Amor Perfeito XIV - Versão Arthur escrita por Lola


Capítulo 59
Desmaio misterioso


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



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 Kevin Narrando

A sexta feira havia sido tensa, mas agora eu estava naquele elevador em direção ao meu alívio e minha margem a isso tudo. Eu o encontrei me esperando sorrindo.

— Preciso muito te dizer uma coisa. – falou enquanto eu tentava beija-lo. Ergui o queixo o olhando de cima. – A cobertura tem acesso a câmeras para as áreas comuns do hotel nesse painel... – ele apontou para a parede.

— Por que está dizendo o que eu já eu sei? – estreitei os olhos.

— É que... Kevin eu estou bastante intrigado.

— Ah meu pai. – respirei fundo. – Quem se aproximou de mim e você não gostou Rafael?

— Não é isso. – senti alívio. – A cara que você fazia enquanto falava, parecia tão natural e sexy, era impressionante.

— A minha cara? Hum... Não sei se entendi muito bem.

— Você estava dizendo sobre algo bastante sério e mesmo assim se mostrava incrivelmente sedutor. – sorri ao ver seu semblante.

— Acho que deve ser porque negócio é um pouco parecido com sexo pra mim. Me dá prazer. Tem a ver com conseguir lucros e estar sempre planejando o próximo passo. É excitante.

— Nunca pensei que seria assim. Você era tão resistente.

— É assim que as maiores sensações e encantos começam, na resistência. – ficamos nos olhando.

 - Como foi... Comigo em relação a você?

— Sim. – mordi levemente o lábio inferior. – Hoje eu sei que foi bom você ter resistido. Faz de você uma conquista tão prazerosa quanto os negócios. Na verdade mais. Bem mais. É a minha conquista mais valiosa.

— Acho que depois de dizer isso você não vai ter muita escolha se não dormir aqui comigo.

— Farei esse sacrifício. – ele sorriu demostrando satisfação. Fomos para o quarto de hóspedes, onde ele começou a falar sobre o medo que ele tinha do meu pai fazer algo contra ele já que estávamos cada vez mais fisicamente próximos e não nos preocupávamos em esconder isso. Eu só não queria pensar nisso agora.

Levantei cedo no sábado para trabalhar e quando era quase uma hora da tarde sai para almoçar na casa da vó Isa, onde Rafael já estava e para onde Arthur iria. Pela primeira vez ele iria enfrentar todo mundo. Não quis me contar porque tomou essa decisão, mas eu sabia que tinha coisa no meio. E só podia ter a ver com Alice. Por falar nela, brigamos mais uma vez. Por Murilo. E devo dizer que eu entendia a mágoa dela. Não era certo eu simplesmente fingir que ele não existia. Não era tão simples assim.

— Sabia que você estaria aqui. – meu pai chegou e entrou na biblioteca onde eu conversava com o pessoal. Rafael soltou a minha mão e se afastou de mim ficando do outro lado do sofá. Franzi a testa tentando entender sua atitude.

— Melhor não provocar. – explicou baixinho.

— Trabalhei incansavelmente nos últimos dias. Preciso de descanso. – exigi antes que ele começasse. Sabia que era assunto do hotel.

— Alguém traz um chá pra mim? – ele se sentou em uma das poltronas. – Porque a conversa vai ser um pouquinho longa.

— Quer que a gente dê licença? – ele balançou as mãos para a pergunta de Giovana.

— Podem ficar. Não é nada de mais. Negócios. – olhou todos. – Nenhuma alma boa para me trazer um chá.

— Vou lá. – Rafael se levantou. Depois de dizer qual chá queria ainda comentou quando ele saiu que isso não faria deles sogro e genro.

— Diz logo o que você veio dizer. – pedi mantendo a calma.

— Você precisa virar diretor do hotel o mais rápido possível. Enquanto eu coloco o seu irmão como gerente geral.

— É tudo a mesma coisa. E eu já sei disso. – massageei as têmporas na tentativa falha de relaxar. – Porque você tem que ir o mais rápido possível para o hotel de Alela. Isso eu também já sei.

