Amor Perfeito XIV - Versão Arthur escrita por Lola


Capítulo 58
O cabeça


Notas iniciais do capítulo

Hoje eu exagerei no capítulo grande :( prometo que o próximo será menor :)
Boa leitura ♥



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Arthur Narrando

Estava recebendo uma designer de interiores na cobertura para que houvesse um projeto e tudo ficasse mais a minha cara possível. Eu queria me sentir confortável, já que a minha ideia não era sair.

— Eu estou morto. – Kevin chegou e se jogou no sofá. – Não dormi nada e é um domingo de manhã. – percebeu que eu não estava sozinho e nos olhou. Apresentei os dois e expliquei que ela abriu uma vaga na agenda pra mim. Assim que ela saiu ele começou a falar novamente.

— Não acha que é melhor ir dormir? - fez uma careta.

— Vou passar em casa, tomar um banho, comer alguma coisa e voltar pra cá.

— E qual é o motivo de sua presença? – nos olhamos.

— Digamos que Alice e eu estamos tendo divergência sobre o meu comportamento. – pensei durante um tempo.

— Topa fazer qualquer coisa pra deter o Caleb? – o encarei. – Não vai ceder? – suspirei. – Ela não vai. – ele parecia pensativo também. – Quer a minha opinião?

— Não. Sei o que vou fazer. Queria só contar isso... E falar sobre outra coisa... - franzi toda a face – Como o Murilo está? Pergunto por ter apagado o número dele. Sei que fiz o certo, mas eu me preocupo com ele. – sorri.

— Ele tá bem. Ficou bastante chateado e confuso... Eu disse a ele que com certeza era por causa do Rafael e ele entendeu. Isso estava pra acontecer a algum tempo.

— É. Você tá certo, estava mesmo. – suspirou.

— Você acha que vai amar alguém como esse garoto? – nos olhamos e ele sorriu.

— Não sei. Quando penso nele... Mesmo com tudo de ruim que aconteceu e com a nossa separação drástica, eu começo a sorrir... E isso me faz entender que ninguém vai me fazer tão bem quanto ele. Então eu acho que a resposta para a sua pergunta é não.

— Grande passo, admitir. Você me impressiona cada dia mais, sabia?

— Isso se deve a minha grande evolução. - deu uma risadinha e depois ficou sério. - Se eu sou o que sou hoje é graças ao Murilo, mas com certeza grande parte a você.

— Você é a pessoa mais importante da minha vida Kevin.

— E você é quem eu mais amo no mundo inteiro. - todo o seu rosto se iluminou após sua fala.

— Quer me fazer chorar?  É bom estar amoroso assim para o que eu vou te dizer. – franziu a testa. – Quero chamar o Rafael para vim morar comigo. Nada que faça mais sentido. Ele está aqui por mim.

— Tudo bem. Sem problemas. Vai ser bom pra vocês.

— Não quero ficar presenciando vocês dois brigando o tempo todo. Vão dar um jeito nisso, não vão? – concordou. – Tá bom, vai lá e pensa em descansar um pouco. A gente se vê amanhã.

A segunda chegou e com ela mais problemas. Meu pai fez sinal para que eu me afastasse assim que entrei na sala da secretária. Ouvi a conversa.

— Já passamos por todo tipo de inspeção. Não estou entendendo. – o ouvi dizer ao cara que estava de pé em sua frente. Outros dois entraram rapidamente.

— Revirem tudo. – o cara ordenou sem delongas. Lembrei-me daquela voz e que eu já havia conversado com ele. Eram tantas pessoas que eu tinha que lidar que não dava para saber ao certo qual era.

— É algum policial? Tem algum mandado? – meu pai claramente não se alterou.

— Investigador da policia civil. – ele tirou seu cordão pra fora. – Estou fazendo isso informalmente devido a seu crédito na cidade. Arthur Montez disse que vocês iam nos ajudar.

— Sem saber o que vocês querem fica um pouco difícil.

— Vejo que a comunicação aqui não vai acontecer. Quando eu voltar eu quero falar com o cabeça.... E quando eu digo cabeça significa o Kevin Morelli, o que comanda o fluxo de caixa. – o vi sair com os outros dois caras.

— Cadê o seu irmão? – perguntou assim que entrei.

