Assassin's Creed: Elementary escrita por BadWolf


Capítulo 9
Um Tal de Sherlock Holmes




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Henry Green havia acabado de retornar ao trem, após deixar alguns livros na Biblioteca. Desde que Evie demonstrara interesse em buscar mais artefatos do Éden relacionados a Edward Kenway, o Assassino andava de um lado a outro na cidade, à procura de qualquer material que remetesse à Cultura Maia e pudesse dar pistas sobre a lendária Armadura Maia do Assassino Pirata mais infame da Irmandade. Imaginava que ela estivesse, talvez, guardada em um museu ou sob os poderes de algum colecionador excêntrico. A hipótese dos templários chegou a lhe ocorrer, mas logo a descartou. Se estivesse de posse deles, seria certamente utilizada por Crawford Starrick na noite em que se enfrentaram pelo Sudário.

Ele sabia que os irmãos Frye estariam em missão, por isso preferiu permanecer no trabalho teórico, afinal ele sabia que não era dos melhores quando a força se fazia necessária e tudo que o indiano não desejava era atrapalhar o trabalho de campo dos Assassinos. No entanto, em sua andança pela cidade, Henry soube da exposição de uma coleção raríssima sobre Roma na Galeria Nacional de Arte e, sem demora, logo voltou para o trem-esconderijo, ansioso para ver o sorriso de Evie quando soubesse da mais boa-nova. Ainda que não estivesse diretamente relacionada a Edward Kenway, o Assassino sabia do interesse de Evie por História em geral e logo viu nessa exposição uma oportunidade de passar mais tempo com ela, longe de toda a agitação da Irmandade e dos problemas com os Rookies. Há quanto tempo não faziam isso? Henry não só não fazia ideia como também desconfiava que jamais haviam feito algo do tipo, sendo a coleção de flores a atividade mais próxima que compartilhavam juntos. Sua mente tornava-se um turbilhão. Será que Evie aprovaria a ideia de sairmos um pouco juntos, ou me acharia um completo estúpido por pensar em uma coisa dessas justamente agora, com tantos problemas?

Acossado por todas as suas dúvidas e hesitações, Henry caminhava pelos vagões atrás dela. Sabia bem onde encontra-la: em sua poltrona preferida, provavelmente a ler um livro sob o balanço dos trilhos. Ao colocar os pés em seu vagão, deparou-a com uma imagem bem diferente do que se acostumara. Ela estava cabisbaixa, sentada à poltrona como se tivesse acabado de ver um fantasma. Olhos paralisados, lábios entreabertos, como se estivesse atordoada.

—Está tudo bem, Evie? – perguntou, preocupado. A mulher não o respondeu verbalmente, mas suas sobrancelhas agora franzidas e olhar um tanto impaciente se encarregaram disso. O que quer que a estivesse incomodando, não queria conversar a respeito. Apesar de conhece-la há tão pouco tempo, o indiano já era capaz de ler seus gestos. Imaginando que ela não estava no melhor de seus humores, ele achou prudente não insistir. Voltou à prateleira de livros, onde escolheu um deles para ler. Logo apareceu Violet.

—Boa noite, Violet. – cumprimentou Henry, com simpatia.

—Boa noite. – respondeu a Assassina.

—Vejo que os livros de Evie já encontraram uma leitora.

—A coleção de Evie é fascinante. Mal comecei este livro e já desejo começar o próximo! – respondeu com animação Violet, alegrando ao Assassino.

—Eu também fiquei assim, na primeira vez em que tive contato com os livros dela. Inclusive chegamos a trocar algumas leituras. Se tiver algum de seu próprio acervo para nos indicar...

—Oh, infelizmente eu não os trouxe. Ficaram na América. – respondeu a Assassina, com um sorriso um tanto amarelo. – Achei mais seguro não leva-los. Sabe, a viagem é muito longa e perigosa...

—Uma pena. Imagino todo o conhecimento dos Precursores que nossos irmãos americanos detêm sobre a Primeira Civilização...

—Mas quem sabe isso fica para uma próxima oportunidade, sr. Green. Tenha uma boa noite. – desejou a Assassina, carregando um dos livros.

—Boa noite, Violet. – disse Henry, educadamente enquanto a moça caminhava em direção aos seus aposentos. Colocando o livro sobre a poltrona, o indiano se levantou, caminhando até a Evie, disposto a anima-la. Sua insegurança a respeito de seu convite logo se dissipou. Talvez a ideia de conhecer mais sobre as invasões romanas à Britânia melhore seu humor.

