VMHV - Vírus de Mutação Humana Vampiresca escrita por Bellaluna Creator


Capítulo 7
Flor venenosa


Notas iniciais do capítulo

Ok, eu sei, estou muito, muito atrasada, então para compensar vou postar mais um cap ainda hoje ou até sábado, se eu não tiver imprevistos.

Boa leitura!S2

Ps. Vejo vocês nas notas finais.



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Durante a hora que se seguiu, Alex permaneceu calado, depois do que houve na garagem e Selênia começou a ficar inquieta. Percebeu, não pela primeira vez, que Alex é um cara bem sério. Sério demais talvez, pois parecia estar se recriminando fortemente por algo que aos olhos dela, claramente não era culpa dele. Tentou dizer algo que o fizesse mudar de perspectiva, mas toda vez que abria a boca para falar, ele não estava prestando a menor atenção. Era como se falasse com um poste.

Porém, ao contrário do que Selênia pensava, ele não estava mais chateado com o ocorrido, embora ainda achasse ter alguma culpa. Na verdade, ele só estava pensando em uma forma de ser mais cauteloso. Selênia mostrou-se muito mais imprevisível do que ele havia esperado inicialmente. Isso era até bom de certo modo, mas também era perigoso. Sem poder prever o que ela faria ele não conseguiria se antecipar a possíveis acidentes como o que aconteceu no treino, ou ainda piores. Se em um confronto ela fizesse algo que acabasse a deixando vulnerável ele precisava estar pronto para se interpor e salvá-la, afinal esse era o trabalho dele.

Alex ruminava sobre isso enquanto saia do banho. Tinha acabado de se vestir e esfregava a toalha na cabeça para secar o cabelo, quando abriu a porta do banheiro e deu de cara com uma Selênia soltando fogo pelas narinas. Abaixou a toalha lentamente enquanto absorvia a cena como um todo. Ela estava com as mãos apoiadas no beiral dos dois lados da porta, impossibilitando que ele saísse. Os olhos dela estavam com um brilho enfurecido que ele até então não tinha visto. E o cabelo húmido — por ela ter tomado banho antes dele — pareceu por um instante estar soltando fumaça, tamanha sua fúria.

 — Presta atenção... Você vai me ouvir agora, então é bom focar os dois olhos em mim e aguçar bem os ouvidos... — ela começou a falar em um tom baixo e perigoso. Esteve pensando enquanto ele estava no chuveiro, no porquê dele ter ficado tão perturbado com um machucadinho de nada que ela sofreu. Chegou a conclusão de que Alex devia ser desses caras que acham que as mulheres são um sexo frágil que precisa ser tratado com extremo cuidado ou quebram. Seu sangue ferveu de raiva. As mulheres não são frágeis! Que coisa irritante esse pensamento arcaico... Homens e mulheres são diferentes sim, mas isso não quer dizer que um é mais fraco que o outro. Apenas que eles têm pontos fortes diferentes. Sua cólera com a mente pequena das pessoas que tinham esse tipo de pensamento, ficou maior que o normal por ela nunca ter imaginado que Alex seria uma delas. — Mulheres não são flores delicadas que morrem facilmente esmagadas por pessoas descuidadas, e eu muito menos. Sou uma flor extremamente perigosa que se alguém se aproxima sem cautela... Morre... Então acho bom você parar de se preocupar demais comigo e passar a cuidar mais de si mesmo... — terminando de dizer isso ela se afastou cruzando os braços. Ficou parada à porta do banheiro, ainda queimando de raiva. Ele olhou-a chocado por talvez uns quinze segundos e então desatou a rir. Não conseguiu evitar. Ela era muito imprevisível. Tinha acabado de matutar bastante sobre esse lado dela e aí... PUM! Lá estava ela, ratificando exatamente isso. Claro, que ao começar a rir ele só fez Selênia voltar a ficar confusa e mais do que antes. Sua feição tempestuosa foi rapidamente substituída por um emaranhado caótico de dúvidas, incertezas e desconfiança. Mais que isso, a estranha sensação de contentamento com o divertimento dele voltou. Durou uma fração de segundos, logo substituída por um novo tipo de fúria que começou a preenchê-la ao achar que ele estava lhe fazendo troça. Imaginou-se dando um belo soco naquela boca risonha, contudo resolveu que com os dentes intactos ele seria mais capaz de responder. Esperou ele se controlar querendo perguntar do que diabos estava rindo para depois meter-lhe um murro na fuça, mas quando abriu a boca ele levantou a mão impedindo-a de continuar.

