VMHV - Vírus de Mutação Humana Vampiresca escrita por Bellaluna Creator


Capítulo 5
Minha casa, sua casa


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas aí está. Também já já vou corrigir umas pontuações erradas que notei nos caps anteriores. Nada que vá acrescentar ou modificar o enredo (por hora, já que vivo de revisão).
Espero que gostem.

Boa leitura!S2



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Selênia não soube o que dizer no silêncio que se seguiu. Ficou um tempão olhando para frente tentando pensar em algo, mas nada lhe vinha à mente.

— Mas... Você não é como ele —  concluiu por fim, guardando a faca de arremesso e se levantando. Auto-piedade não era seu forte, portanto ele tratou de mandar o sentimento depreciativo que tinha vindo com a lembrança para a parte mais remota de seu ser. Estendeu a mão para Selênia pretendendo ajudá-la a levantar. Ela aceitou e ficou de pé, ainda tentando pensar em algo para dizer. — Ei! Não fique assim — percebeu que ela estava se sentindo mal por ele, pelo que tinha acontecido. — Você ainda vai me ajudar a pegar aquele cretino algum dia, estou certo?! — mais afirmou que perguntou, colocando uma mão sobre a cabeça dela e olhando-a nos olhos sorridente, com o intuito de animá-la. Não tinha dito aquilo tudo para ela se compadecer dele, apenas achou que ela deveria saber, e que de qualquer forma acabaria sabendo uma hora ou outra.

— Pode estar certo de que eu vou! — a afirmação rápida e sincera deixou Alex aturdido. Tinha dito aquilo mais como uma brincadeira que qualquer coisa, então a convicção dela foi um choque. Outra surpresa. Quando pararia de ficar espantado com as ações dela? Se perguntava. Era uma garota intrigante.

— Então, tudo ok — tirou a mão da cabeça dela ao falar, ficando um pouco constrangido pela determinação sobre algo que ele nem estava falando a sério. — Vamos, é melhor eu te levar pra casa — continuou enquanto pegava as mochilas. — Ou você quer ir em outro lugar? — ergueu uma sobrancelha virando-se para ela enquanto jogava as duas mochilas nas costas.  Selênia balançou a cabeça negando. — Pega os casacos e me espera na escada, vou apagar as luzes — apontou para as peças de roupa e seguiu para o quadro de luz. Quando ela se postou no primeiro degrau, ele desligou os disjuntores trazendo o lugar de volta à penumbra. Desceram em silêncio. Cada um perdido em seus próprios pensamentos. Depois de trancar a porta tiveram que andar algumas ruas até o estacionamento de táxis. Durante o caminho, Alex entrou na frente da Selênia andando de costas, com as mãos nos bolsos da jaqueta.

— É o seguinte. Depois do que te contei você já deve saber que não confio inteiramente no DCII agora. Se havia um integrante dos Lich infiltrado com certeza deve haver outros — Selênia concordou com um breve aceno de cabeça e Alex continuou. — É procedimento padrão do DCII realocar agentes ameaços para um local mais seguro junto com sua família — voltou para o lado dela que tornou a assentir, mas não entendia onde Alex queria chegar com todo aquele papo. Ele prosseguiu com o olhar fixo à frente. — Com a burocracia do DCII o realocamento só deve acontecer daqui dois ou três dias. Assim que forem realocados, os Lich infiltrados não poderão fazer nada para não arriscarem se expor. Porém nesse meio tempo você poderia ser atacada até mesmo em casa, se a minha suspeita sobre Lichs infiltrados estiver certa — mais um aceno afirmativo. Ela queria que ele parasse de enrolar e fosse direto ao ponto. — Por isso não posso deixar você longe de mim mais que poucos metros. No momento minha prioridade é manter você sã e salva. Então... Você decide. Quer vir pra minha casa ou eu vou pra sua? — ela parou de andar, a informação entrando vagarosamente em seu cérebro como um computador descompactando um arquivo zip. — Porque, se eu for ir pra sua, tenho que passar na minha antes pra pegar umas coisas, e você vai ter que vir comigo. Se você for pra minha... — andava ainda falando, sem perceber que Selênia não mais o acompanhava. Ao notar, calou-se e olhou para trás. — O que houve? — perguntou, notando a expressão estranha dela. Mas Selênia não respondeu, apenas continuou a mirá-lo com olhos estreitados tentando saber se o que ele falou foi com segundas intenções. Ele parecia genuinamente confuso, então não devia ter entendido a implicação do que propusera. 