—Evie, eu estava na Biblioteca e sou que haverá uma exposição sobre...

—Sobre a presença dos romanos na Inglaterra? – interrompeu Evie, rispidamente. – Sim, eu já soube.

—Já? – ficou ao mesmo tempo surpreso e desapontado o Assassino. Ouvira do bibliotecário que o evento sequer havia sido anunciado. Como ela soube tão rápido?

—Um tal de Sherlock Holmes esteve aqui e me contou sobre essa exposição. Fingi saber apenas porque estava cansada de vê-lo sempre a um passo diante de mim.

—Sherlock Holmes? Quem é ele?

—Um homem que esteve aqui e basicamente esfregou em nossa cara, quero dizer, na minha cara porque o meu irmão Jacob agiu como um perfeito bobalhão o tempo todo, que ele sabe de tudo, absolutamente tudo, a nosso respeito.

—Como assim? Ele é um Templário?

—Não. Ele é um civil, e é isto o que mais me preocupa. Quantos civis acabam por descobrir sobre a guerra entre Assassinos e Templários, Henry? Quantos?

Henry suspirou. – Evie...

—Henry, nós não estamos sendo cuidadosos o bastante! – exclamou a moça. – Isso jamais poderia acontecer, jamais! E desta vez, não é culpa apenas de Jacob, embora ele tenha uma parcela considerável. É culpa minha também!

—Evie, você não pode se martirizar por isso...

—E se ele simplesmente decidir noticiar tudo que sabe? Não sei, vender suas informações ao primeiro jornal que aparecer? O que o Conselho fará conosco? Estamos quebrando o código “não comprometa a Irmandade”, e não é de hoje.

Pondo-se de joelhos à altura dela, Henry começou.

—Vocês não desobedeceram ao Credo, se quer saber minha opinião. O problema é que suas ações causaram tamanho impacto que acabou por atrair a atenção de algumas pessoas. Mas no fim das contas, Evie... – disse Henry, pegando em sua mão. – Vocês venceram. Londres está livre do jugo Templário, e é isto que o Conselho irá considerar, caso algo aconteça.

O Assassino se movimentou para beija-la, mas Evie se levantou, fazendo-o se recolher prontamente. Pigarreou, decidindo mudar de assunto.

—Acho que a chegada de Violet é um bom indicativo de que nós estamos livres ir para a Índia. Ela claramente é uma Assassina responsável e centrada. Não agora, é claro, mas vejo porquê adiarmos por mais tempo a nossa mudança.

Evie riu. – Já te expliquei, Henry. Eu desejo ir para a Índia, e muito. Mas...

—Sim. Mas... Mas... Mas... Na última alegação, você disse que não queria deixar Jacob sozinho, cuidando de Londres. Agora que temos Violet, você dirá o quê?

Evie ficou surpresa. Jamais vira Henry aborrecido.

—Nós iremos. Você tem a minha palavra. – ela disse, dando-lhe um beijo.

 

 

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            -Freddy!

            O Sargento Abberline detestava ser chamado assim, ainda mais por um marmanjo que tinha o dobro de seu tamanho em músculos e um semblante encrenqueiro, não muito distante de um marginal. Muito menos ser chamado assim na calçada do prédio da Scotland Yard, perto de seus colegas de trabalho. O pobre Sargento pensara que seu turno havia acabado em paz, mas eis que veio Jacob Frye para perturbá-lo. Ele só esperava que o rapaz não viesse com problemas.

            -O que foi desta vez? – questionou o policial. Isso não deteve o sorriso de Jacob.

            -Ora, mas é assim que me cumprimenta? Eu, seu velho amigo Jacob? – brincou Jacob, de braços abertos.

            Após olhar para os lados e notar que alguns policiais caminhavam por perto, o Sargento da Scotland Yard resmungou quase em um cochicho.

            -Pelo amor de Deus, quer me criar uma reputação, é?

            -Adoro quando fala assim, em um cochicho. – respondeu Jacob, cinicamente. – Que tal uma cerveja para coroarmos a noite, hein? Espero que a patroa não reclame.

—Não, hoje é sexta-feira e ela não... – interrompeu-se Abberline, ao ver o semblante de Jacob se tomar de curiosidade ao perceber que sua brincadeira tinha lá seu fundo de verdade. – Está bem, vamos beber, mas uma caneca só! O que quer que tenha para me contar, é melhor que me conte em um pub, ao invés da porta da Scotland Yard.

