Girl Crush escrita por suenacomoyo


Capítulo 9
Karaokê




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Estava eu sozinha na sala de instrumentos, na hora do intervalo, praticando com meu baixo algumas coisas que o professor Beto havia me ensinado durante a aula. Dei uma pausa e bebi um pouco do meu achocolatado. Um tempo com a cabeça vazia e depois me peguei a cantarolar Girl Crush. Voltei a pegar o baixo, mas dessa vez tocando essa música enquanto cantava. Nesse momento eu estava no automático. Até esqueci que alguém poderia chegar ali e me ouvir cantando. Eu estava no meu próprio mundinho.

 

"I gotta girl crush

Hate to admit it but

I gotta heart rush

Ain't slowing down"

 

Nessa última parte da música, escutei outra voz cantando junto comigo. Abri os olhos lentamente e vi Ludmila andando em minha direção enquanto cantava. Ao fim a garota abriu um sorriso meigo e eu sem saber oque fazer, apenas sorri de volta.

 

— Que lindo, Naty. Eu adoro essa música. - a loira falou ainda sorrindo.

 

— Obrigada. Essa música é realmente linda. Não sabia que você conhecia. - respondi ainda sentada com o baixo no colo.

 

— Podíamos fazer um cover com a banda né? Pro youtube. - Ludmila prosseguiu.

 

— Eu adoraria. Se os meninos topassem. - me levantei e fui guardar o baixo.

 

— Você podia cantar dessa vez.

 

— Ah, não não não. - eu sorri de nervoso e balancei as mãos em negação.

 

— Poxa, eu achei sua voz bonita pra essa música.

 

— Ah não, você não ouviu direito então. Eu comecei as aulas de canto a tão pouco tempo. Não deu tempo de progredir ainda. - fiquei um pouco envergonhada.

 

— Ah mas eu gostei! - Ludmila cruzou os braços e fez cara de brava.

 

— Você é fofa. - eu sorri sem perceber que havia pensado alto. Logo me virei e voltei a tomar um gole do meu achocolatado fingindo que não havia dito nada. Ficamos um tempo em silêncio até que Ludmila botou a mão em meu ombro.

 

— Naty... - eu me virei para vê-la, ainda um pouco acanhada. — Eu sinto que somos tão distantes sabe... você é a membro da banda que eu tenho menos contato e... acho que como as mulheres da banda nós devíamos ser mais unidas. Eu queria muito tirar um tempo pra conhecer você melhor. - ela falou ainda com a mão no meu ombro.

 

— É... hm... - eu mordi os lábios. Não sabia bem oque responder. Não estava mesmo esperando por isso.

 

— As vezes eu acho que você ainda não gosta muito de me ter na banda. - a garota abaixou a cabeça.

 

— Não, por favor, não pense isso. - Eu peguei suas mãos. — Você está complementando a banda muito bem. Você tem uma voz linda e toca violão muito bem. E estamos recebendo vários comentários positivos a seu respeito. - eu olhei bem em seu rosto.

 

— Eu fico feliz então. - ela sorriu de forma serena olhando pra mim.

 

— Eu só... tenho problemas em socializar, eu acho. - soltei suas mãos e dei um passo pra trás. Fiquei um pouco sem jeito diante da situação e tinha que arrumar uma desculpa, não podia dizer o porque de eu evita-la. Mas eu não menti, ela realmente foi boa pra nossa banda e a acho extremamente talentosa... e eu realmente tenho problemas em socializar, apesar de não ser esse o caso.

 

— Então oque você me diz da gente fazer um programinha das meninas? - a loira sorriu de canto de boca erguendo uma das sobrancelhas.

 

— É... eu acho que... tudo bem. - respondi ainda sem saber oque fazer. Eu só não queria deixar a garota chateada. Eu queria continuar evitando ela, mas não queria que ela soubesse. Não tive pra onde fugir.

