados quanto os dele — Olha para a cidade. Agora. 

Ela hesitou, preferia viver na ignorância, mas sabia que era seu dever ver do que se tratava para, ó céus, dar um jeito de resolver depois. Virou a cabecinha devagar e de olhos fechados, quase como se fosse uma máquina enferrujada, e quando criou coragem para olhar, não viu nada. Nada. Como assim, nada? Onde está a capital? Tinha uma capital ali, com certeza. Era louca, mas não tanto assim. Esfregou os olhos. Não podia acreditar no que via. Encobrindo tudo que antes era verde e o que era cinza, uma cortina imensa de fumaça ia aos céus, exalando um cheiro insuportável de pólvora. Se antes havia dúvidas, agora era certo que a explosão saíra do navio para a cidade, e não o contrário. Estavam atacando, só Deus sabe porquê

— Que merda é essa… — Belka queria ter gritado, mas sua voz não saiu. Na verdade, mal conseguiu fechar a boca no meio da sentença. 

— A Poyo descobriu o arsenal. Isso que aconteceu. — Bertruska estava vermelha, segurando a menininha pela camiseta. Para começo de conversa, em que momento foi que a ex-marinheira saiu de seu campo de visão, e voltou tão rápido com a culpada? Era um dos mistérios daquela tripulação: se Poyo estava pensando em fazer uma merda, pode ter certeza que ela, uma mulher “sensata”, estava lá para incentivá-la. Mesmo porque não tinha menor chance de uma criança erguer uma bola gigante de chumbo sozinha.

— IÇAR VELAS! — ordenou aos tripulantes, enquanto puxava a capitã por uma das orelhas, resmungando ofensas terríveis que mesmo Poyo não conhecia. 

Depois de satisfeita em arrastá-la por aí um pouco, a largou para que pudesse trabalhar. Flint e a capitã subiram os mastros para soltar as velas, enquanto Bertruska levantava a âncora. Belka, por sua vez, subiu na proa e ergueu a pata ao ar, buscando a melhor direção para seguir — não importava para onde, sair dali rápido era a prioridade. Gritou: 

— Leme à estibordo, médico! 

Oba, trabalho braçal! — ele ergueu os braços, fingindo empolgação, mas se encolheu no mesmo instante que recebeu a pior encarada de sua vida por parte da gata. Correu para realizar o que lhe fora designado.

Ainda no deque, a conhecida invasora abria os olhos com dificuldade, sem compreender toda aquela agitação e tumulto. De repente o sol fora coberto por um imenso pano branco, e os embalos do mar pareceram agitados, uma frequência que nunca ouvira antes. Ao olhar em volta, não encontrou grama ou pedra, e sim uma madeira avermelhada e pés e mais pés passando de um lado para o outro; correndo, pisando, gritando. Por um momento esquecera de tudo.

Levantou-se com dificuldade, sentindo os ouvidos ainda arderem e um tremor anormal em seus joelhos, mal conseguia manter seu próprio peso. Com dificuldade se apoiou na borda do navio, observando a fumaça se dissipar à medida que tomavam velocidade. Não havia mais volta, ainda que uma parte de si desejasse retornar, agora era tarde demais. Sua bela floresta, as frutas frescas do pé e os passeios na cidade (coisas pífias, mas que tornavam seus dias belos), eram parte do passado. Com o vento em seus cabelos e uma olhar vazio, admirava pela última vez o único lugar que conhecera por toda a vida. Poderia não saber quanto tempo tinha naquela embarcação, mas uma coisa era certa: para lá jamais retornaria.

— Ih, desde quando ‘cê ‘tá aqui? — diz a capitã, massageando uma das orelhas, agora que tudo havia se acalmado (passada a adrenalina de sair fugido, o puxão de Belka voltou a doer). 

Ao ouvir a frase de Poyo, todos do barco, ainda que ofegantes e suados, levantaram as orelhas e se viraram num pulo para as duas, apenas para cruzar olhares com a moça de três olhos que parecia tão atordoada quanto os próprios. Flint franziu o cenho e olhou para Morgan como se fosse fuzilá-lo; ele tinha esquecido completamente da existência dela, sabe-se lá como.

— O som me fez desmaiar, partirei na próxima ilha. — a mulher afirmou, antes que lhe fizessem perguntas.

