Amor Perfeito XIV escrita por Lola


Capítulo 19
Sou eu e não ele


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



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"Começamos a andar de mãos dadas e o sentimento se fortaleceu."

Alice Narrando

— O que você está aprontando Kevin? – perguntei pela segunda vez e ele não respondeu.

— Vai, entra. – ele parou em frente a minha casa. As luzes estavam acesas.

— Quem está lá? – o olhei assustada.

— A intenção é te deixar curiosa.

— Porque se eu souber não vou. – resmunguei. – Ele...

— Ele te ama Alice. E ele é um idiota, eu sei. – ele apontou para o próprio rosto. – Mas ele te ama. Sabemos disso há uns bons anos. Só vai e conversem. – respirei fundo.

— Aonde você vai? – o olhei de perto.

— Você se preocupa muito comigo. Vai lá agora. – não adiantaria discutir então fui, mesmo bem receosa.

Ao entrar vi uma cena inusitada. Arthur de avental picando cebola. Havia uma panela no fogo que saia fumaça e quando me viu entrando ele me olhou com medo.

— Vem cá. – ele veio até a mim e pegou minha mão, me sentando na bancada. – Refrigerante ou suco? Ofereceria um vinho, mas você não tem idade pra isso. E temos péssimas lembranças da última vez que você tentou beber.

— Suco. – suspirei. Ele me serviu e voltou ao que estava fazendo.

— Sei que eu errei. Saber que você mentiu pra sua mãe e não estava em casa... Isso me deixou louco Alice. – nos olhamos. – E Kevin... Ele é imprevisível demais. Você confia muito nele, não pode ser assim.

— Você é quem mais o ama Arthur. Sempre diz isso e sempre demonstrou desde que o perdoou que devemos confiar nele!

— Eu sei. – ele escorou as mãos na bancada. – Mas... Olha o que Murilo fez a ele. Isso é destrutivo demais.

— Eu entendo, mas não consigo não confiar nele. Se você quiser ficar comigo vai ter que aceitar isso.

— Alice... Você não entende o quanto isso é perigoso? Ele sabe ser bem convincente quando quer.  E o que ele quer ele sempre costuma conseguir.

— Mas ele não quer nada de mais comigo. Ele não quer me prejudicar. É isso que você não consegue entender.

— Até quando? Não sei Alice. A humanidade do Kevin tem um limite... E o que a mantinha está a km de distância.

— Sei que só está preocupado e quer me proteger Arthur, mas não faz isso. Deixa que eu seja amiga dele.

— Não consigo aceitar isso de olhos fechados. Porque a minha vida toda eu vivi com Kevin fazendo as maiores barbaridades. E se ele me atinge tudo bem. Mas te ferir não. Você está dando um espaço a ele em sua vida que pode te fazer muito mal mais a frente.

— Tá. Só que mesmo assim eu quero pagar pra ver.

— Eu te amo tanto. – ele chegou mais perto e me beijou.

— Seja o que for que você está fazendo vai acabar queimando.

E então ele foi para o fogão. No fim das contas eu o ajudei a acabar de preparar tudo e jantamos juntos. Devo confessar que ele ter se esforçado para cozinhar pra mim e fazer essa surpresa me fez sorrir a noite toda. Quando acabamos de limpar tudo juntos voltamos para a casa dos nossos avós.

Na segunda foi um dia normal. Eu estava mais contente por Murilo estar bem e por estar mais perto de Arthur. Como eu estava na casa dos meus avós que era no centro de Torres e bem perto da academia do meu pai, que estava aberta já que ele deixou um dos funcionários dele cuidando de tudo, eu fui pra lá depois de fazer os meus deveres da escola... Era melhor que ficar em casa o dia todo. Quando voltei, pouco mais de seis da tarde fiquei muito incomodada com um garoto que não parava de me olhar na rua. Reparei nele e parecia bem bonito, mas desviei o olhar rapidamente porque a forma como ele me olhava era muito esquisita e intimidadora.