— Selênia eu não acho você delicada. Muito pelo contrário — Alex começou a dizer bastante sorridente. — Eu sei que você é perigosa. Tão perigosa que traz perigos para si mesma — prosseguiu um pouco mais sério, e estendeu a mão ao dizer a última frase pegando o braço de Selênia e virando-o um pouco, delicadamente, para ver o corte suturado. Ela olhou-o, depois para o ferimento e entendeu que não estava sendo subestimada. Alex estava meramente preocupado com a forma dela fazer as coisas. O modo inesperado com o qual agia deixava uma brecha na sua segurança pessoal a qual ele não podia ignorar. O dever dele é protegê-la. Contudo, é mais difícil fazer isso quando quem deve ser protegido pode eventualmente pôr a si próprio em risco sem querer.

Olhando por esse ponto de vista, Selênia compreendeu que devia considerar mais antes de tomar uma atitude, e ficou embaraçada com o que tinha dito.

— Vem. Deixa eu fazer um novo curativo pra você — ele disse puxando-a afavelmente pelo braço ferido. Levou-a até o quarto dela e a pôs sentada na cama, saindo em seguida para pegar a caixa de primeiros socorros — onde Helena disse que deixaria quando ele devolveu a caixa a ela mais cedo — e voltou pouco mais de um minuto depois. Fez um rápido curativo colocando mais pomada cicatrizante — ela tinha tirado o curativo anterior ao ir tomar banho. Concluído, ele deu um peteleco na testa dela, antes de guardar o resto do que usou na caixa. Exasperada, ela levou uma mão ao local de impacto e encarou-o sentado ao seu lado na cama mexendo na caixa de primeiros socorros. Impassível por meros segundos ele fingiu não estar ligando para o aborrecimento dela. Então cobriu a boca com uma mão em punho quando um risinho lhe escapou dos lábios. Selênia não conseguiu não sorrir dessa vez. Nitidamente ele a estava provocando, deveria ficar danada com isso, mas a diversão dele começava a lhe afetar como um gás hilariante. Involuntariamente tinha reagido.

— Você é um cara legal, Alex — admitiu já descontraída.

— Obrigado! Eu sei que sou — ironizou ele, fechando a caixa e se levantando. Ela deu-lhe um soco no braço. — Ai! — exclamou Alex rindo alegremente e saiu do quarto.

Ela ficou sentada ali por um tempo, sorrindo consigo mesma, contrariada com o lado divertido dele. Pelo modo como ele vinha agindo e a forma como o conheceu, não esperava isso dele. Jogou-se de costas na cama e olhou o curativo em seu braço. Alex tinha suturado o ferimento com mais suavidade que muitos profissionais que ela conheceu ao longo dos anos. Algumas pessoas tinham uma mão pesada demais para esse tipo de trabalho. Em sua opinião, aquele jeito amável dele de cuidar de outras pessoas, era o que mais revelava sua essência bondosa. Quanto mais o conhecia, mais empatia sentia por ele. Quase como se ele fosse um outro irmão, que ela só estivesse conhecendo agora. Afinal ele conseguia irritá-la e diverti-la na mesma medida que seu irmão.

Bem, não exatamente. Sebastian conseguia enfurece-la de tal forma as vezes que ela partia para cima dele antes mesmo de notar o que estava fazendo. Pior para ele, porque quando ela entrava no modo massacre, ele não tinha nem vez. Era PÁ! PUM! POW! E ele ia à lona pedindo misericórdia. Selênia WINNER! 

