Amor Perfeito XIV escrita por Lola


Capítulo 26
Tensão


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



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Alice Narrando

Na festa de Otávia eu não consegui me divertir, tudo o que estava acontecendo era demais pra mim. No domingo fiquei um pouco e fui embora mais cedo e no outro dia procurei Kevin para irmos a noite ver como Arthur estava, eu não iria ter coragem de enfrenta-lo sozinha e ninguém melhor que ele para estar ao meu lado.

— Cadê ele? – perguntei ao vê-lo aparecer sem o irmão.

— Foi embora. – ele se sentou ao meu lado.

— Tá tudo bem? – perguntei com bastante cuidado.

— É sério, por que você ainda se preocupa?

— Porque eu te amo.

— Eu gritei com você Alice.

— Já se passaram praticamente dois dias, eu pude digerir um pouco. Quero te ajudar e não é remoendo isso que vou conseguir.

— Depois do que eu fiz isso tem que acabar, eu quero parar. – vi lágrimas descendo em seu rosto.

— Eu sei que você não é assim. Isso tudo não faz nenhum sentido.

— Por favor, vai embora, eu estou com muita vergonha de você. Como ainda consegue me olhar?

— Fala comigo, você precisa conversar sobre essas coisas. Eu preciso ouvir, quero te entender.

— Você ser tão compreensiva me machuca ainda mais.

— Sei que parece que Kevin quer te fazer sofrer, mas ele não quer. Prova disso é ele estar ajudando nesse momento. Não deixe que a sua rotina estressante e os seus conflitos com ele te levem para o buraco. Pelo menos foram esses os problemas que você me contou. Tem mais alguma coisa que eu devia saber? Existe algo sobre o nosso namoro? Estamos bem Arthur? – ele chorou mais ainda.

— Quando vocês dois vão perceber que isso é um erro? – minha tia Luna apareceu e perguntou baixo escorando as mãos na mesa. Fiquei calada.

— Pedi pra você pelo menos respeitar o meu tempo de descanso. – ele disse a olhando.

— Aposto que ela nem sabe da minha insatisfação. – apostou certo. Agora eu sabia de mais uma coisa que ele passava. – Não vou deixar sua vida acabar por causa desse namoro. – ela afirmou e saiu.

— Você viu por que não podemos ficar juntos? – ele perguntou me fazendo ficar mais insatisfeita que ele.

— Sua mãe só não aceita por causa do meu pai. Vou conversar com ele. A gente já adiou isso demais. Ele e minha mãe já se entenderam e o Murilo sempre vai ter esse problema.

— Não. Eu quero conversar com ele. Também tenho que pedir perdão pela forma como ele me viu... – ele abaixou a cabeça. Peguei em sua mão e fiz carinho. – Deixa só passar esses sete dias. E já que você deu essa ideia... Seria interessante que eu me recolhesse de tudo. Vou fazer isso com a faculdade.

— Então acho melhor a gente não se ver, né? Foi mesmo o que eu pensei. Você precisa de um tempo com você mesmo.

— Você tá certa. A saudade vai ser algo bom pra eu colocar a cabeça no lugar. – nos olhamos por um tempo. – Rafael foi para a faculdade em meu carro, vou pedir ao Yuri a chave do dele para te levar pra casa.

— Tá bom. – quando ele voltou, nós dois saímos, felizmente sem trombar com a minha tia. Passamos o caminho todo em silêncio. Quando nós chegamos o olhei.

— Pode me ligar a qualquer hora se quiser conversar. – falei com carinho. – Você vai ficar longe daquilo né?

— Lógico. Você sabe que sim.

— Eu sei. – suspirei. – Tem certeza que isso é mesmo o melhor? Não quer a minha companhia?

— Você também sabe a resposta. – ele deu um sorriso pequeno.

— Eu amo você. – ele ergueu a sobrancelha como se eu não amasse. Revirei os olhos. Selei nossos lábios e sai do carro, entrando em casa e vendo que o meu pai já havia chegado. Isso era ruim porque eu teria que disfarçar o choro.

...

No outro dia depois da aula no reunimos na casa de Soph e Lari para estudar para as provas que viriam. Quando não iriamos para a casa dos meus avós íamos para a casa delas, já que eram duas. Liguei para Arthur e notei que ele ainda estava bem triste.

— É tão difícil vê-lo sofrendo assim. – falei ao desligar a ligação.

— Foi você que deu a ideia. – Kevin que havia acabado de chegar falou e sorriu.

— Você concordou. – o encarei.