— Deixar vocês assumirem postos tão altos com tão pouca idade não é muito promissor. Isso você já sabe?

— Eu não pedi. – sorri provocativamente.

— Me deixa terminar de falar? – Rafael chegou com o chá o entregando. E ele sequer agradeceu. Tive vontade de soca-lo. – E antes de jogar isso na minha cara, as condições para você fazer isso foram bem interessantes né Kevin? Ninguém na sua idade ganha seis mil reais por mês. – todos arregalaram os olhos.

— É, para uma empresa de porte grande como o Palace, eu estou ganhando a média de um trainee. Quando eu assumir minha função esse valor vai dobrar. – ficamos nos olhando. – Nada mais justo.

— Você só não é mais meu filho porque não tem como. – respirou fundo. – Como eu estava dizendo, para que esse processo ocorra eu contratei alguém que já te ajudou muito e vai ajudar muito mais. Pedro. Ele irá ficar permanentemente na cidade. Você aprenderá ao lado dele, com toda sua inteligência, experiência, aprenderá a maneira de administrar os negócios.

— Você o está superestimando. Ele é apenas quatro anos mais velho que eu.

— Mas está nessa desde novo. E quer você queira ou não tem que admitir o que ele já fez. E ele tem habilidade com isso.

— Pai. – respirei fundo. – Eu sou bom com números. Com os lucros. Por que você não deixa o Arthur com todo o restante?

— Não é você que decidiu estudar administração? – desviei o olhar. – Eu te mandei fazer economia. E... Não sei, Arthur é mole demais pra negociação. Você sabe que eu confio mais em você.

— Se confia em mim pra que tá me dando um professor?

— Você precisa. Sabia que seria teimoso. Mas não tem o que fazer a respeito, só aceitar. – se levantou. – Não o deixe desconfortável. Ah... – me olhou sério. – Não venha com essas ideias de gay para o lado dele. – dei uma risada o deixando ainda mais irritado.

— Devia ter contratado uma mulher. – provoquei.

— Ele irá morar lá em casa. – senti a tensão de Rafael mesmo com a distância entre a gente. – Espero que você não passe os dias na cobertura o deixando sozinho.

Ele saiu e todos ficaram em silêncio. Fui para a área da piscina, eu precisava sair dali. Precisava de vento e um pouco de ar fresco. Encontrei Arthur e Alice no que parecia uma conversa, não sei. Passei direto e fui até o pequeno muro na lateral na piscina, onde fiquei escorado e olhando a floresta.

— Sabe que não vamos sobreviver a isso né? – ouvi Rafael chegar ao meu lado.

— É exatamente isso que ele quer. Ele trouxe o Pedro pra perto porque sabe que você é ciumento. E agora ele fez essa jogada de mestre.

— Você ainda pode ficar comigo na cobertura. – fiquei olhando pra ele.

— Você realmente não confia mim. – suspirei voltando a olhar pra frente.

— Vocês trabalham juntos, tem uma identificação e você já disse que ele ficou com Kemeron, ele pode se interessar por você e mesmo se ele fosse hétero, até então eu era... – o cortei.

— O problema sou eu. Sempre.

— Tá se fazendo de vitima, logo você?

— Você já parou pra prestar atenção em minha vida? – quase gritei. – O meu ex namorado tem sequelas gravíssimas do nosso namoro até hoje, era pra eu ter medo e fugir de relacionamentos. Tudo por um sociopata doente que quer me controlar e dizer como eu devo ser, o que eu devo fazer e até quem eu devo me interessar. Você, além da Alice e Arthur, é a única coisa que faz a minha vida valer a pena. É a minha fenda de luz em meio a todo esse caos e escuridão. Se eu perder você eu perco tudo Rafael. Então, por favor, para com isso e confia em mim.

— Perdão. – me abraçou fazendo assim com que eu me acalmasse.