 

— Oba! - Ferro abriu um sorriso de orelha a orelha. — E oque você acha de no fim de semana irmos juntas naquele novo bar karaokê que abriu na cidade? Você não precisa cantar se não quiser. Podemos só ir comer uns petiscos e ver o pessoal.

 

— Tudo bem, eu topo então. -  sorri sem mostrar os dentes, bem sem jeito.

 

— Que bom que você topou. Eu aposto que vamos nos divertir muito. - ela bateu palminhas rapidamente. Eu ainda estava tentando digerir essa conversa e não soube oque falar após isso. Apenas continuei olhando pro rostinho feliz de Ludmila Ferro.

 

— Então, eu vou indo. Até mais! - ela falou andando em direção a porta. Deixando pra trás uma Natália imóvel, confusa e nervosa. Porque exatamente eu não sei.

 

Ao longo dos dias fui tentando pensar numa desculpa pra não sair com Ludmila, mas ao mesmo tempo eu me sentiria extremamente culpada de fazer isso, eu não sei mentir e ainda por cima Ludmila parecia tão genuinamente empolgada, não queria chatea-la. Conversei com Fran e Napo sobre isso e os dois me incentivaram a não desmarcar. Então no fim eu decidi encarar o desafio.

 

 

xXx

 

 

Pedi que meu pai me levasse de carro até o local, era um tanto longe para ir a pé e também já era noite. Fui sentindo um frio na barriga por todo o caminho. Recebi uma mensagem de Ludmila dizendo que se atrasaria um pouco e pedindo pra que eu me adiantasse e pegasse uma mesa. Ao entrar no local pude reparar que já estava bem cheio, estava quente do lado de fora mas dentro o ar condicionado estava ligado, oque já tornaria o ambiente muito mais agradável pra mim. Eu estava vestindo uma camisa xadrez vermelha sem mangas, daquelas que amarram na frente, uma calça jeans preta com uma corrente pendura do lado esquerdo e coturnos pretos. Nos braços pulseiras de couro preto com spikes. Carregava comigo apenas uma pequena bolsa na cor vinho. Olhei todo o local e avistei uma mesa vazia na fileira de frente ao palco, a do meio. Me sentei e continuei a esperar por Ludmila. Pude reparar que além das músicas que o próprio karaokê tinha disponíveis, também tinham alguns instrumentos no palco, talvez pra pessoas que soubessem tocar e quisessem algo diferente. E então subiu um homem ao palco, um homem que estava com sua família na mesa ao lado. Ele parecia ter uns 50 anos, sua aparência me lembrava muito aquele ator que faz o Sr. Thunderman na série da Nickelodeon. Ele começou a cantar uma música que eu não conhecia, mas que tinha um ritmo bem dançante e engraçado. Ele cantava enquanto fazia várias expressões faciais divertidas e dançava, todos ali pareciam estar achando graça no homem. Eu o achei muito divertido e palhaço, me tirou muitas risadas.

 

A apresentação do homem da mesa ao lado terminou e todos aplaudiram. Ludmila ainda não havia dado sinal de vida e eu estava com fome. Peguei o cardápio que estava em minha mesa, olhei com atenção e decidi pedir batatas fritas com cheddar e bacon, acompanhado de uma latinha de Coca Cola.

 

Logo após meu pedido chegar em minha mesa e eu comer a primeira batata, deliciosa por sinal, olhei pra porta na esperança de ver a loira finalmente chegar. E ela realmente passou pela porta naquele exato momento. Ela ainda não tinha me visto. Mexia a cabeça olhando para todos os lados, provavelmente me procurando. Ela vestia uma camiseta lisa branca bem justinha no corpo e mostrando bem pouquinho da barriga. Uma saia de pregas xadrez rosa bem curtinha que era a coisinha mais linda do mundo e também meias 5/8 brancas com duas listras cor de rosa na parte de cima. Calçava o mesmo all star rosa de quando a vi pela primeira vez. No cabelo ela usava um penteado parecido com o da Avril Lavigne em Girlfriend. Será que foi nisso que ela se inspirou?

