Amor Perfeito XIV escrita por Lola


Capítulo 20
Pouca exatidão


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



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Alice Narrando

O jantar saiu como minha vó esperava. Mas eu não curti muito, devo confessar. O tal do Danilo que era o garoto filho do casal me parecia alguém que eu já havia visto alguma vez e eu não gostei muito do jeito dele.

No outro dia ele e a irmã foram à aula, ela era da minha sala e ele era mais velho e era da sala de Kevin. Inclusive um fato interessante era que a garota não parava de falar dele. No intervalo eles se juntaram a nós.

— Então você namora? – ela perguntou para o tatuado.

— Namoro. – ele respondeu e não sei o motivo, mas os meninos riram. Ele ficou olhando pra ela.

— O seu olhar penetra a alma. – ela comentou parecendo estar mexida com ele.

— Eu sou gay. – ela ficou toda sem graça. Até eu não aguentei e dei uma risadinha.

— Sério? – ele respondeu gestualmente.

— Eu não sou não tá? – Danilo falou o encarando. Pra que. Ele acabou de arrumar o pior inimigo.

— Eu te perguntei? – todos ficaram olhando os dois.

— Só caso você se interesse por mim. – Kevin firmou seus olhos no garoto.

— Se eu fosse você tomava bastante cuidado, ele é capaz de coisas terríveis com aqueles punhos e aquela força.

— Oi? Está sendo enigmático.

— Você entendeu. – por sorte tivemos que voltar para a sala.

— O que você quis dizer com aquilo? – abordei o Kevin.

— Ele está afim de você. – nos olhamos. – Não julgo. Se eu fosse hétero também estaria. – ele apertou meu queixo e saiu andando.

Quando estávamos indo embora eu achei que aqueles dois não podiam piorar a situação em relação ao desafeto com Kevin, mas eles conseguiram.

— Qual dos dois ficou primeiro com ela? – Diana perguntou assim que chegamos perto de Arthur que me esperava na porta da escola. Ela apontou para ele e para o Kevin. Todos ficaram a olhando sem reação. – Sabia. Foi a decepção amorosa que te fez virar gay lindinho?

— Vou embora se não vou ir preso por agressão. – ele foi em direção ao carro dele.

— Por que você fez essa pergunta? – Arthur a questionou mais sério que já era.

— Vocês se provocam por causa dela. Ouvi você dizer que ele faz sua namorada rir e no final da noite também... – ele a interrompeu.

— Se você quiser ficar perto da gente vai ter que fazer menos especulações e ser mais agradável. Você consegue?

— Desculpa. Não foi minha intenção ofender vocês, não sabia que era um assunto delicado. Foi burrice minha, é claro que irmãos se apaixonando pela mesma garota é muito delicado.

— Vamos embora Diana. – o irmão dela a arrastou de lá.

— Esses dois não vão durar uma semana na mão do Kevin. – Arthur comentou e eu o olhei. – Vim pra irmos marcar o horário no salão.

— Você acha que essa ideia de Kevin vai dar mesmo certo? – perguntei enquanto nos despedíamos do pessoal e entrávamos em seu carro.

— Eles brigam o tempo todo, mas apesar das diferenças eles têm algo muito importante em comum: são loucos um pelo outro. Já te disse isso. Seguindo essa lógica tem tudo pra dar certo. – ele pegou minha mão e beijou.

— Você acha a Diana bonita? – o olhei com atenção.

— Nem reparei nela. Por quê? – ele me olhou de relance.

— Ela já chegou se jogando pra cima do Kevin... Ela pode acabar dando em cima de você. – ele deu uma risada. – O que foi?

— Está com ciúme?

— Não. – fiquei olhando pra frente.

— Você tá com ciúme. Sabe que não precisa né?

— Diz o Kevin que o Danilo está afim de mim. – ele ficou sério.

— Se tratando das coisas que o Kevin percebe, é melhor dar credibilidade.

— Não gosto dele. Não sei, alguma coisa nele não me deixa bem.

— Vou mandar o Rafael e o Kevin ficarem de olho.

— Já reparou que de dez palavras da nossa conversa oito é Kevin? – perguntei e ri.

— E falando nele... Como ele se comportou na escola?

— Como se nada estivesse acontecendo. Tenho muito medo de quando ele resolver revoltar for de uma só vez.

— Ele fez um pedido exorbitante de bebidas na internet.

— Como você sabe?

— Ele usou meu documento. – nos olhamos.

— E você não perguntou pra que?

— Adianta?

— Será que ele vai fazer uma festa?

— Não sei. Chegamos. – fizemos a reserva do horário do salão e do restaurante. E amanhã o Arthur pegaria o colar. Almoçamos e ele voltou ao trabalho.

