Quebrada escrita por MarcosFLuder


Capítulo 7
Invisível


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 7 postado como prometido. Teremos algumas referências às temporadas da série, principalmente a partir da apresentação do principal vilão da fanfic. A primeira dessas referências é justamente ao primeiro episódio do série, quando Coulson procura May para chamá-la de volta a campo. Também haverá a referência ao episódio 17, que seria o grande ponto de virada da série. Teremos também uma referência indireta à segunda temporada, mais precisamente à mãe da Daisy. Além de uma referência direta ao episódio 19 dessa mesma segunda temporada. É isso ai, divirtam-se com a leitura.



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BASE SECRETA NO ÁRTICO

12 DIAS DEPOIS

 

Foram muitos os dias em que Daisy alternou uns poucos momentos conscientes, com longas horas de sono profundo. As dores eram muito fortes, resultado de tudo o que passou após ser capturada. Daisy recebeu soro, injeções, além de ter sido medicada com as pílulas que ajudavam a sarar os seus ossos, devido ao uso desmedido de seus poderes. A jovem inumana não tinha ideia de onde se encontrava, isso nos poucos momentos em que esteve consciente. No entanto, a cada vez que acordava, ainda que não fosse por muito tempo, sentia-se sempre um pouco melhor que na vez anterior. Ao mesmo tempo, cada despertar trazia nela um sentimento de felicidade, ao constatar que os pesadelos não a acometiam mais

Nos primeiros dias em que foi tratada, nos momentos em que estava consciente, via apenas três pessoas, dois homens e uma mulher. Mesmo sabendo que estava sendo cuidada, os dois homens próximos a ela a incomodavam, mais ainda por imaginá-los tratando dela em seus momentos de inconsciência. Esse incômodo não passou despercebido à equipe, ficando estabelecido que apenas a mulher cuidaria dela quando estivesse acordada. Foram poucos os diálogos trocados entre as duas, num deles, Daisy soube que sua médica chamava-se Helen. Os dias se passaram e a jovem inumana sentia-se cada vez melhor, cada vez mais curada de seus ferimentos.

No final de uma manhã, Daisy acordou sentindo-se totalmente recuperada. Não havia mais dores no corpo. Ela sentia-se forte e pronta para voltar ao seu normal, o que no seu caso, era uma vida cheia de riscos, com a morte rondando a cada instante. Olhando em volta, se viu numa espécie de enfermaria. Por alguma razão, achou o lugar um tanto familiar. A jovem inumana se levantou, ficando algum tempo ainda sentada na cama, ganhando mais fôlego, até que se pôs em pé. Vestia uma típica roupa de hospital, mas viu, numa mesa próxima, um uniforme praticamente idêntico a dos seus tempos de S.H.I.E.L.D. Daisy respirou fundo, sentindo uma onda de euforia tomar conta dela. Havia um banheiro na enfermaria, com um chuveiro. Ela não perdeu muito tempo, e quando saiu, já estava vestida com o uniforme que claramente lhe foi deixado. A jovem inumana se olhou no espelho, gostando muito do que via, o que se refletiu no sorriso em seu rosto.

A vontade de explorar o local onde se encontrava era enorme, e ela caminhava pelos corredores do que parecia ser algum tipo de base militar. Sentia-se à vontade, mesmo percebendo os sussurros das pessoas em volta. Nenhuma delas, no entanto, a abordou, menos ainda se mostrou ameaçadora. Murmuravam brevemente e depois voltavam a seus afazeres, deixando-a caminhar com tranquilidade. Após um tempo circulando pelo local, a jovem inumana começou a perceber algumas familiaridades, como as que notou na enfermaria. Havia claros sinais de que o local passara por uma reforma, até Daisy finalmente lembrar que já estivera ali. Era a base da Hidra no Ártico que ela ajudara a destruir, onde resgatou Lincoln do que seria uma morte horrível. Essas lembranças despertavam-lhe sentimentos contraditórios, tratando de espantá-los de seu pensamento. Foi então que chegou ao que parecia ser uma central de comando. Mais alguns olhares espantados se fizeram notar em sua direção. Nick Fury e Maria Hill estavam lá. Ambos sorriram discretamente quando a viram.

