VMHV - Vírus de Mutação Humana Vampiresca escrita por Bellaluna Creator


Capítulo 6
Contato sanguíneo


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos leitores! Saudades? Espero que sim, pois acabo de chegar com mais um capítulo pra vocês. Tomara que gostem.

Boa leitura!S2



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Acabou que ela realmente não precisava ter se preocupado. Conseguiram chegar a sua casa em pouco mais de meia hora sem nenhum problema.

— Viu?! Incólumes — disse Alex ao parar o carro. — E com um ótimo tempo por sinal — continuou, olhando o relógio do rádio do carro antes de tirar as chaves da ignição, soltar o cinto e sair do veículo. Abriu a porta traseira e começou a pegar as bolsas enquanto Selênia foi esperar por ele na calçada. Ela estava pensativa desde que deixaram o condomínio. Ficou dando respostas vagas a Alex ao longo do trajeto nas tentativas que ele fez de manter uma conversa agradável até que desistiu e ficou só assobiando pelo resto do caminho. 

Os muros altos, as câmeras de vigilância, as cercas elétricas e os guardas, foram  intimidantes. Selênia não conseguiu deixar de achar que, por mais que o lugar fosse bonito e cheio de áreas de recreação e lazer magníficas, se sentiria como uma prisioneira caso vivesse lá. Será que Alex se sentia assim? Ou os outros insolúveis que moravam por lá? Eles podiam entrar e sair à vontade, mas suas idas e vindas eram todas monitoradas rigorosamente. Quando recebeu a informação de que seria seguida para todo o lugar que fosse, por causa dos Lich, Selênia sentiu aquilo como uma agressão ao seu livre arbítrio. Agora se perguntava se era assim para os insolúveis, essa vigilância rigorosa que o DCI mantinha sobre eles... Será que lhes parecia uma agressão ao seu livre arbítrio? Sua cabeça estava nisso quando Alex parou ao lado dela e lhe deu um empurrãozinho tirando-a de seus pensamentos.

— Abra a porta — pediu, indicando a entrada com a cabeça. As duas mochilas num ombro e a bolsa na mão do outro lado. Sabia que ela estava com a mente em alguma coisa. Mas estava com um pouco de receio de perguntar o que era dessa vez. Ela tinha o dom de fazer perguntas que o deixavam desconcertado. Preferia deixar para lá e não pensar nisso por enquanto.

— MÃE, ESTOU EM CASA! — gritou Selênia assim que entraram. Alex fechou os olhos com força pela alfinetada repentina em seus ouvidos causada pelo grito inesperado. Um zumbido agudo como o de microfonia veio em seguida, passando em 1 segundo. Alex largou as mochilas ao lado da porta. Apertou a ponte do nariz levemente entre o polegar e indicador da mão que antes segurava as mochilas. Depois de inspirar profundamente, abaixou a mão, balançando a cabeça para se livrar da desorientação que o zumbido deixou de brinde.

Selênia, nem percebeu o que tinha feito a ele. Começou a subir as escadas de onde veio a voz de sua mãe abafada "Estou aqui, querida!". Subiu metade dos degraus antes de notar que Alex não a seguia.

— Vem, traz suas coisas. Os quartos são todos aqui em cima — chamou-o olhando para trás por cima do ombro.

— Estou indo — pegou de novo as mochilas e seguiu-a. Teria que falar com ela sobre não gritar daquele jeito do lado dele assim que possível, ou logo, logo acabaria surdo. Já bastava seu pai com as broncas histéricas.

Eles encontraram Helena no quarto de casal da casa guardando as roupas que acabara de pegar na corda. Estava de costas para eles quando entraram, pendurando roupas no cabide. Selênia bateu na porta aberta do quarto para anunciar sua presença.

— Que bom que chegou, eu acabei de colocar suas roupas limpas em cima da sua cama — falava Helena de costas para a entrada do quarto. — Guarde elas antes que decida ir treinar ou você vai esquecer, e depois não vai querer guardar estando exausta. E vai acabar jogando elas de qualquer jeito em um can ... — foi interrompida por um pigarro de Selênia antes de terminar o que dizia.

— Ahm... Mãe!? — Helena virou-se ao ouvi-la, e então viu Alex.

— Oh! Você deve ser Alex, estou certa? — foi andando até ele, logo estendendo a mão animada. Alex deu um aceno afirmativo com a cabeça e largou sua bolsa de viagem no chão para retribuir o aperto de mão. — Sou Helena, a mãe da Selênia. Muito obrigada por estar protegendo a minha menininha — continuou ela sorridente colocando as mãos nos ombros de Selênia.