— Eu? — apontou para si. — Na sua casa? — apontou o peito dele. — Só nós dois? — mexeu a mão indicando ambos simultaneamente.

— Não, meu pai também vai estar lá. Por quê? — ele respondeu confuso. Selênia respirou aliviada. Alex não estava sendo mal-intencionado como os garotos da sua escola, afinal. Estes viviam fazendo sugestões parecidas em um tom nada inocente. "Quer ir estudar comigo lá em casa qualquer dia desses?" diziam mexendo as sobrancelhas sugerindo que o "estudo" do qual falavam provavelmente seria de "anatomia humana".

— Melhor você ir pra minha casa. Pode dormir no quarto do meu irmão. Ele não mora mais com a gente — não iria para casa de um garoto que mal conhecia passar umas noites lá, por mais que suas intenções fossem puras.

— Ok — deu de ombros ainda confuso com a reação dela. — Vamos passar na minha casa pra eu pegar umas coisas antes de irmos pra sua — coçou a nuca incomodado, sem saber o que fez de errado para provocar a situação estranha em que se encontrava. Selênia concordou com um acesso, constrangida por ter maldado o que ele disse e voltaram a andar.

— Qual o nome do seu pai? — Selênia perguntou quando o silêncio estava se tornando tamanho a ponto de parecer um ser vivo disforme preenchendo o vazio entre eles.

— Roger — chutou uma pedrinha no chão ao responder mecanicamente.

— Roger... — repetiu Selênia para si mesma, lembrando de já ter ouvido o nome antes. — Espera... "O" Roger? "Coronel" Roger? — perguntou em dúvida.

— Sim. Ele mesmo — virou metade do corpo para olhá-la. O interesse despertado repentinamente. Não esperava que ela já tivesse ouvido falar do pai dele.

— Uau! — ficou embasbacada. — Não me surpreende sua admiração por seu pai. Meus pais e meu irmão já me contaram umas histórias impressionantes que ficaram sabendo sobre ele.

— Ah, sim! — riu Alex fazendo um barulho engraçado com a boca. Ele também tinha ouvido algumas histórias no DCII. A maioria não passava de invencionices mirabolantes e exageradas. Quando perguntou ao seu pai sobre elas, o velho disse para ele simplesmente não dar bola para o que os outros diziam a respeito dele. No entanto, já tinha ouvido histórias verdadeiras contadas pelos amigos do pai. Eles contavam em meia voz quando Roger não estava por perto, porque ele não gostava de se gabar de seus feitos. — Não acredite nelas. A maioria não passa de besteiras — disse divertido. Selênia deu de ombros contente com a animação dele. Naquele pouco tempo que o conhecia ela tinha aprendido que ele tinha um riso espontâneo verdadeiramente encantador. Gostoso de ouvir como a risada borbulhante de um bebê. Contagiava-a com a felicidade dele. Quando ele riu desse jeito na lanchonete, ela também sentiu isso. Foi o que a tinha deixado mais confusa naquele momento do dia anterior. O divertimento dele quando ela o confrontou tê-la contagiado. Mesmo que por poucos instantes, que ela não deixou transparecer. Resolveu não pensar nisso.

— Meu irmão disse que vocês dois já trabalharam juntos algumas vezes. Como ele é quando está em campo?  — perguntou querendo manter um diálogo cordial.

Alex pensou por um tempo antes de responder. Se lembrava de ter visto o nome de um agente com quem tinha trabalhado listado como irmão de Selênia na ficha dela, mas não estava conseguindo associar o nome a pessoa. Após alguns segundos, lembrou.