— Oi. – fui recebida por Arthur assim que entrei. Ele havia acabado de tomar banho e estava cheiroso e com o cabelo molhado. – Estou indo para a faculdade.

— É, já estamos um pouquinho atrasados, mas ele não queria sair antes de te ver. – Rafael reclamou. – Já viu agora vamos. – o loiro saiu andando e meu namorado me olhou.

— Milagre não ter ninguém por aqui. – comentei observando em volta.

— E que bom. – ele me beijou e se despediu.

Tomei banho e jantei, minha mãe ligou avisando que Murilo estava muito bem e que contaria tudo quando chegasse. Não aguentei esperar Arthur voltar da faculdade e acabei dormindo.

— Não precisava me deixar na escola. – falei o olhando.

— Agora que você está pertinho de mim eu posso. – ele me beijou mais uma vez. Sai do carro o olhando partir. Era espantoso que quando estávamos bem a gente parecia que nunca havia brigado na vida.

Minha vó inventou um tal de jantar para os vizinhos novos e isso foi assunto nessa manhã. Mas eu estava preocupada com outra coisa.

“Amor, o Kevin chegou e veio a aula. Ele não parece muito bem. Vou inventar que eu e você estamos mal para ele me dar atenção e eu conseguir arrancar dele o que é, tá?”— mandei a Arthur no final do último tempo.

“Acho isso tudo uma bobagem, se ele quisesse diria Alice. Mas tudo bem. Estou indo até a concessionária tá? Vou chegar um pouco mais tarde. Te amo muito.”— sorri ao ler a última frase.

As coisas não saíram como eu esperava e minha mãe acabou contando que Murilo estava namorando na presença de Kevin. Isso era um estrago sem tamanho. Sabia que isso iria bagunçar tudo e o deixar inconsequente. Assim que ele saiu olhei para Arthur. Ele me segurou.

— Não vai atrás dele. Agora não. – fiquei inconformada. – Ele vai te machucar Alice.

— Cadê o Rafael? – perguntei olhando para a mesa.

— Deve estar dormindo. Calma. Espera ele absorver o fato.

Antes de Arthur voltar ao trabalho peguei a chave da casa de Kevin com ele e fui até lá, eu sabia o que fazer e infelizmente era isso o que o meu namorado não entendia.

Murilo Narrando

As palavras da psicóloga do hospital ecoavam em minha mente “o problema dele é apenas a ansiedade mesmo e ele vai superar isso” eu esperava tanto que ela estivesse certa.

— Então é culpa sua que eu não tenho mais o meu filho em casa? – o pai do Eliot chegou e perguntou em tom de brincadeira. – Trouxe uns doces pra você, aqueles que você gostou. Não sei se podia... – ele olhou minha mãe. – Prazer, desculpa chegar assim.

— Ah não, tudo bem. – ela sorriu. – Caso ele não possa comer, eu ficarei com os doces. – eles riram juntos.

— Mãe... O meu pai vai ficar com ciúme. – avisei a olhando.

— Ele está com Gardan no hotel e vai custar a voltar. – ela contou e voltou a olhar o pai de Eliot. – Estava curiosa para te conhecer, ouvi muito bem sobre o senhor.

— Senhor? Não precisa disso. – ele ficou sem graça. – E você, como está Murilo?

— Bem. – desviei o olhar.

— Lio me contou o que aconteceu... Quando você quiser ficar chapado me chame garoto, eu vou controlar as doses. – ele amenizou o clima. Dei uma risada e minha mãe sorriu. – Mas falando sério, estou feliz que esteja bem. Sua fã número um queria vim de qualquer jeito, mas achei melhor deixar a minha irmã com ela.

— Diga a ela que estou com saudades e que sinto muito que tudo aconteceu logo no dia que faríamos nosso passeio.