— Ah, não estou fazendo mais que minha obrigação, senhora — disse Alex levando a mão a nuca constrangido. Ouvindo Selênia resmungar entre dentes ao mesmo tempo "eu não sou mais criança".

— Pode me chamar só de Helena. "Senhora" me faz sentir uma velha — fez uma careta. — Ou de tia Helena se preferir — completou ao ver que ele não parecia confortável com a ideia de chamá-la só pelo primeiro nome.

— Mãe, Alex vai ficar aqui em casa por alguns dias para minha proteção. Ele vai dormir no quarto do Sebastian, tudo bem?! — Selênia se adiantou percebendo o desconforto de Alex com sua mãe.

— Claro! Tudo bem, sim — sorriu Helena, carismática.

— Então vou mostrar a ele o quarto — saiu puxando Alex para o corredor às pressas, enquanto ouvia sua mãe dizer "Mas não se esqueça de guardar suas roupas!". Ela o levou para a última porta no corredor do outro lado da escada. — É aqui que você vai dormir — abriu a porta. — O meu quarto é esse do lado — apontou com o polegar, para o quarto fechado que eles tinham passado direto. — Você pode guardar suas coisas no armário. Ainda tem umas roupas do meu irmão lá, mas pode usá-las se quiser. O banheiro é a porta no início do corredor de frente pra escada, mas também tem outro lá embaixo. Tem toalhas que você pode usar no armário do Sebastian. Qualquer coisa eu estou no meu quarto — terminando de dizer virou-lhe as costas e entrou em seu próprio quarto, só para sair de novo logo em seguida. — Esqueci a mochila — falou encabulada. Alex entregou-a sem dizer nada e viu-a desaparecer novamente atrás da porta de madeira idêntica à do seu quarto provisório.

Ele entrou no quarto de Sebastian, jogou sua mochila atrás da porta e a bolsa de viagem em cima da cama. Se sentando ao lado da bolsa abriu-a. Começou a tirar seus pertences e guardá-los no armário. No final só restaram as garrafas de vidro escuro. Pegou uma delas e levantou contra a luz olhando o líquido espesso ali dentro. Teria que pedir à Selênia para colocá-las na geladeira. No momento ainda estavam frescas, mas se ficassem muito tempo em temperatura ambiente poderiam estragar. Ficou se perguntando se deveria ter trazido mais algumas. Só precisava de duas por dia, uma de manhã e outra à noite, mas achava que talvez fosse melhor ter pelo menos mais duas por precaução. Quando machucado precisava beber mais sangue que o habitual, e nunca se sabe o que poderia acontecer no futuro. Principalmente com o trabalho dele. Bem, agora já era tarde, devia ter pensado nisso quando estava em casa. Dando de ombros levantou e foi falar com Selênia sobre guardar as garrafas.

Ela tinha acabado de colocar a última peça de roupa limpa no guarda-roupa, sentado na cama, e estava começando a responder às mensagens em seu celular quando ele bateu na porta. Deixando o celular de lado abriu a porta e ao saber o que Alex queria o levou até a cozinha. Por decoro não perguntou o que havia dentro nas garrafas, pois sabia que devia ser a única coisa da qual insolúveis se alimentam. Sangue. Subiram de volta em silêncio.

— Bem... Eu vou trocar de roupa e ir treinar lá atrás no gramado. Já que você vai me seguir, gostaria de treinar comigo? — resolveu perguntar quando já estavam de volta ao segundo andar, querendo ser amigável.

— Uhm... Se vou treinar com você é melhor que seja num lugar coberto, então não pode ser no gramado — ponderou em voz alta.

— Ah, claro! Me esqueci, você não pode ficar muito tempo no sol — deu um pequeno tabefe em sua própria testa pela gafe. — Bom... Quando chove eu treino na garagem. Podemos treinar lá. O espaço é meio limitado, mas deve servir — continuou, tentando corrigir seu erro.

— Sendo um lugar coberto, pra mim já está ótimo — apoiou-se no batente da porta do quarto enfiando as mãos nos bolsos da calça, sem jeito. A estranheza entre eles era algo inevitável devido às circunstâncias. — Te encontro lá embaixo daqui a 15 minutos? — afastou-se do batente percebendo que devia estar parecendo folgado, e passou a se balançar levemente sobre os calcanhares, constrangido.