— Partir por quê? Agora que está aqui, fique conosco. — a capitã falou, coçando a cabeça entediada, enquanto olhava em direção as velas brancas. Brancas demais para um navio pirata. — BELKA! FLINT! — gritou, furiosa.

Os demais tripulantes (com exceção de Bertruska, que sorria como nunca antes) pareciam ter sido atingidos por um golpe, as malditas palavras finais da capitã. Belka, a menor aturdida, lançou um olhar desgostoso em direção a pirralha, esperando que ela falasse logo o que queria. 

— QUE MERDA DE IDEIA É ESSA, DE COMPRAR UM NAVIO COM VELAS BRANCAS E NÃO PRETAS? SOMOS PIRATAS, NÃO SOMOS? É UM ABSURDO QUE, DE TANTAS OPÇÕES... — antes que pudesse terminar seu sermão catarrento, sentiu um vento passando por sua cabeça, e repentinamente um peso no coque tão bem amarrado no topo do crânio. Rolou os olhos, vendo Flint segurar a besta com uma das mãos e lhe dar um olhar atravessado. Uma… flecha.  Ia reclamar, espernear e lhe ensinar do que era feita, mas lhe faltou coragem, o cozinheiro poderia ser assustador quando queria.

— Primeiramente, olha essa boca. — o homem colocou a besta nas costas e deu um trago em seu cigarro — E em segundo, a senhorita achou mesmo que encontraríamos um navio perfeito para a pirataria, como se fosse legal ser pirata? 

— Mas é legal!

Flint sentiu vontade de se estapear.

— O governo diz o contrário e naquela ilha de mauricinhos todos seguem o governo. — tentou explicar com o máximo de calma e didática, esperando que não precisasse desenhar (era um péssimo desenhista). Afinal, Poyo era uma criança e não queria ser um tirano incompreensível, como sua maldita progenitora era.

— O governo é chato. Bom, vamos ter que pintar então! Quero o desenho do meu curativo no centro da bandeira. — sorriu alegre, mostrando a todos o desenho em seu ombro.

Mais uma vez, o cozinheiro sentiu vontade de se auto flagelar.

O mar lhe pareceu extremamente convidativo, após um por um dos companheiros concordarem com a maldita ideia de por o gato de tapa-olho tenebroso na vela, onde todos poderiam ver. Não compreendia com um desenho horrível daqueles, feito às pressas unicamente para a menininha sorrir, podia ser tão apreciado pela massa.

 Era um merda. Tinha mais é que se foder. 

Fora isso, todos parecem magicamente esquecer que mendiga azul agora era uma tripulante. Oficialmente uma tripulante — seja isso para o bem, ou para o mal. 

 

≈≈≈

 

— Ei, garota! Você mesmo, azulzinha — a gata questionou, encarando a moça que parecia ter dificuldade em usar um garfo — Como você se chama?

Após as infernais horas de pintura, combinadas com o trabalho braçal envolvido ao tirar as velas (que fora designado logicamente a Flint e Bertruska), o bando satisfeito com os frutos do trabalho, desfrutavam da primeira refeição juntos e na nova sala de jantar. Dessa vez, havia espaço o bastante para comportar todos na mesa, além de cadeiras confortáveis de madeira, muito bem esculpidas com pequenos detalhes de gente rica. Era um tantinho exagerado, mas nada que não pudessem se acostumar — se aprenderam a viver num drácar minúsculo, a adaptação numa caravela grande e chique tinha tudo para ser mais fácil, ainda mais quando se tem um cozinheiro tão talentoso para juntar todos sobre à mesa!

— Eu não tenho um. — respondeu simplista, desistindo dos talheres mais rebuscados e pegando um pedaço de carne pela mão (pelo osso, assim como a pequena capitã). 

Poyo parou no meio da mastigação, a encarando com os olhos arregalados. Ficou assim por alguns segundos e… deu de ombros, voltando a comer como se nada tivesse acontecido. A comida era mais interessante no momento. 

— Como assim, não tem um nome? — Belka indaga, delicadamente pondo seus talheres sobre um guardanapo, como a etiqueta pede.

— Não tendo. Nunca me deram um. — explica de boca cheia e instintivamente coloca seus talheres, anteriormente jogados, por cima do seu próprio guardanapo. Não sabia quem diabos estava certo. 

