Amor Perfeito XIV escrita por Lola


Capítulo 5
Máscara caindo


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



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"Mas não é tão simples não, e só quem vive sabe"

...

Estava no carro esperando Gardan voltar da farmácia com os remédios que o médico receitou. A consulta havia sido demorada, desconfortável e talvez um pouco esclarecedora. Pensei que eu chegaria lá e falaria o que tinha e ele passaria o remédio para isso, mas estava completamente enganado. Tive que dizer tudo sobre mim, absolutamente tudo. Mas era TUDO mesmo. Ele queria um quadro geral da minha vida então contei o que eu achava serem as principais coisas.

Como já era esperado ele me diagnosticou com aquela parada lá que tem um nome grande e eu nunca lembro e disse que era só isso. Ele sentiu que eu estava bem triste e que tentava disfarçar, mas isso não era algo psicológico e sim fruto do fim do meu relacionamento. E fez outras conclusões que eu sinceramente não prestei muita atenção, a mesa dele tinha uns bagulhos que eu não conseguia parar de olhar.

— Pronto. – Gardan entrou no carro. Ele abriu a sacola e começou a me mostrar as caixas. Eram três remédios. Dois de manhã e um a noite. – Você vai se lembrar de tomar Murilo? – não, eu era largado pra caralho com horário.

— Vou. – ele continuou me olhando.

— Não me convenceu. Vou pedir ao Eliot que te lembre. Vou mudar o horário dele de trabalho, para chegar mais tarde e sair um pouco depois do horário e conseguir te pegar acordando.

— Você gosta desse cara né? – o olhei insatisfeito.

— Na verdade sim. Ele é prestativo, altamente eficiente e o pai dele é o funcionário mais antigo do hotel. Não costumamos empregar ninguém com grau de parentesco com algum funcionário, mas como o Ramon é especial abrimos essa exceção.

— Ramon não é o chefe? – foi a primeira coisa que eu me interessei em saber, quem era o chefe da cozinha. A comida de lá é maravilhosa.

— Sim. – ele me olhou e sorriu. – Acho que já entendeu um dos motivos de Ramon ser nosso preferido. Mas não é só isso, ele é... – o interrompi, pois eu estava bem confuso.

— Eu disse ontem para Eliot que eu amava culinária, por que ele não me contou que o pai dele era o chefe?

— Ainda não percebeu que ele é a discrição em pessoa? Ele não vai contar nada da vida dele Murilo.

— Pra que você o mandou então? Como um cara daqueles vai me distrair? E sobre isso eu queria mesmo te dizer que não vai dar certo. – ele ficou me olhando com um sorriso e eu não entendi. – Você vai bater esse carro.

— Já deu certo. Você tá completamente distraído. O jeito do Eliot te distrai.

— Não. Me irrita, é bem diferente. Ele é todo estranho e se eu ouso dar minha opinião ele se sente ofendido e me ataca. Acredita que ele me chamou de garoto rico? – ele riu. – Qual é Gardan?

— Você é pobre Murilo?

— Mas ele quis dizer que sou um babaca que não tenho valores.

— Não implique com ele, por favor.

— Por que vocês o deixam como mensageiro se ele é tão eficiente e funcionário de maior confiança e o caralho a quatro?

— Você não perguntou isso a ele né?

— Não, mas eu quero saber.

— Ainda bem, pois ele se sentiria muito ofendido. Se eu fosse te contar teria que falar da vida dele e não posso.

— Eu estou te odiando muito. Primeiro o suspense da filiação da menina do café da manhã agora isso. Você sabe que eu tenho ansiedade né?

— Ele cuida da mãe acamada. Quando ele pôde subir de cargo ele teria que trocar de horário e ele só pode trabalhar a noite porque fica com ela de dia. Murilo, não vai falar nada disso com ele.

— E o pai dele fica com ela a noite?

— Sim.

— O que ela tem?