— Ok — ela fez o sinal com a mão ao responder em voz alta, e entrou em seu quarto para trocar de roupa. Fechando a porta apoiou-se nela de costas sentindo as bochechas queimarem de vergonha. "Cada hora um mico diferente…" pensou, colocando as mãos no rosto, antes de se adiantar para o treino. Em menos de 5 minutos já estava com suas roupas esportivas. Desceu voltando à cozinha para fazer um lanche leve antes de começar o treino, já que com tudo o que tinha acontecido, acabou pulando o almoço. Quando Alex a encontrou lá ela tinha acabado de dar uma mordida no sanduíche de patê de sardinha. Quase perguntou a ele se queria um também, mas lembrou bem na hora que insolúveis não comem essas coisas e se engasgou na tentativa de frear as palavras antes que saíssem de sua boca.

—  Ei, vai com calma! Não precisa se apressar! — Alex se adiantou alarmado para ajudá-la, dando-lhe tapinhas nas costas e puxando o copo de suco para perto. Ela agradeceu entre pigarros e bebeu sôfrega, desobstruindo as vias respiratórias. Quando ela pareceu melhor ele se afastou  apreensivo, puxou uma cadeira e se sentou tentando parecer o mais relaxado possível, querendo dizer com o gesto, que ela podia comer sossegada. Ela secou a boca com as costas da mão e tocou o lóbulo da orelha enquanto olhava para o lado contrário ao Alex. O rosto queimando de embaraço.

Alex acompanhou com os olhos o movimento da mão dela e notou o gesto. Lembrou sobre uma palestra sobre psicologia que ouviu certa vez, onde o palestrante falava que algumas pessoas têm o hábito de tocar a orelha quando envergonhados porque esta se encontra mais fria que o restante do corpo. Compreendeu então que não era o único desconfortável com sua missão. O que involuntariamente aumentou sua consciência sobre a proximidade entre ambos. Cruzou os braços recusando-se a aceitar as armadilhas de sua mente.

Lentamente Selênia voltou a comer, cada vez mais cônscia da presença dele ao seu lado. Mexeu-se irrequieta. Ele percebeu. Ambos estavam extremamente perceptíveis de cada movimento alheio. O ar pareceu ficar denso com a tensão que tinha se instalado.

Tentando aliviar o clima pesado Alex descruzou os braços e passou a brincar com uma faca que estava na mesa. Concentrado no que fazia deixou de prestar atenção demais subconscientemente a Selênia, que sentiu uma leve mudança no ambiente, deixando-a respirar mais tranquila.

Mais faminta agora que a tensão tinha baixado, Selênia fez mais um sanduíche e comeu cantarolando, sem perceber. Alex ouviu e espiou-a brevemente ao reconhecer a melodia. Super Mario. Sorriu e não pela primeira vez em sua vida se pegou pensando como deveria ser o sabor dos alimentos para os não infectados. Imaginando que para ela estar cantarolando daquele jeito devia ser bem saborosa. Tendo sido contaminado ainda muito novo ele se lembrava apenas muito vagamente de como era. Desde que se tornou um vampiro sempre que precisava comer alguma coisa que não fosse sangue, para ninguém suspeitar de sua condição, tudo o que sentia era a textura. Às vezes conseguia ter uma noção muito ínfima do sabor. E se em torno de uma hora não regurgita-se aqueles alimentos, sofreria dores estomacais e febre até tudo se dissolver completamente e ser expelido de outra forma por seu corpo. Uma experiência nada agradável.

Selênia acabou de comer, limpou as migalhas, pegou uma jarra de água na geladeira, um copo, e fez sinal para Alex a seguir. Na garagem, deixou a jarra e o copo na prateleira de uma estante metálica que tinha por lá. Se postou no centro do cômodo e começou a aquecer e alongar o corpo. Alex a seguiu em silêncio. Assim que terminaram, antes que pudessem começar o treino de fato, ele se virou para ela e começou a falar.

— Eu estive pensando... Você é uma ótima lutadora, mas não é páreo para um insolúvel, pelo menos não um bem treinado... — Selênia não disse nada, apenas ficou ouvindo. — Uma dupla de controle trabalha fazendo contato sanguíneo. Claro, ainda não somos, verdadeiramente, uma dupla de controle, mas... — fez uma pausa para organizar melhor o pensamento. — Se numa emergência precisássemos ativar o surto de adrenalina em você... Seria melhor que você estivesse acostumada com seu estado pós contato. Para saber usar melhor suas habilidades aprimoradas, entende? — tinha pensado nisso quando estava dirigindo.