— Não conseguimos deixar de ouvir nossos nomes. – Alice disse chegando perto da gente com Arthur ao seu lado. – Obrigada pela declaração indireta. Você também faz a minha vida valer a pena.

— Vocês dois parem de brigar, por favor. – meu irmão pediu olhando pra ela e pra mim.

— Ouvi você dizer que o sarnento é sociopata. Ele não era um psicopata? – ri do adjetivo que ela se referiu ao meu pai.

— A psicopatia é uma forma mais grave da sociopatia. Todos os psicopatas são sociopatas. – respondi e ela pareceu não entender.

— Mas sociopatas não são necessariamente psicopatas. – meu irmão completou.

— Ah, isso é tudo muito confuso pra mim. Eu mal consigo entender o transtorno do meu irmão, vou lá saber as doenças mentais do Caleb. – revirou os olhos. – Como vocês estão?

— Bem eu acho. – olhei Rafael.

— Caleb tá jogando sujo. Como sempre. – deu um suspiro triste. – Sabia que ele aprontaria algo.

— Ele já vem aprontando. – Arthur afirmou em um tom bem sério. – Tudo o que eu fiz e faço é tentar proteger vocês dois. Se ele não ataca diretamente ele faz esses joguinhos. Ainda tá leve. Ele realmente quer que Pedro ensine muita coisa ao Kevin, o seu ciúme é só um bônus.

— Vocês dois estão bem? – olhei Alice e Arthur.

— Mais ou menos. – ele respondeu antes dela. – Vai demorar um tempo até ela esquecer tudo o que eu fiz. Normal.

— Foi pelo perdão dela que você decidiu não manter mais o afastamento? – vi que ela baixou os olhos. Realmente havia coisa ali.

— Vamos parar com essa conversa, entrar e almoçar? – fugiu. A confirmação que eu precisava.

Almoçamos em meio a discussões e ofensas entre Luna e Yuri. Arthur ficava calado, o que era muito estranho. Eu não iria falar nada, a mãe não era minha.

— Cadê o Ravi? - Arthur perguntou a mãe.

— Trabalhando. Logo ele que sempre priorizou o lazer e a família. – ela pegou a comida com agressividade.

— Deve ser só pra ficar longe de você, já que é tão insuportável.

— Yuri respeita a sua mãe! – Mark ordenou fazendo o garoto ficar quietinho.

Acabamos de comer e voltamos para a biblioteca, enquanto comentavam sobre a acidez de Luna eu aproveitei para descansar. Deitei no colo de Rafa. Queria mesmo era dormir, mas esses idiotas falavam demais. Rafael apoiou o queixo em minha cabeça e em pouco tempo isso começou a me incomodar.

— Seu queixo tá machucando minha cabeça, eu vou te dar uma cabeçada. – ele riu e continuou do mesmo jeito. – Eu tô falando sério Rafael! – ele enfim se levantou.

— Namorar o Kevin deve ser uma espécie de terrorismo. – Ryan comentou enquanto os outros riam.

— Não ri. – dei uma cotovelada na barriga dele ao vê-lo rindo.

— Isso é agressão física, seu abusivo, tóxico. – Lari brincou e fez uma imitação de Otávia.

— Não é por mim. – ela entendeu o recado. – Vai brincando assim. Na hora que um agredir o outro eu não quero testemunhar.

— Nossa garota deixa de ser pesada, vai acabar igual a sua mãe.

— Não fala da minha mãe Alexandre.

— Ah é Arthur? Você até agora não deu satisfações de nada pra gente. Acha que só porque é o mais velho pode fazer o quiser e não estamos ligando? Somos um time ou já esqueceu isso?

— Mas que timinho. – comentei tentando não rir. – Terceira divisão.

— Claro, comandados pelo capitão Kevin. Difícil ser um time bom mesmo.

— Que bonitinhos! Eles ainda se submetem a mim.

— Não seja tão idiota meu bem. – Rafa pediu e me deu um beijo rápido. Eu o puxei, o beijando direito.

— Pronto. Agora somos obrigados?

