Quebrada escrita por MarcosFLuder


Capítulo 14
O poder a seu serviço


Notas iniciais do capítulo

E aqui estamos, com a jornada cada vez mais próxima do fim. Eu já até enjoei de tanto revisar capítulos; talvez uma certa melancolia por conta do fim esteja tomando conta de mim. Enfim, este é o capítulo 14. Depois disto só faltam mais dois. Para efeito de referências, temos uma do episódio 15 da segunda temporada, relembrando dois personagens do período, Enfim, aproveitem a leitura.



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CIDADE DE FILADELFIA

25° MÊS

 

As palavras que ouviu de Gordon, na noite em que o conhecera, ainda reverberavam em sua mente. Toda matéria do universo tinha uma vibração e ela podia acessá-la, e também controlá-la. Na época, tudo isso a assustava. Era um poder que não se sentia capaz de controlar. Havia o medo que inspirava nas pessoas próximas, na reação delas diante da insegurança sobre quem de fato emergira daquele casulo. Daisy percebia esse medo e isso a machucava. Uma vida inteira em busca de ligações de verdade, e ela temia perder as que tinha conseguido. O tempo que passou com sua mãe, apesar de todas as decepções posteriores, foi fundamental para superar esse temor.

A partir daí, ela foi ganhando uma confiança cada vez maior em seus poderes. Com a confiança, por sua vez, veio a curiosidade em saber até onde poderia ir. Durante o período em que estava sob a influência de Hive, este sempre insistira para que ela buscasse potencializar ao máximo os seus poderes, explorasse qualquer possibilidade de usá-los. Nada havia de generoso ou positivo no seu incentivo. O objetivo dele, é claro, era ter todo o potencial de Daisy única e exclusivamente a seu serviço. A jovem inumana deixou esse pensamento de lado. Se lembrar de Hive em nada a ajudaria, e dessa vez ela se viu tirando-o de sua mente com relativa facilidade. O que importava agora era se concentrar no seu objetivo.

Aquele era o seu poder, algo que representava um potencial magnífico. Era um poder que estava a serviço dela, para proteger as pessoas que ama, além de humanos e inumanos em geral, nada além disso. Agora, mais do que nunca, ela precisava desses poderes a seu serviço. Foi com esse pensamento que Daisy tratou de esvaziar sua mente, concentrar-se no seu objetivo. O tempo era corrido, precisava conseguir logo, pois não podia adiar indefinidamente o que tinha de fazer. A jovem inumana recebera um chamado, um convite que sabia ser uma armadilha, mas que não podia recusar. Era a sua única chance de encontrar o Senhor H, acabar de vez com qualquer possibilidade daquele soro ser feito novamente. Por maior que fossem os riscos, ela não perderia essa chance.

Aquele era o quarto dia em que fazia o seu experimento. O corpo já quase acostumado aos choques elétricos, embora ainda não tivesse conseguido realizar o que pretendia. Daisy permanecia no meio da sala, do pequeno apartamento que alugara. Estava deitada numa mesa, uma das mãos e os dois pés amarados por correias firmes. Todo o seu poder concentrado na ponta dos dedos de suas mãos, as vibrações sendo intensificadas em pontos específicos. Ela lutava para se concentrar, não se permitir demonstrar o efeito dos pequenos choques elétricos que sentia ao usar seus poderes. Toda a sua concentração estava voltada para sentir as vibrações à sua volta. Tudo o que a jovem inumana fazia era focar o seu poder num objetivo. O esforço era demasiado, mas ela insistia. Era parte de sua preparação para o que de pior poderia acontecer. Daisy fechou os olhos e concentrou-se mais ainda. Ela precisava conseguir.