— Não podia deixa-lo acabar morrendo, podia? Apesar de a ideia ser tentadora.

— Não tem nada a ver com gostar dele então né?

— É coisa sua, não minha. Ele precisa se encontrar. – ele disse e voltei com ele para perto de todos.

— Andei investigando o Danilo. Estou mais preocupado com ele do que a irmã impulsiva e chantagista.

— Vamos invadir a casa dele. Sou ótimo em nisso. – Ryan disse e sorriu.

— Não vou com você, você me odeia. Eu me daria muito mal.

— Você me odeia muito mais. E não é nada confiável.

Já havíamos acabado os estudos, esperei que Yuri e Otávia se distraíssem em alguma conversa e lembrei de cobrar ao tatuado algo que havia pedido a ele.

— Kevin. – chamei sua atenção.

— Que é? – ele nem me olhou.

— Fez o que eu te pedi? Esteve com o Arthur?

— Como você viu na ligação. Altamente deprimente. – ele olhou para Ryan. – Vamos pra casa deles quando todos saírem. – ele voltou a me olhar. – Ele só dorme e não come e sinceramente não tenho filho de quase dois metros e noventa quilos.

— Seu deboche e impaciência não ajudam.

— Nem comecei.

— Iria mandar você ir para o inferno, mas...

— Eu sou o capeta. Ou o diabo como o seu irmão gostava de dizer. – ele se levantou. – Tchau, eu te vejo Ryanzinho.

— Ele é detestável.

— Mas nos ajuda quando a gente precisa, então...

— Até quando? Ele tá no limite. Uma hora ele vai achar mais divertido foder com cada um de nós.

O Ryan estava certo. Era difícil admitir, mas era a verdade. Cada dia que passava aproximava mais Kevin do precipício. Mas ela ainda estava sendo gentil comigo. Do jeito dele, mas estava. E eu devia focar apenas nisso.

Otávia Narrando

Parei Kevin na saída do intervalo e fiquei olhando pra ele. Ele deu aquela risadinha que geralmente nos tirava do sério.

— Quero saber o que tá acontecendo com o meu irmão. – tentei não soar muito incisiva.

— Então tem que perguntar pra ele. – ele tentou continuar a andar, mas eu parei em sua frente de novo.

— Sei que você sabe, diz Kevin. Você tá morrendo de vontade de ver o circo pegar fogo mesmo.

— Estou cansado de drama de Arthur.  – o impedir de ir mais uma vez. – Olha, tá bom, então vou dizer de uma forma que você talvez não queira ouvir, Arthur quer transar com uma colega de sala e pra não fazer isso tá usando cocaína. – fiquei olhando atônita. – Falando alto parece inacreditável. Mas se pessoas bebem para esquecer alguém, deve ser mais ou menos isso.

— Isso não tem nada a ver com o meu irmão.

— Estar aqui falando com você também não tem nada a ver comigo e veja bem.

— A Alice sabe disso? – ele pareceu preocupado.

— Você não contaria. Ou estou enganado?

— Claro que não. Eu não sou você. Por que ele se meteu nisso?

— Feromônios, conhece? As substâncias que dão a química da atração sexual.

— Eu sei o que é idiota.

— Parece que a taxa de testosterona dele anda muito alta e a garota possui uma carcaça bem atraente.

— Isso é jeito de falar Kevin? Carcaça? Ela tá morta por acaso?

— Estaria se ele levasse isso adiante. – ele deu uma risadinha. – Tudo esclarecido irmãzinha?

— Eu não sou sua irmã!

— Ah, quando for confronta-lo não se esqueça de citar que eu contei tudo. Quero os créditos.

— Entendi. – dei um sorriso provocativo. – O Rafael com certeza sabe e como somos próximos você não quer que Arthur pense que foi ele e assim aconteça dos dois brigarem. Você se preocupa com ele né?

— Vou ter que acabar matando alguém para vocês entenderem que eu não sou nem um pouco amável. Tá, não diga nada. Ou diga que foi o loirinho. Cause discórdia. Vai ver como faz bem, é reconfortante.

Na verdade eu não diria nada. Pelo que parecia Arthur estava tentando fazer algo a respeito e só isso bastava. Eu me preocupava muito com o meu irmão e não queria colocar mais peso nele nesse momento. Além disso, era um assunto tão delicado, eu não tinha como falar sobre isso com ele.

Murilo Narrando

Nem sei quanto tempo eu olhava para a janela, mas eu sei que era o suficiente para se tornar estranho. Voltei a encarar a minha psicóloga.

— Você precisa falar comigo. – sua voz saiu mais suave que o comum. Porém eu compreendia que no fundo ela estava desesperada.