— Vejamos... Quando ele está em uma missão se torna um cara totalmente diferente do habitual... Sua precisão é assustadora... Me disseram que ele tem um índice de cerca de 90% de acerto, mas eu nunca o vi errar — é, era mesmo o irmão dela quem ele estava descrevendo. Quando Sebastian estava concentrado ficava sem expressão, o contrário do rapaz descontraído que era normalmente e sua mira se tornava inigualável. Com razão diziam que ele tinha puxado o avô, Glauber. Um ex-agente de apoio de campo não infectado especializado em tiros de longa distância, um atirador de elite. O avô deles tinha ensinado tudo o que sabia a Sebastian, antes de morrer a quase três anos atrás. Mas antes de seu falecimento teve o orgulho de ver Sebastian ser admitido no DCII como um dos melhores candidatos daquele ano. A avó deles, que tinha sido uma agente imune, eles não chegaram a conhecer. Ela tinha morrido antes mesmo deles nascerem ao dar a luz ao tio mais novo deles, Fernando. Ele também era um imune, mas tinha decidido não trabalhar no DCII. O contrato da família com o DCII só exige que um imune a cada geração trabalhe em conjunto com eles. Como o pai de Selênia e Sebastian já trabalhava, além de alguns primos imunes do pai deles. Fernando não precisou. Além desse tio, eles têm uma tia, Flávia. Ela não é imune, mas trabalhou no DCII como agente de apoio de campo por um bom tempo. Como a família deles tinha uma história antiga com o DCII, era tradição passar os ensinamentos de combate adiante. Assim sendo, mesmo o tio deles tendo rejeitado o trabalho com o DCII ele treinava seus filhos assim como foi treinado.

— Mas tem uma coisa que nunca entendi — Alex disse depois de um tempo.

— O quê?

— O porquê do codinome do seu irmão ser Sombra — Selênia deu uma risadinha bufada que acabou saindo mais pelo nariz que pela boca com um leve som de ronco.

— É culpa minha — apontou para si mesma e cobriu a boca com as costas da mão. Continuou a rir de modo silencioso, para se impedir de dar uma gargalhada alta no meio da rua.

— Como assim, culpa sua? — uma sobrancelha subiu com a curiosidade enquanto via os ombros de Selênia balançarem em seu riso mudo. Ela respirou fundo para conter os espasmos de divertimento antes de responder.

— Aparentemente quando eu aprendi a andar, vivia caindo e indo a onde não devia. Meus pais disseram ao Sebastian que sendo o irmão mais velho ele tinha que cuidar de mim quando eles não estavam por perto. Meu irmão levou isso a sério demais e passou a me seguir para todo o lugar que eu ia, mesmo quando não tinha necessidade. Daí passaram a chamá-lo de Sombra, porque não desgrudava de mim. E ele gostou — terminou dando de ombros. Alex sorriu ao saber disso. Quer dizer então, que Sebastian é um irmão coruja… Resolveu guardar essa informação para o futuro.

Às vezes também queria ter tido irmãos. Mas Roger nem mesmo chegou a se casar. E Alex só o tinha visto ter duas namoradas em todos os anos que vivia com ele.

Enfim, chegaram ao local de parada dos táxis. Depois de embarcarem em um, Alex deu seu endereço ao motorista e seguiram calados. Recolhidos em suas próprias mentes. Alex fazia uma lista mental do que pegar quando chegasse em casa. Selênia remoía os acontecimentos do dia, ponderando as palavras de Alex. Quando enfim chegaram, Selênia descobriu-se em um dos condomínios fechados onde os insolúveis são obrigados a viver, por lei do DCII. Os condomínios que não são usados como comunidade dos insolúveis se originaram por conta destes. Como não poderia ser revelado publicamente que aquelas áreas de convívio social fechadas eram para manter uma distância entre vampiros e não infectados, foi espalhado que era um lugar de maior segurança e lazer para quem tinha poder aquisitivo suficiente para pagar por tal. Empresas que não trabalhavam com o DCII compraram a ideia e agora existem muitos condomínios que não são áreas de convivência de insolúveis.

O motorista os deixou na calçada em frente a casa de Alex. Para que o táxi pudesse entrar foi preciso que Alex mostrasse uma identificação ao porteiro. Selênia ficou encantada com a casa dele. Tinha uma aparência moderna com ângulos retos e janelas enormes que iam do chão ao teto. Era de dois andares, mas parecia ser de três devido ao pé direito alto. Apesar disso ela diria que não era uma casa enorme, e sim apenas grande, sabe? Espaçosa o suficiente para uma família de até cinco membros viverem confortavelmente. Alex a levou para dentro e pediu que o esperasse na sala, enquanto ele juntava os pertences que levaria consigo.