 

**********************************

 

A jovem inumana se mantinha descansando a pelo menos uma hora. Sabia que não podia exigir demais de si mesma. Ela procurava relaxar seu corpo, aliviar ao máximo os efeitos dos choques elétricos. O que estava fazendo parecia uma loucura, mesmo para ela. Imaginava o que Coulson e May diriam disso, bem como os outros. Esse pensamento é logo espantado. Pensar naquelas pessoas não a ajudaria em nada neste momento. Enquanto descansa ela observa seu laptop trabalhando. Estava em busca de imagens, tanto do aeroporto clandestino de Genebra, como das proximidades. Tudo para identificar alguma figura que lhe chamasse a atenção.

Essa não era a única função de seu laptop. Isso ficou claro quando teve a sua atenção despertada por um sinal emitido pela máquina, indicando que uma mensagem urgente tinha chegado. Ela abriu o e-mail. Neste estava anexado um link, que só abriria com uma senha. Daisy sabia exatamente de quem vinha, pois parte da senha tinha sido revelada. Era a palavra “elemento”. Estava muito claro para a jovem inumana qual era a outra e tratou de digitar, abrindo o link. A imagem que apareceu era a de Holden Radcliffe. O lugar onde estava era escuro, Daisy tentando encontrar algo que pudesse identificar sua localização. Não havia nada, nenhuma janela dando para um local externo, nenhum som específico. Tudo o que havia era a figura com uma expressão assustada em sua face, esta apresentando sinais de machucados, uma clara indicação de tortura.

Ele demorou um pouco a se dar conta de que Daisy podia vê-lo. Os olhos estavam inchados, hematomas eram visíveis pelo rosto, havia um corte no lado direito de sua boca. Ela ouve um barulho, indicando passos. Parte de um corpo é mostrado, mas não o rosto. Radcliffe é forçado a olhar na direção do que provavelmente é uma câmera. Ele vê o rosto de Daisy e tenta forçar um sorriso, certamente uma tentativa de atrair solidariedade. O cientista nada diz, mas nos seus olhos é possível ver a súplica por ajuda. Uma mão aparece no vídeo, mostrando um papel onde ele lê uma mensagem. Ao mesmo tempo, um texto surge na tela.

 

— Se você não vier sozinha ao endereço que está aparecendo na tela, eles vão me matar – Radcliffe lê a mensagem gaguejando, um olhar suplicante voltado para a jovem inumana.

 

— Por que acha que devo me importar com o que farão com você, Radcliffe?

 

— Você faz parte de uma organização cujo dever é proteger as pessoas – a voz de Radcliffe continua com um tom suplicante.

 

— Eu não sou mais uma agente da S.H.I.E.L.D. – a jovem inumana responde – posso deixar te matarem e não terei que responder a ninguém por isso.

 

— Nem mesmo ao agente Coulson e a agente May? – ouvir esses dois nomes faz com que Daisy fique abalada.

 

— Por que você está citando o nome deles?

 

— A ligação de ambos com você ficou bem clara para mim naquele dia – Radcliffe recupera um pouco de sua arrogância enquanto fala – eles foram bem enfáticos naquela vez que os vi, sobre o que eu deveria dizer na comissão do Congresso.

 

RESIDÊNCIA DE HOLDEN RADCLIFFE

21° MÊS

 

Holden Radcliffe tinha acabado de se arrumar. Ele estava indo para mais uma audiência secreta do Congresso que definiria o seu futuro. O controvertido cientista estava mais tranquilo que na audiência anterior. Sua situação melhorou bastante ao entregar um dos frascos com o sangue extraído de Daisy Johnson. Radcliffe sabia que tinha sido uma boa ideia guardar pelo menos um deles consigo. Ele estava vivendo um novo momento agora, começando a trabalhar com Leopold Fitz, num projeto que sempre desejou realizar, mas que nunca tivera chance. Foi com esse sentimento de confiança que caminhou de seu quarto até a sala, parando assustado, ao se dar conta das duas pessoas presentes ali.

 

— Diretor Coulson, agente May – Radcliffe sorri amarelo, percebendo claramente o clima nada amistoso dos dois – é um praz... – sua fala é interrompida, pois é violentamente imprensado contra uma parede por May, esta apertando firmemente o seu pescoço.

