Assassin's Creed: Elementary escrita por BadWolf


Capítulo 2
Uma Festa para Jacob


Notas iniciais do capítulo

Fala, pessoal!
Esperando pelos irmãos Frye? Pois bem, eles chegaram!!
Espero que gostem do capítulo e deixem reviews!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/789506/chapter/2

            Os miseráveis moradores de Devil’s Acre mal poderiam crer na curiosa movimentação que seus olhos observavam por aquelas vielas e becos imundos de um dos locais mais infames e perigosos da cidade de Londres. Já há dois dias, um vai e vem de carroceiros vinha acontecendo por ali, carregando barris de cerveja, porcos abatidos e todo o tipo de iguaria imaginável. Ao contrário dos sopões comunitários que volta e meia aconteciam por obra da Igreja, os moradores de Devil’s Acre sabiam que essa movimentação não tinha qualquer cunho religioso – pelo contrário.

            Era a comemoração de um homem que, há cerca de seis meses, havia se tornando o mais ilustre “morador” do bairro. Chamá-lo de morador era complicado, na verdade, visto que ele estava sempre andando pra lá e pra cá. De todo modo, ele escolheu o miserável e imundo covil da cidade para abrigar o quartel-general de sua gangue, os Rooks. E agora, diante de todos os preparativos para sua festa de aniversário, que prometia ser inesquecível, os moradores sentiam-se gratos por serem “vizinhos” dos Rooks e seu famoso líder, Jacob Frye.

            A notícia a respeito da festa de aniversário de Jacob Frye acabou trazendo gente do submundo de todos os cantos de Londres. Whitechapel, Lambeth, Southawk... Todos os bairros da cidade agora pertenciam aos Rooks. Era impressionante o quão longínquo se estendia os domínios daquela que havia se tornando a única gangue da cidade, agora que os Blighters foram completamente dizimados. O aniversariante, Jacob Frye, era o mais animado da festa, sempre oferecendo cerveja e um pedaço de pernil farto a quem aparecesse, contando histórias sobre os Rooks, participando das cantorias desafinadas, arrastando moças de reputação questionável para dançar, dentre outras coisas.

            Mas até mesmo uma festa tem sua hora para acabar, especialmente com o fim da cerveja e as dezenas de porcos assados reduzidos a ossos. A festança de Jacob durou praticamente três dias, tempo suficiente para reduzir o Assassino a um bêbado dormindo dentro de um barril vazio, roncando alto e ignorando o sol forte das três horas da tarde.

            -Acho que jamais irei presenciar uma festa como essa.

            A ressaca abateu-se sobre Jacob, fazendo-o preferir manter os olhos fechados. Ainda assim, aquela voz... Ela lhe era tão... Familiar.

            Não pode ser...

            -Harry?! – exclamou o Assassino, sobressaltando-se a ponto de fazer o barril no qual dormia rolar pateticamente. Logo, ele presenciou uma risada ainda mais familiar.

            -Lembrou-se de mim, então? Ah, mas que besteira a minha. Como poderia se esquecer de alguém como eu, afinal eu sou inesquecível...

            O Assassino recebeu de Harry uma mão para ajudar a sair do barril. Com clara dificuldade, Jacob finalmente conseguiu sair. Ele mal fazia idéia de como foi parar ali, dentro daquele barril, mas isso não importava no momento. Provavelmente estava bêbado demais para se lembrar.

            -Como me encontrou? – perguntou Jacob, surpreso e com a cara amassada pela ressaca. Harry riu mais uma vez do estado deprimente de seu amigo, com a camisa amassada e a gravata desfeita ao redor do seu pescoço.

            -Acredite, a fama dos seus Rooks chegou até Dartmoor.

            -Dartmoor? Você estava em Dartmoor? – assustou-se Jacob. O presídio de Dartmoor era conhecido por ser um dos mais tenebrosos da Inglaterra, praticamente um vislumbre do Inferno em forma de prisão. Não era de se espantar que Harry estivesse magricela, com mais cicatrizes a adornar o seu rosto e de feições pálidas.

            -Sim, estava. Depois do julgamento, peguei seis anos de prisão, mas eu os cumpri. E na linha, acredite.