—Está vendo como me preocupo com sua reputação, Freddy? – disse Jacob, dando um amigável tapa no ombro do policial. – Agora, vamos. A rodada é por minha conta, então aproveite.

O gângster caminhou lado a lado do policial. Pararam em um pub, onde um rapaz tocava uma música alegre no piano. Havia um forte cheiro de cigarro e carne de porco frita. Risadas e conversas quase que abafavam as notas musicais dedilhadas pelo piano. Todos ocupados demais com suas vidas para repararem em um gângster a conversar com um policial. Um ambiente perfeito para conversarem em sigilo, pensou Jacob.

Jacob Frye já encarava sua terceira caneca de cerveja e poderia ainda beber mais algumas, mas preferiu deixar para lá. O que tinha a conversar com Freddy era mais importante que ficar bêbado – embora a hipótese de encher a cara de cerveja naquela noite ainda fosse irresistível.

—Mais uma caneca? – perguntou Jacob.

—Como disse, uma caneca é o bastante. Amanhã trabalho. – disse Abberline, com seu jeito formal de falar. – Mas afinal, o que quer?

—Direto ao ponto. Gosto assim. Bem, Freddy, acaso ouviu falar de algum sujeito chamado Sherdônio Holmes?

—Sherlock Holmes, você quis dizer? – perguntou Abberline, com um sorriso. Provavelmente não era o único a pensar que o nome do sujeito era esquisito, pensou Jacob.

—Exatamente. Então, ao que me parece, você sabe quem ele é.

—Sim, eu sei muito bem quem ele é. – enquanto Abberline dava mais um gole em sua caneca, o rosto de Jacob se irradiou de curiosidade. – Um jovem rapaz, estudante de Direito, de Oxford. Ele é um entusiasta em algo que ele chama de “Criminologia”, se é que dá para chamar assim.

—Como assim, “Criminologia”? – perguntou Jacob.

—Como o termo sugere, ele se interessa por crimes.

—Um policial, então?

—Não. Ele é um civil. Vez ou outra se intromete nos trabalhos da Scotland Yard. Sua forma arrogante e petulante de agir irrita a muitos, especialmente a um inspetor chamado Lestrade. Não tenho muito o que dizer dele, afinal ele jamais se intrometeu em meu caminho. Alguns dizem que tive sorte, porque ele costuma burlar a Lei, às vezes. Lestrade me contou certa vez que tudo que Holmes faz é agir obedecendo à sua própria noção de moralidade, que nem sempre coincide com a Lei Britânica. Fora quando não age pensando nos clientes.

—Clientes? Como assim?

—Ele é um detetive particular. Ou “Detetive Consultor”, como gosta de ser chamado. Havia anúncios nos jornais, mas desapareceram um pouco antes de vocês chegarem à Londres. Pelo que soube, ele precisou voltar à Oxford, para terminar os estudos. Mas por que o interesse nele?

—Digamos que... Eu topei com ele. – limitou-se Jacob.

—Realmente? E o que achou dele?

—Ele é um babaca.

—Então, bem-vindo ao clube. – disse repentinamente um estranho, sentando-se em um banco ao lado de Jacob, que estranhou a forma como ele havia se intrometido na conversa. A julgar pelo semblante neutro de Abberline, os dois deveriam se conhecer.

—Lestrade.

—Abberline. O que faz aqui, tão longe de sua jurisdição? Pelo que soube, estava alocado para trabalhar naquela latrina fedida...

—Whitechapel, você quis dizer. – interrompeu Abberline, azedo por ter seu distrito alvo de preconceito.

—Bom, até os mendigos têm nome, afinal. Mas me diga, quem é este jovem que parece estar tão interessado assim naquele intrometido do Sherlock Holmes?

Jacob franziu os olhos. Estava prestes a dar uma resposta nada educada, mas Abberline o interrompeu.

—Nada demais, Lestrade. É só alguém que deseja procurar Mr. Holmes. – disse Abberline, deixando Lestrade irritado.

—Se está com problemas ou em apuros, procure a polícia. Não aquele intrometido.

—Era exatamente disto que estava tentando convence-lo, até você aparecer.