— Não quero ir pra casa. – admiti falando bem rápido.

— E quais são os motivos, você consegue dizer?

— Acho que vai me fazer mal. Estou preocupado.

— Por que te faria mal Murilo?

— Você me questiona demais! – passei a mão no rosto de forma impaciente.

— É pra isso que estamos aqui. Para questionamentos. Para que você se entenda.

— Não quero mexer nisso. Vai me fazer mal. É só isso que eu sei. E eu não estou afim de me aprofundar nisso. Eu paro a terapia se for preciso, mas eu não quero ficar tentando entender esses sentimentos.

— Tudo bem. Calma. Não precisa ficar tão nervoso. Não vou te obrigar a nada, lembra? Um exercício bom a ser feito é você pensar nas coisas boas que te aguardam lá Murilo. Seu pai, sua irmã, os seus amigos, a sua família, os seus avós, as pessoas que te amam e que estão com saudade... Você me disse uma vez que sua casa era em um ambiente florestal, que era um pouco afastada da cidade e era feita de pedras por uma vontade particular da sua mãe, aposto que deve ser uma delicia estar lá, se imagine vivendo isso e não as coisas ruins. Se tiver que enfrentar algo ruim, me liga. Você tem meu número, eu vou estar disponível vinte e quatro horas pra você. Você pode me dizer o que está acontecendo e eu te digo o que você já sabe, que é você que decide se isso importa. É você que deixa as coisas te afetarem.

— Quem dera se fosse tão fácil assim.

— Se torna quando você muda a sua mentalidade.

— Jamais deixaria de ir. Não magoaria meus pais a esse ponto. Mas eu só estou dizendo a minha vontade. Se eu pudesse escolher não iria.

— É algo que é quase uma obrigação, né?

— Eu vejo assim.

— Não deveria. É uma comemoração. Uma data especial. Poxa Murilo, não coloca esse peso nas coisas. Você acha que o Eliot não vai perceber? Como você se sentiria se fosse ele?

— Ele me entende. – dei um sorriso.

— Ele parece um cara bem legal. Nunca o vi reclamar dele.

— Não tem como reclamar dele.

— E também não tem como... Como eu vou dizer... Admira-lo como alguém que você realmente ame. – ela suspirou. – Eu vejo que você o vê mais como amigo que namorado.

— Não. Não é isso. Eu só não esqueci Kevin ainda. Mas eu vou esquecer.

— O quanto difícil é pra você admitir isso?

— Nem um pouco.

— Isso explica muita coisa.

— O que? – a olhei com receio.

— Você acha que sim, mas não está disposto a esquecê-lo. – ela sorriu. – Vamos falar sobre isso na semana que vem? A ultima semana antes da viagem? – fiz uma expressão de medo.

— Não fala disso. – me levantei.

Depois de sair do consultório dela fui andar um pouco, eu precisava pensar, mesmo não querendo. Se eu o visse qual seria a minha postura? Iria ser legal? Simpático? Ou agir como se ele não fosse ninguém? E se por acaso eu visse Caleb? Aquele filho da puta que tem uma vida de mentiras. Não ia conseguir disfarçar a minha expressão de nojo, não mesmo.

Parei em um café e resolvi ligar para o Rafael. Já que eu teria que encarar tudo eu sentia que precisava resolver as coisas com ele antes de ir.

“Oi. Que estranho você me ligar. Não está conseguindo falar com o Arthur? Ele deve estar dormindo, está de licença do trabalho e...”— ele parecia nervoso e falava sem parar. Se não estivéssemos em uma chamada de vídeo e eu pudesse ver o seu rosto eu iria ter dúvidas, mas por esse fato eu tinha a certeza do seu nervosismo.

— Não. Quero falar com você mesmo. – sua expressão ficou ainda pior.

“Ah, sim. Tá tudo bem?”

— Tá sim. E contigo?

“Sim. Eu acho. O que foi? Aconteceu alguma coisa?”

— Então... Rafael... Quando você chegou a Torres a gente logo se identificou, não sei se pelo nosso jeito semelhante. Criamos uma amizade e no abrigo vivíamos juntos. Quando comecei a namorar Kevin você sempre estava atrás de mim e disse uma vez até nos admirar. Acho que admirava até demais né? Juro que tentei entender o fato de vocês dois ficarem. Sei que não tenho direito de cobrar nada, mas você sendo meu amigo, não devia um pouco de fidelidade a mim? – ele obviamente não esperava nada daquilo.