 

— Eu devia é te matar agora mesmo – ela diz, um olhar cheio de ódio voltado para Radcliffe.

 

— Coulson, por favor... – Radcliffe olha para o homem diante dele com olhos suplicantes.

 

— Não vamos perder tempo, Radcliffe – Coulson mantém um ar de grande tranquilidade – nós dois sabemos que você entregou um frasco com um sangue especial para a comissão do Congresso. Mais importante ainda, sabemos de quem é esse sangue.

 

— Eu não sei o que voc... – May aperta ainda mais o pescoço dele.

 

— A May só precisa fazer mais um movimento para quebrar o seu pescoço, Radcliffe – Coulson continua falando com absoluta tranquilidade – não tente nos enrolar. Nós sabemos que irão te perguntar de quem é esse sangue.

 

— Eu direi que é do Hive, eu juro – ele tem grande dificuldade em falar, seu rosto começando a ganhar uma coloração avermelhada – eu nunca entregaria a senhorita Johnson – Coulson e May olham um para o outro.

 

— Eu ainda acho que é mais seguro matá-lo – é o que May fala, mas o olhar de Coulson a faz afrouxar a pressão sobre Radcliffe.

 

— Eu creio que podemos dar um voto de confiança para ele – Coulson sorri para Radcliffe, que retribui o sorriso, desajeitadamente – afinal ele e o Fitz estão desenvolvendo um projeto que pode nos ser muito útil, não é verdade? – Radcliffe faz um sinal de positivo com a cabeça – faça o que tiver que fazer para que essa comissão o livre da cadeia, Radcliffe. Minta, jogue o seu charme, a sua lábia, mas deixe o nome da Daisy fora disso.

 

— Você vai se arrepender de ter nascido, se forem atrás dela por sua causa – May volta a olhar direto para ele, que se encolhe junto à parede – não haverá no mundo um buraco fundo o suficiente onde você possa se esconder de mim.

 

— De nós – Coulson põe sua mão artificial sobre o ombro de Radcliffe, apertando-o – porque eu também vou querer matar você.

 

CIDADE DE PENSILVANIA

25° MÊS

 

Daisy permanece olhando para a tela do computador. Os pensamentos em grande velocidade. A visão de um Radcliffe assustado, temendo por sua vida, não a preocupava em nada. No entanto, na história contada pelo cientista, provavelmente arrancada dele sob coação, estava muito clara em suas entrelinhas, a ameaça. Se ela não fizesse o que queriam, ir direto à armadilha que lhe foi armada, Coulson e May seriam denunciados por terem coagido Radcliffe a mentir para uma comissão do Congresso. Ela não tinha ideia de como ambos souberam o que Radcliffe fizera, ainda mais em se tratando de uma comissão do Congresso que deveria ser ultra secreta. No entanto, a jovem inumana tinha certeza de que os dois estariam em péssima situação, se a ação deles para protegê-la fosse tornada pública.

 

— Se você estiver inventando essa história para me obrigar... – há uma mistura de sentimentos, presentes no olhar de Daisy.

 

— Eu juro que não estou, Daisy – Radcliffe afirma de maneira veemente – foi exatamente assim que aconteceu. O mais curioso de tudo é que ambos nem tinham motivo de preocupação. Eu te garanto que nunca passou pela minha cabeça dizer que era o seu sangue. Desde o início eu estava disposto a dizer que era o sangue do Hive.

 

— Você não tem ideia da merda que fez ao entregar aquele sangue – o olhar de revolta de Daisy era muito evidente. Ela podia ver que Radfliffe estava realmente assustado. No segundo seguinte, o rosto dele some da tela, que fica escura. Tudo o que permanece é o texto, indicando um endereço para onde Daisy deve ir. No mesmo texto uma ameaça: “Se você não vier sozinha esse vídeo irá para os congressistas”. O vídeo termina assim.