—Deveras? Então, quem sou eu para atrapalhar? Apreciem a bebida, cavalheiros. – disse Lestrade, se afastando da mesa. Quando já longe, conversando com outros homens do pub, Jacob decidiu voltar a conversar com Abberline.

—Não precisava interferir nisso. – reclamou o Assassino.

—A última coisa que quero, Mr. Frye, é ter de colocar umas algemas em você porque Lestrade agiu como quase toda Londres age e chamou Whitechapel de latrina fedida.

—Eu adoraria ver você tentar. – zombou Jacob. Abberline ignorou.

—Olhe ao seu redor. Você está cercado de policiais, e policias experientes. Eu não estaria sozinho nessa tarefa complicada, mas não impossível. Às vezes, você precisa se conter. Pelo bem comum.

—Se Holmes é um babaca, então ele achou um antagonista à altura. Tão babaca como ele. – disse Jacob, voltando seus olhos para Lestrade, que tinha uma conversa animada com um grupo de homens, provavelmente policiais, do outro lado do pub.

—Metade da Yard tem a mesma impressão que você quanto à Lestrade. O problema é que a outra metade, por outro lado, o venera. Por isso ele está em Westminster, sempre à frente de investigar fricotes de ricos e abastados em geral.

—Vejo que vocês têm um passado. – sugeriu Frye. Abberline suspirou.

—Temos lá nossas desavenças, especialmente quando me envolvi com aquelas questões do baile da Rainha. Digamos que ele não gostou muito de me ver no Palácio de Buckingham, “metendo meu nariz no seu território”, como ele disse. Mas deixemos de lado isso. Já está ficando tarde e preciso ir para casa. Cuide-se, Frye. – disse Abberline, despedindo-se de Jacob.

Bebendo um último gole em sua caneca de cerveja, agora completamente sozinho, Jacob fechou seus olhos, concentrando seus sentidos. Havia pelo pub, é claro, todo tipo de conversa e distração. Agora, um violinista começava a tocar uma canção folclórica da Irlanda, embalando um grupo de homens jogando cartas, outro grupo discutindo sobre quem conquistou mais mulheres e, é claro, os oficiais da Yard que conversavam com Lestrade.

—... Ah, mas aquele cretino do Abberline...

—Pois é, acredita que ele estava tentando persuadir alguém a não procurar Holmes?

—Aquele bosta não conseguiria persuadir nem um cachorro.

—Só não entendo por que alguém estaria atrás de Holmes agora. Já faz um tempo que aquele bastardo arrogante sumiu.

—Que nada, Lestrade. Parece que ele está de volta. Agora a pouco estive no Necrotério para deixar um cadáver que encontramos no rio e sabem o que descobri? Que o legista havia separado alguns corpos de indigentes para ele analisar amanhã bem cedo.

—Merda, mas o que será que aquele calhorda quer com corpos? Socá-los outra vez, para alegar que são “experimentos científicos”?

—Eu acho que ele tem é uma forte tara por gente morta.

Risadas altas.

—Ah sim. Como aquele funerário de Orange Street que gostava de furnicar com...

Levantando-se da mesa, deixando algumas moedas para trás, Jacob percebeu que já havia descoberto o bastante. Amanhã bem cedo, poderia encontrar o sujeito novamente no Necrotério da cidade.

 

 

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            Invadir o Necrotério St. Pancras Coroner's Court foi mais simples do que se poderia pensar, apesar do local estar rodeado de policiais. Mas afinal, havia pouco o que se preocupar em um lugar que carregava nada mais além de cadáveres. Quem se interessaria por corpos, afinal? Apesar de estar ali, entrando por uma janela deixada aberta por esquecimento de algum funcionário, Jacob jamais se interessou por corpos, ou mesmo estuda-los. Evie até fez alguns estudos, desejando entender o comportamento do organismo humano para propiciar mortes rápidas, eficientes. Jacob sempre achou besteira. Essa coisa de estudar o corpo humano se reservava aos Assassinos que desejavam se tornar eficientes com venenos, arma esta que Jacob sempre achou medíocre, típica coisa de mulheres e covardes. Nada melhor que o prazer de socar alguém, causar dor por meio de golpes em uma luta difícil.

            Andando pelos sombrios corredores do necrotério, Jacob se aproximou da sala 203, onde lera em um Livro na recepção que esta sala estava reservada a Holmes. Notando que a porta estava entreaberta, o Assassino simplesmente adentrou para se deparar com uma cena tão desagradável que quase o fez vomitar.