— Não sei. Era pra ele estar aqui, não? – ele jogou alguma coisa de vidro no chão me assustando.

— Sabia que era o seu carro que eu havia visto perto de casa. Aquele loiro... – fechou os olhos e fez uma técnica de respiração. – Não vai pegar seu carro de volta com ele?

— Não. Trabalho e moro aqui, não preciso dele.

— Não estuda mais?

— Vou com ele. Simples. – não gostou nada da resposta. – Para de implicar com Rafael. Tem coisa muito mais importante para resolvermos no momento.

Kevin chegou e não precisou muito pra eu perceber que ele havia feito as pazes com o namorado. Após saber o ocorrido ele olhou para Caleb.

— Dê dinheiro para os responsáveis pela visita dos investigadores e paguem os funcionários administrativos hora extra para que ajudem no máximo que podem ajudar. Temos que colocar tudo em ordem o mais rápido possível.

— Ele quer falar com você. – meu pai avisou olhando nos olhos de Kevin. – Disse que é você que tem o controle financeiro. Vai marcar um encontro?

— Não. – sua cabeça parecia estar em outro lugar e ele estava concentradíssimo. – Na verdade vou. Mas não agora. Ele vai me pedir alguma coisa e não se negocia quando está em desvantagem. – avisou que iria até a sala dele.

— Ainda acha que eu o estou obrigando a fazer alguma coisa? – Caleb questionou o vendo sair. – Kevin ama isso. Ele só precisava de motivação para a grande descoberta. – deu um tapinha em minhas costas. – E ela foi você, muito obrigado.

— Vou trabalhar. Tenho muito a fazer. – ignorei e fui cumprir o meu papel  e eu devia admitir que conforme o tempo ia passando aquilo ficava cada vez menos ruim.

Kevin Narrando

Domingo. Entrei cansado dentro de casa. Passava um pouco das dez da manhã. Assim que abri a porta do meu quarto não me assustei, mas fiquei surpreso.

— Eu dormi aqui. – ele se sentou se enrolando no edredom. – Pedi coisas pra você comer já que o seu pai não para em casa e sua mãe está viajando a trabalho. – fui tirando a minha roupa e pedindo que a minha mente me ajudasse. – Vou lá embaixo fazer um café pra você enquanto toma banho ou você vai dormir? Precisa descansar.

Fui tomar banho e ele entrou no banheiro e ficou me olhando. Olhei pra ele e não consegui desviar o olhar por um bom tempo, mas fechei os olhos e deixei a água cair e tirar um pouco do meu cansaço mental.

— Como entrou aqui? – perguntei enquanto me secava.

— Talvez ter automatizado tudo não tenha sido uma ideia tão perfeita assim. Entrei no sistema.

— Isso não é possível.

— Quando se tem um pouco de conhecimento sim.

— Por que meu pai ainda não soube nada sobre isso?

— Ele soube. Soube que ocorreu uma falha. – sorriu. – Sua porta continuou trancada e ele não me viu. Não arrumei problemas pra você.

— Que seja. – dei de ombros e fui me vestir. Vi que eu estava morrendo de sono e me deitei. Não demorou muito e ele se deitou ao meu lado.

— Me deixa fazer massagem em suas costas pra você relaxar e dormir melhor? – fez a voz mais mansa do mundo. Continuei em silêncio e ele entendeu como um sim, pois logo senti suas mãos em meus ombros. E em poucos minutos eu adormeci. Quando acordei ele estava deitado ao meu lado me olhando. Peguei meu celular para ver as horas.

— Quanto tempo vai ficar bravo comigo? Já disse que não fiz por querer. A culpa foi toda minha por ter ciúme do Kemeron. - ele lançou um olhar triste.

— Não é só o ciúme.

— Não devia ter dito aquilo.

— E se eu ficar ameaçando terminar com você? – o encarei.

— Você já terminou uma vez.

— Quando achei que você não era mais meu. Naquela época não tinha outro caminho. Mas eu nunca disse que iria fazer isso. Só fui lá e fiz.

— Mas eu não vou fazer. Kevin... Se eu não tivesse arrependido não estaria aqui, não teria comprado todas essas coisas pra você comer e nem feito massagem em você. – encostou a cabeça em meu ombro. – Você é um demônio de namorado. – não aguentei e dei uma risadinha. Ele esfregou o rosto em meu ombro e depois ficou me olhando com olhar de coitado.