— A porta tá ali. – respondi entre o beijo. Quando parei olhei a cara do dono da reclamação. – Se fossem duas mulheres você iria estar amando né?

— Deus não seria tão bom comigo. – o jeito que ele falou foi tão engraçado que até eu tive que rir.

— Vamos conversar sério por um minuto. – Yuri se manifestou. – Temos que fazer alguma coisa pra minha mãe melhorar.

— Qualquer sugestão que eu faça vai ofender vocês dois e a Otávia, então eu prefiro ficar calado. – voltei minha atenção a Rafael.

— Como assim ofender?

— Ele iria dizer que ela precisa de sexo. Sinto muito, mas acho que concordo.

— Isso é totalmente... – antes de Otávia terminar comecei a falar por cima dela.

— Já está comprovado que, sendo uma pessoa saudável, o nível do seu humor está diretamente ligado a quantidade de orgasmos que você tem. No caso eu nem usaria exatamente o termo sexo. E lembrando que estou falando de pessoas saudáveis, existem inúmeras doenças que afetam o humor.

— Ele é muito médico. – Alice pulou em cima de mim.

— Minha perna não aguenta vocês dois. – Rafa sacudiu a cabeça.

— Chato. – ela continuou e se agarrou em mim igual um macaquinho.

— Eu vou levantar. – o tom de ameaça dele não fez com que ela se mexesse.

— O namorado ou a melhor amiga? Que dilema hein Kevin? Se você deixar ele se levantar significa que escolheu ela. Se a manda sair escolheu ele.

— E o seu diploma do fundamental chega semana que vem. – resmunguei. – Que infantilidade. – peguei o braço do Rafael. – Vai ficar quieto aqui. – olhei em seus olhos. – Não é possível.

— Não. Eu não estou com ciúme. Minha perna tá doendo mesmo. Ela tá fazendo pressão no seu corpo gerando mais peso em cima de mim.

— Para de gracinha Rafael que você aguenta dor bem pior. – Ryan explanou e todos riram.

— Pode ser doloroso pra você e pra mim não. – Alê gritou com a resposta.

— Pra mim não! Eu nunca senti dor nenhuma. Eu não sei nem que dor é essa. Não entendo nada disso. Tá, foi feião da minha parte, eu não devo falar do que eu não entendo. Já aprendi. Vou fumar um cigarro.

— Coitado, deu até dó.

— Senti muita falta disso. – Arthur falou após gargalhar.

— E volta o cão arrependido...

— E a minha mãe? – todos olharam pra Yuri.

— O Kevin já falou. Quer ir ao sex shop comprar uns brinquedinhos pra ela? Deixa de presente na cama dela.

— Isso. Você vai me levar pra morar na sua casa? Porque amanhã eu vou estar na rua.

— Coloca um bilhete como se fosse o Ravi. Compra também uma lingerie linda e muito sexy, dai ela vai tá esperando ele com ela e eles vão esquecer qualquer briga.

— Menina... Estou começando a achar que pode ser uma ideia viável.

— É mais fácil ela ligar pra ele na hora e perguntar o que é isso do que fazer uma surpresa.

— O Rafael trabalha com Ravi, ele pode pegar o celular dele e mandar mensagens quentes pra ela.

— Não conte comigo. Eu amo meu emprego e acabei de receber um ótimo aumento. Não pego no celular dele nem pra ver as horas.

E falando logo em celular o meu começou a vibrar, arredei Alice e peguei em meu bolso. Sabia que todo esse movimento havia atraído a atenção do meu namorado.

— Quem é? – perguntou enquanto eu ficava olhando para o número tentando lembrar se eu o conhecia.

— Não sei. – atendi.

— Oi. – esperava que não fosse nada do trabalho, apesar de achar que sim.

“Kevin?”— não me recordava daquela voz.

— Sim. Quem é?

“Nossa! Apagou o meu número?”— não respondi. Breve silêncio. – “O cara do motel... Aquele que você apenas bateu papo a noite toda.”— deu uma risada. Pensei em dizer qualquer coisa e fingir que era trabalho, mas eu não conseguia mentir.