— O que você está dizendo — uma breve pausa, — é que deveríamos fazer contato sanguíneo agora, — outra pausa — e treinar desse modo para que numa batalha real eu não seja vencida por não estar acostumada às minhas habilidades aprimoradas com o surto de adrenalina —  refletiu a sugestão em voz alta com as mãos na cintura. — Bem... Mal não vai fazer — deu de ombros. — Como fazemos isso?

— Estenda o braço — pediu pegando uma faca de arremesso num de seus coturnos. Ela o fez e ele arranhou-lhe o antebraço com a faca abrindo um pequeno corte, em seguida arranhou a própria mão na parte carnuda inferior oposta ao polegar. No que o sangue brotou juntou os cortes de ambos segurando o braço dela. Após uns segundos a soltou, guardou a faca, pegou band-aids no bolso da calça e colocou nos machucados.

— Demora quanto tempo até o surto começar? — cutucou o curativo sentindo o leve ardor do corte.

— Poucos minutos no máximo. Você vai saber quando acontecer. Ouvi dizer que é diferente para cada um. Alguns sentem um formigamento na língua, outros nas pontas dos dedos, e por aí vai — sentou-se descontraído no chão de pernas cruzadas para esperar. Selênia o imitou.

— Estive pensando mais cedo... — falava puxando a bainha de sua calça desportiva, ruminando seus pensamentos. — Ser obrigado a morar nesses condomínios... Não é meio... Sufocante? — completou inclinando a cabeça para tornar a questão menos incisiva. Alex pensou um pouco antes de responder.

— Algumas vezes sim, mas daí eu lembro que é melhor viver neles que na rua ou na prisão. Daí me sinto bem com isso — olhava para frente com a mente divagando. — Sem contar que tenho uma casa muito boa, então não posso reclamar — concluiu, por fim voltando seu olhar para ela e sorrindo brevemente. Ela sorriu de volta e retornaram ao silêncio.

— Antes que eu me esqueça, tenho uma coisa importante pra te pedir — Alex quebrou o vazio sonoro.

— E o que é?

— Por favor, não grite perto de mim. Você quase me deixou surdo mais cedo — seu tom era suave e brincalhão, mas Selênia ficou horrorizada ao se dar conta do que tinha feito.

— Nossa! Desculpa, desculpa mesmo! É um costume, então eu nem pensei... — as palavras jorravam em enxurrada acompanhadas de muitos gestos até que cessaram subitamente. Baixando a cabeça mordeu os lábios arrasada com a perspectiva do quanto foi idiota por não ter pensado no que suas ações causavam a ele. Como podia fazer parte da pequena parcela da população que tinha conhecimento dos insolúveis e tudo que os englobava, e ainda assim cometer esse tipo de gafe? Se perguntava. É claro, esse tipo de incidente não era realmente culpa dela, pois era a primeira vez que tinha um contato prolongado com um insolúvel. Por tanto, ainda não estava familiarizada com suas peculiaridades.

— Ei, está tudo bem. Contanto que não faça isso de novo, não tem problema — tentava consertar o que tinha feito. Pousou a mão na cabeça dela em sinal de consolo. Se soubesse que ela reagiria daquela forma não teria comentado nada. "Droga! Garotas são tão imprevisíveis" pensou atordoado. — Não se sinta mal, você não fez de propósito — tentou de novo.

— Desculpa... Eu deveria ter pensado nisso antes. Doeu muito? — a voz dela soou chorosa, mas ele não tinha certeza já que ela estava cabisbaixa.

— Comparado aos gritos do meu pai, não passou de cócegas — tirou a mão da cabeça dela, deslizando-a pela lateral de seu rosto como um carinho e usou-a para levantar-lhe o queixo delicadamente. Ela abriu um pequeno sorriso e fungou. Não tinha os olhos marejados como ele pensou, mas parecia muito triste. Ele segurou-lhe o rosto com as duas mãos e com os polegares puxou suavemente os cantos da boca dela aumentando o sorriso — Ah... Bem melhor. Você fica mais bonita quando sorri — isso surtiu efeito. Ela deu uma risada curta e ficou encabulada com o elogio, mesmo sabendo que ele estava apenas sendo gentil.

De repente ela sentiu um formigamento que começou na barriga se espalhar pelo corpo inteiro em um átimo de segundo e passar tão rápido como começou, deixando uma sensação residual estranha em seus membros. Olhou para o corte coberto pelo band-aid.