A imediata respira profundamente, contando de zero a dez para se acalmar. Poyo bem dissera que estava lidando com uma selvagem — estiveram em sua “casa” na noite anterior e não passava de uma caverna, sem móveis ou o mínimo de civilização — mas ter mais uma dama falando de boca cheia era estresse demais para aguentar calada. Não era possível que ela, uma gata, conseguia ser mais donzela que as outras três. O mundo estava perdido mesmo

— É ultrajante, uma jovem tão bela não ter um nome tão bonito quanto o rosto — diz Bertruska, também comendo, enquanto olhava diretamente para os três olhos hipnotizantes. Flint revirou os olhos, esses gracejos da ex-marinheira lhe davam náuseas. 

— Vamos te dar um nome então! — Poyo ditou, após engolir a comida (como Belka a ensinou).

— E o que você entende de nomes, Poyo-querida? — perguntou Belka de cenho franzido, não poderia esperar algo bom daquilo.

— Bom, eu inventei o meu, então… — a menininha tapou a boca após perceber o que havia dito, explanou seu segredo milenar. Todos pararam para encará-la, sem reação. 

— O que você disse? — perguntou Flint. 

— Que temos que dar um nome para ela. — a menina diz, prontamente e revirando os olhos, quase assobiando para disfarçar. 

— Não, depois disso — Belka falou. 

— Que é um absurdo uma mulher linda não ter um nome lindo? — Bertruska interrompe, dando uma piscadela cúmplice para a capitã. A defenderia até o fim, por mais que estivesse tão curiosa quanto os outros.

— Poyo… — a imediata falou arrastada. 

— Isso não importa, precisamos arrumar um nome para ela. — fala exasperada — Ela não tem nem unzinho!

Morgan, até então quieto, deixa os talheres na mesa e se dirige a menina, num tom de voz ameno: — Por que não dá o seu antigo para ela?

— Porque April não combina nem um pouco com ela!

— ARRÁ! — Belka e Flint gritam; venceram da capitã naquela guerra (não que isso fosse muito difícil). 

— Será que podem deixar disso me dar um nome de uma vez? — a mulher azul pede, aflita. Era o que mais desejava naquele dia e mal poderia esperar para que seu desejo se realizasse.

Todos, com exceção de Morgan, interromperam completamente a refeição, pensando em possíveis nomes para a estranha. Não poderiam sugerir qualquer coisa, nem mesmo Flint o faria, era o primeiro nome da coitada — mais uma vez, não seguiria os passos da filha da puta da sua progenitora. As primeiras sugestões foram terríveis, em especial as de Bertruska, que não saiam de “Azura” ou “Aqua”, passando por toda a paleta de tons de azul (até “Inigo” ela tentou, por mais que soubesse que era um nome masculino. Queria de toda forma homenagear sua tão característica cor de pele).

— Se vão inventar qualquer merda, que cada um fique com uma sílaba! — Belka ditou, já sem paciência.  

— “Cá” de cadela! — Flint gritou, batendo na mesa. Já estava um pouco embriagado. 

— “Me” de meu amor! — Bertruska piscou galante, arrancando a garrafa das mãos de Flint.

— Hum, não sei ao certo… Rrrr… Ru… Ri… Rin… — Poyo ruminou, querendo entrar na brincadeira — Camerin! 

A moça pulou da cadeira.

— ESSE! Eu quero esse — diz, animada.

— Meu deus, por quê? — Belka a olhou incrédula, mas não tinha jeito, estava decidido. “Camerin” para fazer fama, e “Merin” para situações normais.

Camerin! A sonoridade era belíssima, diferente de todos os nomes que já havia ouvido, era completamente único. Não conhecia aqueles sentimentos — sequer compreendia o que eram sentimentos humanos — nunca se preocupou em definir o que sentia, afinal nunca teve com quem compartilhá-los. Contudo, naquele momento sentia como se sua casca estivesse rachando e enfim um mundo novo surgia adiante. Seu coração estava repleto de ternura. 


≈≈≈

Todo o processo de escolher um nome para a estranha azul e pintar as bandeiras levou cerca de um dia e meio, terminando somente na tarde do dia seguinte. Poyo fez questão de ter uma bandeira preta com o desenho idêntico ao do cozinheiro (o que rendeu uma infindável discussão, uma vez que Flint não queria de forma alguma refazê-lo e mesmo após desenhar resmungou durante horas a fio) no topo da gávea e mais dois outros gigantesco na vela principal e auxiliar, que também foram tingidas, apagando o branco tosco com um padrão de listras verticais, branco e vermelho —  um pedido especial de Bertruska, que sofria a perda de seu amado Monstro dos Mares. 