 

— Vejo que já está totalmente recuperada, agente Johnson – Nick Fury se dirige a ela, enquanto Daisy vê que Maria Hill está concentrada num grande painel de monitores, com diversas imagens passando neles.

 

— O senhor não vai parar mesmo de me chamar assim, não é? – não havia qualquer sinal de contrariedade na voz dela por conta disso.

 

— Não vejo porque chamá-la de outra forma – as imagens de Coulson e Mack num dos monitores chamam a atenção dela.

 

— Vocês estão nos monitorando a todos? – agora sim, um pequeno sinal de contrariedade é perceptível na voz dela.

 

— Eu creio que a conversa com ela deve se dar num local mais privado, senhor – Maria Hill interveio.

 

— Você tem razão, Hill – Fury faz um gesto de convite para Daisy – por favor, agente Johnson, me acompanhe.

 

WASHINGTON, D. C.

3° MÊS

 

Foram 59 anos, 5 meses e 17 dias. Ele fez questão de fazer essa contagem rigorosa do tempo que levou para finalmente assumir o controle de sua vida. Fez isso enquanto olhava para a enorme pilha de dinheiro à sua frente. Era uma quantia que jamais imaginara ver em sua, até então, medíocre existência. Todos o chamavam de Hank. Ganhara esse apelido na infância, nem lembrava mais porque, ou quem o dera. Colara nele de tal forma que todas as pessoas que passaram por sua vida desde então, as poucas que prestaram-lhe atenção, o chamavam assim. Fora toda uma vida vivendo nas sombras, quase sempre invisível, despercebido, ignorado, nos melhores momentos, subestimado. Um burocrata cujo destino era receber um relógio no dia de sua aposentadoria, seguida de uma homenagem protocolar, apenas para depois voltar à uma casa vazia e modesta, e esperar pela morte. Durante mais de 30 anos era a isso que parecia destinado.

34 anos, 9 meses e 22 dias. Esse foi o período de sua vida em que trabalhou no departamento burocrático da S.H.I.E.L.D., chamado por todos de “Administração”. Ele estava em seu cubículo quando ouviu, sem que fosse a sua intenção, a conversa entre duas pessoas. Reconhecera o homem que estava de pé. Phil Coulson, o homem que vivia entre deuses e que deveria estar morto, mas estava ali. Hank conhecia sua extraordinária história porque fora ele que tratara de todas as questões burocráticas envolvidas no projeto Vingadores. Qual foi a sua surpresa, ao se dar conta de que a pessoa com quem dividia a vizinhança de cubículo era ninguém menos do que “A Cavalaria”. Nenhum dos dois percebera que ele ouviu tudo o que falaram. Mais tarde, Hank descobriu que ela já esperava ter aquela conversa. Com sua volta ao campo, passou a ser dele, a tarefa de tratar das questões burocráticas que envolviam o seu trato com Nick Fury, para vigiar Coulson.

Pela primeira vez em muito tempo, desde que começara nesse trabalho, Hank sentiu alegria por estar ali. Passara a acompanhar Coulson e May, tudo o que eles faziam, as suas aventuras, bem como daqueles que acompanhavam os dois. Sempre que algum relatório burocrático chegava para ser analisado, devidamente arquivado, para depois ser esquecido, ele procurava ansiosamente os que diziam respeito ao que a equipe de Coulson e May estavam fazendo. Foram meses dedicados a isso, até o fatídico dia em que a S.H.I.E.L.D. se descobriu largamente infiltrada pela Hidra. Tal descoberta caiu como uma bomba, praticamente de forma literal. Isso não impediu, mesmo em meio à consternação e choque geral, que circulasse uma piada: “A Hidra estava em todo o lugar, menos na Administração”.

O que as pessoas não imaginavam é que a Hidra estava na Administração também, pois era essa a função de Hank ali. Até o dia em que ouviu a conversa de Phil Coulson e Melinda May, ser um agente adormecido da Hidra era a única coisa que lhe dava um propósito em sua vida. Vir para o trabalho sabendo que um dia poderia ser despertado, foi o seu grande alento durante muito tempo, a única razão que mantinha Hank interessado em vir para a Administração. Foram décadas de espera, ansiando pelo dia de ser despertado, de finalmente colaborar em algo importante, dar algum sentido à sua existência. Essa espera o manteve animado por muito tempo. Aos poucos, contudo, se tornou um fardo para ele, principalmente quando começou a imaginar se não teria sido um grande desperdício em sua vida.