— Acho que começou — falou devagar testando os próprios membros, procurando algo diferente no movimento deles. Pareciam normais.

— Começou o quê?

— O surto de adrenalina.

— Vamos testar, então — levantou-se estendendo a mão para ela, que segurou e ficou de pé. Selênia sentiu-se estranhamente leve ao levantar. Parecia que toda a vida tinha andado com pesos nas pernas e pulsos, e que agora esses pesos tinham sido tirados.

Estando ela ainda distraída com seu estado atual, Alex aproveitou para atacá-la sem aviso. Por puro instinto ela bloqueou a investida. Foi surpreendente para ambos a rapidez e força com a qual o fez. Ficaram parados por meio minuto ponderando as implicações. Definitivamente, Selênia se equiparava com a força de um insolúvel agora. Mas seu tempo de resposta era com certeza maior. Provavelmente por ela ser mais leve que os insolúveis, tendo uma densidade óssea menor, se tornava mais rápida.

Em um acordo mútuo silencioso, atacaram um ao outro. Se alguém tivesse estado ali para ver, teria ficado maravilhado com a luta. Parecia um tipo de dança muito complexa e exótica. Todavia, por mais que atacassem nenhum estava conseguindo quebrar a defesa do outro. Selênia ainda estava desacostumada com sua força e velocidade recém adquiridas o que a fazia errar detalhes básicos nos ataques, impossibilitando furar a defesa de Alex. E ele por mais que não errasse os golpes, a rapidez e força da defesa dela o estava bloqueando com bastante eficiência. Já estavam lutando a um bom tempo, e pingando de suor quando analisando calmamente a luta ele conseguiu ver uma brecha na defesa dela, causada pela falta de jeito com suas habilidades após contato. Se aproveitando dessa brecha deixou-a se aproximar o máximo que pôde. Ela pensou ter visto uma chance de vitória na guarda que ele propositalmente baixou e atacou contudo conseguindo enfim levá-lo para o chão. Esse era o plano dele. Assim que estavam no chão a vantagem se tornou sua. No chão Selênia perdia boa parte de sua agilidade e o peso maior dele podia ser melhor aproveitado. Então quando ela o derrubou e tentou ficar sobre ele, Alex usou seu peso para jogá-la para o lado puxando-a por um braço e rolou para cima dela prendendo-a no chão como tinha feito mais cedo naquele dia. Porém, quando tentou prender os pulsos dela acima da cabeça como anteriormente, pretendendo dar-lhe um peteleco outra vez, Selênia estava preparada. Aproveitou o exato momento em que ele lhe segurou com menos força ao juntar seus pulsos e com um movimento rápido e forte, soltou-se. Surpreso, ele escorregou um pouco para baixo quando suas mãos perderam o ponto de apoio. Parou com o rosto a poucos centímetros do de Selênia, mas mal viu o brilho dos olhos dela recebeu uma cotovelada no maxilar que o empurrou para o lado saindo de cima de sua adversária.

Recuperou-se rapidamente assumindo uma posição defensiva e viu que ela tinha feito o mesmo. Ficaram se encarando agachados no chão até que Alex levantou a mão pedindo uma pausa na luta. Estavam arfando, empapados de suor.

— Vamos considerar um empate, tudo bem? — passou a mão no queixo atingido, enquanto se levantava. Selênia aceitou balançando a cabeça e ficando de pé também. Reconhecia que não poderia vencê-lo ainda. Por mais que ela não se sentisse exatamente cansada pelo efeito da adrenalina em seu sangue, sabia que ele tinha mais resistência do que estava demonstrando. Além de mais experiência. Ela teria que primeiro dominar seu corpo com o surto ativo, para depois ter alguma chance real de ganhar dele.

Quando se posicionou defensivamente Alex sentiu um gosto estranho de sangue na boca. Era definitivamente sangue, mas não era dele e nem de nenhum animal que já tivesse provado. Então só podia ser da Selênia. Reviu em sua mente os últimos instantes da luta, procurando saber como o sangue dela tinha vindo parar na sua boca, e agora percebia o que provavelmente tinha acontecido. Aproximando-se dela segurou-lhe o cotovelo com o qual fora golpeado. Gentilmente virou o braço dela dando uma boa olhada. Ah-ha! Ali estava, um corte. Um rasgo de quase três centímetros sangrando abundantemente para um machucado relativamente pequeno. Selênia se contorceu tentando ver atrás de seu cotovelo onde ele estava olhando. Só conseguiu ver um pouco do sangue. Ficou levemente curiosa em como tinha conseguido se machucar a ponto de sangrar. Não estava sentindo dor devido a adrenalina.