 

Daisy ficou olhando para a tela escura um bom tempo. Não era hesitação. Ela sabia exatamente o que fazer. O que pensava mesmo era de que forma poderia se garantir contra as armadilhas que teria de enfrentar. Ela considerou todos os cenários. A jovem inumana sabia que estava fazendo uma aposta muito arriscada, embora confiasse em suas “cartas”. Ainda assim, ela sabia que mesmo os cenários mais difíceis que projetou até então, não incluía um em que ela estivesse totalmente a mercê desse Senhor H. Uma nova ideia surgiu em seus pensamentos. Em verdade, ela já tinha surgido antes, mas sempre a descartara. Quanto mais pensava nessa opção menos gostava dela. Levou um tempo para que se deixasse convencer, mas acabou por decidir que não deixaria o seu orgulho pessoal interferir. Uma vez que todas as decisões já estavam tomadas, ela se levantou, respirou fundo, decidindo que não havia mais como adiar a sua ida em direção à armadilha.

 

WASHINGTON D. C.

4 HORAS DEPOIS

 

Ela parou a sua van em frente ao lugar, saindo a pé para verificar o terreno. Era um galpão com aparência de abandonado, mas seu olhar treinado lhe permitiu descobrir as medidas de segurança do lugar. Eram várias câmeras escondidas, todas posicionadas em locais estratégicos. Daisy olhou com atenção, buscando os pontos cegos de que pudesse tirar proveito. Todas as lições de seu treinamento com Coulson e May inundando seus pensamentos agora. Vislumbrando o lugar, chegou a conclusão que qualquer emboscada seria feita dentro do galpão. De qualquer forma, ela não iria facilitar as coisas para esse Senhor H, qualquer que fosse a armadilha que estivesse sendo preparada para ela.

A jovem inumana sabia que já era esperada. Assim que pusesse os pés no terreno já poderia estar sendo monitorada. Não havia razão para entrar furtivamente. Foi com base nesta conclusão que retornou à sua van, usando-a para arrombar o portão do lugar. Ela parou o veículo próximo de uma entrada. Mais uma vez utilizou o seu olhar treinado para encontrar um ponto cego. Uma vez conseguido isso, foi ali que deixou o aparelho, que era um localizador, com um cronômetro, programado para ligar automaticamente, se não o desativasse antes. A jovem inumana esperava não ter que usá-lo, que pudesse resolver tudo ela mesma, mas entendia que precisava deste último recurso, caso tudo desse errado. Uma vez feito isso, Daisy se preparou, entrando no galpão.

 

********************************

 

Todo o seu tempo de treinamento para se tornar uma agente da S.H.I.E.L.D. veio à sua mente quando se viu dentro daquele lugar. Ela continuava ouvindo Coulson e May em seus pensamentos. Tudo o que aprendera com ambos vindo à tona, guiando seu olhar, orientando suas ações. Apurou seus ouvidos para qualquer som estranho. Procurou sentir o aroma no ar, em busca de qualquer elemento tóxico ou simplesmente perigoso, que pudesse incapacitá-la. Seus olhos buscavam se adaptar à pouquíssima luminosidade do lugar. A arma estava em punho, junto com a lanterna. Ela estava atenta, tal como aprendera.

A primeira ação dela ao entrar foi buscar um lugar que lhe servisse de abrigo. Uma vez atingido esse objetivo, apurou seus ouvidos, buscando distinguir qualquer som que indicasse alguma presença. Seu olhar vasculhou toda a área, buscando locais de emboscada, ou esconderijos para atiradores de longa distância. Ela viu um homem amarrado numa cadeira. Ele estava de costas, mas Daisy sabia muito bem quem era. A posição em que estava não deixava dúvida sobre a armadilha que representava, num espaço totalmente aberto, perfeitamente vulnerável para a tomada de um tiro. Seu olhar vislumbrou a estrutura localizada no lado oposto do galpão, contendo o que provavelmente era algum tipo de escritório.