Falando no diabo... Adivinha quem acabou de lhe mandar uma mensagem de texto? Exatamente! Ele mesmo. Seu lindo, irritante e divertido irmão coruja. Ele tinha um "timer" para essas coisas. Bastava pensar nele que dava sinal de vida. Devia estar deixando o trabalho agora pelo visto. "E então? Tudo indo bem com seu guarda-costas?" dizia a mensagem. É claro que ele estava sabendo sobre isso, nunca deixava passar nada relacionado a ela.

 

: Sim.

: Tudo indo bem.

: E o seu trabalho?

 

    Ela digitou em resposta.

 

O de sempre. :

    Chutando as bundas de uns marginais por aí e depois relatando como fiz isso lindamente. :

 

Selênia revirou os olhos ao ler. Seu irmão é tãaao humilde... Só que não!

 

: Vai passar aqui em casa essa semana?

 

Tratou de mudar o assunto antes que ele resolvesse entrar numa autopropaganda de suas "habilidades incríveis". Engraçado que só se exibia desse modo com ela, com qualquer outra pessoa ele nem chegava a mencionar suas tão notáveis habilidades. Pura implicância fraternal, já que sabia que Selênia detestava quando fazia isso. Cresceram juntos, ela conhecia todo o potencial dele, portanto era completamente desnecessário ficar lembrando-a disso. Ir-ri-tan-te…

 

Provavelmente. :

Só não sei exatamente quando. :

: Alex falou que vamos ser realocados por segurança, daqui a alguns dias.

: Você vem com a gente, não é?

Obviamente. :

Sou sua sombra, afinal de contas. :

: Sim, é verdade. Kkkk

    Agora vou sair com o carro, então nos falamos mais tarde, ok? :

: Ok.

 

Ela digitou e deixou os braços caírem ao lado do corpo, o celular em uma das mãos. Ficou olhando o teto sem pensar em nada específico, não se sabe por quanto tempo. Segundos? Minutos? Acabou cochilando. Estava cansada pela noite mal dormida. Acordou com sua mãe a balançando amavelmente para acordá-la.

— O jantar está pronto. Vem comer — Helena disse, carinhosamente passando a mão pelo cabelo de sua filha quando ela abriu os olhos. Selênia fez que sim com a cabeça e começou a se levantar. Sua mãe se adiantou e desceu primeiro. De pé, Selênia se dirigiu ao banheiro e jogou água no rosto espantando a letargia do sono.

Alex a estava esperando no corredor quando saiu. Sem dizer nada a acompanhou ao andar de baixo. O silêncio, ela notou, era algo bastante comum em seu guarda-costas. Começava a se acostumar com esse lado contemplativo dele. Lembrou-lhe seu avô, que também não era um cara de muitas palavras. Sorriu ao pensar nisso. Essa familiaridade era reconfortante. Talvez, não fosse tão ruim tê-lo sempre por perto, afinal.

Selênia sentou na mesa de jantar e Alex sentou no sofá da sala mexendo no celular. Marcos já estava na mesa enchendo o prato, tinha chegado em casa meia hora antes de Helena acordá-la.

— Tudo bem, filha? Como foi o dia? — Marcos perguntou começando a comer. Era a conversa normal das horas de refeição.

— Tudo bem. O dia foi legal — ela respondeu sem dar detalhes enquanto se servia. — Como foi o trabalho? — perguntou seguindo o padrão diário.

    — Foi bom. Ter que cuidar dos calouros é refrescante, os faço correr pra lá e pra cá como faziam comigo. Ai! — Helena deu um tapa no ombro dele. — O quê? Eu não posso me divertir? — ele perguntou rindo. Ela fechou os olhos brevemente antes de olhá-lo com cara de quem diz "O que eu faço com essa pessoa, Jeová? Tem jeito não...". Ele pegou a mão dela e beijou seu dorso. Acariciou os dedos com o polegar uns instantes antes de pegar seu talher e voltar a comer, espreitando docemente sua esposa com o canto dos olhos.

Selênia sempre achava esse tipo de interação entre seus pais fofa e exasperante ao mesmo tempo. Eles entravam num mundinho só deles, esquecendo das pessoas ao seu redor. Fingiu não ver a cena assassina de diabéticos a sua frente e começou a comer.