Depois de verificar o ferimento Alex saiu meio intempestivo da garagem sem dizer nada. Selênia levantou o braço acima da cabeça tentando ver o machucado, fazendo o sangue escorrer em direção a axila. Não reparou no humor sombrio de Alex ao sair do cômodo, ocupada como estava em checar por si mesma o local de onde o sangue brotava. Ele voltou pouco tempo depois com uma caixa de primeiros socorros. Tinha perguntado a Helena sobre e ela pegou para ele sem fazer perguntas. Se era devido ao semblante nitidamente chateado dele ou a algum outro motivo que ela não fez questão de saber o que tinha ocorrido, ele não saberia dizer. 

Entrando novamente na garagem ele encontrou Selênia virando o braço de um lado a outro ainda tentando ver melhor o corte. Ele balançou a cabeça resignado por ela estar apenas espalhando sangue para todo lado. Pegou um banquinho de madeira que viu num canto por ali, colocou perto da estante onde deixou a caixa de primeiros socorros e sem dizer nada fez ela sentar no banco. Ainda confusa, procurando entender como tinha se machucado ela obedeceu sem reclamações.

Uma das verdades sobre os vampiros é que eles têm dentes realmente afiados, principalmente os caninos. Quando Selênia deu uma cotovelada no maxilar de Alex o cotovelo dela subiu um pouco mais que o esperado no impulso e raspou os dentes dele sem que nenhum dos dois percebesse. Ocasionando o rasgo de quase três centímetros.

Alex estava chateado porque apesar de estar lutando para valer com ela em nenhum momento ele tinha pretendido machucá-la a ponto de fazê-la sangrar ou ficar com uma grave contusão. Pequenas contusões faziam parte e eram inevitáveis, claro. Agora estava se sentindo culpado pelo machucado. Achava que deveria ter sido um pouco mais cuidadoso. Detestava quando as coisas não aconteciam como planejava. Esteve lutando o tempo inteiro evitando bater onde era mais sensível. Ela também evitou golpes realmente incapacitantes, Alex notou. Só deu uma cotovelada nele porque tendo ossos mais fortes, ele não teria o maxilar quebrado facilmente, ambos sabiam. E mesmo assim ela bateu apenas com força suficiente para atordoá-lo, de modo que não deslocasse o maxilar dele. Nenhum dos dois tinha esperado que aquele golpe levasse a tal ferimento.

Bastante incomodado com o andamento dos acontecimentos ele fez Selênia apoiar o antebraço na cabeça de modo que tivesse melhor acesso ao machucado no cotovelo dela. Pegou gaze e soro na caixa de primeiros socorros. Desinfectou o corte e limpou os filetes de sangue que tinha escorrido por todo o braço dela, com a praticidade de quem já fez isso várias vezes antes. Ela permaneceu quieta ao longo de todo o processo. Com mãos delicadas, Alex anestesiou o ferimento e deu pontos bem feitos. Em seguida colocou um curativo com pomada cicatrizante.

— Pronto — finalmente deixou-se respirar mais calmo.

— Obrigada — agradeceu Selênia olhando desajeitada o curativo.

— Não me agradeça. A culpa de você ter se machucado é minha — a inflexão de sua voz estava sombria como seu humor enquanto recolhia as coisas na caixa de primeiros socorros.

— Por que a culpa seria sua? — ficou completamente confusa. Tinha começado a especular consigo mesma se teria batido o cotovelo com muita força no chão sem querer quando rolou para ficar em posição defensiva, antes dele dizer isso.

— Você cortou o cotovelo nos meus dentes — contou sem muitos detalhes. Selênia pensou sobre isso e percebeu que deveria ser verdade. Mesmo assim, não achava que a culpa fosse dele.

— Foi só um acidente, você não teve culpa. Acontece às vezes — falou piscando perplexa, já que aquilo deveria ser bem óbvio. Alex, não concordava.

— Fui negligente — fechou a caixa. Os ombros caídos, a cabeça abaixada. — Vamos encerrar o treino por hoje, não seria bom se os pontos abrissem — completou saindo da garagem com a caixa, deixando para trás uma Selênia boquiaberta a meio caminho de retrucar a afirmação.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Me contem! Estou sempre avida por suas opiniões, então não se acanhem.

Obrigada por chegarem até aqui e até o próximo capítulo! S2



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