            -Então, o que faz em Londres? Não deseja mais voltar para Crawley?

            Harry riu, descrente. – Voltar àquela cidade minúscula que cheira a merda de vaca? De jeito nenhum! E ao que tudo indica você deve ter o mesmo pensamento que eu. Sempre quis ir para Londres, ser um gângster, chefiar uma gangue. E parece que conseguiu. E sem mim.

             Jacob sorriu. Era ótimo ver seu velho amigo Harry Carter outra vez, vivo e bem, apesar de ter sido preso e amargado anos em Dartmoor. Apesar da aparência maltratada e das roupas de segunda mão, Harry ainda detinha o bom humor que lhe era tão característico.

            -Então, você pretende ficar em Londres?

            -Sim. – admitiu Harry. – E... Se você puder me ajudar em minha permanência por aqui, eu agradeceria.

            Jacob Frye analisava a questão. Um homem como Harry seria muito bem-vindo aos Rooks, afinal. Ele sabia atirar e lutar como poucos, fora sua experiência em pequenos crimes, especialmente contrabando. Além disso, ele também era leal, sendo seu melhor amigo em Crawley desde que Jacob se conhecia por gente, apesar da desaprovação de seu falecido pai e Evie.

Evie... Ela não iria aceitar de bom grado a adição de Harry à gangue. Ela sempre o odiou, o chamava de delinquente e alertava Jacob para jamais contar a Harry sobre os Assassinos, pois não confiava nele. Dane-se, pensou o Assassino. Este era outro problema que Jacob teria que lidar depois.

            -Então, junte-se aos Rooks. Tenho certeza de que trabalho não faltará pra você.

            O rosto de Harry se iluminou em gratidão.

            -Obrigado, Jacob!

            Ao ver que Harry estendeu seu braço para um aperto de mão, Jacob se animou, apertando-o com força. Harry deixou escapar uma careta com o forte aperto que recebeu.

            -Parece que andou comendo muito espinafre! – brincou Harry.

            Jacob riu, dando um amigável tapa nos ombros de Harry. – Venha. Irei te apresentar aos Rooks. Vejamos como você poderá trabalhar conosco... – disse Jacob, enquanto conduzia Harry pelas fétidas ruas de Devil’s Acre até o Quartel-General, o prédio que se distinguia dos demais de sua vizinhança pelas cores verdes.          

            -De que tipo de negócios vocês cuidam?

            -De tudo um pouco. Contrabando, venda de bebidas destiladas, lutas clandestinas, dentre outras coisas. Tenho certeza de que você irá se encaixar em algo.

 

§§§§§§§§

 

 

            Evie acordou de seu cochilo com o parar do trem. Notou que sua lâmina estava ejetada. Esse era o problema de dormir com lâminas, ela pensou. Um pesadelo, ou mesmo sonho ruim, e alguém próximo a si poderia se machucar. Ela não costumava ser tão descuidada assim. Tinha cochilado sem querer, enquanto lia um livro sobre a Irmandade Italiana na Renascença. Não que o livro fosse desinteressante. O problema consistia nele ser seu favorito, e ela estar lendo-o pela quinta vez. Tinha grande admiração por Ezio Auditore da Firenze, sua dolorosa história de vida e sua sabedoria em liderar os Assassinos contra a devassidão dos Borgia, mas até uma história tão fascinante como a dele se torna cansativa depois de lida por cinco vezes.

            -Preciso de mais livros. – balbuciou Evie, colocando o livro em sua prateleira. Ouviu passos no vagão. Era Henry Green, seu noivo, no compartimento de armas.

            -Pensando em entrar em ação? – ela perguntou, em um tom humorado, ao vê-lo amolar um kukhri. Henry balançou a cabeça negativamente.

            -Deixo esse tipo de coisa para você e seu irmão. É o mais recomendável. – disse o indiano, com pesar.

            -Você se subestima, Henry. Nos ajudou bastante na luta contra Starrick. Nós não teríamos conseguido sem você. – disse Evie, tentando animá-lo. Mas Henry não tirava os olhos da arma, claramente evitando esse tipo de conversa.

            -Esse kukhri pertence à Jacob. Seu irmão não faz a manutenção devida em suas armas. Ele deveria entender que uma arma precisa ser bem-cuidada, para não falhar quando...