— Caiu e quebrou a bacia. Mas é lúcida e faz muita coisa sozinha, só que ele não gosta de deixa-la totalmente sem ninguém por muito tempo. Bom, chegamos.

— Será que não vai ser um problema para ele chegar mais tarde e sair depois do horário?

— Na verdade é o que ele mais queria, assim é menos tempo que ela fica sozinha até o pai dele chegar em casa. Ele já até chegou a me pedir isso uma vez, mas não posso trata-lo diferente dos outros funcionários, o horário é o mesmo para todos.

— Achei desumano.

— Isso é um hotel que rende dinheiro e não um bazar de caridade. Tchau Murilo. – ele me imitou na despedida de ontem. Como já havíamos almoçado e já era bem tarde eu subi para descansar um pouco. Acabei dormindo. Acordei com Eliot abrindo a porta.

— Desc... – antes que ele acabasse de falar fiz sinal para ele fazer silêncio.

— Cala a boca. – completei e virei para o canto tentando dormir de novo. Só que eu sabia que se ele havia chegado já era noite então eu não podia dormir mais, caso contrário passaria a noite acordado... O que já era bem possível que aconteceria. – Tá confortável? – perguntei ironicamente ao vê-lo sentado na poltrona do quarto.

— Gardan me esclareceu que eu não devo manter distância e frieza no trato com o senhor enquanto estivermos juntos, pois não é o que precisa. – eu ia perguntar se ele não conseguia ser informal, mas eu já sabia que não. Espreguicei e pensei em levantar. Invés disso fiquei encarando a televisão. Uma mulher dizia algo sobre alguma coisa que eu não estava interessado.

— Ele mudou seu horário de trabalho? – ele concordou gestualmente. – Espero que isso não tenha te atrapalhado. – fiquei olhando pra ele.

— Não é o caso. E se de alguma forma acontecesse eu me adaptaria.

— Por que você valoriza tanto esse trabalho?

— Empresta o seu celular? – ele chegou perto da cama. Como eu estava deitado perto da beirada antes que eu desbloqueasse ele viu o plano de fundo da tela. – Você e seu namorado?

— Uhum. – respondi um pouco mal humorado.

— Acho que não. – ele sorriu. Pela primeira vez eu acho. – Se fosse ex mesmo você já teria trocado a foto. Acredito que ainda vão voltar.

— Você acredita demais para quem nem nos conhece.

— Gosto de ser positivo. – ele começou a mexer no celular. – Olha. – ele me mostrou uma pesquisa, era a média salarial do cargo dele.

— Hum? – perguntei sem entender. Ele voltou a mexer no aparelho.

— Agora olha o quanto recebo. – ele entrou em seu email e me mostrou seu extrato bancário. Arregalei os olhos. Ele voltou a mexer no celular certamente para sair da conta e depois me devolveu. – Acho que eu tenho motivo suficiente para valorizar, não acha? Além de gostar do que faço... E olha só, agora estou aqui batendo papo com um adolescente. Muito esforço.

— Por que você recebe o triplo da maioria? E para de me chamar de adolescente, eu tenho nome e é Murilo. – o olhei com muita raiva.

— Não sou eu. É o hotel. Não faria sentido eles cobrarem um fígado para hospedarem e dar um salário de merda aos funcionários. Além disso, eles têm um programa para nos manter satisfeitos e continuarmos tratando os hóspedes muito bem mantendo o padrão de qualidade, então recebemos bônus e gratificações. 

— Tem vaga não?

— Para gerente geral não. Certamente será o seu cargo em Torres.

— Não. Estou correndo. Além disso, certamente essa briga ficará entre meu ex namorado e o irmão dele.

— Arthur Montez? – balancei a cabeça afirmativamente. – Mas ele não estuda engenharia?

— Como você sabe disso?

— Estudei um pouco sua família assim que soube que você viria. Claro que não deu pra saber muita coisa, apenas o que é público. Inclusive... Nas notas que li você deu muito trabalho para os seus pais por ser precoce em relação às garotas.