Alex sorriu lá na sala vendo tudo pelo canto dos olhos e ouvindo sem querer devido a audição aguçada. Por um instante se perguntou como Roger seria se algum dia arrumasse uma esposa. Ele não era bem o tipo romântico. Vivia concentrado em seu trabalho. Parecia ser comprometido com o DCII e nada mais. Alex achava que Roger não conseguia amar uma mulher mais que seu emprego, por isso não arrumava uma. A única exceção de Roger com relação ao DCII até hoje tinha sido apenas Alex. Ele realmente amava o garoto como um filho. Se apegou a ele de tal forma que seria capaz de fazer o possível e o impossível por seu menino. E sim, aos olhos de Roger, Alex ainda era um menino, assim como todo pai sempre vê seu filho como uma criança, por mais velho que seja.

Depois do jantar Alex acompanhou Selênia para o andar superior.

— Eles são um belo casal — comentou, indicando os pais dela com a cabeça quando começaram a subir as escadas.

— Sim, às vezes tanto a ponto de me fazer querer vomitar. Mas não posso negar os fatos — falou ela subindo os degraus e dando de ombros. No segundo andar trocaram um "Boa noite" sem jeito e foram para seus respectivos quartos. Essa coisa toda de guarda-costas era estranha e desconfortável em vários sentidos, para ambos.

Mais tarde, já com suas roupas de dormir, os dentes escovados, e muito bem enrolados em suas cobertas. Perto da meia-noite, quando Alex já estava dormindo, um sono leve de vigília... Ele ouviu Selênia levantar da cama e caminhar pelo quarto. Em seguida, abrir as portas da pequena sacada do quarto.

Curioso levantou e foi para a sacada de seu próprio quarto pensando o que ela poderia estar fazendo. Encontrou-a sentada no peitoril do parapeito balançando os pés enquanto olhava o céu. 

— O que está fazendo? — perguntou. Ela olhou-o momentaneamente, e tornou a olhar o céu antes de responder.

— Nada importante. Só pegando um ar. Não estou conseguindo dormir por ter cochilado mais cedo. Vai me acompanhar? Vampiros são noturnos, não é? — os cantos de sua boca se curvaram, estava sendo implicante.

— É... São. E também bebem sangue, se não quiser ter o seu sugado até a última gota sugiro que não provoque um deliberadamente — ele cruzou os braços e se encostou ao parapeito lateralmente, olhando-a enquanto dizia isso em uma expressão e voz neutras. Ela sorriu mais abertamente. Era uma ameaça completamente vã. Ele nunca faria isso, estava apenas retorquindo. — Quer que te ensine um truque para adormecer? — perguntou após um tempo calado.

— Claro! Por que não?! — ela disse passando as pernas para dentro da sacada, depois apoiou os cotovelos no peitoril do parapeito de frente para o Alex, apoiando a cabeça em uma mão. — Sou toda ouvidos.

— É um truque bem simples que meu pai me ensinou há muitos anos atrás — virou-se ao falar de modo a ficar de costas no parapeito. — Você tem apenas que contar sua respiração após deitar. Se concentre nisso. Aos poucos sua mente vai se esvaziar naturalmente e antes que perceba vai estar dormindo — continuou olhando vagamente para dentro do quarto.

— É realmente simples — Selênia disse. — Bem... Vou testar o seu método — prosseguiu se virando para entrar no quarto. Antes de fechar a porta o ouviu dizer "Durma bem Selênia". "Você também, Alex" ela respondeu baixinho terminando de fechar a porta, constrangida com o tom caloroso daquele tipo de frase sendo dito entre duas pessoas que tinham acabado de se conhecer.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam desse?
Selênia e Alex estão se ajustando a sua situação e se aproximando ao poucos. Sebastian deu uma aparecida indireta, mas nos capítulos mais a frente ele vai dar o ar de sua graça, não se preocupem. Também vou mostrar mais a relação de Helena e Marcos. E falando nisso o que acharam dos dois? Eu particularmente adoro a relação deles.

Espero que estejam gostando. Obrigada por chegar até aqui e até o próximo capítulo. Beijos!



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