Amor Perfeito XIV escrita por Lola


Capítulo 4
Sem culpa


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



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"Toda convicção pode ser perigosa."

Alice Narrando

Agora que Kevin havia melhorado um pouco e que as atividades foram suspensas, eu podia dar mais tempo às meninas. Nesse instante Soph desabafava sobre Yuri.

— Ele abriu o jogo comigo e disse que não queria me machucar, que não sentia nada além de vontade de ficar comigo.

— Isso foi legal da parte dele. Sendo um Murilo da vida ele não faria isso.

— Cara o seu irmão... – ela ficou olhando para o nada e depois voltou a me olhar. – Essa coisa de ficar com o Kevin, isso é mesmo sério?

— O Kevin não sofreria tanto se fosse brincadeira.

— Mas é que a gente nunca o imagina com um cara. Ele é tão machão, tão pegador e tal.

— A vida nos reserva surpresas.

— Olá, posso participar? – Otávia perguntou ao chegar até a gente.

— Claro. – disse e Soph concordou. – Quais as novidades?

— Nenhuma. Bom... Meu humor melhorou bastante ao saber que vamos sair daqui em poucos dias. – ela sorriu grande.

— Isso aí, positividade. – Soph falou e riu. – E o Ryan?

— O que tem? – vi que ela ficou vermelha.

— Ele te defende, te elogia, ataca os outros por você... Tá bem na cara que ele tá na sua. Sem chance?

— Óbvio. Quem sentiria atração pelo mau humor do Ryan? – quase ri do quanto ela estava sendo dissimulada.

— Também me pergunto quem sentiria atração pela tentativa falha de comediante do Alexandre, mas tá aí minha irmã louca por ele. Cada um com sua loucura.

— Mas eu não quero o Ryan. – elas se olharam.

— Já começou com o mau humor. Você fala dele, mas é igualzinho. Tchau porque eu estou em outra vibe. – Soph saiu andando.

— Mas eu nem falei com mau humor. – Otávia se defendeu.

— Falou de um jeito irritado. Por que mentiu?

— Não menti. Não quero o Ryan.

— Conseguiu esquece-lo?

— Não. Mas não quero mesmo assim.

— Pode falar os motivos?

— Ele é um escroto. Só faz merda. Só diz coisas que vai contra o que eu penso e acredito. – que preguiça da Otávia às vezes.

— Você tem que procurar um homem então. Porque você não vai achar um adolescente do jeito que você está querendo.

— O meu irmão... – a interrompi.

— O seu irmão é mais velho, está na faculdade e ele desde novo já demonstrou ser bem mais maduro que todos os garotos.

— Tá. E por que não pode existir ninguém como ele?

— Pode até existir, mas vai te desagradar em alguma coisa. Seu irmão não é perfeitinho assim também, ele não pode ver uma... – respirei fundo. – Otávia, você quer que eu seja sincera com você?

— Por que tá perguntando? Pensei que sempre fosse.

— É porque a sinceridade tem que ser medida e eu não posso jogar em você as coisas que eu penso sem você pedir.

— Sim, eu quero Alice e acho que estou bem preparada para isso.

— Você está sim, eu te acho madura pra caramba e nisso puxou seu irmão. – a olhei de perto. – Você exagera um pouco. Não adianta você viver cagando regras para todo mundo o tempo todo, muito do que você diz é coerente e eu aplaudo, mas cara, essa coisa, seu jeito e suas ideologias já estão começando a atrapalhar os seus relacionamentos. Você briga com os seus amigos o tempo todo. Você prega a tolerância, mas é intolerante. Você gosta do Ryan, sabe que ele é um garoto foda pra caralho que tá demonstrando o tempo todo que te admira, te exaltando, e você anula isso por erros dele que você poderia muito bem explicar a ele com carinho. Não quero entrar em mérito de nenhum tipo de nada tá? Estou falando em um todo. – ela ficou pensando em tudo que eu disse.

— Tá. – ela suspirou. – Tenho que concordar com o que você diz. Mas em partes. Olha... É difícil pra mim porque estou ligada a tudo isso. Por exemplo, você com um irmão gay gostaria que ele saísse e fosse vitima de preconceito?

— O meu irmão não é gay. Ele poderia ser sem problemas, mas não é. Ele conversou comigo sobre tudo o que pensa e sente. Murilo não é gay, bi, pan, ou milhões de nomenclaturas que existem. Ele é ele. Ele sente atração por mulheres. E hoje ele sente atração pelo Kevin. Amanhã ele pode ficar com um cara, pode namorar uma garota, pode se casar com um homem e nem ser o Kevin. Pode nunca mais ficar com um cara e ter sido apenas o Kevin. Enfim... Ele não quer e nem precisa de rótulos. Isso é chato.

— Mas isso garante os direitos que eles têm Alice. É por essas pessoas chatas que eles hoje podem ficar juntos. E ainda assim correndo o risco de sofrer violência nas ruas.

— Eu sei disso. Mas estou te falando do caso pessoal do meu irmão. Olha... Murilo não é nem um pouco preconceituoso e ele aceitou tão bem o fato de querer um cara, que se ele sentisse desejo por caras ele iria assumir isso numa boa. Então não é todo mundo que está afim de levantar bandeiras e tá tudo bem. Ele não agredindo quem está fazendo “o diferente” na sociedade já tá de bom tamanho. Respeito acima de tudo e isso meu pai ensinou a gente desde novinhos.

— Vocês são assim, mas a maioria não.

— Mas você vai se martirizar por isso? Vai viver nessa eterna frustração? Vai perder quantos Ryans?

— Alice se a gente não se sentir inconformado as coisas não vão mudar!