O cansaço era evidente em todos os tripulantes, mas não tão claro quanto a satisfação de, finalmente, serem um bando pirata de verdade. E não importa o que dissessem para eles! De fato não tinham um nome para o bando, tampouco uma tripulação decente e, acima disso tudo, nenhum deles tinha um objetivo claro, mas... Ora, nada no mundo tiraria deles a maior prova de que eram piratas: a latente vontade de farrear e beber até não aguentar mais! 

Uma típica festa pirata. Essa foi a ordem da capitã; bebida em demasia, músicas altas (embora ninguém soubesse tocar um instrumento) e comidas deliciosas, sem se importar com as horas ou com o clima, festejariam por toda a tarde e noite. Flint assumiu a cozinha como mandava seu cargo, e junto de Belka prepararam uma harmoniosa combinação de carnes, peixes e rum; rindo e beliscando. Quanto aos outros, ficaram encarregados de checar as velas e enfeitar a embarcação, tomando cuidado para que Bertruska não tivesse voz ativa nas decisões. Merin sorria alegre, nunca conviveu com tantas pessoas ao mesmo tempo e por mais que seu amado não lhe desse a devida atenção — parecia trabalhar em algo com metal, ou algo do tipo —, isso não abalava seu bom humor:  tinha o objetivo de resgatar todas as experiências perdidas no tempo que viveu isolada na floresta e se tornar humana como todos eles em uma só noite. 

No fim das preparações, todo deque da caravela estava tomado pelo luau, com a imediata denominou. As garotas e gata, aproveitavam o sol do entardecer com suas roupas de banho e drinques elegantes, esperando que Flint descobrisse onde ligar as luzes externas do barco. Poyo cantarolava e dançava com a companhia de Merin, que neste ponto da festa já se encontrava completamente embriagada, soltando soluços e tagarelando sobre cada um de seus olhos ver uma capitã diferente. Era a primeira vez que experimentou álcool em toda sua longínqua vida, e a sensação não poderia ser melhor — adios, melancolia! Por uma noite, hic, não preciso estar alerta.

— Ser humano é tããão legal! — Merin ditou, em meio aos soluços, sentando ao lado da imediata. Tentou acariciar o pelo da bichana, certamente sem a menor noção do perigo, mas teve a mão afastada com uma estranha delicadeza. Belka tinha um sorriso diabólico.

— Minha querida, você sabia que humanos não guardam rancor? — a gata afastou uma madeixa do rosto da garota — Creio que não fará bem ao seu processo de mudança guardar mágoas do cozinheiro. Não concorda? 

— Eu deveria concordar? — ela pergunta. 

— Sim, deveria. Você só vai ser humana se ouvir sua superior, no caso, eu — de tão grande que estava, o sorriso de Belka parecia que ia engolir sua face. A moça assentiu e foi em direção a Flint, uma vez que o grau etílico em seu sangue lhe impedia de raciocinar o quão estranho era aquele requisito.

Como é bom ser a única com cérebro nessa tripulação, pensou a gata. Resmungou alto, observando o psicopata talhando um pedaço de metal qualquer, Flinny não era o único com pendências a serem resolvidas. 

Se levantou e caminhou até ele, evitando chamar atenção tanto da capitã, que numa hora dessas deveria estar sendo convencida a ir dormir por Bertruska, quanto do próprio homem. Não havia bebido tanto naquela noite — já pensando em interrogá-lo outra vez — então manter a discrição não foi difícil. Foi das sombras até suas costas em completo silêncio, observando esquentar a espátula e talhar, talhar e talhar. O pedaço de ferro já não parecia uma placa, e sim um carimbo, com um desenho em relevo de um gato tão debochado quanto da bandeira. Ficou desconfiada, mas preferiu não questionar, certamente a resposta não agradaria.

— Posso ajudar? — ele pergunta, sem virar o rosto ou mudar o tom de voz. 

Belka se arrepia, não esperando ser notada tão cedo: — Você me ouviu chegar? 

— Não. Estamos contra o fogo, eu vi sua sombra no chão. — explica Morgan.   

A gata entortou o nariz. Não havia prestado atenção nisso. 

— Então, você sabe porque eu vim. Não irei fazer perguntas, uma vez que já sabe quais respostas eu procuro. 