            -Henry. – interrompeu Evie, retirando o kukhri de sua mão e fazendo o indiano olhar diretamente em seus olhos. Após um suspiro exasperado, o Assassino preferiu ceder.

            -Não sou um bom Assassino, Evie. Acho que não mereço sequer carregar este título.

            -Não é verdade, Henry. Você me ajudou na busca pelo Manto do Éden. Sua pesquisa, suas sugestões, suas idéias foram fundamentais. Um Assassino não pode ser apenas músculos, ou lâminas e armas. Ele também precisa de um cérebro.

            Henry parecia nervoso.

            -Não sei se a Irmandade Indiana irá entender isso. Sabe, ver com bons olhos esse meu estilo nada “ortodoxo” de ser Assassino... Ainda mais tendo um pai como eu tenho.

            Evie riu. – Então, é isto? Você está com medo de não ser bem aceito pela Irmandade Indiana? Bobagem, Henry! Você sobreviveu a uma luta contra um Grão-Mestre Templário usando um Manto do Éden...

            -Éramos três, Evie. – interrompeu Henry, mas Evie o ignorou.

            -O que importa é que nós não teríamos conseguido se você não tivesse aparecido. E eu tenho certeza de que, com o tempo, a Irmandade Indiana saberá enxergar o seu potencial. Você vai ver, seremos bem acolhidos quando nos mudarmos para a Índia.

            Apertando a mão de Evie carinhosamente, Henry esboçou um sorriso, rendido.

            E naquele momento, Evie esqueceu de tudo. Esqueceu das conversas nunca concluídas com Jacob, da notícia que nunca saía de seus lábios, sempre deixada para outro dia. Não havia contado a seu irmão sobre seus planos de se mudar para a Índia, um lugar fértil de vestígios Daqueles Que Vieram Antes e que tinha uma Irmandade onde ela poderia fazer mais uma vez a diferença. No fundo, Evie sentia que já havia feito sua parte, mas a insegurança quanto a deixar o imaturo Jacob cuidando da Irmandade e dos Rooks completamente sozinho a detinha. Entretanto, ela ainda se permitia entrega às fantasias de viver na ensolarada e colorida Índia com Henry, sempre que estava às sós com o indiano. Os pensamentos quanto à reação péssima de seu irmão quando soubesse sequer a atingiam.

            -Não sei o que seria de mim sem você. – admitiu o Assassino, fazendo Evie sorrir. Quando prestes a trocar um beijo apaixonado, alguém bateu à porta, interrompendo o casal imediatamente.

            -Pode entrar. – permitiu Evie, quando ambos já se encontravam mais afastados.

            Evie pensara que fosse Agnes, a senhoria responsável pela manutenção e zelo do trem, mas logo ela se viu surpresa. De todas as pessoas a adentrarem naquele vagão, ela jamais poderia imaginar que sua visita fosse, na verdade, um outro Assassino.

            Na verdade, uma Assassina. Apesar do capuz a lhe cobrir boa parte do rosto, ela usava uma casaca que simulava um vestido discreto aos olhos mais distraídos, e também manoplas nas duas mãos. Do conhecimento de Evie, apenas os norte-americanos permaneceram na tradição de usar lâminas ocultas duplas, ignorando todos os registros de acidentes que tal hábito acarretava.

            -Boa tarde. Você deve ser Evie Frye e você... Henry Green, se não me falha a memória. – disse a Assassina, com sotaque americano.

            Ainda boquiaberta com aquela visita inesperada, Evie tentou esboçar uma resposta, mas outra vez se viu sem palavras quando percebeu que a moça trazia uma bolsa nas costas. Uma bolsa grande, por sinal. Sem dúvida, não seria uma mera pernoita.

            -Sim. – disse Evie, como sorriso amarelo. – E você é...?

            A jovem Assassina parecia ofendida. – Vocês não receberam a carta?

            -Carta? – questionou Henry Green. – Mas que carta?

            A Assassina franziu o cenho, confusa. – Do Conselho Britânico. George Westhouse escreveu a vocês contando sobre a minha vinda para cá. Não entendo. Será que ela não chegou?