— Por que tá me ligando agora, depois de tanto tempo? – todos começaram a prestar atenção depois dessa fala, ótimo.

“Esperei por meses você me ligar... Andei por aquele bar diversas vezes e nada. Alguém me aconselhou a tomar atitude. Você voltou com o seu ex namorado que te traiu?”

— Na verdade não houve traição. Foi um mal entendido. – ele riu muito.

“Sempre é.”

— Não, dessa vez era mesmo. Então... Você acertou. E eu preciso desligar porque estou deitado no colo dele nesse exato momento.

“Foi mal. Felicidades aí, espero que não tenha novos mal entendidos. Se quiser deixar meu número salvo casa haja... Pode me ligar.”

— Obrigado, tchau. – desliguei sabendo que era muito tarde.

— Que porra é essa Kevin? – ele questionou em um tom bem grosseiro. – Fala logo caralho.

— Aí estão vendo? Depois eu sou o agressivo. – dei meu celular a ele. – Apaga a chamada antes que eu explique.

— Eu vou apagar esse celular na sua cabeça se você não explicar logo.

— Vocês estão em um relacionamento mutuamente agressivo.

— Lembra quando você foi pra casa e ficou estranho querendo se afastar? – o olhei.

— O cara do motel? – concordei. – Ele nunca vai superar a vontade que ele ficou aquele dia. O que ele disse?

— Que esperou que eu ligasse e imaginou que eu voltei para o namorado.

— Se ele imaginou isso porque o lindo não ficou no canto dele?

— Você já disse, porque ele não vai superar a vontade.

— Eu acho bom que você nunca mais trombe com esse cara.

— Só recebo ameaça. Dá carinho. – esfreguei a cabeça na perna dele.

— Nossa eu estou com enjoo. – Alice falou colocando a mão na barriga.

— Eu comecei assim querida. – Sophia se manifestou.

— Você tá pálida. – a examinei. – E suando. Nem está quente aqui, o ar está ligado. Alice senta. – me levantei com cuidado a levantando comigo. Arthur veio mais rápido que um raio.

— Vou ligar para o meu pai me buscar. Não estou bem. – ela acabou de falar e desmaiou em meus braços.

Arthur Narrando

Não aguentava mais não ter notícias naquele hospital. Eu andava de um lado para o outro igual um louco e nada me acalmava.

— A gente já sabe o que é, mas preferimos que fique só entre a gente. – a mãe dela disse assim que saiu do quarto. – Ela vai ficar internada uns dias, quando puder receber visitar eu aviso a vocês.

— Como assim ficar apenas entre vocês? O que ela tem? – exagerei no tom de indignação. Meu irmão pegou em meu braço e me olhou pedindo calma.

— O volume de sangue que chega ao cérebro dela foi diminuído e isso gerou o desmaio. O motivo de ser diminuído é que eu prefiro por enquanto resolver entre eu, ela e o meu marido. Dá pra você respeitar? Ela está bem agora, isso é o que importa. – entrou novamente.

— Ela não podia fazer isso. – rangi entre os dentes.

— Pode. Ela é a mãe dela. Vamos. – Kevin me tirou de lá.

— Vou ir pra cobertura. Já tá todo mundo naquele hospital mesmo.  – ele não me deixou sair do carro.

— Você sabe de alguma coisa. O que é? – me mantive inicialmente relutante, mas dei o braço a torcer porque ele poderia entender o que pode ter acontecido a Alice.

— Ela não quer fazer o tratamento para o problema dela, diz que é agressivo.

— Por que eu não soube disso?

— Kevin o Vinicius estava tentando resolver com amor e não agressividade. Você não seria a melhor pessoa a nos ajudar.

— Já entendi o que aconteceu. – o olhei espantado. Não sabia que seria tão rápido. – É remédio, injeção ou o que o tratamento?

— Acho que remédios. Não sei bem.