Morgan parou por um instante, deixando a espátula no chão. Olhou para sua superior: — Estou desarmado, não se preocupe. Você quer saber sobre o diário, ou sobre o que viu? 

 Sentiu o olhar da gata pesar sobre si e prontamente tornou a falar:

— Certo. Nunca matei alguém, tudo que encontrou naquele local entrou devidamente morto, foi pego de tumbas e em sua maioria de corpos já esquecidos. O diário contém meus estudos, anotações que ajudarão a chegar ao meu objetivo —  deu uma pausa melancólica e suspirou — Você já deve ter percebido que não tenho interesse algum na pirataria. Contudo, eu também não posso continuar na legalidade, já que sou procurado pela marinha. Compreendo se desejar me expulsar, mas em minha defesa devo salientar que não pretendo fazer mal algum a nenhum de vocês; quero somente prosseguir com meus estudos em paz. Se me permitir ficar, farei o possível para ajudá-los com meus serviços, além de não envolvê-los com nenhuma merda minha. 

— Se não tem interesse na pirataria, por que está sendo procurado pela marinha?

— Eu não sei. Faz pouco tempo que atuo na ilegalidade, e não importa o quanto eu olhe para minha situação, não vejo motivos para ter uma recompensa. Nunca saí da minha ilha, mas a primeira vez que fui pego foi um dia antes de meu cartaz ser divulgado, como se já estivessem esperando o momento de me prender.

Belka franziu as sobrancelhas, pensando no que acabara de ouvir. Em seguida, assentiu com a cabeça e encostou uma das patas no ombro do médico, dando um pequeno tapinha no local. Não disse mais nada, apenas se afastou, indo encher seu copo de bebida, em sua mente o assunto fora devidamente finalizado. Já não era de seu interesse saber se mentia ou não — o tempo diria se estava sendo vigiado, e aí sim poderiam pensar como lidar com esse problema. Por ora, o melhor era deixar essas desavenças de lado e seguir velejando, até onde o mar quisesse os levar. 

 

≈≈≈

 

   Merin cambaleou pelo convés como se o chão fosse desnivelado — e no momento realmente parecia, considerando a dose cavalar de comidas e bebidas que ingeriu. Como seu objetivo era recuperar o tempo perdido, não poupou esforços para ingerir o que via em sua frente, e seus companheiros de viagem, más influências como eram, incentivaram a ideia, dando mais e mais para seu organismo puro, crescido na selva, a ponto de não aguentar mais ficar em pé. Se levantar da cadeira para ir até o cozinheiro foi um parto; quando foi ver, o céu estava à direita e o chão à esquerda, além da comida, que teimosia, se recusando a ficar no estômago, subindo como bile até a garganta, mas voltando em seguida porque era ela quem mandava ali, hic

Estava cansada. E muito, muito bêbada — Belka ensinou o significado dessa palavra hoje, “O único momento de felicidade genuína para desgraçados como nós”. E era exatamente isso que sentia naquele instante: felicidade. Fechou os olhos e divagou ao ar livre, pensando sobre o quanto a frequência cardíaca de alguém poderia mudar de acordo com a sobriedade, e também sobre como o barulho do mar era diferente à deriva. Um silêncio reconfortante, junto de um embalo delicado e carinhoso que só poderia… causar sono… hum...

Não era hora disso! 

A imediata lhe dera uma missão, e iria cumprir, como a boa humana que era! 

Guiada pelo senso de obrigação, seguiu apoiada nas paredes, sem se preocupar com a mudança de pressão de se levantar rapidamente. Flint estava na popa, apoiando os braços no balaústre de madeira sobre a cabine principal, olhando de cima o convés inteiro enquanto fumava um charuto. Não moveu um músculo, mesmo que ela não fizesse questão de ser discreta (não tinha neurônios o bastante para isso). Talvez não quisesse abrir espaço para uma conversa, ou então estava tão bêbado que não percebeu sua chegada — improvável.

Merin parou atrás dele, inspirou fundo e disse, suavemente: — A SENHORITA BELKA ME DISSE QUE HUMANOS NÃO GUARDAM RANCOR E POR ISSO TINHA DE VIR ATÉ AQUI PARA ME DESCULPAR.