— E? – ergui a sobrancelha.

— Você tem um namorado. Sei lá, achei estranho.

— Não tenho um namorado, é ex. E não é estranho. Eu ter que explicar para as pessoas que não sou gay é que é estranho.

— Não, você me entendeu errado. Eu sei. O que achei estranho não é isso. É você ter um relacionamento. Não é ser um garoto. Porque as coisas que eu li foram bem pesadas. E se relacionar com alguém é se comprometer e não me parece que você faria isso.

— Eu não faria mesmo. – pensei um pouco. – E acho que não farei de novo.

— Vocês vão voltar. – ele sorriu mais uma vez.

— Você parece feliz hoje Eliot. – comentei segurando o sorriso. – Acho que alguém está com alguma paixão bem sucedida.

— Não mesmo. Esse tipo de coisa não é prioridade pra mim. Foi pela minha troca de horário. Há anos tento conseguir isso... – ele suspirou. – Para a minha rotina vai ser muito bom. – fingi não saber de nada. – Quanto tempo você pretende ficar?

— Eu vim sem prazo. Meu pai vai querer que eu fique até eles voltarem para casa, o que eu creio que será daqui umas duas semanas... Mas eu pretendo ficar mais para ser bem sincero. Tem alguém naquela cidade que...  – fechei os olhos lembrando de Caleb. – Eu queria que estivesse morto.

— Credo! Não deseje coisas ruins às pessoas, volta pra você.

— Mais? Olha só pra mim. Não pareço muito bem.

— Seu problema de saúde é por causa do fim do seu relacionamento?

— Não. Já tenho desde pequeno. – encarei os remédios. – Você é bom de memória?

— Sim. – ele riu. – Não vou esquecer os horários.

— Cara, você ficou muito feliz. Pode deixar que eu vou convencer Gardan a manter seu horário mesmo depois que eu for embora.

— Você faria isso? – seus olhos brilharam. Parecia que estar com a mãe era a coisa mais importante da vida dele. E eu mal dava valor a minha. Sabia que estar aqui iria servir para refletir muita coisa.

— Tá vendo, eu não sou tão babaca como você julgou.

— Desculpa de novo. – ele ficou visivelmente envergonhado.

— Não tem problema. Estou acostumado. Eu fui bem escroto mesmo, às vezes até sou ainda... – respirei fundo.

— Estamos em constante evolução.

— Sim. Sabe de uma coisa? Eu vou aproveitar o seu bom humor. Vamos descer para eu comer alguma coisa e depois você vai trocar de roupa e a gente vai andar por aí.

— Não está no meu contrato sair do hotel há não ser para serviços bancários ou urgências.

— É uma urgência Eliot. Se eu continuar nesse quarto eu vou tomar todos esses remédios e cometer um suicídio. Você quer isso?

— Acho melhor eu ligar para Gardan.

— Já falei que você é insuportável?

— Algumas vezes.

— Vou tomar banho, vai ligar para o seu dono, tchau.

— Eu não sou um bicho de estimação. – ele retrucou de forma bem séria antes de sair. Mas a fala dele não faria minha opinião mudar. Só que agora isso era o que menos passava em minha mente. Fingir estava começando a ficar difícil. Eu estava apenas entrando em um beco de ilusão e me machucando mais ainda. Tudo o eu pensava que queria era ter outra experiência e desde que cheguei não pensei nisso em momento algum. E agora sabia o motivo. A única coisa que eu queria era me enganar. Eu não precisava saber se o Kevin seria o único que mexeria comigo, eu só queria que ele fosse o único que eu estivesse comigo pelo resto dos meus dias.

"Lembranças não preenchem o vazio."


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Notas finais do capítulo

Own ♥ os próximos capítulos do Murilo são tão fofos (tristes tb) :(
Amanhã eu venho (se não surgir nenhum imprevisto)



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