            -Oh, é uma surpresa vê-lo, Mr. Frye. – disse Holmes, que estava com o avental sujo de sangue como um açougueiro e parecia remover o intestino de um cadáver, puxando-o como se fosse uma corda. Jacob ameaçou vomitar, virando-se para um canto, fugindo daquela imagem grotesca.

            -Pensei que um Assassino tivesse uma constituição mais forte.

            -Vá se foder! Eu espanco e mato pessoas, mas não removo as tripas delas!

            -Na verdade, não são tripas. Este é o intestino delgado de... Stanley Smith. – respondeu sucintamente Holmes, desviando seus olhos para uma espécie de ficha, presa na mesa do cadáver. – O pobre Stanley está tentando me ajudar a compreender a reação do organismo humano a venenos advindos de... É, me parece que você não está nada bem. Não tem por que se conter, Mr. Frye. Há um balde debaixo da mesa reservado para este tipo de situação.

            -Você é louco. – respondeu Jacob, conseguindo controlar sua ânsia de vômito.

            -Leonardo Da Vinci e Charles Darwin foram chamados de loucos a vida toda. Não querendo me gabar, mas ao menos posso dizer que alguma coisa em comum eu tenho com eles, não é? De qualquer modo, gostaria de saber o que faz aqui. Pois vejo que dissecar corpos não é algo de seu interesse.

            Jacob assentiu.

            -Quero entender como sabe de toda a história de Assassinos e Templários.

            Holmes assentiu, retirando seu avental sujo de sangue. Andava de um lado a outro da sala do necrotério, como se estivesse discursando.

            -Eu já tinha percebido ao longo da História a existência de dois grupos secretos, a rondar e interferir em assuntos desde o Governo até mesmo a Grandes Invenções, e isso vem acontecendo há muito tempo. A julgar por certas características, bem como meu conhecimento em História, deduzi que os Assassinos e Templários não foram extintos. Estão ativos, e em uma guerra secreta. Como descobri? Convenhamos que os Templários não são tão discretos assim ao relatar suas vitórias, e fazem o mesmo com pouquíssima discrição quando tentam encobrir o seu fracasso. Tal como a queda dos Borgia, que...

—Deixe as lições de História para minha irmã Evie. Agora, me conte: como sabia de mim e da minha irmã?

—Bom, você precisa admitir que seus atos como Assassino não foram nada discretos. Além de matar muita gente importante da Inglaterra, você também construiu uma gangue chamada Rooks em tempo recorde. Isso chamou minha atenção. Uma pena eu ter estado em Oxford, resolvendo assuntos pessoais.

—Ouvi dizer que esteve lá para concluir os estudos.

—Oh, vejo que alguém da Yard já veio cacarejar a meu respeito. Sim, faltava pouco para terminar meus estudos de bacharel em Direito e pensei “por que não?”. Assim, eu posso representar meus clientes em um tribunal, se necessário.

—Então, você é um detetive. – concluiu Jacob.

—Sim. Mas não escolho os casos justamente pelo dinheiro. Só escolho os mais interessantes, mesmo que tenha que trabalhar de graça ou em troca de um cesto de frutas, como já aconteceu algumas vezes.

Jacob riu. – Aposto que deve ser um pobretão.

—Bom, nem todos têm o privilégio de chefiar o crime organizado de Londres, sabe? – cutucou Holmes, fazendo Jacob se irritar. Destemperado, o Assassino tentou socar Holmes, mas logo viu que o detetive desviou-se de seu soco, e como se não bastasse, agarrou seu braço e quase o destroncou, fazendo Jacob soltar um urro de dor.

—Sabe qual a vantagem do estudo da Anatomia? – perguntou Holmes, apertando mais o braço de Jacob e fazendo o Assassino soltar outro grito de dor. – Você sempre sabe onde infligir mais dor no oponente.

No instante em que Homes soltou Jacob, o Assassino voltou outra vez a atacar, mas suas tentativas sempre acertavam o vento. Holmes era muito ágil, e mais parecia “brincar” com ele. Isso só tornava Jacob mais furioso.

—Agora me lembro de você. – disse Jacob, enquanto tentava cercar Holmes. – Você é cara que estava lutando no pub. Que derrotou todos os presentes na luta em segundos. Agora entendo o seu truque.

Holmes riu.

—Parece que meu desempenho causou uma impressão em você.

—Vá se foder!