 

Ela finalmente me achou e acenou com as mãos abrindo um sorriso. Ela acelerou os passos e veio em minha direção. Eu por minha vez voltei a sentir um frio na barriga e não sabia se levantava, se apenas a chamava pra sentar, se a cumprimentaria com um abraço, com beijo no rosto ou apenas um high five. E enquanto eu tentava fazer meus "Tico e Teco" funcionarem a garota chegou na mesa.

 

— Olá! - ela falou de forma animada. — Desculpe a demora! Mais uma vez causando uma má impressão né. - ela sentou na cadeira ao meu lado.

 

— Não poxa, que isso... - eu ia falando mas fui interrompida por dois inesperados beijinhos no rosto.

 

— Olha, já pediu até comida. Hmm tá com uma cara boa. - ela falou olhando as batatas fritas em cima da mesa.

 

— Pode comer se quiser. Se você gostar a gente pede mais. - falei ainda um pouco sem jeito. A garota pegou uma batata na ponta dos dedos e mordeu.

 

— Nossa, que delícia! - ela falou enquanto mastigava, logo depois botando na boca a outra metade da batata que estava em seus dedos.

 

— Realmente. É muito boa mesmo. - eu sorri ainda acanhada.

 

— Você é bem tímida né? - Ferro comeu mais um dos petiscos com cheddar e bacon.

 

— É bem perceptível né? - eu voltei a comer também.

 

— Precisamos mudar isso. Pelo menos comigo. Eu espero que com o tempo você consiga se sentir a vontade comigo. 

 

— É... - eu sorria simplesmente por não saber oque fazer enquanto esfregava o pescoço com a mão não suja. Então falei a primeira coisa que me veio na cabeça:

 

— E esse penteado aí? Meio Avril Lavigne Girlfriend. Achei bonito.

 

— Mentira que você percebeu? Quer dizer, é um penteado comum né, mas eu realmente lembrei dele por causa da Avril. - ela abriu um sorriso de orelha a orelha.

 

— Então você gosta mesmo da Avril né? - perguntei.

 

— Sim! Gosto muito! Mas não sou tão fã quanto você pelo que pude ver. Pros meninos você sempre fala muito dela e da... como é o nome mesmo? - ela estalava os dedos tentando se lembrar.

 

— Lzzy Hale?

 

— Isso! Essa mesmo! Eu acho muito bonitinho sua admiração por elas.

 

— Eu sou bem apaixonada mesmo. - fiquei uns segundos olhando o rostinho da loira. — Mas é... e você, você tem algum ídolo assim? - já que eu já tava ali, teria que puxar assunto.

 

— Olha eu acho que não tenho um favorito assim como você. É difícil dizer. Acho que eu poderia dizer que tenho vários.

 

Ficamos algum tempo conversando sobre esse assunto. Eu ainda cheia de vergonha e ela percebendo. Ela ria quando percebia que eu não sabia mais oque responder. Era um tanto estranho estar socializando com a namorada do cara que eu gosto. Eu só torcia pra ela não falar dele. Nós pedimos mais petiscos. Mais algumas pessoas se apresentaram no karaokê. Até que Ludmila resolveu participar também. Ferro subiu no palco ao som de aplausos e assobios. Provavelmente se encantaram com tamanha beleza. 

 

— Essa é pra minha colega de banda, Naty! - ela falou no microfone apontando pra mim. E confesso que não estava esperando que fossemos ter mais uma referência a Avril Lavigne hoje... mas a música que Ludmila escolheu pra cantar no karaokê foi exatamente Girlfriend.

 

Ludmila Ferro realmente nasceu pra ser uma estrela. Ela tinha uma presença de palco de fazer absolutamente todos terem 100% de sua atenção voltada pra ela. Ela gesticulava e fazia caras e bocas, ela entrava no personagem da canção, arriscava alguns passinhos de dança, mexia no cabelo, brilhou como ninguém havia brilhado aquela noite. Isso porque era só um karaokê. Até que eu percebi a garota pegando outro microfone e vindo em minha direção. Eu estava tão entretida com sua performance que não tive tempo de reagir quando ela me puxou com força da cadeira enquanto cantava. Ela deu o microfone na minha mão e voltou pro palco.

