"Boa noite.

Eu geralmente lhe escrevo de dia, mas com essas noites intensas, imensas, sem fim... Acabo acordando de madrugada e decidi lhe escrever.

Eu queria lhe contar sobre as cartas, Ana. As cartas que lhe escrevi. Sinto que é um motivo de silêncio entre nós e queria lhe dizer que sim, as joguei fora. Muitos anos atrás, numa fúria rompante as rasguei e joguei no lixo. Veja bem, eu queria apagar minha história daqueles momentos, eram cartas tristes com temas pesados e simplesmente não aguentava as ver, mesmo que estivessem escondidas na minha gaveta. Eu as sentia vibrar, queimar, gritar os conteúdos ali descritos e eu não aguentei mais. 

Me desculpe.

Eu realmente me arrependo, joguei nossa história fora. Agora só sobraram três cartas, contado com essa que lhe escrevo agora. Para sempre foram perdidas, minha mente fez questão de se esquecer do conteúdo daquelas cartas que lhe escrevi. 

Espero que me responda algum dia.

Eu me sinto culpada e arrependida e espero que me desculpe algum dia. Ah, Ana. Achei que seria fácil ignorar o passado, mas ele volta de todas as formas. Volta em espirais. Um dia lhe contarei sobre as espirais, talvez na próxima carta. 

Por hoje, era isso que queria lhe dizer. Acabo de lhe escrever com o sol nascendo em um mar de rosas e laranjas e amarelo. Quem saiba eu consiga dormir agora. 

Bom dia."