Possesso de raiva, Jacob lançou-se contra Holmes, que mais uma vez desviou e, para total desgosto do Assassino, o fez mergulhar o rosto na tigela onde o intestino do cadáver estava depositado. Claro, a reação de Jacob não foi outra senão vomitar sobre os órgãos do morto.

—Oh. Nada disso teria acontecido se tivesse usado o balde àquela hora.

—EU VOU TE MATAR, HOLMES! – urrou Jacob, com o rosto ensanguentado. Porém, apesar de sua ameaça, o detetive pôs-se a rir da situação, não conseguindo se conter. Enquanto Jacob lavava seu rosto com rispidez, tentando se limpar ferozmente do sangue do cadáver, Holmes decidiu fazer mais um comentário.

—O que acha de uma cerveja?

—Me faz mergulhar a cara nas tripas de alguém e depois me oferece uma cerveja? Você é mesmo um cara estranho.

—Como eu já te disse, não são tripas, e se quer saber, não sou tão estranho assim. Só vejo que meu experimento científico foi arruinado e que vou precisar comprar uma boa dose de Bryan's Renegade para convencer o médico-legista Grunemberg a me ceder o cadáver de outro indigente. Aliás, eu não sei se isso importa a você, mas este era o cadáver de um dos empregados de Mrs. Ruth Stapleton.

Jacob se surpreendeu. Ninguém, nem mesmo sua irmã Evie, sabia que ele estava envolvido com os bordéis da cidade. E a julgar pelo tom de Holmes, ele sabia.

—Você também sabe isso? – ao receber o assentimento de Holmes, Jacob decidiu caçoar um pouco.

—Aposto que também deve saber a cor das calçolas da Rainha Vitória.

Holmes fez uma careta com o comentário, mas divertida. – Por Deus, não. Mas todo o assunto que envolve o Crime e que acontece em Londres acaba sendo de meu interesse. Então, sim. Sei uma coisa ou outra do que acontece, desde certas guerras de gangues a bordéis. E convenhamos, o que aconteceu naquele bordel teve seu toque pessoal, que já reconheço de longe. Mas enfim, meu convite ainda está de pé. O que acha?

Jacob sentiu que jamais poderia recusa-lo.

 

 

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A cerveja azeda Bryan's Renegade descia a garganta de Jacob Frye e Sherlock Holmes, enquanto um pianista tocava uma polca descompromissada no piano do pub Nelson & Harry, que ficava apenas a algumas quadras do Necrotério. A prometida garrafa da cerveja mencionada por Holmes já estava separada e embalada em uma sacola de papel, mas mesmo assim, os dois permaneciam à mesa, conversando entre um gole e outro.

—Em meu ofício, sou obrigado a conhecer todo o tipo de gente, desde os frequentadores de bailes promovidos por nobres a figuras do submundo. Os bordéis acabam por se tornar uma quase inesgotável fonte de auxílio em minhas investigações. Não se espante se souber o que prostitutas são capazes de fazer por alguns xelins.

Jacob riu, quase se engasgando com cerveja.

—Tem razão. – disse o Frye, num tom divertido.

—Meu conhecimento em prostitutas não é de um consumidor, se é o que está sugerindo. Elas podem vigiar, seguir, ceder informações, facilitar entradas...

—Então você deve conhecer a maioria dos bordéis.

Holmes parecia analisar a afirmativa de Jacob. – Sim. A maioria.

—Fantástico. Então, creio que não preciso guardar segredos com o senhor. Bom, esta confusão que aconteceu no bordel de Ruth Stapleton... Foi mesmo obra minha, como pôde ter percebido.

Holmes assentiu levemente com a cabeça.

—Isso não é surpresa para mim. Pergunto-me, entretanto, o que o levou a estender suas atividades à exploração de prostitutas, quando há uma gangue inteira à sua disposição.

—Não é propriamente “exploração”. – retrucou Jacob, um tanto irritado. Havia tamanha familiaridade no tom adotado por Holmes que se ele fechasse os olhos, poderia ouvir claramente sua irmã a indagar as mesmas coisas. Só que com mais gritos. – Só o que estarei oferecendo às meninas é uma proteção. E nada mais.

—Em troca de uma porcentagem nos ganhos, se estou correto. Pois bem, a exploração anterior permanece, só mudou de mãos. Mas é claro, comentar sobre um assunto desagradável desta natureza faz a cerveja ser mais intragável do que já é. Creio que tinha perguntas a fazer, Mr. Frye...

