"Olá Ana.

Agora acho que troquei de Ana's. Ou adicionei mais uma para minha lista de cartas. Duas Ana's diferentes habitam em mim depois de tudo o que aconteceu e eu acho que é uma forma de compartilhar com vocês o que sobrou da minha história. Vocês fazem parte dela, ou fizeram até certo ponto. Agora vocês são um conceito, um papel imposto por mim à vocês do que vocês representam na minha vida. Uma melhor amiga? Confidente? Antes de mais nada, me desculpem. Eu sei que não fui a melhor pessoa para vocês e nem vocês para mim, mas, quem sabe há uma luz no fim do túnel. Essas cartas. Quem sabe algum dia chegarão até vocês. Nunca me esqueci de vocês, do por quê das cartas e do sentido disso tudo.

Bom, vamos então ao que interessaria à vocês. Estou muito diferente do que quando vocês me conheceram. Ou até onde me conheceram. Moro sozinha, tenho três gatos e pasmem: estou solteira. Mas tudo está muito tênue, muito frágil e posso perder a qualquer momento. Não importa de quem seja a culpa mas perder o que me é mais precioso, me faria perder o último grão de sanidade que resta em mim. Eu sei que eu pareço muito "sensata", capaz e dona do próprio destino. Mas a verdade é que sou e não sou ao mesmo tempo. E isso me acalenta, me desespera, me faz botar as mãos na cabeça e pensar "óh céus, o que fazer agora?". E a verdade é que não sei. Estou tentando um pouco de tudo, gente. Estou mesmo tentando ser a guerreira que quero que me vejam sendo. Aos poucos a profecia se realiza e saímos no lucro, não é mesmo? Na verdade nem sei. Estou em um momento de duvidar de tudo, de questionar-me sobre minhas decisões, limitações e prioridades. E cheguei à alguns lugares e outros ainda espero chegar.

Não tem como falar que está tudo bem.

Não está.

Mas pelo menos algo mudou, não estou mais sozinha. Tenho amigos! Algo surpreendente e mágico ao mesmo tempo. E são bons amigos, ótimos amigos, maravilhosos amigos!

A questão é, como eu encaro um momento tão difícil quanto esse?

Por mais que eu tenha amigos, me resta à mim mesma. E nós mesmos deveríamos nos bastar, o que não significa ignorar a mão amiga que está tentando te ajudar, mas sim, sobre ser a protagonista da sua própria vida.

Uma lição de vida em alguns parágrafos que ainda estou tentando entender. Talvez vocês entendam mais do que eu, mas já faz tanto tempo e lá se foram tantas cartas, cartas achadas, cartas perdidas, cartas... Nem sei o que acontecem com elas.

Mas espero que cheguem até vocês. E espero que estejam bem.

Boa noite."