Selênia ficou sentada no sofá macio olhando em volta. A sala tinha um teto vazado para o andar de cima (um mezanino) por onde ela viu Alex passar e entrar em uma porta que ela supôs ser o quarto dele. Tinha um lustre que era uma coisa linda de se ver pendurado acima da sala, parecia uma obra de arte. A TV de tela plana era o dobro da que tinha em sua casa. As janelas tinham vidro escuro para impedir o excesso de luminosidade (e filtrar os raios UV). Os detalhes minimalistas do ambiente só realçaram o ar de sofisticação da casa. Selênia se sentiu meio oprimida, ficou com medo de encostar em alguma coisa e quebrar. Ainda assim ficava olhando para todo o lado, curiosa com o lugar chique. Parecia com os lofts das fotos que costumava ver de vez em quando nas redes sociais.

Lá em cima Alex arrumava diligentemente uma bolsa de viagem com suas coisas. Umas mudas de roupa. Um par de sapatos extras. Meias, cuecas. Itens de higiene pessoal. E mais alguns equipamentos de combate. Quando terminou desceu as escadas e se dirigiu a cozinha que era aberta para a sala, criando um ambiente integrado. Colocou a bolsa no balcão e abriu de novo. Pegou umas garrafas de vidro escuro de cerca de um litro e meio na geladeira com tampas de cores diferentes e colocou dentro da bolsa. Tudo terminado olhou para Selênia que o estivera observando desde que desceu as escadas e disse:

— Pronto. Já podemos ir — ela se levantou e o seguiu para fora da casa ainda olhando em volta como uma criança que vai ao zoológico pela primeira vez. Nem percebeu que ele a tinha levado à garagem da casa por uma porta lateral no corredor de entrada. Só quando viu o carro (um Fiat Wolverine branco) e a moto (uma Yamaha Fazer 250 prata) estacionados ali, foi que ela notou. Havia mais uma vaga de carro vazia, que devia ser do pai dele. Alex seguiu pelo cômodo até o carro que chegou a destrancar antes de perceber que Selênia estava parada perto da porta pela qual tinham entrado.

— Vem — gesticulou com a cabeça enquanto abria a porta traseira do carro e jogava as bolsas que estavam com ele (as mochilas dele e dela, e a bolsa de viagem) no banco de trás. Ela veio andando insegura, e parou antes de abrir a porta do carona perguntando:

— Você acha que isso é uma boa ideia? — olhou para ele e depois para o carro.

— Eu já dirijo a mais de 7 anos — falou em resposta achando que ela estava preocupada com suas habilidades de direção.

— Não é isso. É que você não aparenta muito ter idade para dirigir. Se fomos parados numa blitz isso não vai dar problema? — finalmente exteriorizou seus receios.

— Não vai dar problema, pode confiar. Mesmo que sejamos parados, tenho carteira de motorista e identidade com idade razoável para minha aparência dentro do carro — foi até o outro lado do carro falando e abriu a porta do carona cavalheirescamente já que ela parecia ainda receosa em entrar no veículo. Selênia entrou não muito segura com o que ele disse e ia colocar o cinto de segurança, mas Alex se adiantou e fez isso por ela. — Fique tranquila, os agentes do DCII estão sempre preparados para qualquer eventualidade — achou necessário informar. Sorriu confiante com o rosto a um palmo do dela antes de se afastar e fechar a porta do carro. Deu a volta e sentou no banco do motorista. Prendeu o cinto, ligou o carro, apertou o botão no chaveiro que abria o portão da garagem e saíram. Parou na rua e novamente apertou o botão fechando o portão da garagem antes de partirem.


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Notas finais do capítulo

Aqui estou de novo. E aí? O que acharam desse? Comentem! Como sempre estou aberta a críticas e sugestões.

Obrigada por chegar até aqui. Vejo vocês no próximo cap (espero he he he).



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