— A partir de hoje não quero mais ser ameaçado por você. Se falar em terminar quem vai sou eu. – avisei em um tom de voz firme e então fiz carinho em seu rosto. – Eu perdoo você.

— E você precisa se perdoar comigo. – lancei um olhar desconfiado. – Kemeron.

— Qual é Rafael, Kemeron estava pegando o tal do Pedro, você jura que tem ciúme dele ainda? E eu já disse que tenho consideração por ele.

— Ele disse sobre você ser o primeiro dele. –afastei meu rosto – Não dá para não imaginar vocês dois transando.

— Nem foi com ele a minha primeira vez. Seria pior se fosse, não acha?

— Nossa que idiota. – me bateu fazendo com que eu tivesse que me defender.

— Quanta brutalidade! – reclamei.

— Ele era bruto assim também? –dei uma risada. Era impossível levar Rafael a sério.

— Rafa... – quis abraça-lo e ele se esquivou. – Deixa eu te abraçar. Não fique irritado.

— É melhor não. Daqui a pouco você sabe muito bem o que estaremos fazendo. Você precisa comer e a gente tem que acabar de conversar.

— O que estaremos fazendo? – segurei o riso. – Ah, claro, vindo de você...

— Você é muito puro né? – o fuzilei.

— Mas não sou igual a você. Isso nem tem discussão. – ele desviou o olhar sendo obrigado a concordar.

Aquele domingo foi ótimo. O resto do dia nós dois ficamos juntos, acabei não voltando para o hotel. E dormi com ele de domingo para segunda, chegando atrasado ao trabalho. Se não bastasse esse atraso, muita coisa estava acontecendo naquele lugar.

— Não concordo com isso. – falei pela segunda vez.

— Mas vai ter que concordar. É o certo. Sei que o rosto do Arthur é bem mais vendável que o seu e ele é mais velho, mas o seu pai quer você a frente de tudo. Deixe que ele fique por trás. – respirei fundo. – Ele confia mais em você Kevin.

— Pedro eu não tenho o mínimo de jeito com essas coisas. Arthur é perfeito.

— Você entende que para Caleb treinar vocês dois e deixa-los no comando para que ele tome frente de Alela, ele precisa que os dois estejam na mesma página? - respirei fundo novamente.

— Você trabalha em agência de turismo ou em treinamento de gestores? – o encarei com tédio.

— Eu os treino na agência. – ele riu.  Sou Expert nisso. Confie em mim. – Arthur entrou e se sentou. – Vamos checar se a lista de tarefas foi feita, vocês alinharam as ideias de melhoria? – concordei e meu irmão também. – Ok, vamos ver. – ficamos um bom tempo naquilo. Tempo demais até.

— Cadê meu celular? – perguntei após procurar e não acha-lo.

— Tem que falar com o loiro gostoso? – Pedro questionou em um tom bem sarcástico.  – Eu preciso que se concentre aqui.

— Meu celular AGORA. – ele arregalou os olhos com o meu jeito extremamente ameaçador. Arthur riu da forma como ele ficou com muito medo. Em um movimento rápido ele tirou meu celular do bolso e me entregou.

— Você está só começando a conhecê-lo. – meu irmão avisou e piscou.

— Ele é muito rude para namorar alguém. – comentou após um tempo, ainda espantado. Continuei  trabalhando, meu irmão levantou a cabeça e o olhou.

— Ninguém consegue suportar a aspereza dele. – falou para o garoto. – Apenas Rafael e... Alguém com quem ele não é áspero.  – o fuzilei.  – Estou mentindo?

— Temos coisa demais a fazer pra perder tempo com papinho inútil. – encerrei aquele assunto.

Aquela segunda passou tão rápido e quando vi já era noite e já era hora de ir para a faculdade. Arthur foi no meu carro e eu esperei Rafael me buscar.

— Por que demorou? – perguntei assim que ele chegou.

— Luna tá louca dentro daquela casa. Fez um escândalo com o seu irmão. – o olhei. – Arthur com telefone desligado, o seu pai também não atende... Ela quer expulsar ele de casa.

— Por quê? – só faltava essa agora.