Um minuto se passou e nada. Nenhum som que pudesse discernir, nenhum movimento sendo percebido. Ela precisava fazer alguma coisa, algo que atraísse os captores de Radcliffe para fora de seu esconderijo. Seu melhor palpite era a estrutura que devia ter servido de escritório. Usando seu poder, ela faz com que as janelas de vidro do lugar explodam em inúmeros estilhaços. O barulho tomando conta do lugar. O homem na cadeira forçando seu corpo para o chão, numa atitude instintiva de proteção. Ao fim de tudo, o som de palmas sendo batidas é ouvido. Ela vê então, quando alguém emerge de um esconderijo próximo de onde estava Radcliffe. Daisy vê quando ele ergue o homem preso à cadeira. É um sujeito de estatura mediana, um tipo bem comum.

 

— Finalmente temos a oportunidade de nos conhecer pessoalmente, minha cara – o homem se dirige a ela – aproxime-se por favor, caso contrário aquele vídeo será mandando imediatamente para os integrantes da comissão do Congresso que colheu o depoimento do nosso bom Dr. Radcliffe – Daisy sabe que não tem outra escolha e trata de se aproximar. Os braços abaixados, mas a arma ainda em suas mãos.

 

— Desmond Norton, eu presumo – ela diz, ao ver o homem de estatura média, com cabelo liso, barba e bigode, diante dela – ou será que devo chamá-lo de Senhor H? Melhor ainda, que tal chamá-lo de Hank – ela diz isso, e no segundo seguinte usa seu poder. A jovem inumana faz isso de maneira bem suave, o suficiente para fazer a peruca dele voar para longe, revelando a sua careca.

 

CIDADE DE FILADELFIA

4 HORAS ANTES

 

Ela se arrumou com esmero. O uniforme de Tremor cobrindo o seu corpo como se fosse parte dele, praticamente uma segunda pele. Seus pensamentos iam e vinham em grande velocidade, refletindo sobre tudo o que estava prestes a encontrar. Ela tentava entender o vilão de nome ridículo, compreender suas motivações. Era um pensamento ousado da sua parte, isso pelo risco que corria caso estivesse errada. No entanto, Daisy sentia que não iria enfrentar uma grande organização tipo Hidra, nem de longe com os mesmos recursos. Isso não significava que estaria tudo bem. Havia pelo menos um soldado aprimorado à solta, e ela não tinha dúvida que este devia ter ajudado o Senhor H a raptar Radcliffe.

Ela sabia que precisava ir. Ainda assim, queria esperar as respostas da pesquisa que fizera no computador. Felizmente, as respostas que esperava acabaram por chegar. Ela viu uma série de imagens do aeroporto clandestino de Genebra. Estas mostravam a procissão de carros luxuosos, pertencentes a algumas das piores pessoas do mundo. Nada disso a interessava. O que ela queria mesmo era uma solitária imagem, obtida bem depois que os veículos daqueles que queriam adquirir o soro foram embora. Daisy vislumbrou um carro saindo do galpão desse aeroporto clandestino. Os vidros do veículo a impedem de ver quem está lá dentro. Câmeras espalhadas pela cidade toda, no entanto, permitem que a movimentação do mesmo por Genebra seja monitorada, até sua chegada num hotel de luxo. A jovem inumana finalmente tem a chance de ver a figura saindo do veículo. Era um homem de estatura mediana, totalmente careca, mas que não parecia com o Desmond Norton que viu em outra pesquisa.

Agora que tinha suas respostas, havia duas outras coisas que Daisy queria fazer antes de ir. Ela abriu um arquivo com fotos. Eram imagens das criaturas monstruosas em que os soldados aprimorados que enfrentara se transformaram, depois de mortos. Ela mandou essas imagens para o link de onde veio o vídeo. Não tinha certeza se o Senhor H as veria, mas queria saber se ele daria alguma importância para o que aconteceu. Daisy comparou também a foto do Desmond Norton de Genebra com o do homem no resort das Bahamas. Em nada se pareciam, mas ela notou a outra figura na foto, o sujeito marcado como Hank. Ela fez a comparação. A semelhança era notável, não abrindo margens para qualquer mal entendido.