— O que está te incomodando? – me sentei ao lado de Rafael na sala.

— Por que algo estaria me incomodando?

— Você almoçou pouco. Esses poucos dias aqui eu já notei que você come muito. – o olhei e sorri. Ele deu uma risada.

— É que era novidade. Agora já me acostumei com a comida.

— Não. Tem também sua expressão... Você não tá com o melhor dos humores.

— Ah sei lá... O Kevin estava tão bem. Agora vem essa do Murilo namorando. Foi um banho de água fria... Fria não, gelada. No inverno.

— Tá sentindo falta dele né? – ele concordou. – Sei que quer dar espaço e tempo a ele para que se recupere... Mas... – o olhei e dei um sorriso travesso. – E se formos nós dois até a casa dele?

— Ele ia perceber que estou atrás dele.

— E se for isso que ele quer? Ás vezes é e você nem sabe.

— Se fosse ele me mandaria uma mensagem.

— Mas talvez seja o que ele precise.

— Você sabe que o seu namorado é totalmente contra isso né?

— Você sabe que eu e ele somos duas pessoas diferentes né?

— Palhaça. – ele deu uma risadinha baixa. – Por que ele tem um cheiro tão bom? Acho que eu estou viciado.

— Então aprende a lidar com a falta. Pelo menos por enquanto. – ele me olhou e deu um sorrisinho. – E aí? Estou com a chave da casa dele ainda.

— Tá bom. Vou só tomar um banho antes. Pode ser?

— Hum... Acho que você gosta mais do Kevin do que você acha que gosta.

— O que é a maior idiotice, já que ele nunca vai esquecer o seu irmão.

— Não entendo como Murilo conseguiu seguir em frente tão rápido.

— Ele não seguiu. Está se precipitando. É o que as pessoas ansiosas fazem.

Rafael subiu e eu fiquei pensando naquilo e em como devia ser ruim ser como Murilo. Não sei por quanto tempo fiquei naquela reflexão, mas o loiro desceu e fomos em direção a casa de Kevin. Quando chegamos ele estava recebendo caixas de bebidas. Assim que assinou o papel entramos com ele.

— Parece que alguém vai dar uma festa. – Rafael comentou intrigado. – E é das grandes.

— O que é isso Kevin? – perguntei me encostando a bancada da cozinha.

— Vou receber uns amigos. – olhei pra Rafael.

— Que amigos? – ele me olhou após a minha pergunta.

— Dos tipos que você jamais conheceria.

— Ah, tipo o Luís? – nos olhamos.

— Exato. Foi ele inclusive que ficou encarregado de trazer os “amigos”.

— Onde você o conheceu?

— Boate gay. – Rafael pareceu ficar incomodado. – Daí eu soube que ele trabalhava naquele bar e não sai mais de lá. Ele é gente boa.

— Vocês ficaram pelo que eu entendi né?

— Você perguntou qual era o meu tipo. Eu disse que casualmente gostava de tipos como ele, mas não afirmei que fiquei com ele.

— Então vocês nunca tiveram nada?

— Somos amigos Alice. Gays também podem ser amigos sem ter que foder, sabia?

— Você vai mesmo tentar superar desse jeito Kevin?

— Desse jeito como? Enchendo a cara e transando com caras desconhecidos? É... – ele fingiu estar pensativo. – Acho que sim.

— Não é só o namoro do Murilo. Tem mais alguma coisa te incomodando. – fiquei olhando pra ele e ele desviou o olhar. – O que foi, conversa com a gente, somos seus amigos. Os de verdade.

— Coisas com meu pai. Ele me deu uma rasteira das grandes como a boa cobra que ele é... Fiz algo pra ele e ele não vai cumprir a parte dele. Mas já estou pensando em como vou transformar a vida dele em um inferno e isso começa hoje. – ele deu o sorriso mais autêntico dele. Depois ele olhou para o Rafael. – Preciso que você se afaste um pouco de mim agora.

— Por quê?

— Por tudo que eu disse. Vou declarar guerra ao meu pai e tenho medo dele te usar contra mim.

— Nunca vou entender essa loucura toda.

— Não precisa. Só mantenha distância.

— Só ele né? Eu posso me ferrar.

— Você tem o maior escudo de todos. Ele não é louco de mexer com você.

— Não acho. Ele já machucou o Arthur.

 - Raro momento de descontrole.

— Eu acho uma sacanagem... – comecei a falar e olhei os dois. – Que o Rafael tá doido pra te beijar e você manda ele se afastar. – ele olhou o loiro e sorriu.