— Ela diz que aceitou a gravidez de Sophia e mais um monte de coisas. Não vai aceitar que ele seja desobediente e desrespeitoso com ela. Não sei direito.

— Às vezes eu chego a me perguntar se Ravi tem comparecido corretamente todos esses anos... Não tem lógica ela ser tão insuportável. – ele me olhou e riu.

— Ela é super protetora igual aos pais de Alice. E por falar nela você já se desculpou? – abri meu notebook e o ignorei. – Kevin.

— Preciso redigir alguns contratos de parceria. Posso? – ele bufou, mas não disse mais nada.

Depois da aula saímos para comer eu, ele e meu irmão. Arthur iria pedi-lo para morar com ele. Assim que entramos no local demos de cara com Kemeron, o pai e alguns homens.

— Vamos sair daqui. – Rafael exigiu de imediato.

— Não. – o olhei. – Conversamos ontem Rafael. - esfregou as têmporas como se aquilo fosse deixa-lo mais calmo. Nos sentamos e claro, Kemy veio até nós.

— Não vai embora mais não? – mantive a calma mesmo após a pergunta estúpida e grosseira do meu namorado.

— Conheço bem você... É do tipo encrenqueiro que sempre acha que está certo. – Kemeron avaliou em um tom de voz amigável. – Kevin fala o que pensa, é direto e honesto e ele não merece alguém difícil como você.

— Ah... Ele merece você né? – Arthur me olhou esperando que eu interrompesse aquilo. Se eu o fizesse seria pior.

— Ele foi o meu primeiro amor e acredito que o primeiro amor de muitos caras. Mas o amor dele é você. Eu apenas me importo com ele então tente ser uma pessoa menos complicada. – ele se levantou. – Pedro está adorando trabalhar ao seu lado. Cada dia me manda uma mensagem mais desesperado. – me olhou e sorriu. – Pare de assusta-lo tanto.

— Prometo que vou tentar. – correspondi o sorriso e ele voltou para sua mesa.

— Você tá trabalhando ao lado do tal do Pedro? – Rafael quase não abriu a boca para perguntar. – Quando pretendia me contar?

— Isso é importante? – o olhei.

— A partir do momento que eu tenho ciúme dele é sim. – fiquei em silêncio. Era melhor que discutir. Depois de fazermos o pedido notei que ele encarava Kemeron mesmo de longe.

— Para. – pedi o olhando. – Agora Rafael.

— Odeio a sensação de ver vocês dois juntos. – desabafou baixo.

— Mas eu estou aqui do seu lado. – peguei em sua mão. – O seu melhor amigo tem algo a te dizer. – olhei Arthur.

— Quero que você venha morar comigo na cobertura. – Rafael ficou processando o pedido.

— Sim. Sim. Claro. Morro de medo da sua mãe quando ela assume o posto de malvada. E nesses últimos dias... Mas... E o seu pai? Ele não vai gostar disso.

— É tudo meu. Ele não tem que opinar em nada.

— Mas se isso for fazer com que ele apronte alguma coisa eu prefiro ficar na mansão.

— Calma. Caleb está sob controle.

— Não estou achando isso legal. Primeiro Arthur se entrega a uma chantagem dele e agora Kevin... – respirou fundo e notei sua insatisfação e tristeza.

— Amor. – peguei sua mão novamente. – Eu tenho livre arbítrio e eu escolhi estar lá.

— Claro, você não deixaria o Arthur sozinho nessa. E eu me sinto tão culpado. O nosso namoro... – meu irmão mandou que ele se calasse.

— Não é esse drama que a gente precisa agora.

— E por falar em drama... – peguei meu celular e coloquei na mesa. Alice ligando.

— Ela tá passando por cima do orgulho dela. – Rafael comentou abismado.  Atendi e ela não deixou nem que eu falasse direito.

“Quero que você nunca mais olhe na minha cara, não conversa mais comigo. Vai você e o seu irmão para o inferno.”— e desligou.

— Passa na casa dela amanhã e conversa com ela Kevin.

— Que horas Arthur? Não dá.

— Depois da faculdade.

— É muito tarde pra eu ir lá. E eu vou estar cansado pra não discutir.

— Tá arrumando desculpas, não consegue vê-la porque sabe que ela vai dizer verdades. – olhei Rafael após sua fala.

— Vamos comer, antes que vocês dois briguem.