Hank conhecia as regras. Jamais poderia, seja por qualquer razão, romper a sua condição de agente adormecido. Ele jamais poderia fazer o primeiro contato, devendo sempre esperar ser chamado primeiro. Esse contato nunca ocorreu. Com o tempo, a falta de qualquer sinal o deixou desalentado, um desalento que era maior por conta do desperdício que via diante de si. Ao longo dos anos, Hank se deu conta de que tinha acesso a segredos da S.H.I.E.L.D., que nenhum agente infiltrado da Hidra poderia obter, não sem correr imensos riscos de ser descoberto. Ele ansiava pelo dia em que poderia mostrar isso, mas esse dia nunca chegava, até ver as imagens do imenso porta-aviões da S.H.I.E.L.D. caindo do céu. De sua posição na Administração, ele soube que um grande número de agentes adormecidos foram despertados por um sinal. Muitos dias se passaram e uma certeza se fez presente de maneira dolorosa, nenhum sinal viria para ele. Simplesmente fora esquecido.

 

BASE SECRETA NO ÁRTICO

24° MÊS

 

Daisy o seguiu, apesar do ar muito desconfiado em seu rosto. No caminho ela via as pessoas olhando-a, algumas não conseguindo esconder o ar espantado, outras sussurrando entre elas. Encontraram dois sujeitos em jalecos, os dois tendo participado do tratamento dela. Eles cumprimentaram Fury. Ambos olharam para a jovem inumana, indicando que queriam falar algo, mas o olhar do ex-diretor da S.H.I.E.L.D. os faz mudar de ideia. Ela prefere ignorar tudo isso. Felizmente a caminhada é breve, com os dois chegando ao lugar onde ficava o escritório particular de Nick Fury. O local onde estava agora era um ambiente de tamanho médio. Havia alguns monitores também, com praticamente as mesmas imagens da central de comando. Daisy parecia realmente desconfiada agora.

 

— É claro que você notou a curiosidade que tem despertado em todos na base, agente Johnson – Fury faz um gesto, convidando Daisy a se sentar.

 

— Impossível não notar – ela responde – eu só queria entender o porquê de todo esse alvoroço.

 

— Tem a ver com a sua notável recuperação – Nick Fury se inclina para Daisy – para alguns tem a ver mesmo com o fato de você ainda estar viva.

 

— Tão impressionante assim? – há um tom de sarcasmo na voz de dela agora.

 

— Os cientistas que trataram você certamente pensam que sim – Nick Fury sorri discretamente ao falar – você recuperou-se de todos os seus ferimentos, inclusive de alguns que deveriam ter deixado alguma marca permanente, mas que simplesmente sumiram, sem deixar vestígios. É claro que como cientistas, meu pessoal fez de tudo para descobrir a razão

 

— Deixe-me adivinhar – Daisy mantém o tom sarcástico – aproveitaram que eu estava disponível e tiraram amostras de sangue, pele, cabelo e fluídos meus para analisar.

 

— São cientistas, agente Johnson. Não posso realmente culpá-los pela curiosidade.

 

— E o que descobriram?

 

— A hipótese mais plausível é que a sua notável condição tem a ver com uma herança genética – Fury percebe uma sutil mudança na expressão facial de Daisy – muito provavelmente uma condição genérica herdada da sua mãe.

 

— O senhor sabe sobre ela, diretor?

 

— Sim, agente Johnson, eu sei tudo sobre a sua mãe – Nick Fury responde – creio que você deveria refletir sobre as extraordinárias possibilidades que essa sua herança genética podem proporcionar. É como dizem por aí: “Com os poderes vem as responsabilidades”.

 

— Pela minha experiência pessoal, diretor Fury, o que costuma vir mesmo com os poderes é um monte de merda para qual a pessoa nunca está preparada – a face de Daisy ganha um ar mais sombrio, o que não passa despercebido por Nick Fury – É por causa disso que estou aqui, diretor? Por causa da minha mãe?