— Pra mim viver inconformado e só ver o lado ruim das coisas e estar nessa eterna batalha não é saudável, enfim, não vamos chegar a um acordo e temos opiniões diferentes.

— Eu admiro esse seu jeito pacífico. Só não consigo ser assim. – ela deu de ombros.

— Só... Acho que vivo em função do amor. – a olhei. – É um desperdício você não dar uma chance a ele.

— Como você e o meu irmão não estão juntos? – ela me olhou e sorriu.

— Eu tentei, acredite. Tentei muito. A gente nunca conseguiu se entender. Primeiro minha doença, depois a universidade e pra finalizar o Kevin. Estou resumindo.

— Posso te fazer uma pergunta bem pessoal? – a olhei com medo. – Você não ficava sem graça quando estava perto do seu irmão e do Kevin?

— A partir da primeira vez que conversei com Kevin sobre os dois vi tanto sentimento dele por Murilo que automaticamente anulou tudo que vivemos.

— O seu irmão é mágico. Fez aquele demônio virar outra pessoa. Ele pediu perdão a Arthur e disse que o amava a frente de todos e ainda mudou completamente o jeito de tratar todo mundo.

— Ninguém dava importância para o Kevin. Ele deu. Acho os dois a coisa mais fofa do mundo, eu juro.

— Mais que você e o Arthur? – ela quase riu.

— Muito. – sorri. – O jeito que eles se olham, a doçura que eles se tratam e a forma como eles cuidam um do outro... Estou com muito medo de como o meu irmão está sozinho.

— Vocês estão se falando?

— Sim. Ele diz que tá bem. Mas Murilo não vai ser verdadeiro. Eu sei que ele não está nada bem. E a gente tem uma conexão de irmãos muito forte, desde novinhos eu sinto quando algo está errado. No dia que ele chegou lá eu nem dormi, uma angústia muito grande tomou conta de mim. Não estou nem conversando com o meu pai. Sei que ele fez isso para proteger Kevin e Murilo do Caleb, mas não importa. Ele não podia ter tirado o meu irmão de mim.

— Vocês são mais apegados que eu e Arthur. Ou eu e Yuri.

— Acho que sim. Não posso nem falar dele. – enxuguei meu rosto. Ela me abraçou me apertando. Apesar de Otávia ter esse jeito meio chato de ser eu a amava de uma forma que eu não conseguia explicar. Ela não conseguia ser legal como Fabiana, mas era a mais essencial das meninas. Isso era um fato.

Murilo Narrando

Dormi pouco durante a noite, já que havia dormido o dia inteiro. Sugeri que Eliot se deitasse no sofá da sala de estar, mas não sei se ele ficou apenas na poltrona ou na biblioteca, o cara era bem estranho.

— Fiz barulho? – ele perguntou muito preocupado ao chegar perto da porta e ver que eu estava acordado.

— Não. – respondi com preguiça dele. – Bom descanso Eliot.

— Obrigado. Até a noite. – suspirei ao vê-lo sair. Não gostava de estar com ele e iria conversar com Gardan sobre isso.

Como aquela cama era muito confortável dormi mais um pouquinho e depois levantei e tomei um banho demorado. Após me arrumar pensei em pedir café no quarto e comer na sacada, mas... Queria ver pessoas. Desci e me servi.

— Olha quem saiu da toca. – Gardan se sentou ao meu lado.

— Estava descansando. Meu tutor recomendou. Aliás ele exigiu. Sou bem obediente. – sorri e ele riu.

— Garoto como Vinicius te aguenta?

— Ele já foi o maior lutador do mundo, o que sou eu perto disso?

— Não. – ele acompanhou meu olhar. – Área proibida. – o olhei.

— Estou vindo de um romance proibido. Acho que é meu destino.

— Murilo é sério, ela é filha de alguém muito importante. Não a olhe assim.

— Ela está me olhando desde que cheguei. – o encarei.

— Achei que a sua praia fossem caras. – fiquei olhando para ele.

— Gosto de travestis também. – dei de ombros.

— Tempos modernos. – ele suspirou. – Então... Vim te avisar que nosso passeio teve que ser cancelado.

— Ah... – emburrei. – Você tem compromisso?

— Nós temos. Consegui marcar a consulta com o psiquiatra para você. Dei sorte de uma desistência aparecer. Vamos agora de manhã. E a psicóloga está marcada para semana que vem. Uma amiga me ajudou na agilidade.

— Amiga? – dei um sorriso provocativo. – Não acho que seja apenas uma amiga. Senti um tom de desejo. 

— Vejo que está pronto. – ele desconversou. – Vamos sair daqui uma hora. Vou resolver algumas coisas lá dentro. Vê se não paquera a Antonieta.

— Ah, então ela se chama Antonieta. – falei observando a garota que era muito linda. Seu cabelo era na cor mel meio enrolado, olhos azuis que me lembraram os de Rafael e o sorriso lindo. E ela sorria o tempo todo.

— Não me arrume problemas Murilo. – ele pediu em um tom sério e eu desviei o olhar. Aquilo era realmente importante e eu não devia ser inconsequente.

— Ela é filha do Presidente? – perguntei antes de ele sair.

— Quase isso. – ele respondeu e se foi. Notei que a mulher que estava com ela parecia passar a ela os compromissos de uma agenda. O que uma garota de no máximo dezoito anos tinha tanto a fazer?! E de quem era filha? Por que ela não podia ficar com ninguém? Que saco, agora eu estava instigado e isso seria um grande problema.

"A razão acovarda, a emoção encoraja. Andar pra frente é a regra não importa o que haja."


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Notas finais do capítulo

Vou me abster de fazer comentários hoje, rs.
Até amanhã ♥



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