 

WASHINGTON D. C.

4 HORAS DEPOIS

 

— Bom eu... acho que isso foi um pouco dramático da sua parte, minha cara – Hank passou a mão por sua cabeça lisa, para depois tirar também o bigode e barba falsos – de qualquer forma, creio que seria uma tolice insistir em negar, não é mesmo – um pequeno sorriso surge no rosto do homem diante de Daisy.

 

— Foi um belo truque, eu tenho que admitir – Daisy olhava para todo o canto enquanto falava.

 

— Está procurando o meu cúmplice, imagino – há um claro sinal de divertimento na voz dele.

 

— Você quer dizer o seu vigésimo soldado aprimorado, não é? – o ar de divertimento desaparece do rosto dele, ao ouvi-la dizer aquilo.

 

— Eu não devia ter cedido aqueles cinco soldados para... – a voz dele trai uma raiva que Daisy não sabe se é dirigida à pessoa cujo nome ia dizer ou a si próprio – se eles também estivessem na base russa, muito provavelmente você e o seu pessoal não teriam sido capazes de fazer o que fizeram.

 

Todos os sentidos de Daisy estavam bem apurados. Ela sabia que o último dos soldados aprimorados estava em algum lugar por ali. Sua posição era bem vulnerável. Tudo com que podia contar era essa necessidade que vilões tinham de expor seus grandes planos, sua grande inteligência. Era o que o Senhor H estava fazendo, encarando-a de frente. A figura diante dela não deixava dúvida de que era alguém com uma grande necessidade de afirmação. Alguém que provavelmente viveu uma vida medíocre, mas que por alguma estranha reviravolta, foi capaz de chegar onde está agora. Ela podia ver nos olhos dele, no tom de sua voz, todo ressentimento longamente acumulado. No entanto, mesmo olhando para ele, a jovem inumana mantinha-se atenta a qualquer som, qualquer coisa que lhe chamasse a atenção. Foi isso que lhe permitiu ver a fina luz vermelha vinda em sua direção.

Para Daisy, tudo se deu muito rápido. O reflexo imediato de esticar seus braços, deixando arma e lanterna caindo no chão. A partir daí, tudo parecia em câmera lenta para ela, como naquela noite no abrigo, onde um grupo que dizia ser a “verdadeira S.H.I.E.L.D.” tentou capturá-la. Era praticamente a mesma situação. A bala vindo em sua direção, ela concentrando todo o seu poder em detê-la, formando uma intensa onda sonora, reverberando em volta, derrubando o Senhor H e o pobre Radcliffe, amarrado na cadeira. O impacto maior, no entanto, acabando por atingir quem disparou contra ela. Em meio a escuridão, foi possível ouvir o grito do soldado aprimorado, que devia estar escondido no mesmo lugar que o Senhor H estivera antes. Foi possível ouvir o barulho de seu corpo sendo atirado longe, atingindo alguma parede, o som estalado, indicando ossos sendo quebrados, e depois o silêncio.

De repente, o lugar se iluminou totalmente. Luzes acendendo uma depois da outra. Com o ambiente todo iluminado, ela pôde vislumbrar o corpo do soldado aprimorado caído junto a uma parede. Ela também viu o homem que conhecia como Senhor H, parado num canto, a mão ainda na alavanca que ligou toda a luz do lugar. Daisy vê o Dr. Radcliffe se contorcendo no chão e o levanta, livrando-o das amarras. A jovem inumana se volta para o Senhor H. As feições dele estavam tranquilas, nada indicando alguém que se sentisse ameaçado. Deixou-o de lado por um momento e se voltou para o soldado aprimorado. Ao verificá-lo, notou seu corpo caído numa posição estranha. Foi com certa frieza que notou o pescoço quebrado e o crânio fraturado, certamente resultado do impacto contra a parede.