 

— Para dizer a verdade, agente Johnson, não tem nada a ver com isso – depois de uma rápida pausa, Fury resolve encerrar esse assunto – e sendo assim, vamos direto ao que realmente interessa da sua presença aqui.

 

— Seria muito bom, senhor – ela relaxa um pouco mais a sua postura – o senhor poderia começar me dizendo como me encontraram naquele lugar.

 

— Em verdade, não estávamos procurando você – ele vê quando Daisy olha desconfiada – é verdade, nós estávamos realmente a procura daquele lugar, mas por uma outra razão. E só o localizamos depois que uma grande explosão nos forneceu a pista que precisávamos para isso. Você teve algo a ver com o que aconteceu?

 

— Eu estava tentando escapar – ela responde.

 

— Compreensível, se formos levar em conta o estado em que a encontramos, e o que aquele sujeito estava fazendo com você – Daisy continua olhando para ele com desconfiança.

 

— Se não estavam me procurando, o que faziam lá?

 

— Tinha a ver com uma operação nossa, numa outra instalação que invadimos no Novo México – as sobrancelhas dela se franziram imediatamente.

 

— Durante a minha tortura, me perguntaram sobre uma operação ocorrida nesse estado – Daisy inclinou-se para Fury – foram vocês então.

 

— Vamos dizer que estávamos atrás da mesma coisa que você, agente Johnson, só que numa escala muito maior – ele viu o olhar dela ainda mais desconfiado – ao rastrear as finanças desse grupo extremista anti-inumanos...

 

— Os Watchdogs – Daisy o interrompeu.

 

— Exato! Ao rastrear as finanças deles você indiretamente nos permitiu encontrar uma ligação com algo que estamos perseguindo a um bom tempo.

 

— Vocês estavam me rastreando?

 

— Você é considerada uma fugitiva. E como é uma fugitiva com poderes, vem sendo procurada por várias agências do governo – Nick Fury responde – no nosso caso, entretanto, foram as suas investigações das finanças dos Watchdogs que chamaram a nossa atenção. Graças a elas nos foi possível encontrar uma pista para algo de que estávamos atrás a uns bons meses, sem sucesso.

 

— Eu estava tentando encontrar quem financiava os Watchdogs – Daisy ainda olhava com desconfiança para Nick Fury – eles passaram de haters de internet para um grupo terrorista anti-inumanos de uma hora para outra. E pior, com acesso a material altamente sofisticado.

 

— E em suas investigações você descobriu uma fonte de recursos vinda de fora dos Estados Unidos – Nick Fury mostra um relatório para ela. Daisy percebe várias contas idênticas as que investigou também.

 

— Vocês estavam me seguindo em minhas investigações on-line?

 

— Para falar a verdade, nem sabíamos que era você que estava rastreando as finanças dos Watchdogs. Pensávamos que podia ser alguém daquele grupo de hackers de que fez parte, a Maré Crescente. De qualquer forma, isso nos permitiu puxar o fio da meada para chegarmos próximos de quem realmente queremos encontrar.

 

— De quem o senhor está falando?

 

— De um sujeito conhecido apenas como Senhor H – Nick Fury indica um nome no relatório que está com Daisy.

 

— Senhor H? Sério mesmo? De onde esse cara tirou um nome desses? De uma revista em quadrinhos?

 

— A primeira vista a vontade é de rir mesmo, agente Johnson – o rosto de Nick Fury, no entanto, continuava muito sério – mas o fato é que esse nome um tanto ridículo, é tudo o que sabemos dele.

 

— Vocês não tem nenhuma pista? Nem uma foto ruim, uma voz mal gravada, uma impressão digital parcial?

 

— Absolutamente nada agente Johnson – Fury responde – e isso vale para todas as agências de espionagem, de qualquer governo que você possa imaginar. Vale também para a S.H.I.E.L.D., para a Hidra, para qualquer um. Seja quem for esse cara, é alguém que jamais foi notado antes.

 

WASHINGTON, D. C.