— A mãe estava dando escondido a ela. Batendo em uma vitamina, colocando na comida... Igual faz com cachorro. – nos olhamos. – Não é agressivo? Talvez tenha sido resposta do organismo dela.

— E por isso ela não queria falar nada. – analisei. – O Vinicius deve estar muito bravo com ela.

— Se é que ele não consentiu. –Kevin me olhou.

— Você... Quando era das trevas... – brinquei sem jeito. – Falando sério, quando você era uma pessoa sem princípios você chegou a dizer algo sobre eles, que havia alguma coisa que destruiria a família deles. E agora com o seu olhar eu sinto que isso te remete àquilo.

— Sempre digo o quanto eu os admiro e os acho maravilhosos. Não ter um pai digno faz com que essa admiração seja ainda maior, mas... É fato que eles erram tentando acertar e ás vezes esses erros são muito graves.

— O que você sabe Kevin?

— Sei que tenho que ir até o meu namorado. Ele está me esperando e deve estar bravo. Tchau Arthur. – ele não iria dizer nada, então era melhor mesmo deixar pra lá. Só queria que ela ficasse bem o mais rápido possível.

Rafael Narrando

Kevin chegou do hospital e quase se sentou no meu colo, jogando seu corpo por cima de mim. Iria apoiar minha cabeça por cima da dele, mas lembrei que ele logo reclamaria, então apenas o envolvi pela cintura.

— Como ela está? – fiquei preocupado com Alice, mas não fui com eles para o hospital para não tumultuar ainda mais.

— Bem, mas vai ficar internada. – deu um suspiro. Minha ficha logo caiu.

— Levanta. – tirei minhas mãos do seu corpo.  – ele saiu se posicionando ao meu lado e ficou me olhando.

— O que foi dessa vez? – desviei o olhar.

— Você sabe muito bem o que foi.

— Você não era assim em relação a ele antes.

— Lembra o que você disse? Que não ficou comigo para esquecê-lo, por que isso não era possível? Foi você que me fez ficar assim Kevin.

— Se eu pudesse voltar atrás eu não falaria isso.

— Falaria sim. Porque é a verdade. E é o seu jeito, faz parte de você ser honesto e verdadeiro. – me levantei. – Vou ir pra cobertura. Assim que eu consegui esquecer isso de novo eu te ligo.

— Eu tirei o dia pra ficar com você e vai me deixar por supor que Murilo vai vim ver a irmã?

— Não distorce as coisas.  – o encarei com raiva.

— Vai dizer que não começou por esse motivo.

— Mas é bem mais profundo que isso.

— Tá bom. – virou o rosto. – Vou esperar sua ligação.

Cheguei à cobertura e encontrei Arthur reflexivo e um pouco assolado. Deixei que ele desabafasse sobre como se preocupava com Alice e no quanto se sentia culpado por tê-la tratado tão mal pouco tempo atrás.

— Você também não parece muito bem.

— Kevin e eu meio que discutimos... O fato de Alice está internada me fez pensar que Murilo pode vim pra cá ver a irmã. Nisso veio toda a lembrança da nossa última separação... – respirei fundo.

— Você estava tão carinhoso com ele. Pensei que o queria aqui contigo.

— Eu o quero morto nesse momento. – ele riu.

— Para de besteira Rafael. Esquece isso de uma vez por todas. – nos olhamos. Fiquei em silêncio. – Vai. Ligue para o seu namorado.

— Não o chame de meu namorado. Não nesse momento. Não agora quando estou com tanta raiva.

— Bom... – suspirou. – Você que sabe. Só acho que tá perdendo tempo. – foi pra dentro me deixando sozinho.

Aquela noite eu acabei ligando pra ele e nos vimos, eu não havia esquecido, mas estava fazendo um esforço para não pensar mais. Com o tempo eu esqueceria novamente. Até lembrar em um novo dia ou até ver Murilo chegando.

No domingo fui praticamente raptado por Kevin. Depois que levantei e tomei banho, ele não me deixou tomar café, disse que me levaria para comer em um lugar.