—Pode me chamar de Jacob.

—Certo, Jacob. Pois então, faça suas perguntas.

Resignado, Jacob lembrou dos bordéis. Queria mais nomes de prostitutas que poderia facilitar a tomada dos bordéis, mas a julgar pela insatisfação do detetive, ele não receberia qualquer nome de suas informantes. Encurralado, o Assassino optou por dar um longo gole na cerveja para dar tempo de inventar outro assunto.

—Uma vida de detetive deve ser agitada e emocionante.

—Agitada, talvez. Emocionante, nem sempre.

—Sério? Pensei que iria contar-me ao menos algum caso que competisse se igual com os mistérios de “Penny Dreadful”. – comentou Jacob.

—Não. Deixo tal serviço para o menino Artie.

—Oh. – surpreendeu-se Jacob. – Não sabia que conhecia o Artie.

—Artie? Sim. – afirmou Holmes.

—Artie é um menino bastante inteligente.

—E perspicaz. Daria um bom detetive, se não tivesse uma imaginação tão fértil e inventiva.

Jacob parecia não entender.

—Qual o problema disso? Isso não deveria ser útil aos de sua profissão?

—Um pouco de imaginação é importante para o trabalho de um detetive, mas em demasia, como possui o menino Artie, prejudica. Porque no fim das contas, você enxerga tantas possibilidades, tantas hipóteses absurdas, que não chega a lugar algum.

—Faz sentido. – concordou Jacob, voltando à caneca.

—Aliás, e quanto à CAM? Algum progresso?

Jacob quase se engasgou com a cerveja.

—É verdade. Havia me esquecido que você também sabe sobre CAM, o Diabo.

Holmes riu. – Saber sobre CAM não é um total espanto. O nome dele é dito em sussurros pela alta sociedade, mas ainda assim dito.

—Espere, está me dizendo que pertence à alta sociedade?

Holmes desconversou com uma urgência que não passou despercebida por Jacob. – Gostaria que me contasse acerca de suas impressões sobre a casa. Sei que esteve por lá, eu vi com meus próprios olhos.

—Sim, estive. E parece que será complicado entrar.

—Miss Frye já tentou?

—Não.

—Tenho certeza de que ela conseguirá. – disse Holmes, com segurança. Jacob parecia um tanto desconfiado.

—Parece que é mútuo.

—Mútuo? O quê? – perguntou Holmes, confuso.

—Você causou uma impressão e tanto nela. E parece que ela também, em você. Enfim, é melhor eu não fazer tais comentários, senão ela irá me matar. Ainda mais que ela já é comprometida...  – disse Jacob bebendo mais cerveja. – Oh, droga.

—Comprometida? Não sabia que vocês, Assassinos, encontravam tempo para tais distrações... Mas mudemos de assunto. Gostaria de ter uma conversa com sua irmã, antes que ela vá se aventurar na casa de CAM.

—O que foi, está preocupado com ela? – zombou Jacob. – Evie está acostumada a esse tipo de incursão. Ela consegue se tornar uma sombra, quando quer. Confie em mim, minha irmã saberá o que fazer.

—Eu confio que ela se sairá bem em invadir a casa discretamente, mas há um pormenor que ela não saberá como lidar. CAM está em vantagem sobre vocês em um determinado aspecto, porém eu já sei o que fazer quanto a isso.

—Espere... O senhor está sugerindo uma parceria? Conosco? – enfatizou Jacob, surpreso. Holmes não respondeu, entretido com o bolso do casaco.

—Peça para ela me encontrar neste endereço, quando se achar pronta o bastante para invadir a casa de CAM. – disse Holmes, deixando um cartão enquanto se levantava da mesa e carregando a garrafa de cerveja. – Passar bem, Jacob.

—Passar bem. – disse Frye, enquanto assistia Sherlock Holmes saindo do pub. Pegando o cartão deixado por Homes no balcão, Jacob logo pôde ver seu conteúdo.

 

 

SHERLOCK HOLMES

Detetive Consultor

Montague Street, 21 – Strand – Londres – UK

(Próximo à Trafalgar Square)

Anunciar nome à senhoria Mrs. Hopkins


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Notas finais do capítulo

E não é que Jacob e Holmes estão se dando bem? #SQN

Até a próxima, e não se esqueça de deixar aquele review bacana!!



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