 

— Vem Naty, canta só um pouquinho comigo! - ela falou no microfone enquanto a música rolava. As pessoas aplaudiram em incentivo. Até que eu decidi encarar mais esse desafio.

 

"In a second you'll be wrapped around my finger

Cause I can cause I can do it better

There's no other

So when's it gonna sink in?

She's so stupid

What the hell were you thinking?"

 

Eu cantava ainda com as mãos tremendo e sorrindo de nervoso. Logo Ludmila que estava fazendo a coreografia dessa parte, parou, se virou pra mim e voltou a cantar junto comigo. E eu me senti um pouco melhor por não ter minha voz tão em evidência. Aos poucos fui me soltando e curtindo estar ali, cantando junto com ela e me divertindo.

 

"Hey hey, you you,

I know that you like me

Now way, no way

You know it's not a secret

Hey hey, you you

I want to be your girlfriend"

 

Ludmila cantava andando em minha volta, até que se virou pra plateia e começou a fazer algumas notas mais altas do final da música. Ela terminou a música dando um chutinho no ar.

 

— A gente tem uma banda chamada On Beat tá galera. - Ludmila falou no microfone.

 

— Ludmila!!!! - eu repreendi sua fala e dei um leve empurrão.

 

— Ela não quer que eu faça propaganda mas eu faço sim! Apoiem sua bandinha local! Muito obrigada! - ela terminou de falar no microfone e mandou um beijo pra plateia com mão. Eu apenas ri e fiquei com vergonha. Devolvemos os microfones e voltamos pra nossa mesa. Eu sentia meu corpo quente.

 

— Vamos pedir uma água com gelo? - perguntei para Ferro.

 

— Sim, por favor! Tô morrendo de calor depois de tanto pipocar. - ela soltou uma gargalhada. Chamamos o garçom e pedimos a água.

 

— Você também se divertiu né Naty? - ela falou sorrindo ainda ofegante.

 

— Sim! Muito! Mas você viu que no início fiquei bem nervosa. Eu to acostumada a tocar em público, não cantar.

 

— De nada pelo empurrãozinho. - ela piscou um olho.

 

— De nada? Tu quase me faz enfartar, menina!

 

— Desculpa! - ela ria. — Mas fico feliz que tenha curtido essa noite. Fico feliz que tenha aceitado vir aqui comigo. Espero que possamos ser boas amigas daqui pra frente.

 

Durante esse tempo eu pude até esquecer que ela era namorada do León. Quando parei pra pensar nisso meu coração doeu de novo. Porque ela era incrível. E a cada dia eu entendia melhor porque León se apaixonou por ela e não por mim. E se nos tornarmos amigas e ela começar a falar do relacionamento deles pra mim? Eu não vou aguentar isso. Eu não quero ser amiga dela. Mas eu também não posso contar a verdade. E nossa noite foi muito divertida então seria legal ser amiga dela. Eu não sei oque eu faço.

 

— Terra chamando Naty. - Ludmila estalou os dedos na frente do meu rosto.

 

— Desculpa, me distraí. - sorri fraco.

 

— Percebi! Nossa água chegou. - ela falou enquanto botava a água no copo com gelo.

 

— Acho que já vou ligar pro meu pai vir me buscar. - peguei o copo que ela me deu e em seguida bebi uma boa quantidade do líquido gelado.

 

— Tá tudo bem?

 

— Tá sim, só tô cansada sabe... foram muitas emoções. - eu ri e ela também.

 

Liguei pro meu pai e enquanto ele não chegava continuei conversando com Ludmila sobre nosso assunto preferido: música. Ficou claro que temos gostos muito parecidos e opiniões também. Ela era realmente uma pessoa legal, infelizmente.


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