— Kevin estamos andando há quase meia hora. Essa padaria é de outra cidade? Já estamos saindo de Alela.

— Dá pra você relaxar um pouquinho? – pegou minha mão e beijou. – Olha no banco de trás.

— Minha mochila. – falei e o olhei.

— Com suas coisas e roupa. Estou de folga amanhã e você também.

— Você é louco? – perguntei de forma estúpida. – Ravi está contando comigo. Não posso tirar folga assim.

— Eu conversei com ele. Tá tudo certo.

— Não, não está. É o meu trabalho Kevin, eu não me meto no seu, você não devia estar fazendo isso.

— Ele disse que está tudo bem Rafael. A obra que vocês acompanhariam... – o interrompi.

— Eu não gostei do que você fez. Eu não o pediria folga. E não tem porque você fazer por mim.

— Tudo bem, eu não imaginei que você ficaria assim. Eu vou voltar e você cancela tudo. Ele entende que você não sabia de nada. – ele parou no acostamento para virar.

— Por que você fez isso? – minha voz saiu baixa e com resquício de início de arrependimento.

— Não importa mais. Eu não devia ter feito. Não vai mais acontecer. – peguei em seu braço. – Preciso ir, o trânsito diminuiu.

— Calma. Pra onde você iria me levar? – ele tirou a mão do volante e se encostou à poltrona e ficou me olhando.

— Eu já disse que isso não importa mais. Pra que você quer saber?

— Pra mim importa. – abaixei a cabeça e dei um suspiro enquanto estalava os meus dedos. – Minha reação foi totalmente desproporcional. É que... Eu nunca fui tão responsável e certo em minha vida. E saber que eu tenho um motivo pra levantar todos os dias me faz querer ser ainda melhor. Eu amo o que eu faço. Aprendo mais a cada dia. E eu sou muito agradecido ao Ravi. E ao Arthur também, claro. Só não quero que as coisas estraguem pra mim. Talvez você não entenderia. Tudo é mais fácil pra você. – ele deu uma risada anasalada.

— É. Bem mais fácil. Fui obrigado a aprender desde novinho várias línguas e fui matriculado em várias atividades inimagináveis, até mesmo robótica, para que eu fosse o inteligente e esperto filho que o meu pai esperava. Tudo o que eu sabia era que eu tinha que desenvolver meu raciocínio e minha criatividade. E no tempo livre eu aprendia tudo sobre o ser humano. Isso quando eu também não estava participando de comerciais e campanhas pra minha mãe. Não havia espaço pra nada. As poucas vezes que eu encontrava o pessoal era pra por minhas maldades em prática. Não diz que é fácil algo que você não viveu e nem vive. Nem tudo se trata de oportunidade. – entrelacei nossas mãos.

— Você é especial por ser tão inteligente e esperto. Não foi algo ruim. É a sua peculiaridade. O que te tornou tão sexy. – dei um sorriso grande.

— É mesmo o seu elogio preferido né? – nos olhamos.

— Tem outros. – o examinei de cima a baixo. – Você bem sabe.

— Tá tentando fazer as pazes do seu jeito? – segurou o riso.

— Estou sendo espontâneo. – dei de ombros. – Anda. Vamos logo. Estou sinceramente curioso para saber aonde você vai me levar.

— Se eu soubesse que uma mini viagem surpresa não programada iria dar tanto trabalho...

— Você faria do mesmo porque você me ama.  – ele ficou me olhando e sorriu, concordando.

Fiquei pensando se aquilo era por medo de Murilo estar vindo. Mas não conseguia acreditar nisso. Achava mais possível ser por preocupação com nosso namoro e por amor mesmo. Seja qual for o motivo eu devia aproveitar, ele estava sendo romântico e não era sempre que Kevin era romântico.


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Notas finais do capítulo

Até o mais breve possível ♥
ps: eu sinto ter que discordar do Rafael, acho o Kevin romântico sempre ♥



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