Deixamos Rafa em casa quando voltamos, ele iria arrumar as coisas dele e iria pra cobertura amanhã. Quando nos despedimos ele me olhou.

— Desculpa por não ser um bom namorado. – sussurrou baixinho em meu ouvido depois de me beijar. Olhei em seus olhos e sorri.

— Também não sou o melhor. – admiti e ouvi Arthur me apressando. Eu o deixaria no hotel antes de ir pra casa.

— Kevin... – meu irmão chamou minha atenção antes de chegarmos.  –Sei que me ama e que entrou nessa por mim... Mas você não aguentaria muito tempo. E agora você se comprometeu de uma forma que não dá pra voltar atrás. Bom... Eu sei muito bem que a única coisa maior que sua aversão a Caleb é o seu amor por Murilo. – nos olhamos. – O que ele ameaçou fazer a ele?

— Nada. Não tem nada disso. – quase ri. Pensei um pouco no que ele disse enquanto chegávamos. – Acha que se ele tivesse feito alguma ameaça contra ele eu estaria tão calmo?

— É. – suspirou. – Como eu disse... Nada é maior que o seu amor por Murilo. – desviei o olhar. – Rafael não pode dizer que foi enganado.

— Na verdade eu cheguei a dizer que eu o havia esquecido. Acreditei mesmo nisso. Eu o tratei grosseiramente mal por causa de Rafael. Não era possível ainda ama-lo. Ele era... Apenas alguém do passado pra mim.

— Ele ainda é alguém do passado. Só que ele nunca vai sair do seu presente. – sorriu.

— E você? Por que não volta a interagir com o pessoal? Alice precisa de você.

— Ainda não é a hora. Devemos deixar Caleb confiante. – respirou fundo. – Vou ir. Até amanhã.

Tudo o que eu precisava naquela terça era tirar um tempo para ir até Alice, mas acho que seria bem difícil. Depois de uma reunião no hotel, em que Gustavo se negou a estar presente, já que ele não queria opinar sobre as decisões do meu pai, como ele sempre fazia, Caleb marcou um evento juntamente dos gestores da rede de Alela para que o novo projeto fosse apresentado.

— Vinicius eu sei que tá tarde, já passa das dez da noite, mas eu preciso falar com a Alice. – pedi ao aparecer em sua porta.

— Relaxa. Não é tão tarde assim.  – entrei ao seu lado. – Por que brigaram? – suspirei.

— Por eu estar tão empenhado em ajudar meu pai com o hotel.

— Alice é muito mimada tem hora. Ela tem que entender que as pessoas não agem de acordo com sua vontade. Juro que já disse a ela. – dei um sorriso.

— Aposto que sim. Vocês são maravilhosos. – vi a garota aparecer.

— O que tá fazendo aqui? – cruzou os braços e ergueu as sobrancelhas.

— Vim ver o seu pai que é meu amigo. – ela se desmontou inteira. Ele quase riu. – Vamos beber Vini? Cadê a cerveja?

— Não a maltrate desse jeito. – deu uma risadinha e foi até a filha. – Seja legal com ele. – saiu nos deixando a sós.

— Olha só... Eu entendo a sua revolta, mas é a minha escolha Alice. Você poderia respeita-la? – ficamos nos olhando. Por um bom tempo.

— Por quê? Só me explica. E quem sabe eu entendo.

— Ainda não deu pra entender? Arthur fez aquilo tudo por mim, pelo Rafael e pelo meu namoro. Ele decidiu seguir o caminho do meu pai para tentar dar um pouco de paz a gente. Eu só podia agradecer estando nessa com ele. E assim fazendo com que o plano seja ainda mais bem sucedido. Entendeu?

— Eu sinto muito. – deu um suspiro triste. – Você não merece o pai que tem. – pulou em mim me abraçando apertado. Fiz carinho nela antes de nos separarmos.

— Não vamos mais brigar Alice. – a olhei. – Já basta Rafael. Ele tá acabando com a minha sanidade.

— É... Você acha que vão conseguir ir muito longe? – abaixou o tom de voz e me olhou com receio.

— Hoje eu tenho a mesma certeza que eu tinha antes. Só... Sei que vai ser mais difícil. Mas quem disse que prefiro as coisas fáceis? – ela se mostrou bastante pensativa e deu um pequeno sorriso. – O que foi? – balançou a cabeça voltando a atenção a nossa conversa.