3° MÊS

 

Com a queda da S.H.I.E.L.D., praticamente todo o pessoal da Administração foi realocado para outros lugares. O seu destino foi um local ainda mais obscuro, justamente para onde iam os relatórios burocráticos que eram analisados e depois arquivados lá, com destino ao esquecimento. No entanto, Hank percebeu que aquele lugar não guardava apenas os arquivos burocráticos da S.H.I.E.L.D., mas de todas as agências, departamentos e setores do governo americano. Um oceano de arquivos mortos, dossiês, memorandos e relatórios esquecidos, assim como Hank. Nos primeiros dias, tudo o que fez foi refletir sobre o que poderia fazer com sua vida, agora que não havia mais sentido na espera. Como se tudo não bastasse, também não tinha mais como acompanhar as vidas de Coulson e May. Ele podia ficar enterrado naquele lugar até o dia em que morresse, ou quando fosse aposentado, o que seria praticamente a mesma coisa.

No entanto, nem tudo foi ruim naquela mudança. Foi graças a sua realocação que conhecera Desmond Norton. A identificação entre ambos foi imediata. Hank tivera bem poucos amigos em toda a sua vida. Praticamente todas as suas amizades foram feitas na infância, o contato se perdendo ao longo do tempo. Teve bem poucos relacionamentos amorosos também, se é que alguns breves contatos pudessem ser chamados assim. Nunca se casou, nem teve filhos. Desmond Norton foi a primeira amizade de fato que fez em muito tempo. Era um homem numa situação ainda mais triste que a de Hank. Aquele lugar fora o seu primeiro e único emprego na vida. Como Hank, também viveu nas sombras, ignorado e invisível. No entanto, o fato de ter sido um infiltrado da Hidra, ao menos deu a Hank um sentido para sua existência, durante muito tempo. Desmond nem isso teve. A vida para ele era apenas uma longa espera pela morte. Os sinais de uma grave depressão foram muito claros desde o primeiro contato, mas a amizade deles fizera bem a ambos.

Apesar de terem muito em comum, Hank e Desmond se diferenciavam em algo fundamental. Desmond via o seu local de trabalho como um longo corredor até a sua morte. As décadas que ficara ali fez com que odiasse tudo o que dizia respeito àquele lugar. Paradoxalmente, deixar esse mesmo lugar era uma ideia que o apavorava. Hank, por sua vez, apesar da impressão inicial ruim, começou a ver aquele oceano de relatórios esquecidos com outros olhos. A maior parte do tempo o que faziam era arquivar material. O que para Desmond era algo tedioso, para Hank se mostrou um tesouro de descobertas. Enquanto um apenas esperava pelo dia da própria morte, o outro começou a imaginar tudo o que aquele lugar podia oferecer. Ficou imaginando tudo isso, até o dia que fez sua primeira venda.

Após quase 3 meses naquele lugar, Hank firmou uma certeza: informação é um bem extremamente valioso. Ele não demorou muito a perceber que tinha total acesso a esse tesouro. No caso específico, uma investigação que o FBI estava fazendo a mais de um ano, sobre as atividades de um empresário envolvido com um cartel de drogas. Os relatórios burocráticos arquivados a que ele tinha acesso lhe permitiam antecipar as ações do FBI contra o tal empresário. De início foi uma pura experimentação, algo para fugir do tédio, mas decidiu passar informações ao homem que era investigado. Sentia medo ao fazer isso, de ser descoberto e preso por passar informações de uma agência federal. Ao final de tudo, porém, a adrenalina que sentia em tal situação foi mais um motivo para Hank agir.

A primeira informação foi passada de graça, uma forma de mostrar o que sabia. As outras duas, que definitivamente salvaram a pele do sujeito, renderam-lhe muito dinheiro. Ao final da negociação, Hank olhou para os maços de notas diante dele. Nunca vira tanto dinheiro em sua vida. Olhar para aquela fortuna deu-lhe uma sensação de euforia e felicidade. Seu primeira escolha fora gastá-la da forma mais irresponsável possível. Pegou todas as suas férias acumuladas, convencendo Desmond a fazer o mesmo, dizendo que recebera uma herança inesperada. Ele decidiu aproveitar a vida junto com o seu primeiro amigo de verdade em anos. Era o certo a fazer, pois tinha certeza de que seria pego pelo FBI brevemente, provavelmente amargando muitos anos de prisão.