— Estou do seu lado, não precisa gritar no meu ouvido — debochou, deixando o ar sair pelas narinas num riso inconforme. Levou o charuto aos lábios e deu um trago de alguns segundos, soltando a fumaça para o ar. Após mais um tempo de silêncio, a olhou de rabo de olho e torceu o lábio ao notar que não fizera o bastante para afugentá-la. A monstrinha era insistente. 

Hic, sinto muito. Eu não sei por onde começar, nunca fiz isso — explica Merin, torcendo a barra no shorts  — Isso de me desculpar, eu quero dizer. Não conheci pessoas o suficiente para precisar. 

— Comece com o problema. E seja breve, não estou de bom humor hoje — determina Flint enquanto olha para a bandeira, o gato caolho insuportavelmente tirando com sua desgraça — Por que precisa se desculpar? 

— Porque eu tentei te matar? — quis afirmar, mas saiu em tom de dúvida. 

— Ah. Foda-se, já foi. 

— O quê? 

— Isso aí, já foi — deu uma pausa na fala, se virando para a moça e endireitando a postura. Era bem mais alto, mais forte. O rosto parecia mais amedrontador que na noite do drácar. — Você não vai conseguir fazer de novo. Nunca mais. 

Camerin franziu o cenho. Estava sendo... desafiada? Mas, bem, não era para isso que estava ali, e não era de seu feitio tomar uma briga que não poderia vencer. Engoliu. Precisava resolver aquela situação, como ele mesmo disse, da forma mais breve possível.

Humanos não guardam rancor — ditou robótica, as palavras da “senhorita” Belka. Abriu um sorriso torto, aquilo não condizia com quem era, mas tinha de se encaixar. 

Flint recuou a cabeça numa genuína confusão, soltando um “Quê?” involuntário. 

— Quem te disse isso? — ele pergunta. 

 — Belka disse. 

— Ah, entendi — riu alto, jogando a bituca do charuto no mar. Virou a mulher pelos ombros, a guiando até à beira da escada para voltar ao deque inferior. — Ela está brincando com você, não se preocupe. Só quer nos ver se dando bem. Pode ir embora, ver o Morgan, ou sei lá, arranjar um quarto para dormir. Só volte aqui quando se sentir genuinamente arrependida — termina com um tapinha em suas costas, esse era um dos motivos para odiar tanto as mulheres. 

Ela desceu um degrau, outro, mais um, e enfim parou, como se algo lhe chamasse atenção. Ficou assim por dois minutos, até se virar para trás outra vez: 

— É normal ter outros da gente nas redondezas? — perguntou para Flint. O homem, já distraído com a contemplação do vazio, leva um segundo para notar que estava sendo interrompido outra vez, e mais um para assimilar que não entendeu nada da pergunta:  

— Como assim? 

— Outros barcos. De piratas. — esclareceu. 

— Não. Os barcos costumam parar durante a noite, é difícil trombar com algum essas horas. 

— E somente piratas velejam? — Camerin pareceu preocupada, não irônica. 

— É o seu poderzinho? Está ouvindo alguma coisa? — o homem rebate. 

— Se for, é algo preocupante? 

— Deixa de ser uma maluca do caralho e seja direta, pelo amor de Deus! — gritou, farto daqueles rodeios sem sentido numa situação dessas. Belka, Morgan e Bertruska, ainda acordados, tornaram a atenção para dupla. 

— O que houve aí em cima? — a gata indaga torto, já bêbada (porque depois de lidar com Morgan, nada a impedia de se divertir). 

— Ela tá ouvindo um navio. — diz Flint, colocando as mãos na cabeça, em  completo desespero. — Acho que vão nos atacar. Inferno, não estamos prontos para isso!

Contudo, seu medo nem de longe foi respondido à altura pela gata e ex-marinheira, ambas sentadas na mesma mesa, cercadas de garrafas vazias. Belka olhou com o desdém, questionando sua masculinidade sem dizer uma única palavra. Por sua vez, Bertruska gargalhou entorpecida, batendo o caneco de rum na mesa.  

 — Ah, Flinny, hic... — Belka caçoa, se levantando meio torcida, mas já partindo seu rabo ao meio e adotando sua postura de combate. Bertruska completa: 

— Eu sempre estou pronta para um abate. 

E piscou. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Retorno ao meu túmulo agora, agradecendo por sua leitura e eternamente amaldiçoando aqueles que tem a audácia de nos copiar.
Até mais.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Prisão de Gato" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.