“Tentei não ficar com ele Murilo.— ele respirou fundo. - Mentira. Estou mentindo. Não tentei nada. Eu quis desde o início e fiquei disponível e totalmente aberto à ideia, sem nenhuma restrição e você também não era uma.”

— Isso eu já percebi. Mas... Por quê?

“Não sei. Aconteceu. Talvez tivesse que acontecer. Nunca me imaginei com um cara. De repente eu o olhei e estava querendo muito beija-lo. Kevin tem um jeito extremamente sedutor e você sabe disso.”

— Vocês estão juntos?

“Não. Ele tem uma disposição para ferir as pessoas que eu não aguento. Foi muito dolorosa a forma como nos distanciamos... nós nos dávamos bem, tínhamos química, estávamos tendo um lance muito legal, se ele não fosse o Kevin tão abominável, ainda poderíamos ser amigos.”

— Você não pode desistir dele. É isso que ele precisa. Que insista.

“Você ligou para fazer cobranças sobre eu ter ficado com ele e agora está me dando conselhos?”

— Me fere muito saber que ele está voltando aos velhos hábitos. Alguém precisa tentar ajuda-lo.

“Ninguém consegue Murilo. Ele tá decido a ser assim. E cada um é responsável por suas próprias decisões. Preocupe com você, talvez se enfiar nesse ciclo de mudança é que te fez mal. Como você realmente está?”

— Bem. Um pouco nervoso por ir aí.

“Ele não vai estar aqui. E ele tá fugindo desse reencontro. Deve ficar o resto das férias na casa do avô dele na capital. Não fique nervoso por causa dele.”

— Como você sabe tanta coisa se nem são amigos mais?

“Ele é irmão do Arthur. Sei as coisas dele mesmo sem querer saber. E... O seu namorado sabe que sente ciúme do seu ex?”

— Sim. Não é algo legal. Mas ele sabe. Você gosta dele Rafael?

“Você está reparando nas perguntas que está fazendo?”

— Como assim?

“Tá claro que não me ligou por causa da nossa amizade e sim porque está muito preocupado com o que existe entre Kevin e eu... Não existe nada Murilo. Fica tranquilo.”

— Você está fugindo da resposta porque você gosta dele.

“Talvez sim. Mas isso não significa muita coisa.”

— Pra ele sim. Ele ter alguém o admirando e dizendo o quanto ele é especial é importante.

“Parece que você sabe exatamente como agir pra ter o melhor dele. Eu não sou você Murilo. E gostar dele não muda as coisas. Você tem algo importante pra falar? Preciso desligar.”

— Você responde o que acha que eu quero ouvir, mas não é sincero comigo. Por que não está se abrindo Rafael?

“Isso é estranho. Vocês dois tem uma história. Ele é louco por você. O que quer que eu diga?”

— Não sei... –dei um suspiro longo. – Vou deixar você desligar.

“Murilo... Sei o quanto é complicada essa história de vocês dois. Mas se for pra ficarem juntos, vai acontecer. Não fica tenso com isso.”

— Sei que não vamos ficar juntos. Acho que só queria estar por dentro de como as coisas estão entre vocês. Tenha paciência com ele Rafael. Não foi fácil comigo como você deve achar que foi, eu tive muito medo de ser manipulado por ele, tive que insistir muito também... O Kevin não é fácil. Mas ele vale a pena.

“É?— ele sorriu. – Se pensa assim por que não fica com ele?”

— Nosso tempo já passou Fael. E por falar em tempo vou desligar. A gente se fala.

“Tá bom. Se cuida.”

Assim que desliguei tomei mais um café e fui para a república passar o resto da tarde com o Adam. Acabei chegando ao hotel a noite e pela forma que Eliot me olhou ele pareceu não gostar muito, mas acho que não era por ciúme e sim por estar quase na hora de eu tomar meu remédio.

— Oi. – cheguei perto dele.

— Onde você estava? – ele me olhou e desviou o olhar.

— No Adam.

— Bebeu?

— Uma taça de vinho.

— Por que não respondeu as minhas mensagens?

— Estava dando atenção a ele.

— E no caminho até aqui?

— Cobrança? Sério?

— Se você não tem vontade de falar comigo pra que namorarmos?

— Tchau. – sai andando e fui em direção ao elevador para ir para o meu quarto.

Ele não era assim. A verdade é que essa viagem estava deixando nós dois tensos. Desejava que ela não chegasse, agora queria que passasse logo.


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Notas finais do capítulo

Como eu sumi, esse fim de semana provavelmente (se tudo der certo por aqui) vai ter post duplo ♥



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