— Ela nunca te perdoará por isso. – ele riu.

— Vejo que ele está bem integrado a família.

— Sim. – eles se olharam. – Seu filho é um bom menino. Ele conquistou minha esposa de primeira. E isso é difícil, ela é um pouco desconfiada com as pessoas.

— Eu também sou. Coisas da vida né? – eles sorriram.

— Bom... Vim só para uma visita rápida. Tenho que ir. Quando eu estava saindo Eliot estava chegando para tomar banho e aposto que já está a caminho... Se ele me pega aqui vai encher o saco porque sabe que a mãe não gosta muito de ficar com a tia e aquela coisa toda de família.

— O Gardan está o deixando ficar sem trabalhar? – perguntei preocupado.

— Não. Ele tá trabalhando. Ele voltou ao posto. O trabalho dele é ficar com você, esqueceu? – ele sorriu. – Só que ele tá fazendo hora extra por conta própria.

— Por que Gardan fez isso? – questionei franzindo a testa.

— O Eliot não te contou? – ele pareceu perceber que falou demais. – Acho que isso não importa muito. Só se recupere viu?

Um pouco depois que o pai saiu Eliot chegou. Ele viu que eu estava estranho. Olhei para a minha mãe até ela entender que era para ela sair do quarto.

— Você pediu demissão? – o olhei sério.

— Foi o meu pai né?

— Ele não fez por querer. Só me responde Eliot.

— Você estava desacordado ainda. A gente estava esperando por notícias. E eu disse a Gardan que se você melhorasse eu iria querer a demissão e então ele me propôs que eu voltasse a ficar com você.

— E a minha mãe vai ficar agora. E aí? Você vai perder o seu emprego.

— Pelo menos vamos poder ficar juntos.

— Onde você enfiou toda sua maturidade e paciência?

— Eu quase te vi morrer. Sabe o que é isso? Sabe o que isso faz com uma pessoa?

— Mas eu não morri! E eu não preciso que você tenha toda essa pressa com o nosso relacionamento.

— Pressa? Eu? Não foi você que me convidou para ir até sua casa no natal? Não foi você que teve a iniciativa do início desse namoro?

— Sim e eu não me arrependo. Eu quero ficar com você. Gosto de você, sabe que eu me apaixonei. Mas ver você agindo impulsivamente me dá medo.

— Desculpa. – ele me olhou e deu um sorriso triste. – Vou pedir desculpa ao Gardan e dizer que falei aquilo tudo na hora da emoção, que ele tem que fazer o que achar melhor e que eu não posso questionar a autoridade dele e que pedir demissão foi um erro grande.

— Você sabe que ele está arrependido de ter te tirado do meu lado. É nítido. Se desculpe e mantenha seu emprego. Não quero atrapalhar sua vida. – ele me deu um beijo amoroso.

— Vou te mostrar que eu vou cuidar de você e vou permanecer ao seu lado independente de qualquer coisa.

— Eu já sei disso. – respondi com um sorriso aberto e genuíno.

Tinha que reconhecer que Eliot era a perfeição em forma de namorado. Desde o inicio. Ele nunca vacilou comigo. Quando o conheci, vi que ele era um excelente profissional. Depois pude apreciar o ser humano cheio de vivência e sentimentos... E ele me ajudou tanto. Não sabia se o que eu sentia por ele era na verdade gratidão, mas eu sei que em algum momento eu me apaixonei. O problema é que a paixão era traiçoeira. Ela acabava sem a gente nem ver. E a idealização da pessoa que criamos em nossa mente se desfazia em pouco tempo. Eu esperava francamente que não fosse assim com a gente.

Assim que os meus pais voltaram para Torres ele arredou a cadeira para mais perto da cama e pegou seu celular me dando o fone.