— Nada. Só acho que entendo as suas preferências.

— Ah... Claro. Por que ninguém o esquece?

— Você esquece? – desviei o olhar.

— Tenho que ir. Amanhã acordamos cedo. Vem cá. – a abracei novamente.

Estar bem com ela tirava um peso enorme das minhas costas, mas agora eu tinha outro desafio pela frente. A sexta feira chegou e com ela o evento junto dos gestores de Alela e de outras unidades. Meu pai nos apresentou e me deu a palavra, eu juro que lutei para ser Arthur em meu lugar, mas não adiantou.

— O Palace tem sido um negócio de família e eu não quero subverter a ordem. – falei e peguei o dispositivo em que estava anotado os assuntos que eu trataria. – Para isso é necessário que o crescimento permaneça. Como sabem o Palace é uma franquia de hotel famosa, que começou fora do País. E para todo esse sucesso ela sempre contou com grandes profissionais. – vi o sorriso do meu pai se aumentar cada vez mais. Nem em outra vida ele imaginaria essa cena. - Grandes profissionais e grandes líderes sempre têm, por trás de seu sucesso, um grupo de pessoas que os ajudaram a chegar até o topo. Com empresas, não é diferente. A colaboração entre diferentes negócios pode ajudar as organizações a irem mais longe. É por isso que parcerias na hotelaria podem trazer diversos benefícios para hotéis, gerando mais oportunidades e atraindo mais hóspedes. Devemos saber todas as vantagens do estabelecimento ter aliados estratégicos, os tipos de parceiros que o hotel pode buscar e como desenvolver parcerias de forma eficiente.

— Posso prever que esses benefícios sejam redução de custos, maior alcance da marca, possibilidade de competir com grandes redes e diferenciais turísticos, não é? - percebi logo cedo que entrei no emaranhado de cobras dos negócios.

— Exato. Fizemos uma lista de trocas a serem oferecidas, que nosso hotel pode fazer parcerias e a primeira dela são outros hotéis, caso haja lotação de quartos um indica o outro. E indo além, hotéis de outras cidades.

— Rede de hotéis. – o mesmo cara disse como se fosse óbvio. – Parcerias entre vários hotéis podem ser excelentes oportunidades para preços melhores dos fornecedores ao comprarem em conjunto e em quantidades maiores. – talvez até o final da noite eu perdesse a linha. O sorriso do meu pai agora havia desaparecido e seu olhar era preocupado.

— Continuando... Parecerias com empresas que atendem o mesmo público. Tais como parcerias com cozinheiros e restaurantes tradicionais da região que podem resultar no desenvolvimento de uma feira de gastronomia regional. A nossa primeira aposta vai ser um Festival gastronômico.

— Isso serve para atrair mais hóspedes na baixa temporada. O hotel pode se tornar uma atração para viajantes e também para os moradores locais ao promover um festival gastronômico. O tema pode ser alguma especialidade do chef, estar relacionado à época do ano como festival de chocolate na Páscoa, de sopas no inverno etc. Ou ainda promover a gastronomia tradicional da região. Torres assim como Alela tem uma gastronomia riquíssima. – e ele conseguiu esgotar o meu controle.

— Você gostaria de assumir o meu lugar? – questionei sem usar um tom agressivo. Ele riu.

— É isso que acontece quando coloca garotos no comando. Eles não conseguem lidar com emoções. E nem aceitar interferências. Não leve para o lado pessoal Kevin, eu não seria um bom profissional se não opinasse. Alguém mais poderia fazer uma intervenção para não parecesse uma perseguição da minha parte? – sorriu olhando para os lados.

— O hotel pode promover o evento ou ainda pode fazer parcerias com alguma empresa local, seja com restaurantes, com estudantes do curso de gastronomia da cidade, com as cozinheiras tradicionais da região e assim por diante. Acho uma ótima ideia. – uma mulher opinou.

— Como sabem... – continuei após respirar fundo. – O turismo corporativo é o maior responsável pela movimentação do nosso hotel. Então também estamos pensando em eventos corporativos. Já temos estrutura para atividades como convenções, treinamentos, reuniões, etc, só precisamos de uma divulgação extra.