 

BASE SECRETA NO ÁRTICO

24° MÊS

 

— Caramba! – Daisy estava realmente impressionada – um cara que consegue montar uma operação dessas sem ser notado por praticamente ninguém... caramba.

 

— O pior não é nem o fato desse sujeito ter montado uma operação dessas debaixo dos narizes de todo mundo, agente Johnson – Nick Fury pondera – o pior mesmo são as possíveis consequências do que ele está fazendo.

 

— O que quer dizer com isso?

 

— Ele está falando de uma nova corrida armamentista, Daisy – Maria Hill entra no escritório e se coloca ao lado de Fury, antes de voltar a falar – só que além de armas nucleares, nós também temos agora homens e mulheres sendo transformados em armas.

 

— Se você acha que a proliferação de inumanos tem sido motivo de tensão pelo mundo – agora era Nick Fury quem falava – espere para ver o que pode acontecer se tivermos uma proliferação de exércitos inteiros de soldados aprimorados.

 

— Vocês estão me dizendo tudo isso por alguma razão – Daisy olha de Fury para Maria Hill – que tal me informarem de uma vez onde eu entro nessa história toda.

 

FRONTEIRA RÚSSIA/OSSÉTIA DO SUL

TRÊS DIAS DEPOIS

 

O barulho da explosão ainda reverberava em seus ouvidos. Era um zumbido terrível, do tipo que parecia capaz de estourar sua cabeça de dentro para fora. Ela foi tomada por uma tosse intensa, provocada por uma fumaça de onde exalava um cheiro que devia ter algum componente tóxico. Daisy precisava encontrar os outros para se reagruparem. Tratou de se levantar, apenas para sentir uma pontada forte na altura das costelas. Não havia o que fazer, nada além de torcer para que alguma lasca de osso não atingisse qualquer órgão interno seu. Daisy não sabia bem o que os atingira, talvez um míssil, mas sabia que precisavam ir para um local mais seguro, pois estavam muito expostos ali.

O grupo que Daisy liderava vinha caminhando a pelo menos 10 minutos, desde o seu local de aterrissagem. Foi então que encontram um grupo de soldados. A luta resultou num caos de corpos se conflagrando. Eles estavam levando vantagem quando outro ataque veio, resultando numa explosão que atingira a todos, até mesmo os soldados contra quem seu grupo lutava. A jovem inumana sabia que um novo ataque viria a qualquer momento e que precisava reunir todos novamente. Daisy continuava procurando pelos outros em meio ao caos à sua volta. Bobbi foi a primeira que encontrou. Ela estava caída, próxima do corpo de um soldado.

 

— Bobbi, Bobbi – ela gritava, sentindo um enorme alívio por ver que sua companheira recuperou os sentidos – onde estão os outros? Você faz alguma ideia?

 

— Eu estava próxima do Joey quando tudo foi para o inferno – Bobbi ainda estava tonta, mas conseguiu se levantar – o que foi tudo isso?

 

— Estavam nos esperando – Daisy respondeu – algum desgraçado nos vendeu.

 

— Tem duas delas ali – uma voz gritava em russo, chamando a atenção das duas agentes.

 

Um grupo de soldados apontavam armas para ambas, disparando-as sem hesitação. Os tiros as teriam atingido em cheio, mas algo não só deteve as balas, como as fez derreter. As duas agentes olharam para o lado, vendo Joey usando o seu poder sobre metais para salvar-lhes a vida. Daisy e Bobbi não perderam tempo. A primeira despedaçou as armas dos soldados com o seu poder. Bobbi, por sua vez, partiu com tudo para cima deles, logo seguida pela jovem inumana. Elas trabalharam juntas como uma máquina de luta implacável, não tendo grande dificuldade em colocar todos os soldados fora de combate. Após isso, ambas ficaram muito felizes por se reunirem com Joey.

 

— Que bom que você está conosco – foi Daisy quem disse, Bobbi apenas concordando com a cabeça – você viu mais alguém?

 

— Eu estava perto da Bobbi quando tudo explodiu na nossa cara – Joey respondeu – era para ser um ataque surpresa, como nos descobriram?

 

— Não faço ideia, mas temos que encontrar os outros e sair daqui. Estamos expostos demais neste lugar – Daisy olhava de um lado a outro, até ouvir o barulho de um helicóptero.