— Lembra a música que eu estava ouvindo te esperando na rua de trás do hotel antes de irmos encontrar com nossos amigos? – concordei gestualmente. – Você gostou tanto, pensei que talvez quisesse ouvir mais do mesmo cantor.

— Estar aqui vai te dar muito tempo para me apresentar músicas novas. – falei e sorri. Fiquei ouvindo a playlist enquanto ele fazia carinho em minha mão.

— Você não acha que ficamos ainda mais unidos depois disso tudo? – o olhei.

— De certa forma sim. – concordei.

— Sua mãe adorou o meu pai. – ele comentou e riu.

— Ah, ele não é nada dúbio nem interesseiro. E ainda é simpático e engraçado. Lógico que adoraria.

— Agora eu estou mais tranquilo para ir pra lá. – ele deu um sorrisão. – Conta dos seus amigos. – cocei a cabeça.

— Oh... Primeiro tem a minha irmã né? Ela é quieta, na dela, mas dramática que só ela. Parece a minha mãe em uma versão mais nova. Ela namora o Arthur, meu primo... Assim, descrever o Arthur é até difícil. Ele vai te assustar de inicio, mas ele é legal.

— Por que vai me assustar? – ele deu uma risada. – Pela altura dele?

— Não. É que ele é bem sério. Quando ele voltou da universidade com um amigo novo ele estava cheio de gracinha, mas foi só passar um tempo na cidade natal que já voltou ao normal. Ele é o mais velho de todos nós e geralmente é quem resolve as brigas e conflitos.

— Já sei que o Arthur é alguém importante.

— De alguma forma todos são. Confesso que ele é mais. – ri. – Ele tem alguns irmãos... – respirei fundo. – Quer que eu comece pelo pior?

— Deixa ele por último. Se não eu não vou conseguir prestar atenção na descrição das outras pessoas.

— Tá. – suspirei. – O Yuri é irmão dele, ele é todo fofinho sabe? Quando você vê-lo já vai saber que é o Yuri. O sorriso dele entrega a inocência e fofura. Mas também ele adquiriu um pouco de maldade com as garotas quando o irmão foi pra universidade... Parece que ele queria se sobressair sabe? Não sei. Enfim, tem a Otávia que é irmã deles por parte de mãe, ela é... Chata. Assim, ela é pacifica, mas se ela ouvir algo que segundo ela fere os ideais dela ela começa a ditar a tal das regras e isso meio que enche o saco. A aparência dela é bem meiga, você nem diria o quanto ela é incisiva.

— Lembrou uma prima minha. – ele comentou e riu.

— Daí vem a Giovanna que é a mais lesada de todos nós, mas ela é muito legal. As gêmeas que são minhas primas, filhas do irmão do meu pai, se chamam Larissa e Sophia, a primeira é mais sensível e a segunda é bem afiada. Já peguei as duas. – o olhei.

— Claro. Primas. E no seu caso, primo também.

— Então... Tem o Alexandre, ele é o comédia do bando, apesar dele ter perdido bastante destaque depois que o amigo do Arthur chegou. Ah, o Ryan é um dos meus preferidos. – dei uma risada. – Ele é uma coisa de louco. Você já viu algum que pronuncia dez palavrões em uma frase de doze palavras? É ele. Mal humoradíssimo e vive fumando. Quando ele chegar aos vinte anos acho que já não vai ter mais pulmão.

— Lamento por ele... Ele já podia entrar na fila de doação agora. – ri do seu comentário.

— E por último...  O que eu mais gostava na gente é que ele é todo abusado e porra louca e eu sou mais gentil.

— Vocês pareciam se completar. – tentei achar incômodo em sua voz, mas não achei.

— Por que não está incomodado?

— Sou eu que estou aqui com você e não ele. – é, era verdade. E viver no passado era apenas procurar me machucar, manter uma ferida aberta sem motivo algum.

"Espero que seu coração ainda esteja se curando"


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Notas finais do capítulo

Agooora é até amanhã ♥



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