 

— Você tem sido um flagelo para os meus soldados aprimorados, minha cara – a tranquilidade na voz dele estava começando a irritar Daisy.

 

— Você viu as fotos que lhe mandei? – ela se volta para o Senhor H para perguntar.

 

— Eu vi sim – o Senhor H responde – você quer me convencer que aquilo é resultado do meu soro?

 

— Aqueles eram os seus cinco soldados aprimorados que foram emprestados aos Watchdogs – Daisy afirmou – você tem alguma dúvida de que o seu soro fez aquilo? Mesmo depois de ver aonde tudo isso vai dar, você ainda quer fazer mais dele?

 

— São problemas que podem ser resolvidos minha cara – ele responde. Daisy usa o seu poder e o deixa imprensado contra a parede.

 

— Tudo o que importa para você é a grana, não é?

 

— Engano seu, minha cara – Hank responde, a voz ligeiramente sufocada por conta da ação de Daisy – o dinheiro que ia ganhar com o esquema na Rússia seria para financiar a produção de muito mais soro, mas não para vender. Se depender de mim, cada humano nesse mundo será aprimorado. Esse seria o meu legado, mas você e seus amigos destruíram tudo.

 

— Você viu as fotos – Daisy grita – o que você chama de legado é apenas horror no final.

 

— Eu já disse, são problemas que podem ser resolvidos.

 

— Eu te digo como esses problemas serão resolvidos – Daisy tem um olhar assassino sobre Hank – você vai me entregar todos os frascos de soro que ainda tem, junto com toda a pesquisa. Se não fizer isso eu vou quebrar todos os ossos do seu corpo, você entendeu? – as duas últimas palavras saíram gritadas.

 

— Você não entende, isso é o sonho da minha... – o estalar de seu dedo indicador o faz gritar, Hank nada diz até que o mesmo acontece com o seu polegar, fazendo-o gritar novamente – está bem, está bem. Eu tenho uma maleta com 40 kits do soro comigo. Também tenho os dados da pesquisa.

 

— Me mostre, agora – ela o solta. Os dois caminham até parte do galpão onde há um pequeno container. Radcliffe decide acompanhá-los.

 

Eles entram no container. O lugar é bem iluminado e Daisy logo vê uma maleta em cima de uma mesa. Ela olha para Hank, que confirma com a cabeça. A jovem inumana faz um gesto, indicando para que o homem conhecido como Senhor H trate de abri-la. Hank o faz com uma certa dificuldade, devido aos dois dedos quebrados. Daisy o afasta após este abrir a maleta. Ela contempla os recipientes, já se preparando para destruí-los com o seu poder, até notar que falta um kit na maleta. A jovem inumana se vira rapidamente para Hank, mas antes que possa usar seus poderes, este consegue atingi-la com um violento soco. Daisy bate contra a parede de aço do container e fica momentaneamente zonza. É tudo o que Hank precisava, ao pegar uma arma numa gaveta, atirando nela, que cai inconsciente. Radcliffe faz menção de fugir, mas vê a arma sendo apontada para ele agora.

 

— Você não vai a lugar nenhum Dr. Radcliffe.

 

— Você se inoculou com o soro?

 

— Eu estava sendo sincero quando disse que a minha intenção é fazer com que toda a humanidade o tivesse – Hank respondeu – por que então eu me privaria dele?

 

— O que quer de mim?

 

— Eu pensei que isso pudesse ser óbvio para você, meu caro – Hank sorri, a arma ainda apontada para Radcliffe, mas se voltando para uma desacordada Daisy – você irá me ajudar a tirar todo o sangue dela que eu puder obter.


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Notas finais do capítulo

Capítulo 14 como prometido, agora só faltam mais dois. Domingo que vem teremos o penúltimo capítulo. Aguardem.