 

— Corram – Bobbi gritou, logo antes que tiros de metralhadora vindos do helicóptero fossem disparados na direção deles.

 

LOCAL DESCONHECIDO

19 DIAS ANTES

 

O homem que agora é conhecido como Senhor H, olha para o trabalho de sua vida. O resultado da mistura de três tentativas diferentes de criar homens e mulheres mais fortes e poderosos. O que ninguém, além dele é claro, tinha percebido, era que essas diferentes tentativas podiam ser unidas num único objetivo. Ele finalmente fizera isso. O soro que tinha em mãos era o produto mais próximo do material que criara o Capitão América, além de ter também suas próprias especificidades. Os que usavam esse soro não tinham apenas força, resistência e agilidade aumentadas num nível sobre-humano, como também ganhavam uma notável capacidade de recuperação de ferimentos. O mais impressionante, entretanto, era o fato dele ter conseguido tudo isso trabalhando debaixo das barbas de tanta gente, sem que ninguém sequer desconfiasse de suas ações.

Ao menos era o que pensava, até dois dias atrás, quando o laboratório onde todo o soro fora desenvolvido foi atacado por uma força desconhecida. Não foi possível identificar a agência responsável, indicando que algum grupo fora do governo estava em seu encalço. Sua capacidade de prever as ações das agências do governo fora driblada. Ele não esperava ser surpreendido dessa forma, obrigando-se a rever suas fontes de informações, tentando descobrir o que deixara passar. Não só descobriu, como se deu conta também de outra informação importante, que ameaçava a sua operação. Ele era o Senhor H, e não seria pego de surpresa mais. Hank sorriu, ao se dar conta do quanto gostava de ser reconhecido assim, mesmo admitindo que parecia um nome de vilão de quadrinhos.

Hank olha em volta, o amontoado de caixas mostrava uma produção em escala industrial. Eram quase mil kits com o soro que fora produzido, prontos para ser embarcados ao seu destino final. Foi uma grande sorte que tivessem sido levados do laboratório do Novo México dias antes do ataque. Não fosse por isso e meses de trabalho seriam perdidos, sem falar no que custou em investimento. Felizmente, em vez disso, serão embarcados com destino à base russa onde está marcado o leilão. A fortuna que esses kits renderão era digna de um rei, desde que conseguisse fazê-los chegar àqueles a quem eram destinados. Nem todos irão, é claro, pois ele descobriu que seus planos estavam correndo risco. Hank já sabia que os governos de Estados Unidos e Rússia iam tentar passar a perna em todos. Felizmente já se antecipara a isso. Da mesma forma, já estava se preparando também para qualquer ação de fora, que certamente será feita.

Essa, entretanto, nem era a preocupação maior dele. Olhando para o frasco do soro em suas mãos, Hank tinha outro problema com que lidar. Um terceiro elemento que compunha esse soro não estava mais disponível. Ele tinha condições de reproduzir os outros dois elementos que compunham o seu soro, mas o terceiro elemento tinha uma origem que desconhecia. Tudo o que sabia é que se tratava do sangue de uma pessoa. Até então ele tinha uma informação sobre esse soro que se revelou falsa. Ele não duvidava da seriedade de sua fonte, pois fora esta mesma fonte que lhe permitiu descobrir esse terceiro elemento.

O que estava claro para Hank é que a informação original era falsa. Não era o sangue de um tal Hive, que já estaria morto, mas o de uma mulher. O porquê da fonte original ter mentido nem era o mais importante para Hank, não depois de saber, segundo quem examinou o sangue em questão, que não era o de uma mulher qualquer. O mais importante para ele era saber que se tratava do sangue de alguém que, combinado com os outros dois elementos, resultava no produto quase perfeito que tinha em mãos. Foi apenas alguns dias antes que Hank fora informado sobre as descobertas impressionantes a respeito da composição deste soro, principalmente sobre esse terceiro elemento. Mais do que nunca, era necessário descobrir quem era mulher de onde se originara esse sangue. Ele usará todos os seus recursos para descobrir a sua identidade.


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Notas finais do capítulo

Espero que quem leu tenha gostado. No próximo domingo teremos o capítulo 8.