— A equipe de marketing vai trabalhar nisso. – um dos funcionários respondeu.

— Temos também a festa tradicional da cidade. Vamos dar importância a esse evento para que o estabelecimento possa se tornar ainda mais referência na região. Tal evento vai ser apoiado pelo hotel e isso vai poder ser revertido em frutos futuros.

— Mas se Torres é conhecida praticamente como a cidade do amor e a festa anual tem esse tema, como pretendem fazer isso? – de novo o cara voltou a me afrontar.

— Não sabemos ainda. Mas de qualquer forma, o hotel vai se beneficiar com o movimento gerado pelas atividades. – não consegui disfarçar minha voz irritada. – Partimos agora para cursos e workshops.

— Isso não entra em turismo corporativo? – fiquei olhando pra ele durante um tempo.

— Promoveremos cursos e workshops temáticos em nosso hotel. Podemos aproveitar o conhecimento dos nossos profissionais, o chef pode dar um workshop de gastronomia, outro profissional pode promover um curso de oratória e assim por diante. Não tem nada a ver com o turismo corporativo. – me acalmei um pouco. – Outro possível caminho é oferecer espaço para que outras empresas e profissionais façam seus cursos e workshops utilizando a estrutura do nosso estabelecimento. O movimento gerado vai ajudar a fortalecer a marca do negócio e a gerar mais renda.

— Essa segunda parte pra mim é corporativa. – ele só queria me tirar do sério, me fazer mostrar que eu não era capaz de estar ali. Encarei meu pai de forma analítica. Ele mandou aquele cara fazer aquilo. Ele estava me testando. Dei uma risada.

— Não acho que você seja tão desprovido de conhecimentos assim. Vou levar na esportiva. – sorri. – Temos então outra parceria que são os congressos, geralmente direcionada a um público específico. Muitas vezes duram mais de um dia.  Nessas ocasiões, o hotel tem a ganhar em dobro, porque, além de movimentar o estabelecimento, esse tipo de evento pode gerar um grande número de novos clientes. Ou seja, uma ótima forma de atrair hóspedes e ainda aumentar a receita do negócio.

— Você tá aqui pra isso né? – dessa vez eu o ignoraria.

— O segredo para o sucesso desse tipo de evento é oferecer uma estrutura completa e serviços personalizados aos participantes, tais como transporte e condições especiais nas diárias. – completei. – Não quero me estender mais. Então vou finalizar com casamentos e aniversários, que não é nenhuma novidade e já é feito há anos. Vai ajudar a manter os quartos ocupados e ainda contribuir para aumentar o faturamento. Esse tipo de evento tem grande potencial de conquistar novos clientes. Aqueles convidados que vieram só por causa do casamento podem gostar do atendimento e acabar voltando em outras ocasiões. Mas, para que isso aconteça, novamente, é fundamental oferecer serviços complementares e específicos para os participantes do evento. Por exemplo: pacotes de hospedagem especial para os convidados, dia da noiva, sala para preparação da noiva e do noivo com os padrinhos e madrinhas etc. Isso já está sendo organizado.

— Propostas apresentadas agora é colocar em prática. – meu pai completou e sorriu. Cheguei perto dele.

— Passei no teste? – perguntei baixinho. Ele me olhou impressionado.

— Você é a melhor pessoa que eu poderia entregar esse hotel. Amo a sua astúcia. Fiz isso pra te mostrar que vai encontrar muitas pessoas que vão duvidar de você pela sua idade, não deixe que te afetem.

— Se eu consigo conviver com você, eu passo por cima de qualquer coisa. – ajeitei minha roupa e peguei uma taça com o garçom, indo até o meu irmão.

— Você deu um show hoje. O Kevin que eu conheço teria quebrado algo na cabeça daquele sujeito.

— Eu o ouvi. Nunca deixe suas emoções serem maiores que a sua inteligência. – olhei em seus olhos. – Só que não por tanto tempo. Preciso ir, Rafael está me esperando na cobertura. Você segura aqui?

— Claro. – sorriu. – Digo que teve uma emergência. Pode ir tranquilo.

A cumplicidade minha e de Arthur havia aumentado nesses últimos dias e isso era tudo que nós dois precisávamos. Porque tínhamos que contar um com o outro. Agora mais que nunca.


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Notas finais do capítulo

Até amanhã ♥



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