            -Não recebemos cartas do Conselho há meses. – admitiu Henry. – Eu realmente não sei do que está falando, senhorita...?

            -Violet. Violet Fitzgerald. – apresentou-se a Assassina, por fim. – Bom, eu só espero que essa carta não tenha parado em mãos erradas, ou minha participação por aqui estará seriamente comprometida.

            -Que participação? – questionou Evie.

            -O Conselho me enviou aqui para ajuda-los na tarefa de impedir que os Templários retomem Londres.

—Oh. Seria um tipo de... “Reforço”, se assim pode dizer. – concluiu Evie, com amargura. Violet deu de ombros.

—Uma pena que não saibam do paradeiro da carta. George Westhouse explicara nela sobre a importância de minha participação e também dos planos deles de incluir mais Assassinos por aqui. Firmar a Irmandade em Londres definitivamente, fincar raízes sólidas. Acaso o plano desagrada vocês?

Evie e Henry se entreolharam.

—Não, não. Não é isso, é só que...

—Podemos deixar essa conversa para outro momento? Estou exausta da viagem.

Evie riu. – Mas uma viagem de trem de Crawley é feita em poucas horas.

—Na verdade, eu vim da América. Fui transferida para cá. Mal tive tempo de descansar em Crawley, pois o Conselho me pediu para vir para Londres imediatamente.

Evie franziu o cenho, em surpresa.

—Mas o que te fez abandonar a Irmandade Americana?

—Um problema pessoal. – disse Violet, com rispidez, deixando claro que o assunto era delicado e que não estava interessada em conversar sobre ele. Evie assentiu.

—Certo. Acompanhe-me. Irei te mostrar um aposento onde você poderá descansar. – disse a Assassina, conduzindo a norte-americana para seu próprio quarto. Evie arrumou para Violet uma cama improvisada, mas o bastante para que a moça pudesse descansar decentemente da longa viagem que fizera até a Inglaterra. Apagando as luzes de seu quarto, Evie fechou a porta e foi se encontrar com Henry, sentado ao sofá com o semblante preocupado.

—Evie, veja só o que eu encontrei. – ele pediu.

Sentando-se ao lado de seu noivo, Evie pôde entender o motivo de sua preocupação. Jogado de modo extremamente amassado, atrás do sofá, estava pelo menos umas quatro cartas. Ao notar o selo dos Assassinos, Evie ficou surpresa. Eram todas pertencentes ao Conselho Britânico, endereçadas aos irmãos Frye.

—Como elas vieram parar aqui? E nesse estado? – questionou-se Henry.

—Jacob. – disse Evie, sem ter qualquer dúvida. Henry parecia assombrado.

—Mas por que seu irmão faria isso?

Evie balançou a cabeça tristemente,

—Para nos isolar do Conselho da Irmandade. Ele sempre os detestou.

—Veja só esta, a mais recente. – disse Henry, entregando o envelope amassado a Evie, que rapidamente o abriu.

            -Então? – perguntou Henry, ao notar que Evie terminara de ler a carta.

            -Violet está certa. O Conselho realmente a enviou para Londres. Esta carta é de George Westhouse, meu antigo Mentor, avisando-nos de que “em breve” teremos companhia. O problema é que este “em breve” é agora, graças àquele irresponsável do Jacob.

            Henry parecia, para pasmo de Evie, contente.

            -Então, Violet também está certa sobre o Conselho estar mandando mais Assassinos além dela.

            -É o que parece. Hunf. – pigarreou Evie, em descrença. – Claro. Tudo está mais fácil agora. Já fizemos todo o trabalho pesado, e sem a ajuda deles. Mas ainda assim, isso não nos dá o direito de simplesmente nos isolar da Irmandade. Querendo ou não, eles são nossos superiores. – resmungou Evie. Henry tocou em seu ombro, carinhosamente.

            -Pense pelo lado bom, Evie. É um Assassino a mais para ajudar seu irmão Jacob a cuidar de Londres. Poderemos nos mudar para Índia de modo mais sossegado agora, sabendo que seu irmão não estará sozinho.

—Irei ter uma conversa séria com ele. – disse Evie, claramente zangada e ignorando o otimismo de Henry. – Ele não tem esse direito!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Assassin's Creed: Elementary" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.