— A gente ainda não transou nessa cozinha. – arregalei os olhos com a fala dele.

— Eu acho que eu devo ir embora. Agora. – ouvi um dos dois pedindo para que eu esperasse, mas sai bem rápido. Pelo menos o objetivo do Rafael foi concluído com sucesso.

Murilo Narrando

Desliguei a ligação com Alice e fiquei pensando em tudo que ouvi e fiquei sabendo... Sabia que os meus pais não estavam bem, mas não imaginava que as coisas estavam nesse ponto.

— Ele se comporta como uma criança querendo atenção. – Eliot comentou aparentando estar com raiva.

— Kevin? – franzi a testa.

— Você sabe que sim. – sua voz mostrava cada vez mais desconforto.

— Ele tá mal por causa do nosso namoro. – fiquei pensando no tanto de mágoa que ele guardaria de mim.

— E você se importa com isso?

— A gente pode terminar. Ele vai ser meu primo pra sempre. Não queria que o fim conturbado do nosso relacionamento acabasse com a nossa amizade.

— Eu até acreditaria se não soubesse que na verdade você está morrendo de medo dele te esquecer. – fiquei calado. Eu não queria discutir com Eliot.

— Acho que você está cansado de ficar aqui esses dias... A psicóloga disse que eu não sou um risco para mim mesmo. Posso ficar sozinho. – ele ficou me olhando. – É sério. Tem um botão aqui, se eu precisar chamo na enfermaria.

— Até quando você vai deixar que ele controle a sua vida? – baixei os olhos.

— Você tem sido maravilhoso, eu não estou terminando e isso não é por ele. Só quero que você descanse um pouco de mim.

— Eu nunca vou me cansar de você Murilo.  

— Mas eu preciso de você calmo, tranquilo, relaxado... Para que a gente não tenha esse tipo de conversa tão maçante que nunca acaba bem.

— Tá bom. – ele concordou e respirou fundo, manifestando sua insatisfação. – Vou pra casa. Se mudar de ideia me ligue.

Aquela noite foi um pouco diferente das outras que passei no hospital. Não só por Eliot não estar comigo, mas por estar com o pensamento fixo em Torres e em tudo que podia acontecer. Eu imaginava que os meus pais deixariam escapar sobre o meu relacionamento, mas pensei que eles teriam o cuidado de poupar Kevin. Pelo menos por enquanto ele não precisava saber de nada.

“Estava dormindo. Espero que seja sério.”— Arthur atendeu minha chamada de voz após o quinto toque.

— Já percebi que as coisas estão um pouco fora de controle... Como ele está?

“Ele oscila muito Murilo. Uma hora ele tá bem e na outra ele tá péssimo. Em um momento ele é o Kevin normal e de repente se transforma naquele monstro.”

— Na verdade o normal dele é ser um monstro.

“Sabemos que não. Ele só fazia as covardias que fazia por causa do Caleb. E hoje eu te digo com toda confiança que ele cortou esse vínculo com ele. Vez ou outra eles podem ter “acordos” entre eles, mas Kevin não é levado mais pela lábia do pai.”

— Achei que ele perderia totalmente a humanidade dele.

“Não leve a mal. Não é que você deixou de ser importante. É que o que você fez com ele, toda a mudança, foi verdadeiramente muito bom... Talvez ele ainda se apegue a isso.”

— Mandei o Eliot pra casa. Às vezes eu tenho tanta certeza e em outras... Parece que nem sei o que estou fazendo.

“Não sei o que dizer.”

— Como você e Alice estão?

“Podemos falar disso de dia? Acordo cedo para trabalhar.— ele deu uma risadinha abafada. – Mas estamos bem, muito bem.”

— Tá bom, vou deixar você dormir.

“Você vai ficar legal né? Não tem nenhum remédio a disposição para você tomar ou tem?”

— Você tentou ser engraçado?

“Tchau Murilo. Boa noite.”— ele desligou me fazendo rir.

Ligar para Arthur não melhorou em nada os meus pensamentos, as minhas dúvidas, os meus anseios... Será que havia alguma coisa errada acontecendo?! Talvez Kevin já havia me esquecido ou começou a nutrir sentimento por outra pessoa... Rafael. O jeito que eles riam, como conversavam, a forma como o loiro parecia fazer bem a ele. Isso tudo pode ter sido fatal para que Kevin seguisse em frente.

"Sei que isso machucou você, mas não fui eu. E eu sei, sei que às vezes é difícil ver."


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Notas finais do capítulo

"Gays também podem ser amigos sem ter que foder, sabia?" Posso fundar um fã clube do Kevin?! kkkkkkkkkkkkkkkkk
Até amanhã! ♥



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